Expressão - 2021 - Edição especial Bairros

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USJT

junho 2021

ano 28

edição especial

AL I C E P S E OS R R I A B


CAR@ LEIT@R

CRÔNICA Pixabay

Favelado é sinônimo de resistência

No Expressão, sempre tivemos um olhar atento aos desafios e problemas das comunidades. Essa orientação tem destaque em nosso projeto editorial e se materializa nas vivências d@s repórteres da redação - que sempre trazem pautas antenadas aos anseios das regiões em que vivem. Neste semestre, optamos por dar um passo adicional à pegada extensionista do jornal com esta edição especial Bairros. Trata-se de um produto final do projeto de Extensão “Expressão - Jornalismo Crítico e Cidadão na Universidade”, protagonizado e aberto ao envolvimento de tod@s @s alun@s de nossa área.

Também acolhemos, em algumas páginas, uma série de reportagens de destaque da turma da Unidade Curricular Laboratório de Projetos Editoriais, da revista QBrada. Assim, valorizamos uma produção de estudantes que dialoga com o propósito do Expressão de praticar um jornalismo cidadão e de densidade investigativa. As matérias que apresentamos aqui estão divididas por bairros e regiões da Grande São Paulo e seus arredores. Navegue pelos textos e conheça as complexidades de uma grande metrópole pelas lentes de seus jovens habitantes, jornalistas em formação. Boa leitura! Os Editores

Jornal universitário do curso de Jornalismo junho 2021 • ano 28 • edição especial Chanceler Dr. Ozires Silva Reitora Mônica Orcioli Coords. dos cursos de Comunicação e Artes José Augusto Lobato - Mooca Juca Rodrigues - Butantã Vasco Caldeira - Paulista Supervisores de projeto e edição executiva Prof. José Augusto Lobato MTB 0070684 Prof. Moacir Assunção MTB 21.984 Prof.ª Patricia Paixão MTB 30.961

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Supervisora de projeto e direção de arte Prof.ª Ana Vasconcelos MTB 25.084 Redação Alun@s de Jornalismo da Universidade São Judas Impressão Folha Gráfica Converse com a gente jornalexpressao@usjt.br Instagram @jorn_expressao Facebook @expressaoUSJT

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Flávio de Barros. Domínio público, via Wikimedia Commons

Geovanna Lamar

O termo favelado se popularizou durante a Guerra de Canudos. Na foto, momentos derradeiros do movimento ocorrido no sertão baiano entre 1896 e 1897

Como moradora de uma comunidade da Zona Norte de São Paulo, sempre ouvi e reproduzi falas como “Isso é coisa de favelado, para com isso!”. O que acho mais engraçado, olhando para a forma como agia antes, é que eu não me via como favelada, porque eu não entendia o que era ser, não enxergava aquilo de forma que pudesse ser usada como fator de empoderamento de indivíduos. Como esse termo, sempre associado à sujeira, desorganização, falta de educação, desonestidade e burrice poderia me trazer sentimento de poder? Não era a representatividade que buscava. Quando entendi o que era, parei de usar favelado com uma conotação negativa. E o que é ser favelado? Segundo o Dicionário Online, favelado é o que ou aquele que habita em favela. Já a palavra favela, é derivada do nome po-

pular da planta Cnidoscolus quercifolius. Trata-se de um arbusto, repleto de espinhos e folhas brancas, encontrado em quase todos os estados do Nordeste e em São Paulo. O termo se popularizou durante a Guerra de Canudos, ocorrida no sertão baiano entre 1896 e 1897. As tropas enviadas para derrotar Canudos acampavam no “morro da Favela”, conhecido assim pela concentração da planta no local, que ficava em frente ao arraial de Antônio Conselheiro. Ao voltar para o Rio de Janeiro, as tropas construíram casas nos morros cariocas, e por saudosismo ou alguma semelhança, apelidaram também aquela região de “morro da Favela”. O termo se espalhou ainda mais com a veiculação de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, em 1902. O escritor cobriu o conflito como repórter do Estadão e, depois, lançou o livro.

E no início desse povoamento dos morros, no começo do século XX, morar na favela significava lugar de pobre, ser excluído. Com o passar dos anos a população favelada só cresceu. Hoje somos mais de 2 milhões de excluídos vivendo em situação subnormal na metrópole paulistana. O que espanta é que pessoas, mesmo de dentro da comunidade, ainda fazem o uso se referindo a pessoas sem educação, e é compreensível a reprodução desse discurso, uma vez que por anos tal pensamento foi construído para que os favelados se contentassem com o seu lugar na sociedade através dos olhos da elite. Hoje em dia é moda, é legal na internet se intitular favelado, mesmo morando em um condomínio fechado. Quer pagar de cria da favela com uma Juliet no rosto e uma

camisa de time e se acha favelado porque frequenta os bailes na comunidade, para você é só isso, né? Não tem que lidar com a parte ruim, ser seguido por seguranças nos estabelecimentos, sempre estar sob um olhar de desconfiança, ter sua capacidade intelectual posta em dúvida. Você conhece a discriminação? Para os nascidos e criados na comunidade, os verdadeiros favelados, é difícil até arrumar um emprego. O motivo não é desconhecido: o estigma sobre a população da favela permanece de forma escancarada. As pessoas fazem questão de não enxergar que a falta de educação e boa índole não dependem da condição econômica. Existem pessoas mal educadas dentro da favela, sim, e muitas outras fora dela. Sendo assim, numa sociedade que nos enxerga como escória, ser favelado é ser resistência!


PROTAGONISTA

“Eu sou apaixonado pelo meu pavilhão, eu sou Leandro de Itaquera” Fotos: acervo pessoal

Paulão da Leandro, diretor de alegoria da Leandro de Itaquera, fala sobre o começo, as conquistas e desafios de sua trajetória de mais de 30 anos de carnaval

“Não tem como negar a sua raiz, e a minha raiz é vermelha e branca”

Hellen Cerqueira

Nascido e criado na zona leste de São Paulo, na região de Ermelino Matarazzo, Paulo Roberto do Nascimento, 68 anos, mais conhecido como Paulão da Leandro, cresceu no meio de rodas de samba. Mas foi por meio de sua esposa que a paixão por escolas de samba começou. “Foi ela que me levou para os desfiles na Avenida Tiradentes” - lugar onde os desfiles oficiais das escolas de samba eram realizados de 1977 a 1991, antes da criação do sambódromo paulistano no Anhembi. Na época, Nascimento jogava futebol, e, apesar de ir aos desfiles com a companheira e morar próximo à quadra da Nenê de Vila Matilde, não gostava muito de escolas de samba. Em 1991, porém, o time de futebol no qual ele jogava, a Sociedade Amigos de Ermelino Matarazzo (SAEM), ganhou um campeonato local, e ele e seus colegas de equipe foram comemorar o título na quadra da Lean-

dro de Itaquera. No dia, Eliana de Lima - grande intérprete de samba-enredo conhecida em todo o país e uma das grandes representantes femininas do samba -, estava apresentando o show "Sofrência sem preconceito" na quadra. “Fui tão bem recebido que não saí mais”, relembrou. Hoje, com mais de 30 anos de carnaval dedicados à escola de samba Leandro de Itaquera - de onde vem o seu apelido Paulão da Leandro -, ele ocupa o cargo de diretor de alegoria. Antes disso foi diretor geral, diretor de harmonia (durante oito anos), componente, harmonia; enfim, como ele mesmo relata, já fez de tudo um pouco. E como um bom diretor, continua envolvido em todas as partes da escola. “Um sambista, um verdadeiro sambista, vai suar junto com todo mundo, correr junto, empurrar carro, colar peças de fantasia que estão soltas... ele vai fazer tudo”, enfatizou. Para Paulão, fazer carnaval é sempre um desafio; mas consi-

dera o desfile de 2013 o mais desafiador. À época, ele era diretor geral da escola, e sentiu o peso de apresentar na avenida um desfile digno do Grupo Especial - já que até o momento a Leandro de Itaquera estava no Grupo de Acesso. Além da pressão para conquistar uma melhor colocação, a escola enfrentou a perda de Ronald Elias Balvetti, o Xixa - um dos maiores compositores da escola -, que faleceu horas antes do desfile. Mesmo diante dessas adversidades, o desafio foi cumprido com excelência. Com o samba-enredo "O leão guerreiro mostra sua força! É a garra e a bravura do negro, no quilombo Leandro de Itaquera", a escola de samba foi vice-campeã e reconquistou sua vaga entre a elite do carnaval paulistano. O hall de vitórias no carnaval de Paulão, porém, não se resume a Leandro de Itaquera. Em 2014, participou da organização da agremiação Unidos do Morro, de Santos, no litoral paulista - que, pela

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primeira vez, foi campeã do desfile local. Ele também já atuou no carnaval da Tom Maior, Gaviões e Corações Unidos de São Roque. Mesmo tendo participado ativamente de outras escolas, Paulão afirma com orgulho: “Eu sou apaixonado pelo meu pavilhão, eu sou Leandro de Itaquera [...] Não tem como negar a sua raiz, e a minha raiz é vermelha e branca” (cores da bandeira da escola). Apesar da paixão e anos dedicados ao carnaval, a renda principal de Paulão não é proveniente dessa atividade. “Não sou profissional do carnaval, nunca vivi do carnaval. Eu sempre me dei ao carnaval. Te asseguro que a grande maioria faz o que eu faço”, relatou. Ao especular um cenário de retomada do carnaval pós-pandemia, Paulão almeja saúde aos componentes das escolas de samba e maior valorização da classe. “Espero que a gente retorne, com todos os irmãos, todos os componentes prontos para trabalhar, e que eles façam o espetáculo como sempre. E que os dirigentes e jurados passem a ver o carnaval como um todo, que comecem a respeitar um pouco mais o trabalho do carnaval feito na avenida”, ressaltou.

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ZONA LESTE ITAIM PAULISTA

Casa de Cultura é referência na periferia Espaço oferece programação diversificada e expressa a identidade do bairro Fotos: Lucas Costa Souza

Cacau Ras, coordenador da Casa de Cultura Itaim Paulista

Hall de entrada da Casa de Cultura Lucas Costa Souza

A primeira Casa de Cultura da cidade de São Paulo está localizada na periferia do extremo leste. A Casa de Cultura Itaim Paulista foi fundada em 21 de abril de 1985, pelo então Secretário Municipal da Cultura, Gianfrancesco Guarnieri. Perto de completar quatro décadas, o ambiente está longe de ser ultrapassado e conta com grandes mecanismos de acessibilidade que vão de piso podotátil, até braile nas extremidades dos corrimãos. Além de ser um espaço aberto e com acessibilidade PcD, o local possui grafites que expressam a identidade do bairro e quadros que representam os mais variados estilos artísticos. Sua agenda é tão vasta quanto as artes estampadas em suas paredes, o que inclui cursos

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e oficinas de muralismo, yoga e crochê, entre outros. "A gente tem que fazer cultura para o adolescente que ouve funk até para dona Maria, moradora do Kemel II. Aí você consegue fazer política pública", explica Cacau Ras, coordenador do Espaço Cultural. Cacau conta como foi convidado a coordenar a casa: "Nós estamos precisando de um gestor para o Itaim Paulista, na Casa de Cultura, e um dos nomes mais cotados é o seu". Ele informa que poderia ter recusado, assim receberia um salário maior em outras vagas, porém é uma pessoa muito "bairrista". "Você consegue morar no seu castelo, mas quando você sair, seu vizinho vai te roubar, porque está na pindaíba", disse. Dessa forma, Cacau explicou que é filho da Casa de Cultura, porém é filho

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de uma Casa que fechava aos domingos. "O povo da periferia consome cultura quando, velho? Domingo! Porque trabalha aos sábados". E completou: "A gente tinha uma casa fechada aos finais de semana, agora eu faço questão de oferecer alguma atividade”. Os projetos envolvem toda a comunidade. Antes presencialmente, agora tomam o cenário online em virtude da pandemia da Covid-19. Cada oficina é ministrada por artistas experientes, como o DJ Paul, conhecido por inúmeros trabalhos em grupos como Rap RPW, parcerias com a banda Pavilhão 9, além de ter participado de eventos importantes como o Rock in Rio III. Paul é um artista engajado nos projetos da Casa, residiu no Itaim Paulista durante 7 anos e dá ofici-

nas de Produção Musical e DJ, além de ter participado de momentos especiais como o lançamento do livro "Itaim Paulista". Neste dia, Paul tocou ao lado do grupo Autênticos MCs, primeiro grupo de rap do bairro, "Eu nunca tinha tocado assim", relembra o DJ sobre o dia do lançamento do livro em que se apresentou para adolescentes, professores e crianças. O ambiente externo também é palco. Cacau Ras comenta os momentos antes da pandemia em que, autorizado, fechava a rua para eventos como a "Viradinha Cultural", uma espécie de Virada Cultural voltada para o público infantil. Ocorria também outros eventos envolvendo artistas, por exemplo, a banda de Reggae Mato Seco. Nesta ocasião, o público era tanto que a multidão virava as

esquinas. Todos os eventos são abertos para a população e gratuitos. Cacau destacou a importância em fomentar a cultura e relembrou o episódio que estava junto ao músico Criolo na gravação do filme "Profissão MC". O músico confessou que estava pensando em parar de cantar por não ter atingido um alto número de vendas nos seus últimos CDs. “Alguns meses depois da gravação do filme, Criolo estava na Europa”, relatou o coordenador, ao reforçar a importância do incentivo. Para Cacau, muitos artistas têm potencial, porém falta auxílio na parte burocrática, e ele utiliza a Casa como meio de promover esse auxílio. "Vocês precisam ter ‘Comprovação Artística Pedagógica’", falou ao relembrar das oficinas. A Casa também fomen-

ta o comércio da região, como explica Valdemar Neto, ou "Val da Tapioca", ao dizer que o número de clientes diminuiu devido à Casa estar fechada pela Covid-19. Recentemente, o prédio divide espaço com a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, e conta com o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR). O Conselho presta serviços de assistência social, psicológica e terapia. Quando questionado sobre a articulação com a subprefeitura, o coordenador respondeu que, na prática, não existe. A administração da casa encabeça os projetos e as divulgações de forma independente. Onde fica: Casa de Cultura Itaim Paulista R. Monte Camberela, 490 - Vila Silva Teles, São Paulo


VILA MATILDE

Falta de manutenção nas ruas atrapalha o tráfego

VILA FORMOSA

Centro Cultural mantém atividades online

Giulia Moreira

Moradores expõem a necessidade de reformas nas vias e denunciam danos causados aos veículos

Buraco na Avenida Dona Matilde atrapalha trânsito Giulia Moreira

Os moradores e transeuntes do bairro Vila Matilde, na zona leste de São Paulo, estão insatisfeitos com as condições das ruas e avenidas da região. Segundo eles, as falhas nas vias já foram responsáveis por diversos prejuízos. Os buracos não são o único problema. Além deles, o desnível e as rachaduras atrapalham o trânsito no distrito. As principais ruas e avenidas do local mostram inúmeros sinais de desgaste. Os moradores afirmam que é preciso uma reforma no pavimento e expõem danos causados em seus automóveis. Antônio Carlos Aguillera, analista de Eletronic Trading, é morador da Cidade Patriarca, bairro vizinho à Vila Matilde, e costuma passar por lá em seu trajeto. Segundo ele, já perdeu uma das ro-

das e o pneu do carro ao passar por uma brecha no pavimento. Antônio não foi o único a ser prejudicado. Leonardo Hideo Visnadi, empresário, sempre morou no bairro e também já teve seu carro danificado pelo problema. Ele afirma que amassou a roda e quebrou mola e amortecedor de seu veículo circulando pela região. A falta de uma manutenção nas vias já vem causando transtornos há algum tempo. “O problema dos buracos aqui nas ruas é que elas foram asfaltadas muito tempo atrás. Então, hoje, é remendo em cima de remendo”, diz Leonardo. Outro fator que interfere na infraestrutura das ruas são as obras mais recentes da Sabesp na região. O bairro é alvo de um grande projeto de troca de redes antigas de água em municípios do Estado de

São Paulo. “Toda semana tem um buraco novo. Eles fecham e na hora fica ‘ok’, mas passa uns dois dias e, mesmo com asfalto, o local fica muito abaixo do nível da rua”, explica o morador. De acordo com o engenheiro e professor mestre em planejamento urbano, Valdir Aparecido Galiano, o que causa a deterioração do pavimento e, consequentemente, prejuízos ao trânsito local é a manutenção inadequada ou insuficiente. Ele ainda explica como esse problema pode afetar o tráfego: os buracos e as demais patologias causam a redução da velocidade, ameaçam a segurança dos passageiros, motoristas e pedestres por aumentar o perigo de acidentes e, por fim, trazem prejuízo financeiro aos proprietários de veículos e empresas de transporte com aumentos no custo de manutenção. A responsabilidade de realizar reparos nas áreas afetadas das ruas é da subprefeitura do bairro. Na Vila Matilde, os moradores podem solicitar por esse serviço pessoalmente na Praça de Atendimento, ligando no número 156 ou de forma on-line no site e aplicativo da SP156. A partir disso, o pedido será avaliado por uma equipe responsável. Ela analisará, junto a um engenheiro especialista, a melhor forma de manutenção a depender do tipo e intensidade do problema. “Realiza-se um cálculo pela área das patologias e a área do trecho a ser reparado e aplica-se

o tipo de recuperação de melhor custo-benefício”, explica o professor. Alguns moradores já recorreram ao serviço. Antônio diz que, embora seja eficiente em alguns casos, o conserto não ocorre de forma rápida. “Sempre informaram que iriam direcionar para a equipe responsável e, quando o buraco foi, de fato, reparado, demorou algum tempo”, explica. Por outro lado, o morador Leonardo diz que, quanto a isso, não tem por quê reclamar, já que suas solicitações feitas no aplicativo sempre foram atendidas após um período de, em média, 30 dias. A Subprefeitura da Penha declarou que a gestão tem trabalhado para aprimorar e agilizar o serviço de tapa-buraco na cidade nos últimos anos. Conforme os dados divulgados, em maço de 2019, havia cerca de 38 mil solicitações do serviço. Atualmente, o número já reduziu para aproximadamente 3.800. Com a mudança, o tempo de atendimento também diminuiu. “O objetivo é atingir a meta de realizar o tapa-buraco em até 10 dias. Hoje, a solicitação é atendida em 26 dias, em média”, informaram as autoridades locais. Outra medida adotada pelo poder público regional foi contratar especialistas da Escola Politécnica da USP para redigir o Manual de Especificação Técnica para a Operação Tapa-Buracos na cidade, um documento com orientações para a realização do serviço.

Fachada do Centro Cultural da Vila Formosa Ettore Falcone O teatro Zanoni Ferrite e a biblioteca Paulo Setúbal são pontos culturais marcantes para o bairro e para os moradores da Vila Formosa. Mas, por conta da pandemia do novo coronavírus, o funcionamento do espaço se tornou restrito, sendo permitidos, somente, o aluguel e devoluções de livros, assim como a realização de cadastros para a biblioteca, gerando uma diminuição no número de frequentadores. Para driblar a paralisação total das atividades, a biblioteca passou a disponibilizar oficinas de leitura e saraus em suas redes sociais. Futuramente, será criada uma plataforma para empréstimo de e-books. O teatro, que se encontra no mesmo prédio da

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biblioteca, passou por adaptação, mas manteve boa parte de sua programação online. Morizi Salles Martins, coordenadora do espaço, afirma que a programação mudou para o digital desde março de 2020, por meio de lives nas redes sociais do Centro Cultural. Porém, durante a flexibilização e passagens de fases na cidade de São Paulo, o ambiente contou com apresentações presenciais que seguiram os protocolos de segurança e com um número bem reduzido de espectadores. Isso ocorreu, por exemplo, em dezembro, quando abriram para atender algumas apresentações da Virada Cultural. Atualmente, a volta ao presencial é feita aos poucos, sendo que boa parte das atividades ainda está online.

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ESPECIAL • QUEBRADA

Jovens participam das políticas públicas de São Paulo Reprodução Partido dos Trabalhadores

Parque São Rafael, zona leste de São Paulo

Marcos Medeiros: militante morador do Jaçanã

Lutando por suas comunidades, moradores começam a participar mais das decisões, buscando um lugar melhor para viver dignamente Felipe Baldez

Quando falamos em políticas públicas para o jovem da periferia, lembramos de ações para tornar a mais fácil o acesso a medidas como moradia, educação, lazer, saúde e segurança em suas comunidades. As políticas para juventude têm o intuito de funcionar como dispositivos de normalização, controlando os comportamentos desse grupo populacional. As experiências vividas por esses jovens buscam afirmar o exercício da política, que regulamenta ações e surgem novas realidades, buscando sempre o bem-estar e vida digna. A revista Qbrada conversou por videoconferência com o morador do Jaçanã, na zona norte, Marcos Antônio Vieira de Medeiros, de 30 anos, que diz que quando olhamos o jovem de periferia você tem a visão de quem ganha pouco mais

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de 1 salário-mínimo, e não tem muito como se virar, então recorre realmente às periferias para conseguir viver, já que é bem difícil conseguir pagar aluguel em valores que ultrapassam os R$ 1,5 mil. Isso, na visão dele, faz com que as pessoas passem a viver nos bairros mais distantes, pela absoluta impossibilidade de morar mais perto das regiões centrais. Medeiros, que é aluno de Ciência Política do segundo semestre da faculdade Cruzeiro do Sul e manobrista de ônibus da Empresa de Ônibus Vila Galvão - EOVG, além de ser militante político filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), tem uma visão bastante crítica da vida nas regiões periféricas da cidade. No que diz respeito à questão do trabalho, ele considera que a ideia de se colocar bem nesse sentido depende de sua motivação e

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da sua necessidade momentânea. “Esse mesmo jovem começa a ter uma maturidade com uma certa idade. Quando ele para pra pensar pra conseguir condições melhores, são dois fatores: a sorte, que são aquelas oportunidades que aparecem uma vez na vida e consegue se colocar no mercado de trabalho bem posicionado, e o esforço, que esse é o que quanto mais o tempo passar, mais vai ficando precarizado. O estudo é tudo na vida de uma pessoa, pois até pra uma pessoa se colocar, eu preciso de algo melhor, eu preciso sair daqui, eu preciso melhorar as minhas condições de status ou patamar, a pessoa tem que ter um estudo. Pois na ignorância, aquilo que acontece na periferia está bom.” Medeiros também comenta que a ocupação dos mananciais metropolitanos de São Paulo, situados geralmente em regiões peri-

féricas, é um grande problema da cidade, em sua visão. “Essa ocupação tem sido crescente, e muitas pessoas não pagam o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)”, diz. De acordo com ele, muitos lugares ainda têm serviços precários, e a única saída para obter esses serviços é o serviço precário, ou seja, é gato na água, gato na luz. “Obviamente, o poder público vai olhar por aquela região e tentar fazer algo. Por exemplo, na questão de urbanização dos bairros, eles irão asfaltar as vias principais, para que as pessoas possam contar com algum serviço de transporte público, e só depois é que começam a atuar com mais força dentro das periferias. A gente até brinca que obras de infraestrutura como rede de luz e água são feitas a cada dois anos, por causa das eleições.” Agora, quando se junta a comunidade, está acontecendo um fenômeno nas favelas e periferias, as suas casas construídas, muitas delas de forma irregular, estão sendo colocadas para alugar. Os próprios mora-

dores, reformam as suas casas, buscando ampliar as construções fazendo 1 a 2 casas em cima e colocando para alugar. “Infelizmente hoje em dia, não se tem respeito, e foi ensinado desde sempre, que por essas áreas, não se deve ter respeito. Muito disso é associado ao tráfico dentro das comunidades, que na falta de políticas públicas, organizam e acabam pondo uma ordem ali. E são problemas que estão enraizados, e é muito difícil tirar esses problemas.” Marcos também ressalta que a participação dos jovens é fundamental para uma inclusão de medidas, para combater a discriminali7, o alto índice de vulnerabilidade social, transformando áreas periféricas, em ambientes de discussão política e conquistando o espaço para um cenário de luta coletiva. Inserir os jovens em projetos sociais, abrem a mente e a participação em debates para lutar por uma comunidade mais estruturada, e assistida pelo poder público. Como as políticas públicas não se limitam a leis

e regras, envolve muitos processos, implicando a sua execução e avaliação. O cenário das políticas públicas e a juventude periférica, atua na produção de dados e opinião pública, sempre revelando a identidade cultural das periferias de São Paulo. É grande o número de jovens que participam das decisões e reivindicam melhorias para a sua comunidade. Outro item que é bastante debatido e reivindicado pelos jovens é a mobilidade dentro dos seus bairros. Empregos mais próximos da periferia ainda são uma realidade um pouco distante, pois um grande número de jovens tem que se deslocar até o centro da cidade para trabalhar. Esse mesmo jovem tem prioridades como trabalho, ativismo político, lazer, arte, diversão, lugar de moradia e espaço de trabalho. Hoje, os jovens da periferia casam tarde, demoram mais para ter filhos, e muitos que ainda moram com os pais bem depois de ter completado 30 anos e também depois de ter se casado.


ESPECIAL • QUEBRADA

Ligia Carvalho

Igor Usmari: empreendimento e vitórias a partir da periferia

Igor Usmari e Larissa Polastri: sócios e namorados, responsáveis pela inovação por trás da Usmari

“Eu me sentia empreendedor, mesmo antes de entender o que era isso” Victor Hugo Pereira Mendes

Igor Usmari, jovem empreendedor do Jaraguá, zona oeste de São Paulo, tem construído um negócio totalmente independente e influente, ligado às tendências do mercado, e à sua paixão por empreender. O rapaz, de 21 anos, é o proprietário da loja Usmari (@_usmari),

que conta com mais de 18 mil seguidores no Instagram, trazendo ao público os principais sneakers, roupas e acessórios do universo streetwear (movimento cultural ligado à arte e à essência urbana). Hoje ele se sente realizado, podendo crescer e empreender de forma independente, e conquistando cada dia mais o seu

espaço no cenário Street no Brasil. "Na época da escola eu buscava várias alternativas de conseguir dinheiro, fazendo lição para os meus amigos, até mesmo vendendo celulares usados", diz. Unindo a sua paixão pelo skate e pela música teve a oportunidade de ser produtor do grupo de RAP "Entre Linhas". O grupo empla-

cou alguns sucessos como o som “BLING - Prod. Jay Kay”, vídeoclipe que tem mais de 1,7 milhão de visualizações no YouTube. Sobre essa experiencia, Igor conta: “Foi uma grande oportunidade de aprendizado. Só estar nos lugares, conhecendo gente importante, agregou muito conhecimento”. Ele teve a chance de conviver com figuras influentes para o Rap, como Don Cesão e Predella. Igor é mais um representante e morador da periferia, que nem sempre conversa com a região, mas faz questão de envolvê-la no seu trabalho e vida pessoal. Quais foram os seus primeiros passos no empreendedorismo? Assim que comecei a receber o salário. Passei a revender produtos como celulares, roupas, qualquer item que eu visse vantagem e um possível lucro em cima. Nessa época também comecei a promover alguns eventos, “rolezinhos”, vamos dizer assim. Todos foram um sucesso, e todo mundo foi! Tudo com o meu dinheiro, e eu sempre estive por trás desses projetos. Durante dois anos foi assim. Porém, quando acabou o trabalho, foquei em vender roupas. Como foi o seu primeiro contato com o streetwear? O primeiro evento que eu tive acesso foi em 2017. Tinha ido para uma festa com os meus amigos, e dentro do bol-

so estava com R$ 2 mil e falei para eles que, de manhã, iam rolar algumas peças exclusivas na “Overcome” (loja de skate). Eu cheguei lá e era um dos primeiros da fila. Quando entrei, peguei algumas peças já conhecidas no mundo do skate, porém reparei que em um pedaço da loja, tinha marcas de fora do Brasil, com um preço elevado. Eram, por exemplo, camiseta da Supreme por R$ 500, camisa da Bape por R$ 500. Me assustei com o valor, e depois disso, fui pesquisar mais sobre esse segmento da moda. Foi aí que descobri os tênis exclusivos. Você é totalmente identificado com a periferia, sabendo da realidade de muitos, é contra os itens falsos a que a quebrada recorre por não ter dinheiro para comprar os originais? Mano, eu penso assim, hoje na minha loja (Usmari) vendo tanto peças da Nike e Adidas com preço acessível, de R$ 100 a tênis de R$ 5 mil, pensando em diversificar o meu público mesmo. Sobre o falso, eu penso que é totalmente errado, é crime, sim, mas por conhecer a realidade das pessoas que na maioria das vezes, dependem dessa venda para sobreviver, sem mesmo conhecer a marca ou do contexto e história por trás da peça, não julgo. Eu não comercializaria item falsificado na minha loja, mas não julgo quem quiser usar.

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Recentemente a sua loja “Usmari” anunciou a parceria com a “Treze Clout”, uma marca brasileira, que vem conquistando espaço no streetwear de São Paulo, você enxerga o cenário nacional ganhando cada vez mais espaço nesse mercado? Eu acho que sim. Vejo muitas lojas por aqui, no cenário de streetwear focando mais em tênis do que roupa, pela facilidade de se trabalhar, roupa é sempre mais complicado. Isso conta muito, se a intenção das lojas for crescer trabalhando com roupas, o acesso não será difícil e a qualidade vai ser absurda. Quem são os responsáveis pelo crescimento da Usmari? A loja só existe nas redes sociais e tem três funcionários. Eu sou o dono, a Larissa Polastri (namorada e sócia) é responsável pelo Instagram, e um designer (Leonardo Oliveira) que produz a identidade visual e as artes no perfil. Você pretende ter uma coleção própria? A minha ideia é de que no máximo um ano a gente tenha uma loja física. Tenho projetos de roupas autorais e quero passar a identidade da Usmari para uma coleção, com peças e artigos de qualidade e que eu realmente goste de usar, gostaria de produzir, não só por dinheiro. Quero entregar algo impecável ao nosso público.

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ESPECIAL • QUEBRADA

Pichação: arte ou vandalismo? A polêmica continua Rafinhalazy, CC BY-SA 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0>, via Wikimedia Commons

Parque São Rafael, zona leste de São Paulo

Após muita discussão na cidade de São Paulo, esse tema está de volta Leonardo Garcia e Vinicius Coccorullo

O âmbito da arte urbana vai muito além de um desenho na parede. Toda e qualquer manifestação artística é considerada como tal: apresentações, cartazes, poemas, pinturas, intervenções, grafites e até mesmo os piches. Sim, o piche também é arte e se discorda de um ato de vandalismo público. Então, por que todas essas expressões artísticas são aceitas e o piche não? Vamos entender. Moldada para sua “versão atual” no fim dos anos 70, em Nova York, nos Estados Unidos, quando jovens do “Bronx”, bairro de periferia local, desenvolveram uma técnica com tinta spray e as

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utilizavam em espaços abertos com o intuito de protestar. No Brasil, apareceu primeiramente na cidade de São Paulo, também na década de 70, mediante obras pintadas nas paredes. Não há intenção estética em seus escritos, suas atenções são voltadas para a mensagem. Sempre com viés de insatisfação, o piche foi aderido pela parte marginalizada de seu povo, moradores de bairros mais afastados e menos assistidos. O conceito desta corrente é justamente estar fora de locais “renomados”, como teatros e museus, expandir para outros que tenham visibilidade cotidiana, aproximando os cidadãos da arte sem precisarem ir até um centro cultural.

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A partir deste momento, criou-se uma grande polêmica: “piche: arte ou vandalismo?”. Grande parte dos pensamentos das pessoas contra esse movimento vem originado pelo preconceito estrutural de pessoas de classes A e B, já que um de seus princípios é ser voz para um protesto de cunho social, debatendo temas como a desigualdade entre os indivíduos, por exemplo. É verdade que, segundo o artigo 65 da Lei 9.605/98, o piche é considerado crime, podendo acarretar ao seu autor uma detenção de 3 meses a 1 ano, além de multa. Se tratando de monumento ou coisa tombada, a sanção poderá sofrer mudanças. Porém, urge a necessidade de se

entender o outro lado da história. Para isso, é necessário compreender que o propósito do piche é, de fato, chamar a atenção de quem olha para a sua mensagem através do choque que suas escrituras causam. É fundamental para esse debate também, conhecer o significado da palavra “arte”, literalmente. De forma simples, é “toda criação humana com o objetivo de manifestar-se esteticamente”. Perceba que beleza nada influencia na percepção da existência de arte ou não. Por muito tempo, o padrão de arte foi tido como tudo aquilo que é bonito, porém, com a ascensão do Modernismo no Brasil, no século XX, esse conceito foi se alterando. Fica fácil de entender esse movimento como sendo artístico a partir do momento em que se percebe que não existe um

limite claro e estabelecido para dizer o que é e o que não é considerado arte. Samuel “Sati” Thiago, de 20 anos, artista independente e morador da periferia de Mogi das Cruzes, São Paulo, diz ver a pichação também como forma de arte já que percebe o intuito daquele rabisco, consegue entender a mensagem que o autor quis passar através de seu desenho. Para nos explicar melhor, até fez uma comparação com o basquetebol: “gosto muito de basquete e adoro assistir aos jogos porque entendo do assunto, me interesso, sei a mensagem que o esporte quer passar, mas a pessoa que não se interessa, observa somente um bando de jogadores batendo uma bola sem conseguir enxergar a magia que existe por trás. Penso que o mesmo ocorre quando o assunto é pichação”.

Sati também nos conta que começou a grafitar em 2015 por conta de um acaso no colégio no qual ele estudava. Ao ser incentivado por sua professora, o artista foi se permitindo e evoluindo cada vez mais. Agora mais preparado, relata que seu público-alvo são as crianças, já que na região onde vive elas estão sempre flertando com o caminho do crime e entende que, através de sua arte, pode despertar o interesse em algumas delas, assim como ocorreu com ele, fazendo com que esse jovem não se renda ao mundo marginal. É verdade que ele não grafita por dinheiro, mas diz ser essa a sua, e o de muitos colegas, maior dificuldade, visto que os materiais que são utilizados custam caro e seus desenhos, majoritariamente, não rendem frutos financeiros.


ESPECIAL • QUEBRADA

Empreendedoras aprenderam na raça e são referência em seus próprios negócios Acervo pessoal

Gilmara Oliveira: 33 anos e empresária no ramo da moda em Heliópolis

Acervo pessoal

Daisy Alves: 35 anos, confeiteira e empreendedora, em Heliópolis, comunidade da zona sul

Acervo pessoal

Yasmin Ribeiro: 20 anos e nail designer em Mauá, região metropolitana de São Paulo

Conheça os diferenciais de três mulheres que não poupam esforços para oferecer o melhor para seus clientes Beatriz Pereira, Geovanna Lamar e Júlia Moura

A educação financeira é importante para todos, para sabermos lidar com o dinheiro, gastar com inteligência, programar despesas ou investir adequadamente. Para quem vive na periferia, então, esse conhecimento pode significar, muitas vezes, a própria sobrevivência. Quem tem acesso à internet pode aprender, gratuitamente, sobre essa temática nos canais e sites voltados para esse conteúdo. A economista Gabriela Chaves fundou em 2018 o site - NoFront-Empoderamento financeiro - que tem como finalidade promover a educação financeira para

a população negra e periférica por meio das letras de rap. As populações das comunidades vivem em uma realidade extremamente pobre. Por isso, torna-se básico as pessoas se apropriarem da economia e de como funciona o mercado para criar melhores condições de vida. Para dar início ao universo da economia, conteúdos como os do: Primo Rico, Favelado investidor, Nath Finanças, Me Poupe. Todos usam uma linguagem simples, para explicar o que há de mais complicado no mundo da economia. Os futuros empreendedores podem aprender a investir com pouco mais de 1 real. A educação financeira pode mudar vidas.

Acompanhe a trajetória de alguns empreendedores com as quais conversamos. Exemplos de tenacidade e determinação, as jovens Gilmara Oliveira, empresária de moda em Heliópolis, Daisy Alves, confeiteira e empresária na mesma comunidade, e Yasmin Ribeiro, nail designer em Mauá, região metropolitana de São Paulo, são referências de aprendizado. Vamos conhecê-las. Hoje, além de uma empreendedora, você é influenciadora. Esse era um dos seus objetivos quando começou a empreender? Gilmara Oliveira: Quando eu criei a Mega Estilo, eu sabia que queria

ter uma rede de lojas, mas não sabia que poderia me tornar uma influenciadora. Hoje, a Mega Estilo vende mais que um produto, um estilo de vida, buscamos representar com nossas peças o empoderamento da mulher, o poder da diferenciação está na venda do intangível, um conceito, uma missão e valores. Esse é o legado que a minha marca vai deixar ao mundo. O que você faz para tornar os seus doces acessíveis para sua região? Daisy Alves: Não tenho dó de trabalhar com coisas boas, usar sacolas de papel, comprar milhões de canetões para escrever o nome do meu cliente e

informá-lo que estamos mandando para ele com muito carinho nossos produtos, usar granulado Callebaut que custa R$ 110 o quilo (enquanto outros custam RS 10), mandar cartãozinho com recadinhos quando solicitado sem cobrar nada a mais por isso, investir em equipamentos/funcionários/treinamento para sempre prestar o melhor a quem vir até nós, entre outros cuidados. Mesmo os valores dos insumos aumentando absurdamente a cada semana, continuamos com o mesmo preço por enquanto, para oferecer tudo isso por um preço pequeno, baixamos nossa margem de lucro. E, em breve iremos

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colocar a margem correta para termos o mínimo necessário de lucro. E na boa, a galera de Heliópolis AMA coisa boa! O que te deu o start para começar a empreender no ramo da beleza? Yasmin Ribeiro: O start foi a falta de emprego e o nosso interesse na área. O meu marido trabalha com beleza, e como era uma área que eu gostava também, se trabalhássemos juntos iriamos nos dar muito bem. Ele tem sido meu incentivo para a cada dia mais querer me aprimorar e me especializar em novas técnicas do ramo.

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ZONA NORTE VILA GUILHERME

“Minha maior dificuldade foi deixar o orgulho de lado” Reprodução Instagram

Em meio à pandemia, Mc Phe Cachorrera precisou conciliar um trabalho convencional com a carreira artística para se manter na ativa Jeniffer Andrade Soares

Mc Phe Cachorrera, compositor de 29 anos, nasceu e cresceu na Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo. Sem abandonar suas raízes, reside na mesma região até hoje, onde alega ser o berço de toda a sua carreira e, muitas vezes, sua fonte de inspiração. Começou a cantar aos 15 anos, por influência de um amigo próximo que também tentava a carreira musical, e conciliava a vida no funk com o seu trabalho regular. Cachorrera alega que sempre foi muito carismático e conhecido no seu bairro, além de ter popularidade na Zona Leste da capital, o que facilitou a divulgação de seu trabalho.

MC Phe Cachorrera precisou se reinventar para superar os impactos da pandemia no meio artístico Entretanto, o cantor relata que a vida no funk não foi nada fácil. No início ele não recebia por seu trabalho. Compunha e

gravava músicas, participava de shows e eventos, custeando tudo do seu bolso e sem receber cachê. Até que se viu refém

de uma rotina pesada, e largou a vida de artista. Mais tarde, ao compor vinhetas criativas de forma natural, foi onde se destacou e conseguiu se recolocar na carreira do funk. E de forma rápida, se estabeleceu como Mc, escrevendo letras que falavam de seu cotidiano e suas vivências, e finalmente, conseguindo viver da sua música. Além disso, Phe Cachorrera busca inspirar outros jovens que estão iniciando carreira. Ele tenta acabar com a imagem de artista inacessível e ser uma referência de simplicidade, igualdade e superação. A questão da pandemia e o colapso pelo coronavírus afetou todo o meio artístico, incluindo quem

vivia de shows. “Minha maior dificuldade foi deixar o orgulho de lado e voltar a trabalhar com carteira assinada", diz Phelipe. O cantor revela que foi um momento muito conturbado em sua carreira, pois o público que consome o gênero não se adequou às lives. Ele notou também que seu alcance no Instagram – principal forma de comunicação com seus fãs – havia diminuído. Ele se viu desestabilizado e quase entrou em depressão. Diante de sua situação, o Mc teve que voltar a trabalhar em regime de carteira assinada, abdicando de confortos pessoais que sua carreira proporcionava. Por outro lado, essa volta à ativa é o que o fez se resta-

CASA VERDE

belecer e colocar a sua saúde mental e ideias em dia. Hoje, mesmo tendo que conciliar o seu trabalho regular com sua carreira na música, Phe Cachorrera se sente empolgado com o seu futuro de Mc. Tanto que passou a utilizar o Telegram e o IGTV para transmitir mensagens positivas e de esperança, criando um vínculo de proximidade e ganhando a fidelidade de seus admiradores. O cantor conta com um enorme repertório a ser lançado no decorrer do ano, incluindo uma homenagem ao falecido Mc Kevin. Ele se sente otimista com suas projeções e aguarda ansioso, assim como todos nós, a volta dos shows e festividades.

Daniel Pahl Camargo

Avenida Imirim faz 188 anos Daniel Pahl Camargo Uma das avenidas mais importantes do distrito da Casa Verde completa 188 anos no dia 13 de maio. Recheada de parquinhos infantis e hortifrutis, a centenária avenida Imirim, que liga a região de Santana até a Cachoeirinha, passou por constantes transformações ao longo de décadas e é relembra-

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da pelos moradores da região por seu crescimento e diversidade. “O grande ganho para a população aqui do Imirim foram os bancos e mercadinhos. A gente tem fácil acesso a tudo”, afirma Michele Lombardi, moradora do bairro desde os 2 anos. Já de acordo com Fátima Abou, moradora mais recente do bairro, faltam grandes mercados na

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grande avenida, pois o pequeno comércio local é insuficiente. “Tem pequenos mercados, mas você não consegue achar bons preços porque são poucas as opções.” Além de ter um crescimento populacional relativamente alto, a avenida também se consolida pela presença da comunidade japonesa. Em direção ao bairro de Santana, a aveni-

da tem seus mercadinhos, lojas e restaurantes com essa temática. Outro ponto forte para a ascensão da avenida é o Colégio Consolata, localizado há 71 anos na região. Sua história remete à vinda das Irmãs Missionárias da Consolata às Américas com o intuito de edificar a ordem cristã com base nas escolas confessionais. A ordem original é loca-

lizada em Turim, sob orientação do padre Allamano que oferta diretrizes da expansão do acolhimento cristão realizado pelas irmãs. “A partir do colégio foram se estabelecendo as primeiras casas, os primeiros comércios e, a partir de então, a Igreja”, retrata Ricardo Marcom, orientador educacional do colégio há 6 anos.

À esquerda, Colégio Consolata e a igreja


SANTANA

Aulas e projeto de teatro promovem protagonismo de jovens Projeto criado pelo Sesc Santana, oferece desde 2018 oficinas de teatro realizadas pelos educadores do grupo Mudança de Cena Fotos: divulgação

Participantes do Projeto Juventudes ensaiam para a última peça realizada antes da pandemia Clara Rodrigues

Nas aulas de teatro, os jovens refletem sobre situações do cotidiano e aprendem a lidar com a opressão que podem sofrer em diversos ambientes sociais. Tudo isso por meio de uma atividade na qual eles são protagonistas das histórias que contam. O grupo Mudança de Cena, que realiza a curadoria do projeto, já acompanhou mais de 3 mil pessoas nas montagens de peça ao longo dos anos, e mais de 65% de seus alunos foram jovens.

Frederico Antonelli, 34, animador cultural do Sesc Santana, conta que a experiência do grupo com esse público foi um dos motivos para a escolha do Sesc de tê-los como parceiros. “Uma das minhas atribuições é pensar em ações que priorizam o protagonismo dos jovens, e o Juventudes foi pensado desta maneira”, explica. Integrante do “Juve”, como os jovens apelidaram o projeto, Vitória Arocho, estudante, faz parte das oficinas desde a primeira montagem. Ela conta que decidiu parti-

cipar das oficinas como uma distração para algumas situações delicadas que vivia. “Depois que eu entrei para o “Juve”, fiz amigos incríveis, que me ensinaram sobre amor”, relata a estudante. “Aprendi a lidar melhor com os meus sentimentos e os das pessoas ao meu redor, e desenvolvi um olhar mais crítico para o mundo a partir da arte”, ressalta. Antes da pandemia, as oficinas eram realizadas de forma totalmente presencial, mas, assim como o restante do mundo, o grupo precisou buscar

Jovens retratam um episódio de opressão durante ensaio

formas de se adaptar ao novo cenário de isolamento social. Osmar Araújo, presidente da Mudança de Cena, revela que o Juventudes não teve boa aderência no ambiente virtual. “Muitos grupos conseguiram continuar com suas oficinas de teatro em um modelo 100% online, mas, no nosso caso, não considero a experiência para o público com que trabalhamos”, revela. “O conteúdo do curso é importante para os participantes, mas, para a maioria deles, o mo-

tivo de maior engajamento é a experiência coletiva que vivenciam”, explica o líder da Mudança. “A possibilidade de encontrar os amigos em um lugar aberto para a criatividade e debates tranquilos é tão atrativo quanto a aprendizagem do teatro”, conclui. Por essa razão, a curadoria do Juventudes optou por retomar as oficinas de teatro apenas em um momento em que os encontros presenciais sejam possíveis. Enquanto isso, os jovens participantes aguardam com expecta-

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tiva o retorno do projeto Juventudes. “Para mim, o grupo do “Juve” foi tão acolhedor que o considero como minha família. As amizades que criei e as lições que aprendi me deram as forças que eu precisava para viver muitos momentos difíceis da minha vida, e eu sou grata por ser parte disso”, afirma Vitória. As oficinas de teatro do Juventudes foram, por necessidade, pausadas, mas, há uma coisa que a pandemia não pode parar: a energia dos jovens para descobertas e experimentação na arte.

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ZONA SUL VILA CLARA

EMBU DAS ARTES

Pequenos empreendedores vencem dificuldades na pandemia

Bailes funks desafiam a pandemia

Mesmo no ápice do contágio da Covid-19, pancadões reúnem jovens que ignoram o distanciamento social

Livia Santana

Vinicius Pires

Centenas de pessoas se reúnem em festa clandestina na zona sul de São Paulo Geovana Diógenes Gomes

Os pancadões, assim também apelidados pelos frequentadores, são frequentes na região da Vila Clara, zona sul de São Paulo, que acontece nas ruas residenciais da região, com dezenas de jovens aglomerados, sem máscara, fazendo o uso de bebidas alcoólicas e drogas. A aglomeração reúne pessoas de diversos locais, mas principalmente da região de Diadema e Jabaquara, homens e mulheres, a maioria jovens, incluindo menores de idade. O som alto e barulho de escapamento das motos é o que mais incomodava os moderadores, que não têm escolha nos fins de semana a não ser conviver com os bailes. Agora, eles também se preocupam com a concentração de pessoas nas ruas residenciais durante a pandemia.

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Morador relata que mesmo acionando as autoridades diversas vezes, nenhuma providência é tomada. “Nós ligamos várias vezes no número 190, não chega nenhuma autoridade para dispersar a multidão e o som alto, a bagunça continua rolando por horas. Mesmo se a polícia vier, só gera confusão, briga, os caras jogam garrafa, enfrentam mesmo. Só param se o comando pede para parar. Na maioria das vezes só acaba por volta das 8 hora e tem muito morador que sai cedo para trabalhar e encontra bagunça e sujeira na rua”, afirma um jovem de 19 anos, estudante e morador da região, que prefere não ter seu nome divulgado. O g1.globo.com fez uma apuração em agosto de 2020 dos distritos da capital com maior número de casos. Seis boletins

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de ocorrência foram feitos na delegacia do Jabaquara, Zona Sul, 35º DP, o topo da lista entre outros oito distritos. O artigo 268 do Código Penal determina aos que infringirem medidas contra a propagação de um vírus, multa e detenção de um mês a um ano. Muitos se preocupam pois, por ser um bairro pequeno, boa parte das pessoas que frequentam o baile funk são as mesmas que utilizam o transporte público, o mercado, e esses jovens convivem com seus familiares mais velhos, pessoas que fazem parte do grupo de risco da Covid-19. "Meu filho mais velho frequentou o baile funk da região e alguns dias depois começou a sentir os sintomas da Covid-19. O patrão dele pediu para fazer exames, deu positivo. Eu e minha filha Iris,

de 7 anos, fomos contaminadas também. Eu fui quem teve sintomas mais graves como falta de ar, e precisei de acompanhamento médico” afirma Nádia Milena, moradora da região. Vale lembrar que mesmo após a transmissão no país ter passado por altos e baixos, ainda estamos vivendo uma pandemia, e apenas algumas pessoas prioritárias foram vacinas. O Brasil já ultrapassou a triste marca dos 500 mil mortos desde o início da pandemia, em decorrência da Covid-19. Até o momento, enquanto não forem todos vacinados, a melhor forma de prevenção são os cuidados estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde: uso correto da máscara, higienização das mãos e, sempre que possível, o distanciamento social.

Embu das Artes é um município da Grande São Paulo conhecido por atrair turistas durante todo o ano. Uma das atrações é a Feira de Artesanato, que reúne empreendedores artesãos de toda a região e outras localidades. Nos últimos anos surgiram novos empreendimentos e o comércio se desenvolveu. Nos pequenos bairros, a história não foi diferente. Alguns moradores de Embu viram a oportunidade de crescer e empreender próximo de sua moradia ou até dentro dela. É o caso da ajudante geral Gracinete Ramos. Desempregada há mais de cinco anos, a moradora abriu um negócio na garagem de casa. “Fazia tempo que eu queria montar, surgiu uma oportunidade de ganhar dinheiro e aproveitei”, relata. Gracinete mora em um pequeno bairro e resolveu trabalhar com vendas mesmo com a pandemia, há pouco mais de um ano. Ela conta da dificuldade que enfrentou durantes os últimos meses. “Eu montei a loja de rou-

pas mesmo com poucas peças. O pior momento foi quando fechamos as portas. Fui divulgando através do WhatsApp e depois reabrimos”. Quem também sofreu com o fechamento dos comércios foi Cláudia Vieira, laboratorista fotográfica. Ela conta que algumas empresas fornecedoras das matérias-primas necessárias para a realização do trabalho acabaram fechando e houve muito prejuízo durante esse tempo. “Um dos maiores problemas que tivemos durante a pandemia foi o fechamento das lojas na fase vermelha, quando alguns de nossos fornecedores deixaram de fornecer matéria-prima para nosso trabalho. Mas tivemos que superar as dificuldades e conseguimos passar por isso.” Os moradores da cidade de Embu contaram estar contentes com a volta por cima, mesmo depois de ter passado por momentos ruins durante a pandemia. Contaram que empreender foi um desafio ainda maior nesta fase, mas que são felizes por ter retorno mesmo empreendendo em bairros pequenos.

Pedro Henrique Ponchio, via Wikimedia Commons

Feirinha de artesanado de Embu das Artes


VILA MARIANA

Bairro é recordista em demolição de edificações históricas Bruno Ferreira Cherubim

Região cede espaço a condomínios de luxo

As poucas edificações antigas que restaram na Rua Eça de Queiroz têm cerca de 80 anos Bruno Ferreira Cherubim

São Paulo não tem dó de apagar seu passado, seu processo de urbanização é constante. A Vila Mariana, um dos bairros mais tradicionais da zona sul de São Paulo, não escapa desse processo. Com uma ótima infraestrutura, o bairro tem acesso a estações de metrô, hospitais, universidades, Instituto Biológi-

co e museus importantes, como A Casa Modernista, Museu Lasar Segall, além da Cinemateca. Com todos esses benefícios e privilégios, o bairro é muito cobiçado pelo setor imobiliário que tem, há alguns anos, movimentado o processo de urbanização e gentrificação da região. A Vila Mariana detém o título de campeã de demo-

lição de imóveis históricos na capital paulista, com mais de 1.258 construções demolidas, ficando na frente de bairros como Pinheiros e Lapa, segundo o site “Portal Vila Mariana”. Ao andar pelo bairro é possível perceber a movimentação das construtoras pelas ruas com cones, faixas, caçambas cheias de entulhos e muitos

“stands” com projeto de apartamentos luxuosamente decorados para os futuros compradores. Segundo Helena Ladeira Verneck, arquiteta e urbanista pela Universidade Católica de Santos, o interesse pela Vila Mariana é gerado por muitos motivos, mas, principalmente, por sua boa localização e proximidade com a Avenida Paulista. “O que eles vêm tentando fazer com o bairro, hoje, é uma extensão da Avenida Paulista, já que em regiões vizinhas como os Jardins e a Bela Vista não é mais tão simples demolir e renovar. Porém, a Vila Mariana, por ainda possuir muitas casas, possibilita a demolição e construção de condomínios de alto padrão próximo a estações de metrô, do Ibirapuera e em uma área nobre com fácil acesso a muitas outras coisas”, afirma.

Embora seja uma área nobre da zona sul de São Paulo, segundo ela, esse processo configura como gentrificação. “Quando pensamos no processo de urbanização, devemos lembrar que ele é determinado pelo capital, então, construir condomínios de luxo em uma região que já tem um alto nível social, acaba atraindo, normalmente, pessoas com um nível financeiro acima dos demais moradores, o que encarece mais ainda toda a área”, diz. Margeando a Rua Fabrício Vampré com entrada pela Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, uma vila causou conflito entre construtora e moradores. Co suas casas em estilo italiano dos anos 1930, a vila teve seu pedido de tombamento requerido ainda em 2016 pela arquiteta Cintia Padovan, pelo Conselho

Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Após 16 anos o pedido de tombamento foi aberto, mas o processo ainda continua. “Acho horrível quererem apagar uma vila histórica para erguerem um condomínio de alto padrão, vender apartamentos a preços exorbitantes e as pessoas se trancarem dentro de suas bolhas enquanto apagam o convívio humano e histórico de um grande grupo de pessoas”, afirma o artista plástico e arquiteto Nelson Naccache. A vila, que está fechada desde 2017 e sem moradores, pertence à Ordem da Imaculada Conceição e, enquanto o processo de tombamento estiver em análise, deve permanecer lacrada à espera que decidam seu futuro.

CENTRO REPÚBLICA

Convívio com animais alivia efeitos do isolamento social Fernanda Azevedo Com o isolamento social imposto pela pandemia, interagir com animais pode ser um alento para quem vive sozinho. Por outro lado, animais abandonados também precisam de um lar. ONGs ligadas aos cuidados com animais, como a Associação Natureza em

Forma, incentivam processos de adoção e conectam essas duas pontas. “Ter um pet simplesmente por status ou por uma raça da moda, reforça a mentalidade de que os animais são coisas quando, na verdade, são seres amorosos que precisam de atenção, carinho e cuidado”, afirma Izabel Muratt, que optou pela

adoção de um pet. Assim também pensa Camila Bugs: “Existem tantos animais abandonados, maltratados, que não faz sentido comprar um pet”. Ela ainda vai além, e diz como conviver com um animal na pandemia tem sido um grande suporte emocional: “Não sei o que seria da minha vida sem meu cão! Além da com-

panhia maravilhosa que ele me faz todos os dias, é muito gostoso ter um filhote novo e acompanhar tão de perto a evolução dia a dia”, afirma. A estudante de Psicologia Laura Milharcic, em seu estudo “Terapia Assistida por Animais”, assinala como um animal pode ajudar pessoas nessas condições: “O animal

acaba virando um motivo para ela fazer as coisas e continuar com uma rotina saudável”, diz. Com o aumento de abandono de animais na pandemia, muitas vezes por questões financeiras, a prática de adotar se torna ainda mais importante na atualidade, fazendo com que ONGs como Associação Natureza em

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Forma tenham optado por realizar esse trabalho online. Além de a pessoa estar dando uma vida mais digna a um animal ao adotá-lo, também encontrará uma companhia amorosa e alegre em tempos tão difíceis. Associação Natureza em Forma. Tels.: (11) 3151-2536 / 31514885. Rua Gal. Jardim, 234

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ZONA OESTE VILA ALBANO

População teme frequentar o Parque Raposo Tavares Gustavo Lima de Oliveira

Desde a revitalização, em 2017, o parque foi praticamente abandonado Gustavo Lima de Oliveira

O Parque Raposo Tavares foi inaugurado em 1981 administrado pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo e está localizado altura do quilômetro 14,5 da Rodovia Raposo Tavares. Com quase 200 mil metros quadrados de área, tem bosques e áreas ajardinadas, playgrounds, campo de futebol, quadras poliesportivas, áreas de lazer e de musculação, além de uma biblioteca, e é o primeiro parque da América do Sul a ser construído sobre um aterro sanitário. Há 40 anos, o parque foi construído em um lote cedido para a Administração Regional de Pinheiros, onde antes era usado como depósito de lixo. O tal “lixão”, como era chamado, foi desativado três anos antes da inauguração do parque. E chegou a ser tema de um docu-

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mentário produzido por João Batista de Andrade, intitulado “Restos”, que mostra a miséria da população que ia no local para coletar resíduos para sua sobrevivência, bem como a repressão policial contra os catadores. Desde a revitalização feita em janeiro de 2017, com participação e visita do então prefeito João Dória, o parque foi praticamente abandonado por parte da prefeitura e da Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA). “Era um desrespeito com o morador a falta de preservação do parque. Havia muitos usuários de drogas utilizando as dependências do parque para se drogar’’, relata Simone Bezerra Novais, professora e moradora da região. ‘’Ficava cada vez mais difícil ir lá. Eu fazia uma caminhada lá no parque todo dia de manhã, mas eu ficava sempre com um pé atrás, porque sempre

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via gente usando droga e dormindo lá no parque às sete horas da manhã. Acho que faltava segurança, um controle para ver quem entra e quem sai de lá, mas as grades estão todas quebradas, qualquer um entra a hora que quer. Na área principal do parque ainda tem mais segurança, mas há lugares que são tenebrosos”, diz Carlos André Rodrigues, serralheiro, que mora na região há mais de 20 anos. Vital para a população de seu entorno, por ser uma importante área de preservação e lazer, o parque passa por um processo de revitalização em várias frentes, segundo a SVMA: readequação do edifício de sanitário público e bosque da leitura, com troca de louças e metais sanitários, além de manutenção da cobertura, obras no quiosque de uso público próximo ao bosque da leitura, com

manutenção geral do telhado e do piso, substituição dos brinquedos e equipamentos em revitalização no parquinho e nas áreas de academia para pessoas idosas, adequação e instalação de novos pisos, substituição das churrasqueiras e mesas de piquenique e área acessível, revitalização da quadra poliesportiva e quadra de areia, incluindo pintura do piso, troca de alambrado e fornecimento de material esportivo. O Parque Raposo Tavares conta com um trabalho efetivo de vigilância e manutenção das áreas verdes. Os moradores da região se mostram inseguros ao falar sobre frequentar o parque que, de acordo com relatos, é local de uso de drogas e moradia para algumas pessoas, mas ainda assim é um grande patrimônio da região, já que é o único local onde a população pode praticar exercícios físicos diariamente, apesar do medo. Essa revitalização é importante, tendo em vista que alguns patrimônios do local estavam depredados há algum tempo. Guaritas de vigilância com lixo, pichadas e com os vidros quebrados, brinquedos e equipamentos do parquinho para as crianças debilitados, colocando a segurança dos usuários em risco, além de banheiros e bebedouros que não funcionavam mesmo antes da pandemia.

CARAPICUÍBA

Revitalizado, Parque do Planalto é entregue durante a pandemia Lucca Prioste Na primeira semana do mês de maio, a prefeitura de Carapicuíba anunciou por meio de suas redes sociais a reabertura do Parque do Planalto, que passava por uma maratona de obras de revitalização, e foi reaberto em 9 de maio. A nova versão do local conta com câmeras de monitoramento, novo campo de futebol com grama sintética, playground infantil, pista de caminhada e equipamentos de ginástica. Inicialmente, o parque funcionará de segunda a sexta-feira, das 6 às 14 horas, e aos sábados, domingos e feriados das 9 às 15 horas, e é obrigatório o uso de máscara para entrar. Os primeiros dias após a reabertura foram agitados. As reformas nas quadras poliesportivas e pista de skate entusiasmaram a juventude local, que passou a frequentar os espaços do parque em grande número. “O que eu mais vejo são os jovens vindo jogar futebol, basquete ou andar de skate. Mas vem muita gente com criança pequena também, e os adultos vêm para caminhar”, contou Giselle Nogueira, 36, funcionária da prefeitura responsável pela fiscalização do uso de máscara na

entrada do parque. Para Luiz de Carvalho, mecânico e morador da região do Parque do Planalto há mais de 40 anos, as obras da prefeitura no parque ficaram bonitas, mas existe um receio de frequentar o local. “Eu gostei da revitalização, ficou tudo muito bom. Só que a gente tem um pouco de medo, por causa do vírus. Então desde que ficou pronto, fui só uma vez com minha esposa e meu neto para ver como estava. Não ficamos muito, mas deu para ver que foi um trabalho bem feito”, disse “seu Luiz”, como é chamado no bairro pela vizinhança. Tendo em vista a alta no número de casos confirmados de coronavírus no município, a reabertura trouxe consigo algumas mudanças no funcionamento do espaço. Segundo o administrador do Parque do Planalto, Marco Antonio Souza, todas as medidas possíveis de prevenção estão sendo tomadas. “Não deixamos entrar ninguém sem máscara, e se tirar ela aqui dentro, a gente manda pôr de novo. Tem álcool gel nas entradas e nos banheiros. Os banheiros e as quadras são higienizados muitas vezes durante o dia. Com essas precauções, a população pode ficar segura e aproveitar o parque”, afirma.


ABC MAUÁ

Polo Petroquímico do ABC recebe multas por poluição Giovanna Rosa

todos os esforços que estão ao seu alcance para identificar a origem dessas emissões. “As 16 empresas associadas redobraram as verificações nos processos industriais e apuramos que a fuligem preta oleosa relatada por vários moradores não é característica de qualquer emissão das empresas associadas ao COFIP ABC”, informa. Após a reunião convocada por vereadores junto à Cetesb, a organização se colocou à disposição do órgão ambiental para descobrir a origem dessa fuligem. Desde a revitalização, em 2017, o parque foi praticamente abandonado

Empresas responsáveis foram multadas pela Cetesb após reclamações de moradores sobre fumaça preta, barulho e odores fortes vindo da região Giovanna Rosa

A Refinaria de Capuava (Recap) passou a receber denúncias de moradores no final do ano de 2020, alegando que a poluição vinda das empresas estava causando o aumento de doenças respiratórias e de tireoide, segundo estudo da Universidade de São Paulo. Em abril desse ano a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) multou a Recap, situada em Santo André, e a Braskem S/A,

localizada em Mauá. A Braskem S/A recebeu duas multas, de 10.000 UFESPs cada, que somam R$ 581.800. Uma delas foi pela emissão de substâncias odoríferas químicas na atmosfera. A segunda multa foi devido à paralisação da atividade de produtos petroquímicos, o que viola sua licença de operação. Já a Recap recebeu uma multa no valor de 10.000 UFESPs, devido à emissão de uma fumaça preta, que atingiu os bairros no entorno e causou desconforto aos moradores.

FULIGEM NO AR

Em abril, a Cetesb formou uma força tarefa para investigar a origem da fuligem e ouvir o ponto de vista dos moradores. O Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC (Cofip ABC), responsável pela assessoria de imprensa das empresas do polo, afirma que desde o momento em que tomou conhecimento do aparecimento da fuligem preta oleosa em bairros do entorno do Polo Petroquímico, tem empreendido

PREJUDICIAL À SAÚDE

A geografa Fabiana Souza, formada pela Fundação Santo André e mestre em geografia física pela USP, conta que a fumaça vinda do polo é formada por metais pesados, como cobre, dióxido de nitrogênio, entre outros. Essas substâncias acabam se “misturando” com os gases presentes na atmosfera, e que 90% da população de Santo André é atingida, direta ou indiretamente, pela poluição. Ela também conta que os moradores sofrem com o barulho e excesso de luminosidade, vinda da chama das chaminés. São extremos que incomodam aqueles que moram perto da indústria, além do cheiro forte causado pela queima de materiais.

SÃO BERNARDO DO CAMPO

Ensino público sofre com falta de estrutura Maria Luisa Lima de Sá Quando falamos em qualidade de ensino, a maior referência é o Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – que tem como objetivo avaliar a qualidade de ensino nas escolas brasileiras com base na aprovação dos alunos e no desempenho das avaliações. Com base nesse índice, as escolas buscam melhorar o desempenho da educação. Um dos fatores que contribuem para a baixa qualidade no ensino é a falta de estrutura das escolas. Na região do Grande ABC, em São Paulo, parte das instituições escolares está longe da perfeição, tendo janelas quebradas, falta de carteiras para os alunos, salas de aula sem porta e até mesmo com o teto danificado. Segundo relatos de alunos, em dias de chuva essas salas eram utilizadas normalmente. Outro grave problema é a falta de equipamentos e salas especializadas, como sala de computação, bibliotecas, salas de arte ou quadras de esporte. “Era desmotivador estudar em uma escola sem o básico. Ter aula não é apenas colocar o aluno na cadeira por 5 horas e esperar que ele copie tudo o que estiver no quadro. É preciso criatividade, levar os alunos na biblioteca e ter um tempo de leitura, ou ir à sala de artes para desenhar ou pintar”, afir-

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ma Stefany Pereira, que concluiu o ensino médio em 2020. “Dei aula em uma escola pública durante 14 anos, onde os vidros eram limpos, o chão era encerado e a quadra era coberta, com chão liso e pintado. O espaço era pequeno, mas muito bem cuidado”, relata a professora Ivone Aparecida Angelon, referindo-se à E.E. Maria Regina Demarchi Fanani, situada em São Bernardo no Campo. “Hoje leciono em uma escola de tempo integral que não tem 50% dos vidros das janelas, não possui esgoto ligado à rede pública e a quadra tem no chão apenas um cimentado que é maltratado pelo sol e pela chuva, pois não possui cobertura”, conta. Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto Paulo Montenegro com a ONG Ação Educativa, apenas 16% dos profissionais de educação no Brasil têm alto nível de alfabetismo e 30% dos professores das turmas de ensino médio não têm formação na área em que atuam. Isso é possível devido à Lei de Diretrizes e Bases da educação, que determina que os professores precisam ter habilitação em licenciatura, mas não exige que a formação seja na área que o docente leciona. Segundo estatísticas, esse é um dos motivos pelos quais a dificuldade de aprendizagem dos alunos é tão alta.

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INFOGRÁFICO

Caio Moradei Frade e Bruno Boaventura da Silva

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