Expressão - Ed.1 - 2021

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USJT

maio 2021

ESPECIAL - Págs. 6 a 11

ano 28

edição 1


CAR@ LEIT@R

Seguimos há mais tempo - muito mais! - do que deveríamos imersos em uma pandemia que ceifou mais de 430 mil vidas no Brasil até este mês de maio. Sabemos, e não precisamos nos alongar nisso, que a tragédia humana se agrava de acordo com a forma como é encarada pelo poder público. E, no intenso debate que nos mobiliza desde março de 2020 no país, um ponto é indiscutível: viva o Sistema Único de Saúde (SUS)! Não costuma ser caro ao jornalismo assumir bandeiras e lutas sem problematizá-las. Há, porém, consenso, e dele nos valemos, de que nosso maior orgulho em situações-limite como a pandemia da

#INSTANTÂNEO

Covid-19 é a força do capital humano e intelectual que compõe nossa governança pública de acesso à saúde, universal, inclusiva e pró-ciência desde sua concepção. O Expressão que abre este difícil ano de 2021 pretende ser de esperança. Trazemos em nosso Especial histórias que, mesmo com contornos difíceis, evidenciam a importância do SUS para a sociedade e confirmam que defendê-lo é uma causa de todos nós. Para vencermos a pandemia, o pensamento retrógrado e o risco de perda de conquistas históricas. Sigamos, neste ano, ativos, críticos e sempre juntos. Os Editores

O Brasil tem fome de comida e de vacina. Catador buscando recicláveis na caçamba com lambe-lambe escrito “Vacina no braço, comida no prato”, na região da República, centro de São Paulo

#FICA A DICA

Reflexões sobre ideais, tribunais e o sistema Isabela Tiritan

Jornal universitário do curso de Jornalismo maio 2021 • ano 28 • edição 1 Chanceler Dr. Ozires Silva

Redação Alun@s de Jornalismo da Universidade São Judas

Reitora Mônica Orcioli

Impressão Folha Gráfica

Coords. dos cursos de Comunicação e Artes José Augusto Lobato - Mooca Juca Rodrigues - Butantã Vasco Caldeira - Paulista

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Supervisores de projeto e edição executiva Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 Prof. Moacir Assunção MTB 21.984 Prof.ª Patricia Paixão MTB 30.961 Supervisora de projeto e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084

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maio 2021

Bruna Ferrari

“Isso é um julgamento político.” Essa afirmação, feita por Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), nos fornece o viés de “Os Sete de Chicago”, filme de Aaron Sorkin disponível na Netflix. A produção é baseada em um dos julgamentos mais controvertidos e polêmicos da história do dos Estados Unidos. A narrativa parte de um acontecimento ocorrido em 1968, quando grupos opositores à Guerra do Vietnã fizeram um protesto em Chicago, onde acontecia a Convenção Nacional Democrata. As coisas saíram do controle e o que era para ser um evento

pacífico transformou-se em tumulto e mais um episódio de truculência policial norte-americana. O governo então acusou oito homens, líderes de movimentos sociais, de conspiração. O filme usa a guerra do Vietnã como pano de fundo para contar uma história maior sobre opressão, racismo e política. Apresenta uma narrativa forte que traz luz a temas ainda frágeis para a nossa sociedade: o direito à manifestação e a construção da revolução. Indicado ao Oscar de Melhor Filme, "Os 7 de Chicago" está disponível no Netflix. Forte e atual. Assista o quanto antes!

Reprodução

Os 7 de Chicago Diretor: Aaron Sorkin País: Bélgica Gênero: drama Lançamento: 2020 Onde assistir: Netflix Duração: 2h9m


PROTAGONISTA

Marcello Gabbay lança livro que analisa a música estranha brasileira Lais Garcia Rocha

Pesquisa do professor explora traços da sonoridade não hegemônica do país

Isabella Ventura e Stefany Armani

Marcello Gabbay, professor e músico, está lançando o seu segundo livro em maio de 2021. Intitulada "Música Estranha: novos rumos da canção no Brasil a partir do brega e do grotesco popular", a obra traz uma análise da música brasileira feita ao longo de dez anos. Quando questionado sobre o maior desafio que enfrentou durante a produção, Marcello confirma que juntar todos os textos e colocá-los em formato de livro foi o mais difícil, já que cada texto tem uma data diferente e era preciso costurá-los em um todo. Assim como ele, a editora Paka-Tatu é paraense, o que o deixa ainda mais feliz em publicar. Gabbay revela que o fundador da editora é um ex-professor de História e colega de longa data; assim que surgiu a oportunidade, o editor-chefe o contatou para negociarem a publicação do livro. AFINAL, POR QUE MÚSICA ESTRANHA?

Segundo o professor, a indústria musical nacional tem um padrão com o qual estamos acostumados, como o funk da cantora e compositora Anitta. Ele denomina como “música fora do radar” ou “música estranha” toda e qualquer produção musical que não esteja dentro dos padrões da indústria, e ainda afirma que o que é novo e diferente causa estranheza e pode, inclusive, se associar ao feio. Em uma análise feita por Gabbay, o padrão molda até mesmo os artistas. Temos

fortes também podem ser consideradas estranhas. O padrão, também vale dizer, não é saudosista." Alguns dos exemplos citados pelo músico são o Legião Urbana, com "Faroeste Caboclo", estranhíssima para a época, porém conquistou o público de maneira surpreendente. Outro caso está em Felipe Cordeiro, com o seu álbum "Kitsch Pop Cult", que intitula um dos capítulos do livro. Assim como vários artistas de “música estranha” contribuíram para a construção da obra, um em específico foi o rosto dela: o pintor holandês Hieronumus Bosch. Parte do quadro Jardim das Delícias Terrenas está na capa do livro. Gabbay conta que, na sua passagem por Paris, encontrou à venda um dos inúmeros personagens retratados da obra e não pensou duas vezes antes de comprar o artefato. O CAMPO E A CIDADE

"Música Estranha" é o segundo livro de Marcello Gabbay, músico e professor da área de Comunicação e Artes da São Judas como exemplo Pablo Vittar, cantora drag queen, que no início de sua carreira tinha um falsete desafinado, mas que mesmo assim encantava o público. Aquilo, por um certo período, foi considerado estranho pelo professor. Hoje, Pablo canta no padrão da indústria. Segundo o músico, “quem determina o estranho é a indústria”, mas que em algumas situações, ela o engloba. Em outro ponto ele afirma que esse tipo de música

não é colocado no radar pelos poderosos algoritmos das plataformas mais acessadas, como o Spotify. Marcello explica que música "feia" é aquela que contém palavreados chulos e de baixo calão, não aceitos pelos ouvintes que estão somente habituados com o padrão industrial que molda até mesmo o funk, também conhecido por suas letras eventualmente obscenas. "Músicas com muita batida e graves

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O músico faz parte de uma banda, O Campo e a Cidade, e revela que durante a pandemia conseguiu escrever um álbum inteirinho, tudo em lo-fi, quando as técnicas de gravações usadas são sem fidelidade, ou seja, com o recurso disponível naquele momento. “Música Estranha” é o segundo livro que escreve sobre música música - e o pesquisador já tem planos para obras futuras. "Estou muito animado com esse lançamento. Esse segundo livro é mais leve e tende a ser mais agradável para os leitores."

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EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS

Buscas por máscaras PFF2 aumentam no Brasil

Google Trends revela picos nas buscas pelo termo nos últimos 90 dias Um ano após a chegada da pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2) no Brasil, o termo “PFF2”, um tipo de máscara utilizada na prevenção do contágio da Covid-19, cresceu consideravelmente nas buscas do Google no país. Isso aconteceu porque usuários das redes sociais passaram a discutir sobre a alta proteção que esse modelo oferece e muitos já substituíram as máscaras de pano por PFF2. A sigla PFF2 significa Peça Facial Filtrante e é um EPI (Equipamento de Proteção Individual), que cobre o nariz e a boca e se ajusta ao rosto, retendo gotículas e aerossóis, protegendo os

usuários de vírus, bactérias e fungos. Pode-se encontrá-la também com o nome de N95. “Esses modelos são os indicados para os profissionais de saúde, mas também para uso da população em geral que precisa sair de casa para trabalhar e se expõe a áreas de alta contaminação, como transportes públicos e ambientes fechados”, explica a odontóloga e doutora em saúde Clarissa Oliveira. No início da pandemia, quando ainda não havia muitas informações sobre a Covid-19, as máscaras de tecido eram uma opção de prevenção de contágio. Elas não deixaram de ser eficientes, mas mesmo a máscara de pano reforçada com três camadas (reco-

mendada pela Organização Mundial da Saúde), deixa o ar vazar por cima e nas laterais. Portanto, atualmente os modelos de tecido são mais recomendados em ambientes abertos, arejados, com poucas pessoas e distanciamento social. Marissol Freitas, auxiliar de classe em uma escola de educação infantil, já substituiu as máscaras de pano pela PFF2. “Eu decidi comprar esse tipo de máscara porque eu me sinto mais segura. Como uso transporte público todos os dias para ir trabalhar, entro em contato com muitas pessoas, e em ambiente fechado. Quando uso essa máscara, sinto que estou protegendo a

mim e as pessoas ao meu redor”, conta. Apesar da PFF2 oferecer maior proteção em relação às máscaras de pano, nenhum modelo é 100% eficaz. O ideal é ficar em casa, mas se precisar sair, use máscara, álcool em gel e evite levar as mãos aos olhos, boca e nariz. “O uso de máscaras também deve ser feito dentro de casa, caso haja uma pessoa sintomática e outra não, pois isso irá diminuir a chance de que pessoas da mesma residência se contaminem”, acrescenta Frank Gregory, médico formado pela Faculdade de Medicina de Jundiaí que trabalha na linha de frente contra a Covid-19.

Saiba mais sobre a máscara PFF2/N95

Arte: Pedro Francisco

Nathália Nunes

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Encontrada em lojas de materiais de construção, farmácias e sites na internet. Custa entre R$ 3 e R$ 15. Apesar de ser descartável, nesse momento de pandemia pode ser reutilizada. Para isso, após utilizar a máscara deixe-a, descansando em ambiente seco e arejado entre 3 a 7 dias para que o vírus seja inativado. Não se deve lavá-la e nem limpá-la com álcool, pois isso pode danificar o meio filtrante da máscara.

PROFISSÕES PROMISSORAS

Yasmin Lima

Avanços tecnológicos permitem melhorias em todas as áreas

Profissões ligadas a tecnologia, saúde e marketing digital estão em expansão

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Paula Scateno A procura por qualificação nas áreas tecnológicas vem aumentando cada vez mais. As profissões que tendem a ter aumento de profissionais qualificados são das áreas da saúde, marketing digital, logística e gestão de produção e área de consultoria financeira e digital, avalia a professora Alessandra Freitas, da Universidade São Judas (USJT), especialista em profissões e carreiras. Para o futuro da economia e o equilíbrio dela, podemos considerar es-

sencial a qualificação de profissionais nos setores de ciências e tecnologia. “As três áreas de maior destaque no período da pandemia foram a de tecnologia da informação, saúde física e mental e marketing digital. As três já estavam em expansão por serem alternativas para um mercado de trabalho, no entanto, a pandemia aumentou exponencialmente as duas práticas” diz Alessandra Freitas. A demanda por profissionais nas áreas de TI aumentou e as empresas se revolucionaram e tiveram

que se adaptar ao ambiente digital, disputando profissionais qualificados nas áreas tecnológicas. “A crescente demanda pelos profissionais de tecnologia se deu pela própria natureza do trabalho, e por se tratar de uma área que possibilita a viabilização de outras áreas em um novo modelo de trabalho que passa a existir desde então”, afirma a professora Leia Assis, coordenadora da área de TI, da USJT. Na área da tecnologia as vagas aumentaram 1,2% na pandemia – o setor abre 70 mil posições por

ano. “Durante a pandemia o consumo de conteúdo nas mídias sociais disparou. Profissionais de diversos setores, entre eles o administrativo e a área de comunicação, aproveitaram a oportunidade para fazer a transição para cargos com foco em mídia sociais, que é uma carreira que caminha lado a lado com a produção de conteúdo e a área de tecnologia”, analisa a professora Leia. Houve um aumento de 74% de contratações neste segmento em 2020, segundo o LinkedIN.


KIT PERIGO

Kit Covid: os riscos do tratamento precoce Yasmin Lima

Desde o início da pandemia, diversas pesquisas têm sido feitas para encontrar medicamentos que pudessem ajudar pacientes com Covid-19, alguns se tornaram conhecidos e foram chamados de “Kit Covid”, entre os principais itens do “Kit” se destacam a ivermectina, hidroxicloroquina e azitromicina. A pneumologista Tathiane Nottoli, que trabalha no Hospital Santa Catarina, afirma que esses medicamentos podem piorar o quadro dos pacientes. “Já existem diversos casos descritos de hepatite por uso de ivermectina, sendo que até o momento não existem trabalhos robustos que demonstrem alguma utilidade na infecção por Covid-19”. Uma parceria entre os Hospitais Albert Einstein,

Yasmin Lima

Medicamentos sem eficácia comprovada podem causar problemas aos pacientes com coronavírus

Vendas de hidroxocloroquina, azitromicina e ivermectina tiveram um aumento alarmante comparado ao ano passado HCor, Sírio Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa e a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), junto com o Ministério da Saúde, iniciou pesquisas para avaliar a eficácia e segurança de medicamentos para pacientes com Covid-19. Essa aliança, chamada de “Coalizão Covid Brasil”, fez uma pesquisa

denominada “Coalizão I” do uso da hidroxicloroquina associada ou não à azitromicina em pacientes adultos hospitalizados com formas leves a moderadas de Covid-19. De acordo com os estudos, o uso de hidroxicloroquina e azitromicina não mostrou efeito favorável na evolução clínica de pacientes, mas houve efeitos adversos como al-

terações em exames de eletrocardiograma e alteração de exames que podem representar lesão hepática. De acordo com Tathiane, a indicação desse kit tem cunho político. “Tais medicamentos, provavelmente, ainda têm o uso estimulado por pressão política. Mas acredito que nenhum tratamento de qualquer doença deva ser pautado por razões políticas e sim por evidências cientificas”, afirma. Além desses estudos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz na qual pede que a hidroxicloroquina não seja usada como tratamento do Covid-19, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o fabricante da ivermectina já alertaram que o medicamento não é eficaz contra o coronavírus.

SOB CONTROLE

Com a ajuda da população, Austrália começa a voltar à normalidade Isabela Reis O Departamento de Saúde australiano, até a primeira quinzena de abril, registrou a estimativa de 29.500 infecções e 910 mortes por Covid-19 desde o começo da pandemia. O lockdown foi estabelecido em março de 2020,

e apenas serviços essenciais podiam funcionar. Além de testes gratuitos, um aplicativo para rastrear e isolar casos de coronavírus foi criado. Em junho, as restrições começaram a afrouxar. Daniel Kina, 31, mora em Sydney, na Austrália, há mais de 3 anos. Segundo

ele, a população teve um papel importante para o controle da doença no país. “Nunca presenciei ninguém sem máscara no transporte público, por exemplo. O pessoal leva a sério e respeita o governo.” A vacina não é prioridade porque o vírus está sob controle. Pouco mais de

1.5 milhões de pessoas foram vacinadas, cerca de 5% da população. Mesmo com fronteiras ainda fechadas, a Austrália já vive em um estado maior de normalidade. “Shows, estádios, baladas e bares com capacidade máxima funcionam normalmente”, declara Daniel.

SEM RECURSOS

Professores da rede pública enfrentam desafios no ensino a distância Isabela Tiritan

Mesmo após um ano do início da pandemia, as dificuldades enfrentadas pelos professores e alunos no ensino on-line permanecem. Segundo pesquisa realizada pela TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), as escolas públicas ficam atrás quando o critério é criar uma plataforma on-line de aprendizagem. Até o final do ano passado, 64% das instituições particulares mantinham um ambiente virtual que permitisse atividades de ensino a distância, enquanto nas instituições públicas, essa ferramenta era encontrada em apenas 14% delas. WHATSAPP SE TORNA A PRINCIPAL FERRAMENTA

Como forma de prestar um suporte para os alunos e suas famílias, o número de telefone pessoal dos professores foi divulgado em um grupo no Whatsapp, sendo enviadas pelo App as tarefas e orientações. Para realização das atividades, a Secretaria de Educação envia apostilas para que os estudantes retirem na escola, com um tema de projeto estabelecido por bimestre. “Não tivemos nenhum recurso, não tivemos tablet ou computador, nada. Tudo que usamos para aula são itens pessoais nossos", conta Mônica da Silva, professora de Artes na EMEF José Manoel Ayres Dr, localizada no município de Osasco, zona Oeste de São Paulo.

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A professora afirma que, no início, o único suporte oferecido aos professores foi um curso de “Ensino Híbrido”. Foi somente nesse ano que a Secretária da Educação ofereceu mais módulos educacionais para os professores, com foco na utilização das ferramentas on-line, como: Google ClassRoom e ClassApp. Além disso, foram disponibilizados e-mails institucionais, que atualmente estão em fase de testes. O MAIOR DESAFIO

“Muitos pais trabalham e não possuem notebook ou computador em casa, então, a maioria não consegue deixar o celular com o filho, que acaba não conseguindo assistir às aulas", afirma Marisa Amaral, diretora da EMEF. Devido a essa carência, aumenta a dificuldade dos alunos em realizar as tarefas e acaba ficando para os pais a responsabilidade de interpretar o que é pedido na atividade. Por se tratar de uma escola na periferia, para as famílias inseridas ali, não conseguir assistir aula não é o maior dos problemas. “Muitas vezes eu recebo mães, avós e responsáveis que não têm comida, estão com dificuldades com relação a drogas e moradia. Como vou cobrar algo sobre aula online?”, conta a diretora. É perceptível o afastamento das crianças que estão nessas condições. A escola tenta ser o mais cuidadosa e inclusiva nesses casos, mas nem sempre é o suficiente.

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ESPECIAL • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

SUS, a nossa maior conquista

Talita Altruda, Paloma Baccarin e Stefany Lima

O Serviço Único de Saúde (SUS) teve como modelo os sistemas de saúde dos países da Europa, por exemplo, o inglês NHS (National Health System), tão respeitado que foi homenageado na Olimpíada de 2012, em Londres. Hoje, o sistema brasileiro atende em média 200 milhões de contribuintes, o equivalente a 80% da população, principalmente os mais pobres, e realiza por ano cerca de 2,8 bilhões de atendimentos, desde procedimentos ambulatoriais simples a pronto-atendimento de alta complexidade, como transplantes de órgãos. No entanto, para que fosse possível um país do tamanho do Brasil ter um sistema universal de saúde, de acordo com o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Jairnilson Paim muitos obstáculos foram vencidos: “Para dispor de um sistema de saúde que contemplasse todos os cidadãos de uma nação era preciso que tenha-se chegado à conclusão de que saúde não é apenas responsabilidade individual, mas uma obrigação do Estado”. Paim é autor do livro O que é o SUS, lançado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O QUE É O SUS?

O professor informa que, desde os anos 1970, o Brasil vem lutando por um sistema universal. “Existe uma realidade an-

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tes de 1988 e depois dessa data até os dias atuais, com diversas etapas entre avanços e recuos nesse período.” Em 1988, foi promulgada a Constituição e criado no país o Sistema Único de Saúde (SUS). Ele oferece a todo cidadão brasileiro, ou mesmo estrangeiro de passagem pelo Brasil, acesso integral, universal e gratuito a serviços de saúde. O SUS ainda é muito criticado pela falta de recursos, mas mesmo assim é considerado um dos maiores e mais completos sistemas de saúde públicos do mundo; comparável ao NHS, e maior que os sistemas residual e meritocrático. O primeiro, cujo atendimento à saúde está sob responsabilidade do mercado, ocorre em países como os Estados Unidos, e o segundo é um serviço que garante apenas aqueles que contribuem com a Previdência Social e está presente na Alemanha e França. Por mais que 180 milhões de pessoas sejam atendidas pelo SUS diretamente, todos os cidadãos têm seus direitos garantidos por ele, já que a Vigilância Sanitária, campanhas de vacinação e e até mesmo o registro de medicamentos são acompanhados por órgãos regulamentados pelo SUS. OS SISTEMAS DE SAÚDE PELO MUNDO

No mundo há três grandes modelos de sistemas de saúde. O primeiro é dirigido pelo mercado, onde

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Matheus (@poesianasestrelas)

A saúde constitui um direito social básico para a cidadania da população brasileira. Um país só pode ser denominado desenvolvido se seus cidadãos forem saudáveis

o setor privado é prevalente. Ou seja, só quem paga tem acesso. Um exemplo é o aplicado nos Estados Unidos. Em 2008, 46,3 milhões de americanos não tinham acesso à saúde. Lá, uma internação em leito de UTI por três dias pode custar US$ 30 mil, o equivalente a mais de R$150 mil. O ex-presidente Barack Obama tentou criar um modelo mais justo, o Obamacare, que foi extinto pelo seguinte, o republicano Donald Trump. Um segundo modelo é o europeu, que não é exatamente um sistema de saúde, mas um modelo previdenciário. É um sistema meritocrático, ou seja, apenas aqueles que têm um emprego formal são atendidos. Já o terceiro modelo está diretamente ligado à ci-

dadania no qual todos os cidadãos gozam do direito de usufruir de um sistema de saúde. Um exemplo dessa modalidade é o NHS, instaurado em 1948. É um sistema parecido com o SUS no Brasil. O que viabiliza o seu acesso é o recolhimento de impostos pela sociedade. Todos os herdeiros do trono inglês nasceram em hospitais públicos e usam seus serviços. O primeiro-ministro Boris Johnson foi vacinado contra a Covid-19 em um hospital do sistema. No Brasil, ao contrário, o SUS é visto como uma espécie de: “plano de saúde dos pobres”. O QUE EXISTIA NO BRASIL ANTES DO SUS?

Paim vê o momento atual do SUS como um avanço. “De 1923 até 1988, o

Brasil tinha apenas chamadas caixas previdenciárias às quais só tinham acesso aqueles que possuíam carteira registrada.” Neste período havia dois outros polos, o dos mais pobres que eram atendidos por meios filantrópicos, seja pela benfeitoria das santas casas de misericórdia ou órgãos beneficentes da sociedade. E os muito ricos que pagavam diretamente pelos serviços particulares. Até que em 1988, foram unificados os serviços públicos em nível federal, estadual e municipal, integrando o SUS. O setor privado seria então complementar ao SUS, oferecendo serviços suplementares como os planos de saúde. De acordo com a historiadora especializada em saúde, Mariana Dolci, a saúde pública no Brasil começou com o fim da escravidão e a chegada dos imigrantes europeus. A chegada de Getúlio Vargas ao poder, na década de 1940, com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) na década seguinte, determinou alguns benefícios de saúde à classe trabalhadora. O resultado disso a longo prazo é que, em 30 anos, o país colocou a saúde como direito de todos. Essa política ampliou a cobertura para 210 milhões de brasileiros. Entre os anos de 1990 e 2009, a mortalidade infantil caiu de 57, 7 para cada mil nascidos vivos para 21,17. No caso da distribuição de medicamentos genéricos cresceu de nenhum

na mesma época para 3.870 regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2017 Nas ações de maior complexidade, entre 2008 e 2011, foram realizados 11 mil transplantes, 215 mil cirurgias cardíacas, 9 milhões de procedimentos de quimio e radioterapia e 11,3 milhões de internações. O que a covid-19 pode ensinar sobre a importância de sistemas de saúde? A coordenadora de pesquisas da vacina Coronavac no Instituto Butantan, Magna Magalhães, afirma que o Brasil tem tradição na área de vacinas, um dos braços do SUS. “Por mais que o País não tenha participação na criação da vacina contra a Covid-19, é uma referência mundial na criação e desenvolvimento de outras vacinas, como a da dengue que está em sua última fase de testes e a do HIV.” Uma delas, a Butanvac, será uma vacina nacional contra a Covid-19. Mariana defende que o SUS tem sido o grande anteparo da população nesse momento. “A Covid -19 veio para mostrar o que é o SUS, porque o Brasil é um país que possui um sistema que é premiado internacionalmente, mas quem vive aqui não reconhece isso. Hoje, vivemos um momento que não importa se você tem um sistema de saúde privado, porque se precisar de internação não há vagas! Mas, quem está segurando essa barra é o SUS, quem está vacinando é o SUS”.


ESPECIAL • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Vidas salvas pelo SUS

Acervo pessoal

Acervo pessoal

As histórias de Luciana Araújo, Ana Carolina Luz e Paula Ferreira

Luciana Araújo

Bruna Ferrari e Isabela Reis

Uma estimativa feita em 2018 pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) previu a ocorrência de 59 mil novos casos de câncer de mama no Brasil naquele ano e em 2019. Luciana Araújo, 45, fez parte dessa estatística. Ela foi diagnosticada no início de 2019, depois de ter sido encaminhada para uma biópsia no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo. Havia participado da campanha Outubro Rosa no ano anterior. “Quando descobri a doença, fiquei muito desesperada", conta. O tratamento não foi fácil. Além de realizar sessões de quimioterapia e radioterapia a cada 21 dias, Luciana teve complicações, como mal-estares (comuns durante os pro-

cedimentos) e até mesmo um derrame pleural. Todo esse processo aconteceu com assistência do Sistema Único de Saúde (SUS). "Sem o SUS, seria impossível. O tratamento de câncer é muito caro. Mesmo se eu tentasse, não iria conseguir recursos suficientes", diz. Um estudo feito pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), em 2016, mostrou que o custo por paciente com câncer de mama no estágio 3 é, em média, de R$ 65.125. Luciana já está recuperada, e continua passando por exames de acompanhamento. Ela considera a gratuidade do SUS como fundamental para a sua saúde, mas acha que há pontos que precisam ser melhorados. "Falta organização e fiscalização. Também precisamos de mais hospitais, porque a demanda e a fila são gran-

Ana Carolina Luz

des. Sei o quanto é difícil. Ficar aguardando é um terror, principalmente porque sabemos que a doença não espera." Para Ana Carolina Luz, 32, a rapidez com que foi atendida no SUS fez a diferença. No início de 2018, ela visitou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Florianópolis (SC), após sentir dores intensas no estômago. Imaginou um possível caso de gastrite ou até mesmo algo relacionado ao estresse, mas logo descobriu que os sintomas haviam surgido devido a um tumor que crescia no ovário. Temerosa sobre o diagnóstico recebido, marcou uma consulta particular e logo foi encaminhada para um cirurgião ginecologista, que explicou explicitamente como seria a cirurgia e que Ana precisava conseguir o valor de R$ 12.000 em poucos dias,

pois, devido à agressividade do tumor, ela não tinha muito tempo de vida. “Ele não teve empatia nenhuma comigo e só queria saber de onde eu tiraria o dinheiro", relata. Sem saber o que fazer, sua família recorreu ao SUS e, em menos de uma semana, ela já havia realizado o procedimento cirúrgico. De acordo com o médico, Ana teve um tumor raro, que crescia com uma rapidez que a levaria a óbito em menos de três ou quatro dias. Além da cirurgia, passou por 18 sessões de quimioterapia e diversos exames de acompanhamento, que realiza até hoje através do Sistema Único de Saúde. “Sou a prova viva de que o SUS tem defeitos, tem seus problemas, mas salva e segue salvando. Sem o SUS, eu não teria tempo. Na hora da dificuldade a gente vende um carro, vende uma

casa, dá um jeito, mas eu tinha apenas dias de vida.” O SUS também oferta tratamento para doenças extremamente raras, que demandam diversidade de profissionais, exames e medicações que podem ser bastante custosas. No caso de Paula Ferreira, 28 anos, em uma das diversas consultas particulares que passou ao sentir dores na garganta, costas e alguns outros sintomas, ela ouviu que o que sentia era psicológico e foi mandada de volta para casa, sem ao menos ser examinada. Paula começou a ter sintomas mais severos e agressivos. Ao voltar ao hospital, foi internada de imediato por estar com um caso grave de infecção. Mas nenhum dos profissionais conseguia identificar o que ela tinha, até que um dos médicos avisou sua mãe que estava dando alta e que ela deveria pro-

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curar um especialista em cabeça e pescoço o quanto antes. Assim, conheceram outro profissional que atuava no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, no Rio de Janeiro, onde ela foi internada. No local, Paula foi examinada por médicos de diferentes especialidades. Em três dias, após passar por biópsia, pulsão e outros exames, foi diagnosticada com Síndrome de Lemierre, infecção orofaríngea rara, associada à septicemia e trombose jugular interna. A essa altura, Paula já não andava mais e a infecção estava necrosando seu músculo. Através do SUS, ela passou por cirurgias e ficou um mês internada no hospital, onde recebeu todo o tratamento necessário, incluindo auxílio psicológico e fisioterapia. Com o tratamento pôde voltar a andar e levar uma vida normal.

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ESPECIAL • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Fotos: Flávia Machado

Após quatro anos da PEC dos gastos, país sofre com pandemia

A falta dos investimentos tem afetado o atendimento do SUS durante o momento mais grave e caótico da área da saúde

Paula Prata e Gabriela Nolasco

Há mais de um ano, desde março de 2020, o Brasil vive um colapso no sistema de saúde público após a pandemia da Covid-19. Até o momento, mais de 350 mil pessoas morreram vítimas do novo coronavírus, muitas por não terem o suporte do atendimento hospitalar. A falta de UTIs, respiradores, materiais básicos e, principalmente, vacina, marcam o desastre sanitário que tem causado mais de 3 mil mortes diárias no País.

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Neste momento crucial é inevitável não pensar no que poderia ser feito caso tivéssemos mais dinheiro na área da saúde. Aprovada pelo Congresso em dezembro de 2016, a Proposta da Emenda Constitucional 241 - PEC 55 no Senado - deixou o setor com cerca de R$ 20 bilhões a menos durante os 4 anos após a aprovação. O valor corresponde a sete vezes mais que o orçamento do programa “Mais Médicos”, que atendeu 63 milhões de brasileiros. A emenda foi aprovada no governo do então pre-

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sidente Michel Temer (MDB). Conhecida como PEC do Teto de Gastos, tem como objetivo congelar investimentos nos setores da saúde, educação, assistência social e Previdência Social pelos próximos 20 anos, ou seja, até 2036 não haverá aumento no valor da verba disponibilizada a nenhum destes setores. AGRAVAMENTO

Para o economista Rubens Almeida, a PEC do Teto de Gastos impossibilita a melhora da saúde. “O

PEC do Teto de Gastos congela investimentos na saúde, educação, assistência social e Previdência Social pelos próximos 20 anos

governo tem a obrigatoriedade até de investir um pouco mais do que a inflação. Para você conseguir investir um pouco mais em saúde e educação, você vai ter que tirar de outras áreas como segurança pública e infraestrutura.” Em 2020, em razão da pandemia do coronavírus, o Teto podia ser descumprido, mas a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021, aprovada em dezembro de 2020, retomou a regra do teto de gastos e estipulou em R$ 134 bilhões o orçamento do Ministério

da Saúde, cerca de R$ 30 bilhões a menos do que foi gasto no ano anterior. Casos como os da falta de oxigênio, em Manaus, em janeiro, que levou à morte de 30 pacientes e do kit intubação para pacientes da Covid-19 em praticamente todo o País, para os especialistas, estão ligados à falta de recursos na área. Flavia Machado, chefe da UTI do Hospital São Paulo, explica que a falta de vagas acaba gerando preocupação nos profissionais da saúde por não

conseguirem atender a todos. “ Isso causa nos profissionais o estresse de saber que não estamos atendendo a todos que precisam”. Outro problema é a falta do kit intubação para sedar pacientes intubados. O infectologista do Hospital Universitário, Gerson Salvador, conta que a alternativa é sedar os pacientes amarrados, para não retirarem o seu próprio tubo. “A gente vai ver pessoas morrendo em meio ao mais intenso sofrimento. Isso equivale a tortura".


ESPECIAL • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O maior sistema público de transplantes do mundo

FAZ BEM SABER

SUS é responsável por 96% dos transplantes realizados no país Acervo pessoal

Luiz Antônio Zanelato e sua família: "Nada a reclamar do SUS"

dos transplantados. Hoje a entidade conta com 2.253 associados. MUDANDO VIDAS

Lucas Bertuzzi Berzin e Yuri Fagundes Yonezawa

O relatório apresentado pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH) no último semestre de 2019 aponta que o SUS foi responsável por financiar 96% dos transplantes realizados em território nacional. Esse dado faz com que o Brasil seja colocado como o país que mais transplanta no mundo, em números absolutos, perdendo somente para os Estados Unidos. Há de se ressaltar que, por meio do Sistema Nacional de Transplante do SUS, os pacientes inscritos para a cirurgia recebem suporte integral e gratuito, antes, durante e após a realização do procedimento. De acordo com o Ministério da Saúde, temos o maior sistema público de transplantes do mundo. Dentre os órgãos mais procurados para transplante de órgãos no Brasil

estão rim, fígado, coração, pulmão, pâncreas e córnea, sendo o primeiro (o rim) o mais disputado, com quase 30.000 pessoas na fila de espera. Além dos citados, existem órgãos que talvez as pessoas nem imaginam que possam ser transplantados. “Só para se ter uma ideia, há três anos uma mulher deu à luz para um bebê através de um útero transplantado. PARCERIAS

Outro caso que também está sendo cada vez mais estudado e aprimorado é o transplante de intestino, que historicamente é um procedimento de alta mortalidade, mas que, de um tempo para cá, está cada dia mais perto da nossa realidade”, esclarece Fábio Cabral Freitas, cirurgião vascular atuante há 10 anos na área de transplantes de órgãos. Para que um procedimento cirúrgico complexo como um transplante possa ser re-

alizado com êxito é necessário que exista uma ótima estrutura física e profissionais extremamente competentes. Esses pré-requisitos são garantidos pelo SUS, por intermédio de parcerias com os principais hospitais do país. “O transplante de órgãos é um procedimento médico muito delicado. Por isso, só pode ser realizado em centros de referência, credenciados pelo Sistema Nacional de Transplante, pois neles contamos com todas as condições necessárias e excelentes profissionais”, ressalta o médico e presidente da ABTx (Associação Brasileira de Transplantados), Edson Arakaki. Gastroenterologista, Arakaki também é transplantado. Ele recebeu um rim doado pela irmã em 2001. Fundou a ABTx em 2017 com objetivo de integrar pessoas transplantadas por intermédio da atividade física e para lutar pelos direitos

O Sistema Nacional de Transplante do SUS é capaz de mudar a vida não só de uma pessoa, mas de toda uma família. A professora de ensino fundamental Maria Zanelato, 49, é um exemplo vivo disso. Ela teve seu marido salvo pelo SUS em abril de 2016, com menos de 15 dias de espera na fila pelo transplante. Na ocasião, Luiz Antônio Zanelato (seu companheiro) trocou a válvula aórtica no Hospital Beneficência Portuguesa, localizado na região central de São Paulo. “Não tenho absolutamente nada para reclamar do SUS, muito pelo contrário. Até porque o valor da cirurgia para salvar meu marido era astronômico, chegando perto da casa dos 100 mil reais. Em pouco mais de 10 dias aguardando na fila, recebemos a notícia de uma eventual doação e a cirurgia que precisávamos, para prosseguir nossa vida, foi feita.” Luiz acabou falecendo posteriormente. Mas graças ao transplante feito no SUS pôde passar mais um ano ao lado de sua mulher e filho. Ele morreu em 2017, mas, sem a cirurgia, certamente teria falecido bem antes, pelo que os médicos apontavam.

10 curiosidades sobre o SUS Você conhece o Sistema Único de Saúde (SUS)? Apesar das dificuldades estruturais da saúde pública do Brasil e da falta de incentivo do governo, é importante aprofundarmos nossos conhecimentos sobre o assunto. Desta forma, separamos 10 curiosidades que provavelmente você não sabia sobre o SUS.

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O SUS é o maior sistema de saúde pública do mundo - O sistema único de saúde do Brasil é o único sistema público do mundo que atende mais de 200 milhões de pessoas.

Você usa o SUS o tempo todo – O SUS é responsável por todas as ações da Vigilância Sanitária, bem como o controle da qualidade da água potável que chega à sua casa, a fiscalização de alimentos nos supermercados, lanchonetes e restaurantes que você utiliza diariamente e o controle de espaços públicos (aeroportos e rodoviárias).

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Distribuição de medicamentos gratuitos - O Programa Farmácia Popular tem o objetivo de oferecer à população acesso aos medicamentos. São oferecidos medicamentos gratuitos para hipertensão (pressão alta), diabetes, asma, Aids, Alzheimer, entre outros.

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Vacinação para todos - O Brasil é um dos países que oferecem o maior número de vacinas em sua rede pública. São mais de 300 milhões de doses disponibilizadas todos os anos para doenças como, HPV, Hepatite A e B, Varicela, entre outras.

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Terapias alternativas gratuitas - O SUS disponibiliza atualmente, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, tratamentos que utilizam recursos terapêuticos e são baseados em conhecimentos tradicionais: yoga, homeopatia, medicina tradicional chinesa, musicoterapia, entre outros.

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Banco de leite materno - O Brasil possui a maior e mais complexa rede de bancos de leite do mundo e é administrada pelo SUS. Existem no país, 221 Bancos de Leite Humano e 186 postos de coleta. Mudança de sexo - Desde 2008, o SUS oferece cirurgias e procedimentos ambulatoriais para pacientes que desejam fazer a redesignação sexual, ou seja, a mudança de sexo. São oferecidas cirurgias plásticas e de redesignação sexual e terapia hormonal.

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Inclusão de plantas medicinais para tratamentos - O cultivo, a coleta, o processamento, o armazenamento destas plantas, bem como, a manipulação e a distribuição dos medicamentos são de responsabilidade do Farmácia Viva, pertencente ao SUS. São disponibilizadas plantas como, Aroeira, Garra-do-diabo, Babosa, Salgueiro, entre outras.

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Transplantes - O SUS oferece assistência integral ao paciente transplantado, desde os exames preparatórios até os medicamentos pós-transplantes que acompanham o paciente pela vida toda. Parto humanizado – O SUS tem parcerias com casas de parto que oferecem todo suporte para gestantes que desejam realizar um parto humanizado e natural, através de um atendimento humanitário, respeitoso e empático.

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ESPECIAL • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

21 anos de atenção à saúde indígena

Criado em 1999, SasiSUS oferece atendimento especializado aos povos originários Por Heloisa Aguiar

Sônia Barbosa de Souza (Ara Mirim, em guarani), 56 anos, liderança da aldeia Tekoa Ytu, localizada na Estrada Turística do Jaraguá, em São Paulo, é uma das beneficiadas pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi). Componente do Sistema Único de Saúde (SUS), o Sasi atua em terras indígenas a partir de critérios geográficos, demográficos e culturais. Para Sônia, o atendimento do Sasi sempre foi satisfatório e, sem essa assistência diferenciada dentro dos territórios aldeados, a situação dos povos originários estaria muito pior. “O posto de saúde fica dentro das comunidades orientando e prestando socorro à população em casos de emergências. Não precisamos sair das

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nossas terras para buscar atendimento ou remédios. Os profissionais de saúde acompanham de perto as aldeias e contribuem para a prevenção de doenças ", destaca Sonia. A socióloga Patricia Rodrigues da Silva, 36 anos, mais conhecida como Pagu, explica que o SasiSUS é a concretização de uma demanda antiga dos povos originários. “Os indígenas não eram atendidos adequadamente dentro da estrutura geral do SUS. Surgiu, então, a necessidade de considerar as particularidades de cada etnia, com o objetivo de proporcionar um atendimento mais humanizado. O programa quebrou várias barreiras e facilitou o acesso à saúde”, esclarece. A luta por uma atenção especial aos povos originários está contemplada no texto consti-

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tucional de 1988, que substituiu a perspectiva da integração do índio à sociedade pelo respeito à especificidade cultural e social de cada povo. Em 1991, por pressão do movimento indígena em todo o país e atendendo as determinações da Constituição Cidadã, o Governo Federal transferiu a responsabilidade pela coordenação das ações de saúde indígena da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Saúde, através do decreto nº 23/91 da Presidência da República. O Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas foi instituído em 19 de setembro de 1999, por meio da Lei nº 9.836, conhecida como Lei Arouca. Ele é composto por 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIS) que se configuram em unidades gestoras descentra-

Xuxão/ Divulgação

SESAI/ Divulgação

SESAI/ Divulgação

lizadas, implantadas nas terras indígenas e divididas estrategicamente por critérios territoriais. Seguindo os princípios do SUS, esse subsistema considera a participação das etnias como uma premissa fundamental para o melhor controle e planejamento dos serviços. ATENÇÃO BÁSICA

De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), o Ministério da Saúde conta hoje com 14,2 mil profissionais que prestam serviços de atenção básica em terras indígenas, sendo quase 47% deles nativos. Entre janeiro e dezembro de 2020, os profissionais de saúde realizaram 12 milhões de atendimentos em todo o Brasil. Mesmo antes da Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar emergên-

Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi) faz parte do SUS e atua em terras indígenas a partir de critérios geográficos, demográficos e culturais cia de saúde pública de importância internacional por surto do coronavírus, a Secretaria Especial produziu uma série de documentos técnicos para que os povos originários, gestores e colaboradores pudessem adotar medidas que ajudassem a prevenir a infecção pelo novo vírus. “A Sesai vem, ao longo de toda a pandemia, desenvolvendo estratégias de proteção, prevenção, diagnóstico e tratamento da Covid-19, além de intensificar a rede logística e o suprimento de insumos e equipamentos de proteção individual (EPI),

estabelecendo fluxos de atendimento nas aldeias”, declara a Secretaria, em nota oficial. O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), salienta que o SUS é financiado por impostos públicos e o Estado tem a obrigação de ofertar atendimento de qualidade para toda população brasileira, inclusive aos povos indígenas: “O Sistema Único de Saúde é a única alternativa que eles têm para ter acesso à assistência médica”.


ESPECIAL • SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O elo entre o SUS e as comunidades Fotos de Francine Maia

Profissionais da ESF atendem em residências de diferentes lugares do país

Enfermeira Edna com membros da ESF andando pelo morro do Socó para atender a comunidade

Francine Maia

Nas ladeiras do Morro do Socó, no Portal D’Oeste, um dos bairros mais carentes de Osasco, município da Região Metropolitana de São Paulo, alguns pares de pés caminham ao encontro de pacientes que, na maioria dos casos, não podem buscar atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Essa é uma rotina comum para as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), que percorrem comunidades de diversos cantos do Brasil atuando, principalmente, na prevenção de doenças. Formadas por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde, as equipes colocam em prática diariamente a universalidade, integralidade e equidade, principais dire-

trizes do Sistema Nacional de Saúde (SUS). Ao trocar as salas das unidades de saúde pelas residências dos pacientes, os multiprofissionais da ESF constroem um vínculo entre o serviço de saúde pública e a população. “Pela política nacional da Atenção Básica, a ESF é prioritária porque forma um vínculo com a família. Um exemplo desse elo são os agentes de saúde que moram nos bairros em que fazem atendimento. Eles olham receitas, medicações, veem a última consulta médica e, se precisar, agendam uma nova. Se é algo mais grave, a equipe completa da ESF vai até a residência”, explica a enfermeira Edna da Silva que atua em uma das equipes da ESF de Osasco, na UBS Portal D’Oeste.

Para Edna, amor e empatia resumem a atuação da ESF. “Além de ter as habilidades técnicas, na Estratégia Saúde da Família você tem que amar pessoas, tratar com carinho e se colocar no lugar do outro.” O atendimento da ESF é muito importante para o tratamento da família de Valquíria Vieira, 45 anos. Diabética e com mobilidade reduzida, ela viu o marido passar por 15 cirurgias após ser atropelado. “Eu não teria como ir ao posto. A Fernanda [agente comunitária de saúde que a atende] é como alguém da família, ela entende minhas necessidades, tem paciência e me ajuda com os tratamentos.” O trabalho das equipes começa antes mesmo de irem a campo. O território é todo dividido em microáreas e os agentes comunitá-

rios de saúde (ACS) devem visitar e cadastrar todos os moradores, registrando membros da família e o quadro atual de saúde de cada um deles, além de observar condições de saneamento básico, nível educacional e renda familiar. O serviço está disponível para qualquer pessoa, mas a área deve contar com o atendimento da ESF. Osasco, por exemplo, possui uma população estimada em 699 mil habitantes, em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e conta atualmente com apenas 77 equipes da ESF em atividade, quantidade insuficiente para atender os territórios subdivididos. Se a pessoa residir em uma área atendida pela ESF e ainda não estiver cadastrada, pode procurar a UBS

mais próxima de sua residência, levando RG, CPF, comprovante de endereço e cartão do SUS, e, em até sete dias, o agente de saúde faz a visita em sua casa. “O agente comunitário tem como prioridade acompanhar em visitas sistemáticas crianças de 0 a 2 anos, gestantes e puérperas, pacientes com diagnósticos de hipertensão, diabetes tipo 2, pacientes com tuberculose e hanseníase em acompanhamento, ou seja, grupos prioritários de prevenção e promoção de saúde”, explica a coordenadora da Estratégia Saúde da Família, Cássia Arruda. Desde o início da pandemia da Covid-19, a rotina mudou, e, além das visitas domiciliares prioritárias e dos pacientes das microáreas, as equipes passaram a ser indispensáveis na

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orientação e procura de infectados nas comunidades, buscando pacientes com sintomas respiratórios e mapeando o território, vacinando pessoas acamadas de grupos prioritários e atendendo idosos que não receberam a imunização. Médico cubano especializado em Saúde da Família, Roberto Lopez Lavrada explica a essência do trabalho das equipes da ESF. “É um trabalho, sobretudo, humanista. É prevenção, é promoção de saúde, não somente ir e acompanhar quem já está doente. Neste período de pandemia, vemos ainda mais a importância pelas buscas ativas dos pacientes sintomáticos para que sejam atendidos com antecedência, evitando que se propague a doença e lote os hospitais.”

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VIDA DIGITAL

Mercado de jogos puxa audiência do streaming Vorax

No Brasil e no mundo, as lives se tornaram novas oportunidades de trabalhar com a internet

Bruna Ferrari

Os jogos online foram um dos principais responsáveis por distrair milhares de pessoas que ficaram em casa por conta da pandemia da Covid-19 no último ano. Muitos dos jogadores optam por compartilhar as partidas em transmissões ao vivo, ampliando o mundo do streaming e despertando o desejo de transformar esse entretenimento em trabalho. Bianca Similamore, 25, mais conhecida como Bianquinha, atua como streamer na plataforma

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Twitch há um ano e meio e diz que a quarentena foi uma grande aliada no crescimento do seu público. “Comecei com a intenção de conversar com a galera e fazer amizades, mas me deu mais retorno financeiro do que a veterinária, que era minha profissão, então comecei a focar só nas lives e em me profissionalizar nessa área", explica Bianca. Among Us, Counter-Strike e League Of Legends são nomes de jogos de alta repercussão no último ano. Alguns já conhecidos mundialmente ganharam ainda mais atenção, outros

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tiveram seu momento de fama. O conteúdo mais procurado na Twitch sem dúvidas são os jogos, mas a plataforma tem atraído atenção para outros temas pela facilidade de realização das lives. Bianca ressalta que no mundo do streaming há espaço para todos os públicos e que isso se tornou uma oportunidade para muitos trabalharem com o que amam. É importante, porém, saber manter o equilíbrio entre o mundo virtual e a rotina concreta. Gabriel Tavares, 22, psicólogo especializado em e-sports, diz que

Bianca veste a camiseta do time Vorax, no qual participa apresentando o quadro “Arquibancada”

é essencial equilibrar a dosagem do uso da tecnologia, e que a melhor forma de fazer isso é criando um cronograma, estabelecendo um limite de horas para se dedicar ao jogo. Quando estiver jogando, o ideal é buscar melhorar características pessoais. “Por que não unir o útil ao agradável? Enquanto joga, pratique a assertividade, empatia, entender o ponto de vista do outro ou aprender novas línguas. Os jogos possuem uma grande gama de aprendizados, basta saber usufruí-los da forma correta.”

NEGÓCIOS

Empreendedores apostam no ambiente digital Paula Scateno Em meio ao cenário da pandemia da Covid-19, muitas empresas estão se reinventando no cenário digital, além do surgimento de novos negócios que já se iniciam nesse espaço. Independente da proposta do negócio, seja para se consolidar no mercado ou ter uma renda extra, o Instagram tem sido a rede social preferida de empreendedores, por sua expansão e alcance no ambiente virtual. Para obter sucesso nesse processo, o marketing digital pode ser um bom aliado dos empreendedores. GROWTH MARKETING “Com tudo fechado, o marketing digital foi o braço direito de muitas pessoas para não quebrarem”, dizem os especialistas de comunicação Caio Vicente e Pedro Pagnardi, sócios-fundadores da Growth (@agrowthmarketing). O growth marketing [estudo científico para os processos de crescimento de empreendedores no ambiente digital] pode ser aplicado em diversas áreas. “Independente da ação, você sempre tem um cliente, e quando se fala de marketing sempre queremos alcançar alguém de qualquer forma, então é uma técnica que se aplica em qualquer negócio”, Pedro Pagnardi explica. Mayra Martins teve sua primeira experiência com e-commerce durante a pandemia. Fundou a loja online de semijoias Sou Izzi (@sou_izzi) para ter

uma renda extra, e investiu em pesquisa e cursos para aprender os processos necessários. “Queria mesmo ter a experiência de conhecer o ritmo do Instagram, como funcionavam as ferramentas e o que eu precisava fazer para atingir o público ideal”, diz ela. Traçando as estratégias necessárias e apostando no levantamento de dados, Mayra avalia seu perfil: “Levando em conta que sempre temos que ter a margem de erro, acredito que 80% dos meus seguidores são reais”. RESULTADOS RÁPIDOS A procura por ferramentas eficientes para obter dados e métricas a fim de alcançar objetivos cresceu. Em meio a tantos empreendedores nesse ambiente, é necessário ter um diferencial para o seu negócio. “O principal diferencial de quem aplica essas ferramentas é que os resultados são obtidos de forma mais rápida. O empreendedor amplia seus horizontes de uma forma assertiva, já que houve um estudo do mercado”, analisa Caio Vicente. COM MÉTRICAS Os dados e métricas têm sido essenciais na vida de quem está no ambiente digital, e é nessas técnicas aplicadas que empreendedores e microempreendedores têm apostado para alcançarem e atingirem seu público ideal dentro do seus nichos, obtendo bons resultados.


Arte: Debora Matos

MÍDIA

Jornais tradicionais buscam se reinventar Talita Altruda

O avanço das tecnologias digitais influencia cada vez mais o público a consumir conteúdo na internet, e isso não é diferente quando se trata das notícias. Periódicos tradicionais precisam se reinventar diariamente, na tentativa de manter a popularidade que consolidaram. Os veículos que não se adaptarem podem estar fadados ao fracasso. A imprensa já entendeu que o ideal não é produzir conteúdo da mesma forma como era feito há alguns poucos anos, uma vez que o público não interage da mesma forma. O consumo mudou, logo, a produção e a distribuição da notícia devem acompanhar essa mudança. O consultor de marketing digital da AL Consultoria Adriano Lincoln Oliveira sinaliza que há uma mudança mais ampla em andamento.

“Se pararmos para pensar, o que mudou significativamente foi a forma de nos comunicarmos, pois além do tráfego de pessoas na internet ser muito maior nos meios televisivos, revistas ou jornais, a informação na internet viaja muito mais rápido, fazendo com que as famosas fakes news façam parte dessa briga acirrada por atenção”. SEM FILTRO

Isso significa que cada vez mais o leitor é bombardeado com informações que não passaram por nenhum tipo de filtro, e muitas vezes não podem ser comprovadas. Portanto, uma das formas que os veículos tradicionais podem encontrar para se consolidar no meio digital é investir, ainda mais do que se fazia em publicações impressas, na apuração e comprovação das notícias e tentativas de combate às fake news.

Tais veículos não estão de todo ameaçados pela mídia digital, visto que muitas pessoas ainda consomem os jornais tradicionais, mas o novo cenário demanda essa reformulação da mídia tradicional. Na Pesquisa Brasileira de Mídia de 2016, última edição, os jornais ainda estão entre os veículos de maior prestígio e confiabilidade, apesar dos acessos mais frequentes à TV, ao rádio e à web. Já o mercado de revistas amarga uma reputação semelhante à da internet – ou seja, baixa. Na prática, porém, apenas 12% das pessoas dizem se informar mais sobre o que acontece por jornais, contra 89% das pessoas que citam a TV e 49% que mencionam a internet. Apenas 1% do público coloca as revistas nesse campo de prioridades. Um dado importante é que, somando-se a circulação impressa e digital,

FAZ BEM SABER

A transmissão da notícia: do jornal impresso ao digital

a circulação dos jornais brasileiros não sofreu mudança abrupta. Segundo pesquisa do Poder 360, um dezembro de 2018, os 10 jornais mais relevantes tinham 1.444.104 exemplares e, dois anos depois e em contexto de pandemia, a tiragem ficou 1,1% menor, com 1.428.073. MEIOS IMPRESSOS PERDEM ESPAÇO

A estrutura de divulgação e a própria presença dos veículos na mídia digital devem passar por mudanças estruturais nesta década. “A grande verdade é que entre a migração do jornalismo e plataformas impressas para digitais existiram sim prejuízos, pois alguns jornais, revistas e livros acabaram perdendo seus espaços, conquistando novos públicos por meio de assinaturas digitais e obtendo um maior faturamento por meio da publicidade”, alertou o consultor.

DESINFORMAÇÃO

Robôs na internet influenciam opinião pública Leonardo Dias A presença de robôs – ou “bots”, como também são conhecidos – na internet segue influenciando o curso dos debates culturais e políticos no Brasil e no mundo. Produzidos a partir de softwares feitos por programadores para exercer funções pré-determinadas e automatizadas, ganharam

escala com as redes sociais e hoje mobilizam exércitos com potencial de influenciar desde eleições até votações de reality shows. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas apontou que perfis automatizados movimentam debates no Twitter em situações de repercussão política brasileira desde as eleições de 2014. Produzindo opiniões artifi-

ciais e até mesmo distorcendo falas de figuras públicas, esses robôs interferem diretamente nos processos políticos e democráticos. Iniciativas de combate à desinformação para calar os discursos de bots se desenvolvem, porém, há muito tempo. O E-Farsas surgiu em 2002 com a ideia de “tentar usar a própria internet como

ferramenta para desmentir as notícias falsas que circulam nela”, conforme nos diz Gilmar Lopes, fundador do site. Ele revelou dificuldades com a falta de transparência dos portais públicos. Gilmar também chama atenção para os ataques orquestrados que ocorrem quando uma pessoa ou instituição desmente algo dito pelo governo.

Rapidamente, diversas fake news sobre elas são criadas, em uma tentativa clara de tirar o foco dos erros dos governantes. “Um programa é a palavra de alguém. É uma máquina capaz de atender o seu pedido com muita velocidade e quantidade. E o principal perigo é lidar com essa escala em que não sabemos bem qual é o

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impacto”, afirma o programador Israel Teixeira. Para ele, apesar das técnicas para reconhecer determinados tipos de perfis, ainda não há maneiras gerais de identificação dos robôs – somente um olhar atento e treinado dos internautas humanos a questões como volume de seguidores, postagens e padrão de comentários.

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CULTURA E ARTES

Tecnologia democratiza a produção musical Softwares de baixo custo facilitam o trabalho de músicos João Pedro Marinho

Ter um estúdio profissional com os equipamentos mais modernos à disposição é um privilégio para poucos. Marco Freitas é DJ, produtor musical e integrante do duo MadGuss ao lado do músico Gustavo Valadão. Ele produz música eletrônica desde 2015 – e é um exemplo de como a evolução dos softwares e plugins disponíveis online pode viabilizar uma produção musical de qualidade profissional por um custo mais acessível. “Hoje em dia, meu fluxo de trabalho é basicamente constituído de plugins. Os hardwares possuem uma qualidade inigualável, mas exigem um investimento muito alto”, diz

Marco ao ser questionado sobre o que usa em sua rotina de trabalho. Os hardwares são equipamentos físicos e instrumentos normalmente usados nos grandes estúdios, enquanto os plugins são programas que podem ser baixados e instalados para simular os sons dentro de um software para computador. “A praticidade dos plugins é um fator que pesa muito também. Eu posso levar meu laptop para qualquer lugar, com todos os meus instrumentos e efeitos dentro, tudo na minha mochila”, diz o produtor e DJ. Essas novas tecnologias, que tornam seu dia a dia mais fácil, são responsáveis por permitir que muitos jovens deem seus primeiros pas-

sos na produção musical, mesmo que tenham apenas um notebook ou um celular à disposição. Marco ilustra essa nova realidade ao comentar sobre jovens que surgem na cena da música eletrônica e se destacam desde cedo. “Todo dia aparece por aí produtor de 15 anos com um talento excepcional”. Para quem está começando nessa área, o conteúdo disponível em sites como o YouTube pode ser uma ferramenta muito útil. Julia Ara é uma dessas pessoas que compartilham seus conhecimentos com quem tem vontade de fazer música, mas não sabe por onde começar. Cantora e compositora, ela criou o canal com o intuito inicial de divulgar seus tra-

PARA NERDS E GEEKS

PerifaCon volta em edição on-line Gabriel Assis O último mês de março foi decisivo para vários realizadores culturais com a primeira edição 100% digital da PerifaCon, uma convenção de cultura pop, nerd e geek voltada especialmente para a população periférica da cidade de São Paulo. Intitulada de Brotando nas Redes, a edição foi transmitida pelo canal da PerifaCon no YouTube, em um misto de gravações e lives. O evento, que lotou a Fábrica de Cultura do Capão Redondo com mais de 7 mil pessoas em sua primeira edi-

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ção em 2019, carecia de uma segunda rodada. A pandemia da Covid-19 impediu que a convenção fosse presencial, o que forçou os criadores a se reinventar virtualmente. A PerifaCon se junta a outros eventos – como CCXP Worlds e DC Fandome – que tiveram edições virtuais durante a pandemia, seguindo a tendência das lives transmitidas ao vivo pela internet. “Desse tempo pra cá, o que a gente vem fazendo é colocando a PerifaCon dentro do mercado nerd e geek, falando para as marcas do entretenimento a importância de elas olharem para o público de periferia e gerarem con-

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teúdo para esse público”, diz Igor Nogueira, um dos criadores do PerifaCon, sobre a importância do evento nos últimos dois anos. A PerifaCon tem planos para retornar presencialmente na Cidade Tiradentes no próximo ano. Para assistir ao evento Brotando nas Redes, basta ler o QR CODE abaixo.

balhos autorais, mas percebeu a curiosidade das pessoas sobre o processo de gravação e mixagem de suas composições e passou a gravar vídeos explicando todo o processo. Ela dá dicas sobre equipamentos, aplicativos e técnicas de produção. A musicista destaca que é fundamental que os artistas e produtores iniciantes estudem e busquem dominar todo o processo de gravação com dedicação e persistência. “Não desista porque a sua pri-

Arte: Danielle Rodrigues

meira gravação não atingiu o resultado que desejava. Continue gravando

e com o tempo tudo ficará mais fácil e melhor”, incentiva Julia.

SLAM PAPO DE POETA

Grupo promove lives de conversa com artistas e poesia falada

Gabrielle Schmidt

Um encontro semanal com poetas do Nordeste, Norte e Sudeste do país para conversar sobre o poder da voz e o uso das palavras. Esta é a proposta do evento Slam Papo de Poeta, idealizado por Lio Soares, membro da banda Tuyo, e pela poeta Cynthia Kimani, campeã do Slam BR 2019. As lives dispostas no Instagram do grupo (@oituyo) foram organizadas em abril e maio, sempre às noites de segunda. O Slam Papo de Poeta surgiu na pandemia. Os integrantes pretendiam

conhecer poetas e slammers de diferentes cidades nas viagens pelo país. Patrocinado pela Petrobras Cultural e realizado com o compositor e produtor cultural Bernardo Bravo, Santa Produção e Tertúlia Produções, o encontro em forma virtual trouxe vantagens como a presença de Dona Jacira, que não participaria do projeto inicial por residir em São Paulo. “É uma conversa já com a tradução em Libras, com um tempo maior com cada convidado. Ganhamos mais tempo de conversa para acompanhar o

tema que elas [Lio e Kimani] vão trabalhar em cada live”, afirma. Segundo Kuma França, músico, professor de poesia e um dos convidados, os encontros do Slam Papo de Poeta mostram a importância de se aprender a ouvir a voz do outro para conhecer sua realidade. “Esse é um evento de ampliar vozes. (...) A gente tem sede de aprender, mas também tem sede de escutar e entrar em mundos que a gente acha que conhece, mas só vê a pontinha do iceberg. Então é a voz sendo validada por meio da escuta.”


CINEMA

Pessoas negras ainda lutam por espaço no Oscar

Oscar 2021 chama atenção pela diversidade

Arte: Danielle Rodrigues

Por Isabela Reis

Em 92 anos, apenas 44 profissionais foram agraciados com o troféu mais desejado do cinema Arte: Janaína Rodrigues

Paula Prata

A noite de 29 de fevereiro de 1940 entrou para a história do cinema. Nesta data, Hattie McDaniel subia ao palco da 12° edição do Oscar usando um vestido turquesa, com grandes gardênias brancas no cabelo, para receber seu prêmio de melhor atriz coadjuvante pelo papel no clássico ...E o Vento Levou. McDaniel se tornou a primeira mulher negra a ser reconhecida pela academia pelo seu trabalho. De lá para cá, passaram-se 81 anos. Neste período, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas premiou 44 pessoas negras. Deste número, somente 12 estão nas categorias principais. Considerando que o Oscar já distribuiu mais de 3.140 estatuetas, os dados não são animadores.

O público percebeu este gritante fato há poucos anos. O primeiro levante contra o racismo presente no Oscar foi em 2015. Neste ano, mesmo com possíveis indicados como Will Smith por Um Homem Entre Gigantes, Idris Elba por Beasts Of A Nation e Samuel L. Jackson por Os 8 Odiados, não houve sequer um representante negro na lista de indicação oficial. Internautas levantaram a hashtag #OscarSoWhite nas redes sociais e o movimento tomou força com o apoio do diretor Spike Lee. A falta de apoio do Oscar para esses profissionais afeta diretamente o mercado de entretenimento. Segundo uma pesquisa publicada pela Universidade do Sul da Califórnia, entre 2017 e 2019 houve um aumento de apenas 5,9% de prota-

gonistas negros em filmes e séries. O número que era de 13,9% subiu para 19,8%. O crítico de cinema Cesar Zamberlan explica os danos da falta de diversidade nos filmes. “Se não é do interesse comercial valorizar esses produtos e culturas, e se há uma prática política, social, cultural histórica e constante de silenciamento, esses filmes não serão premiados. Serão, como sempre foram, marginalizados, bem como seus criadores e o público que poderia ter interesse nesses produtos”, afirma. Este ano, o Oscar bateu o recorde de representatividade. Segundo Zamberlan, este é um passo importante para o futuro. “Será com certeza um fator decisivo, e esta atitude precisa ser ampliada para outros festivais e outras esferas. Em relação ao Oscar, já temos alguns indícios de mudança neste sentido. Tímidos ainda, porque a maioria dos votantes ainda é composta por homens, brancos, sexagenários e heterossexuais.”

A chinesa Chloé Zhao se tornou a primeira mulher não branca a levar o Oscar de Melhor Direção por Nomadland, que também venceu como Melhor Filme na edição 2021 do Oscar. Judas e o Messias Negro garantiu a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya e Melhor Canção Original pela música “Fight For You”, interpretada pela cantora H.E.R. A sul-coreana Youn Yuh-Jung ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante por Minari. Melhor Cabelo e Maquiagem ficou com A Voz Suprema do Blues, premiando mulheres negras pela primeira vez na categoria. As conquistas em diversidade da edição deste ano, marcada por adaptações por conta da pandemia e por um maior senso de coletividade, seguiram durante a noite de premiação. Dois Estranhos, sobre violência policial e racismo, ganhou por Melhor Curta Metragem. As principais categorias de atuação,

no entanto, ficaram com artistas brancos. Viola Davis e Chadwick Boseman (1976-2020), ambos de A Voz Suprema do Blues, perderam, respectivamente, para Frances McDormand, de Nomadland, e Anthony Hopkins, de Meu Pai. A partir de 2024, as produções interessadas em concorrer ao Oscar devem seguir alguns critérios – como ter ao menos 30% do elenco composto por comunidades pouco representadas, oferecer cargos de liderança para grupos minoritários, entre outros. O objetivo é aumentar a diversidade na indústria.

O crítico de cinema e professor universitário Celso Sabadin vê essa postura como tentativa de escapar das críticas. “Não consigo ver uma atitude consciente da Academia. O Oscar é uma ferramenta marqueteira. Se agora há uma atenção maior para as chamadas minorias, é porque não querem perder mercado”, declara. “Tudo o que foi feito até agora é importante, mas é pequeno. Há muito a ser trabalhado para que o cinema tenha consciência social de verdade”, finaliza Sabadin. Arte: Danielle Rodrigues

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ESPORTE E LAZER

Leitura promove escape de ansiedade na pandemia Stefany Lima

A importância do hábito da leitura em nosso cotidiano vem sendo estudada há anos, e muitas pesquisas já apontaram ligações entre o hábito de ler e uma série de benefícios ao cérebro humano. Ainda assim, muitos brasileiros não têm o costume de ler. Uma pesquisa feita pelo Instituto Pró-livro mostra que 83% dos entrevistados não têm a leitura como hábito. Para os estudiosos, existem três classificações de motivação para entender a leitura: ler para se informar, ler por prazer e

ler para estudar. Ana Karoline, estudante de pedagogia da Universidade Federal de São Paulo, tem o hábito de ler livros acadêmicos e de ficção. Sente diretamente os benefícios práticos e psicossociais. “Pelo meu curso, nós acabamos tendo uma carga de leitura muito grande. Ao ler, eu desenvolvi uma boa habilidade na escrita, aprendi a me articular melhor e adquiri uma boa oralidade.’’ Na pandemia, especialistas acenderam o sinal amarelo para a necessidade de começar a evitar diversos problemas psicoló-

gicos. Uma pesquisa feita pela fundação norte-americana Well Being Trust afirma que, com o desemprego em alta e o isolamento social, os casos de suicídio podem aumentar em países muito afetados pela pandemia, como Estados Unidos, Brasil, Índia e África do Sul. O psicólogo Lucas Forti Franzzini elenca alguns dos benefícios no campo do bem-estar mental. ‘’A leitura pode ser uma alternativa para amenizar o impacto do isolamento social em nossas vidas, além de ser um suporte para o autoconhecimento. Há

quem acredite que se trata de uma terapia contra o estresse’’, afirma. Forti diz ainda que a leitura não implica em comportamentos suicidas, porém, quando associada a outros transtornos emocionais instalados no indivíduo, e dependendo do que se lê, o fator “influência” pode agravar um quadro de depressão e contribuir para que uma tragédia se consume. “Diversos conteúdos podem colaborar para a promoção de boa saúde mental, como outros também podem ser prejudiciais ao indivíduo.”

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Hábito contribui com o desenvolvimento intelectual e ajuda a atravessar momentos de crise

NEGÓCIOS

Esporte inspira ações empreendedoras Pixabay

Thiago Arruda O Brasil bateu recorde de novos empreendedores em 2020. O país ficou à frente de potências como a China, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Durante a pandemia, muitos brasileiros viram a chance de se reinventar e perseguir o sonho de ter o próprio negócio – e alguns até recorreram ao esporte como inspiração temática. Um dos setores que vem ganhando força no mercado é a indústria de beleza. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) mostram

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que esse mercado cresceu em média 8,2% ao ano nos últimos 10 anos, movimentando anualmente cerca de R$ 100 bilhões. Barbeiro desde os 16 anos e agora dono de um estabelecimento, Rogério Costa contou com o esporte como inspiração para seu negócio. “O skate ajudou muito na minha vida, em como me comunicar, ver o mundo. Então, porque não misturar os dois estilos que fazem parte de quem eu sou?”, conta. Já no mundo da internet, o YouTube se tornou uma ferramenta muito utilizada para a divulgação de negócios, sendo usado ainda como plataforma de em-

preendedorismo digital, com canais que se sustentam por meio da criação de conteúdo. Por conta do alcance do site, diversos streamers usam o espaço para divulgar conteúdo. Apaixonado por basquete, o YouTuber Yuri Fonseca, de 27 anos, começou a produzir vídeos em seu canal na plataforma em meados de 2016, durante as finais da NBA, a liga de basquete norte-americana. Mas não parou por aí: em 2019, ele decidiu empreender e abriu sua loja virtual de artigos esportivos, a Basketball Lifestyle. “O grande sonho da minha vida é divulgar e massificar o basquete nos 4 cantos

do mundo e fazer com que muitas pessoas se apaixonem pelo esporte que eu amo”, diz o YouTuber. O mercado do e-commerce esportivo, no qual Fonseca embarcou, tem se tornado cada vez mais atraente, o que se refletiu em um aumento significativo no volume de vendas online, especialmente durante a pandemia. Muitas vezes, lojas online com foco em produtos esportivos oferecem preços mais baixos quando comparadas às lojas físicas. Apenas em 2020 foram abertos 16.786 comércios varejistas de artigos do vestuário e acessórios esportivos no Brasil, refletindo o crescimento do setor.


ATIVIDADE FÍSICA

Exercícios agem a favor da saúde mental

FUTEBOL

Clubes da série A2 encaram pandemia de mais desafios

Rotina de atividades ajuda no combate ao estresse, na prevenção de doenças e na luta contra a depressão A pandemia da Covid-19 e o isolamento social trouxeram à tona um antigo problema de saúde pública no país: o bem-estar psíquico. Na falta de opções de lazer externo nos períodos mais duros de quarentena e isolamento, ganha força o debate em torno das práticas benéficas para a saúde mental, com destaque para os exercícios físicos. O psicólogo Lucas Forti aponta que há razões fisiológicas para essa relação. “As atividades físicas colaboram para aliviar as tensões e o estresse (inibição de cortisol) e gerar aumento de energia e do prazer (liberação de endorfina, dopamina e serotonina). Ou seja, a atividade física causa alterações metabóli-

cas e melhora o funcionamento do cérebro.” Por outro lado, o sedentarismo pode afetar nossa cabeça. Com o conforto e as facilidades que o avanço tecnológico tem nos trazido, hábitos sedentários ganham força e podem ser um impulso para a depressão. "A atividade física é um método poderoso contra a depressão. Aliada a outras práticas, como a psicoterapia, pode tratar a depressão leve e moderada de maneira tão eficaz quanto o uso de medicações”, diz o psicólogo. Um estudo da OMS de 2018 mostra que 27% dos adultos de todo o mundo são sedentários. No Brasil, a porcentagem quase dobra: 47% dos adultos brasileiros são sedentários. A organização tem chamado isso de “Epide-

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mia do Sedentarismo”. O fenômeno tem preocupado cada vez mais profissionais e órgãos ligados à área da saúde, já que os riscos do sedentarismo são muitos – dos físicos aos psicológicos. O educador físico Michel Andrade menciona que o sedentarismo agrava a possibilidade do desenvolvimento de diversas doenças, inclusive dos acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Andrade também fala sobre o que pode ser feito para combate-lo. "Sugiro um plano de atividades complementares”, disse o professor. Além disso, ele recomenda recolocar adultos no ambiente escolar aos finais de semana ou em horário noturno para a realização de práticas educacionais e esportivas.

FAZ BEM SABER

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Evite áreas cobertas ou pouco ventiladas. Parques, praças e ruas sem muito movimento são ideais Não faça caminhadas, corridas ou exercícios aglomerando-se com outras pessoas de fora do convívio Mantenha a distância de 2 metros entre pessoas, melhor indicação de segurança de acordo com a Organização Mundial da Saúde Além da máscara que for usar, tenha uma de reserva para o caso de transpirar Apesar do incômodo gerado pelo suor, não toque na máscara ou no rosto. Se for necessário, tenha álcool em gel para higienizar as mãos antes e depois Se for fazer em casa, separe um ambiente ventilado, tranquilo e sem riscos de quedas e acidentes Alguns condomínios reabriram academias e áreas fitness. Se for usar, siga rigidamente as regras estabelecidas e higienize todos os equipamentos antes e depois do uso

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Como fazer exercícios na pandemia?

Divulgação Bárbaros

Gustavo Dervelan

João Pedro Costa Santos

A pandemia do novo coronavírus impactou o futebol em vários aspectos, especialmente na situação financeira dos clubes. Sem geração de renda com bilheteria e outros recursos que os ajudam a se manter em atividade, os que não integram a elite do futebol e disputam apenas o estadual, que dura no máximo três meses, vivem um aperto ainda longe de terminar. Em meio a esse cenário, Sergio Soares, ex-jogador e atualmente técnico do Clube Atlético Juventus, falou sobre as dificuldades encontradas por ele e sua comissão técnica ao chegar no clube no início do ano. Ele relata que o Juventus está em situação delicada, semelhante à de muitos clubes médios do futebol brasileiro durante a pandemia – embora tenha conseguido honrar seus compromissos. “Teve muitas dificuldades, mas o futebol consegue se tocar com todo o trabalho feito pelo Presidente [...] e com o patrocínio master [do Hospital São Cristóvão]”, comenta. Os problemas do clube, hoje, incluem a dificuldade para realizar novas contratações em um momento em que todos precisam segurar os investimentos. O técnico aborda ainda as dificuldades que clubes com orçamentos mais modestos enfrentam na hora de arcar com

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os custos dos procedimentos de segurança. “A gente sabe que isso também tem um custo, e é um custo alto para os clubes da Série A2. De repente haverá um remanejo da situação, como buscar uma alternativa para que não onere tanto os clubes, pois a maioria não consegue ter essa parte financeira de forma suficiente.” Outro fator que impactou as receitas dos clubes foram as paralisações das competições. O treinador estava na Associação Ferroviária de Esportes no momento da primeira pausa, logo no início da crise, e sentiu que ela resultou em um prejuízo técnico e financeiro muito grande para as instituições e os atletas. A nova interrupção das competições, porém, foi menos sentida pelo clube, segundo Soares, por ter sido mais curta e ter permitido aos atletas que treinassem. O papel das torcidas neste momento de arquibancadas vazias, segundo ele, é fundamental. “Eu acredito que a pandemia fez com que o torcedor se aproximasse ainda mais do clube”, alega. “No caso do Juventus, temos uma torcida da nossa região aqui da Mooca que é extremamente apaixonada e está ansiosa para poder ir ao estádio novamente.”

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INFOGRÁFICO

Covid-19 no futebol: contágio em SP em patamares similares aos da área da saúde Reportagem: Eduarda Silva • Arte: Débora Matos e Danielle Rodrigues

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