Expressão - Ed5 - 2020

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USJT

dezembro 2020

ano 27

edição 5

EXPRESSÃO Jornalismo universitário, crítico, cidadão e plural

ESPECIAL - Págs. 6 a 9

Prefeitura de SP encara os desafios de sempre Saneamento, educação, mobilidade, pandemia: confira os problemas históricos da cidade em foco nos próximos quatro anos dezembro 2020

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CAR@ LEIT@R

Em nossa última edição, trabalhamos a pauta eleitoral e colocamos o Expressão para circular no domingo de pleito municipal. Nada mais natural, portanto, do que agora debatermos o que vem por aí na maior cidade brasileira, um verdadeiro laboratório de experiências, avanços e fracassos das políticas públicas municipais. O Especial disseca alguns dos desafios que Bruno Covas, mais um prefeito do PSDB, enfrentará - desta vez, desde o primeiro dia ocupando a cadeira. Como lidar com o ensino diante de uma pandemia que, apesar das esperanças trazidas pelas vacinas, não parece estar chegando ao fim? E as pautas históricas do desenvolvimento social e do urba-

Caio De Luca

nismo? São tópicos tratados entre as páginas 6 e 9. Nas demais editorias, temos entrevistas, reportagens e infográficos sobre temas tão diversos quanto a representatividade entre influencers, o combalido orçamento da pasta cultural da cidade, imposto rosa e o trabalho social das atléticas. Destacamos sempre, por aqui, a importância da prática de excelência do jornalismo universitário. É esse desafio que cerca de 30 alunos assumiram neste segundo semestre de 2020 no projeto de extensão do Expressão e na prática de unidades curriculares do curso de Jornalismo. Temos mais material; segura que 2020 ainda não acabou em nossa redação. Os Editores

#INSTANTÂNEO

A crise instalada da informalidade Trabalhar de carteira assinada no Brasil é quase um privilégio. Com o cenário econômico adverso, muitos brasileiros foram jogados à margem. Ignorados pelo governo. Ignorados pela população. O vendedor de guarda-chuvas, como todo trabalhador informal, ilustra os problemas sociais de um país em crise. A rotina é ingrata, difícil e de riscos em meio ao crescimento do volume de casos da Covid-19 na capital paulista.

#FICA A DICA

Battle Royale expõe texto violento, porém reflexivo Reprodução

Jornal universitário do curso de Jornalismo dezembro 2020 • ano 27 • edição 5 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Mônica Orcioli Coords. dos cursos de Comunicação e Artes José Augusto Lobato - Mooca Juca Rodrigues - Butantã Vasco Caldeira - Paulista Supervisores de projeto e edição executiva Prof. Celso Sabadin MTB 14.823 Prof. José Augusto Lobato MTB 70.684 Prof. Moacir Assunção MTB 21.984 Prof.ª Patricia Paixão MTB 30.961 Supervisora de projeto e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084

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Texto e foto: Caio De Luca

Redação Alun@s de Jornalismo da Universidade São Judas Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT

Battle Royale Koushun Takami Editora Globo 664 páginas Lançamento: 17/03/2014 Preço: R$ 69,90

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Gabriel Gomes

“Você não poderia sobreviver neste país se realmente desejasse fazer as coisas de forma correta. Eu estaria morto se fosse uma boa pessoa de verdade”. Com essa frase dita pelo tio de Shinji Mimura, um dos personagens da trama, é possível definir como é a vida no regime da República da Grande Ásia Oriental. O livro escrito por Koushun Takami gira em torno de 42 alunos da Escola de Ensino Fundamental de Shiroiwa, que são levados a uma ilha onde são obrigados a guerrear entre si. Cada estudante rece-

be um kit de sobrevivência contendo água, comida e uma arma. Apenas um aluno sairá vivo; desta maneira, o egoísmo permeia as 664 páginas do livro. A crueldade e a visceralidade estão presentes na obra desde o início com mortes aleatórias, mas isso não é um ponto fraco e sim um teste para avaliar se você, leitor, está preparado para esse jogo de vida ou morte. O lado violento da obra o fez ser desclassificado da final do Japan Grand Prix Horror Novel de 1997. Entretanto, “Battle Royale” se tornou um best-seller com mais de 1 milhão de cópias vendidas no Japão. Com uma bela obra distópica, o autor Koushun

Takami discute pautas como individualismo, instinto de sobrevivência, religião e a vida dentro de um estado totalitário. Acerta em cheio, também, ao construir os diálogos, pois humaniza os personagens, trazendo suas aflições e ideologias dentro daquele jogo cruel. Ao mesmo tempo, são reveladas as origens do comportamento violento, permitindo ao leitor traçar a personalidade dos alunos. Entretanto, o livro cria estereótipos em alguns momentos, como mulheres sem capacidades físicas e homossexuais atordoados. Apesar desses problemas, porém, Battle Royale é uma obra relevante, capaz de nos fazer refletir.


PROTAGONISTA

“Minha vida sem política não tem o menor sentido” Estudante de Arquitetura, Eduarda Alberto é a motogirl porta-voz do movimento fluminense dos Entregadores Antifascistas Fabrício Morais

Letícia Ozório de Carvalho, Marina Chaves Costa e Renan de Figueiredo Pereira

Março de 2020. Na tarde do dia 22, domingo, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PSC), decretava quarentena em toda cidade, válida a partir do dia 24, terça-feira. Enquanto isso, Eduarda Alberto, de 24 anos, mais conhecida como Duda, natural de Nova Iguaçu, no interior do Estado, atuava como bartender em casas noturnas cariocas. Ganhava pouco, apenas o suficiente para pagar as despesas e o aluguel do apartamento no centro. O destino de Eduarda era certo: os bares fecharam. E a estudante de Arquitetura perdeu, da noite para o dia, sua principal fonte de renda. De março a setembro deste ano, a pandemia do novo coronavírus e a consequente crise econômica no Brasil provocaram aumento no número de desempregados. Quase 9 milhões a mais que ano passado. Entre eles, 70% são, assim como Eduarda, trabalhadores informais que perderam sua principal fonte de renda durante a pandemia. Foi quando a estudante decidiu utilizar sua moto, que usava em deslocamentos rápidos, como ferramenta de trabalho. Começou entregando para amigas vendedoras de biocosméticos e produtos naturais. Por meio da recomendação das primeiras clientes, conquistou uma grande clientela, majoritariamente feminina. Em junho, o Movimento dos Entregadores Antifascistas (EAF) se organizava na cidade de São Paulo liderado pelo ativista Paulo “Galo” Lima, 31 anos. Cresceu em projeção nacional e chamou a atenção da motogirl. “Eu já sou anarquista, né? Então quando surgiu o movimento, fiquei querendo saber ‘Pô, quem é essa galera? Deixa chegar junto.’” “Galo” ganhou popularidade em março de 2020, por conta de vídeos que circularam nas redes sociais. Neles, denunciava os abusos cometidos pelas empresas de aplicativo em que trabalhava como entre-

Eduarda na manifestação Grito dos Excluídos: dia 7 de setembro de 2014, Praça Saens Peña, Zona Norte do Rio de Janeiro gador. Em uma troca de mensagens entre ela e “Galo” via WhatsApp, Duda percebeu a oportunidade de levar o movimento para o Rio de Janeiro. Com o auxílio do companheiro Álvaro Pereira, 21 anos, também motoboy, e de outros colegas entregadores, conseguiu organizar o EAF na capital carioca. Juntos, planejaram a criação de uma nova cooperativa de entregadores autônomos: a Despatronados. “Não tem outra alternativa pra quem é pobre além de se organizar, sabe? Se você não se organizar, outras pessoas farão isso por você.” Para Duda, a cooperativa é mais que uma fonte de renda. Significa a possibilidade da autogestão econômica para trabalhadores em condições de trabalho precárias. A ideia é testar uma nova dinâmica de esforço coletivo. Com o objetivo de compreender o que é necessário para finalmente formalizar uma cooperativa. “Além de um coletivo pra fazer dinheiro, é um coletivo de ajuda e solidariedade. De coletivizar esse apoio”, explica. MOTOGIRL

Na profissão majoritariamente masculina, Duda enfrenta assédio e violên-

cia constantes no trânsito. “A gente é socializada para dentro de casa, não é para ganhar o mundo”. Ela é vítima de ataques até mesmo em meio ao ativismo político: “No último Breque [dosApps], em específico, foi muito áudio de ameaça pra mim, muito áudio. ‘Se for com bandeira do não sei o quê vai levar porrada, se for com camisa dos Entregadores Antifascistas vai levar porrada’”. A motogirl se refere à mobilização dos entregadores que trabalham por aplicativos. Movimento que teve início na greve geral de 1º de julho, sob o nome de Breque dos Apps. Suas principais reivindicações são o aumento das taxas de entrega, seguro contra acidentes, preço mínimo por corrida unificado para todas as plataformas e o fim dos bloqueios indevidos de entregadores. O Breque se afirma como movimento “não político”, cuja pauta é apenas a busca por melhorias nos sistemas de aplicativo. Enquanto isso, o EAF defende a bandeira pró-democracia e se opõe ao governo Bolsonaro. Isso explica a resistência de alguns entregadores que participam do

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Breque em associarem-se ao movimento. Fora do movimento social, a rotina é puxada. Ela faz entregas durante a tarde - Centro, Zona Sul e Grande Tijuca (Zona Norte). De manhã, assiste às aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde cursa Arquitetura e Urbanismo. Decidiu ingressar na área quando se abrigou em ocupações. A família conservadora a expulsou de casa aos 17 anos por não aceitar seu posicionamento político. “Eu espero conseguir estar com outros arquitetos, formando equipes de assistência técnica para movimentos sociais, trabalhar com o Movimento Sem Terra (MST), com movimento de ocupações por luta por moradia.” Foi na ocupação indígena “Aldeia Maracanã”, na zona norte do Rio, que a universitária iniciou sua formação política anarquista. A partir daquele momento começou a compreender o sistema capitalista e o violento processo de colonização do Brasil. Além de encontrar uma forma de transformar suas dores em ativismo político - desde que milicianos assassinaram seu tio, Carlos Alberto Filho, a jovem sente ódio da polícia. “É curioso, porque quando você é uma adolescente colocada para fora de casa, na sua mente, você não tem mais o que perder. A minha expectativa de vida era muito baixa. Então meter a mão na cara de polícia não tem problema, sabe? Porque eu já não tinha expectativa de vida longa”. O sentimento de opressão, somado ao aprendizado na Aldeia, fez nascer a Duda ativista e futura arquiteta. A estudante, que está no último ano da faculdade, sonha em seguir a carreira acadêmica e levar para as salas de aula discussões sobre o espaço urbano, luta de classes e, sobretudo, a importância do trabalho coletivo. “Acho que todo ser tem que viver pro coletivo, porque individualmente a gente não é nada, qual nossa importância no mundo? Meu sonho individualmente não importa. O que importa é nosso potencial de transformação coletiva.”

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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS

Mulheres negras estão entre as maiores vítimas da pandemia Fayola Damaceno

Quando o primeiro caso de Covid-19 foi anunciado no mundo, na China, não se poderia entender ao certo o quanto de consequências na estrutura financeira isso traria para o Brasil e seu povo. Hoje, com mais de oito meses de isolamento social, começa a ficar evidente quem são os mais afetados. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do terceiro trimestre deste ano mostra que o desemprego aumentou e evidencia que a taxa entre pretos ficou em 17,8%; entre pardos, 15,4%; e, entre brancos, 10,4%. Ou seja, pessoas negras sofreram e estão sofrendo mais com as dificuldades causadas, seja pelo fato de não serem assistidas corretamente pelo governo, com políticas públicas que as subsidiassem nesse período, seja por conta da temida perda do emprego ou da impossibilidade de exercer suas atividades durante esse período de isolamento. Mulheres e a população negra e periférica são, no geral, mais afetadas por crises por compor a maioria dos trabalhadores informais - que, por sua vez, são os primeiros a serem demitidos ou perderem sua renda em meio às crises. Segundo o IBGE, 47,3% dos informais brasileiros são negros e as mu-

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Pixabay

Dados revelam que a população negra e periférica é mais prejudicada e apontam índices maiores de desemprego lheres, por sua vez, ainda compõem a maior parte dessa fatia. AUXÍLIO INSUFICIENTE

Uma história que exemplifica esse problema é a da babá Cristiane Potter, de 47 anos. Ela mora na Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, e sente na pele o que é ficar desempregada e com filho para sustentar, além de ajudar a mãe com as contas da casa. Pouco antes de o distanciamento social tomar a proporção que tomou ao final do mês de março, a patroa disse que a desligaria naquele momento por já ter sido afetada pela crise financeira. De lá para cá, Cristiane não conseguiu se inserir mais no mercado de trabalho, depois de 20 anos na profissão. Hoje ela vive com a ajuda da creche do filho. “Existe um projeto chamado ‘Mãe Solo’, recebi cartão merenda, que já ajuda bastante, mas ainda não é o suficiente, pois necessitamos de remédios, roupas, sapatos, mistura e produtos de higiene pessoal.” Além dessa renda, Potter também conseguiu receber as parcelas do auxílio emergencial, “que também não é muito quando se trata de alguém que é responsável por manter em dia todas as contas do lar”. Para ter uma ideia, o Brasil, segundo o terceiro boletim da Rede de Pesquisa Solidária do CEM-USP denominado “Covid-19: Políticas Públicas e as Respostas da socieda-

Informalidade, desemprego e pouco acesso a políticas afirmativas afetam de modo especial a mulher negra de”, teve os trabalhadores domésticos mais impactados com as medidas de isolamento social. As dispensas de 2020 foram consideradas a maior perda em nove anos. A FALA DE QUEM OBSERVA OS FATOS

Marcos Agostinho, sociólogo, cientista político e que cobre assuntos relacionados a políticas públicas para a população negra e questões sobre como essas pessoas são assistidas pelos governantes, integra o Movimento Negro Unificado, na cidade de Carapicuíba. Agora, em ano eleitoral, atuou promovendo pesquisas eleitorais para entender o que as pessoas esperam dos candidatos.

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Hoje, ele é Diretor do Instituto MAS Pesquisa e diz que houve avanços significativos no atendimento das necessidades da população negra. “Porém, regredimos muito com esse novo governo federal e, para termos um avanço memorável na história do Brasil, em que o negro seja verdadeiramente assistido e atinja um patamar mais igualitário, desde oportunidades no mercado de trabalho e acesso à universidade, existe um longo caminho a ser percorrido”. Segundo ele, não há muito “interesse genuíno em movimentar essa massa, se não por nós mesmos”. O sociólogo alerta que é importante olharmos para situações mais precárias,

sem esquecer daqueles que não atuam com serviços domésticos e/ou informais, têm empregos formais e mesmo assim encontraram dificuldades para manter a renda que possuíam antes desse período. Esse é o caso de Juliane Silva de Almeida, de 32 anos, moradora de Osasco, região metropolitana de São Paulo. Ela tem um filho de 4 e teve que recorrer a todas as possibilidades de auxílio do governo nesse momento crítico. Ela ainda trabalha na empresa, mas teve a carga reduzida e, consequentemente, o salário também caiu 25%. DE ONDE VEM AJUDA

Muitos projetos criados nas áreas periféricas, em

que se encontram, em sua maioria, pessoas negras e mães solos, destaca-se o coletivo ECOZ, composto inicialmente por quatro pessoas, envolvido com a plantação de alimentos saudáveis e “livres de venenos”, como eles mesmo costumam dizer. A ideia é atuar com distribuição de cestas básicas para mães solo da periferia, nas regiões oeste e central de São Paulo. “Desde que começou, foram mais de 100 famílias ajudadas, diz uma das integrantes, Deise Daiane de Oliveira, que, inclusive, é também integrante de uma mandata coletiva na cidade de Osasco. Para que os alimentos sejam doados e o grupo consiga continuar agindo, é preciso realizar vendas das cestas, assim, a cada duas vendas, uma é doada. O coletivo deseja propagar a ideia de distribuição de alimentos saudáveis para as populações com mais dificuldade de se alimentar, nas regiões periféricas, pois entende que mais pessoas podem colaborar para que, ao menos, haja comida na mesa dessas mulheres e de seus filhos e dependentes. “Se a mandata for eleita, a ideia é expandir para mais regiões e favorecer o maior número de pessoas possível, nesse momento pandêmico e também fora dele, uma vez que o cenário é sempre pior para o público em questão”, afirmou Deise.


RECURSOS

ENSINO

Renegociações evitam evasão estudantil

Consumo literário traz impactos na educação

Pixabay

Durante a pandemia, estudantes têm deixado as universidades por conta de dificuldades financeiras Gabriel Gomes e Renato Borges

Os alunos de ensino superior da rede privada sentiram os impactos financeiros resultantes da pandemia de Covid-19. Segundo o Instituto Semesp, que representa as instituições do ensino privado em São Paulo, nos meses iniciais da quarentena, entre abril e maio, 265 mil alunos trancaram a matrícula ou abandonaram o curso. O número apresenta uma alta de 32% em relação ao mesmo período de 2019. Bruna Thaís Rubinato, 21, estudante de medicina da Universidade Anhembi Morumbi de Piracicaba, teve sua renda familiar abalada pela pandemia e sente dificuldade para pagar as mensalidades no valor de R$ 10.258,84. A estudante cogita trancar

Mecanismos garantem refinanciamento e bolsas o curso, mas prevê malefícios à carreira. “Desestimula ficar seis meses parado e não ter continuidade com as aulas e o estágio. Eu vou me formar no meio do ano de 2024 e eu tinha feito meus planejamentos para as provas de residência”, desabafa. Segundo Caio Callegari, mestre em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e economista pela Universidade de São Paulo (USP), a evasão de

alunos do ensino superior causará impactos na economia e na ciência. “É no ensino superior que temos os principais avanços sendo construídos em matéria de pesquisa e de inovação e também em qualificação de profissionais para o mercado de trabalho.” Como alternativa, o economista defende que as universidades particulares adotem programas de proteção financeira aos mais vulneráveis e até uma possível intervenção

Ana Julia Guedes

pública: “Podemos pensar em algum tipo de auxílio vindo do Governo Federal para os estudantes, como se fosse um adicional em relação ao Auxílio Emergencial.” A Universidade São Judas Tadeu, como meio de impedir a evasão estudantil, aderiu a novos métodos de renegociação financeira, como o Seguro Educacional, que cobre até 100% do valor de três mensalidades em caso de perda involuntária de emprego e invalidez ou morte do responsável financeiro. “Sabemos que este momento de pandemia gera muitas incertezas, e, pensando nisso, criamos soluções financeiras para que os alunos continuem seu percurso com tranquilidade”, ressalta Amanda Moreira, funcionária da área de Relacionamento.

Gibis, livros e revistas - é difícil encontrar quem não esteja familiarizado com esses gêneros textuais. O cultivo de hábitos literários, especialmente desde cedo, é uma prática acompanhada por uma série de benefícios, tanto psicológicos quanto intelectuais. A leitura atua no processo de alfabetização, estimula a comunicação e a escrita e pode influenciar no desenvolvimento das habilidades de socialização dos seres humanos. “Acho que, quando você se abre ao mundo da literatura, muita coisa em você muda também. Além de fornecer muito conhecimento, ainda te faz atingir um equilíbrio mental. Nessa época de isolamento, serve como um refúgio”, conta Luana Borges, escritora da plataforma Wattpad. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida em uma parceria entre o Instituto

Pró-Livro e o Itaú Cultural, entre 2015 e 2019 o hábito de leitura da população brasileira caiu 4% - cerca de 4,6 milhões de leitores. Entre os principais motivos citados, destacam-se a falta de tempo, o preço dos livros e a falta de interesse. Para a professora e psicopedagoga Keila Luz Itri, de 51 anos, a tecnologia é um fator que interfere diretamente na falta de interesse dos jovens. “Os alunos estão sempre focados no celular, então a leitura, o manuseio dos livros perdeu muito o atrativo”. Outras abordagens podem ser utilizadas para estimular o aumento desse interesse. “Na escola, às vezes pegamos o primeiro livro de uma coleção para que a turma leia, daí eles podem acabar se interessando e continuar lendo as sequências. Nesse tipo de experiência, os resultados da leitura são melhores”, completa Keila.

nó, 34. Apesar das vantagens do atendimento online, é comum que regiões periféricas sofram com a falta de acesso a serviços de qualidade, e um deles é a internet. “Por mais que o atendimento seja gratuito, para o paciente há outras formas de investimento que não o dinheiro. Muitos não têm internet em casa e utilizam planos de dados, e o serviço de telefonia móvel no Brasil é caro e precário”, destaca Diego.

Atualmente, a Clínica Periférica de Psicanálise não possui horários disponíveis, mas existe uma fila de espera. Os interessados devem entrar em contato pelas redes sociais e precisam apenas ser moradores do Ermelino Matarazzo e região. “Não temos uma triagem, as pessoas mandam mensagens dizendo que querem ser atendidos e colocamos na lista de espera”, explica Isabela Zeato, 23.

SAÚDE MENTAL

Psicanalistas oferecem atendimento gratuito e online para a periferia durante a pandemia Nathalia Nunes

Um coletivo composto de oito psicanalistas de diferentes regiões da cidade de São Paulo deu início à Clínica Periférica de Psicanálise, projeto que visa transformar a relação da população periférica com a saúde mental e oferece atendimento online e gratuito para moradores de Ermelino Matarazzo (zona leste de SP) e região desde o início da pandemia.

A pandemia da Covid-19 afetou a rotina e a saúde mental de milhares de brasileiros. Segundo uma pesquisa do Ministério da Saúde levantada entre abril e maio de 2020, as proporções de ansiedade e estresse pós-traumático entre as pessoas analisadas atingiram os números de 86,5% e 45,5%, respectivamente. Apesar disso, o atendimento psicológico ainda é um tabu na periferia, conside-

rado privilégio de pessoas de renda média-alta. Pensando em democratizar o acesso à psicanálise para moradores de regiões mais distantes, que costumam ter seus direitos básicos como lazer, educação e saúde mal atendidos, surgiu a Clínica Periférica. “Sou uma pessoa que não teve esse acesso, então meu desejo é vender minha força de trabalho de forma gratuita. O meu

recebimento é dar aos outros a oportunidade que eu não tive”, desabafa Gabriel Martins Lessa, 25, integrante do projeto. Desde junho a clínica atua em parceria com o Movimento Cultural Ermelino Matarazzo, que ajudou o projeto a ser divulgado e atrair mais pacientes. “Durante a pandemia nós observamos um boom de atendimentos emergenciais”, conta Diego William de Faria Ren-

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ESPECIAL • DESAFIOS PAULISTANOS

Meio ambiente: desafio transversal para garantir o futuro da cidade Saneamento básico, acesso a recursos naturais, moradia digna, combate à mudança climática e controle de enchentes se conectam a uma pauta-chave para a prefeitura

Uma volta pelo centro e pela periferia já revela como problemas ambientais são a cara de São Paulo: falta de áreas verdes, massas de poluição que cobrem a cidade, alagamentos e ocupações em áreas de risco, entre outros detalhes que vão ser desafiadores para o futuro prefeito e acabam esbarrando em pautas históricas da capital - como desmatamento, proteção de mananciais e saneamento básico. Há décadas, a urbanização descontrolada da cidade levou à combinação de três fenômenos: concentração de carros soltando gases poluentes em longos deslocamentos, formação de ilhas de calor e poluição e construções em áreas verdes ou perto de mananciais, alterando cursos de rios e lagos que, posteriormente, reivindicaram - da pior maneira - seu espaço de volta. Tudo isso altera o clima e a vida cotidiana na metrópole. Conforme análise do jornal Folha de S. Paulo, a temperatura subiu quase 3 graus celsius desde 1960 e abriu um leque de novas preocupações para a população, principalmente a de maior idade, que vive problemas respiratórios e de hidratação agravados pelo fenômeno. José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais, diz que o aumento das temperaturas é natural, mas pode ter sido

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Caio De Luca

Isabelle Zanardi

Embora ligadas ao clima natural de SP, chuvas geram transtornos e alagamentos por conta da urbanização desordenada

acelerado por humanos com a urbanização, queima de combustível fóssil e desmatamento, mas não é possível saber qual porcentagem de culpa é natural e qual é humana. À onda de calor se soma outro problema: a crise hídrica no município, com alagamentos severos que contrastam com longos períodos de estiagem. Isso acontece porque há uma variação na quantidade de chuva em determinadas épocas do ano, com estações chuvosas e de seca. As primeiras resultam em

enchentes como a de fevereiro de 2020, em que 114 mm de água foram suficientes para inundar rodovias e moradias, aumentando também a proliferação de agentes infecciosos. Já as secas levaram ao racionamento de água em outubro de 2014, quando o Sistema Cantareira chegou a cerca de 5% de sua capacidade enquanto o consumo de água só crescia pelo tempo quente e pela necessidade de hidratação. Paradoxos de uma cidade difícil de gerir.

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TUDO INTERLIGADO

Pedro Jacobi, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), cita que os problemas ambientais na cidade de São Paulo são, principalmente, um efeito da urbanização sobre o ecossistema, decorrente da utilização inadequada dos recursos nautrais, como a água. Um fator significativo de degradação ambiental, ao lado da contaminação da água, decorre da limitação da rede de es-

gotos e do pouco controle dos dejetos tóxicos industriais e comerciais. Com a gestão de Bruno Covas confirmada, fica a pergunta: dá para resolver? Algumas ações já foram executadas nos últimos anos no campo ambiental: um exemplo é a proibição da distribuição de plásticos descartáveis em comércios, sancionada pela Câmara Municipal em 10 de dezembro de 2019, segundo a qual estabelecimentos terão até janeiro de 2021 para se adaptarem; caso contrário, serão multados

em até R$ 8 mil. A reincidência poderá levar ao fechamento do local. Outra promessa é o alinhamento do prefeito Bruno Covas ao Acordo de Paris, que firma compromisso em desenvolver plano para diminuir a emissão de gases causadores do efeito estufa em 30 anos. Também faz parte das promessas em andamento a construção de piscinões e melhoria das drenagens. Some-se aos resultados tímidos das ações concetras o exemplo que veio do pior lugar possível: a pandemia que reduziu impacto ambiental. Durante a primeira semana de quarentena obrigatória, o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo mapeou queda de 50% em concentração de poluentes no estado devido, principalmente, à redução de carros que circulavam diariamente na capital. De acordo com Pedro Jacobi, “a busca de soluções alternativas tem sido uma constante de muitas administrações locais, tendo na participação popular seu principal referencial". Segundo ele, o desafio é mobilizar de forma mais intensa a comunidade, reforçar a conexão internacional e incentivar que todo cidadão da cidade se mobilize na luta pela proteção e conservação ambiental.


ESPECIAL • DESAFIOS PAULISTANOS

Obras: investimento em infraestrutura de saúde e transporte impacta a ZL Thiago Henrique de Arruda

Região mais populosa da cidade ganha novas estruturas em ano eleitoral - mas segue saturada Thiago Arruda

Já é clichê: se é ano de eleição, os governantes supostamente trabalham mais intensamente nos bastidores para melhorias de infraestrutura e pensar nas soluções de pendências do tempo de mandato. Realçando a importância em obras na área da saúde e no transporte público, o destaque dos projetos da atual gestão - que foi reconduzida ao cargo - está na Zona Leste de São Paulo, que sofre com inúmeros problemas de estrutura e atrasos em obras. Metrô, unidades de saúde e ciclovias estão entre as ações-foco. Nem tudo, porém, vem do poder público. A empresa de transporte privado Uber investiu R$ 11,5 milhões para cuidar das ciclofaixas da grande São Paulo. Uma delas na Avenida São Miguel, Zona Leste da capital, que ganhou nova estrutura cicloviária, agora possui 4,85 quilômetros de extensão, entre as avenidas Professor Antônio de Castro Lopes e o cruzamento com as avenidas Dom Hélder Câmara e Governador Carvalho Pinto. Além delas, foram feitas melhorias nos corredores de ônibus. Esses recursos são sentidos em cada pequeno avanço, mesmo em um ano atípico por conta da pandemia. Muitos trabalhadores ficaram com receio de usar o transporte público, devido à superlotação. O organizador de eventos Gustavo da

riais, raios-X e eletrocardiografia. A capacidade é de 20 mil atendimentos. A reportagem, porém, detectou que a nova UPA não resolveu os problemas do Pronto Socorro do hospital. A população da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo cobrou a reabertura do Hospital e Maternidade Menino Jesus. “Está nítido que o hospital do Ermelino não está dando conta, alguns atendimentos sendo feitos na área da recepção”, comentou Adriana Favaro, diarista de 46 anos. O equipamento, de uso privado no passado, foi comprado pela gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), em 2014, com a proposta de se tornar um Hospital Dia, vinculado à Rede Hora Certa, mas isso nunca ocorreu. METRÔ

Ciclofaixa na Av. São Miguel

Motta, 26, comentou sua nova experiência de bike. “Estava indo trabalhar de ônibus, tinha que pegar duas conduções e as novas ciclofaixas facilitaram muito, me sinto mais se-

guro porque sei que não estou no meio da multidão do transporte público”, explicou. Entregas da prefeitura também ocorreram na área da saúde. Tam-

bém na Zona Leste, foi inaugurada no começo deste ano uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), a 13ª na capital e a quarta na região. Somada às UPAs Tito Lo-

pes, 26 de Agosto e Julio Tupy, a UPA Ermelino Matarazzo oferece atendimentos de complexidade média em clínica médica, pediatria e ortopedia, exames laborato-

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Com mais uma obra em andamento, Penha de França, um dos distritos mais antigos e tradicionais de São Paulo, ganhará uma nova estação de metrô, próximo às suas principais ruas. A Penha já tem uma estação localizada na Radial Leste, da Linha 3 - Vermelha; no entanto, a parada fica mais próxima da Vila Matilde e não atende o "miolo" do bairro. As obras demoliram alguns imóveis para a área onde a estação será construída. Até o momento, o projeto conduzido pelo Governo do Estado está previsto para ser entregue em 2026.

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ESPECIAL • DESAFIOS PAULISTANOS

Economia: a vocação e o futuro dos negócios na cidade Do centro às periferias, iniciativas voltadas à economia criativa, à cultura, à tecnologia e às comunicações serão motores de crescimento

Em ano de eleições, a incerteza política pode afetar o setor financeiro. Investidores e empresários podem preferir se resguardar durante esse período, diante da volatilidade do mercado influenciado pelas pesquisas eleitorais. Além das eleições municipais, em 2020 a economia também foi impactada pela pandemia do novo coronavírus e a taxa de desemprego atingiu o recorde de 14,6% em outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse mesmo cenário, 716 mil empresas fecharam as portas, sendo que quatro em cada 10 afirmam ser consequência da pandemia, de acordo com a pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas. No centro desse problema, São Paulo é a cidade com maior Produto Interno Bruto municipal do Brasil. Qual o futuro dessa economia? Ao que tudo indica, basta olhar para as vocações dos negócios. O Mapa da Economia Paulista, estudo inédito feito pela Desenvolve SP, mostra os setores econômicos mais fortes de cada região do estado. De acordo com uma projeção do Mapa, a PIA (População em Idade Ativa) em 2030 deverá corresponder a 15,2 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, constituída por 39 municípios. Esse con-

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Caio De Luca

Ana Paula Sousa da Silva e Marina Chaves Costa

Setores ligados à economia criativa são promissores em cidades de perfil desindustrializado como SP

tingente de mão de obra pode ser posicionado nos setores que, segundo o estudo, têm oportunidades de crescimento no cenário da economia da região. SERVIÇOS EM FOCO

Entre eles, estão os serviços de alto valor agregado (como publicidade, engenharia e tecnologia da informação) e também a economia criativa, com ênfase em cultura e moda. Além disso, por ter a maior concentração de empresas

da cadeia de economia criativa do país, há um cenário favorável à criação de startups com centros de difusão de criatividade e empreendedorismo. A gestora de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Melise do Nascimento conta que, desde 2008, com a criação da figura do Microempreendedor Individual (MEI), a quantidade de pequenas empresas aumentou. Em 2020, esse número

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ultrapassou a marca de 10 milhões, sendo que 985 mil novos MEIs foram registrados entre março e setembro deste ano, um aumento de 11,2% se comparado ao mesmo período no ano anterior, segundo o Portal do Empreendedor. “A perspectiva de a pessoa ser empresária, tendo seu próprio CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), é uma tendência e vem crescendo cada vez mais”, afirma a gestora de negócios. “Isso veio para

ficar, não agora na pandemia, mas já há muito tempo”, completa. FORA DO CENTRÃO

Embora a região central seja um catalisador desse tipo de iniciativa, cada vez mais organizações periféricas se estabelecem na economia criativa. Com a crise, desempregados e trabalhadores informais buscam uma nova fonte de renda no negócio próprio. Como afirma a coordenadora de qualifi-

cação profissional do Instituto Vozes das Periferias, Letícia Fernando Armindo, “o empreendedorismo na favela é uma coisa que gera renda, oportunidades e contribui para a autoestima da pessoa”. O sócio fundador da Empreende Aí, Luís Henrique Coelho da Silva, 27 anos, explica que “quando falamos de negócios na periferia, estamos falando principalmente de prestação de serviços". Isso porque as pessoas conseguem iniciar um projeto com os materiais que já têm em casa. "Em moda, por exemplo, vemos muitos brechós”, diz. Segundo o Sebrae, micro e pequenas empresas que comercializam artigos usados cresceram 210% entre 2007 e 2012. “Essa economia gera oportunidades para pessoas que estão longe dos grandes centros”, afirma Luís Henrique. Uma pesquisa feita em parceria pelo Ibope e pela Rede Nossa São Paulo, em setembro de 2018, revelou que o tempo médio de deslocamento dos paulistanos é de 2h43 por dia. Ou seja: negócios locais têm seus benefícios, também, em termos de bem-estar. A presença de empreendimentos na periferia de São Paulo aponta para um cenário positivo na economia de regiões mais pobres. “Isso tem um efeito bastante significativo, porque esse dinheiro fica na própria comunidade. Esse é o principal impacto: manter o dinheiro na mão da periferia", diz Silva.


ESPECIAL • DESAFIOS PAULISTANOS

Educação: uma ferida aberta na gestão municipal Pixabay

Adaptação à pandemia e problema histórico de vagas desafiarão prefeito nos próximos anos Caique Macedo e Tiago Potratz

Reeleito em segundo turno, o prefeito Bruno Covas (PSDB) tem pela frente uma dura batalha à frente da gestão da pasta municipal de Educação. A escassez de vagas em creches no ensino infantil se soma a uma rotina ainda incerta, sem data para acabar, em escolas que lidam com a pandemia da Covid-19 por meio de ferramentas digitais. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais (Inep), pouco mais de 60% das crianças de zero a três anos estão em creches. Mais de 22 mil crianças aguardavam em fila oficial por uma vaga na metade de 2020; 6,6 mil delas, em específico, na educação infantil. O problema não é de hoje: a Rede Nossa São Paulo aponta que há bairros com mais de 150 dias de tempo médio de espera para uma vaga em creche. Em tempo de eleição, Covas afirmou que o plano é zerar a fila de espera dessas unidades em 2021. Para isso, porém, seriam necessárias 50 mil novas vagas, incluindo compras de vagas no ensino particular. Outro problema a ser enfrentado na área de educação é a adaptação ao ensino digital. Manter os alunos motivados e participando das atividades propostas tem sido um dos desafios nesse período de aulas on-line. No ensino público, em que as condições enfrentadas pelos estudantes quase sempre são mais adversas que na rede

Incerteza das salas de aula com a Covid-19 desgasta professores e alunos e coloca ensinos infantil e fundamental em crise

privada, essa tarefa é ainda mais árdua, exigindo grande adaptação e criatividade dos docentes. A cidade de São Paulo teve autorizações de retorno de atividades extracurriculares desde 7 de outubro em ensinos infantil e fundamental. No entanto, o retorno segue

facultativo e tem pouco mais de 1% de unidades reabertas, segundo dados de novembro. O aumento das taxas de contágio do novo coronavírus no município, porém, coloca os planos de retomada em risco e reforça a importância de se tentar manter o calendário da

educação pública com ferramentas digitais. DESIGUALDADE

Patrícia Kodjaian, 35 anos, é professora na Escola Municipal de Educação Infantil Ministro Bilac Pinto, na zona norte de São Paulo. Ela tem planejado aulas dinâmicas para

manter os alunos motivados. Uma de suas experiências é estimular a criatividade dos estudantes por meio da culinária. “Pedi que gravassem um vídeo de 5 minutos preparando um bolo de caneca junto com a família. Dou atividades como essa e peço para eles postarem na página do Fa-

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cebook ou no Google Sala de Aula”, explica. Além da desmotivação causada pelo distanciamento e por outras questões complicadas que as famílias têm enfrentado nesse período de pandemia, há o problema da exclusão digital. De acordo com dados divulgados em 2019 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 4,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, na faixa de 9 a 17 anos, não têm acesso à internet em casa. Eles correspondem a 17% de todos os cidadãos do país nessa faixa etária. Existem aqueles que possuem um acesso precário, dificultando o acompanhamento das aulas síncronas (aquelas em que professor e discente podem interagir no mesmo momento). Para atender os alunos que não conseguem acessar a internet com sincronicidade, Patrícia grava todos os encontros e envia o link deles, para que os estudantes possam acompanhar mais tarde. Marina Nunes, professora que atua no Centro Integrado da Educação de Jovens e Adultos (Cieja), também trabalha dessa maneira. Ela produz as aulas, posta no Youtube e no Facebook e ainda encaminha pelo WhatsApp. Marina atua no primeiro módulo do Cieja, com jovens e adultos. Por esse motivo, busca interagir no mínimo duas vezes por semana nos grupos a fim de estimular a rede, pois a tendência é que esse público desista mais facilmente dos estudos. “É um desafio diário”, desabafa.

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VIDA DIGITAL

Tours virtuais adaptam negócios a um mundo mais digital A criatividade e a inovação são a chave para lidar com uma crise no setor de negócios e entretenimento. Com a pandemia do novo coronavírus, os ramos tiveram que se adaptar às exigências do isolamento social. Principalmente nesse momento, a tecnologia tem se mostrado uma grande aliada. “Saber se adaptar de uma forma rápida e não ser uma tartaruga e ficar acreditando em modelos do passado, porque esses modelos vão cair e quem continua no modelo do passado vai morrer em termos econômicos”, diz o artista e realizador Paulo Varella, que afirma que o diferencial é vender a experiência para o consumidor. Um dos exemplos de trabalhos da Arteref, fundada por Varella, são os

Paulo Varella

viewing rooms, exposições com tours virtuais que impressionam com a atenção aos detalhes, como a inserção de sons ambiente, som de passos, imagens em 4K etc. A ideia é que tudo fique com o aspecto mais realístico possível, além de o espectador ter a oportunidade de interagir assinando o livro de presença da exposição. “Eu olho isso aqui e já acho que é ultrapassado”, pondera. “A realidade virtual tem pouco mais de 10 anos, é muito recente. O Google Street View foi o grande primeiro tour virtual que permitiu entrar nas lojas e passear pela cidade”, diz Francisco Toledo, presidente da Iteleport, uma empresa de tour virtual voltada principalmente para o ramo imobiliário. O setor imobiliário aliado à tecnologia conseguiu se destacar, levando a experiência de compra para a casa

Nova experiência encanta compradores Francisco Toledo

Gabriela Carvalho e Maria Luísa Garcia

Francisco Toledo

Incerteza sobre andamento do combate à pandemia e uso intensivo de tecnologia transformam ramo imobiliário, arte e turismo

do consumidor. A pessoa passa a ter acesso à imagem 3D e um tour virtual do apartamento ou casa para tomar uma grande decisão de compra no longo prazo,

que envolve anos de financiamento. Quem imaginaria ver a planta de um apartamento de forma completa? As vendas de imóveis são mais assertivas quan-

do a pessoa consegue visualizar bem o local e ver se aquele lugar pode ser o seu novo lar, diz Toledo. “Os tours virtuais para imóveis na planta foram um grande sucesso, porque as pessoas realmente tinham dificuldade de compreender os empreendimentos, as áreas de lazer e a planta do imóvel que elas estavam comprando”. Na pandemia, naturalmente, o serviço mais do que dobrou. “O pessoal brinca que na área imobiliária houve um crescimen-

to de 5 anos em 5 meses, que aumentou o nível de digitalização do negócio”. Varella possui uma viewing room de uma biblioteca, um projeto lançado recentemente, e pretende gamificar a plataforma, tornando-a mais interativa e atrativa no futuro. A gamificação é o objetivo e perspectiva para a evolução dos tours virtuais em ambos os campos - seja o consumo de arte, seja nos negócios imobiliários ou na experiência de conhecer novos lugares.

ALÉM DA CORRENTE

Projeto de educomunicação oferece rádio-aulas via WhatsApp Beatriz Silva e Júlia Moura Num mundo cada vez mais conectado e tecnológico, diferentes ferramentas de comunicação têm sido usadas com o propósito educativo, apresentando conteúdos ricos para crianças e jovens de maneira democrática, atrativa e inovadora. A área de

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educomunicação, que explora uma nova forma de ensino a partir dos meios de comunicação, vem sendo muito valorizada neste cenário e conta com projetos interessantes, como o Julio Verne Audiovisual (JVA), que oferece aulas numa rádio no WhatsApp. Silverstom Gabriel, que é pedagogo, produtor de

conteúdo e apresentador no JVA, é responsável pelas rádio-aulas via WhatsApp. Nelas, ele conta momentos importantes da história e da cultura por mensagens de áudio, interpretando personagens e interagindo com os alunos. Também costuma trazer convidados, que possam contribuir com os assuntos trata-

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dos nas rádio-aulas. O educador explica como surgiu o projeto. “Escolhemos essa mídia para ressignificar a tecnologia. O aparelho celular, metaforicamente falando, representa as ondas sonoras. O WhatsApp representa a emissora ou o programa. Conseguimos mexer com a imaginação do aluno, ex-

plorando o áudio, em uma tecnologia atual e muito usada, que é o WhatsApp.” As rádio-aulas no WhatsApp rádio deram certo durante a pandemia. Silverstom agora pensa em criar programas de TV também via WhatsApp. “Estou cogitando isso. Já que deu certo o programa de rádio, por que não um de TV?”.

Paulo Varella

"Zap" também é cultura


MAIS PLURAL

Influencer sim, mas que tenha representatividade

Criadora de conteúdo digital discute dilemas da diversidade no mundo dos influenciadores Nathalia Camargo mora em São Paulo e é criadora de conteúdo digital. A paulistana de 21 anos produz vídeos para o Instagram e para o YouTube sobre maquiagem, dá dicas sobre cabelo cacheado e também realiza alguns desafios, que ficaram ainda mais populares durante o período de isolamento social. Além disso, ela está no último ano do curso de Química e cogita se especializar em cosmetologia, algo que faz parte de seu trabalho nas plataformas digitais. Como as mídias sociais podem formar o conceito de beleza e acabam por padronizar rostos, cabelos e corpos, Nathalia conta sua trajetória enquanto mulher preta para se encaixar no mercado dos influencers - que pode, muitas vezes, ter pouca diversidade. A blogueira também relata como a representatividade é importante nas plataformas digitais que ocupam cada vez mais espaço em nossas rotinas. Expressão - Quando e por que você começou a produzir conteúdo? Quais as maiores dificuldades? Nathalia - Comecei no ano passado, em 2019. Mais precisamente em novembro, porque minhas amigas me incentivaram bastante a fazer maquiagens para o Instagram. Estava na moda fazer desafios de maquiagem, então entrei na onda. As maio-

Reprodução Instagram/@natthaliacfs

Odilon Santiago

Criação de conteúdo com visibilidade a diferentes padrões de beleza é foco do trabalho de Nathalia

Nathalia Camargo, produtora de conteúdo para internet res dificuldades foram as edições, porque eu nunca havia feito vídeos muito elaborados, então era meio difícil sincronizar (imagem e áudio) muito bem. Quais são suas maiores inspirações? Tenho como inspiração algumas influenciadoras. Mariana Saad e Thamires Rangel são algumas de que gosto muito. Mas tem várias outras mulheres que acompanho também, depende do conteúdo do

vídeo. Procuro sempre me inspirar em mulheres diferentes e homens da comunidade LGBTQIA+.

cinco anos e meio, mas passei pelo processo de transição capilar. Da progressiva ao natural.

Quando mais jovem, você tinha acesso a algum conteúdo que valorizasse seu cabelo cacheado? Isso influenciou na sua aceitação ou “se aceitar” nunca foi um problema?

Durante esse tempo no Instagram, você acha que o mercado da produção de conteúdo é formado, em sua maioria, por mulheres brancas?

Não, não tinha acesso a esse tipo de conteúdo, então não foi fácil aceitar meu cabelo. Tenho ele cacheado faz mais ou menos

Acredito que sim, mas, de uns meses para cá, as mulheres negras estão criando seu espaço também. Teve uma época nesse ano, em 2020, após

a morte de George Floyd, que as pessoas começar a “acordar” e levantar a bandeira antirracista. Algumas pessoas brancas inclusive deram espaço para pessoas negras em suas redes sociais, compartilhando seus conteúdos. Mas ainda é um caminho longo. Para você, qual a importância da representatividade? Quais as pautas mais relevantes em qualquer discussão atual? A representatividade é extremamente necessária, seja para homens e mulheres, seja para gordos ou magros, negros ou índios, pessoas com deficiência ou não. Essas pessoas também precisam se sentir bem e conseguir se enxergar em outras pessoas. Como você se sente

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podendo ser referência e contribuir para a aceitação de outras garotas negras? É uma responsabilidade muito grande, mas me sinto extremamente feliz quando recebo mensagens de meninas negras e crespas elogiando meu trabalho, pedindo dicas ou até mesmo me agradecendo por representá-las e inspirá-las. Quais as metas para o futuro em termos de produção de conteúdo? E no restante da carreira? Quero muito continuar nessa área de beleza, como influenciadora digital. Futuramente, quero ter minha própria marca de maquiagem e poder inspirar cada vez mais pessoas.

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CULTURA E ARTES

Profissionais da cultura sofrem com efeitos da pandemia Pesquisa mostra que, entre março e abril de 2020, 42% dos artistas brasileiros tiveram redução de 100% em sua receita Camila Montino Chagas, Juliana Pequeno de Oliveira e Maria Eduarda Alves Saldanha

Com o início da pandemia, espaços culturais foram fechados e o ritmo das produções artísticas caiu. Os profissionais da área foram drasticamente afetados e tiveram que se reinventar para entregar o conteúdo para o seu público. Shows se tornaram lives e muitas exposições se adaptaram para o modo drive-in, mas muitos artistas simplesmente não conseguiram continuar a exercer a sua arte, ficando sem renda. Segundo dados da pesquisa “Percepção dos Impactos da Covid-19 nos

Setores Culturais e Criativos do Brasil”, divulgados pelo Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, para 42% dos artistas brasileiros a pandemia acarretou na redução de 100% de receita com seu trabalho, entre março e abril de 2020. Os artistas autônomos foram ainda mais afetados. É o caso de Maurício Martins, 35, cantor, professor de música e morador de Suzano, na Região Metropolitana de São Paulo. “Foi difícil se reinventar. Todas as atividades foram paradas, eu tinha eventos marcados e todos foram cancelados. Como também dou aulas, tive

que mudar para o virtual, mas não consegui realizar os shows que eu previa”. Em 20 de abril de 2020,

a Secretaria Especial de Cultura do Governo Federal apresentou uma instrução normativa que

flexibilizou a execução de projetos culturais financiados por meio do Programa Nacional de Apoio à Cultura, implementado pela Lei Rouanet. Foi a única ação específica voltada aos trabalhadores do setor cultural. Uma medida insuficiente para resolver a grave situação em que se encontram muitos artistas, que dependem da arte para sobreviver. Renato Lellis, 28, produtor cultural, compositor e professor de música em São Paulo, destaca quais medidas poderiam ser tomadas: “o governo poderia ajudar simplesmente procurando entender os problemas da classe e

dos artistas, as dores e as aspirações. Coisa que aparentemente não está nem perto de acontecer”. Muitas pessoas acreditam que o setor cultural não é tão importante como outros impactados pela crise gerada pela pandemia. No entanto, vale ressaltar que ele é estratégico para o desenvolvimento econômico, pois gera emprego e renda, além de reproduzir valores e a identidade nacional. “A área cultural permite empregos, permite que a engrenagem continue trabalhando, porque a cultura influencia na nossa parte racional e emocional”, complementa Lellis.

FICÇÃO SERIADA

Gravações novas em ritmo lento estimularam reprises na TV Reprodução

tiveram que adaptar as formas de entretenimento ao longo do ano de 2020. Para isso, uma das soluções foi utilizar um método acertado: reprises de novelas e séries em horário nobre, saída para emissoras de TV aberta e sucesso durante a quarentena. Produções que foram um sucesso na sua transmissão original, como “A Força do Querer”, da Rede Globo, e “Floribella”, da Rede Bandeirantes, voltaram nos últimos meses para preencher as lacunas da

Exibir sucessos foi a solução durante pandemia Alicia Alves e Melissa Carnaúba Para um país que tem uma força muito grande em produções televisivas, principalmente em tele-

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novelas, a pandemia da Covid-19 causou grande impacto nesse setor. Com as gravações canceladas para a segurança de todos, as emissoras de televisão

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programação deixadas pelo cancelamento das gravações. Apesar de as reprises terem recebido muita atenção nas redes sociais, algumas tiveram críticas por estarem já datadas. Um bom exemplo foi a novela “Fina Estampa”, transmitida pela Rede Globo - que, em sua reprise, não recebeu o mesmo olhar do público como no ano de seu lançamento (2011). De acordo com Elmo Francfort, responsável pelo projeto TV Ano 70, curador do Memorial da Televisão Brasileira e coordenador do Memória ABERT, as críticas surgi-

riam de qualquer forma. “O mais importante nesse momento é que tais adaptações permitiram não só preservar as equipes, mas fazer com que as emissoras criassem protocolos de segurança, assim como adaptações em formatos e criações de formas de produção remota”, conta. Apesar disso, as reprises não foram a única saída para as emissoras, principalmente a Rede Globo, que graças à tecnologia conseguiu produzir séries e outros programas feitos pelos atores em suas próprias casas. “Eu sinto que a pandemia

trouxe algo de que a televisão precisava há tempos. Princípios existentes em 1950, quando a TV chegou ao Brasil com a Tupi, e que jamais deveriam morrer: elaborar um conteúdo com os recursos possíveis, improvisando para atingir ao máximo o profissionalismo aliado à criatividade”, explica. “Desde ‘Diário de um Confinado’ e ‘Conversa com Bial’ às lives musicais e muitos outros programas, temos uma vasta experiência acontecendo que ajudará na evolução do conteúdo e da linguagem da TV para o futuro.”


MAIS DESCE DO QUE SOBE

Secretaria da Cultura prevê R$ 475,1 milhões para o orçamento de 2021 Edilson Dantas

Verba de SP para a cultura sofre queda de R$ 17,6 milhões na virada do ano

Orçamento da cultura na cidade de São Paulo 2016 - 2021 2016 501,0 milhões

Último ano de Fernando Haddad

2017 518,7 milhões

Orçamento previsto por Haddad, mas com o gerenciamento de João Dória

2018 478,2 milhões

Acesso a cultura e artes depende, em muitos casos, de investimento público e privado Gabriel Gomes e Renato Borges

A redução do orçamento cultural prevista para 2021 expõe uma crise nesse segmento na cidade de São Paulo. Após o término do mandato de Fernando Haddad (PT), a pasta vem sofrendo cortes e contingenciamentos por parte dos governos posteriores, de João Dória e Bruno Covas, ambos do PSDB. Em 2016, último ano da gestão Haddad, foram antevistos R$ 518,7 milhões para o orçamento cultural de 2017; com Dória, apenas R$ 293 milhões foram usados. Segundo o então governo, o restante

foi contingenciado para o pagamento de contas, porém, ao fim do governo Fernando Haddad, foram deixados R$ 5,3 bilhões em caixa. A participação da cultura dentro do orçamento geral da cidade de São Paulo foi menor ano a ano. Em 2018, foram destinados R$ 478, 2 milhões, com uma queda de R$ 40,5 milhões em relação ao ano anterior. Já em 2019, a queda foi ainda pior, R$ 66 milhões a menos, com um total de R$ 412,2 milhões designados à pasta cultural. Neste ano, a verba passou para R$ 492,7 milhões, no entanto, até outubro foram usados apenas R$

228,4 milhões. Para Gil Marçal, ex-chefe da Representação Regional do Ministério da Cultura em São Paulo, a postura dos chefes municipais não foi adequada no segmento. “O primeiro um ano e meio com o Dória e os dois anos e meio com o Covas apresentaram um retrocesso muito forte para a cultura e um desmonte das políticas públicas que foram construídas ao decorrer de anos.” Agora com R$ 17,6 milhões a menos para 2021, segundo pior orçamento dos últimos cinco anos, os segmentos culturais sofrerão ainda mais com

problemas financeiros, agravados pela pandemia de Covid-19. “Os que mais terão dificuldades são aqueles programas que promovem a cidadania cultural, que levam a arte para a periferia”, relata Gil Marçal. A redução do orçamento cultural tem impactado nas leis de incentivo, como o fomento à dança, ao circo, ao teatro, à música e à cultura nas periferias. “Viver da cultura, no Brasil, é muito complicado, e ter um governo que demoniza a classe artística só torna as coisas piores”, disse Julie Sousa, 35, produtora musical e baterista.

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Orçamento previsto por João Dória, mas com o gerenciamento de Bruno Covas a partir do dia 6 de abril

2019 412,2 milhões

Orçamento previsto e gerenciado por Bruno Covas

2020 492,7 milhões

Orçamento previsto e gerenciado por Bruno Covas

2021 475,1 milhões

Orçamento previsto por Bruno Covas para o ano que vem

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ESPORTE E LAZER

São Judas e Juventus firmam parceria para o time feminino da equipe grená Parceria reforça laços entre a universidade e o bairro que acolhe seu maior campus

Depois da Copa do Mundo da Fifa de 2019, o futebol feminino vem crescendo cada vez mais no Brasil. Grandes clubes têm investido na categoria, como os paulistas São Paulo, Santos, Palmeiras e Corinthians, que têm times na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Por sua vez, o tradicional Juventus da Mooca está disputando a Série A2 da competição nacional e classificou-se para as quartas de final do torneio. Na camisa do time da

Crédito

Gustavo Dervelan

Zona Leste de São Paulo está estampado o nome da Universidade São Judas Tadeu, que firmou uma parceria com a equipe grená no final de outubro deste ano. A ação não consiste apenas no patrocínio master do Juventus, mas também no uso das instalações da faculdade por parte das atletas para treino, como quadras, piscina e academia, além de descontos em cursos de graduação e pós-graduação. TRADIÇÃO

O patrocínio foi uma forma de a São Judas co-

memorar os seus 50 anos de existência. “O Juventus é para nós um ícone, e, como damos muita importância para o futebol feminino, firmamos uma cooperação em nosso cinquentenário. É uma grande alegria”, disse Maurília Soares, diretora de projetos especiais e parcerias estratégicas da São Judas. Além disso, a iniciativa repercutiu positivamente e ganhou elogios dos alunos da instituição. “É muito legal ver uma colaboração entre duas referências do bairro. O futebol feminino

precisa mesmo de mais impulso”, diz Luis Kato, estudante de Jornalismo. O gestor do departamento de futebol feminino do Juventus, Cláudio Roberto Boaventura, ressalta que a união com a Universidade contribui também com a missão de promover a formação humana das atletas e colaboradores. “Recebemos a notícia com muita alegria, é uma instituição séria e bem conceituada. Ter o apoio de uma entidade como essa é muito importante para formar cidadãos”, diz.

Time está nas quartas de final da Série A2

ADAPTAÇÃO

Luciano Miyoshi Não fosse a pandemia de coronavírus, o mundo estaria vendo os Jogos Olímpicos de Tóquio. A Covid-19, no entanto, paralisou todas as atividades e alterou o planejamento, frustrando atletas de elite em todo o mundo. A maior competição esportiva do planeta teve de ser adiada pela primeira vez na história e está remarcada para o dia 23 de julho de 2021. O Comitê Olímpico Internacional (COI) manteve o nome original e seus protagonistas tentam recuperar o tempo de preparação perdido.

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Com isso, os competidores precisaram repensar suas agendas e alterar viagens diante das mudanças no calendário internacional. Vários treinam em casa, com suporte de seus clubes e técnicos, e usaram a criatividade para minimizar os problemas, adaptando as suas rotinas à quarentena. Um exemplo é a esgrimista ítalo-brasileira Nathalie Moellhausen. Campeã mundial no ano passado, em Budapeste, na Hungria, ela mora em Paris e treinou em sua residência antes de poder retomar as atividades presenciais.

“Foi um choque no início, mas treinar em casa foi uma experiência ótima. Treino de cinco a sete dias por semana e consigo focar em projetos sociais e artísticos”, diz Nathalie. Atletas que vivem no Brasil, porém, não viveram a mudança com tanta naturalidade e também tiveram de improvisar maneiras de manter o foco e a forma. A situação é ainda mais complicada para quem disputa esportes como natação e ginástica, que, por ausência de espaço ou aparelhos específicos em seu ambiente doméstico, ficaram sem

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qualquer ritmo de competição. O Centro de Treinamento Time Brasil, no Parque Aquático Maria Lenk, abriu as portas para 40 atletas, além de treinadores, equipes multidisciplinares e funcionários do COB, todos testados previamente. “O Centro de Treinamento Time Brasil dar esse suporte pensando no ano que vem é muito importante, principalmente para mantermos o ritmo de treinamento”, analisou o judoca Victor Penalber, bronze no Mundial de 2015, que ainda busca vaga em Tóquio.

Crédito

Longe das competições, atletas olímpicos refazem suas rotinas durante a pandemia

Esgrimista ítalo-brasileira Nathalie Moellhausen O primeiro grupo a utilizar o espaço é formado por atletas que residem no Rio e já garantiram vaga para os Jogos ou estão próximos da classificação olímpica. O

Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo (CNDA), localizado em Bragança Paulista, também foi reaberto no início de agosto.


IMPACTO SOCIAL

Atléticas atuam em prol da sociedade Thiago Henrique de Arruda, Gabriel Sá, Vítor Ribeiro e Vinícius Coelho

O que são as atléticas todos nós sabemos. São agremiações, criadas pelos próprios universitários, para desenvolvimento de competições esportivas, festas e integração de colegas dos mesmos cursos. Apesar disso, muitos não sabem que as atléticas também têm um foco nas ações sociais, inclusive durante a pandemia que o mundo atravessa, causada pela Covid-19. A atlética Tourão Amigos, da Universidade Anhembi Morumbi, composta de alunos da área da Saúde e alega trabalhar para melhorar a situação dos moradores de rua da região central. “Desde abril, contamos com a parceria dos Médicos do Mundo realizando ações quinzenais e, atualmente, mensais. Já entregamos 4 mil kits de higiene pessoal, 500 marmitas e apoiamos na triagem de enfermagem (medindo temperaturas e fazendo testes de Covid)

Fotos de Julia do Carmo

Grupos universitários promovem ações solidárias durante a pandemia

na região da Sé”, contou a estudante de Enfermagem e atleticana Jullia do Carmo. A região central concentra boa parte dos 25 mil moradores de rua de São Paulo. Em parceria com o Instituto Human e o Saúde da Rua, voltados para a população em situação de

alta vulnerabilidade social, a Tourão ofereceu apoio nos serviços de saúde. No total, foram 130 atendimentos médicos em várias áreas, 130 na triagem de enfermagem e também 153 testes rápidos de várias doenças além de gravidez. Entre os testes HIV, hepatite C, sífilis e glicemia. A atlética também organizou uma ação social para entrega de 130 cobertores no período mais frio do ano em São Paulo, no mês de agosto. Além disso, em parceria com o Motoclub Insanos, os alunos distribuíram kits de higiene e cestas básicas para uma comunidade do Jardim Tremembé, na zona norte da capital. “Isso é a enfermagem, isso é ser humano”, destaca Jullia. Do outro lado dos trilhos da Mooca, na Universidade São Judas, a Atlética de Comunicação

Serviços sociais e impacto na comunidade são pressupostos da ação das atléticas

e Artes (ACASJ) organizou algumas ações durante a pandemia. “Promovemos o Dia dos Avós e arrecadamos doações em dinheiro para compra de kits de higiene para todos os idosos da Casa de Repouso Mereles e Brites, entregando tudo via Uber”, ressalta a presidente da entidade, Caro-

lina Fernanda. Neste período de isolamento por conta da pandemia, a saúde mental é tema abordado na atlética. Em parceria com o ZenClub, plataforma de atendimento psicológico online, a pessoa que usar o código eusoucoelho ganha R$ 50 de desconto na primeira consulta.

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O coelho é o símbolo da atlética. E vem mais por aí: a ACASJ e atléticas de outras faculdades se juntaram para arrecadar doações para a ONG Bem da Madrugada, coletivo que ampara pessoas em situação de rua. As agremiações estão demonstrando que a união faz a força no combate ao coronavírus.

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INFOGRĂ FICO

Mariana Trigueiro

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