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MÚSICA | COVERS EM MOTOCLUBES

certo que Penna chegou a participar do filme-documentário “Raul - O Início, o Fim e o Meio” (2012), produzido por Walter Carvalho e Denis Feijão, e de “Alma Selvagem - Amor Por Motocicleta” (2007), de Renzo Querzoli.

Além dos grupos e cantores nacionais, nomes da cena rock and roll internacional também fazem sucesso com o público motoclubista, que vai às festas na esperança de reviver o som dos ídolos. Entre as bandas que lideram os covers está a Pink Floyd, que arrasta uma legião de fãs para os eventos.

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Para manter vivo os grandes clássicos do grupo britânico, como “Another Brick in the Wall” e “Comfortably Numb”, em 1992 alguns amigos criaram a banda Arcan Classic Rock. “O conjunto nasceu dentro do motoclube Dragões MC, na cidade de Suzano. Mas além da Pink Floyd, nos inspiramos em The Doors, Deep Purple, Iron Maiden, Led Zepplin e Whistesnake, que também fazem parte do nosso repertório nos eventos”, conta o tecladista Rodrigo Rat. “O foco da banda são os motoclubes por causa da irmandade e por nos fazer se sentir em casa em todos as festas”, complementa o vocalista Alexandre Way.

Com o clima diferenciado dos eventos de motoclubes, o público canta, dança e interage com a banda de maneira única, quase como se estivesse com os artistas originais. “O público do motoclube é extremamente exigente. A pessoa vai para ouvir rock and roll. A música é o principal e isso é intenso, explica Way. “A gente não vive de música, pois temos outra profissão. Então a gente faz porque gosta de verdade. Gostamos de tocar onde a galera está curtindo”, complementa Rat. c

O cover Penna Seixas (à esq.) tem verdadeira paixão pelo ídolo Raul Seixas (na foto ao lado)

+A seguir, a repórter Queran Ruama mostra a experiência de estar no palco de uma banda cover na seção Olhares

Ser plateia no palco

Em meio ao público ou observando tudo do ponto de vista do arti sta, o show é sempre uma grande experiência, uma grande viagem _ POR QUERAN RUAMA

APÓS ENTREVISTAR UM grupo que se dedica a tocar músicas da Pink Floyd fui convidada a acompanhar o show no palco. Era a chance para sentir a emoção que o vocalista da banda revelou na entrevista. Nunca me vi naquela posição, ser plateia no palco, e fi quei acanhada. Mas a curiosidade prevaleceu. O evento era em comemoração a um motoclube de Guarulhos, onde os frequentadores, em sua maioria, eram senhores que apreciavam motociclismo e camaradagem.

Pouco tempo antes da banda se apresentar, me ajeitei no canto esquerdo do palco atrás da caixa de som próxima ao guitarrista. A luz desapareceu por um momento, dando espaço para os refl etores com tons coloridas sob a plateia. “Come Together”, dos Beatles, foi a primeira canção, e foi como estar em um baile no ano de 1960, com Lennon e McCartney. Senti toda a rebeldia da década passada estampada no rosto de quem estava do outro lado do palco, na plateia, vibrando.

Logo depois “Don’t Let Me Down”. Foi como ser transportada até o topo do prédio em que foi feito o clipe da canção, em 1969. O refrão de “Have You Ever Seen the Rain”, de Creedence, ressoou sob todo o salão, e se escutava em uma só voz “I want to know...” E como se já não pudesse retroceder mais no tempo, “Stand By Me”, de Ben E. King, foi resgatada pela banda.

Achei que seria difícil descrever as sensações, principalmente quando não se tem a experiencia da época em que as músicas foram compostas e fi zeram sucesso, ou quando danças e roupas não fazem sentido na sociedade atual. Mas, naquele lugar nada disso importava, pois ali, os jovens e os mais experintes eram iguais. Vi aquela legião de pessoas dentro de um pequeno espaço alugado, revivendo o ápice de sua melhor fase, a juventude.

A partir dessa concepção, foi fácil compreender o que sentia o vocalista quando me disse que era gratifi cante transportar pessoas para lugares que fi sicamente seria impossível voltar. A experiencia é única. É como se o tempo fosse palpável, controlável.

A única responsabilidade de quem está no palco é se divertir, mas o controle que têm sobre o corpo e mente das pessoas por meio do som é inevitável. Foi incrível ver todas as idades cantarem “Somos Tão Jovens”, da Legião Urbana, e realmente sentir que éramos todos jovens ali.

Se ver como plateia é se convencer de que deve ser exigente e crítico com quem está acima, já quem está no palco entende que vive uma eterna cobrança. Mas quando se conhece os dois lados, fi ca nítido que ambos querem se divertir e controlar o tempo de alguma maneira, pois a música é sinônimo de viagem, ou pelo menos foi o que essa experiencia me proporcionou, uma grande viagem. c

Ilustração Surtan / PNGTree

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