Expressão - ed4 - 2020

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USJT

novembro 2020

ano 27

edição 4

EXPRESSÃO Jornalismo universitário, crítico, cidadão e plural

ESPECIAL - Págs. 6 a 9

Decida seu futuro

Período eleitoral esquenta ambiente ideológico e gera dúvidas sobre atuação do Estado, marketing político e exercício da cidadania; confira nossas dicas para o pleito 2020 novembro 2020

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CAR@ LEIT@R

Eleições sempre são um prato cheio para a imprensa. Políticas públicas, comportamento de candidatos, segurança do pleito e dúvidas quanto às escolhas ideológicas na hora de votar são pauta frequente no jornalismo diário e, naturalmente, desafiam quem trabalha com a pesquisa e apuração de fatos para incentivar um exercício crítico da cidadania nesses anos decisivos. É com esse espírito que lançamos o quarto Expressão de 2020, em um contexto marcado por eleições polarizadas, aqui no Brasil e ao redor do mundo, em que, mais do que nunca, fazer a escolha certa se prova essencial. Nossos repórteres discutem este tema no Especial e, nas demais editorias,

Caio De Luca

abordam outros assuntos quentes do semestre – das vacinas necessárias para atravessarmos a pandemia da Covid-19 e seus impactos na cultura, na ciência e na vida das cidades até questões ambientais. Esperamos que você aprecie esta edição e fique de olho nos próximos números do jornal que ainda lançaremos em 2020. Cabe dizer, aqui, que agora o Expressão se integra às iniciativas de Extensão da Universidade São Judas, propondo um diálogo ainda mais ativo entre os estudantes de Jornalismo e questões cidadãs que movem e transformam para melhor nossa sociedade. Boa leitura! Os Editores

#INSTANTÂNEO

Uma lua "vermelha" para se admirar A lua atraiu nossos olhos durante a semana de 5 de outubro. Mais próxima da Terra, aparentava ser maior do que o normal e com uma coloração avermelhada. Diversos brasileiros de todas as cidades do País puderam presenciar o fenômeno, que ficou conhecido como “lua vermelha”. O evento pôde ser visto durante todo o mês – e gerou várias tentativas de fotografá-la.

#FICA A DICA

Universo de “A Rainha Vermelha” expõe divisão social Reprodução

Jornal universitário da São Judas novembro 2020 • ano 27 • edição 4 Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Mônica Orcioli Coordenadores dos cursos de Comunicação e Artes José Augusto Lobato - Mooca Juca Rodrigues - Butantã Vasco Caldeira - Paulista Supervisores de projeto e edição executiva Prof. Celso Sabadin MTB 14.823 Prof. José Augusto Lobato MTB 70.684 Prof. Moacir Assunção MTB 21.984 Prof.ª Patricia Paixão MTB 30.961

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Texto e foto: Caio De Luca

Supervisora de projeto e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 Redação Alunos do curso de Jornalismo da Universidade São Judas Integrantes do projeto de Extensão "Jornalismo Crítico e Cidadão na Universidade" Alunos de Estágio Supervisionado em Jornalismo Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT Foto de capa Caio De Luca

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Talita Candido

A saga de “A Rainha Vermelha”, uma história fantasiosa, é de autoria da escritora americana Victoria Aveyard e teve seu primeiro livro publicado no Brasil em julho de 2015, pela Editora Seguinte. A história dos quatro livros se passa no Reino de Norta, no qual a sociedade é dividida pela cor do sangue: as pessoas de sangue vermelho, que não têm poderes, servem aos poderosos nobres de sangue prateado. Os “vermelhos”, como são chamados, são

tratados como inferiores nesse reino; são mandados para a guerra assim que completam 18 anos e vivem em condições precárias. No entanto, a vermelha Mare Barrow, pouco antes de atingir a maioridade, descobre que também tem poderes. Essa descoberta a levará diretamente ao palácio do rei, onde ela terá que medir suas ações e escolher seus próprios caminhos se quiser sair de lá viva. O primeiro livro da saga de “A Rainha Vermelha” é envolvente. Com uma escrita leve, Aveyard nos leva por um emaranhado de acontecimentos com descobertas chocantes, emoções dife-

rentes e traições, do qual é difícil tirar os olhos por um minuto sequer. Nos livros subsequentes, a narrativa é recheada de situações e escolhas reais, apesar do gênero fantasioso, e personagens fortes, complexas e carismáticas. Há também uma grande representação racial e de gênero, o que só torna a trama mais real e natural. É uma narrativa envolvente que merece ser lida e apreciada. A Rainha Vermelha - Vol. 1 Autor: Victoria Aveyard Ano: 2015 (Brasil) Editora: Seguinte 424 p.


PONTO DE VISTA

Literatura periférica é resistência Jornalista Alex Criado fala dos autores e da relação desse gênero com a mídia e a identidade cultural que se forma à margem das narrativas hegemônicas Maria Eduarda Cruz Criado

Alex Criado é doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e durante mais de 15 anos lecionou nos cursos de Comunicação de instituições do ensino superior, onde teve oportunidade de conhecer, por meio de uma aluna, a literatura periférica e negra-brasileira. Seu primeiro contato foi pelas obras do escritor Sérgio Vaz. Na entrevista a seguir, Alex falou sobre a importância da literatura periférica como foco de resistência e a relação desse gênero com a mídia e a identidade cultural que se forma à margem das narrativas hegemônicas. A entrevista concedida em maio, pela internet, aos alunos do primeiro ano de Jornalismo da Universidade São Judas, campus Paulista, e mediada pela professora Ana Vasconcelos. Ana Vasconcelos: Para começar, você poderia conceituar literatura periférica? Alex Criado: O marco da literatura periférica foi quando Ferrez lançou um livro intitulado “Capão Pecado”, que causou furor na época, há 20 anos, por ser escrito por alguém que não era da elite ou da classe média intelectualizada falando sobre um bairro periférico e com linguagem da periferia. Com isso, Ferrez foi convidado a ser colunista da revista “Caros Amigos” e ele começa a chamar pessoas de outras periferias, cunhando o termo “literatura marginal”. Os próprios autores dão esse nome. Inclusive Ferrez brincava ao afirmar: “Nós estamos à margem”. Angelo Silva: Um desses autores marginais é Rodrigo Ciríaco. Você já teve a oportunidade de trabalhar com ele? Alex: Não conheço o Rodrigo pessoalmente, mas acompanho o trabalho dele e sei que inaugurou no Ermelino Matarazzo uma casa de cultura. O trabalho dele é maravilhoso e ele é um dos escritores que eu mais admiro. Inclusive ele escreveu um livro de contos ambientados na escola pública, chamado “Te Pego Lá Fora”, o qual já usei em muitas aulas. Angelo Silva: Rodrigo Ciríaco diz que falta no Brasil acesso dos jovens às bibliotecas e organiza saraus nas periferias. QUal a im-

Alex Criado exibe alguns exemplares de sua coleção de literatura periférica portância desses saraus na afirmação da literatura periférica? Alex: Um dos gurus do Ciríaco é o Sérgio Vaz, e ele criou algo fabuloso na periferia da zona sul, um evento cultural que ele chamou de sarau, termo que à época era ligado a algo da elite. Hoje o termo já se popularizou. Foi assim que ele cunhou o termo “literatura periférica”, levando os saraus aos botecos da periferia e, assim, reafirmando a cultura periférica, sua origem e sua identidade, pois a periferia também produz cultura. Juan Alves: O escritor Ademiro Alves, conhecido como Sacolinha, sempre viveu em periferia e pelo convívio acabou desenvolvendo uma linguagem própria de lá. Em que medida essa linguagem usada por ele em palestras e livros ajuda na comunicação com o público? Alex: A linguagem acadêmica estava descolada dessa linguagem da molecada da periferia. Quando Sacolinha chega nas escolas para fazer palestras, a molecada fica fascinada, acha o máximo, o público se identifica com ele. Essa linguagem mostra a importância da periferia, uma forma de identidade. Isabela Menedim: Os escritores desse tema têm dificuldade em encontrar uma editora que aceite publicar os livros? Alex: Eles não encontraram muita dificul-

“Quando Sacolinha chega nas escolas para fazer palestras, a molecada fica fascinada.” dade porque nem iam atrás de editoras. Começam a sacar que, para publicar, precisam criar os próprios meios. Eles vão criando pequenas editoras artesanais e produzem os livros manualmente, muitos deles pequenos e costurados por mulheres. No próprio movimento surgiu uma série de outras editoras, algumas mais profissionais, para produzir a literatura periférica. Fabianna Lima: Como você imagina o futuro de projetos como o Mjiba? Alex: Essas periferias têm trabalhado muito a valorização da própria cultura, o que não significa que as periferias são uma coisa uniforme. Você tem o tráfico, atuando ali, e atraindo para si uma parcela da população, e acho isso dramático. Quer dizer, se a vida não te oferece nenhuma possibilidade, você não tem nada a perder. É uma realidade extremamente complexa. Interessante é que esses artistas, mesmo quando conseguem um certo renome, como a Elizandra Souza, por exemplo, ou a Dinha, continuam atuando na comunidade. E é fascinante a relação que essas pessoas mantêm com as suas origens. Como essa produção periférica criou também um modo de produção que não depende de grandes investimentos, é possível que sobreviva melhor do que aquela cultura que depende mais dos estímulos do Estado, os artistas criam pequenas editoras e distribuem. Rayane Figueiredo: A literatura periférica pode mudar a imagem que a grande mídia criou da periferia? Alex: Sim. Quando a TV Globo criou bloco dentro do SPTV chamado Cultura Periférica e chamou o Alessandro Buzo, ela já está aceitando. Isso não significa uma coisa uniforme porque o campo da cultura sempre

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é um campo em disputa. A literatura periférica já conseguiu se legitimar e quebrar vários preconceitos em relação à periferia mas isso não significa que todo mundo a aceita. A gente ainda vê o preconceito racial que continua existindo no Brasil apesar da presença do negro na cultura há décadas. Rayane Figueiredo: A literatura no país tem um histórico elitizado Você acredita que saraus como o Cooperifa cumprem a aproximação da periferia com a literatura? Alex: No sarau da Cooperifa tem gente que vai ler os seus poemas e os da Cecília Meireles e do Mário Quintana, mas não que o projeto dele seja isso porque é um projeto de afirmação de identidade. Quando você mostra que a poesia pode ser uma coisa legal você abre o interesse para procurar outros tipos, a própria produção poética dessas pessoas as aproxima do gênero poesia que inclusive eu cresci achando que era uma chatice. Esse papel de aproximação é mais da escola, ela deveria usar essa literatura e também apresentar a literatura periférica. Bruna Santos: São Paulo escolheu a literatura periférica para se apresentar em 2014 na Feira do Livro de Buenos Aires, na qual participaram centenas de artistas. É possível acontecer novamente alguma outra experiência na mesma proporção? Alex: Sim, mas eu vejo que tem que existir uma ligação. A repercussão internacional está um pouco vinculada à legitimação que essa literatura consegue trazer, através de pessoas interessadas, como pesquisadores, um financiador, algo assim. Então é possível acontecer, mas depende desse diálogo com o campo cultural, digamos, mais de elite. Yasmin Galdino: Dentre tantos projetos que Alessandro Buzo fez, um me chamou muito a atenção, que foi a Livraria Suburbano Convicto. Qual foi a importância dessa livraria? Alex: A Livraria Suburbano Convicto, na rua 13 de Maio, tinha o sarau e um espaço para entrevistar as pessoas, então virou um centro cultural. Vendia pouco livro, e isso não era suficiente pra sustentar. Eu acho que ela teve uma importância, não só por ser um local de venda, mas porque ele associou isso a uma série de atividades da cultura periférica.

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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS

Testes em vacinas colocam luz no fim do túnel da pandemia Pixabay

CoronaVac e vacinas de Oxford e da Pfizer/BioNTech têm resultados avaliados com participação de brasileiros Gabrielly Bento e Isabela Fernandes

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Status das vacinas BNT 162B2 Criada pela BioNTech com a Pfizer, a vacina alemã está sendo testada nos estados de São Paulo e Bahia, com cerca de mil voluntários. Seus testes tiveram início mundialmente em julho e, de acordo com a BioNTech, mais de 25 mil pessoas se dispuseram a participar. Um mês depois, em agosto, os resultados iniciais indicaram que a vacina não apresentou efeitos colaterais graves em voluntários adultos e que induziu uma resposta imune. Agora em novembro, foi anunciado um resultado positivo para a fase 3: os testes demonstraram eficácia superior a 90%, colocando-a à frente na corrida global contra a pandemia.

Pesquisas com vacinas contra o novo coronavírus dão esperanças à comunicade brasileira e internacional gilância Sanitária (Anvisa) acompanham o processo e definem taxas ideais de eficácia. Quando perguntado sobre o valor adequado, Ferreira diz que "70% é o número ideal, mas pode ser aceito entre 50% e, em casos de emergência, até 40%". Luiz também ressaltou que os resultados da CoronaVac – envolvida em uma disputa política acirrada entre o governo federal e o de São Paulo – são promissores. “Ela alcança níveis de eficácia de 90 a 98%, o que significa que esse percentual das pessoas que receberem essa vacina produzirá os anticorpos contra o vírus, ou seja, elas foram imunizadas." VÍRUS EM MUTAÇÃO

Um dos entraves para muitas vacinas é a aceleração de mutações do vírus, algo bastante comum. Fer-

reira, no entanto, destaca que os outros coronavírus não têm um histórico de muitas mutações. “É menos provável que ele sofra muitas mutações e que, com isso, seja necessário elaborar novas vacinas num curto período”, explica. Outro fator é a desconfiança, gerada tanto pelo temor geral da população quanto por polêmicas geradas no meio político que se refletem no campo científico. Para verificar a aceitação quanto às vacinas, a reportagem realizou pesquisa on-line com 40 pessoas; destas, 30 confiam nas produções em testes e 28 as tomariam logo quando saíssem. Quando perguntamos em qual das três vacinas testadas no Brasil o público confia, 19 não têm preferência, nove escolheriam a chinesa, sete a britânica e quatro a alemã.

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AZD1222 A vacina britânica AZD1222, que foi criada pela Universidade de Oxford em parceria com o conglomerado farmacêutico AstraZeneca, foi a primeira a chegar ao Brasil. Sob a responsabilidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os testes brasileiros ocorrem em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia e deverão alcançar 10 mil voluntários.

Pixabay

O assunto dominante no meio científico em 2020 – as pesquisas para desenvolvimento de vacinas eficazes contra o novo coronavírus – caminha, neste último trimestre de ano, para progressos reais que dão esperança à comunidade brasileira e internacional no enfrentamento da pandemia da Covid-19. Hoje, são mais de 160 vacinas sendo estudadas ao redor do mundo, com 44 em fase de testes e 3 sendo aplicadas aqui no Brasil: BNT 162b2 (da BioNTech e da Pfizer), AZD1222 (AstraZeneca-Oxford, a “vacina de Oxford”) e a CoronaVac, da chinesa Sinovac. O biólogo e especialista em microbiologia Luiz Eduardo Nunes Ferreira destaca que o teste de vacinas é especialmente aplicável a realidades como a brasileira. “Nós nos tornamos um alvo importante conforme a pandemia foi crescendo aqui, havia várias pessoas contaminadas e um número de casos grande que favoreceu o interesse das indústrias para virem testar aqui. Também temos uma tecnologia, pessoal especializado e know-how nessa área de vacinas – isso ajuda.” Globalmente, entidades de vigilância sanitária e farmacológica como a Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, e nossa Agência Nacional de Vi-

CORONAVAC A CoronaVac é uma vacina criada pela farmacêutica chinesa Sinovac Life Science e desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan. Ela está atualmente em sua terceira fase de testes, sendo a primeira realizada na China, com 144 voluntários adultos; a segunda já tinha 600 voluntários e também foi aplicada no país. Já a terceira, a fase “final”, abrange 9 mil pessoas e foi realizada no Brasil. Entre todos os imunizantes que estão em fase final de testes no mundo, pesquisas mostram que esse é o mais promissor por apresentar o menor índice de efeitos colaterais. Não obteve registro de febre alta nem de outras reações maiores. Em novembro, houve polêmica quanto a efeitos adversos com um evento grave envolvendo um dos participantes dos testes em São Paulo – o que causou troca de farpas entre o estado e o governo federal e a suspensão temporária dos testes. No entanto, ao final, descobriu-se que a morte do voluntário foi decorrente de suicídio, com posterior retomada da fase 3.

Como funcionam os testes Todo teste de novas vacinas ou medicamentos passa por um grupo de controle – pessoas que recebem placebo ao invés do fármaco sendo testado (estes fazem parte do grupo experimental). O uso de placebo é importante para verificar se a vacina realmente está funcionando, já que fatores externos e o sistema imunológico podem interferir e causar um falso resultado. Também se identifica o caráter de possí-

veis efeitos colaterais. O sigilo é total para os participantes, que não sabem de qual grupo fazem parte.. Durante todo o período de testes, os voluntários são monitorados 24 horas por dia por uma equipe – coletas de sangue e outros fluídos são realizadas para análise. Ao fim do estudo, os voluntários são informados sobre tudo o que ocorreu durante o período de testes e são orientados sobre os próximos passos.


INCLUSÃO

Acessibilidade desafia deficientes auditivos Surdos vivem rotina de dificuldades para usar serviços públicos e privados; Libras ainda tem poucos fluentes Mariana Trigueiro

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva parcial ou total – em torno de 5% da população do País. Apesar disso, ainda são incompletas as maneiras que tornam suas vidas acessíveis, seja no local de trabalho, seja na escola ou na convivência social. Mesmo com a criação de leis desde os anos 2000, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (N°13.146) ou a Lei de Libras (N°10.436), entre outras que promovem a acessibilidade de surdos, a comunidade ainda lida com dificuldades para a aplicação efetiva do que está previsto no papel. Quésia Teles, professora e intérprete da Secretaria de Educação do Distrito Federal, ainda enxerga falta de ação do Estado. “Precisamos de políticas públicas

eficientes para que a acessibilidade se torne algo valorizado e seguido à risca”. Diversos exemplos do cotidiano podem ser mencionados: é o caso de uma visita ao médico, das compras do mês no supermercado ou até mesmo de casos de idas de emergência a uma delegacia ou hospital. São lugares públicos que, no geral, não possuem formas pelas quais o surdo consiga se comunicar sozinho. Pessoas entrevistadas para esta reportagem relatam a dependência de alguém para lhe acompanhar nesses locais e poder ajudar. “A minha família sempre me acompanha quando preciso ir ao médico ou algum outro lugar, para que possam me ajudar, pois não tem comunicação. Por isso é tão importante a presença de intérpretes", diz Edjarly Neves, deficiente auditivo e morador de Angelim, cidade de Pernambuco.

Libras: omissão do Estado e difícil de aplicar CONSCIENTIZAÇÃO

Ter a garantia de acessibilidade não significa que os ambientes públicos, principalmente, estão preparados para lidar com a especificidade de cada deficiente auditivo. Outro ponto é a conscientização da população: medo, preconceito e desprezo relacionados aos surdos são consequências de uma cultura que historicamente vincula essa parcela da sociedade a pessoas

“anormais”. Isso ainda os impede de ir em busca do conhecimento de Libras. A tecnologia, aliada da humanidade desde os primórdios, é entendida pela comunidade surda e por especialistas como um meio de expandir a acessibilidade. “O uso da tecnologia facilitaria bastante no processo de comunicação com ouvintes”, afirma Ana Carolyna Sales, deficiente auditiva, universitária do curso de Licenciatu-

ra em Língua de Sinais na Universidade de Brasília. Desde a criação do Programa Nacional para Certificação de Proficiência no Uso e Ensino da Língua Brasileira de Sinais (Prolibras) pelo Ministério da Educação em 2006 até 2009, foram certificados cerca de 5 mil intérpretes. Atualmente, no Brasil, existem aproximadamente 5,2 mil intérpretes, atuando principalmente na área da educação básica. A Língua Brasileira de Sinais é fundamental principalmente no âmbito escolar de crianças deficientes auditivas, por essa razão deve ser adquirida o quanto antes. A partir do Decreto Federal nº 5626, de 22 de dezembro de 2005, se estabelece que alunos com deficiência auditiva tenham o direito a uma educação bilíngue, de rede pública ou privada, ou seja, aprender a Língua Brasileira de Sinais como primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa em sua forma escrita como segunda língua (L2).

Alguns fatores geraram o aumento de intérpretes no país, como a introdução do curso superior de Libras no ano de 2006 e os 7,6 mil cursos superiores de Pedagogia, Fonoaudiologia e Letras que oferecem a disciplina de Libras. Mesmo assim, a quantidade é incapaz de atender a alta demanda desses profissionais. “Durante minha trajetória profissional e pessoal, evidenciou-se o quão necessária é a popularização de intérpretes de Libras no país”, reforça Waldimar Carvalho, diretor de acessibilidade comunicacional da Secretaria da Pessoa com Deficiência (SEPD) do Distrito Federal. “Como diretor da área comunicacional, vejo que fica cada vez mais explícita a carência desses profissionais para ajudar na comunicação e integração da comunidade surda com o restante da sociedade”, conclui.

INEDITISMO

Focado em reconhecer grandes nomes que fizeram a diferença na história da humanidade, o Prêmio Nobel ainda caminha para dar mais destaque a mulheres em suas categorias. Hoje, elas são seis: Física, Química, Medicina, Literatura, da Paz e Ciências Econômicas. A instituição responsável foi criada e concebida em 1900 na capital da Suécia; já o Nobel

da Paz foi e ainda é concebido em Oslo, na Noruega. Desde a primeira cerimônia do Prêmio Nobel, em 1901, até a mais recente, em 2020, apenas 57 prêmios foram atribuídos a mulheres, sendo sete desses na Química. Neste ano, pela primeira vez na história do prêmio e nessa mesma categoria, duas mulheres ganharam: Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna. A dupla desenvolveu uma maneira de alterar o DNA de

Bianca Fioretti

Camila Quaresma

Duncan.Hull e The Royal Society

Mulheres ainda são minoria em prêmios como o Nobel

Emmanuele Charpentier e Jennifer A. Doudna plantas, animais e microorganismos, um método para edição de genoma. Estudando o sistema imunológico de uma bactéria, elas descobriram uma ferramenta que

possibilita incisão precisa na matéria genética de organismos. Uma tesoura genética chamada CRISPR/Cas9 está sendo usada para estudos internos dos genes da vida

com o intuito de modificá-los, contribuindo assim com pesquisas relacionadas a terapias contra o câncer e em testes para curar doenças hereditárias. A participação das mulheres nos estudos das ciências está crescendo, mas sempre foi mínima em comparação à masculina. Até 2015, na Acadamia Brasileira de Ciências (ABC), o percentual de mulheres era de 13%. Em artigo sobre a quase ausência de mulheres nas principais

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academias científicas do Brasil e entre os vencedores do Prêmio Nobel, os professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcel Freitas e Alda Teixeira apontam que a questão está ligada a condições culturais e políticas da sociedade. “A exígua porcentagem de mulheres agraciadas com esse laurel se coaduna com os parcos índices de representação feminina nas academias científicas brasileiras”, dizem.

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ESPECIAL • ELEIÇÕES 2020

10 dicas para um voto de qualidade Distanciamento social e mudanças nas regras de atuação de partidos são algumas novidades das novidades deste ano; combata a desinformação e se proteja! 6- ENTENDA COMO FUNCIONA O TÍTULO DE ELEITOR DIGITAL

Marina Chaves Costa

As eleições 2020 entram para a história por vários motivos. Em primeiro lugar, ocorrem no contexto da pandemia da Covid-19, que poderá afetar os percentuais de participação comumente altos do País; além disso, têm o maior número de pedidos de registro de candidatura da história (mais de 517 mil) e a maior proporção de candidaturas de negros (leia mais na reportagem deste Especial). O pleito, que geralmente ocorre em outubro, foi adiado para os dias 15 e 29 de novembro (primeiro e segundo turno) em razão da pandemia. Outras mudanças são geradas pela Reforma Eleitoral de 2019 (Leis nº 13.877 e 13.878), que mudou normas de campanha e atuação dos partidos – como a fixação do teto de autofinanciamento de 10% do limite de gastos de campanha do cargo disputado e, pela primeira vez, o uso de recursos do Fundo Eleitoral em eleições municipais, no valor de R$ 2,03 bilhões em 2020. Para escolher bem para onde direcionar seu voto, comparecer às urnas com segurança e não ficar irregular com as autoridades, confira dez dicas preparadas pelo Expressão.

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Caso você não encontre seu título de eleitor tradicional, é possível baixar o aplicativo E-Título, disponível para Android e iOS. Para os que fizeram a biometria, o título aparecerá com foto. Para os eleitores que não fizeram, será necessário levar, além do e-Título, um documento com foto.

Modelo genérico de e-Título

1- FIQUE ATENTO AO HORÁRIO DE VOTAÇÃO

Neste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ampliou os horários das sessões: antes eram das 8h às 17h e neste ano serão das 7h às 17h. Assim, pessoas que integram o grupo de risco terão um horário prioritário das 7h às 10h.

2- VERIFIQUE O LOCAL DE VOTAÇÃO

No site do próprio TSE, é possível conferir o número do seu título, zona eleitoral e o endereço do local de votação. Lá, você irá se dirigir à seção designada no seu título de eleitor.

3- PESQUISE SOBRE AS PROPOSTAS DOS CANDIDATOS

Na hora de escolher para quem vai o seu voto,

dedique um momento para pesquisar sobre cada um. Se for um vereador, em quais projetos de lei já atuou? Se for um prefeito, é importante saber se já ocupou cargos políticos. Nesse caso, é possível saber quais investimentos realizou durante o mandato, por exemplo. Seu histórico pessoal e do partido ao qual se filiou podem ser úteis também. 4- NÃO DIVULGAR NOTÍCIAS FALSAS

Checar as informações que se recebe antes de compartilhar é fundamental para evitar a propagação das fake news, principalmente via WhatsApp. “O que mais recebo de dúvidas dos amigos é por conta de fake news. Muitas informações que chegam

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são deturpadas”, conta Vitor Ramos dos Santos Lobo, de 32 anos, que atua como mesário e é professor e gestor cultural. “Por exemplo, teve gente aqui em São Paulo que nos perguntou se vai ter voto pelo correio, assim como nos Estados Unidos… Então esse tem sido o grande problema: as informações falsas”, completa. 5- SAIBA QUAIS DOCUMENTOS LEVAR

É preciso apresentar um documento com foto - RG, CNH, carteira de trabalho ou passaporte, entre outros. Não é obrigatório levar o título de eleitor no dia das eleições; no entanto, você vai precisar do número do título. Logo, lembre-se de o levar anotado em um papel.

7- LEVE SUA PRÓPRIA CANETA

Para evitar a contaminação pelo coronavírus, o TSE recomenda que cada eleitor leve sua própria caneta. Caso a esqueça, poderá utilizar as dos mesários – após serem higienizadas.

8- SAIBA COMO VOTAR NA URNA ELETRÔNICA

Primeiro, o eleitor irá digitar os cinco dígitos do seu candidato a vereador. Na tela, aparecerão nome, foto e número do candidato, junto com a sigla do partido. Depois, basta apertar o botão verde confirmando o voto. Em seguida, repete-se o processo para votar no candidato a prefeito, para o qual são apenas dois dígitos. Lembre-se: não é permitido entrar com o celular na cabine de votação. Por isso, leve uma “cola” em um papel com os números dos candidatos.

9- USE MÁSCARA E MANTENHA O DISTANCIAMENTO SOCIAL

Ambos serão obrigatórios nas sessões eleitorais. Como medida preventiva contra o coronavírus, também será oferecido álcool em gel para higienização das mãos. “Tivemos um curso preparatório (virtual) para os cuidados que devemos tomar, como o uso de máscaras, que devem ser trocadas a cada duas horas, além da limpeza e higienização das mãos constantemente”, explica a mesária Cristina Benedito, 56 anos, professora da rede municipal.

10- CASO PERCA O TURNO DE VOTAÇÃO, É PRECISO JUSTIFICAR O VOTO

O eleitor precisa justificar sua ausência em até 60 dias após a votação. Para isso, é preciso preencher o Requerimento de Justificativa Eleitoral, que pode ser encontrado no aplicativo E-Título ou nos portais e no site do TSE. Se preferir, pode fazê-lo em cartórios eleitorais, tribunais regionais eleitorais e postos de atendimento ao eleitor. “Acho importante a gente tomar todo cuidado possível, por conta da Covid-19, mas fazendo nossa obrigação de votar. Colocar alguém lá que faça alguma coisa por nós”, afirma a eleitora Sandra Rosa de Oliveira, de 50 anos, babá e berçarista.


ESPECIAL • ELEIÇÕES 2020

Conheça as funções de vereadores e prefeito Maiko666, sob a licença Creative Commons

Seja entre jovens que pela primeira vez vão às urnas, seja entre aqueles que já o fizeram sem tanta atenção, o período de eleições é uma oportunidade para promover um aprendizado maior sobre o funcionamento da gestão pública municipal. Este ano, os cargos de prefeito e vereador estão no centro dos debates. No geral, vereadores têm como principal missão estabelecer uma ligação entre o governo e o povo, via poder Legislativo. Já o prefeito é a liderança local no âmbito do poder Executivo, podendo administrar e organizar a cidade por meio de ações diretas. A estrutura da República brasileira, com Executivo, Legislativo e Judiciário, deriva do modelo democrático clássico estabelecido na Era Moderna e supõe uma interação harmoniosa e equilibrada entre esses poderes. Ao primeiro, cabe sancionar leis aprovadas por deputados e garantir a implantação de projetos e programas que proporcionem melhorias em saúde, economia, bem-estar e segurança, entre outros aspectos. Já o poder Legislativo opera na criação de leis e na fiscalizaçãod as medidas tomadas pelo poder Executivo. O Judiciário assegura que as leis sejam cumpridas de acordo com a Constituição, além de administrar a Justiça do país e gerenciar conflitos da sociedade.

Eugenio Hansen, sob a licença Creative Commons

Thalia Matias

Período eleitoral é útil para fortalecer compreensão do funcionamento da gestão pública nas cidades do País LEIS FUNDAMENTAIS Lei Orgânica: Art.29. Constituição federal: “O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado.”

LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL: Planejamento que indica a quantidade e onde deve ser gasto o dinheiro público arrecadado em impostos no período de um ano. Assembleia Legislativa de São Paulo

Confira, a seguir, um resumo da atuação do vereador e do prefeito – e com base nisso decida o perfil de candidato que merece seu voto! O VEREADOR

Eleito a cada quatro anos, o vereador faz parte da Câmara Legislativa de cada cidade. Cabe a ele fiscalizar contas da prefeitura e fazer a checagem de feitos por parte do prefeito. O vereador também exerce a função de aprovar, organizar e criar ou unificar leis, desde que estas não interfiram nos códigos federais e estaduais. O salário de cada vereador varia de acordo com o tamanho do mu-

nicípio e leva em conta o teto de serviços públicos locais. Em São Paulo, por exemplo, com 12,3 milhões habitantes, nossos vereadores recebem em torno de R$ 15 mil. Os vereadores também são responsáveis pela aprovação do Plano Diretor Municipal (PDM), um documento que é elaborado pelo Poder Executivo e aprovado pela Câmara Municipal, com o propósito de direcionar as principais metas e objetivos da cidade durante o mandato. O Plano é desenvolvido com a ajuda de um arquiteto urbanista, para que sejam realizadas as mudanças necessárias em relação à expansão urbana.

Prefeitura de São Paulo O PREFEITO

O cargo de prefeito, um dos mais concorridos na disputa eleitoral deste ano, diz respeito ao responsável pela gestão da cidade. É ele que define e planeja como serão gastos os recursos arrecadados por meio de impostos e também por repasses federais, direcionando-os para saúde, educação, mobilidade, limpeza urbana ou segurança. Pode-se eleger um novo prefeito a cada quatro anos e reelegê-lo apenas uma vez consecutivamente. O salário de um prefeito é determinado pela Câmara Municipal, seguindo teto fixado em nível federal.

O QUE FAZ UM VEREADOR? • Fiscaliza gastos da prefeitura • Confere se o prefeito está implementando as mudanças necessárias • Atua na aprovação, organização e unificação de leis

O QUE FAZ UM PREFEITO? • Direciona recursos arrecadados por impostos • Constrói novas creches e escolas • Estabelece melhorias para a segurança e mobilidade urbana • Sanciona ou veta leis aprovadas pela Câmara Municipal

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PLANO PLURIANUAL: Documento constituído por objetivos e metas de médio prazo, que prevê obras públicas que deverão ser realizadas no próximo ano e aonde se quer chegar nos próximos quatro anos.

LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS: Tem como principal objetivo mostrar quais são as prioridades do governo para o próximo ano.

CÓDIGO DE OBRAS: Documento que possibilita que a administração municipal exerça o poder de controlar e fiscalizar o espaço que foi construído ao seu entorno.

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ESPECIAL • ELEIÇÕES 2020

Cotas fortalecem representatividade no pleito Mulheres e negros vivem ampliação gradual de participação em registros de candidaturas

As lutas sociais de minorias e grupos sociais estigmatizados se refletem, ano após ano, de forma mais intensa na política. É o caso das mulheres e dos negros – parcela expressiva da população brasileira, mas ainda pouco expressivo em um conjunto de candidaturas de homens e brancos. A alternativa encontrada para garantir que haja diversidade no Poder Legislativo e tentar reverter um quadro histórico é a adoção de cotas eleitorais – que já produz seus resultados nestas eleições. O reconhecimento do voto como um direito de todos, a despeito de renda, escolaridade, raça ou sexo, foi assegurado tardiamente, na Constituição de 1988. A decisão de implantar cotas de gênero e raça veio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Congresso Nacional. A Lei nº 9.504/1997 determina que 30% das candidaturas devem ser reservadas às mulheres e, ainda, que a mesma porcentagem seja dedicada ao recebimento do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e ao tempo de propaganda eleitoral, tanto na televisão como no rádio. Quanto às cotas raciais, o TSE aprovou, em agosto deste ano, a regra de distribuição proporcional de recursos de campanha entre candidatos negros e brancos. Apesar de, originalmente, passar a valer somente nas eleições de 2022, o Supremo Tribunal

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Candidatura de mulher negra em São Paulo

Federal (STF) decretou sua aplicação nas eleições deste ano. Como explica o advogado Paulo Henrique Golambiuk, o funcionamento desse sistema é complexo. “Se houver 35% de mulheres, o mínimo que deve ser repassado a elas é 35% e assim por diante. Depois dessa divisão, deve ser calculada a porcentagem de pessoas negras em cada gênero. Se houver 10 homens concorrendo e 2 deles forem negros, então 20% dos recursos e do tempo de TV e rádio deve ser direcionado a eles. Em relação às mulheres, o

mesmo se aplica: 5 mulheres e 3 delas sendo negras, então 60% deve ser destinado a elas.” A implantação dessas medidas levantou temores nos partidos, como a possibilidade de que candidatos brancos se beneficiem da cota racial, em decorrência da autoidentificação dos candidatos que se declaram negros ou pardos, e da construção de candidaturas laranjas. A expressão “laranja”, que desperta certa familiaridade, indica uma pessoa que cede seu nome, assumindo determinada função em teoria, mas

novembro 2020

não na prática. Candidatos laranjas são aqueles de fachada, utilizados para o cumprimento das cotas e para o desvio de verbas eleitorais. Ou seja, as vagas estão sendo preenchidas pelos partidos, mas apenas no papel. Muitas vezes essas pessoas são familiares ou conhecidos de homens já envolvidos na política e que não têm a real intenção de se eleger. COTAS POR PARTIDO

Para tentar minimizar problemas, a Emenda Constitucional nº 97/2017 determinou o fim das coligações partidárias – união

de diferentes partidos na disputa eleitoral – nas eleições para deputado estadual, federal, distrital e vereadores. Assim, o cumprimento das cotas agora aplica-se a cada partido, reduzindo a possibilidade de candidatos laranjas. Mesmo assim, as eleições 2018 geraram polêmica: no Partido Social Liberal (PSL), houve denúncias de 24 vezes mais candidaturas de mulheres possivelmente laranjas – elas receberam menos de 320 votos – em estados como Minas Gerais. Um partido pode ser proibido de receber o fundo eleitoral e partidário caso o TSE comprove que ele cometeu fraudes na utilização de recursos públicos. “A legislação eleitoral prevê situações distintas para casos em que uma pessoa eleita tem seu mandato ou diploma cassado pela Justiça”, diz Golambiuk. “Há artigos sobre casos em que os votos são nulos, mas aproveitados para o partido no cálculo do quociente eleitoral.” Segundo divulgado pelo TSE, como resultado do avanço proporcionado pelas cotas, neste ano, pela primeira vez, a maioria dos candidatos foi de autodeclarados pretos ou pardos. Houve ainda um recorde de candidatura de mulheres, sendo 47 mil a mais do que em 2016. Cabe lembrar que as mulheres totalizam mais da metade do eleitorado do Brasil, e ainda assim ocupam somente 10,7% dos cargos políticos.

DIVERSIDADE EM CANDIDATURAS

2020

Freepik

Ana Julia Guedes e Melissa Carnaúba

10,7% dos

cargos políticos são hoje ocupados por mulheres

1 de cada 10 candidaturas a prefeituras no Brasil é feminina Mulheres são

34%

dos candidatos a vereador 32% em 2016 31% em 2012

Candidaturas em corte racial: 49,9% - negros 47,8% - brancos

Fonte: TSE


ESPECIAL • ELEIÇÕES 2020

Procedimentos garantem Candidatos adaptam segurança das urnas estratégias para o digital Caio De Luca

A urna chega lacrada ao ambiente eleitoral, previamente testada por hackers e devidamente verificada em seus sistemas de segurança. O mesário emite a zerésima, documento que comprova que nenhum voto foi computado naquela urna. Inicia-se o processo eleitoral. Cada urna possui sua própria identidade e um cadastro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirma que, até hoje, ninguém conseguiu quebrar sua segurança. Mesmo assim, não são poucos os brasileiros que acreditam nos rumores acerca da insegurança das urnas. O criador de seu sistema operacional, o próprio TSE, garante que a urna é “infraudável”, destacando o sistema de bloqueio por camadas em função de proteger a urna, que em caso de qualquer falha em um dos níveis de segurança tem bloqueio nos demais sistemas. Para atravessar os sistemas de defesa é necessário, em primeiro lugar, ter acesso

à urna. Elas são fabricadas sem nenhum tipo de receptor de sinal. Bluetooth, Wi-Fi, rádio – nada adiantaria para contatar a urna. Após isso, o sujeito precisaria forjar cópias dos lacres que saem das fábricas do TSE. E, por fim, teria que ter acesso ao disco rígido da urna para instalar um malware. Nas eleições presidenciais de 2014 e 2018, boatos e falsas notícias sobre a fragilidade das urnas foram frequentes. Centenas de eleitores denunciavam as falhas e publicaram vídeos de descontentamento. À época, o TSE reportou que, há 22 anos as urnas eletrônicas são adotadas no País, sem registro de fraudes. Andreza Polizello, de 39 anos, trabalha nas eleições há 20 e não concorda com as especulações. “Nós do apoio logístico das eleições passamos por diversos treinamentos e podemos ver a urna sendo desmontada e testada. Os testes são abertos ao público e executados com certa frequência”. Andreza já lidou com diversos problemas

relacionados. “Quando acontece algum problema, temos alguém para chamar, alguém do TSE. Além disso, antes de a votação voltar a acontecer, é impressa uma segunda zerésima, comprovando a segurança da urna.” Luana Alves, de 27 anos, filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) desde janeiro de 2014, acredita que as urnas são seguras e que é improvável que aconteçam fraudes no registro ou na contagem de votos. “O que acontece muito, na periferia de São paulo, são os grupos de poder local determinarem o voto para pessoas de tal bairro”. Luana é moradora da periferia e participa de movimentos sociais desde pequena, junto aos seus pais. “Não é necessariamente impor com violência, mas impor com dinheiro. As pessoas precisam de dinheiro, chegar lá e oferecê-lo em troca do seu voto não é colocar uma arma na sua cabeça, mas também é uma coerção”.

Camila Quaresma

A corrida eleitoral deste ano de 2020 foi abalada pela pandemia da Covid-19 – mas segue viva e ativa em outros espaços. Apesar de causar diminuição de abordagens nas ruas por políticos – ao menos pelos mais responsáveis –, o distanciamento social e a quarentena também serviram como pontapé para algumas propostas dos candidatos, mostrando aos eleitores que estão atentos às necessidades atuais. Mas como alcançar o público confinado em seus lares? As redes sociais, no Brasil e no mundo, são uma boa resposta. Segundo dados da We Are Social, só no Brasil, 71% da população é usuária de internet e 81% da população com mais de 13 anos está presente nas redes sociais. Se antes as caravanas políticas atingiam por um breve período as pessoas por onde passavam, as novas estratégias de campanhas atingem milhares por

segundo, disseminando muito mais que uma ou duas informações. As estratégias das campanhas eleitorais se adequam à quantidade de dinheiro utilizado, às localidades, ao público que se quer alcançar e ao lugar onde pertencem. Também dialogam com redes sociais. Em São Paulo, por exemplo, a campanha do candidato Guilherme Boulos (PSOL) fez uma live no jogo do momento, Among Us, atraindo atenção do público jovem que utiliza essa plataforma. O jornalista especialista em marketing e publicidade digital Leandro Moreira explica que "a atuação dos políticos pode ser associada à de grandes marcas, pois ambos querem vender seus produtos e se aproximar do seu público”. De acordo com ele, três ferramentas são adotadas: emoção, empatia e ética. “Busca-se a humanização de sua figura, com o candidato agindo como ‘uma pessoa normal’, como

‘qualquer outra’ que fala a língua do povo." A cientista social e candidata a vereadora Luna Pra Mudar SP (PT) também buscou se adequar ao período. Uniu informações de atuação social fora do período eleitoral – cursinho popular, discussões de política e ações de solidariedade – e reforçou sua presença no ambiente digital, buscando alcançar diferentes públicos. Segundo ela, as famílias que a conheciam pelo projeto chegam à campanha. “Essa estratégia vai muito além do ano de campanhas.” Linha semelhante também vem sendo adotada por candidatos com pouco tempo disponível em campanhas nas mídias tradicionais. À direita e à esquerda, interações via Twitter, Facebook e Instagram, lives tira-dúvidas e divulgação massiva de propostas e planos de ação e governo são beneficiadas pelo uso das redes sociais, criando conexão e familiaridade com o eleitor.

Ferramentas permitem participação na gestão pública O voto pode ser considerado o maior ato de participação política do cidadão. No entanto, para muitos brasileiros, esse direito conquistado após lutas históricas e períodos de repressão já não surte o efeito esperado para mudanças efetivas na qualidade de vida do povo. Dados de dezembro de 2019 do instituto Datafolha revelam que

62% dos brasileiros ainda acreditam na democracia como melhor forma de governo. O índice caiu sete pontos desde a última pesquisa, em outubro de 2018. Para contribuir com a saúde política do País, cidadãos podem se munir de instrumentos disponíveis nos estados, municípios e no próprio governo federal: os portais de trans-

parência. Nesses sites estão informações relativas ao uso da verba pública, como planejamentos, licitações, orçamentos, gastos públicos e dados de arrecadação de impostos. A Lei de Acesso à Informação (LAI) ainda viabiliza pressão popular e de organismos como a própria imprensa para se solicitar dados às autoridades.

Outro item importante é o Orçamento Participativo (OP), mecanismo governamental que permite aos cidadãos expor os desejos coletivos da comunidade no nível municipal por meio de assembleias participativas. Outra forma de mobilização política e social para exigir dos políticos direitos e mudanças ou denunciar fraudes e ilegalidades é cria-

ção de uma petição, da forma tradicional ou via sites como Change.org, Avaaz, Panela de Pressão ou Petição Pública. Outro canal importante é a ouvidoria pública municipal. Acompanhar as audiências públicas da cidade e sessões legislativas das câmaras municipais é outro instrumento relevante. Há ainda a pos-

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sibilidade, garantida pelo Estado via Constituição Federal, de se organizar manifestações populares. Para Rosana Florido, liderança regional do movimento Povo Sem Medo, a manifestação de rua é fundamental para a democracia. “Um povo que não se manifesta é um povo que não tem mais esperança”, afirma.

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VIDA DIGITAL

Home office dilui limites entre trabalho e vida pessoal

Teletrabalho ganha adesão massiva e gera desafios de bem-estar mental Ana Julia Guedes e Talita Candido

A garantia de segurança das pessoas em uma pandemia como a da Covid-19, doença altamente contagiosa, passa, inevitavelmente, pelo distanciamento social – um problema para a maioria dos negócios e atividades. A implantação do home office, assim, deixou de ser um benefício ou particularidade de segmentos e virou necessidade, o que ampliou suas vantagens e seus impactos potencialmente negativos. Ainda que o trabalho remoto possibilite uma certa independência aos trabalhadores, proporcionando mais conforto durante

a realização das tarefas e diminuindo o estresse causado pelo ambiente empresarial, a modalidade impõe novos desafios. “Alguns podem se sentir muito melhor sem a necessidade de se deslocar ao escritório, manter um código de vestimenta restrito ou ter horários controlados, por exemplo”, explica a psicóloga e neurocientista Alessandra Rulli. “Outros podem ter dificuldade para lidar com as distrações em casa, com a falta de um espaço privado, com a separação entre tarefas domésticas, lazer e atividade profissional”, completa. Em um cenário ideal, o funcionário mostraria um aumento de produtivi-

dade, uma vez que tem a flexibilidade para determinar seus próprios horários no conforto de casa. No entanto, essa mudança repentina pode impactar negativamente alguns trabalhadores. Sem um limite de trabalho preestabeleci-

do, há o risco de se ultrapassar a linha tênue entre ofício e vida pessoal. “O segredo é disciplina. Há um objetivo a cumprir, mas você não vive só pela empresa. Não dá pra querer realizar todas as tarefas num dia só, nos seus mo-

mentos de descanso”, afirma Marcelo Barboza, de 48 anos, bancário há 20 anos e atualmente adepto do teletrabalho. Apesar de todos os desafios do home office, existem maneiras de se evitar esses contratempos, como aconselha Alessandra. “A organização é uma aliada. Manter uma rotina, fazer uma gestão do próprio tempo para que as tarefas do trabalho e o período de lazer não prejudiquem um ao outro. Organizar o ambiente físico e, se possível, utilizá-lo apenas para essa finalidade”, avalia.

CHEGA DE INCÊNDIO

Brigadistas no combate ao fogo no Parque Estadual da Pedra Branca (RJ) Marina Chaves Costa Nos últimos meses, os brasileiros têm acompanhado o aumento no número de queimadas em diversos biomas do país. Em setembro, os focos de incêndio bate-

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ram recordes no Pantanal e na floresta amazônica. Na cidade do Rio de Janeiro, áreas de conservação também são alvo de incêndios que devastam a vegetação local. Para combater o fogo no município, o projeto

INFOgo foi estruturado pela organização Mosaico Carioca de Áreas Protegidas, em parceria com a consultoria ambiental Naatbio (RJ). Atualmente, o sistema funciona via Whatsapp. “As denúncias são encaminhadas para um grupo de 70 monitores espalhados pela cidade. Eles auxiliam encaminhando a informação aos bombeiros e brigadistas”, explica Celso Júnior, coordenador executivo do Mosaico Carioca. Os monitores do INFOgo acompanham o combate ao incêndio até sua extinção, que é informada ao morador que fez a denúncia. “Atualmente

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estamos com uma boa cobertura no Maciço da Tijuca e da Pedra Branca (zona Sul, zona Norte e Jacarepaguá). Precisamos buscar mais monitores para cobrir o Maciço do Gericinó, na zona oeste da cidade”, completa. No dia 2 de setembro, os realizadores lançaram uma campanha online de financiamento coletivo na plataforma Catarse, para viabilização do aplicativo. Nele, os moradores poderão se cadastrar e denunciar incêndios à vista de forma mais rápida. “Quando o usuário registrar uma foto [do fogo] ela vai para o aplicativo. Essa informação será disparada

imediatamente para os órgãos de combate oficiais”, esclarece o diretor da Naatbio, Anderson Ribeiro. O aplicativo também irá registrar e armazenar informações a respeito das áreas queimadas. "A ideia é que tenhamos um banco de dados que nos mostre a quantidade de fogo em determinada região para que possamos trabalhar, também, com ações de prevenção”, explica. “Isso vai gerar indicadores não só para os governantes, mas também para a mídia e sociedade civil. Qualquer pessoa cadastrada poderá consultar”, completa. Outro objetivo é o de in-

Anderson Ribeiro Montanha

Vinicius Furtado

Aplicativo ajuda no combate a queimadas no Rio de Janeiro

Coordenador do Naatbio, Anderson Montanha vestir parte do montante arrecadado na compra de equipamentos para os brigadistas. “As maiores carências são de pessoal, treinamento e material de combate ao fogo. No entanto, poderemos apoiar ações educativas e de reflorestamento também”, diz Celso.


BANCOS

PIX moderniza transações no País

PANDEMIA

E-commerce explode no Brasil e apresenta a maior alta em 20 anos

Marcello Casal JrAgência Brasil

Solução tecnológica revoluciona o sistema de operações bancárias

Pix é um meio de pagamento instantâneo para transferência entre contas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia Caio De Luca

Com quase 34 milhões de chaves cadastradas um mês antes do seu lançamento oficial, o PIX nasce com uma proposta ambiciosa e inovadora. Implantado pelo Banco Central do Brasil, funciona como uma nova ferramenta no arsenal bancário e financeiro. Tem como promessa garantir transações mais rápidas, seguras, baratas e menos burocráticas, atendendo aos interesses de negócios e pessoas. “O PIX já é uma realidade em outros países. Velle para os americanos, ou PSD2 para os europeus. Esse novo sistema de transações é mais moderno e seguro”, disse Fabíola Nascimento, Gerente Geral do Banco do Brasil.

A gerente explica que o novo serviço do Banco Central será gratuito e que a demora em trazê-lo para o país se deu exatamente para regularizar as Fintechs, organizações tecnológicas envolvidas com fluxo de capital. O especialista em finanças Robison Lima, formado em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e que já trabalhou com franquias como o China in Box, comenta sobre a aplicabilidade do PIX. “A grande questão é como vai funcionar. O Banco Central vai ter que criar medidas de segurança para o pequeno consumidor. O que se discute hoje, quanto ao PIX, são as seguranças para as fin-

techs e grandes corporações. Porém, ainda falta esclarecimento quanto aos limites de uso do PIX para o pequeno consumidor”, diz. Da mesma forma que a Transferência Eletrônica Disponível (TED), o PIX chega para sanar uma necessidade da modernidade. Ao se cadastrar no PIX, é possível efetuar pagamentos diretamente de códigos QR ou solicitar um pagamento diretamente pelo número de telefone do cliente. O Banco Central garante que, em 10 segundos, em qualquer dia - ao contrário da TED, que só pode ser feita em dia útil - e em qualquer horário, a quantia de dinheiro pode ser transferida por meio do PIX.

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. A frase atribuída ao professor Leon C. Megginson, com base na teoria de Charles Darwin, faz sentido no contexto do mercado de vendas por e-commerce – modalidade de comércio na qual todas as transações são via plataformas digitais. No ambiente da pandemia da Covid-19, a sobrevivência dos negócios elegíveis ao uso da web se deu com um mergulho completo neste ambiente. O crescimento do setor no Brasil já era evidente nos últimos dez anos. No entanto, o comércio eletrônico vive um momento histórico de expansão: no primeiro semestre de 2020 teve crescimento de 47% em relação ao mesmo período no ano passado. É a maior alta em 20 anos, de acordo com dados da 42ª edição da WebShoppers, levantamento semestral feito pela consultoria Ebit | Nielsen, em parceria com a Elo. O salto do mercado bra-

Caio Frade

Lucca Prioste e Caio Frade

sileiro se relaciona diretamente com as medidas de isolamento e distanciamento social adotadas diante da pandemia do novo coronavírus. Com as lojas físicas fechadas, canais de venda e prestação de serviços online foram a principal alternativa para manter os estabelecimentos operando. É o caso de Gabriel Tomazini, 22 anos, gerente de um restaurante no Vale do Paraíba. Ele adicionou o serviço de delivery para continuar atendendo os clientes durante a pandemia. “O comércio teve que adotar o sistema de delivery dos produtos, reorganizando métodos de trabalho e produção e investindo ainda mais no marketing online”, conta. Além dos negócios que se adaptaram, novas em-

presas surgiram neste período - empreendimentos totalmente digitais. Durante a quarentena, houve um aumento médio de 400% no número de novas lojas online por mês. De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), antes da pandemia, cerca 10 mil novos negócios abriam por mês. Hoje, esse número chega a 50 mil. É o caso de Bárbara Ribeiro, 28 anos, que abriu seu próprio negócio de design em crochê durante a pandemia. Para ela, “entender os mecanismos de venda, tanto das redes sociais quanto dos e-commerces, e conseguir acompanhar o tempo das novas tecnologias”, seriam os maiores desafios para quem está começando a empreender nas plataformas digitais.

Fonte: Ebit

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CULTURA E ARTES

Taxação de livros impacta mercado editorial Melissa Carnaúba

Um defensor da cultura, da educação e da liberdade de expressão na sociedade brasileira, o renomado escritor baiano e deputado federal Jorge Amado uma vez disse: “Eu continuo firmemente pensando em mudar o mundo e eu acho que a literatura tem uma grande importância”. Anos antes, ele havia sido o responsável por instaurar uma proposta de emenda à Constituição de 1946, que previu imunidade dos impostos para livros, revistas, jornais e afins. Tal proposta foi mantida na Constituição de 1988, garantindo que a isenção pudesse valer para os livros como

produto. Posteriormente, em 2004, isso viria a se tornar uma lei. Agora, esse benefício está sob ameaça. Por causa da importância dos livros e do que eles representam para a cultura do país, foi criada a Lei 10.865/2004, que garantiu a isenção da Cofins e do PIS/Pasep aos livros, o que permitiu uma redução no valor durante os próximos anos. Em contrapartida, agora em 2020 o Ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou uma nova proposta para a reforma tributária, prevendo o fim da isenção de impostos para livros. Nesta proposta, ele pretende substituir os encar-

Pixabay

Com a nova Reforma Tributária, isenção de impostos para livros pode estar com os dias contados

Reforma tributária prevê o fim da isenção de impostos para livros gos gerados pela COFINS e o PIS/Pasep, para unificar a alíquota em um total de 12%. Para que isso seja possível, o projeto dessa nova

reforma tributária será separado em várias etapas. Na primeira delas, um novo imposto será criado: a Contribuição sobre Bens

e Serviços (CBS), que terá como propósito facilitar a declaração dos tributos. Vale lembrar que a proposta ainda não foi instaurada, pois requer uma votação no Congresso. O assunto tem gerado diversas discussões e campanhas em defesa dos livros nas redes sociais. A #DefendaOLivro foi uma resposta direta de leitores, escritores e editoras contra a nova Reforma Tributária. Essa mobilização ganhou um rápido engajamento do público; petições foram criadas e já contam com mais de 1 milhão de assinaturas. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Pró-

-Livro em parceria com o Itaú Cultural, os dados apresentados sobre os hábitos de leitura do brasileiro mostram um agravamento na situação do mercado editorial, visto que a população das classes mais altas começaram a buscar por livros digitais e e-books, causando um impacto na venda de livros físicos. Isso gerou aumento no acesso e no download de livros pirateados nos meses do segundo trimestre de 2020, durante a pandemia do novo coronavírus. No entanto, o consumo de livros de papel ainda representa 67% da preferência dos leitores.

milhão de documentos – entre roteiros e cartazes, muitos deles raros. Com materiais inflamáveis, o espaço já viveu quatro grandes incêndios, que comprometeram uma parcela do inventário da fundação. Ainda no governo Temer, o então ministro Sérgio Sá Leitão, do então Ministério da Cultura, fechou contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), tornando-se a primeira instituição cultural federal a ser gerida por uma Organização Social (OS). Com quase 80 anos de existência, a entidade já teve diversos endereços e já tes-

temunhou diferentes regimes políticos – sendo o atual um dos mais difíceis para sua história. Após a queda do Ministério da Cultura, rebaixado a Secretaria Especial, a Cinemateca Brasileira entrou na rota de discussões acaloradas e foi especialmente prejudicada pela Covid-19. Fechado desde o final de março, quando a pandemia chegou ao país, o espaço está submetido ao que alguns realizadores classificam como descaso. A demissão dos 41 profissionais técnicos, o atraso de pagamentos e o corte dos repasses financeiros do governo federal estão entre os pontos críticos.

S.O.S.

Memória do audiovisual brasileiro pede socorro Anna Julia Fagundes e Caio Luiz Neumann

Cinemateca Brasileira é alvo de disputas políticas e vive incertezas

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Situada no antigo matadouro municipal de São Paulo, a Cinemateca Brasileira tem o maior acervo cinematográfico da América Latina e é sinônimo da categoria em todo o país. Agora, no centro de disputas políticas entre autoridades estaduais, municipais e federais, vive um período de incertezas quanto ao futuro de sua administração. Fundada na década de 1940, por Paulo Emílio Sales Gomes e colaboradores, a Cinemateca conta hoje com cerca de 250 mil rolos de filmes, 40 mil títulos e mais de 1


"NOVAS" TELAS

De volta aos drive-ins

Caio Frade

COMIC CON

Perspectivas de lento retorno do circuito exibidor abriram espaço para um retorno do modelo de cinema

Cinema ao ar livre em estacionamento é alternativa segura de lazer Alicia Alves

Ninguém poderia imaginar que uma tela de cinema ao ar livre e um estacionamento para automóveis seriam uma das principais formas de entretenimento no Brasil em 2020. Uma criação praticamente extinta no país até ano passado, o drive-in vem fazendo sucesso pela sua forma segura de lazer e traz uma opção de cinema em que a reprodução do áudio é feita por meio de uma frequência de rádio e sua imagem é projetada em uma grande tela. Inventado em 1932 nos Estados Unidos, por Richard Hollingshead, como uma maneira de cessar as reclamações de sua mãe sobre as poltronas das salas de cinema, a opção de drive-in virou sucesso nos anos 1950 por conta da popularização do rádio e voltou à tona nos últimos meses como uma forma de lazer

em tempos de pandemia. Agora, o cinema drive-in deve seguir algumas regras de distanciamento social para manter a prática mais segura. Em São Paulo, o governo criou o “Drive-In da Cultura”, que foi anunciado em maio deste ano. Esse projeto permite a exibição de filmes em espaços abertos e teve a sua inauguração em julho no Memorial da América Latina. Para sua realização, foi criado um protocolo de segurança que exige algumas regras – como medir a temperatura tanto dos espectadores quanto dos funcionários, permanência nos veículos obrigatória, uso da máscara e respeitar a distância de 1,5 metro entre os automóveis. EXPERIÊNCIA DIVERTIDA

O cinema drive-in é uma ótima opção pela segurança de se poder sair de casa e continuar confinado. Além disso, possui muitos benefícios que o

cinema tradicional não contém. “Um dos pontos importantes é a liberdade e conforto que o espectador tem dentro do cinema, no conforto do seu carro. Pode levar criança de colo, seu pet, não enfrenta filas, não paga estacionamento, é servido no próprio carro e tem total liberdade de comentar o filme, atender o celular e até mesmo tomar sua cerveja e se preferir, levar seu próprio alimento”, destaca Tiago Falero, CEO do cinema CineCar. A ideia que surgiu em 2011, mas que só foi colocada em prática em 2018, traz uma experiência divertida de assistir a um filme. “Como tudo começou bem antes da pandemia, não se tratava apenas de um negócio e sim de um sonho a ser realizado, levar cultura e diversão a população principalmente as mais carentes”, conta. O CineCar é um projeto de cinema itinerante que viaja por todo o Brasil e chega

Melissa Carnaúba

a ter em média 1,2 mil pessoas por sessão. A estudante de cinema Giovanna Guedes Arruda, 18, tinha vontade de vivenciar essa experiência. “A maior vantagem é o fato de você estar lá isolado com quem você foi para assistir. No cinema tradicional a gente acaba ficando junto com outras pessoas que a gente não conhece”, conta. Para os cinéfilos de plantão, as escolhas dos filmes são de acordo com a época e o horário. “Na primeira sessão sempre procuramos colocar filmes infantis pelo fato de o público ser mais família, em época de Halloween colocamos filmes de terror”, conta Falero. Cada cinema tem suas próprias regras e a maioria trabalha com serviços de alimentação. No CineCar, por exemplo, deve-se acender a lanterna do veículo para que o pedido seja entregue no carro por funcionários do estabelecimento. Já o banheiro é controlado pelos colaboradores. Porém, agora com a pandemia, o uso de máscara é obrigatório. COMO FUNCIONA O CINEMA DRIVE-IN • • • • •

Evento de cultura pop ganha novo formato

Garanta seu ingresso pela internet; Desligue os faróis antes de entrar; Sincronize o rádio do seu carro; Ligue o pisca alerta em caso de emergência; Permaneça dentro do carro.

Em função da pandemia do novo coronavírus, a Comic Con Experience (CCXP), que estava agendada para o São Paulo Expo em 2020, ganhará um novo formato. A sétima edição do evento no Brasil, programada para 4, 5 e 6 de dezembro, será pela primeira vez totalmente on-line e gratuita. Com isso, a expectativa é alcançar um público maior do que nos anos anteriores. Os organizadores da CCXP viram que realizar o evento em formato digital era uma alternativa para contornar essa realidade. “Ao longo dos meses de isolamento, o evento vem discutindo seu formato para este ano, além de acompanhar de perto os pedidos do público nas redes sociais. Por entender que o evento traz visitantes de todo o Brasil, e que seria imprudente reunir um número tão grande de pessoas diante da situação atual, a CCXP anuncia sua primeira edição 100% virtual”, diz a organização em seu site. ADAPTAÇÃO Em 2019, a CCXP bateu recordes e reuniu 280 mil pessoas, ao longo dos seus quatro dias, movimentando R$ 265 milhões da economia da cidade de São Paulo. Foi uma das maiores edições da Comic Con no mundo. O evento existe desde 1970 e foi iniciado na cidade de San Diego, na Califórnia (Estados Unidos), com o propósito de reunir fãs de quadrinhos e outros estilos de artes populares que mereciam um reconhecimento mais amplo, incluindo filmes, literatura de ficção científica e fantasia.

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Em seu formato para 2020, o evento poderá se tornar mais acessível ao público, principalmente aos fãs que não puderam comparecer nas edições anteriores por conta dos custos de ingresso, transporte e hospedagem. A situação pode, inclusive, ser benéfica mesmo após a pandemia. “Com esse formato online, em que existe uma modalidade gratuita para que todos possam estar inseridos no evento, o impacto sociocultural vai ser gigante”, conta Rodrigo Fontanella, conhecido como Fonta, organizador de campeonatos do jogo Rainbow Six. “Muitas pessoas que nunca sonharam em ir a uma CCXP podem esse ano saber como é, e com isso gerar um interesse cultural que pode ir aumentando graças a essa gratuidade. Manter esse formato, mesmo quando a pandemia acabar, seria muito interessante.” OUTROS EVENTOS A adaptação para o digital já foi adotada em várias outras iniciativas. É o caso da Virada Cultural, da Bienal do Livro, da Brasil Game Show e da Campus Party, que fizeram adaptações para que o evento ainda acontecesse no ano de 2020, mas sendo 100% de forma online, por meio de lives em suas plataformas digitais. Em outubro, o governo começou a relaxar algumas regras para eventos e festivais, como é o caso do estado de SP – que autoriza a volta de grandes eventos e demais atividades que geram aglomeração após 28 dias do estado na fase 4 (verde) do Plano São Paulo.

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ESPORTE E LAZER

Bares e restaurantes reconquistam clientes Gabriela Carvalho e Maria Luísa Garcia

Bares, restaurantes e lanchonetes são o principal atrativo dos paulistas no final do expediente ou no fim de semana para se reunir, conversar com os amigos ou comemorar. A pandemia da Covid-19 declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, exigiu adaptação do setor para lidar com a crise sanitária e garantir receitas. Nas fases 1 e 2 do plano de reabertura gradual, a cidade de São Paulo só teve abertos os setores considerados essenciais em funcionamento. Estabelecimentos do setor de alimentação e de bebidas tiveram que se reinventar para manter o negócio, principalmente os de pequeno porte – que não conseguem pagar o alu-

guel sem o movimento local de cada dia. Os estabelecimentos do setor buscam alternativas para manter o negócio. De acordo com a pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os serviços rápidos e de entrega representaram 48% dos serviços oferecidos pelo segmento de alimentação fora do lar: “como benefício posso apontar o delivery, que antes da pandemia não estava ativo em nosso negócio e hoje representa uma boa parte do nosso faturamento”, comenta Fabiana Cristina Gonçalves, proprietária do The Huracán, bar e restaurante mexicano em Ribeirão Pires. “O ponto negativo é que o horário reduzido deixa a gente com poucas opções de inovar, visto que nos-

so movimento sempre foi maior pós-21h e há quatro meses temos que encerrar às 22h”, diz Fabiana ,sobre a redução do horário de funcionamento. A adesão ao delivery de maio/junho chegou a um percentual de 60%, mas, com a volta das atividades presenciais do setor, esse número caiu para 34% entre julho/agosto. Outro fator que atrapalhou o setor foi o aumento em preços de alguns produtos alimentícios, como a proprietária da lanchonete Castelo Novo Mundo, Adriana Cunha Silva, conta. “Na rotina de trabalho tivemos que reduzir o quadro de funcionários e conscientizá-los quanto ao uso de máscaras, luvas e a questão do álcool em gel. Então foi uma adaptação que a gente precisou fazer muito bruscamente”, disse. Em contrapartida, Adriana

explica que o que tem ajudado a manter sua lanchonete aberta foi o fato de algumas empresas do bairro encomendarem marmitas. Com a nova fase, de reabertura gradual, é necessário que os estabelecimentos sigam as diretrizes do protocolo de segurança estabelecidos pelo poder público. Já é possível observar muitos bares lotados em São Paulo, e, em teoria, eles seguem as diretrizes impostas pelo Estado. A proprietária do The Huracán pontuou que o restaurante é privilegiado por ter um espaço amplo e área externa, mas percebe muitos colegas que enfrentam alguns desafios para conseguir seguir o protocolo de distanciamento. A lanchonete North Shore, de Lourdes Freitas, localizada na praia de Itamambuca em Ubatuba há 25 anos, também foi favorecida por

Gabriela Carvalho

Com a pandemia, estabelecimentos tiveram de se reinventar para continuar existindo

um enorme quintal arborizado facilitando a volta presencial. A proprietária conta que teve que mantê-lo fechado por três meses, porém a lanchonete não se adaptou ao delivery. Para ela, o presencial é mais produtivo. “Um cliente ligou da praia do Itaguá pedindo um pedaço de bolo, então não valia a pena a entrega de um bolo de oito reais, tendo que andar 40 km.” Mesmo com os protoco-

los de segurança, a clientela do estado ainda não retornou completamente, ainda há insegurança e protocolos que delimitam o número de pessoas permitidas dentro desses locais, tudo para evitar a propagação do vírus. No restaurante da Fabiana, há apenas 40% do movimento que havia antes da pandemia: “muitos ainda não se sentem seguros para ir a um restaurante”.

Diferentemente da Europa, que teve a volta dos torcedores no momento em que os números de casos da Covid-19 estavam em baixa, o Brasil discute questões como a volta do público em um momento ainda delicado. Membro da torcida organizada do Corinthians, Fabrício Sanchez, de 21 anos, não acredita que a hora seja adequada.. “Sou contra, porque o interesse dos clubes na volta é totalmente financeiro

e se os jogadores que são testados frequentemente e têm um protocolo a seguir, estão pegando vírus, imagina os torcedores.” Apesar de a maioria dos clubes desejar a volta, muitos torcedores se mostraram contra esse desejo mostrando desconfiança. “Futebol é algo que mexe com o emocional, a pessoa iria suar, se abraçar na hora de um gol, tirar a máscara para comer e beber”, relatou Fabrício Sanchez.

FUTEBOL

Retorno de torcidas a estádios divide opiniões Thiago Henrique de Arruda

Volta do público no campeonato é precipitada

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Como parte do processo de reabertura de serviços não essenciais no País, a flexibilização de atividades esportivas já está em planejamento. Mesmo com 151 jogadores da série A diagnosticados com a Covid-19 e surtos localizados em alguns estados e campeonatos, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e outras entidades pressionam por um retorno.


ABERTURA

SP retoma funcionamento dos parques Mesmo com reabertura, cuidados ainda são obrigatórios; prefeito Bruno Covas diz que ainda não é o momento de se incentivar qualquer tipo de aglomeração

Copa Paulista reúne times com regulamento mantido Pixabay

Caio de Luca

COMPETIÇÃO

Vitor Ribeiro

Parques podem funcionar durante 8 horas com até 40% de ocupação, seguindo protocolos recomendados Isabelle Zanardi

O decreto nº 56.905 já autorizava, desde o dia 13 de julho, o retorno aos parques com horário reduzido e 40% da capacidade de segunda a sexta. Uma nova medida de flexibilização, de 24 de agosto, permite funcionamento no horário anterior à pandemia. A Secretaria de Infraestrutura e do Meio Ambiente estabeleceu diversas regras para que a liberação pudesse acontecer: limpeza dos banheiros com maior frequência, disponibilidade de álcool gel em totens, uso obrigatório de máscara, sinalização

para orientar visitantes, bebedouros apenas com copos ou garrafas individuais, distanciamento social de 1,5 metro entre as pessoas e a proibição de atividades físicas em equipe e espaços fechados (bibliotecas, museus, academias etc.). A abertura aos finais de semana demorou mais tempo. Somente ao final de outubro uma decisão foi publicada sobre o assunto. As regras estaduais estipulam necessidade de se priorizar ar livre, funcionando com horário controlado, com até 40% de ocupação, seguindo os protocolos recomendados e com venda de ingressos exclusivamente pela internet.

A medida teve apoio do secretário de Turismo de São Paulo, Vinícius Lummertz, que relembrou a importância do turismo para a geração de 50 mil empregos em

2019, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A pandemia da Covid-19 resultou em déficit de 138 mil empregos até julho.

A Copa Paulista de 2020 começou em 4 de novembro e seguirá até 20 de dezembro. A competição, que reúne clubes de menor expressão do estado de São Paulo, também conta com a participação de três queridinhos dos paulistanos. Portuguesa, Juventus e Nacional figuram entre os participantes, assim como em 2019. O torneio também conta com times do interior paulista e oferece aos dois primeiros colocados uma vaga para a Copa do Brasil e uma outra para a série D do Campeonato Brasileiro. Além das datas de início e término, a Federação Paulista de Futebol (FPF) decidiu em um conselho técnico, no dia 13 de outubro, todos os participantes e o regulamento, mantendo o formato que

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abre com a fase de grupos e passa pelos tradicionais mata-mata, até a grande decisão. Segundo Adalberto Ribeiro, administrador de empresas e ex-sócio da Portuguesa, a Copa Paulista é um torneio criado para manter o calendário dos clubes menores. “Ela não possui um objetivo real, como os campeonatos de elite, onde o campeão tem benefícios financeiros, aqui eles jogam para manter as ‘portas abertas’”, analisa. Uma vaga na série D do Campeonato Brasileiro ou uma vaga para a primeira fase da Copa do Brasil não simbolizam grandes feitos, em sua visão. “Para mim, a forma mais fácil de esses clubes se juntarem à elite do futebol nacional é o campeonato estadual."

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INFOGRĂ FICO Mariana Trigueiro

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