Expressão - Ed2 - 2021

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USJT

junho 2021

ano 28

edição 2

ESPECIAL - Págs. 6 a 9

Ícones da pandemia

As valiosas contribuições de profissionais como Ester Sabino, Lidiane Melo, Pedro Hallal e Mônica Calazans para minimizar as consequências da Covid-19


CAR@ LEIT@R

#INSTANTÂNEO Gabriela Nolasco

A gente sabe: a pandemia é uma pauta que cansa você, leitor. E também cansa quem a cobre – no caso, nós e toda a imprensa profissional. Quando decidimos inserir este tema mais uma vez nas páginas do Especial, a pergunta que nos fizemos foi simples: o que trazer dessa história que faça valer uma leitura do nosso jornal? E a resposta veio justamente do olhar aguçado d@s repórteres, que mapearam, na enxurrada de vozes e deliberações públicas, histórias de pessoas que fizeram diferença até aqui no combate à Covid-19. Pesquisadores, cientistas, profissionais de assistência, trabalhadores... gente que agiu criativamente, com empatia, olhou

pelo próximo e questionou as injustiças em curso em nosso País. São perfis que certamente te farão ver como a pandemia também pode revelar o melhor que há em cada um de nós. Narrativas que ajudam a quebrar o desencanto que, infelizmente, ainda sentimos diante dos que negam, minimizam ou relativizam omissões no enfrentamento da maior crise de nosso tempo. Nas demais editorias, trazemos reportagens sobre temas como a formação política nas periferias, a liderança feminina nos e-sports e a diversidade em seleções de trainees. Esperamos que essa edição seja uma lufada de energia para cada um de nós na travessia deste semestre ainda difícil. Os Editores

Representando a mobilidade dentro das cidades e simbolizando as veias urbanas de São Paulo, o grafite está localizado na lateral do prédio da rua da Consolação e foi criado pelo artista Pomb

#FICA A DICA

Para fãs de suspense, minissérie “Calls” é um prato cheio Reprodução

Paula Prata

Jornal universitário do curso de Jornalismo junho 2021 • ano 28 • edição 2 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Mônica Orcioli Coords. dos cursos de Comunicação e Artes José Augusto Lobato - Mooca Juca Rodrigues - Butantã Vasco Caldeira - Paulista Supervisores de projeto e edição executiva Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 Prof. Moacir Assunção MTB 21.984 Prof.ª Patricia Paixão MTB 30.961

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Supervisora de projeto e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 Redação Alun@s de Jornalismo da Universidade São Judas Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT

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Uma produção televisiva sem imagens, com foco somente em áudio, conseguiria prender a sua atenção? Essa é a proposta da nova minissérie da plataforma de streaming Apple TV+. Lançada em 19 de março deste ano, “Calls” apresenta tramas complexas, contadas por meio de ligações de telefone. Com um tom sinistro e suspense pesado, a minissérie conta com nove episódios e narra um acontecimento apocalíptico que acontece com personagens diferentes, aparentemente de forma simultânea. Em cada episódio, personagens se veem em situações inexplicáveis que envolvem viagem

no tempo e situações da vida como relacionamentos amorosos, problemas com vizinhos, trabalho e até a morte. A inovação de “Calls” está no formato. Os episódios são focados na emoção da voz passada pelos atores e atrizes da produção. Durante as falas, formas geométricas e coloridas são exibidas na tela. Criada pelo diretor Fede Alvarez, a série conta com um elenco forte, com nomes como Nick Jonas, Pedro Pascal, Joey King e Lily Collins. Apesar de ter tudo a ver com o momento em que vivemos, a série começou a ser desenvolvida em 2018 e conseguiu ser finalizada somente esse ano. Segundo o diretor,

a proposta é que o telespectador solte a imaginação e crie a parte visual da história tendo como base somente a voz ouvida. Apesar de não termos nenhuma visão dos personagens, “Calls” cumpre o prometido e prende a atenção do telespectador, causa calafrios e entrega um suspense de qualidade. Para aqueles que se atreverem a se deixar levar pelo enredo, a minissérie tem grande potencial para se tornar destaque no ano – como foram, no passado, séries como “Black Mirror” e “Years & Years”.


PROTAGONISTA

Empreendedora social síria transforma vidas de refugiados e imigrantes Marina Chaves Costa

Com a máscara pendurada abaixo do queixo, Joanna parece cansada. Sábado à tarde, dia de muito movimento na cozinha do Open Taste, hoje localizado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. O restaurante, que no momento trabalha com delivery via aplicativo próprio (de nome homônimo) e site, é muito mais que gastronomia: é, para refugiados e imigrantes, uma oportunidade de recomeçar a vida em um novo país. Joanna, 33 anos, começou a trabalhar com gastronomia quando chegou no Brasil, em 2016. Como cerca de 3,8 mil sírios reconhecidos como refugiados números do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) -, ela buscou, no Brasil, abrigo para fugir da violência que devasta seu país há dez anos. A guerra na Síria, que não tem perspectiva de término, teve início em março de 2011, com a repressão às manifestações pacíficas do povo que vieram na onda da Primavera Árabe, reivindicando a queda do ditador Bashar Al-Assad. A partir daí, o conflito adquiriu contornos cada vez mais complexos e a violência levou à diáspora da população civil, como a família de Joanna. Quando chegou no Brasil, começou a empreender, junto com a avó e a tia, em Juiz de Fora (MG), vendendo pratos típicos da Síria. Foi a dificuldade para encontrar os ingredientes específicos para os pratos que inspirou a ideia de um e-commerce, explica. “Podemos criar um site que venda tudo isso para fora de São Paulo, com um marketing todo focado para essas cidades pequenas, onde as famílias procuravam por esses produtos e não tinham acesso”. No entanto, o prazo de validade dos ingredientes derrubou a ideia. Joanna veio buscar em São Paulo diferentes caminhos para empreender. Aqui, ajudou a fundar uma aceleradora de

Hussam A. Hazimeh

CEO e fundadora da Open Taste, plataforma de vendas de pratos típicos de culturas diversas, Joanna Ibrahim deseja ampliar a capacitação de empreendedores

Joanna Ibrahim, fundadora da Open Taste e business developer na Bluefields startups, a Bluefields, com a qual elaborou um projeto de marketplace para que refugiados vendessem seus pratos típicos de cada país: o Bab Sharki. Inscreveram a proposta no Hult Prize, premiação dos Estados Unidos voltada para jovens empreendedores de startups, na qual chegaram à semifinal. Assim, ajustaram a rota: por que não realizar o marketplace na vida real? “Em junho de 2017, pedimos o espaço de uma igreja e chamamos umas 12 pessoas, cada uma com algum produto ou serviço para vender - artista plástico, designer de moda, professor de idiomas, cabeleireiro… E a maioria eram vendedores de comida”, lembra. Cerca de 200 pessoas compareceram à feira da Bab Sharki. Por meio de uma pesquisa, descobriu-se que, embora a maior parte do público

tenha se atraído pela comida, frequentadores relataram que, se esse serviço fosse via aplicativo, não consumiriam mais de uma ou duas vezes. “Eles falavam: ‘Vamos comprar para ajudar vocês’ e nada mais do que isso. Isso acabou me frustrando, afinal, não quero que a pessoa compre só por isso. E sim porque se trata de boa comida”, defende. Mesmo frustrando-se diante dos empecilhos que impediam a solidificação do projeto, Joanna e seus parceiros na Bluefields embarcaram em uma série de tentativas, até que finalmente encontraram um modelo funcional. Num espaço alugado, criaram uma espécie de restaurante compartilhado. “Fizemos um teste por dois dias, e, afinal, deu certo! Teve muito apelo. E começamos a desenvolver essa coisa, hoje chamada Open

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Taste. Fizemos por duas sextas-feiras, com duas famílias de nacionalidades diferentes. Elas mesmas preparavam o cardápio”, explica. Surgiu então a necessidade de capacitar esses cozinheiros imigrantes e refugiados. “Precisávamos capacitá-los para saberem como fazer uma ficha técnica do cardápio, como se portar na cozinha, criar um fluxo de trabalho…”, esclarece. Quando o espaço que alugavam fechou as portas, saíram em busca de um novo local para os cursos. Encontraram! E aí... Veio a pandemia do novo coronavírus, no início de 2020. Depois de passar por tantos desafios, a única possibilidade diante de Joanna era essa: encontrar novos caminhos e recomeçar. A solução foram as entregas via delivery. Hoje, além de restaurante e capacitadora de chefs refugiados e imigrantes, oferecem aulas online para quem deseja aprender a cozinhar pratos típicos com os chefs incubados na Open Taste. Cheia de ideias para um mundo pós-pandêmico, Joana tem o desejo de ampliar o negócio, “Até o fim do ano, queremos ter lucro o suficiente para abrir mais uma unidade - para empregar mais pessoas e vender para mais regiões de São Paulo”, espera. Também tem planos para o escopo de projetos sociais. “Estamos buscando parcerias com universidades para capacitar uma turma específica para algo - como uma turma só de Marketing, por exemplo - que depois realizaria algum projeto aqui na Open Taste”, explica. A ideia é que eles criem um currículo para entrar no mercado de trabalho brasileiro. “Há muita gente que tem experiência, mas não em empresas brasileiras - e aí acabam se voltando para o mercado de comida, que já está ficando saturado porque são muitos refugiados entrando nesse negócio. Queremos possibilitar que eles entrem em outras áreas, uma ajuda no longo prazo”, completa.

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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS

SP promete vacinação geral até outubro

EXTENSÃO

Estado que mais aplica doses no País chegou a 20,8 milhões de imunizados com as duas doses em 17 de junho

Projeto trabalha para democratizar a Inteligência Artificial no Brasil

Por Gustavo Deverlan

João Pedro Marinho

O plano de vacinação no Estado de São Paulo teve seu início em 17 de janeiro, com profissionais da saúde, indígenas e quilombolas. Até agora, já foram aplicadas mais de 20,8 milhões de vacinas, sendo que 14,8 milhões foram da primeira dose e 6 milhões receberam a segunda. As vacinas aplicadas são as produzidas pelo Butantan e pela Fiocruz, a Coronavac e a AstraZeneca, além de doses da Comirnaty, da fabricante Pfizer. O monitoramento digital de aplicação das doses envolve um sistema complexo, já que, além de Unidades Básicas de Saúde (UBS), vacinas estão sendo aplicadas em megapostos, drive thrus e postos volantes em estacionamentos de estabelecimentos como farmácias, por exemplo. O cadastro de dados é feito em tempo real, superando a impressão de um acompanhamento caseiro gerada pelas fichinhas impressas com dados da vacinação, tão postadas em redes sociais. Embora siga o Plano Nacional de Imunização (PNI), o processo de vacinação do estado de São Paulo tem algumas particularidades. A aplicação de doses em profissionais da educação, por exemplo, priorizou trabalhadores do ensino básico e, até junho, não havia previsão de datas para o nível superior

Focado na democratização da inteligência artificial, o Turing USP é, desde 2017, um grupo de extensão da Universidade de São Paulo, mas surgiu como grupo de estudos dois anos antes. O nome é uma homenagem ao matemático britânico Alan Turing, considerado o pai da ciência da computação. Pesquisar, aplicar e disseminar a inteligência artificial (IA) é o foco central dos integrantes, com ações como a busca de informações sobre o que está acontecendo na vanguarda da área, a elaboração de projetos que serão aplicados no enfrentamento de situações reais e a divulgação do conhecimento produzido pelo grupo para a sociedade. “Um dos nossos principais objetivos é nos tornarmos referência em Inteligência Artificial no Brasil. Assim, esperamos atingir cada vez mais pessoas com nossos eventos e realizar projetos cada vez mais relevantes”, diz Camilla Fonseca, estudante de Estatística e integrante do Turing USP. O Turing se debruça hoje sobre cinco áreas dentro da inteligência artificial: Processamento de Linguagem Natural (NLP), que trata de estudar a relação dos computadores com a linguagem humana; Visão Computacional (CV), área foca-

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Vacinação chegará a maiores de 18 anos em 1º/set. – diferentemente de outros estados, como Minas Gerais e Bahia. As vacinações para pessoas com comorbidades, por outro lado, foram aceleradas, assim como a destinação de doses a pessoas com deficiência, aeroviários, metroviários e trabalhadores de transporte e das forças de salvamento e segurança. Muitas pessoas contestaram o governo pelo plano de vacinação. Exemplo está nas lactantes, que têm pressionado pela imunização com potenciais benefícios para seus bebês e maior possibilidade de controle da circulação do vírus. A prefeitura de São Paulo (capital) e o governo estadual incluíram o grupo ao longo de maio. Segundo o pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Elie Fiss, o problema não é o plano de imunização em si. "O pla-

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no é bom para o número de vacinas que temos, o grande problema é a falta de vacinas", afirma. No começo de junho, o governo do estado mantinha a previsão de imunizar toda a população do estado até o mês de setembro. A vacinação de pessoas

sem comorbidades deve avançar a partir de julho – está, entretanto, condicionada à disponibilidade de doses das vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que precisam ser compradas pelo Ministério da Saúde.

Confira o calendário de vacinação geral da população em SP 23 de junho

Adultos sem comorbidades com idade entre 43 e 49 anos

30 de junho

Adultos sem comorbidades de 40 a 42 anos

15 de julho

Adultos sem comorbidades de 35 a 39 anos

30 de julho

Adultos sem comorbidades de 30 a 34 anos

16 de agosto

Adultos sem comorbidades de 25 a 29 anos

1 de setembro Adultos sem comorbidades acima de 18 anos

da em processamento de imagens e vídeos; Aprendizado por Reforço (RL), técnica na qual o algoritmo é “educado” em um sistema de penalidades e recompensas; Finanças Quantitativas (Quant), que diz respeito à aplicação de IA no mercado financeiro; e Ciência de Dados (DS), que consiste na análise de dados na busca por informações. O grupo cresceu bastante nos últimos anos, mas ainda enfrenta dificuldades na hora de tornar o conteúdo sobre Inteligência Artificial atraente para o grande público. “A Inteligência Artificial é uma área que tem uma base matemática muito forte, então nosso maior desafio é definitivamente explicar ou simplificar conceitos de Álgebra Linear, Cálculo e Estatística de forma didática, acessível e interessante”, diz Fonseca.


CARREIRA

Diversidade em cargos de liderança ainda enfrenta resistência nas organizações

Corporações globais têm perfil mais avançado no quesito diversidade e equidade Talita Altruda

A possibilidade de começar uma carreira já em lugar de destaque, com a expectativa de boa remuneração e potencial ascensão para liderança, é o sonho de todo trainee. Para conseguir um espaço tão desejado, é necessário passar por diversas etapas de um processo seletivo que em geral é extremamente concorrido. As exigências são muitas, e os processos geralmente buscam jovens com espírito de liderança, proativos e competitivos. O problema é: será que todos têm as mesmas condições de competir pela vaga? PERFIL CLÁSSICO

O perfil exigido dos trainees costuma ser o de um jovem entre 22 e 30 anos, com domínio de pelo menos uma língua estrangeira, bons cursos de capacitação no currículo e, de preferência, graduação em uma universidade com renome. Jovens das periferias e de grupos minorizados, por exemplo, podem enfrentar barreiras nesses quesitos por falta de acesso a oportunidades. INCLUSÃO PARA QUEM?

A percepção é de que, no ambiente corpora-

tivo, falta diversidade nos trainees. A Pesquisa Carreira dos Sonhos, realizada entre janeiro e março de 2020, falou com 123.579 estudantes e profissionais brasileiros. 46% dos universitários e recém-formados, 54% dos profissionais de média gestão e 47% da alta liderança dizem que a empresa em que atuam não tem um ambiente inclusivo. Os condutores da pesquisa devem levar em consideração o quanto uma empresa está preparada para incluir esses profissionais em seu ambiente corporativo e combater estereótipos criados sobre grupos de pessoas, a partir de experiências próprias ou compartilhadas, que podem levar a atitudes discriminatórias. ENGAJAMENTO

Algumas empresas – Bayer, BASF, Itaú, Magalu e Dow, por exemplo – criaram programas de estágio e trainee exclusivos ou prioritários para profissionais negros. Alguns também evitam as famosas exigências do mercado, como o inglês fluente e a graduação em uma “universidade de elite”, questão que reverbera exclusões históricas. A repercussão positiva em redes sociais

APÓS 48 ANOS

Pesquisadores encontram partícula de odderon Isabella Ventura de Jesus Por meio de um trabalho rigoroso, baseado na análise detalhada de dois grupos de dados, um grupo de cientistas conseguiu encontrar evidências de uma quasipartícula que foi imaginada como uma hipótese há quase 50 anos atrás: a partícula de odderon. A descoberta foi publicada na revista científica The European Physical Journal. O odderon difere de prótons, elétrons e nêutrons por ser uma quase-partícula, formada brevemente em colisões de alta energia. A maneira como se encaixa nos blocos de construção fundamentais da matéria torna a descoberta um grande momento para os físicos. “Esperamos que a publicação da descoberta do odderon traga não apenas um nível mais profundo de compreensão de um problema científico duradouro, mas também um pouco de satisfação e felicidade para os contribuintes e organizações que financiam a ciência em todo o mundo”, disse Roman Pasechnik, cientista de física de partículas da Universidade de Lund, na Suécia, à agência da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que o tem como professor visitante.

de alguns casos recentes evidencia uma demanda social em crescimento. Trainee de uma grande empresa cervejeira, Silmar Mota comenta a evolução que é para uma organização atingir a equidade dentro dos ambientes corporativos. “A inclusão racial tem sido um pilar importante das políticas que tratam das ações sociais, mas ainda existe um caminho longo a ser percorrido. Algumas empresas começaram a abrir processos seletivos exclusivos para negros, o que ocasionou polêmicas envolvendo o conceito da meritocracia”, comenta. “A ideia de que os trabalhadores devem ser avaliados pelo seu mérito, e não pela sua história e cor, ainda é levantada no debate público.” PARA O ENTORNO

Por fim, a recrutadora e também trainee Alice Souza acredita em um olhar que extrapole as corporações e seus interesses, promovendo impactos no entorno. “Empreender certas mudanças nas corporações parece ser o impulso fundamental para que a justiça racial aconteça também nestes espaços. A responsabilidade das empresas precisa ultrapassar suas paredes.”

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ESPECIAL • ÍCONES DA PANDEMIA

Eles fizeram a diferença na luta contra a Covid Conheça personagens que se destacaram no campo científico, na saúde e em outras áreas

Acervo pessoal

Descoberta em tempo recorde

A imunologista Ester Sabino decifrou o genoma do novo coronavírus em apenas 48h Bruna Ferrari

Ex-diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo e professora associada do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP, a imunologista Ester Cerdeira Sabino ficou conhecida por liderar o grupo de pesquisa que operou o sequenciamento do genoma do novo coronavírus em tempo recorde. Desde o começo da pandemia no Brasil, seu trabalho tem sido essencial no rastreamento epidemiológico da Covid. Ester e sua aluna, a pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus, que é pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP, decifraram o genoma do vírus

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em apenas 48h, enquanto o tempo médio atingido por outros países foi de, no mínimo, 15 dias. Ester destaca que seus estudos feitos com os vírus da dengue, zika e chikungunya foram fundamentais para realizar o sequenciamento. “Estávamos preparados há muito tempo, com todo material pronto esperando a primeira amostra chegar pra gente fazer. Não teve algo diferente a não ser a perseverança de organizar tudo e estar pronto para a pandemia.” A rapidez do trabalho de Ester e sua equipe permitiu a identificação da origem das primeiras contaminações, revelando se os primeiros casos confirmados no país eram de infecções ocorridas durante viagens interna-

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cionais ou de transmissão comunitária. O estudo também forneceu dados mais desenvolvidos sobre possíveis mutações genéticas do coronavírus e como ele se espalhava, ajudando a fazer o rastreamento do vírus. Além disso, recentemente Ester publicou um artigo, na revista científica Science, realizado em parceria com cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos, sobre a rápida disse-

minação da Covid-19 no estado do Amazonas. A importância do trabalho de Ester vem de longe. Suas principais pesquisas estão relacionadas à doença de Chagas, ao HIV, à segurança transfusional, arboviroses e anemia falciforme. Ela diz que fazer pesquisa sempre foi uma vontade desde a sua formação na faculdade e considera seus trabalhos relacionados à doen-

ça de Chagas como os mais importantes, devido à falta de estudos sobre a enfermidade. No começo de março de 2020, Ester e Jaqueline foram homenageadas pelo cartunista Maurício de Souza com uma representação das duas como as personagens Magali e Milena, da Turma da Mônica. Em março de 2021, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e

a Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) lançaram o “Prêmio Ester Sabino” para Mulheres Cientistas do Estado de São Paulo, com o objetivo de reconhecer a contribuição feminina para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico de São Paulo. “As mulheres precisam ver que elas são capazes de fazer ciência. Precisamos de um meio científico mais feminino.”


ESPECIAL • ÍCONES DA PANDEMIA

Eternizar vidas como forma de resistência

A enfermeira Lidiane Melo criou a famosa “técnica da mãozinha”

Larissa Reis é voluntária do Inumeráveis, memorial on-line que homenageia as vítimas da Covid

Acervo pessoal

Acervo pessoal

A invenção que aquece e acalma

Isabela Reis

Lidiane Melo, 36, ficou famosa por inventar uma solução simples, carinhosa e efetiva. A enfermeira é criadora da “técnica da mãozinha”, método em que o profissional da saúde coloca água quente dentro de uma luva cirúrgica e faz essa luva (amarrada no punho) envolver a mão do paciente com Covid. Em abril de 2020, durante um plantão tenso no Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, Lidiane estava com dificuldade para medir a saturação de uma paciente, infectada pelo novo coronavírus, por conta dela estar com as mãos muito frias. Isso também impedia a perfusão, que é a distribuição do sangue pelos tecidos do corpo.

Heloisa Aguiar

Molhar a mão da paciente com água quente não era uma opção, por causa do risco de contaminação. Depois de algumas tentativas para resolver a situação, Lidiane teve a ideia da técnica da mãozinha. Além da melhora na condição clínica poucos minutos depois, a estratégia trouxe conforto à paciente. "Ela relatou que parecia que tinha alguém dando a mão para ela. Me alegrou ver a tranquilidade em seu rosto”, conta a enfermeira. Lidiane fez uma publicação contando sobre o caso em seu perfil pessoal no Facebook, em março de 2021. Seu gesto viralizou nas redes sociais e foi parar em diversos veículos de comunicação. A grande repercussão fez com que a técnica da mãozinha viajasse pelo Brasil. Hospitais de todo o país estão utilizando a

criação de Lidiane, para ajudar pacientes de Covid-19 e outras doenças. "Dá uma satisfação grande saber que muitos profissionais estão executando a técnica." Agir na linha de frente da pandemia não tem sido uma tarefa fácil, mas Lidiane sempre pensa em seus pacientes, para ter forças para continuar. "O medo ainda assola meu coração, mas tenho que encarar. Os pacientes necessitam de nossos cuidados." Ela considera a profissão de enfermagem um dom divino, e diz sentir muito orgulho por conseguir fazer a diferença na vida das pessoas. "Não me vejo fazendo qualquer outra coisa que não seja a enfermagem. Meu prazer é cuidar. Meus pacientes precisam de amor, atenção, cuidado e humanização sempre", ressalta.

Duas coisas movem Larissa Reis, 31: eternizar as pessoas por meio da escrita e levar um pouco de conforto aos brasileiros que perderam familiares para a Covid-19. A jornalista e especialista em Comunicação Digital está entre os muitos comunicadores, redatores e revisores de todo o país, que são voluntários do Inumeráveis, memorial on-line criado para homenagear vítimas da pandemia do novo coronavírus. Lançado em 30 de abril de 2020, o portal surgiu do incômodo do artista plástico Edson Pavoni e do empreendedor Rogério Oliveira com a forma como a pandemia estava sendo tratada pela imprensa e pelos órgãos governamentais. A iniciativa busca fazer um perfil das pessoas que morreram em decorrência do vírus, na tentativa de transformar os números em histórias humanizadas. “Ligar a TV no noticiário e acompanhar o número de vítimas acabou se

tornando uma espécie de ritual. O problema é que, frente a essa dificuldade, a gente tende a se desconectar dos sentimentos e isso não era algo que o Edson queria. Ele compartilhou essa angústia com o Rogério e foi aí que decidiram fazer o Memorial para tirar os números de cena e colocar as histórias no foco”, conta. A jornalista chegou ao projeto em 30 de maio de 2020, alguns dias depois de conhecer o memorial nas redes sociais e preencher um formulário para ser voluntária na equipe de escritores, responsável pelas histórias que foram

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escritas pelo familiar ou amigo da pessoa a ser homenageada. Desde então, concilia o voluntariado com as atividades profissionais e contribui para transformar números em prosas. “Ajudar a contar histórias de vida é uma forma de resistir a tudo que estamos passando. Como todos do Inumeráveis, eu preferiria que não tivéssemos histórias para contar, mas já que, infelizmente, tantas histórias existem, o que me move é contribuir para que pessoas deixem de ser números e sua existência seja lembrada e celebrada”, opina.

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ESPECIAL • ÍCONES DA PANDEMIA

A primeira brasileira vacinada Acervo pessoal

Negra e periférica, a enfermeira Mônica Calazans comemorou a conquista

Heloísa Aguiar

A manhã daquele domingo, 17 de janeiro de 2021, parecia igual a muitas outras no trabalho da enfermeira Mônica Calazans, 54: atender em turno de 12 horas pacientes com Covid-19, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. O objetivo era administrar as medicações,

monitorar os aparelhos, evitar as infecções hospitalares e sobreviver a mais um dia estressante no combate à pandemia. Como de costume, ela saiu de sua casa por volta das 5h30, no bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo, fez uso do transporte público e chegou pontualmente ao hospital para iniciar o plantão. Pouco depois do meio-dia, Mônica recebeu uma ligação

que mudaria o rumo da sua vida e traria esperanças à população brasileira. Ela se tornaria a primeira pessoa a receber o imunizante, após a aprovação do uso emergencial de 6 milhões de doses da CoronaVac e 2 milhões da vacina de Oxford, autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O país já contava 210 mil mortos pela doença e esperava ansiosamente pela decisão da Anvisa. Calazans participou como voluntária dos estudos clínicos feitos no Brasil da vacina, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, e estava há oito meses na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Mulher, negra e com perfil de alto risco para complicações provocadas pelo vírus, não deixou de atuar nos

hospitais da capital paulista para ajudar a salvar vidas. “O que me motiva todo dia é a determinação. Eu adoro o meu trabalho e me dedico de corpo e alma. Eu não tenho medo. O paciente que me procura já está fragilizado e abalado com toda a situação. Se eu não conseguir tranquilizar aquela pessoa, eu prefiro nem sair de casa”, afirma. PONTAPÉ INICIAL

De acordo com dados do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), as trabalhadoras da enfermagem, auxiliares e técnicas compõem 53% da força de trabalho do sistema de saúde e produzem cerca de 60% das ações desenvolvidas. Essas categorias são majoritariamente compostas por mulheres (85%), e metade (53%) é negra. Mônica Calazans representa

as mulheres negras da área de enfermagem que são as mais expostas à Covid-19. Viúva, ela mora com o filho, de 30 anos, e cuida da mãe, que aos 72 anos vive sozinha em outra casa. A profissional atuou como auxiliar de enfermagem durante 26 anos e decidiu fazer faculdade já numa fase mais madura, obtendo o diploma aos 47 anos. Quando começou sua carreira profissional, trabalhava como escriturária no Hospital das Clínicas (HC) e percebeu que a parte administrativa não era desafiadora o suficiente. Resolveu fazer um curso para ser auxiliar de enfermagem e passou no concurso público do HC, onde trabalhou até 2018. Ela não sabia que seria a primeira pessoa a receber o imunizante no país. Teve

conhecimento somente no auditório do Centro de Convenções Rebouças do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), por meio de uma médica que estava no local e navegava pela internet. Ela encontrou fotos de Calazans que circulavam nos portais de notícias e nas redes sociais. “Eu fazia parte da pesquisa e pensei que iria ser vacinada como outros profissionais. Não deu tempo para tremer. Foi tudo muito rápido e inesperado. A única coisa que passou na minha cabeça foi que a gente estava dando o pontapé inicial para combater uma doença que está ceifando vidas todos os dias. Eu consegui fazer um gesto no palco de vitória e força. Foi um alívio!", lembra.

Felipe da Silva é um dos idealizadores do projeto “Meu Bom Amigo”, que proporciona um bate-papo entre voluntários e idosos Francine Maia

A frase “O sentimento de solidão é real” estampa a área inicial do site meubomamigo.com.br, projeto criado durante a pandemia da Covid-19, que conecta de forma virtual idosos que estão se sentindo sozinhos a voluntários dispostos a conversar, diminuindo a solidão gerada principalmente pelo isolamento social. Chegando ao fim da homepage do projeto é possível ler uma frase de Nicholas Sparks, que acaba sendo um caminho

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proposto para a afirmação anteriormente citada: “Nos momentos mais difíceis, o amor é o único refúgio”. O “Meu Bom Amigo”, que chegou a ter 300 voluntários e mais de 100 pessoas assistidas, faz parte da iniciativa “Mundo Gentileza”, que oferece ações de educação, cidadania, sustentabilidade e solidariedade para pessoas em vulnerabilidade social. A ação foi criada pelos professores Felipe da Silva, Erika Ramos e Manoel Drumond, em 2020. Atualmente responsável

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pelo projeto, o educador social Felipe da Silva, 37, morador da Vila Brasilândia, na zona norte de São Paulo, explica que não recebeu nenhum incentivo financeiro para implementar o projeto. Ele contou apenas com a boa vontade das pessoas, vendo na iniciativa uma oportunidade de ajudar o próximo. “O objetivo do Meu Bom Amigo é proporcionar qualidade de vida para idosos que estejam se sentindo solitários. Nossos voluntários são bons amigos que oferecem amizade on-line, conversas

construtivas, escuta ativa, além de companhia”, destaca. As conversas com os idosos acontecem através de videochamada, chamada de voz, mensagens de áudio e texto ou ligações em telefone fixo. O projeto atende pessoas a partir dos 55 anos, em asilos. Há voluntários de diversas regiões do país. “O primeiro passo para se tornar um ‘bom amigo’ é carregar no peito a gentileza, ser apaixonado em ajudar o próximo e perceber que o projeto social não é um trabalho, mas uma ferramenta que ajuda

e transforma pessoas”, explica Felipe. A conversa inicial com quem deseja ser um voluntário do projeto é por WhatsApp e, posteriormente, há uma entrevista por videochamada. Caso seja pré-aprovada, a pessoa é adicionada ao grupo de acolhimento inicial, participa de um treinamento e é acompanhada pela equipe do “Meu Bom Amigo”, para conversar com um assistido compatível com seu perfil. “Essa troca de experiências e energia tem mudado nossa forma de ver o mundo. Nós percebemos como os idosos estão se sentindo

Acervo pessoal

Um ouvido amigo contra a solidão

felizes em serem escutados e como esse simples gesto tem mudado a perspectiva de vida dessas pessoas que muitas vezes se sentem invisíveis”, reforça Felipe.


ESPECIAL • ÍCONES DA PANDEMIA

Pedro Hallal coordena o maior estudo populacional sobre a Covid no Brasil

Criado pela bióloga Paola Giometti, President Evil já soma mais de 30 mil downloads

Lucas Bertuzzi Berzin

Ele lidera a maior pesquisa populacional brasileira sobre o novo coronavírus, o Epicovid-19 (Estudo de Prevalência da Infecção por Coronavírus no Brasil), referência no mapeamento do avanço da doença em todo o país. Mesmo oferecendo enorme contribuição à ciência brasileira, em um momento tão dramático, quando chegamos a quase meio milhão de mortos (até o fechamento dessa edição), Pedro Hallal, 40, que foi reitor até 2020 da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sofreu uma situação de censura em pleno século XXI. O caso aconteceu após o epidemiologista participar de uma live em 7 de janeiro de 2021, transmitida pelo canal do YouTube da UFPel. No evento, Hallal fez críticas à atuação do governo federal no combate à Covid. Em fevereiro, o docente recebeu um telefonema de um fiscal da Controladoria-Geral da União (CGU), informando que ele era alvo de um processo movido pelo órgão por ter “proferido manifestação desrespeitosa e de desapreço direcionada ao presidente da República”. O pesquisador classifica o caso como “uma mancha na história do país”, já que em tempos em que se supõe a plena liberdade de expressão professores universitários têm sido perseguidos por defender a ciência e se pronunciar

Francine Maia

sobre o que de errado vem acontecendo. Hallal já havia recebido ataques do governo federal em 14 de janeiro. O presidente Jair Bolsonaro fez um tweet com um vídeo do trecho de uma entrevista em que o pesquisador é interrompido por apresentadores da rádio Guaíba e proibido de falar, por diversas vezes, durante insinuações e críticas feitas pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS). "Foi uma ação orquestrada contra a minha pessoa pelo parlamentar. Só que acabou tendo um efeito rebote, porque eu ganhei visibilidade por ter sido atacado de forma tão tosca." Hallal teve que assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para encerrar o processo. “O caso acabou não dando em

nada, afinal, eu não tinha cometido nenhuma irregularidade. Vou continuar expressando minhas opiniões científicas”, destaca. Sobre o Epicovid, o estudo envolve 133 municípios e tem como objetivos estimar o percentual de brasileiros infectados, por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; determinar o percentual de assintomáticos; avaliar sintomas e letalidade, além de oferecer subsídio para políticas públicas e medidas de isolamento social. “O grande desafio no desenvolvimento do estudo é, sem dúvida, o financiamento. Ainda mais depois que nossa pesquisa virou inimiga do governo. É extremamente difícil conduzir uma pesquisa desta magnitude sem apoio.”

Mestre e doutora na área de Ciências pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a bióloga e escritora Paola Giometti criou um jogo de RPG diferente. Gratuito, ele tem o objetivo de estimular as pessoas a se protegerem do novo coronavírus. O nome sugestivo “President Evil” é um trocadilho com os jogos de videogame da franquia “Resident Evil” e tem como inspiração as frases negacionistas ditas pelo presidente Jair Bolsonaro. Com mais de 30 mil downloads, o jogo foi uma resposta a ataques sofridos pela autora, que atualmente mora e trabalha na Noruega e postou em sua página o que a mídia internacional publicava sobre algumas frases do presidente brasileiro. “Recebi críticas nas redes sociais de pessoas que não acreditavam na pandemia. Começaram a me chamar de escritora rasa, de PhD em Nárnia, enfim... O que eu estava defendendo era que as pessoas tomassem cuidado com o coronavírus e respeitassem a quarentena”, explica. O jogo tem personagens baseados em situações vividas no Brasil. “Tem o holístico messias, que acredita que vai curar o mundo, o frescurento mimimi, que é aquele personagem que fica em casa e se protege, sobre-

Erwin Pietz

O jogo que estimula a luta contra a Covid

Acervo pessoal

A voz que não vai se calar

vivendo com mais facilidade que outros, e o atleta na juventude que só consegue abrir espacate. Há também o Capitão Cloroquina, o viciado em kit covid, dentre outros.” O RPG retrata a realidade de uma pandemia, em um cenário caótico. A cada três turnos os jogadores são expostos a agentes infecciosos e devem lutar para manter a imunidade acima da metade. Caso o personagem esteja com a imunidade baixa, ele apresenta sintomas e pode morrer. “Se o jogador estiver com a imunidade menor que a metade, ele vai começar a apresentar os sintomas. Primeiro vem o ‘é só um resfriadinho’, três turnos depois vem o ‘é só uma gripezinha’. Após alguns turnos aparece o ‘é só uma pneumonia’. E poderá ficar cada vez pior até ele ser intubado”, explica Paola.

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Os participantes podem interagir, ajudando uns aos outros ou não, além de terem a opção de respeitarem a quarentena ou ficarem todos contaminados. Apesar das críticas e ataques nas redes sociais, Paola diz que recebeu incentivo e muitos elogios. “Muitas pessoas vieram me parabenizar nas redes sociais, passaram a me seguir, a conversar comigo e a agradecer pelo jogo. Muitos elogios vieram de pessoas do ramo de games e RPG e isso me deixou muito feliz.” O jogo “President Evil” está disponível gratuitamente para download no site paolagiometti.com. br e é recomendado para jogar virtualmente de 2 a 6 participantes, com idades a partir de 14 anos. Para jogar é necessário ter lápis, borracha, folha de papel e dados.

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VIDA DIGITAL

Os riscos do Clubhouse em um país com uma recente LGPD Modelo do app pode ficar em desacordo com as regras previstas na lei geral de proteção de dados Eduarda Maria e Yasmin Lima

Lançado pela Alpha Exploration Co em 2020, o Clubhouse é um aplicativo de conversa em áudio e, por ainda estar em fase de testes, só tem versão para iOS; entra na rede social quem recebe convite de membros. A natureza experimental traz riscos: o app não seguiu à risca as leis de proteção de dados e tem sido alvo de polêmicas e dificuldades no mundo. Com mais de 10 milhões de downloads, o aplicativo viralizou quando famosos como Elon Musk,começaram a usá-lo. Muitos dos usuários que se cadastraram não chegaram a ler os termos de política e privacidade e

não sabem o que o aplicativo faz com seus dados. Em abril, segundo o site Cyber News, dados de mais de 1,3 milhão de usuários da rede social foram colocados para download em um fórum para hackers. A empresa negou o vazamento, argumentando que os dados foram extraídos por meio de uma “varredura” e "são todas as informações de perfil público de nosso aplicativo, que qualquer pessoa pode acessar por meio do aplicativo ou de nossa API". De acordo com o analista de redes e segurança Vinicius Franceschetto, o Clubhouse deveria melhorar o aplicativo para que casos assim não se repitam. “Os termos de

serviço do Clubhouse ‘proíbem’ esse tipo de varredura, mas eles deveriam aprimorar o sistema e bloquear a varredura em si”, afirma. A jornalista e consultora de marketing Isadora Ortiz afirma que os usuários também precisam permitir que essa varredura aconteça. “Você só pode fazer isso com o consentimento do usuário. A LGPD prevê que temos que consentir que o nosso dado está sendo capturado por uma base de dados”. Além disso, o Clubhouse pode armazenar informações de pessoas que não estão na rede. “No momento que o usuário permite compartilhar sua agenda com o Clubhouse,

ele automaticamente está compartilhando todos os telefones e informações de pessoas que ele tem cadastrados em sua agenda”, explica Vinicius. De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a coleta de dados sempre deve ser informada ao usuário, assim como de que forma a informação será utilizada e que o acesso aos dados poderá ser revogado a qualquer momento. O Clubhouse não fornece informações de como os dados dos usuários são tratados e não permite a saída imediata da plataforma. “É importante dizer que outras redes sociais fazem isso e que já é algo assimilado pelo usuário, ele não pensa em excluir a conta e a empresa tem que se responsabilizar por isso”, afirma Isadora, complementando que o Clubhouse tem o dever de se adaptar à legislação vigente no Brasil.

MÍDIA

Redes sociais possibilitam criação de novos negócios Paula Prata As redes sociais, desde o começo, são parceiras de empreendedores. Nos anos 2000, o Myspace foi o lugar de nascimento de muitos artistas; logo os usuários perceberam o poder das redes sociais para criar laços. Nos últimos anos, porém, influencers e empreendedores viram nesse lugar um espaço

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para gerar lucro de forma direta. Os internautas, nas redes sociais, têm conseguido bons resultados com campanhas de marketing. Alguns, inclusive, conseguiram tirar do papel projetos de negócio próprio. Segundo o Instagram, o Brasil tem cerca de cinco milhões de contas comerciais ativas, sendo o segundo maior número do mundo.

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As vendas online têm sido uma opção popular por ter menos custo e mais alcance. Luana Gheller, de 37 anos, largou o emprego e decidiu ter sua própria loja. A Lovee nasceu na pandemia e tem como principal suporte o Instagram. “Senti que o momento era favorável, infelizmente, por causa de uma crise na saúde, mas que acelerou as vendas pelo e-commerce. Foram

seis meses de planejamento e preparação até colocar o site no ar”, explica. Nas redes sociais, é necessário um conteúdo diferenciado para captar clientes, sendo importante pesquisar o mercado, entender seu público e personalizar o conteúdo. Luana, que é formada em marketing, se preparou. “Percebi que existe um engajamento maior quando humani-

zamos a marca, seja por algum post dos bastidores da empresa, seja por uma cliente que postou uma foto usando nosso produto. Além dos reels, que são alegres e divertidos”, explica. “Quando despertamos a curiosidade da cliente, ela acaba entrando no site e comprando.” A venda online, diferentemente da loja física, possibilita mais distribuição e

possibilidades de crescimento. Inclusive, o peso do e-commerce na venda do varejo no Brasil passou de 5% para mais de 10% em poucos meses. Quem deseja entrar nesse meio precisa ter foco; segundo Luana, “as redes sociais fazem toda a diferença” e é preciso ter uma equipe dedicada ao marketing digital para colher bons resultados.


MÍDIA

Vazamentos de dados crescem no Brasil

HOME OFFICE

Adaptação vira rotina com problemas quase intactos

Mais de 223 milhões de brasileiros tiveram suas informações vazadas nos últimos meses, incluindo pessoas já falecidas Gabriel Assis

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, se inspirou na General Data Protection Regulation (GDPR), regulamentação europeia também sobre proteção de dados pessoais, criada em 2016. Ambas partilham do mesmo propósito: devolver à população o controle sobre as suas próprias informações. Nem todas as empresas atuando no Brasil precisaram se adequar às mudanças impostas, por isso, a criação de uma regulamentação brasileira era necessária. E, em 2020, após dois anos da sua criação, ela entrou em vigor. “Era uma legislação que iria mexer com todos os CNPJs de todos os ramos, era muito ampla. Por causa disso foi dado um prazo de 24 meses para as empresas, e o próprio governo, se adequarem”, explica Silvia Brunelli, advogada especialista em LGPD, Relações Governamentais e Data Protection Officer (DPO) da Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade de Dados (ANPPD). OS VAZAMENTOS

Mas os incidentes continuam acontecendo. Em 14 de março, foi relatado um vazamento proveniente de um ataque

cibernético ao Descomplica, maior plataforma on-line de educação do Brasil. O Descomplica diz que foram vazados CPFs, endereços de e-mail, históricos escolares, números de telefones e parte dos números de cartões de crédito. Segundo o site Have I Been Pwned?, aproximadamente 4,8 milhões de usuários do Descomplica tiveram os dados expostos e vendidos em um fórum de hackers. "Estamos tomando as medidas necessárias, desde segurança até medidas criminais perante a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática”, diz o Descomplica, em nota. Sobre os casos de vazamento de dados, Silvia Brunelli ressalta que o problema não se resume a ataques de hackers. “Pode ser um compartilhamento indevido de um funcionário interno da empresa, que está vendendo esses dados e não podia e a empresa não percebeu. Qualquer tipo de vazamento ou de uso indevido do banco de dados e do dado pessoal já é considerado uma violação.” A LGPD foi criada no Brasil na tentativa de

Thiago Arruda

harmonizar a questão da segurança de dados em conformidade com as legislações internacionais, além de aumentar a segurança dos ambientes. “A

situação está muito séria. O Poder Judiciário está muito atuante. Eles já estão aplicando (sanções) e estão sendo bem rígidos”, afirma Silvia Brunelli.

O home office chegou como uma salvação econômica para diversas empresas do Brasil, estancando um buraco financeiro deixado pela Covid-19. Entretanto, em muitos casos, a utilização dessa plataforma ainda carrega desvantagens e, ao que tudo indica, poderá permanecer em alguma medida mesmo após o fim da pandemia. A Empresa Timbro Trading, uma das maiores importadoras para terceiros no Brasil, já havia se programado para utilizar o novo estilo antes de a Covid-19 chegar ao País. “O presidente da empresa iria adotar o home office, pois percebeu que era mais viável, com a redução de custos não precisaria manter os escritórios e continuaríamos de home”, explicou a analista de comércio exterior Iara Andrez. A adaptação do home office é sinônimo de desafio para muitos, influenciando até mesmo no desempenho. Uma pesquisa realizada pela Pulses em 2020 mostrou que, mesmo durante a pandemia, 78% dos brasileiros se sentem mais produtivos trabalhando remotamente. “Acho bem melhor a rotina em home office, muito mais

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produtivo, porém, conciliar casa, trabalho, pet e filha ao mesmo tempo é difícil”, diz Andrez. “O maior problema é a empresa te ver como 100% disponível, independentemente do horário ou dia da semana.” O consumo de produtos usando sistemas remotos durante esse período cresceu: segundo levantamento da RankMyApp, houve um aumento de 30% no número de downloads de aplicativos de delivery em março de 2020, em comparação com o mesmo período do ano anterior. “Passei a utilizar com mais frequência mecanismos online, como Ifood, Shein e Shopee. Em contrapartida, economizei com combustível, revisão veicular e com horas de trânsito”, comentou a consultora financeira da companhia SmartFit Bruna Oliveira. A pandemia também impulsionou a procura por atividades físicas feitas dentro de casa, como uma forma de se manter saudável nesse período. “Comecei a academia em fevereiro de 2020 e um mês depois tive que parar por conta do isolamento, entretanto passei a treinar em casa com personal trainer online”, contou Bruna Oliveira.

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CULTURA E ARTES

Plataformas de streaming crescem e ameaçam salas de cinema Diversidade e novos lançamentos atraem público crescente; mercado cinematográfico ainda sofre com medidas de isolamento Bruna Ferrari

Há algum tempo, e mesmo antes da pandemia, o cinema tem sido ameaçado pela expansão dos serviços de streaming. O que dez anos atrás ainda parecia novo é hoje rotina dentro de muitas casas – e os ciclos de isolamento e quarentena expandiram esse mercado. No último ano, aqueles que eram fãs das salas escuras lotadas de pessoas, da ansiedade da estreia e do cheiro da pipoca tiveram que migrar e se adaptar para os cômodos de

casa. Embora os shoppings e, eventualmente, os cinemas tenham funcionado algumas vezes, muitas pessoas optaram pela segurança de se manter em seus lares, com prejuízos para o mercado distribuidor do cinema. Os serviços de streaming pagos mais conhecidos, como Netflix, Prime Video, e Disney+, tiveram um crescimento de assinaturas de 26% em 2020. De acordo com o relatório da Motion Pictures Association, esse aumento chegou a 232 milhões de contas novas – e glo-

balmente, o número de assinaturas corresponde a 1,1 bilhão. NOVO PLAYER

A Disney+ é a mais nova aposta no mercado brasileiro. A plataforma chegou ao Brasil no dia 17 de novembro e já tem um calendário extenso para 2021, com filmes de grande interesse público como Viúva Negra e Loki, produções da Marvel que normalmente lotavam as salas de cinema. Mas se engana quem acha que com a assinatura terá acesso a todos os conte-

údos; tanto a plataforma da Disney quanto a Prime Video, da Amazon, agora requerem que o assinante compre um passe para acessar esses lançamentos, o que tem repercutido nas redes sociais. Quem pesquisa, atua e conhece os segmentos, entretanto, tem a visão de que a competição não irá alterar por completo o panorama da produção audiovisual. “Temos mercado, demanda e produtos possíveis para todos os públicos. Os hábitos de consumo não mudaram a ponto de eli-

Plataformas de streaming são novo filão da indústria minar o hábito de consumo cinematográfico”, diz o professor e pesquisador de audiovisual Alyson Montrezol. “Além disso, a linguagem, a serialidade e o modelo de distribuição

de conteúdo do streaming difere daquele das salas de cinema, assim como da televisão aberta ou fechada. Há sobreposições pontuais, mas os públicos são bem diversificados.”

TEXTÃO DO BEM

Site criado por mulheres aborda cultura pop com pegada feminista Reprodução

Isabela Reis Indo na contramão de grande parcela da internet, que agora escolhe reduzir o tamanho dos textos, o Valkirias, site que fala sobre cultura pop, não se importa com o número de caracteres. O propósito é falar sobre esse universo com olhar crítico e problematizador, sem medo do estigma de “textão”. O site nasceu em 2016 com um time de mulheres interessadas por cultura pop: Ana Luiza, Ana Vieira, Anna Vitória Rocha, Paloma Engelke, Thay Gualberto, Yuu Yogi e Fernanda Menegotto. Depois de

Para acessar o site, leia o QR Code ou digite valkirias.com.br no seu navegador

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pouco menos de um mês reunidas em um grupo de Facebook, o grupo conseguiu lançar o projeto. O nome Valkirias vem das deidades femininas valquírias, da mitologia nórdica, que agem como mensageiras e guerreiras. “Elas simbolizam o espírito guerreiro das mulheres, e achamos que não há representação melhor para a gente do que essa”, conta Thay, que sugeriu o nome. Para Paloma, uma das cocriadoras, um dos diferenciais do site é a profundidade das publicações. “A gente nunca quis ser só um site que fala sobre cultura pop. Nosso objetivo

é falar sobre a cultura pop trazendo críticas e análises que incorporam perspectivas e vieses de gênero, sexualidade, classe e raça, que com frequência ficam de fora da conversa”. Além de resenhas simples, a proposta é sair da superfície e mergulhar em questões que mostram que a cultura pop vai muito além apenas do entretenimento. ANIVERSÁRIO O Valkirias completou seu quinto aniversário em maio deste ano. Com mais de 1,2 mil textos publicados, Thay relata o alcance de marcos inesperados. “Já tivemos textos citados em

livros didáticos, já fomos tema de pesquisa e TCC, cobrimos estreias de cinema, estivemos na CCXP e até na coletiva de imprensa de Wolverine”, relata. De acordo com as criadoras, visitantes do site já relataram que consumir os textos do Valkirias fez com que enxergassem a cultura pop com outros olhos. “Acredito que causar esse tipo de impacto é muito positivo. Se por meio do Valkirias conseguirmos mudar um pouquinho o olhar das nossas leitoras, já terá feito todo o esforço valer a pena”, finaliza Thay.


ARTE NA LIVE

Teatro digital dribla dificuldades da pandemia Reprodução

Com luzes apagadas e casas de espetáculo vazias, companhias e artistas de teatro buscam opções para manter o setor cultural ativo

Peça “Por que a criança cozinha na polenta?”, da Cia de Teatro Mungunzá no Youtube Isabela Tiritan

O setor de atividades artísticas, criativas e de espetáculos foi o mais afetado por causa das ações de combate ao novo coronavírus, segundo pesquisa do Ministério da Economia. No

teatro, as companhias e os atores independentes vêm buscando auxílio na tecnologia para um novo formato de trabalho. Os espetáculos agora são montados dentro das casas dos próprios artistas e transmitidos por plataformas digitais.

“A gente se encontra virtualmente todos os dias à noite para ensaiar. Um ensaio de 2 horas online vale como 5 horas do presencial, o cansaço é muito maior”, afirma Verônica Gentilin, artista e diretora da Cia Mungunzá de Tea-

tro, localizada no centro de São Paulo. As adaptações foram várias: o volume da voz não pode ser o mesmo do teatro, e o olhar para o público dentro de uma plateia é diferente do de olhar para um computador. O direcionamento do ator e o enquadramento da câmera se tornam pontos essenciais para um bom trabalho. Algumas peças foram reaproveitadas; outras são criadas exclusivamente para esse novo formato, fazendo os dramaturgos saírem da sua zona de conforto: “O teatro é verbo e ele é proporcionado através de ação. Criar e modificar histórias para que sejam apresentadas em uma plataforma on-line, com os atores separa-

dos, foi um grande desafio”, completa Verônica. FORMATOS AO VIVO

Quando se trata de um espetáculo ao vivo, o Zoom é a principal ferramenta escolhida pelas Cias de Teatro. Já para a publicação de peças gravadas anteriormente, o Youtube tem sido a melhor opção, gerando divulgação para as redes sociais das companhias. “No início era mais complicado, mas aos poucos o que era uma coisa muito abstrata se tornou bastante concreta. A gente foi descobrindo ferramentas e possibilidades para trabalhar on-line”, conta Felipe Vidal, diretor e ator da Companhia Complexo

Duplo, no Rio de Janeiro. Apesar das dificuldades, o teatro digital consegue fazer algo maior que o presencial: levar entretenimento para locais mais remotos, com pouco acesso a ambientes culturais. Cristina Cavalcante, Fundadora da Plataforma Teatro, conta um relato que recebeu após uma apresentação: “Uma moça comentou que seu pai sempre teve vontade de ver um espetáculo teatral, mas por morar em uma região muito distante, precisaria viajar para outra cidade para assistir, gerando um custo que ele não poderia pagar. Com essa experiência on-line e gratuita, foi possível que ele assistisse. Isso dá forças!”.

MAIS CONSCIÊNCIA Nathália Nunes

Formado por professores, artistas, cientistas sociais e militantes, o Núcleo de Ação Cidade Tiradentes (NA_CT) surgiu em março com o objetivo de impulsionar a formação política e articulação cidadã na periferia. Apesar de o foco territorial ser o bairro do extremo leste da cidade, pessoas de todos os lugares do mundo podem participar das atividades do NA_CT em ambiente digital.

“O NA_CT surge da necessidade de fortalecer a democracia através do exercício da cidadania, de nos organizarmos como sociedade civil para fazer valer o direito à cidade, ao trabalho, à cultura, à educação e à comida”, diz Bruno Dunley, artista plástico, professor e um dos fundadores da ação. “Também enxergamos a necessidade de um Brasil popular, negro, menos segregado racialmente e socialmente nas estruturas institucionais.”

As atividades do Núcleo se iniciaram em maio, com o ciclo de formação “Fala, Resistência!”, em parceria com o Coletivo de Esquerda Força Ativa, que tem mais de 20 anos de atuação na Cidade Tiradentes, e a Rede Nós por Nós, que durante a pandemia leva comida e produtos de higiene para os moradores do bairro. “Ninguém constrói esse caminho sozinho, por isso estamos estabelecendo parcerias”, explica o artista plástico.

As lutas comunitárias e a história da Cidade Tiradentes foram escolhidos como temas iniciais do ciclo, que ocorreu gratuitamente via chamada de vídeo, com certificado para aqueles que participarem de pelo menos 80% das atividades. Quem não conseguiu participar desse primeiro evento pode esperar uma nova oportunidade em breve. “Nossa programação é organizada em módulos independentes e já temos planos para o ano todo”, esclarece Bruno.

Reprodução

Ação na Cidade Tiradentes estimula formação política

SAIBA + Para se manter informado sobre as atividades do NA_CT, basta acessar o site www.na-ct.com/eventos ou segui-los no Instagram: “@na_ct_”.

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ESPORTE E LAZER

Mulheres reivindicam mais visibilidade nos e-sports

Campeonatos ainda têm dominância masculina, apesar da maioria de jogadoras no segmento Eduarda Silva e Stefany Armani

Vistos no passado como passatempo e hoje com dezenas de campeonatos ao redor do mundo, os e-sports já começam a ser influenciados pelos debates de representatividade e gênero. Com a modalidade crescendo, os adeptos passaram a ter maior presença e protagonismo de mulheres. Segundo dados do grupo Pesquisadores Game Brasil (PGB), elas são maioria no Brasil – cerca de 51,5%. Mesmo assim, são menos reconhecidas. A streamer Rayana El

Bainy conta que, mesmo antes de jogar profissionalmente, “não podia nem ligar o microfone porque se identificassem que eu era mulher, normalmente, começava uma votação pra me quitar da partida”. Ela chegou a criar sete contas com nome masculino para poder jogar Rainbow Six. Para Rayana, a melhora disso só ocorreu quando conquistou fama no segmento. “Eu só comecei a ver as pessoas que eu denunciava sendo banidas quando eu virei streamer, e aí eu tinha contato direto com os desenvolvedores do

jogo e só mandava a tag da pessoa. Aí essa pessoa era banida, algo difícil de acontecer quando você é um jogador casual.” O preconceito se estende até a quem narra os jogos. A narradora Viviane Lariviere, conhecida no meio como Acerola, contou que “não costumam colocar mulheres para narrar competições masculinas”. Concisa, a frase de Viviane ampara a criação de campeonatos como o Camplota, da apresentadora Camila “CamilotaXP” Silveira. Trata-se de um torneio voltado exclusivamente

para equipes femininas de Free Fire, nas quais Acerola é uma das narradoras. As mulheres têm unido forças ao criar uma liga exclusivamente feminina. A priori, não há regra em nenhum dos campeonatos de e-sports que proíba times mistos, mas o ambiente ainda é classificado por algumas jogadoras como tóxico – o que impossibilita, na prática, a visibilidade de equipes femininas em grandes torneios. Para Acerola, a lógica é de segregação. “É um estigma de cada um no seu pedaço, mas isso mudará.”

ATIVIDADE FÍSICA Paula Scateno A instalação da Covid-19 como um problema de mais de um ano alterou padrões de convivência, reforçou a prática do isolamento social e, em alguns casos, reduziu o ritmo de atividades físicas durante o dia. Os resultados, embora com reflexo direto na saúde corporal, começam a aparecer na mente: uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) afirma que 80% da população está mais

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ansiosa durante o período de pandemia. Formada em Educação Física pela São Judas, a personal trainer Giovanna Dantas reforça a todos a importância de se manter ativo durante o isolamento, “Nosso nível de atividade física considera qualquer coisa que faça o nosso corpo gastar energia. O problema da quarentena é que ele diminuiu muito”. Por outro lado, manter uma rotina de exercícios pode reduzir o risco de evoluir para a forma grave da doen-

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ça, caso haja contágio. “As pessoas fisicamente ativas diminuíram em 30% sua chance de ser internadas, um grande percentual para uma doença que nem sabemos a cura”, conclui. Gabriella Braga, moradora de Carapicuíba, faz parte do grupo de pessoas que iniciaram alguns exercícios físicos dentro de casa no período de isolamento. “Durante a Fase Vermelha [etapa restritiva do Plano São Paulo, voltado à gestão da pandemia]

fiquei sem trabalhar, então comecei a sentir falta das atividades diárias. As noites já não estavam as mesmas e até na alimentação me descuidei. Então comecei a me exercitar aos poucos dentro de casa e agora mantenho essa rotina diária de exercício”, relata. A personal trainer Giovanna Dantas destaca, ainda, que o benefício psicossocial deve ser procurado de outras formas com suporte do educador físico, no caso de atividades no ambiente domés-

Pixabay

Rotina de exercícios reduz riscos com a Covid-19

tico. “A pessoa se sente incluída em um grupo da academia ou clube. Dentro de casa, como você não conversa com muitas pessoas, o cenário não se equilibra. O profissional

de Educação Física tem que ter a consciência que ele está ali não só para cuidar da estética, mas para cuidar da saúde – e isso inclui a saúde mental”.


FUTEBOL

Desimpedidos transmite Campeonato Brasileiro feminino

Lucas Figueiredo / CBF

Maior canal de futebol do Brasil está fazendo a cobertura de uma competição oficial pela primeira vez

Corinthians foi o campeão Brasileiro feminino em 2020 Leonardo Dias

O Desimpedidos está transmitindo o Campeonato Brasileiro de futebol feminino de 2021. A novidade reforça a apos-

ta da CBF em uma cobertura multiplataforma do torneio e a busca do público jovem. Além do Desimpedidos, a competição também passará na Band pela TV aberta, na

fechada pelo Sportv, e no Mycujoo no streaming. Fazer a transmissão ao vivo de jogos oficiais já estava nos planos da NWB, rede de canais digitais dona do De-

simpedidos, e essa ideia se concretizou após se unirem ao Grupo SBF, dono da marca Centauro e da operação da Nike no Brasil. O objetivo era transmitir jogos por streaming com o formato do Desimpedidos, fiz Rafael Grostein, um dos criadores do canal, que ainda ressaltou o desejo de ampliar as transmissões para outros nichos. No jogo de estreia, entre São Paulo e Grêmio, a transmissão ao vivo teve picos de audiência de quase 16 mil espectadores simultâneos. Ao todo, o vídeo teve mais de 500 mil reproduções nos primeiros dias no ar. A produção do Desimpedidos teve duração de 2h16 e contou com narração de Chico,

comentários de Alê Xavier e Mariana Pereira e reportagem de Marília Galvão. “É uma grande oportunidade para o futebol feminino alcançar um outro público, e dar mais visibilidade para as nossas jogadoras e para a modalidade como um todo. É a chance de valorizar ainda mais o nosso esporte”, disse Alêm de maneira emocionada. “Essa conquista não é só minha, da CBF ou do Desimpedidos, acho que quem realmente ganha com tudo isso é o futebol feminino”, revelou, realçando que desde que entrou no canal, em 2017, busca mostrar as dificuldades e dar mais evidência para a categoria. O Desimpedidos conta

atualmente com mais de 8 milhões de inscritos no YouTube, e já fazia ações para crescimento do futebol feminino, como a realização da “Supercopa das Mina”, uma competição que reúne mais de 40 profissionais que de alguma forma estão envolvidas com o futebol feminino no Brasil. A primeira fase do Brasileirão feminino é realizada em formato de pontos corridos. As oito melhores equipes avançam para as quartas de final, em jogos de ida e volta. A fase final está prevista para iniciar em agosto e as finais estão marcadas para 12 e 26 de setembro. Haverá uma pausa por conta dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Reabertura do SESC dinamiza cultura e lazer em SP Gustavo Dervelan

Desde o fim de abril, os espaços do Serviço Social do Comércio (Sesc) reabriram por todos os cantos da cidade de São Paulo e até no litoral, como em Bertioga. Com diversas atividades esportivas e gastronômicas, as unidades operam

seguindo os protocolos sanitários da Organização Mundial da Saúde (OMS) e atendem aos requisitos do Plano São Paulo, do governo estadual. As atividades esportivas já estão disponíveis desde a data de reabertura. Podem participar pessoas de 12 a 59 anos e que

não estão no grupo de risco, desde que elas estejam inscritas. A essas ações se somam outras, como a hospedagem no Sesc Bertioga, com agendamento antecipado. Durante maio foi a vez de serem liberados os restaurantes das unidades – que operam com capa-

cidade reduzida. As exposições, que também foram retomadas, têm público limitado de acordo com a evolução dos indicadores da Covid-19 no estado e funcionam em modelo de agendamento – exceção para as unidades Interlagos e Itaquera, que não têm esse processo antecipado.

Reprodução

DIVERSÃO

"Deuses Gregos e Budas Iluminados": guia das Edições Sesc São Paulo

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INFOGRÁFICO

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