Edição 235 - Jornal das Lajes

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Jornal das Lajes

www.jornaldaslajes.com.br

Após dois anos, Festa do Rosário volta a acontecer e atrai grande público

Luto

Rosalvo Pinto (1942-2022)

No último dia 8 de novem bro, Resende Costa se des pediu do seu filho Rosalvo Gonçalves Pinto. O Teatro Municipal, onde por tantas vezes ele atuou enquanto di vulgador, entusiasta e amigo da Cultura resende-costen se, foi palco do seu veló rio, que reuniu, numa tarde chuvosa, familiares, amigos e admiradores. O Jornal das Lajes está em luto pela mor te do seu grande benfeitor, colaborador e incansável defensor. No entanto, ao mesmo tempo, celebramos e agradecemos o dom da vida desse grande homem que se despede da vida física para se tornar imortal enquanto paradigma de ética, virtudes e bondade. Leia nesta edi ção editorial na página 2 e artigos dos colunistas do JL em homenagem ao Rosalvo Pinto.

Eleições 2022

Devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, a Festa de Nossa Senhora do Ro sário não era realizada em Re sende Costa desde 2019. Neste ano de 2022, as celebrações, com a participação dos ternos de congado, puderam ser reali zadas e atraíram, entre os dias 3 e 6 de novembro, devotos de Nossa Senhora, turistas e grande número de pessoas que também aproveitaram o co mércio de barracas para fazer compras. “A Festa de Nossa Senhora do Rosário é uma das mais tradicionais e importantes manifestações da cultura e da religiosidade de Resende Cos ta. Trata-se de uma celebração religiosa que traz consigo a preservação e a divulgação das ricas tradições do congado”, disse o secretário municipal de Turismo, Artesanato e Cultura, André Eustáquio

ANO XIX • NOVEMBRO 2022 • Nº235 FUNDADO EM 2003 - RESENDE COSTA
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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No último dia 30 de outubro, a maioria dos eleitores brasilei ros elegeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) novo presidente da República. Numa disputa acirrada, o petista der rotou o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentava a reeleição. Em Resende Costa, confirmando o que ocorrera no primeiro turno, Lula saiu vito rioso das urnas, somando mais
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de 550 votos de vantagem so bre Bolsonaro.
PÁG 05 Foto: Vitória Cristina
LUTO
Presença de Congados enriquece a tradicional Festa do Rosário de Resende Costa

Jornal das Lajes e Rosalvo Pinto: laços fortes de um amor incondicional

Desde abril de 2003, muitas páginas foram escritas contando a his tória de Resende Costa, revisitando o nosso passado, descobrindo e (re) descobrindo pessoas, fatos e acontecimentos da nossa terra e da nossa gente. Essa tem sido, desde então, a missão precípua do Jornal das Lajes, que neste ano completou 19 anos de existência. Algumas pessoas podem nos questionar: afinal, como um jornal impresso, de distribuição gratuita e que conta com poucos recursos financeiros vem conseguindo se manter ativo e com circulação mensal ininterrupta por tanto tempo? A resposta é comprometimento e trabalho incansável de uma equipe que acredita numa causa, num propósito. Qual seja: fazer jornalismo sério.

O JL é fruto do desejo de jovens idealistas de criar um “jornalzinho” em Resende Costa a fim de noticiar acontecimentos, dialogar com o poder público e com a sociedade, além de resgatar capítulos da nossa história que estavam perdidos nas páginas do tempo e no esquecimento da nossa memória coletiva. Daria certo? Sim, deu certo! O desejo desses jovens ide alistas conquistou pessoas e as motivou a trabalhar e a se juntar à “família JL”. E uma dessas pessoas foi o nosso querido e saudoso amigo Rosalvo Pinto, que faleceu no último dia 8, aos 80 anos, após longo período de enfermidade.

Não é exagero dizer que a história do Jornal das Lajes é dividida em antes e depois da chegada do Rosalvo ao nosso grupo de colaboradores e amigos. Lembro-me de quando o convidei para escrever para o jornal. Ele prontamente aceitou. Parece que já esperava pelo convite. Mas ponderou: – Aceito ser um colaborador, porém não tenho condições de, no momento, assumir mais coisas.

Ter o Rosalvo como colunista do JL já seria uma enorme conquista para nós. Intelectual respeitado, escritor de proa e cronista sedutor. Era do que precisávamos. Acontece que tão logo ele se apaixonou pela nossa causa e se tornou o maior entusiasta, defensor, colaborador e benfeitor do Jornal das Lajes. Ele não mais se contentou em ser o autor da deliciosa e famosa coluna “Causos e Cousas”, aguardada por todos os leitores que esperavam, a cada edição, pelos causos do Rosalvo e pelas personagens da história de Resende Costa, as quais ele redescobria e homenageava, sempre com humor, veracidade e muito respeito. Rosalvo tornara-se um membro da equipe editorial, chefe de redação, revisor, integrante do Con selho Editorial e sócio da empresa Jornal das Lajes Ltda.

O JL cresceu se espelhando nas virtudes de Rosalvo Pinto. Não somente pela sua intelectualidade e cultura, mas também por seu exemplo de ética, dedicação, engajamento e amizade sincera. Rosalvo nos cativa va e nos tranquilizava por seu espírito conciliador e por seu incomparável entusiasmo.

A atividade jornalística, não raro, nos apresenta situações tensas e desafiadoras que nos fazem muitas vezes querer desistir. Foram muitas ao longo desses 19 anos! E em todas e para todas elas, lá estava o Ro salvo apresentando soluções inteligentes e sensatas, aparando arestas e conciliando opiniões contrárias, às vezes injustas. Era um conciliador, um homem simples e de uma bondade gigantesca.

Apaixonado por Resende Costa, a sua “terrinha”, como ele gostava de falar, Rosalvo se inspirou em nossa cidade para escrever tantas coisas bonitas e desenvolver importantes projetos culturais. E o Jornal das La jes teve o privilégio de ser um dos canais, uma das pontes que tornaram possíveis a efetivação e a concretização das ideias, projetos e sonhos do Rosalvo para a nossa “terrinha”.

Nesta edição, o Jornal das Lajes se despede não apenas do só cio, colaborador, escritor e colunista. Despedimo-nos de um AMIGO, de um PAI. Estamos tristes e enlutados pela partida do Rosalvo. No entanto, somos eternamente gratos por termos feito parte da sua vida e de sua his tória. O professor, amigo e benfeitor Rosalvo Pinto permanecerá para sem pre imortalizado nas páginas, na história e no futuro do Jornal das Lajes.

André Eustáquio – editor-chefe do Jornal das Lajes e amigo do Rosalvo Pinto.

Jornal das Lajes Ltda

Redação: Rua Assis Resende, 95 Centro - Resende Costa, MG CEP 36.340-000 TEL(32)3354-1323

Editoração e Site: Rafael Alves Tiragem: 2000 exemplares

Circulação: Resende Costa e São João del-Rei

Meio Ambiente

JÚLIA DE OLIVEIRA ROSA* ADRIANO VALÉRIO RESENDE**

Metano: um dos vilões do efeito estufa

São recorrentes na mídia falas sobre as consequências do aquecimento global e também sobre a necessidade de o homem diminuir a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. Dentre esses gases, o metano é um dos mais agressivos. Por outro lado, o calor liberado pela sua queima gera energia que pode ser aproveitada de diversas formas. Vamos analisar melhor a questão.

Primeiramente, precisamos entender o que é o efeito estufa. Ele é um fenômeno que aconte ce naturalmente e é fundamental para a vida no planeta. Em ou tras palavras, o calor irradiado (refletido) pela superfície ter restre é retido por alguns gases presentes na atmosfera. Isso é o que mantém a Terra aquecida, evitando-se a dispersão do ca lor para o espaço exterior. Esse fenômeno é fundamental para o equilíbrio térmico do planeta, portanto, para a sobrevivência da biosfera. Se fizermos uma comparação cotidiana, seria como um carro exposto ao sol. Os raios solares atravessam o vidro, mas o calor não consegue sair, tornando quente o interior do veículo.

A partir da Primeira (sécu lo XVIII) e da Segunda (século XIX) Revoluções Industriais, o homem começou a utilizar intensamente os combustíveis fósseis como fonte de energia. A queima desses combustíveis (carvão mineral, gás natural e especialmente o petróleo), as queimadas e os desmatamentos contribuem para o aumento da concentração dos gases do efei to estufa (GEE) na atmosfera, provocando o aumento da tem peratura. Isso é o que é chama

do de efeito estufa antrópico ou aquecimento global. Portanto, o problema não está no efeito es tufa, que é natural, mas na sua intensificação.

Entre as consequências do aquecimento global, estão diversos problemas socioam bientais, como o derretimento das calotas polares, aumento do nível dos mares, morte de espé cies, danos aos ecossistemas, aumento da proliferação de ví rus e pragas.

Os principais gases estufa são: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), clorofluorcarbonetos (CFC’s), ozônio (O3) e o vapor de água (o único que não é gera do diretamente pelas atividades antrópicas). Destaca-se que o metano é responsável por 15 a 20% do efeito estufa antrópico e sua concentração na atmosfera aumentou em 151% nos últimos 150 anos. A questão é que esse gás tem um potencial de aqueci mento global (GWP) maior que o dióxido de carbono, isto é, absorve cerca de 21 vezes mais radiação infravermelha. Daí ser um dos vilões do efeito estufa.

O metano é uma substância apolar, estando como primeiro membro da série dos alcanos, tem massa molar 16 g/mol e densidade em torno de 0,7 kg/ m³. É ainda um gás incolor, ino doro (sem cheiro), possui pouca solubilidade em água e pode ser explosivo quando adicionado ao ar. Ele é encontrado natural mente nos pântanos em proces sos nos quais há decomposição (fermentação anaeróbia) de ma terial orgânico. Curiosamente, Alessandro Volta, quando des cobriu o gás em 1778, lhe deu o nome de “gás do pântano”. As

fontes antropogênicas estão li gadas principalmente a reserva tórios de hidrelétricas, lavouras de arroz irrigadas por inunda ção, criação confinada de ani mais, aterros sanitários, queima de combustíveis fósseis e alguns processos industriais.

Existem maneiras de redu zir a emissão do metano, mas não é uma tarefa fácil. Algumas ações seriam: utilização de fon tes de energia mais limpas, mu danças nas composições de vá rios tipos de produtos, alteração no método de irrigação na cul tura do arroz, controle da dieta dos bovinos com a utilização de aditivos alimentares, drenagem de gases nos aterros sanitários e diminuição das queimadas.

Apesar de ser um gás po tencial para o aquecimento glo bal, o metano pode ser utilizado como combustível, sendo cha mado de biogás. Assim, o gás drenado de aterros sanitários e de biodigestores (equipamento que acelera o processo de de composição da matéria orgâni ca, como excretas de animais) pode gerar energia para uso do méstico e industrial.

Por fim, o gás metano é o segundo maior responsável pelo aquecimento global, atrás apenas do gás carbônico. Nes se sentido, a diminuição de sua emissão e as políticas para sua utilização como fonte de ener gia são fundamentais para o controle de sua concentração na atmosfera.

*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente –

APAE de Resende Costa realizará eleições no próximo dia 30

DA REDAÇÃO

A Associação de Pais e Ami gos dos Excepcionais (APAE), de Resende Costa, convoca todos os associados especiais e contribuin tes da instituição para a Assem bleia Geral Ordinária, que será realizada na sede da APAE, na rua Lauro Olímpio de Resende, nº 135, bairro Expedicionários, às 18

horas, no dia 30 de novembro de 2022.

De acordo com o edital, a eleição seguirá a seguinte ordem: apreciação e aprovação do relatório de atividades da gestão 2020/2022; apreciação e aprovação das contas dos exercícios 2020/2022, me diante parecer do Conselho Fiscal; eleição da Diretoria Executiva, do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal da APAE de Re

sende Costa em cumprimento ao disposto no artigo 25, inciso III, e 26 de Estatuto padrão da APAE de Resende Costa.

As chapas candidatas tiveram até o último dia 10 para apresenta rem suas propostas. A Assembleia Geral acontece em primeira con vocação às 18h, com a presença da maioria dos associados, e, em se gunda convocação, com qualquer número, meia hora depois.

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Os artigos assinados não refletem obrigatoriamente a opinião do jornal. Sócio
Editora
André
Emanuelle Resende Ribeiro, José
Rosalvo Gonçalves
João
José
administrador: Antônio da Silva Ribeiro Neto Editor-chefe: André Eustáquio Melo de Oliveira
assistente: Vanuza Resende Editor regional: José Venâncio de Resende Revisão: José Antônio Oliveira de Resende Diretor de administração: Eustáquio Peluzi Chaves Conselho Editorial:
Eustáquio Melo de Oliveira,
Venâncio de Resende,
Pinto,
Evangelista Magalhães e
Antônio Oliveira de Resende.
Tel:
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EDITORIAL
(31) 2101-3544
INFORME

Na sessão Legislativa do dia 03 de outubro de 2022, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, foi reali zada homenagem à Sra. Maria José Mendes, 103 anos, e ao Sr. Francisco Gomes de Sousa, de 94 anos.

Durante a solenidade, foi destacado por todos os vera dores e pelo prefeito municipal em exercício, Lucas Paulo, a relevância desta simbólica ho menagem. Ambos ressaltaram a grande importância da troca de experiências entre as gerações do nosso município.

O Executivo Municipal apre sentou o Projeto de Lei que visa ao repasse de recursos financei ros, no importe de R$15.00,00, ao Expedicionários Sport Club. O Projeto de Lei foi aprovado por unanimidade e resultou na Lei Municipal nº 5.019/2022.

O Expedicionários Sport Club há anos vem desenvolven do atividades em parceria com o poder público municipal de ma neira satisfatória, tendo neste ano assinado Termo de Colaboração nº 007/2022, autorizado pela Lei Municipal nº 4.894, de 23 de

março de 2022.

O repasse tem por objeto adquirir material de consumo que contemplará todas as equi pes do Projeto Social de Voleibol atendidas pela Sra. Lucilvânia, na quadra da Escola Municipal Con jurados Resende Costa.

A Câmara Municipal de Resende Costa torna público que fará realizar concurso público para provimento do cargo de Secretário Geral.

Inscrições: de 26/12/2022 a 25/01/2023

Prova: 05/02/2023

Informações: www.camaraderesendecosta.mg.gov.br www.escolideres.com.br

O Executivo Municipal apresentou ao Legislativo Projeto de Lei que visa ao repasse de recursos financeiros no importe de R$10.000,00 para a Banda de Congado São Benedito e

também a autoriza a utilizar ou alugar os espaços públicos da Praça Coronel Souza Maia e Rua José Coelho. O Projeto de Lei foi aprovado por unanimidade e resultou na Lei Municipal nº

5.027/2022.

O objetivo foi a realização das tradicionais festividades de Nossa Senhora do Rosário, entre os dias 3 e 6 de novembro último.

- Indica ao Poder Executivo a instalação de 01 quebra-molas na Rua Luiz Henrique R. Pinto, bairro Várzea, na altura do número 34. A indicação tem o objetivo de atender solicitações de moradores do bairro Várzea, que encontram arquivadas na Secretaria da Câmara Municipal de Resende Costa-MG. (Vereador Paulinho)

- Indica ao Poder Executivo Municipal, através da Secretaria Municipal de Transportes, que realize pintura de todos os quebramolas, passagens elevadas e faixas de pedestres existentes no Município de Resende Costa-MG. Indica-se ainda promover melhorias nas placas de sinalização dos mesmos, tendo como objetivo uma melhor identificação e apresentação dos quebra-molas, faixas de pedestres e passagens elevadas, a fim de proporcionar maior segurança aos motoristas e, principalmente, aos pedestres. Tal ação poderá prevenir possíveis acidentes, haja vista que as referidas lombadas e orientações horizontais das vias públicas apresentam atualmente demarcação deteriorada pela ação dos efeitos do tempo. (Vereador Cleiton)

- Indica ao Poder Executivo e ao Poder Legislativo que implantem um sistema de publicação da agenda de compromissos públicos dos agentes políticos municipais (prefeito e secretários, no caso do Executivo, e vereadores, no caso do Legislativo) nos dias em que esses agentes possuírem viagem para fora do município a serviço público, especialmente nos casos em que houver requisição de diárias e/ou utilização de veículos públicos municipais. (Vereador Fernando Chaves)

O Executivo Municipal apre sentou o Projeto de Lei que visa à criação de cargos de fisioterapeu ta, fonoaudiólogo e nutricionista

para atendimento à Atenção Pri mária de Saúde (APS). O projeto tem como meta contribuir para o desenvolvimento e o provimento

da saúde da população resende costense. Os vereadores aprova ram unanimente o projeto de lei, que resultou na Lei Municipal nº

5.025/2022.

Os cargos criados são de ca ráter temporário, atendendo aos termos da Resolução SES/MG nº

7.857, de 17 de novembro de 2021, que dispõe sobre o repasse de in centivo financeiro para o apoio multiprofissional.

JORNAL DAS LAJES • PÁG. 3 ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022
O Presidente da Câmara João Dias prestando homenagem ao Sr.
CÂMARA DE RESENDE COSTA INFORMA Homenagem aos cidadãos mais idosos de Resende Costa Câmara Municipal aprova repasse de recurso ao Expedicionários Sport Club Câmara Municipal aprova repasse de recurso à Banda de Congado São Benedito Câmara Municipal aprova lei que cria cargos temporários de fisioterapeuta, fonoaudiólogo e nutricionista AVISO DE CONCURSO PÚBLICO Indicações aprovadas no mês de outubro INFORME PUBLICITÁRIO
Francisco Gomes de Sousa (à esquerda) e o Vice-Prefeito Lucas Paulo homenageando a Sra. Maria José Mendes, sendo representda por sua filha Regina Maria Mendes da Silva (à direita).
PÁG. 4 • JORNAL DAS LAJES ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022 GOVERNO MUNICIPAL
INFORME PUBLICITÁRIO
INFORMA

Já havia entregue à redação do JL o texto desta coluna para o mês de novembro, “A arte home nageando os falecidos”, quando o amigo Rosalvo Gonçalves Pinto, enfermo há um certo tempo, saiu da vida física, agora dia 8 de no vembro, aos 80 anos.

Na era eclesiástica, eu na teologia, no seminário maior dos padres camilianos em Jaçanã, São Paulo, ele também cursando teologia no seminário maior dos padres salesianos, éramos pratica mente irmãos de fé, de ideologia religiosa e de relacionamento.

Depois, a vida nos encami nhou para novos rumos. Mais tarde, um encontro carinhoso se deu quando ele, assessor do se

nador por Minas Gerais Ronan Tito, publicou seu livro sobre os Inconfidentes de Resende Costa pela editora do Senado Federal: “Os Inconfidentes José de Resen de Costa (pai e filho) e o Arraial da Lage”. Livro este, por sinal, já colocado como fonte pela pro fessora e historiadora Ana Paula Mendonça de Resende em seu artigo: “Rememorando nossa História: Resende Costa através dos tempos”, na edição de nº 3 do nosso Jornal das Lajes, junho de 2003. Ninguém sonhava, naque les 4 números iniciais do nosso jornal, que Rosalvo seria o seu grande sustentáculo.

No nº 5/agosto de 2003, Ro salvo inaugura sua coluna “Cau sos e cousas de Resende Costa”, com “Nois tudo é veiaco”, escre vendo sobre o “Gardino”. Coluna que será um sucesso, enquanto escreveu, pelos causos, pela pro

sa gostosa que sempre teve, pelo modo de narrar, pelo estilo, pela espontaneidade entre outras qua lidades.

Minhas vivências com Ro salvo também vêm devido à gran de atuação e liderança que ele teve na “Coleção Lageana” – pro jeto editorial desenvolvido pela amiRCo (Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa), com a chancela do FEC (Fundo Estadual de Cultura) – caso raro numa cidade pequena pela im portância e quantidade de livros publicados. Por eu pertencer ao conselho editorial da coleção, os contatos eram frequentes. Mais frequentes ainda quando se tratou de fazer uma segunda edição re vista e aumentada de seu livro so bre os Resende Costa inconfiden tes. Fez questão de atribuir-me uma coautoria, quando escreveu sobre o lema da futura bandeira:

“Libertas quae sera tamen”. Essa obra o inscreve mereci damente no quadro dos cronistas e historiadores de Resende Costa: José Augusto de Rezende (Cole ção Lageana), Antônio de Lara Resende (edição própria), José Maria da Conceição Chaves, co nhecido como Juca Chaves (Co leção Lageana) e outros.

O Rosalvo biológico jaz ago

Rosalvo: uma homenagem e muitas lembranças Morreu-nos Rosalvo

ra sob o solo sagrado de sua ci dade berço, mas o Rosalvo pessoa estará presente na memória dos que com ele conviveram enquan to ela durar, pela sua cordialidade, engajamento nas boas causas, do tes artístico-literários, tolerância e diálogo. Enfim, uma pessoa pro fundamente humana.

São algumas lembranças mi nhas.

Há pessoas sobre as quais falar é muito fácil. E, também, muito difícil.

Com Rosalvo é assim. Fá cil falar dele, porque lhe sobram virtudes. Difícil, porque não há novidade, para ninguém, no dizer qualquer coisa sobre ele.

Atrevo-me, entretanto.

Havia em Rosalvo uma atitu de admirável: cada um que dele se aproximasse tinha a impressão de que Rosalvo só existia para esse seu interlocutor. Cada um se rea lizava nele, porque para cada um ele se fazia presente, compassivo, solidário. Cada um se encontrava

nele. Ora, isso não é qualquer coisa. Pelo contrário, isso é tudo.

Nada mais as pessoas pedem na vida que aquilo de se sentirem presentes. Rosalvo se fazia pre sença para cada um. Quem convi veu com ele pode dizer na alegria: Rosalvo me sabia, ele entendia de mim. Que beleza!

Por isso é que, quando ain da jovem nos seus vinte anos, aqueles alunos dos colégios sale sianos em que Rosalvo trabalhou tinham-no como modelo. Seus alunos queriam ser como ele. A serenidade com que Rosalvo le vava a vida, mesmo na função de superior, deixava todos com a sensação de que podiam ser como eram, sem precisarem se esconder em falsidades, em comportamen

tos submissos. Rosalvo aparecia para seus alunos como possuidor de virtudes e qualidades a serem constitutivas das próprias vidas. Rosalvo transmitia paz.

Nós, seus colegas e contem porâneos, nos deixávamos admi rar pela tranquilidade, pela sere nidade exuberante. A dimensão científica, de que era possuidor, não empalidecia em nada a huma nidade de que era portador. Mas nós, colegas, sabíamos também de um detalhe extraordinário, não muito perceptível: Rosalvo tinha precioso senso de humor. Mais: tinha uma dimensão irônica fren te aos absurdos existenciais. Não deixava de vivenciá-los. E até so frer com eles. Em nossas vidas de seminaristas, cursando teologia,

passamos por momentos difíceis. Eram os complicados anos da década de sessenta. Rosalvo, na sua reserva, sabia chegar a cada um como parceiro inconfundí vel, quando não como mentor de variadas rebeldias. Com sua dedicação ao estudo, com seu respeito ao ordinário da vida, se não se envolvia em determinadas situações, também não deixava de trazer o apoio, a força e a coragem para aqueles mais afoitos que es tavam enfrentando momentos ad versos. Ele sabia se reservar para momentos maiores.

A morte configura o comple to esvaziamento de nossas vidas. Mas ela é a condição para nosso nascer para Deus, quando já não teremos Deus sobre nós, mas

Deus em nós. Rosalvo já usufrui dessa realidade.

Em nossas vidas, ou em nós, há pedaços dos outros que nos completam. Rosalvo viveu em tanta profundidade a solidarieda de, que deixou pedaços na vida de tantos. Agora, ausente, esta mos empobrecidos, pois sentimos que, com ele, foi-se algo de nós. Consola-nos saber que nos levou consigo.

Falei quase nada do que Ro salvo foi. Beth falaria muito mais. E eu não negaria nada.

É triste, mas morreu-nos Ro salvo.

*Professor aposentado da UFSJ, membro da Academia de Letras de São João del-Rei.

Missa pelo sétimo dia da morte de Rosalvo Gonçalves Pinto aconteceu no dia 14 de no vembro, na igreja de Santa Isabel, no bairro Campo de Ourique, de Lisboa (Portugal), por iniciativa do seu irmão João Bosco Pinto Lara, o João do Goes, e de sua es posa Maria da Conceição Lopes Noronha. Na mesma, em Resen de, norte de Portugal, o padre e escritor Joaquim Correia Duarte lembrou a alma de Rosalvo em missa na paróquia da freguesia de Anreade.

Tanto o padre Joaquim quan to a cabo-verdiana Cecília Costa Martins e sua filha Florbela, estas descendentes de José de Resende Costa (filho) na cidade da Praia, capital do Cabo Verde (África), manifestaram pesar pela morte de Rosalvo e enviaram abraço de conforto à família.

João do Goes destacou a sua proximidade com Rosalvo, “o meu Losa”, a quem considerava, mais do que irmão, “meu segun do pai, meu amigo, meu compa dre, meu companheiro de sempre, meu parceiro em muitas e muitas coisas da vida, talvez as melhores da minha vida, e até meu cúm plice em muitas aventuras e pe

raltices engraçadas, muitas delas ninguém sabe!” Disse que se sen tiu triste por não estar junto dele na despedida, “mas confortado porque nós sabemos, ele e eu, o quanto fomos amigos, compa nheiros e cúmplices vida afora”. Destacou ainda a “grande heran ça familiar” deixada por Rosalvo nas pessoas de “Beth, Daiato e Cacau”.

Este jornalista compareceu à missa de sétimo dia de Rosalvo Pinto, de quem era amigo. Rosal vo foi seu professor de inglês no seminário salesiano e o responsá vel pela sua ida para o Jornal das Lajes.

JORNAL DAS LAJES • PÁG. 5 ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022
Rosalvo e André Eustáquio representando o Jornal das Lajes na Semana de Jornalismo da UFSJ João Bosco, irmão do Rosalvo, e sua esposa Conceição, em Lisboa
Rosalvo foi lembrado em Lisboa e Resende, Portugal JOÃO MAGALHÃES
HOMENAGEM Foto: José Venâncio Foto: Marcius Barcelos

Senac

em

e Turismo da

Entre eles, R$290 mil de recursos estaduais vindos do Projeto Reviva.

da

Na quarta-feira, dia 09 de no vembro, no Hub.S, em Tiradentes, foram realizados o Senac Talk e o al moço com prefeitos e secretários dos municípios integrantes do Circuito Trilha dos Inconfidentes. O evento contou com a presença do Subsecre tário de Estado de Turismo, Sérgio de Paula e Silva Júnior. Sérgio refor çou a importância da aproximação das cidades com o estado e se mos trou à disposição para novos proje tos com os 26 municípios da região do Circuito Trilha dos Inconfidentes. No ano de 2022, a região, através do Circuito Trilha dos Inconfidentes, conquistou importantes recursos.

O presidente do Circuito e Pre feito de Ritápolis, Higino Zacarias, agradeceu a parceria dos prefeitos e fez um balanço positivo das ações executadas ao longo do ano. Thiago Fonseca, bacharel em Turismo pela UFMG, ministrou a palestra “Tecno logia e Hospitalidade: Qualificando a experiência do viajante”, fechan do o evento. O almoço foi servido pelo SENAC, em parceria com os recuperandos da APAC - São João del-Rei.

Participaram do encontro os prefeitos: Higino Zacarias, de Ri tápolis; Fúvio Olimpio, de Coronel Xavier Chaves; José Heitor, da ci dade de Nazareno; Heitor, de Con

ceição da Barra de Minas; Nilzio Barbosa, de Tiradentes; Alexandre Vivas, de São Tiago; Ronald Perei ra, de Lagoa Dourada; José Antônio Donato, de Santa Bárbara do Tu gúrio; Márcio Antônio Pinheiro, da cidade de Dores de Campos; e Mar celo Ribeiro, da cidade de Antônio Carlos.

Também estiveram presentes secretários de Turismo e Cultura e representantes das cidades de An tônio Carlos, Carandaí, Carrancas, Conceição da Barra de Minas, Co ronel Xavier Chaves, Desterro do Melo, Dores de Campos, Nazareno, Resende Costa, Ritápolis, São João del-Rei, Santa Bárbara do Tugúrio, Santa Cruz de Minas, São Tiago e Tiradentes.

“Musicalizar crianças dos 3 aos 12 anos de idade através de au las coletivas de violino.” Esse é o principal objetivo do programa de extensão Pequenos Grandes Violi nistas (PGV), do Departamento de Música da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que aten de, atualmente, cerca de 30 alunos que têm aulas em São João del-Rei e em Tiradentes, através da Ação Cultural do Festival Artes Vertentes. “Ao mesmo tempo, queremos que esse aprendizado sirva à formação integral das crianças”, diz Sofia Le andro, professora de violino do Cur so de Música e vice-coordenadora do PGV.

No seu primeiro ano, em 2019, como projeto voluntário e ramifi cação da ação de extensão “Educar Para Preservar” (coordenada pelo professor Modesto Flávio Chagas Fonseca), oferecia, semanalmente, aulas presenciais no CTAN-UFSJ. Cerca de 40 crianças passaram por essas aulas e se apresentaram em concertos no Conservatório Esta dual de Música e na Creche Celina Viegas, em São João del-Rei, e na Escola Estadual Luzia Ferreira, em Santa Cruz de Minas.

Com a pandemia, as ativida des presenciais foram suspensas em 2020, conta Sofia. E “as aulas em formato remoto foram retoma das somente após um período de aprofundamento dos estudos e dis cussões sobre o ensino coletivo de

instrumentos, realizado em parceria com a Orquestra de Cordas da Uni versidade Federal de Lavras”. Nesse mesmo ano, o projeto foi aprovado pelo Programa Institucional de Bol sas de Extensão da UFSJ.

Em 2021, o projeto trans formou-se em programa e firmou parceria com a Ação Cultural do Festival Artes Vertentes. E, com a volta das aulas presenciais em 2022, o PGV participou de três concertos juntamente com as demais ações de ensino musical da Ação Cultural. O primeiro foi no Museu da Liturgia, em Tiradentes; o segundo, no Fes tival Inverno Tiradentes Cultural; e o terceiro, no Inverno Cultural da UFSJ.

Sofia destaca, ainda, a partici pação do PGV na organização do VI Encontro de Cordas Flausino Valle, que aconteceu entre 12 e 15 deste mês, como parte da Semana Acadê mica do Curso de Música. Além de apresentação especial na abertura do evento, os alunos integraram a Or questra de Iniciantes, com ensaios e o concerto de encerramento.

OFERTA INOVADORA

Segundo Sofia, “a formação de violinistas desde a mais tenra idade pode, a longo prazo, contribuir para manter vivas as tradições musicais são-joanenses, ligadas aos rituais religiosos”. Ela enfatiza o papel de mais de uma dezena de professores, entre voluntários e bolsistas, que já atuaram no PGV. “Esses professores são graduandos do Curso de Música da UFSJ, matriculados na ênfase em instrumento/violino. Assim, o PGV

se configura como uma oferta inova dora para a comunidade da região, já que não há mais nenhum programa de ensino coletivo de instrumentos voltado para idades tão baixas.” Ao mesmo tempo, “é um campo de ex periência para futuros profissionais do ensino musical”.

Com vistas à formação inte gral das crianças, diz Sofia, a ideia é “proporcionar um ambiente de aprendizado adequado às faixas etárias dos alunos, respeitando e valorizando os ritmos, interesses e ideias de cada um; promover diálo gos dentro da relação triangular pro fessores-alunos-famílias, ampliando e reforçando o papel da família na educação das crianças; e cruzar a educação musical e as várias áreas do desenvolvimento da criança atra vés de atividades de musicalização, socialização, criação e expressão ar tística”. Outro objetivo é “contribuir para a formação profissional dos alunos da Licenciatura em Música e para que crianças e famílias passem por experiências ligadas à perfor mance musical”.

ROTINA

As aulas do PGV são coletivas e gratuitas, com frequência semanal. As turmas são distribuídas de acordo com a idade e nível de domínio do instrumento, em períodos de 30 a 45 minutos. Além das aulas coletivas em grandes grupos, há horários para atender grupos menores de alunos que demonstrem interesse e dispo nibilidade para aprofundar seus es tudos de violino, sempre respeitando os critérios de agrupamento por ní

vel e idade.

“O repertório trabalhado e a forma como é abordado visam à integração de todas as turmas nos momentos de performance organi zados ao longo do semestre”, relata Sofia. “Também visam à interação entre o PGV e outros coletivos ins trumentais, nomeadamente o Coro VivaVoz, o grupo de Musicalização da Ação Cultural do Festival Artes Vertentes e a Orquestra de Cordas da UFLA (Universidade Federal de La vras), que são os nossos parceiros.”

Ao longo das aulas, são incor porados elementos lúdicos, como jogos de socialização, danças e ou tras brincadeiras, acrescenta a pro fessora. “Esses elementos podem estimular não apenas o diálogo entre crianças e adultos, mas também con tribuir para o amplo desenvolvimen to musical e social dos alunos. Atra

vés

crianças

COMO PARTICIPAR

Quem quiser participar do PGV deve inscrever-se através de formu lário eletrônico e ter disponibilidade dentro dos horários ofertados. “Du rante um tempo, após a pandemia, mantivemos aulas on-line para con tinuar atendendo alunos que eram de cidades mais distantes, inclusive Resende Costa. Mas, pela fraca assi duidade dos alunos nas aulas online, decidimos manter somente as aulas presenciais”, finaliza Sofia.

YouTube do PGV: https://www. youtube.com/pequenosgrandesvio linistas

Instagram: @pequenosgrandes violinistas

das brincadeiras, as são chamadas a participar criativamente na construção dos arranjos.”
PÁG. 6 • JORNAL DAS LAJES ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022
Marcus Januário, gestor do Circuito Trilha dos Inconfidentes e o prefeito de Ritapólis e presidente da Trilha, Higino Zacarias O evento contou com a presença de secretários de Cultura e Turismo da região das Vertentes Alunos do projeto Pequenos Grandes Violinistas Fotos:
Thais Andressa
Talk
Tiradentes reúne 17 representantes
Cultura
região “Pequenos Grandes Violinistas”, um programa inovador nas Vertentes
VANUZA RESENDE JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE Cultura
Almoço realizado pela Trilha dos Inconfidentes contou com a presença no Subsecretário de Estado de Turismo

Encontro de Bandas de Resende Costa chega à sua nona edição em 2022

No dia 23 de outubro, domin go, aconteceu o Encontro de Bandas de Resende Costa, que, neste ano, chegou à sua nona edição. Ao todo, 6 bandas participaram do evento: Banda Municipal Santa Cecília (Resende Costa), Lira São Sebas tião (distrito de Jacarandira – Re sende Costa), Banda Sinfônica do Santuário do Matosinhos (São João del-Rei), Corporação Musical São Sebastião (Santa Cruz de Minas), Associação Musical Santo Antônio (Lagoa Dourada) e Corporação Mu sical Santa Cecília (Madre de Deus de Minas).

O evento foi promovido pela AMARC (Associação dos Músicos

Amadores de Resende Costa), com apoio da Prefeitura Municipal, atra vés da Secretaria de Turismo, Arte sanato e Cultura.

O IX Encontro de Bandas ini ciou-se com os desfiles das bandas, durante a manhã, em direção à Pra ça Coronel Souza Maia (Praça do Rosário), onde foi formado o famo so bandão. Todos os músicos jun tos entoaram o Hino Nacional, sob a regência de Ronaldo Medeiros, maestro titular da Banda Sinfônica do Santuário do Matosinhos. Sob a regência de Kessin Ângelo, maestro de Madre de Deus de Minas, o ban dão executou tradicionais dobrados e saiu em desfile.

Na parte da tarde, as bandas fizeram suas apresentações indivi duais no Mirante das Lajes, com a presença de um numeroso e caloro so público.

Clausiney Alexandre de Resen de, o Kaney, presidente da AMARC (Associação Musical Amadora de Resende Costa) e percussionista da Banda Santa Cecília, falou sobre a realização do Encontro de Bandas de Resende Costa, após dois anos sem acontecer, devido à pandemia de Covid-19. “São de extrema im portância os encontros de banda. Podemos reencontrar grandes ami gos e compartilhar experiências, além de conhecer novas cidades e

mostrar para todos os grandes ta lentos que nossa cidade tem. Nesse IX Encontro de Bandas de Resende Costa, uma das maiores novidades foram as apresentações individuais das bandas no Mirante das Lajes, um lugar maravilhoso, que nos deu o luxo de, no final do encontro, en cerrarmos com um lindo pôr do sol. Um lugar espaçoso, onde, de vários ângulos, todos podiam assistir às apresentações. ”

Kaney também comenta como é fazer parte da organização do evento e destaca a participação do público durante as apresentações individuais. “Eu, como presidente da AMARC, tive o prazer de fa

zer parte da organização de todo o evento. Trabalhamos muito, mas, no fim, vimos que valeu a pena tanto esforço e dedicação de toda equipe organizadora do encontro. Apesar dos vários eventos no mesmo dia e horário, como, por exemplo, a Festa da Família (Domingo no Parque) no Parque de Exposições, tivemos um grande público, especialmente na Praça do Rosário, onde as bandas tocaram o Hino Nacional e de onde saiu o bandão em direção à Escola Estadual Assis Resende. À tarde, um grande público prestigiou as apresentações individuais das ban das no Mirante das Lajes. Todos pu deram cantar, dançar e se emocionar com as bandas.”

“As Mãos de Minha Mãe”, de Evaldo Balbino

Na sexta-feira, 21 de outubro, aconteceu no Centro de Conven ções Lilia Lara, da Escola Munici pal Conjurados, o lançamento do livro “As Mãos de Minha Mãe”, do professor, escritor e poeta resende -costense Evaldo Balbino.

LIVRO

Em conversa com o JL, Eval do contou como surgiu a ideia de escrever um livro em homenagem à sua mãe, dona Laura, que faleceu no início deste ano. “A ideia do li vro surgiu após o falecimento de minha mãe, em maio de 2022. Na verdade, na minha ficção, ou seja, nas reconstruções que faço da vida, minha mãe sempre esteve presen te. Sempre foi recriada nas minhas palavras, como toda a vida que se recria no ato da escrita literária. Daí juntei crônicas que eu já tinha es crito em homenagem à minha mãe, boa parte já publicada nos livros “Móbiles de areia” (2012), “Apesar das coisas ásperas” (2016) e “Geo grafia entre brumas (2022), e algu mas outras publicadas no Jornal das Lajes, em 2021 e 2022, e no Jornal Linguagem Viva, de São Paulo, em 2022. Um livro de crônicas, todo ele sobre minha mãe (tendo-a como fi gura central), veio à tona, pois, após a perda da presença física da minha genitora neste plano terreno.”

O escritor fala também fala sobre o processo da escrita, ou seja, quando começou a elaborar a home

nagem à sua mãe. Momentos de his tória e de lembranças. “O que temos no livro, na verdade, são fragmentos da ‘história’. São momentos da vida de minha mãe conosco recriados. Sempre deixo as lembranças flu írem e as vou organizando no ato da escrita. Escrever é busca de es trutura para o que não tem estrutura certa, ou seja, para a vida. Com o fa lecimento de minha mãe, pensei sim na estrutura do livro como um todo, na organização dos textos dentro da brochura. Mas eles não compare cem na obra seguindo rigorosamen te a cronologia em que foram escri tos e publicados em jornal. Para o livro, pensei em uma estrutura, que culmina com um ‘Canto de louvor à minha mãe’”, diz Evaldo.

Além disso, ele fala como é ter sua mãe como sua maior fonte de inspiração. “Para mim, minha mãe foi, é e sempre será uma dádiva. Com tanto amor e tanta dedicação a nós oferecidos por ela, não há como não amar infinitamente sua presença entre nós. Presença sempre eterna. Minha mãe sempre gostou de contar histórias, ouvi-las e lidas. E, claro, ela as recriou no ato de contá-las. Aprendi esse amor pelas palavras e pelo contar com ela.”

Rememorar fatos e reviver lembranças. Evaldo conta como foi trabalhar com os sentimentos. “Lembrar é bom, mas a saudade dói. Escrever, então, passa a ser uma busca de presentificação daqui

lo que nos falta. No caso das crôni cas deste livro em específico, a difi culdade se deu na escrita dos textos “Miserere” e “Canto de louvor à mi nha mãe”. Dificuldade não da escri ta em si, mas em relação à dor pela perda recente de minha mãe. Foi da dor agudíssima que nasceram esses dois textos que arrematam o livro.”

Evaldo Balbino já planeja ou tro lançamento em homenagem à sua irmã caçula, falecida neste ano. “Projeto no mesmo sentido sim. Te nho uma série de crônicas, já publi cadas no Jornal das Lajes, sobre al guns de meus antepassados e sobre minha irmã caçula, Aline Tamires, falecida mais recentemente (agosto de 2022). Pretendo reorganizar es ses textos num livro.”

O AUTOR

Evaldo Balbino é poeta e es critor, natural de Resende Costa. É licenciado em Letras, Mestre em Literatura Brasileira e Doutor em Literatura Comparada pela Uni versidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde é professor de Por tuguês no Centro Pedagógico, pes quisador de literatura e professor do Mestrado Profissional em Letras (na Faculdade de Letras). Tem Pós-dou torado em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP) em 2017. É membro e atual presi dente da Academia de Letras de São João del-Rei (ALSJDR).

JORNAL DAS LAJES • PÁG. 7 ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022
ACONTECEU Por Vitória Cristina
Uma homenagem à dona Laura
O encontro recebeu corporações musicais de cidades da região
Banda de Música Santa Cecília, de Resende Costa, sob a regência do maestro Luiz Carlos Martins Júnior
O escritor
exemplares do livro durante
Membros da Comissão Organizadora do Encontro de Bandas. No centro, o prefeito licenciado de Resende Costa, Zinho Gouvea
Evaldo Balbino autografou
lançamento em Resende Costa
Fotos: Vitória Cristina
Evaldo Balbino com as amigas Ana Cintra, Terezinha, Elzi Reis e Regina Coelho

Festa do Rosário: religiosidade, cultura e tradição

A Festa de Nossa Senhora do Rosário é uma importante celebração da fé e da valorização da cultura po pular em Resende Costa. De acordo com o calendário da Igreja Católica, Nossa Senhora do Rosário é celebra da no dia 7 de outubro; mas em Re sende Costa, a solenidade, com a par ticipação dos congados e procissão, acontece, anualmente, no primeiro domingo de novembro. A festa é uma das mais tradicionais na região do Campo das Vertentes e uma das prin cipais atrações do calendário cultural de nosso município. A celebração é conhecida também pelas barracas populares que ocupam a rua José Co elho e parte do Largo do Rosário.

Neste ano, a Festa do Rosário aconteceu entre os dias 3 e 6 de no vembro e, no Dia Maior, domingo (6), contou com a participação de grupos de congados de diversas ci dades, que vieram até Resende Costa para homenagear Nossa Senhora. “A Festa de Nossa Senhora do Rosário é uma das mais tradicionais manifes tações da cultura e da religiosidade de Resende Costa. Trata-se de uma celebração religiosa que traz consigo a preservação e divulgação das ricas tradições do congado. A Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Turismo, Artesanato e Cultura, in centiva e apoia a festa justamente por acreditar na importância dela para a

cultura resende-costense”, declarou o secretário de Turismo, Artesanato e Cultura, André Eustáquio. “Após dois anos sem realizar a Festa do Rosário, devido às restrições im postas pela pandemia de Covid-19, neste ano voltamos. Avalio que foi uma festa muito bonita, com grande público e, o mais importante, com a participação de mais de 20 ternos de congado. Um sucesso!”, completou.

TRADIÇÃO

Jorge, membro da Comissão Organizadora e do Congado São Be nedito, atuante há mais de 20 anos na organização da Festa do Rosário, destacou a importância de se manter a tradição. “A gente sempre a man tém essa tradição porque ela é cente nária. Eu ajudo na sua preservação, lembrando-me dos meus avós. Venho continuando de geração em geração. Eu participo desde os meus 6 anos de idade. Já fui príncipe, capitão e hoje continuo sendo capitão e carregando essa tradição tão significativa.”

O capitão Jorge, que tem como parceiro na organização da Festa do Rosário o Antônio “carvoeiro”, fala também sobre o grande movimen to do comércio popular. De acordo com ele, neste ano as barracas atra íram ainda mais gente devido aos dois anos sem a realização da Festa do Rosário por causa da pandemia. “Um pouco de dificuldade com as coisas, mas a gente conseguiu. Gra ças a Deus, deu tudo certo. Tivemos

muitas visitas, acho que em torno de 7 mil pessoas estavam presentes para assistir aos congados e acom panhá-los. O movimento aumentou bastante. Bem cedinho, no domingo, já havia pessoas de fora da igreja do Rosário esperando as apresentações dos congados. Mesmo depois da pandemia, esse ano tivemos 28 con gados que vieram participar,vindos de diversas cidades da região.”

“Quero parabenizar a comissão organizadora da festa pelo incansá vel trabalho. Reiteramos que deseja mos que a Festa de Nossa Senhora do Rosário cresça a cada ano, sempre se fortalecendo como importante mani festação cultural e religiosa do nos so povo. É neste sentido que vamos apoiá-la, reconhecendo o seu valor histórico, religioso, cultural e popu lar”,concluiu André Eustáquio.

RELIGIOSIDADE

Dom José Eudes Campos do Nascimento, bispo da Diocese de São João del-Rei, esteve presente na festa e frisou a importância de se cultivar a religiosidade e preservar as tradi ções, os grupos de Congado e Mo çambique. “Como bispo, eu dou um grande valor a esses grupos e tenho pedido que eles sejam valorizados e respeitados. Hoje, poder participar desse evento em Resende Costa e ver esses grupos de diversos lugares da região das Vertentes homenageando Nossa Senhora do Rosário é muito bonito. Parabéns aos organizadores!”

De olho na cidade

A Congada na festa do Rosário em Resende Costa

A festa do Rosário é tradição em nossa cidade. É possível que ela venha sendo realizada aqui desde o nas cimento do Arraial da Laje, ocorrido em 1749. A origem dela, no Brasil, remonta a sé culos passados, mais precisa mente por volta de meados do século XVII, quando o tráfico negreiro começou a se tor nar mais intenso na Colônia. Caracterizada por danças e músicas, grupos se apresen tam cantando e tocando seus instrumentos de percussão e até violões ou acordeons. Entre eles, desfila um casal que faz referência histórica à coroação de reis e rainhas do país africano do Congo ou de Moçambique. Além de Nossa Senhora do Rosário, há home nagens à Santa Ifigênia e São Benedito, ambos negros. Ano após ano, vimos inú meros grupos de cidades vizi nhas que se juntam aos nossos para a festa. Antes mesmo –na hora do almoço oferecido a todos na Escola Municipal Conjurados Resende Costa –haviam chegado à cidade 22 deles. Um, da cidade de Con gonhas, participa ininterrup tamente da festa há 42 anos. E assim fazem outros que se sentem felizes em nos brin dar com suas apresentações, louvar Nossa Senhora do Rosário, a padroeira dos con gadeiros, que dá nome à fes ta, a qual se caracteriza pela presença marcante de negros, os principais responsáveis por ela.

Há o que ser destacado nesse evento: a participação de crianças nos grupos, o nú mero expressivo de mulheres e o comando de um homem mais velho, na liderança dos congados. É aquele que se incumbe de cantar louvores à Nossa Senhora para ser res pondido pelos demais com ponentes do grupo, que tem à frente uma pessoa – geral mente uma mulher – a quem cabe exibir uma bandeira ou estandarte com imagem de uma santa ou santo católicos. É comum ver pessoas se incli nando e beijando essas ima gens nessa forte manifestação da identidade negra em nosso país.

A encenação das conga das é um grande espetáculo. Pela cidade, e mais precisa mente na Praça do Rosário, grupos se emparelham e nos brindam com suas performan ces. A imensa superposição de sons, ritmos e cores nos encanta. Em certo momento, todos param para assistir à breve apresentação de cada congado diante de palco mon tado, quando recebem certifi cado de participação e agra

decimento de nossa parte. É o momento ideal para todos serem fotografados, filmados e aplaudidos pela multidão.

Alguns fazem seu show à parte. Nesse momento, não podemos deixar de destacar o ótimo grupo Moçambique Nossa Senhora Aparecida, da cidade vizinha de Passa Tem po. Bem preparado e equipa do, é um dos melhores que nos visitam todos os anos. Desta cou-se, também, um garotinho que subiu ao palco para nos cativar ao tocar seu tambor e cantar. Ali estava assinalada como se dá a perpetuação des ses conjuntos quando os mais velhos trazem para perto de si aqueles que um dia os subs tituirão na função de manter vivo esse forte componente cultural do nosso país.

Coube ao Congado São Camilo de Léllis abrir a festa dos congadeiros. Este con gado foi criado há 12 anos, aproximadamente, por Renato Rodrigues dos Santos (42), cuidador de idosos, desde que começou a trabalhar na Casa de Repouso São Camilo de Léllis, de Resende Costa. Segundo Renato, os idosos amam a festa, visto que, ao longo de suas vidas, sempre a apreciaram e participaram dela. Apoiados pela Irmã Cir lene, responsável pelo Lar, eles contam com a ajuda de funcionários e voluntários que os acompanham até em via gens para outras cidades. Al gumas das músicas que can tam são de autoria do próprio Renato, outras do Vino Mar ciano, congadeiro de prestígio da cidade. Quem se apresen tou como rei foi o senhor An tônio, com 86 anos de idade, e dona Inácia, a rainha, que completou 101 anos de vida. Todos, esbanjando felicidade, são retratos vivos da força que tem essa festa.

Engana-se quem pensa que tal manifestação cultural, artística e religiosa está em decadência. Ao contrário, per manece muito forte. O povo gosta; pelo menos, é o que de monstram os que participam dela em Resende Costa, sejam eles turistas ou do lugar.

PÁG. 8 • JORNAL DAS LAJES ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022 ESPECIAL
A Festa do Rosário reúne tradição, religiosidade e Cultura Música, fé, ritmo e tradições em homenagem a Nossa Senhora do Rosário Rei e rainha na Festa do Rosário A festa reuniu grande público e diversas bandas de congado na praça do Rosário Congados se apresentaram na Praça Coronel Souza Maia, em frente à igreja do Rosário
Fotos: Vitória Cristina

A teia do mundo

Casei-me com a garota do telemarketing

No começo, até que era divertido. Ele já não preci sava mais ficar fantasiando sobre quem estaria do outro lado da linha. Agora, a ga rota do telemarketing almo çava em sua mesa e dormia em sua cama. Ele tinha uma garota do telemarketing so mente pra ele.

O início do conúbio foi casual. Ela ligou e ele aten deu. O papo foi rápido, com ofertas da parte dela e re cusas da parte dele. Numa outra vez, a conversa andou um pouco mais. Ele acabou comprando o que ela ofere cia.

Do casual, passou pro comercial. Do comercial a coisa descambou pro pesso al, do pessoal pro emocional, do emocional pro sexual, do sexual pro conjugal. E aí, já estavam amarrados um no outro, mesmo sem fio.

Antes de se juntarem, era aquele “Bom dia, se nhor!” pelo telefone. Tão maquinal quanto abraço de político. Pois você acredi ta que, embora estivessem casados e morando juntos, ela não perdia a entonação? Com aquela melodia irritante de quem quer obrigar a com prar qualquer coisa que não é necessária, a garota dizia pra ele todo dia: “Bom dia, se nhor!...” “Te amo, senhor!...” “Vem pra cama, senhor!...” “Estou quase lá, senhor!...”

Ele achava isso a coisa mais sexy do mundo.

No Dia dos Namorados ele dava flores pra ela. E era aquela coisa de sempre:

– Obrigado por ter se lembrado, senhor! Assim que possível, estarei dando o retorno, senhor. Palavras e atos amorosos estarão sendo enviados à sua pessoa, se nhor. Caso o senhor queira mais carinhos, pode estar solicitando por aqui mesmo. Os meus sentimentos agra decem a sua atenção. Tenha um bom dia, senhor!

Sua musa era a diva do gerundivo. Uma gerundiva!

Porém, não é só forma tura de jardim de infância que enjoa: o casamento já começava a dar alguns sinais de desgaste. Ela ainda man tinha aquela entonação de boneca a pilha. No entanto, as frases... “Agora não, se nhor!... Estou com dor de ca beça, senhor!... Aguarde um minuto, senhor!...”

Que saco! Se soubesse, teria se casado com uma bo neca inflável versão robô.

– Mais alguma dúvida, senhor?

O negócio ficou insu portável quando, numa noi te, ali deitados um ao lado do outro... De repente, rolou um clima. Ele, então, tratou de investir sobre ela:

– Agora não, senhor. No momento, meus canais estão todos ocupados, senhor.

Assim também não! Se os canais dela estavam ocu pados, o negócio era tomar cuidados com os ramais dele. Você sabe, ramais, ramagem, galhada, galhos...

Estão separados. Já pen sou se o conúbio virasse cor núbio?

Contemplando as palavras

Eterno Maluquinho

Nascido em Caratinga (MG), recém-completados 90 anos em 24 de outubro último, Ziraldo Alves Pin to está recluso, com a saú de bastante debilitada. De acordo com a família, por ordens médicas, Ziraldo não mais concede entrevistas, justamente ele, sempre tão falante.

“Vocês podem achar que eu estou um pouco tris te, falando devagar, porque não é meu estilo. Acontece que eu, de repente, fiquei velho. Foi outro dia. Eu acordei de manhã e estava velho. Mas eu estou alegre, estou feliz da vida”, disse ele, usando um de seus in separáveis coletes, em um vídeo gravado em 2019 para a divulgação de uma expo sição realizada à época em sua homenagem.

Solicitado agora a falar sobre esse genial artista, en tre outros elogios ao mestre, o quadrinista Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica, ressalta que “Ziral do diz que o mais importan te é ler. Mas para que isso aconteça, cada vez mais é preciso ter autores como ele para arrebatar milhões de crianças leitoras”, dese jando ao amigo e colega de profissão “90 anos de sorri sos e muito mais”.

Com mais de 200 li vros publicados, Ziraldo é um incontestável fenômeno editorial. O Menino Malu quinho (1980), um de seus best-sellers, ganhador do Prêmio Jabuti em 1981 pela Câmara Brasileira do Li vro, na categoria Literatura Infantil, acumula números impressionantes: 18 edi

ções, 135 reimpressões e já vendeu mais de 4,1 milhões de exemplares. Sua obra é também um sucesso de crí tica, com o reconhecimento unânime de seu grande va lor artístico.

Segundo Leonor Wer neck dos Santos, professo ra na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ziraldo “deu um grande im pulso à literatura infantil no Brasil, trouxe a literatura in fantil para um lugar de des taque, inclusive academica mente”. E acredita que isso se deu por um conjunto de fatores, como a criatividade, a atualidade dos temas, a “linguagem que toca fundo no leitor de todas as idades, o traço e o projeto gráfico que parecem tão simples mas são cuidadosamente pensados e dialogam com a proposta de cada livro”.

Da combinação do nome da mãe, Zizinha, com o do pai, Geraldo, surgiu o nome Ziraldo, que se tornou sinônimo de talento para o caricaturista, cartunista, chargista, jornalista, escri tor, pintor e ilustrador que, por volta dos 6 anos, teve já um de seus desenhos publi cados no jornal Folha de Mi nas. Ao longo de sua multi facetada carreira, trabalhou em importantes veículos de comunicação do país, sendo um dos fundadores do jornal O Pasquim (1969 - 1991), célebre semanário de humor e resistência ao regime mi litar.

Ainda em 1960, foi como artista gráfico que esse mineiro, hoje nona genário, realizou o sonho infantil de se transformar

num autor de histórias em quadrinhos e ver publicada a primeira revista brasileira do gênero feita por um só autor, a Pererê, rebatizada mais tarde como A Turma do Pererê, um marco na trajetória dos quadrinhos no Brasil e um grande feito para o compulsivo leitor e desenhista desde a infância.

O criador do persona gem Maluquinho – uma criança que vive com uma panela na cabeça, meni no alegre, sapeca, cheio de imaginação, que adora aprontar e viver aventuras com os amigos –, entre in contáveis e inesquecíveis personagens infantis ou não, deu vida também a Flicts (uma cor à procura de seu lugar no mundo), livro no qual usou o máximo de cores e o mínimo de pala vras. Por não ser tão forte quanto o vermelho, por não ter a imensidão do amarelo e nem a paz do azul, Flicts, que é feita de um bege ter roso, sente-se excluída das demais cores até descobrir que “a Lua é Flicts”.

Sustentada num simbo lismo atemporal, por isso mesmo atual ao falar de exclusão, essa obra foi ofe recida de presente pela Em baixada dos EUA no Brasil aos três primeiros astronau tas a pisar na Lua em 1969. Ano também de lançamento de Flicts. E da vinda de dois deles (Neil Armstrong e Mi chael Collins) ao país em outubro.

Aclamado e premiado aqui e no exterior, Ziraldo é a conjugação perfeita de traços e palavras a favor das artes e da educação.

JORNAL DAS LAJES • PÁG. 9 ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022
*JOSÉ ANTÔNIO OLIVEIRA DE RESENDE é professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Le tras, Artes e Cultura da Universidade Federal de São João del-Rei. Membro da Academia de Letras de São João del-Rei. E-mail: jresende@mgconecta.com.br

Lula somou mais de 550 votos de vantagens sobre Bolsonaro em Resende Costa

Vantagem também aconteceu na maioria das cidades da região das Vertentes

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito o novo presiden te do Brasil, em segundo turno, no domingo, 30 de outubro. A disputa foi a mais acirrada da história. O então candidato do PT sagrou-se vitorioso com 50,9% dos votos. E Jair Bolso naro (PL), o primeiro presidente da república a não se reeleger, ficou com 49,1%.

Em Resende Costa, o dia de votação correu dentro da normalidade. Segundo infor mações do Cartório Eleitoral da Comarca do município, o pleito do segundo turno foi bem mais tranquilo, inclusive quanto ao primeiro turno. As filas nas se ções eleitorais que se formaram no primeiro turno não foram registradas no dia 30. Sobre as urnas eletrônicas, assim como no primeiro turno, não houve necessidade de trocas em Re sende Costa.

EM RESENDE COSTA

Na cidade das lajes, o ce nário também foi de escolha por Lula. Jair Bolsonaro, can didato do PL, recebeu 3.386 votos (46,09%); Lula, 3.961 votos (53,91%). Brancos e nu los somaram 5,11%. Foram 119 (1,53%) votos brancos e 277 (3,58%) nulos. Já as abstenções fecharam em 1.623 (17,33%). No o primeiro turno, Lula já ha via sido o candidato mais bem votado na cidade, com 3.733 votos.

Ao longo da campanha no segundo turno, as discussões políticas ficaram calorosas em Resende Costa, seguindo o cli ma no país. Políticos do municí pio, entre eles, o prefeito licen ciado Zinho Gouvea; o prefeito em exercício Lucas Paulo e o ex-prefeito e candidato a depu tado estadual mais votado em Resende Costa, Aurélio Suenes, gravaram um vídeo declarando apoio ao atual presidente e can

didato a reeleição, Jair Bolsona ro.

No vídeo, divulgado no Instagram, os políticos, em sua maioria, usaram camisas com cores verde e amarela, fizeram críticas a gestões passadas do PT e declararam apoio ao candi dato derrotado do PL. Com a le genda: “de forma democrática e respeitosa, apresentamos nosso apoio à reeleição do Presidente Bolsonaro 22”, o vídeo dividiu opiniões com críticas e elogios ao apoio manifestado publica mente apenas no 2° turno das eleições. Após a divulgação do vídeo da base aliada do atual governo, vereadores da oposi ção também gravaram vídeos pedindo apoio ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

LULA VENCEU EM 8 DE 10 CIDADES DA REGIÃO

Minas Gerais manteve a tradição de ser o divisor de águas do resultado das eleições presidenciais no cenário na

cional. Concentrando 10% do eleitorado brasileiro, o estado mostrou que quem vence nas urnas mineiras também passa à frente nos demais estados do país. Desde a primeira eleição direta após a redemocratização, em 1989, que elegeu Fernando Collor de Mello (PRN), todo candidato que venceu em Minas Gerais ocupou a Presidência da República.

No segundo turno das elei ções 2022, o petista recebeu 50,20% dos votos válidos, con tra 49,80% de Jair Bolsonaro (PL), no segundo maior colégio eleitoral do país. O atual presi dente venceu nas três maiores cidades de Minas Gerais em número de habitantes: em Belo Horizonte, ele obteve 54,25% dos votos; em Uberlândia, ele alcançou 53,12%; e em Con tagem, 55,49%. Já no interior, o cenário foi o inverso e, com isso, a virada de Lula aconteceu já no final da apuração no esta do.

Lula foi o vencedor na

maioria das cidades do esta do. E na região do Campo das Vertentes também. Além de Re sende Costa, outras sete cidades mostraram preferência por Lula. Em Lagoa Dourada, Lula obte ve 50,05% dos votos válidos. A votação também foi apertada em Dores de Campos, com a preferência por Lula de 50,09% dos eleitores. Em Tiradentes, o candidato do PT recebeu 53,10% dos votos. São Tiago elegeu Lula com 53,73%. Em Barroso, Lula recebeu 59,58% dos votos. Já em Coronel Xavier Chaves o futuro presidente re cebeu 62,54% do total de votos válidos. Prados foi a cidade da região com maior diferença dos votos, com 63,18% dos eleitores votando em Lula.

Assim como no primeiro turno, na cidade de Santa Cruz de Minas Bolsonaro saiu vito rioso com 55,74% dos votos. O mesmo se deu em São João del-Rei, onde o atual presiden te recebeu a maioria dos votos (52,33%).

As repercussões da vitória de Lula da Silva em Portugal

Com uma diferença de pouco mais de dois milhões de votos (de um total de quase 124 milhões de eleitores), Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil em segundo turno, numa campanha que cho cou muitos portugueses pelo ódio, violência e linguajar utilizado. “A campanha foi tudo, menos o Bra sil alegre e feliz que conhecemos, apesar das dificuldades”, reagiu o analista internacional Paulo Portas, da emissora TVI. “Uma das campanhas mais violentas e divisivas de que há memória, que expõe o abismo que separa a sociedade”, completou o jornal Público

Algumas peculiaridades fo ram destacadas pela imprensa, para além da menor margem des de a redemocratização. “Nunca um ex-presidente havia conse guido voltar ao cargo, tal como nunca um chefe de Estado em funções tinha falhado a reelei ção”, escreveu o correspondente

do Público, João Ruela Ribeiro. Além disso, aos 77 anos, será o o mais velho a ocupar a presidên cia. Outro destaque é que o esta do de Minas Gerais, “barômetro das eleições presidenciais”, foi o único fora das regiões Norte e Nordeste onde Lula da Silva foi o mais votado.

Um país dividido e mais pobre, com dois meses de tran sição pela frente, um Congres so Nacional mais conservador a partir de janeiro e uma crise internacional grave por conta da guerra na Ucrânia. Esse é o cená rio que o novo presidente vai ter pela frente, segundo a cobertura das eleições brasileiras feita pela mídia portuguesa (TVs, jornais etc.) com ampla presença dos correspondentes, de enviados es peciais e de analistas em estúdio. Interesse que está em linha com a crescente imigração de brasileiros para o país nos últimos anos.

Divulgado o resultado final, a imprensa destacou o apelo à união nacional no discurso de Lula da Silva, que prometeu “trabalhar para a pacificação”; a mudez de Jair Bolsonaro, o que foge das

circunstâncias normais (“o presi dente derrotado teria ligado para mim reconhecendo a derrota”); e as manifestações de governantes de outros países, como Portugal, Estados Unidos, França, União Europeia e Rússia.

A ausência da guerra na Ucrânia dos debates e a priorida de em relação à América Latina e aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) mostram a prioridade de Lula no cenário internacional. É bom lembrar que a União Europeia e a OTAN (NATO) apoiam a Ucrânia contra a invasão russa. Por outro lado, a retomada da política de combate ao desmatamento na Amazônia e dos projetos de desenvolvimento sustentável soa como música aos ouvidos europeus.

O pós-eleição levanta mui tas questões, segundo o jornal Expresso. O que vai acontecer se Bolsonaro não reconhecer a derrota; qual será a influência do trumpismo no período de transi ção até a posse; como será a rela ção com o Centrão, um Congresso mais conservador e os governado res dos três mais importantes esta

dos. Além disso, existem pendên cias sobre a mesa, como o acordo entre União Europeia e Mercosul à espera de solução. Muita água ainda vai rolar debaixo da ponte, resume o jornal.

“TRUMP DOS TRÓPICOS”

Bolsonaro consolida-se como o “Trump dos trópicos”, na expressão usada pelo jornal Diá rio de Notícias. A polarização que aconteceu nos Estados Unidos é a mesma que está a acontecer no Brasil, reconheceu a ex-diploma ta e política Ana Gomes, comen tarista da emissora SIC Notícias

O fantasma do trumpismo foi enfatizado por analistas, com a possibilidade de um terceiro tur no nos dois meses que precedem à posse. E há o pressentimento de que a oposição ao futuro go verno promete ser dura, embora sejam reconhecidas a experiência e a capacidade negocial de Lula da Silva. O também experiente presidente da Câmara dos Depu tados, Arthur Lira, declarou que o resultado deve ser respeitado. “A vontade da maioria manifestada

nas urnas jamais deverá ser con testada e seguiremos em frente na construção de um país soberano, justo e com menos desigualda des.”

De qualquer forma, Lula da Silva vai encontrar um país bem diferente daquele que governou, segundo o Público. “Para além da profunda divisão social e de uma tensão que parece impossível de superar, o Brasil atravessa uma grave crise econômica e ambien tal.” Além disso, “a derrota não fez esmorecer o bolsonarismo, que consolida um domínio ter ritorial nos estados mais ricos e até conseguiu chegar ao poder em São Paulo. No Congresso, foram eleitos aliados importantes do Presidente ainda em funções que vão funcionar como porta-vozes privilegiados do bolsonarismo.”

Por fim, um analista lembrou, num dos programas de televi são no dia da eleição, que, mais uma vez, o Brasil vai depender da economia internacional, especial mente do desempenho da China, que se encontra em crise, com ní veis elevados de inflação e risco de recessão nos principais países.

PÁG. 10 • JORNAL DAS LAJES ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022
ELEIÇÕES 2022

Retalhos literários

As faces de Deus

Desde a minha meninice ouvi falar d’Ele. O Imenso, o Inabalável Pai que faz tremer o mundo. Os ecos ancestrais como lavoura arcaica, como terra antiga numa lavra inarre dável. Palavras do Pai escritas a fogo sobre pedras e a ferro na pobre cerviz humana. E esta po bre nuca, considerada dura pe las palavras duras de profetas, sempre se dobrando sob força tanta.

É desse narrar antigo que escuto vozes de trovão. Ouço vozes de muitas águas tor mentosas. Vejo a nudez huma na execrada, o perambular de Caim pela Terra, os corpos nau fragando os desejos no grande dilúvio. Sinto o abandono de Agar e seu filho no deserto, as mãos do pai Abraão quase imolando o filho ingênuo. Pre sencio Jacó roubando a proge nitura do irmão Esaú e pagando caro por isso. Testemunho José sendo vendido pelos irmãos, Jó sofrendo dores inomináveis, Jonas aflito no ventre do grande peixe. Assisto a homens e mu

lheres e crianças sendo ceifados em nome duma fé dura e irre corrível...

Até mesmo depois da Gra ça maravilhosa do Cristo, ainda ouço a voz de João em Patmos, as bestas do Apocalipse: uma emergindo do mar e outra da terra. Olho com ouvidos dolo rosos e amedrontados os selos se abrindo, vejo anjos e homens parecendo animais, escuto as pragas de antanho erguidas de novo e para sempre sobre toda a humanidade perdida em si mesma...

Durante anos a fio fui carre gando tudo isso, e as costas me doíam com peso tão insuportá vel.

No meio de tudo, porém, fa chos de luz!

Palavras de amor, cantos de glória, mares se abrindo, ho mens sendo jogados em forna lha de fogo ardente e dali sain do ilesos, bocas de leões sendo fechadas perante um homem de Deus, o sol retrocedendo em prol daquele que clama, a viú va sendo agraciada e amada no

De um ponto de vista

campo, o amor sendo elevado eroticamente nos cantares de muito amar. Cheguei e chego, ouvindo os salmos de louvor, a amar Davi no seu abraço dolo roso em Jônatas, os dois sofren do as dificuldades da vida, Davi chorando a morte inabalável do companheiro.

Dos fachos de luz, os olhos de Jesus. Eles próprios, os olhos, a própria luz em nós descida. O Deus fazendo-se ho mem, sentindo na carne o que é ser carne, chorando e rindo, comendo e bebendo, louvando e vociferando. O que anda entre humildes e não humildes, o que busca cada ovelha sem olhar sua cor e sua forma. Tudo é ove lha perante os olhos do pastor amoroso. Até pedras clamam, o deserto rebenta em flores, a ro cha jorra leite e mel, os braços se tocam e sentem a doce vida em cada poro.

Entre leis pesadas (intratá veis mesmo) e o doce olhar do Deus humano, vim seguindo a senda da vida, vim aprendendo a viver da melhor forma possí

vel. Mas sempre dividido, preso a uma geometria e livre numa imensidão sem fim. Cercado de furores e entregue a amores.

Depois, certa feita, um fiat lux, uma luz acesa! Eu escrevia o último capítulo de minha dis sertação de mestrado. E era so bre a presença de Deus na obra da poeta mineira Adélia Prado. Lendo teorias e teólogos, con templando poemas e os anali sando com afinco e afeição, de repente se me revelou a dádiva, o olhar de Deus para o meu cor po pouco e ao mesmo tempo tanto: o conceito de representa ção me atravessou por inteiro. E desde então, apesar de tanta coisa triste, vi que a vida é mais feliz do que eu pensava. Demo rei mais de vinte anos para en tender tudo isso! Ao término do meu mestrado, a lucidez.

Tanta claridade (esse brilho necessário, o fulgor mesmo de Deus) cintilou em mim. E a par tir daí passei a cantar com mais afinco a canção que diz dos ga lileus olhando tanto para o céu e buscando ali a pessoa de Jesus.

E a resposta ímpar nos ouvidos de quem procura: esse mesmo Jesus que procurais há de vir as sim como para o céu o vistes ir. E assim, amado, me sinto nos braços divinos, nos braços daquele sobre quem o mesmo João do Apocalipse chegou a escrever em seu Evangelho: “Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou -os até ao fim”. Esse mesmo e sempre João que registrou um único mandamento: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis”.

Agora, permanecido no amor divino, não me armo e amo a todos. E as faces de Deus ficaram tão simples, pois sei que não passam de retratos que as mãos humanas pintam. Toda palavra tem o rosto de quem a profere. Assim sentindo, mais do que pensando, continuo mer gulhado em amor tão fundo e me sinto frutificando para sem pre. A videira verdadeira flores ce em nós.

O primeiro compromisso de Minas

Um colunista como eu não pode se omitir em dias como esses que vivemos, anteriores e posteriores à eleição em se gundo turno. Vimos e pudemos constatar um Brasil rachado ao meio, bem ao meio. Não é isso o que se pede de um processo eleitoral. Opiniões diversas são saudáveis num processo demo crático. Opiniões antagônicas são toleráveis também, como expressão da vontade popular. Insuportável, todavia, não foi e não é nada disso. Outras ocor rências é que quase me trau matizaram por incríveis, por inacreditáveis, por jamais terem sido vistas anteriormente nesse nosso Brasil

Como posso dormir – pior! – ficar acordado com palavras e posturas mais ou menos deste

jaez: não se pode admitir a volta da censura, sob qualquer argu mento; mas a liminar que pune a censura pode ser aprovada por enquanto. Dorme com um ba rulho desses e diz que dormiu bem.

Essas palavras relatam coi sas muito sérias. Uma delas, talvez a maior: a Constituição está suspensa por enquanto. Isto é: implantou-se um estado de exceção, fazendo calar a po pulação, rasgando-se a Consti tuição. Quem toma uma decisão inconstitucional é um fora da lei e não um superior à lei.

O que se viu, nesses dias passados, foi um ataque à de mocracia pela negação da Constituição. Na semana em que, por excelência, a liberdade deveria ter sido proclamada do

alto das torres, presenciou-se uma barbárie jurídica. Pode-se mesmo dizer: fica suspensa a civilização, pois só vale a for ça, só valem atitudes políticas tomadas por gente que não foi eleita para isso, destituída de qualquer noção de bem comum. Ou que, então, faz do próprio bem o critério do bem comum.

Vamos vivendo o samba do “cidadão” doido (não se pode falar o substantivo original): as mesmas pessoas exercendo o papel de juiz, de promotor, de delegado, de carcereiro, de ad vogado e até de juiz em causa própria. Não, não é o povo a acabar com a democracia, mas essas pessoas superdotadas de um poder que não têm. E o mais lamentável: nenhum confronto perante tais atitudes. Nenhum

confronto, dada a omissão do Congresso Nacional e da pró pria imprensa. Ausência de confronto diante de crime que dilapida a democracia. Nenhum confronto. Afronta, sim. Afron ta, ao que tudo indica, linear mente orquestrada.

Alguém disse que com esses fatos estão chamando duzentos e trinta milhões de brasileiros de imbecis. Com mentiras e força bruta, querem implantar o império da mentira com a desculpa de combater o nazismo. Ora, é preciso não es quecer que nazista é quem cen sura e não quem é censurado.

Tenho vivido momentos em que chego a imaginar uma enxurrada de lágrimas e até de sangue.

Somos mineiros. Já viven

ciamos momentos difíceis no panorama nacional. Lembra -me muito a campanha presi dencial de l955. A oposição ao PSD dizia: Juscelino não pode ser candidato; se for candidato, não pode ganhar; se ganhar, não pode governar. Foi candidato. Ganhou. Governou. Forte e in trépido.

Dias de glória, com altivez, sem punição aos adversários. Sem ofensa à democracia.

Confesso, envergonhado: estão faltando mineiros que se lembrem de que “O primeiro compromisso de Minas é com a Liberdade.”

*Professor aposentado da UFSJ, membro da Academia de Letras de São João del-Rei.

JORNAL DAS LAJES • PÁG. 11 ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022
JOÃO BOSCO DE CASTRO TEIXEIRA*

Histórico “Rego do Boi”, em Resende, evidencia crise da água

Aqueduto, na serra de Montemuro, está ligado à história de Portugal e dos Resendes

O “Rego do Boi”, no municí pio de Resende, norte de Portugal, estava seco em outubro, apesar de já ter começado o novo ano hidro lógico. Este aqueduto ou “levada” (corrente de água desviada de um rio para as regas ou abastecimen to) de aproximadamente 20 km de extensão, que pode ser mais antigo do que Portugal, nasce na Lagoa D. João, na serra de Mon temuro, e termina no Mosteiro de Santa Maria de Cárquere. “Nós sempre tivemos muita água em Resende, mas a situação mudou nos últimos anos e mesmo déca das”, alerta Tiago Colaço, 33anos, presidente da Associação de Va lorização e Desenvolvimento do Vale do Cabrum, também conhe cida por Bolota.

Água, ou a falta dela, é o tema escolhido para essa “viagem” ao Vale do Cabrum, que esse repórter empreendeu, no feriado nacional de 5 de outubro, guiado por Tiago. O percurso começou na cumieira da serra, que marca a entrada do Vale do Cabrum, a cerca de 880 metros de altitude. Essa cumieira divide as bacias hidrográficas da ribeira do Corvo (que nasce na Freguesia de Felgueiras e deságua no rio Douro) e do rio Bestan ça (ambos com origem no ponto mais alto da serra de Montemuro, a 1381 metros de altitude, e tér mino no Porto Antigo do Douro) e do rio Balsemão (nasce na serra de Montemuro e deságua no Dou ro, já no município de Lamego).

A escolha do Rego do Boi para esta reportagem é carregada de simbolismo. D. João de Cas tro, que viveu no século XVI, era senhor destas terras de Resende,

como representante do rei; daí o nome dado à lagoa onde começa o rego. D. João, que foi vice-rei da Índia, era antepassado de Emí lia de Castro, filha de D. Antônio Benedito Castro, 4º Conde de Re sende, e esposa do escritor Eça de Queirós. Já o Mosteiro de Cár quere, onde termina o rego, está ligado à origem da nacionalidade portuguesa e da família Resende.

REGO E LENDAS

Duas lendas estão relaciona das com o surgimento do Rego do Boi. Uma delas refere-se aos agradecimentos do primeiro rei D. Afonso Henriques aos habitan tes pela sua cura milagrosa. O rei perguntou o que desejavam e os locais responderam: água para as regas e os moinhos. Então, o rei mandou abrir o referido rego, do alto da serra até Cárquere. A outra lenda atribui aos mouros a aber tura da referida levada em apenas uma noite, após o que comeram um boi assado. “Durante a cons trução, uma velha ter-se-á atraves sado no referido rego, reclaman do água para os cereais, nos dois meses em que o cereal está para nascer” (Resende Terras de Mon temuro – da Lagoa ao Rio*).

Na medida em que subimos a serra, foi possível avistar, para além da bela paisagem onde ao fundo passa o rio Cabrum, as po voações ou pequenos aglomera dos humanos, que estão pratica mente desabitados e em risco de desaparecer, como Granja, Vila Pouca, Panchorrinha e Vale de Papas (classificado como “Aldeia de Portugal”). Na vegetação meio esverdeada, ainda é forte a presen ça do carvalho-negral e do carva lho-alvarinho, suplementados por castanheiros e amieiros. O car valho é conhecido na serra como

“marinheiro” porque, segundo a tradição oral, há muitos séculos os carvalhos foram cortados para a construção de barcos.

Tiago chamou a atenção para os sinais evidentes de desertifi cação, que são intensificados por incêndios florestais. Por isso, de fendeu que sejam adotados planos de reflorestação, constituídos de ações concretas de sensibilização, coleta de sementes, sementeira e plantação propriamente dita. Mas, “para isso, é necessário um passo básico que é o cadastro único do território, que em breve poderá ser resolvido com o BUPI, que o ca dastro digital das propriedades”.

E assim chegamos ao topo da serra, uma espécie de “muro” que cria uma barreira às nuvens que vêm do mar, segundo explicou Tiago. Assim, de um lado, a vege tação decorrente do clima oceâni co é abundante e úmida; de outro, a vegetação é mais seca.

Na povoação de Talhada, não muito distante da capela de São Cristóvão, na Freguesia de Fel gueiras, encontramos o ribeiro Ta quinho, um pequeno curso d´água que deságua no rio Cabrum. O lo cal onde paramos destaca-se pela presença abundante de moinhos desativados, onde a força motriz já permitiu, em décadas passadas, a produção de farinha. O ribeiro Taquinho, que está com pouca água, nasce pouco abaixo das tor res eólicas; a alguns metros da sua nascente, há um dique que, em si tuação normal, recolhe as águas e as encaminha para o Rego do Boi.

LAGOA SECA

A grande surpresa daquela manhã foi encontrar completa mente seca a bacia da Lagoa D. João, de cerca de 2 quilômetros de diâmetro, localizada numa “de

pressão geológica” (espécie de brejo) à altura de cerca de 1200 metros na serra de Montemuro, na divisa entre Resende, Castro Dai re e Cinfães.

No percurso, verificamos que o acesso à lagoa se encontrava fechado por ser uma propriedade particular; então, preferimos con tinuar no caminho público de onde verificamos algo que Tiago nunca havia visto nesta época: estava seca a parte mais baixa da lagoa onde deveria ter água. “A lagoa é uma cabeceira d´água que durante o inverno fica quase na totalidade inundada. Foram a qualidade e a abundância que fizeram com que fosse o local escolhido para a cap tação de água de abastecimento de Cárquere.”

Essa lagoa tem particularida des que a tornam importante no cenário nacional, explica Tiago. É a única de altitude que não está sob proteção de um parque natu ral, como são os casos da serra da Estrela e do Parque Natural de Montesinhos (ao norte, próximo à divisa da Espanha). Além disso, essa bacia pantanosa é abundan te em trufas (flor azul, que é uma espécie particular de grandes al titudes com água. É também am biente da espécie carnívora “orva lhinha”, que existe apenas em três locais – os outros dois são o Gerês e o Montesinho.

É por isso que Tiago não se fartou de referir que esse territó rio é uma paisagem a se proteger,

SOBRE A BOLOTA

A Associação de Valorização e Desenvolvimento do Vale do Cabrum, a Bolota, busca promo ver a ligação entre populações, ambiente e patrimônio com vistas ao desenvolvimento do Vale do Cabrum. A bacia hidrográfica des se rio localiza-se nos municípios de Resende e Cinfães, com cerca de 80% da área inserida na Rede Natura 2000 da Serra de Monte muro.

A Bolota iniciou suas ativida des em novembro de 2017, com um projeto de florestação do Vale do Cabrum, onde foram semea das mais de 7000 sementes, entre as quais a bolota, que foi adotada como símbolo da associação. Mas a Bolota já organizou caminhadas, ações de limpeza, de florestação e de sensibilização, além de fa zer parte de iniciativas conjuntas com instituições públicas. Para os próximos anos, pretende realizar iniciativas, como caminhadas, sementeiras e eventos que gerem receitas a reverterem ao projeto de florestação.

sugerindo mesmo que merece ser classificada como “Paisagem Protegida” (interação harmoniosa do ser humano e da natureza que evidencie grande valor estético, ecológico ou cultural).
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*Correia, Alexandre Louren ço. Finerge, 2009, Município de Resende. Foto: José Venâncio Paisagem do Vale do Cabrum, Portugal
Viagem

Gastronomia

Papai não sabia fritar um ovo

Nem fazer café. Desde muito tempo já tinha daquela cafeteira italiana tipo moka, que simplificava o processo. Comia feliz um pão dormido, sem nem mexer com esquentar na frigidei ra. Sobrevivia um dia inteiro na roça quase que só chupando la ranja e tirando gosto com azeito na. Certa feita, ainda recém-ca sado, foi passar um bife e quase colocou fogo na casa. Papai não sabia fritar um ovo. Mas nunca foi por preguiça. Aliás, essa pa lavra nem existia no vocabulário dele. Sua relação com a comida e a gastronomia era peculiar e, sobretudo, muito simples (e não menos grandiosa por isso).

Começou sua vida já en frentando a pobreza em casa. Mas teve pais lutadores que se viravam para plantar e preparar comida boa, mineira e “de quin tal”, com quase nenhuma carne

e muito “feijão, angu e couve” (você já leu esse livro do Eduar do Frieiro? Leia!). Cresceu forte e, aos precoces onze anos de ida de, saiu de casa para estudar no seminário em São João del-Rei, onde passou fome, inclusive. Não aguentava mais comer abó bora todo dia! Ainda no seminá rio, começou a rodar o mundo, viveu em vários lugares e vi venciou suas comidas e hábitos diversos. Virou-se como pôde nas repúblicas da vida, mas con tinuou sem saber fritar um ovo.

O tempo passou, as dificul dades financeiras foram ficando para trás, porém o seu gosto pela simplicidade culinária permane ceu firme. Até nas duas únicas coisas que não gostava de co mer ele foi simples, pois baca lhau e camarão sempre foram ingredientes caros! Comia de tudo, não reclamava de nada e

O verso e o controverso

quase não tinha aquela história de comidas especiais e favori tas. Como um bom mineiro raiz, tinha obviamente uma grande adoração por um frango caipira ensopado com quiabo e angu. Falava muito também na famo sa vagem com ovos que sua mãe fazia. E ficava bem feliz quan do comia um espaguete ao alho e óleo, além dos doces, claro, como o de cidra, figo e pé de moleque. Viajou o mundo todo, frequentou jantares e eventos re finados em função do seu traba lho, mas nunca foi de ir por con ta própria a um restaurante mais granfino. Na verdade, sua grande paixão era comer um bom PF! Como ficava feliz com isso, es pecialmente quando descobria um lugar novo, normalmente numa quebrada.

Talvez seu ritual gastro nômico predileto tenha sido ir

a um botequim copo sujo para beber uma cerveja e uma pinga em pé ao balcão, comendo um tira-gosto de estufa. Inclusive, fazia isso sozinho, mas em um instante já arrumava um compa nheiro de prosa no lugar. Gosta va de toda sorte de bebidas; no entanto, como um bom filho de Minas, era um grande apaixo nado e entusiasta pela cachaça. De preferência, da branca, sem muita interferência de madeira no envelhecimento – e sempre dizia: “A pinga quando é boa não precisa de madeira não”.

Papai sabia fazer muita coi sa. Fez de tudo na vida. Menos cozinhar. Mas, mesmo assim, conseguiu alimentar muita gen te ao longo da sua jornada. Não só de comida, mas de ajudas e oportunidades, de cultura, de alegria e de muito amor. Inclusi ve, provavelmente por não saber

cozinhar, ele me fez cozinheiro. Comecei a cozinhar no início da adolescência, quando íamos só nós dois para a roça. Tomei gosto pela coisa e até mudei ra dicalmente de vida por conta da paixão pela gastronomia. Vim até parar aqui, na coluna desse jornal, também graças a ele, que me ensinou a escrever.

Dentre os incontáveis pri vilégios de uma vida ao lado desse grande homem que foi o Rosalvo do Góes, uma das coi sas que mais me alegra foi ter tido a oportunidade de cozinhar muito para ele. Como bem disse o escritor Mia Couto, “Cozinhar é uma forma de amar os outros”. E essa foi a melhor forma que encontrei de amar a sua pessoa e tentar retribuir um pouco de tudo que fez por mim e pelo mundo.

Papai não sabia fritar um ovo. Azar do ovo, né?

A arte homenageando os falecidos

Quando estas linhas chega rem aos olhos do leitor, o Dia de Finados (2 de novembro) já terá passado. Contudo, o mês de novembro marca-se pelo costume praticamente universal de culto aos falecidos.

Embora os locais de lem brança mais intensa, os cemité rios, tenham modificado muito e a pandemia de Covid-19 for çado muito esta modificação, impedindo até a despedida última dos familiares, acho que um modo de homenagear nossos antepassados levados pela morte talvez seja curtir as maravilhas da arte funerária: arquitetura, escultura, literatura e música.

Há cemitérios que são verdadeiros museus ao ar li vre. Dos que conheço, cito especialmente o Cemitério da Consolação e o Cemitério São Paulo, em São Paulo capital; o Cemitério do Imigrante, em Joinville; o Cemitério de Praga (e aproveito para aconselhar a leitura do romance do saudoso Umberto Eco com o mesmo tí

tulo), que vi só pelo portão de entrada por causa do tempo; e, é claro, a catacumba de São Ca lixto, em Roma.

Se você curte literatura, ao visitar um campo santo veja os epitáfios – do grego “epi” (posi ção superior) e “tafos” (túmulo ou tumba). Epitáfio: frase colo cada sobre o túmulo, lápide ou monumento funerário para ho menagear a pessoa que morreu.

Há epitáfios para todo gos to: poéticos, engraçados, pie dosos, descritivos, históricos... Muitos em latim, como este no túmulo de um sacerdote: “Pas cebat amore, ore, re” (apascen tava com o amor, com a palavra e com a ação); ou este escrito pelo José Procópio, um dos maiores latinistas que Resende Costa teve, no túmulo de seus familiares aqui no cemitério de baixo, num latim clássico e poético que acho uma raridade: “Parentes, interitu adempti, quae inhabitatis nunc, non li cet ire nisi ad astra, praeces” (Pais, arrebatados pela morte, onde habitais agora, não é lícito

ir senão pelos astros, [nossas] preces).

Este é o epitáfio que dom Pedro Casaldáliga quis que se colocasse em sua tumba no Ce mitério dos Excluídos de São Félix do Araguaia: “Para des cansar/ eu quero só/ esta cruz de pau/ com chuva e sol/estes sete palmos/ e a Ressurreição”.

No cemitério São Pau lo, dito acima, você lê até um soneto clássico, num italiano perfeito, saudando uma mãe ali sepultada.

Que tal, fazer uma visita, ouvindo o espetacular “Epitá fio”, dos Titãs?

Para os aficionados em arquitetura, há túmulos muito bem desenhados, até um ou ou tro mausoléu e os túmulos-ca pela; para os fãs de escultura, obras de artistas famosos, como Brecheret, Emendabilli, Bruno Giorgi no cemitério da Conso lação, em São Paulo, e tantos outros.

E a música? Difícil achar um ouvinte de música sacra que não tenha se emocionado

com algum dos numerosos “ré quiens”.

E estendo tudo isso às ma ravilhosas necrópoles das ir mandades de cidades históricas de nossa Minas Gerais

Tempos bem longínquos, quando ainda em sala de aula, lecionando Literatura, levava os alunos a visitar os cemité rios-museus de São Paulo. Para isso, fiz um curso de arte tumu lar com o especialista no tema, professor Délio Freire dos San tos.

Como a arte tumular tra balha muito com a simbologia, transcrevo da apostila do curso uma lista desses símbolos. Po derá ajudar o leitor numa visita. Muitos deles tiveram origem na simbologia cristã. Anjo: mensageiro de Deus. Ampu lheta: tempo inexorável. Ân cora: esperança. Coluna: vida. Concha: apostolado, batismo, remissão dos pecados. Cornu cópia: riqueza. Livro: pure za. Tíbias cruzadas: a morte. Tochas: voltadas para baixo, morte; para cima, vida. Santís

sima Trindade: Jesus, Maria, José. Triângulo: signo trinitá rio. XP: Xispisto – a Cristo, em grego. Cachorro: fidelidade. Coruja: sabedoria. Elefante: mansidão. Galo: vigilância. Morcego: incredulidade. Ser pente: ódio, inveja, profissão, luxúria. Leão: vigilância. Abe lha: trabalho. Águia: glória. Pelicano: amor materno, res surreição. Pomba: paz, castida de. Coroa de louros: martírio. Girassol: realeza de Cristo. Palma: castidade, alegria, mar tírio. Papoula: sono eterno. Trevo (ou Trigo): pão divino. Olho de Deus: o que tudo vê. Compasso: cada coisa tem que ser feita a seu tempo, no giro do compasso. Esquadro: retidão de conduta. Esfera: universo. Foice: a que põe termo à vida. Martelo e pregos: crucifica ção. Alfa e ômega: primeira e última letras do alfabeto grego, o princípio e o fim. Chama: luz de vida. Lírio: pureza. Pira fu megante: homenagem à glória. Vela: vida

É o que penso. E você?

JORNAL DAS LAJES • PÁG. 13 ANO XIX Nº 235 - NOVEMBRO 2022

“Estamos preparados para a jornada”, diz coordenador do novo Conselho Fiscal

Luís Gustavo Resende é o que se pode chamar de “cooperativista experiente”. Neto de dois membros-fundadores do Sicoob Credivertentes (o avô paterno, Darci Resende; e o materno, Nilson Resende), ele somou a todo o aprendizado em família duas vivências práticas: um mandato como delegado na Cooperativa; e, ainda, uma suplência no Conselho Fiscal da instituição. Mesmo assim, quando tomou outra posse no mesmo setor em julho deste ano, não escondeu entre um sorriso e outro uma certa ansiedade. Até 2025 Luís Gustavo será, além de conselheiro scal EFETIVO, o coordenador do grupo.

Isso quer dizer que terá como missão ser olhos, ouvidos e pensamento analítico em prol de 30 mil Cooperados. Não fará nada disso sozinho, claro. Além de ter Cristóvão Avelar e Rafael Leão também como efetivos, Luís Gustavo reforça poder contar com a transparência do Centro Administrativo e de 24 Pontos de Atendimento. “Todas as equipes nos recebem bem e se colocam

à disposição para dúvidas, análises, o que for necessário. O mesmo vale para o Conselho de Administração, a Diretoria... Não se pode esquecer, porém, que a responsabilidade é grande, que estamos lidando com nanças, sonhos e vidas de muitas pessoas”, analisa.

Mas, a nal, como funciona o Conselho Fiscal e qual a importância dele para o Cooperado? Luís Gustavo responde nesta entrevista.

Sicoob Credivertentes – Embora muito intuitivo, o termo “Conselho Fiscal” tem signi cados muito amplos. Como de niria a real função exercida por você e sua equipe?

Luís Gustavo – Dizem que “o olho do dono engorda o gado”. Há diferentes sentidos pra essa frase. Mas no contexto do Conselho Fiscal, podemos dizer que “a presença do Cooperado faz crescer a instituição”. Ele é o dono da Cooperativa, participa das decisões, dos resultados. E para isso pode contar conosco. De forma bem simples, o Con-

selho Fiscal representa a Comunidade, é o olhar direto veri cando desde situações institucionais até questões técnicas mais especí cas. Nosso trabalho, na verdade, analisa atividades do Conselho de Administração, da Diretoria, do Controle Interno, da Contabilidade... Isso sem deixar de lado, claro, o contato direto com os próprios Pontos de Atendimento e seus Cooperados. Temos um verdadeiro checklist, muito amplo, de pautas que incluem até segurança, estrutura. E cumprimos nossa missão, toda essa responsabilidade, com muito zelo.

Sicoob Credivertentes – E como organizam essa rotina? Isto é, há uma agenda estratégica no Conselho Fiscal?

Luís Gustavo – Sim, há. Semanalmente, realizamos nossas visitas, inspeções. E todas são inesperadas. Ainda assim, somos sempre recebidos com atenção e disponibilidade. Nas agências em si, por exemplo, conversamos com gerentes, caixas, tesourei-

com os próprios Cooperados. Então conseguimos mapear desde operações de Crédito até questões envolvendo o relacionamento entre Comunidade e Cooperativa.

Sicoob Credivertentes – Sua posse como conselheiro scal efetivo acontece num momento de transição, já que houve mudanças também no Conselho Administrativo. Como vê esse cenário?

Luís Gustavo – Com muito respeito e otimismo. A história do Sicoob Credivertentes é grandiosa, vitoriosa, porque foi protagonizada por pessoas que acreditaram na Cooperação e sempre pensaram na coletividade. É nossa missão dar continuidade a isso e nós, do Conselho Fiscal, estamos preparados para a jornada. Nosso objetivo nada mais é do que contribuir para o crescimento da instituição, das pessoas que acreditam nela.

Sicoob Credivertentes desembarca em Desterro do Melo

Três mil habitantes, mais de 60 empresas, Agronegócio pulsante em 7 mil hectares de terras, uma Cooperativa para a população chamar de sua. Desterro do Melo, a pouco mais de 30km de Barbacena, é o cialmente um novo lar para o Sicoob Credivertentes. Isso porque o município recebeu, em 5 de outubro, um Ponto de Atendimento Eletrônico (PAE). Ou seja: a partir de agora, a Comunidade local terá acesso a serviços nanceiros completos pertinho de casa – tudo através de dois Caixas Eletrônicos que conectam seus usuários ao maior sistema cooperativista de Crédito do país.

Para o Sicoob Credivertentes, um projeto de expansão e inclusão. Para melenses como Simone Carvalho, uma revolução. “Até agora, muita gente precisava deixar a cidade para rece-

ber o próprio salário – algo muito difícil, aliás, especialmente para idosos, pessoas com de ciência”, re ete. “Veja bem: um movimento desses signica horas e horas fora de casa, gastos com transporte, alimentação. Então pesa no bolso de quem precisa e, ao mesmo tempo, afeta nossa Economia, já que os recursos deixam de circular na nossa cidade para carem em outra”, pontua.

Otimista com a mudança, Simone já abriu sua conta no Sicoob Credivertentes e quer levar as “boas-novas” a ainda mais pessoas. O mesmo promete a prefeita local, Mayara Tafuri. Ela lembra que, num mercado predominantemente rural como o de Desterro do Melo, um Ponto de Atendimento garante tanto conforto e comodidade para quem trabalha no setor; quanto maiores possibilidades de

negócios e crescimento. “Com acesso facilitado a Crédito, o resultado é força para novas ações, progresso. Somos muito gratos à Cooperativa por acreditar na nossa cidade, por enxergar todo o potencial dela”, diz.

EXPANSÃO

A inauguração de um PAE em Desterro do Melo dá sequência a avanço inclusivo que, neste ano, levou Justiça Financeira a Santa Rita de Ibitipoca e Santana do Garambéu. Com foco em e ciência e praticidade, o Sicoob Credivertentes também instalou um Ponto de Atendimento Eletrônico no Pátio Matosinhos, em São João del-Rei.

A expectativa é de que, nos próximos meses, outra estrutura como essa tenha portas abertas em Bias

Fortes. Além disso, uma agência completa será inaugurada em Cipotânea.

“Há 36 anos, quando fundamos a Cooperativa, sonhávamos com a democratização do sistema nanceiro, com o acesso a Crédito de maneira competitiva e humanizada. Não imaginávamos, naquela época, chegar tão longe e a tantas pessoas. Mas momentos como este deixam claro que ainda há mais a se fazer, ainda há mais comunidades ansiando por instituições robustas no mercado sem perder o foco no bem comum. Isto é, no pleno desenvolvimento do indivíduo para impulsionar localidades inteiras. Esses são os pilares do Cooperativismo e do Sicoob Credivertentes”, explica o membro-fundador e presidente do Conselho Administrativo na instituição, João Pinto de Oliveira.

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Luís Gustavo Resende permanece no cargo até 2025. Setor é composto por outros cinco membros entre efetivos e suplentes

Duas famílias Resende, na freguesia de São Cipriano

Visitei duas famílias Resende em São Cipriano, conhecida “aldeia da música”, no antigo município de Resende, que está ligado às origens da nação portuguesa. Para isso, contei com a ajuda do presidente da Junta de Freguesia, Aires Ferreira. Pode parecer estranho, mas não é comum encontrar membros da fa mília Resende naquele que é consi derado o berço dos Resendes.

Cheguei por volta da hora do almoço a São Cipriano, freguesia situada no meio da encosta da Serra de São Cristóvão. Joaquim Alves, o presidente da Associação Huma nitária dos Bombeiros Voluntários de Resende, deixou-me à porta da Dom Pedro Padaria e Pastelaria, de propriedade de um Resende, o Luís Pedro. Aires Ferreira já me aguar dava no local, que estava cheio de imigrantes portugueses. Como ele é taxista, foi atender seus clientes e deixou-me a esperar pelo almoço (em Portugal, é normal pastelaria servir refeições).

A freguesia estava em clima de festa, era época da 7ª Semana Cultural (artesanato, jogos tradi cionais, caminhadas, apresentações musicais, gastronomia etc.), opor tunidade de congraçamento dos moradores permanentes com seus parentes, emigrados para outros países (maioria europeus) e que se

encontravam em férias. A popula ção de São Cipriano, estimada em 700 almas, multiplica-se por algu mas dezenas com a presença dos imigrantes no verão.

Dona Anunciação, mais conhe cida por São, a mãe do proprietário da pastelaria Dom Pedro, serviu-me uma deliciosa alheira (embutido ou enchido típico da culinária por tuguesa criado por cristãos-novos para driblar a Inquisição religiosa, já que o judaísmo proíbe carne de porco) com batatas cozidas e sala da, acompanhados de vinho tinto da região do Douro.

Terminada a refeição, o cafezi nho foi na companhia de Providên cia de Jesus Pinto Resende, que é mãe da São e também de Armanda, Fernanda, Joaquim Miguel, José Adão e Patrício. Nascida na própria aldeia em plena 2ª Guerra Mundial (14/04/1943), dona Providência é filha de Patrício Pinto Resende (Jú nior) e de Maria de Jesus, ambos de 1906. O Patrício, pai de dona Pro vidência, é um dos quatro filhos de Patrício Pinto Resende: os outros são Marcelino, Príncipe e José Pin to Resende.

Dona Providência não sabe di zer se o seu avô Patrício esteve no Brasil. Sabe apenas que os primos dele emigraram para o outro lado do Oceano Atlântico. Já o avô ma terno de dona Providência, Manoel Ferreira, que tocava pratos na ban da musical “A Nova” (fundada em 1881), este, sim, emigrou para Bar

retos, no interior de São Paulo, em companhia de alguns primos.

Maria de Jesus, a mãe de dona Providência, gostava de contar que, antes, havia apenas a Banda de Mú sica de São Cipriano, mas o maestro mudou-se para o Brasil e, quando retornou à aldeia, muitos anos de pois, tentou retomar a batuta. Como não teve sucesso, em 1881 fundou a banda musical “A Nova”, levan do consigo parte dos integrantes da banda mais antiga, que, a partir daí, ficou conhecida com o nome de “A Velha”.

Dona Providência é de uma família de sete irmãos: além dela, Olinda, Anunciação, Maria Sa marina, Maria Carminda e os mú sicos Duarte e Nelson, estes dois integrantes da banda “A Nova”. Seguindo a tradição da família, dos 47 netos do casal Patrício Júnior e Maria de Jesus, 19 são músicos da banda “A Nova”.

ALMOCREVE

Sobe morro, desce morro por ruas estreitas, passa-se em frente à igreja de São Cipriano – construção em estilo barroco do século XVIII, que substituiu outra muito mais an tiga, medieval, segundo o padre e historiador Joaquim Correia Duar te – e se caminha aproximadamente 3 km até chegar à casa de Idalina Conceição Pinto Resende.

Nascida em 07/02/1944, dona Idalina é filha do casal Antônio Pin to Resende Júnior (de 1900) e de

Francisca Augusta. Os pais de dona Idalina e de dona Providência são primos em primeiro grau.

Antônio Pinto Resende Júnior exercia a antiga profissão de almo creve, segundo contou dona Ida lina. Comerciante de cereais, seu pai circulava pelas ruas da aldeia de São Cipriano puxando suas duas mulas de carga.

O avô de dona Idalina, Antônio Pinto Resende, teve vários irmãos: Mateus, Aires, José Luís, Silvina, Raul, Maria Augusta e um último, que emigrou para o Brasil, de quem ela não tem informações. Ainda jo vens, também Mateus, Aires e Sil vina atravessaram o Atlântico, esta belecendo-se no interior do Estado de São Paulo.

Dona Idalina tem três irmãos: Maria Augusta Resende, Fernando Pinto Resende e José Pinto Resen

de. Sua família tradicionalmente é ligada à banda musical “A Velha”, a começar pelo seu irmão José Pinto Resende, que tocava trompa. Hou ve um período em que os três filhos de José Pinto Resende chegaram a tocar na banda “A Nova”, influen ciados pelo avô materno e maestro Antônio Bernardo. Mas acabaram voltando às origens quando o avô deixou o cargo de maestro.

Também os três filhos de Ida lina tocaram na banda “A Velha”: Alberto, saxofone-baixo; Maria Olinda, saxofone-soprano e Helena, clarineta. A neta Margarida, filha de Maria Olinda, iniciou o aprendiza do na banda “A Velha” e atualmente pratica música na Suíça, onde mora com os pais. Até hoje, Margarida mantém a farda (uniforme) consigo e, durante as férias de verão, parti cipa das apresentações da banda.

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INTERNACIONAL
Dona Idalina Resende, moradora da freguesia de S. Cipriano, em Portugal Foto: José Venâncio

Resende Costa sedia final do RTR – Resende Trail Run

No domingo, 06 de novem bro, cerca de 200 atletas partici param da quarta e última etapa da prova RTR de 2022 – Resende Trail Run. Organizada por Luiz Nei Resende, as corridas foram realizadas ao longo do ano nas ci

dades de Prados, São João del-Rei e Lagoa Dourada. Todas as provas foram compostas por dois percur sos, um mais curto e outro longo.

Em Resende Costa, os per cursos contaram com 12km e 26 km, passando por estradas rurais. O desafio foi grande para os cor redores. Além das premiações in dividuais em cada corrida, foram premiados também os melhores

na categoria Geral do RTR, so mando o tempo das quatro provas.

As corridas continuam ga nhando novos adeptos e, durante o ano, Resende Costa foi palco de outras três competições: Água limpa off-road; Corrida do arte sanato e Corrida Nossa Senhora Aparecida, além de sediar um Du athlon, combinado de ciclismo e corrida.

Domingo de Torneio Outubro Rosa

No domingo, 13 de novem bro, quatro equipes participaram da quarta edição do Torneio Ou tubro Rosa de Resende Costa, de futsal feminino. Os jogos aconte ceram no Ginásio Monsenhor Nel son. As equipes Infinity, de São João del-Rei, Cruzeiro, de São Tiago, Fúria e Liverpool, de Re sende Costa, disputaram o torneio. O troféu foi disputado entre Infini ty e Fúria e as visitantes acabaram se sagrando campeãs por 3x1.

Renata Tatiane Pinto Re sende, a Tati, esposa do Paulo do Expedicionários, idealizadora da competição, disse ao JL: “O fute bol feminino não tem tanto pres tígio como o futebol masculino. Então, eu tive a ideia de fazer o Torneio em alusão ao Outubro Rosa para conscientizar as mu lheres de que elas podem e devem ocupar o espaço que quiserem, in cluindo jogar bola. Não tem esse negócio de só homens praticarem esportes, principalmente futebol”.

A quadra também foi espaço para reforçar as mensagens do Ou tubro Rosa – campanha nacional em alusão à prevenção ao câncer de mama. “É necessário continuar conscientizando sobre a impor tância do combate ao câncer de mama. Durante as primeiras edi ções, a gente fez palestras com profissionais explicando sobre o tema. Esse ano, como foi muito corrido, não tivemos palestras, mas reforçamos a importância de ficar sempre em alerta contra o câncer”, destacou Tati.

Papo de Esportes

E ao final só um é campeão...

Já começo afirmando, dessas afirmações sem ne nhum pingo de dúvidas: se tivesse mais de um campeão para o mesmo título, não teria metade da emoção em acompanhar toda uma tem porada. É óbvio, né? Mas eu acho que a gente, como tor cedor, se esquece disso em alguns momentos. Afinal, conseguiram tecer críticas ao Palmeiras – ao Campeão do Brasileirão Série A: “Mas, poxa, só o Brasileiro?”. E aí, eu pensei: “Mas não é só o Brasileiro – é O Brasileirão”.

E as críticas chegaram até o Flamengo – Campeão da Libertadores e da Copa do Brasil em 2022. “Mas não jogaram como tinham que jogar, jogaram mal, po deriam ter goleado”. Se as críticas não foram poupadas nem mesmo ao Flamengo, imagina só ao Atlético...

E, sem sombra de dúvi das, o ano de 2022 não foi do Galo. Eu me atrevo a di zer que algo influenciou fora das quatros linhas para fazer com que o time campeão de 2021 chegasse ao último jogo dependendo da vitória para classificação direta à Libertadores. Num ano em que se esperava disputa de várias finais e conquistas nacionais, apenas a conquis ta do Estadual custou muito caro. E aí a torcida tem todo o direito de cobrar. Mas co brar sabendo que chegar à final é duro, é penoso... e o mais importante: que só um ganha!

O Cruzeiro, Campeão da Série B, parece ter demo rado para entender isso. A fi cha caiu com a ajuda do Ro

naldo, que chegou e mudou o rumo da história. A Raposa volta a disputar a Série A, a tão cobiçada elite do futebol nacional. Com a sombra de quem viveu pesadelos na B e sabe da importância de, ao menos, permanecer, e quem sabe, conquistar uma vaga em campeonato internacio nal: se Libertadores é muito, a Sul-americana está sempre por lá. E muitas vezes só é lembrada quando a conquis ta não vem... O São Paulo que o diga!

Ao que tudo indica, a Série A de 2023 promete ser ainda mais competitiva do que foi neste ano. Dos 20 times confirmados, 15 já le vantaram a taça. Em seus da dos oficiais, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) contabiliza 17 campeões da Primeira Divisão, levando em consideração os cam peonatos disputados desde 1959 – que teve o Bahia como primeiro campeão. Na edição de 2023, 15 desses clubes vitoriosos disputarão juntos o Brasileirão, fato que não ocorre desde 2020. Os únicos times campeões na cionais que não estarão no torneio são Sport e Guarani, ambos na Série B.

E entre planos, estraté gias, danças das cadeiras dos técnicos, artilheiros e defe sas menos vazadas, uma úni ca certeza: a taça vai perten cer a apenas um. E é por isso que quem vence é o melhor! E ser o melhor é difícil pra caramba. Parabéns aos me lhores da temporada, e que o cotovelo doa menos ano que vem na hora de parabenizar os grandes campeões!

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ESPORTE
Equipes de Resende Costa que participaram do torneio Equipe de São João del-Rei vencedora do torneio Outubro Rosa

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