Edição 192 - Jornal das Lajes

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Jornal das Lajes www.jornaldaslajes.com.br

FUNDADO EM 2003 - RESENDE COSTA

Entrevista Jogo Aberto com dom José Eudes Campos do Nascimento, bispo da Diocese de São João del-Rei

• ABRIL 2019 • Nº192

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Fortalecimento do comércio e do turismo é proposta da nova diretoria da ASSETURC Foto André Eustáquio

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ANO XVI

Lâmpadas queimadas e fracas e escassez de luminárias deixam ruas e praças escuras em Resende Costa Moradores da cidade reclamam da qualidade do serviço de manutenção, apesar da cobrança da taxa de iluminação pública. A prefeitura informou que a atual empresa responsável pela manutenção da rede de iluminação pública no município está trabalhando para resolver os problemas e atender às solicitações. Ainda de acordo com a prefeitura, há projeto na Secretaria de Obras para melhorias na iluminação pública da cidade. PÁG 10

Na avenida Alfredo Penido, entrada da cidade, localizam-se mais de 80 lojas de artesanato, além de outros importantes estabelecimentos comerciais

A assembleia da Associação Empresarial e Turística de Resende Costa, realizada no dia 28 de fevereiro último, elegeu a nova diretoria da associação para o próximo biênio. O JL conversou com Edmar de Assis, presidente, e com o diretor-tesoureiro, Cláudio Márcio de Matos Rocha. Os diretores da ASSETURC defendem o fortalecimento do comércio e do turismo e mais investimentos em divulgação do artesanato e dos atrativos turísticos de Resende Costa. Leia editorial na página 2. PÁG 06 e 07

Matosinhos é destaque da série de reportagens especiais sobre bairros são-joanenses Matosinhos é um bairro completo, que só não tem agência bancária. No jogo de perde e ganha, o bairro perdeu mais

um bem histórico – a portada (portal) da antiga igreja do Senhor Bom Jesus, demolida na década de 1970.

Mas vai ganhar três empreendimentos econômicos de grande porte: um conjunto de duas torres (prédios),

um prédio, ambos residenciais, e um shopping center. PÁG 12 e 13


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EDITORIAL Vocação histórica para o comércio

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Ao folhearmos os capítulos da nossa história, que tem seu início na segunda metade do século 18, veremos como Resende Costa se desenvolveu a partir do comércio. O pequeno Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage surgiu no entorno de um cruzamento entre duas estradas utilizadas por tropeiros que cruzavam o local, com sentido ao norte e ao sul da província de Minas e também ao Rio de Janeiro e Goiás (rota conhecida na época como “caminho para o sertão”). Diferentemente de São João del-Rei, Tiradentes, Ouro Preto e outras cidades históricas de Minas Gerais, em Resende Costa não foi encontrada nenhuma lavra de ouro ou de outro metal precioso, mas sua gente se destacou na arte do comércio. Moradores mais antigos da cidade ainda se lembram de casos contados pelos antepassados que revelam a saga de vendedores e tropeiros que partiam, montados a cavalo, para cidades longínquas vendendo colchas, suprimentos alimentícios, utensílios domésticos e gado. Eram chamados mascates. Surge, portanto, dessas viagens e do vai e vem contínuo de viajantes que pernoitavam no centro do arraial, a vocação da Lage – atual Resende Costa – para o comércio. Hoje a cidade se destaca na produção e comercialização de artesanato feito em tear de madeira – uma arte herdada dos portugueses e que chegou por aqui há mais de 200 anos nas antigas fazendas. Dos teares rústicos das antigas fazendas, o artesanato produzido em Resende Costa está exposto hoje, em grande diversidade (retalhos, linhas, madeira, ferro, pinturas etc.), em belas lojas. Ao todo, são mais de 80 lojas situadas na avenida Alfredo Penido, entrada da cidade. Porém, é importante destacar que a antiga tradição dos mascates não se perdeu no tempo. Ainda há muitos comerciantes na cidade que viajam frequentemente vendendo roupas, artesanato e outros utensílios. O Jornal das Lajes traz como destaque desta edição a eleição da nova diretoria da ASSETURC (Associação Empresarial e Turística de Resende Costa). O leitor poderá perguntar por que dar enfoque a uma eleição de diretoria de associação. Trata-se de uma das associações de maior importância para Resende Costa. A ASSETURC reúne dois segmentos estratégicos para o desenvolvimento do município: o comércio e o turismo. Não é novidade que o artesanato impulsionou os outros setores do comércio e ainda alavancou, diretamente, o turismo na cidade. As reportagens publicadas nesta edição mostram quanto Resende Costa necessita fortalecer ainda mais o comércio, além de desenvolver e estruturar a indústria do turismo, aproveitando o bom momento do setor na região, especialmente em Tiradentes. E a saída para isso passa pelo associativismo. Voltando novamente às páginas da história, constataremos que os comerciantes locais se prosperaram sem nenhuma interferência do poder público. Vocação, criatividade, determinação e muito trabalho construíram as bases prósperas do comércio local. Os tempos, porém, são outros. Hoje, há inúmeros e maiores desafios. O mercado se tornou mais competitivo, as crises financeiras assombram com a mesma velocidade do desenvolvimento e o avanço quase que cotidiano da tecnologia nos tira da zona de conforto. Pode-se chamar essa dinâmica de capitalismo. Se chegamos até aqui, o futuro nos cobra novas e determinantes ações. O comércio de Resende Costa precisa se integrar. Empresários e comerciantes, de todos os setores, devem se conscientizar da importância do associativismo enquanto estratégia para enfrentamento de um mercado competitivo, por que não dizer excludente, que premia os mais fortes e exclui aqueles que não têm fôlego para cumprir as regras (financeiras) determinadas. Por fim, Resende Costa necessita, sobretudo, do compromisso de suas lideranças políticas com projetos de políticas públicas que visam ao desenvolvimento do comércio e do turismo. Não dá para esperar mais. Se não nos atentarmos para isso, veremos pelas janelas da história um futuro que não aconteceu.

Jornal das Lajes Ltda Diretor Presidente e editor-chefe: André Eustáquio Melo de Oliveira Diretor de Redação: Rosalvo Gonçalves Pinto Editor Regional: José Venâncio de Resende Diretoria executiva: Eustáquio Peluzi Chaves (administração) e Antônio da Silva Ribeiro Neto (contabilidade).

Redação: Rua Assis Resende, 95 Centro - Resende Costa, MG CEP 36.340-000 TEL(32)3354-1323 Editoração e Site: Rafael Alves Impressão: Sempre Editora Av. Babita Camargos, 1645 Contagem - MG Tiragem: 4000 exemplares Circulação: Resende Costa e São João del-Rei

Conselho Editorial: André Eustáquio Melo de Oliveira, Emanuelle Resende Ribeiro, José Venâncio de Resende, Rosalvo Gonçalves Pinto, João Evangelista Magalhães e José Antônio Oliveira de Resende. Os artigos assinados não refletem obrigatoriamente a opinião do jornal.

De olho na cidade EDÉSIO DE LARA MELO

100 ANOS da Escola Estadual Assis Resende Neste ano, nossa Escola Estadual Assis Resende, localizada na Praça Rosa Penido, completa 100 anos de fundação. Apesar de o decreto que criou o Grupo Escolar ser de 1912, mesmo ano de emancipação do município, o prédio só foi inaugurado em 21 de julho de 1919. Foram necessários sete anos para que o edifício ficasse pronto, pois faltaram os recursos necessários para sua construção. Agora é hora de festejar. É hora de recuperar, através de imagens, depoimentos, dados estatísticos e documentos diversos, fatos ocorridos no âmbito dessa escola que abrigou e alfabetizou quase todos os resende-costenses ao longo de um século. Eu sou um deles. Nela cursei os quatro primeiros anos de grupo (assim chamávamos os quatro anos iniciais do atual Ensino Fundamental) e o ginásio. Não posso me esquecer de que, para cursar o ginásio, frequentei um ano de admissão, curso preparatório oferecido pelo saudoso professor Geraldo Sebastião Chaves, na parte de baixo do sobrado do Osório Chaves, nos Quatro Cantos – prédio que foi demolido e, no local, anos depois, foi construído o Supermercado Sobrado. Daqueles anos iniciais, deparei-me com uma fotografia que está no salão da escola. Uma fotografia linda, de 1920, registra o corpo docente de cinco professoras e grupo alunos constituído de cinco meninas e cinco meninos, além de um padre, o diretor da escola e o inspetor de ensino. Quem me fez voltar o olhar para esta foto foi a professora de apoio Regina Aparecida de Sousa. Atrás do quadro, que contém a foto de16,5 x 12,0 centímetros e sem identificação do fotógrafo, está escrito: 1ª turma de formandos. Em pé, no sentido horário estão: Padre Ovídio, D. Adelaide Vale, Flordelice da Silva, José Augusto Rezende, D. Matilde Rios, D. Maria José Rodrigues, D. Dulce Lara e Coronel João de Souza Maia. Assentados, também no sentido horário: Francisca

Primeira turma de formandos do Grupo Escolar Assis Resende em 1920

(Quiquita), filha do Joaquim de Melo; Alzira Lourdes; Elvira (Vivi) Gomes, Aurélio Coelho, José Jacinto (Zizi Lara); Antônio Procópio (alfaiate); José Macedo (Juquita) e Francisco (Chico da Florença). Dona Eunice de Sousa Gomes, ex-professora e ex-diretora da escola, me disse que padre Ovídio, de família da cidade, foi o primeiro sacerdote nascido em Resende Costa a deixar a batina. Outro homem é o professor José Augusto de Rezende. Ele deu posse às primeiras professoras Matilde Rios, Maria José Rodrigues e Ambrosina Pellucio. Na ata de posse das três professoras, o diretor registrou: “Villa Rezende Costa, 4 de julho de 1919. O diretor do grupo, José Augusto de Rezende”. E na ponta dos que estão em pé, o Coronel João de Sousa Maia, que veio a ser o inspetor escolar. Enquanto os rapazes brancos calçavam borzeguins, Chico da Florença, de cor negra, apresentou-se para o fotógrafo com os pés descalços. Andar descalço era comum, mas vestir-se bem e usar sapatos para uma fotografia, não. A falta dos calçados nos pés do menino é registro claro das dificuldades financeiras, da falta de recursos da família para lhe comprar os calçados para aquele momento festivo. A postura, no entanto, e roupa também eram as mesmas dos demais colegas e muito bem acabada. Parecia sinalizar o futuro que aguardava o pobre menino de tornar-se alfaiate. Ele cresceu, constituiu família ao se

casar com Dona Nilza para ter quatro filhos: Veneranda, Justiniano, Lalica e Iêda. Segundo Agenor Gomes Neto, que conheceu bem o Chico da Florença, ele era muito inteligente e tinha uma letra (caligrafia) inigualável, muito bonita. Por esse motivo, o Chico sempre esteve no cartório de registro civil de seu pai, auxiliando-o na escrita dos livros de registro. Na idade adulta, tornou-se Juiz de Paz em Resende Costa. Conversando com os amigos Lico (filho do senhor Ananias) e com o Iraci (filho do Ivan Barbosa), eles, que conheceram bem o Chico da Florença, me contaram casos sobre a vida desse homem simples e bem humorado. Chico da Florença gostava de acordar mais tarde, trabalhar com “aquela calma” que lhe era peculiar e de bater uma boa prosa com os amigos no meio da tarde. Adorava ler e frequentar o fórum da cidade, lugar em que podia manter contato com muitos conhecidos. Tornou-se alfaiate e, com aquela calma citada acima, os seus fregueses tinham que fazer suas encomendas com muita antecedência. Quem passava pela Rua José Jacinto 121 – a que liga a Matriz ao cemitério da cidade – podia vê-lo perto da janela cortando panos e costurando os muitos ternos que tinha de entregar, principalmente antes da Semana Santa. Ao longo do ano, pretendo, nesta coluna, me dedicar a fatos e pessoas que estudaram nessa prestigiosa escola de nossa cidade.


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CÂMARA DE RESENDE COSTA INFORMA

RECURSOS APROVADOS PELA CÂMARA MUNICIPAL GARANTEM AMPLIAÇÃO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM JACARANDIRA Os vereadores aprovaram por unanimidade, na reunião ordinária do dia 02 de abril, o projeto de lei nº 24/2019, de autoria do executivo municipal, que “Autoriza a abertura de crédito especial para que seja efetivada uma ampliação do sistema de abastecimento de água no Distrito de Jacarandira”. Ao todo, serão investidos recursos totalizados em R$375.000,00 (trezentos e setenta e cinco mil reais). O projeto aprovado pela Câmara é a garantia de melhoria no abastecimento de água no distrito de Jacarandira. Na votação, os vereadores destacaram que o abastecimento de água é indispensável à vida e essencial para o desenvolvimento da sociedade. O vereador Ângelo Márcio falou sobre a importância da aprovação do projeto: “Eu estive em Jacarandira algumas vezes olhando essa e outras situações. É importante que se aprove esse projeto e se resolva esse proble-

Distrito de Jacarandira, Resende Costa (MG) (Foto André Eustáquio)

ma com a água. Afinal, água de qualidade é o que todo mundo quer, além de ser uma questão de saúde pública.” O vereador José do Socorro também reforçou a importância da aprovação do projeto. “Quero dar os parabéns para esse projeto. Essa solicitação já vem há algum tempo e agora a população de Jacarandira vai ter esse problema solucionado.”

Assessora Jurídica da Câmara Municipal de Resende Costa realiza palestra para alunos do Ensino Médio na Escola do Legislativo da Câmara de São João del-Rei No dia 18 de março último, a Assessora Jurídica da Câmara Municipal de Resende Costa, dra. Marina Vale, realizou palestra para alunos do Ensino Médio da Escola Estadual João dos Santos, em São João del-Rei. O convite à advogada foi feito pelo diretor da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de São João del-Rei, dr. Lucas Moura, sendo que a palestra aconteceu no Plenário da Câmara de São João. “Através de um bate-papo, conversamos sobre o papel do vereador, quais são as suas funções e de que forma são exercidos os trabalhos na Câmara Municipal”, disse a advogada. A advogada e assessora da Câmara Municipal de Resende Costa destacou a importância do esclarecimento aos alunos acerca de temas fundamentais referentes ao cotidiano daqueles que exercem funções públicas: “Os ouvintes (da palestra) são futuros eleitores, ou serão até mesmo nossos representantes. Com certeza, eles entenderam sobre cidadania, coletivo e bem comum. Afinal, exercer a função pública com qualidade e eficiência só se faz com transparência, honestidade e informação”, conclui Marina Vale.

Durante a apresentação em plenário, alguns vereadores chamaram a atenção para a situação problemática referente ao abastecimento de água também em outras comunidades rurais do município. A atenção do poder público com a qualidade da água que abastece os povoados e o Distrito de Jacarandira também foi tema de debate entres os vereadores.

Vereadores apresentam requerimentos em reunião ordinária no dia 2 de abril Iluminação Pública O vereador Vítor Rafael Camilo Ribeiro apresentou (e foi aprovado) Requerimento para que seja encaminhado ofício ao Executivo Municipal a fim de que se cumpra a Lei Municipal nº 3.733/2013, que “Dispõe sobre a Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública e dá outras Providências”, no que se refere o artigo 5º, parágrafo 3º. O artigo 5º da Lei Municipal 3.733 dispõe que, como forma de controle da aplicação do percentual de tarifa, fica o Executivo obrigado a enviar ao Legislativo, semestralmente, planilha de aplicação do referido coeficiente. Parlamento jovem O vereador Ângelo Márcio

Resende requereu à Mesa Diretora que se dê cumprimento à Lei Municipal nº 3.066/2007, que “Institui o Parlamento Jovem Municipal de Resende Costa e estabelece normas de funcionamento”, cuja finalidade é proporcionar aos estudantes oportunidade de conhecer e vivenciar lições de cidadania e democracia através do exercício das funções e dos trabalhos do Poder Legislativo. A Lei Municipal 3.733 determina que a eleição da Legislatura do “Parlamento Jovem Municipal” se dará no mês de novembro de cada ano e podem participar alunos do Ensino Médio das escolas de Resende Costa que ofereçam esse nível de ensino e que se interessem em aderir ao projeto.

Acesse e acompanhe o Poder Legislativo: www.camaraderesendecosta.mg.gov.br

Escola do Legislativo Requereu o Vereador Ângelo Márcio Resende junto à Mesa Diretora da Câmara Municipal a criação da “Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Resende Costa”. O vereador justifica no requerimento a importância da Escola do Legislativo. “É importante ressaltar a função educadora da Câmara Municipal. Por meio dessa função, o Legislativo aprimora e qualifica seus servidores, promove cursos, palestras, projetos e programas abertos à população, estimula a participação dos cidadãos nos debates e soluções de assuntos da cidade, desperta o interesse dos cidadãos pela política. Para melhor atender às referidas ações, a Câmara pode criar a Escola do Legislativo”.

Câmara Municipal de Resende Costa Trabalhando por uma cidade melhor

Marina Vale, advogada e Assessora Jurídica da Câmara Municipal de Resende Costa, realizou palestra no plenário do Paço do Legislativo Municipal de São João del-Rei

Câmara aprova projeto de lei que garante recursos para auxílio transporte de universitários Com o auxílio, estudantes do município pagam a metade do valor integral do transporte Diariamente, diversos alunos de Resende Costa deslocam-se para estudar nas instituições de ensino superior e técnico de São João del-Rei. O Legislativo Municipal sabe da importância da educação e apoia o desenvolvimento dos estudantes. Por isso, no mês de fevereiro, os vereadores aprovaram por unanimidade o repasse de R$127.500,00 (cento e vinte e sete mil e quinhentos reais) para a Associação dos

Estudantes Universitários de Resende Costa (AEURC). O recurso está sendo utilizado com a finalidade de garantir o auxílio transporte aos estudantes no ano de 2019. Os associados da AEURC são estudantes do Centro Universitário Presidente Tancredo de Almeida Neves (UNIPTAN), IF Sudeste MG-Campus São João del-Rei, IFSJDR e Universidade Federal de São João delRei (UFSJ).


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GOVERNO MUNICIPAL INFORMA

100% asfaltado! Prefeitura de Resende Costa conclui obras de pavimentação no bairro Nova Resende A Prefeitura Municipal de Resende Costa concluiu as obras de asfaltamento no bairro Nova Resende. TODAS as ruas do bairro foram pavimentadas. O investimento incluiu ainda pinturas, rampas de acesso, faixas de pedestres, placas de sinaliza-

ção de trânsito e placas com os nomes das ruas. O município foi contemplado com três emendas parlamentares do Ministério das Cidades, que totalizam 850 mil reais. Foi esse o recurso utilizado para o asfaltamento das últimas ruas do

bairro. A Administração segue empenhada em arrecadar verbas para asfaltamentos e calçamentos na cidade. A intenção é pavimentar, nos próximos dois anos, quase 100% das ruas de Resende Costa.

Benefício para o produtor rural: Prefeitura de Resende Costa recebe patrol 0km Para incentivar cada vez mais o pequeno e médio produtor rural, a Prefeitura Municipal de Resende Costa adquiriu, através de uma doação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, uma motoniveladora (patrol) 0km, ano 2018. O novo equipamento

será fundamental para a manutenção e conservação das estradas vicinais de nosso município, promovendo o desenvolvimento agropecuário e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida para toda a população de Resende Costa.

Município foi contemplado com máquina em março

Bairro Nova Resende foi todo asfaltado

Prefeitura realiza mutirão de castração em Resende Costa, e 100 animais são beneficiados Pela quarta vez, a Prefeitura Municipal de Resende Costa promoveu o mutirão de castração de cães e gatos. A ação foi realizada no Parque de Exposições no dia 27 de março. O poder público municipal investiu R$12 mil, através de um convênio em parceria com o Cigedas (Consórcio Intermunicipal de Gestão e Desenvolvimento Sustentável das Vertentes). Foi contratada uma Unidade Veterinária Móvel, que conta com profissionais especializados, e um ônibus equipado com toda estrutura necessária para a realização de castrações, sem nenhum

custo para os tutores dos animais. “O nosso intuito é ajudar a resolver esse problema que hoje a�nge a maioria dos municípios no Brasil, que é a questão de animais abandonados nas ruas. O obje�vo é tentar reduzir a taxa de natalidade, o que causa problemas para o meio ambiente e também de maus tratos aos animais”, afirmou o prefeito Aurélio Suenes. Em parceria com a Prefeitura, o cadastramento dos pacientes de quatro patas foi realizado pela RC Animais, associação sem fins lucrativos que tem o objetivo de zelar

pelos animais em situação de risco em nosso município. Foram disponibilizadas 100 castrações, sendo 50 para cães e 50 para gatos. “O mutirão de castração é de extrema importância para conseguirmos diminuir o número de animais abandonados. Parcerias entre o poder público e as associações são fundamentais. Essas ações são um ganho não apenas na questão ambiental, mas também na questão social”, comentou Samantha Magalhães, tutora de cães e gatos. Ana Augusta Daher é tutora de gatos e auxilia a associação RC Animais. A advogada

Prefeitura realizou quarto mutirão de castração no fim de março

resende-costense alerta para que as pessoas levem em conta os cuidados que os animais demandam antes de adotarem: “É muito importante conscientizar a população a respeito da castração. Muita

gente acha fácil ter um animal de estimação, mas o animal requer muito cuidado e a castração é uma forma de prevenção de muitas doenças, além da questão de controle populacional”.


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Jogo Aberto

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“Devemos ir ao encontro daqueles que mais necessitam” Dom José Eudes Campos do Nascimento fala ao JL sobre a participação dos leigos na Igreja, a Campanha da Fraternidade 2019 e sua nomeação como bispo diocesano de São João del-Rei ANDRÉ EUSTÁQUIO

No dia 12 de dezembro de 2018, após quase um ano vacante desde a morte de dom Célio de Oliveira Goulart em janeiro, a Diocese de São João del-Rei recebeu a notícia da nomeação de seu novo bispo. Os sinos das igrejas da histórica cidade do Campo das Vertentes tocaram festivos. O mesmo ocorreu em diversas paróquias que fazem parte da diocese. Em Resende Costa, ouviu-se pela manhã no dia 12 o som do sino da igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França. Dom José Eudes Campos do Nascimento, 52 anos, era anunciado bispo de São João del-Rei. Nascido em Barbacena no dia 30 de abril de 1966, dom José Eudes iniciou sua caminhada religiosa na Congregação Salesiana, período em que teve seu primeiro contato com a cidade de São João del-Rei. Ordenado bispo no dia 15 de setembro de 2012 em Barbacena, dom José Eudes tomou posse na Diocese de Leopoldina, na Zona da Mata, em 30 de setembro do mesmo ano. “Fiquei nessa missão na Diocese de Leopoldina até o dia 12 de dezembro de 2018, quando fui nomeado bispo para a Diocese de São João del-Rei”, conta o religioso. Curiosamente, trata-se do terceiro bispo de São João del-Rei que tem passagem por Leopoldina. Dom Delfim Ribeiro Guedes e dom Célio Goulart também foram bispos da diocese da Zona da Mata mineira. O quinto bispo da Diocese de São João del-Rei, criada em 21 de maio de 1960 pelo Papa São João XXIII, concedeu entrevista ao JL e falou sobre sua trajetória vocacional, sua expectativa para a diocese, a participação dos leigos na Igreja, entre outros temas. Leia abaixo a entrevista de dom José Eudes, que completou 24 anos de vida sacerdotal e tem como lema episcopal “Servus in charitate”: “Servo no amor”. Como o senhor descobriu que era vocacionado ao sacerdócio? Desde pequeno senti o chamado de Deus para o sacerdócio. Gostava de ajudar nas celebrações como coroinha, ir às procissões, fazer novenas. Cada dia crescia mais a vontade de

servir a Jesus Cristo. A partir daí, como foi que o senhor iniciou sua formação religiosa? Iniciei meus estudos de formação na Congregação dos Salesianos, realizando o aspirantado em Cachoeira do Campo em 1983. Terminada essa etapa, fui encaminhado para a casa dos Salesianos em Pará de Minas, onde permaneci durante quatro anos até concluir o Ensino Médio no Colégio Sagrado Coração de Jesus, entre 1984 e 1987. Fiz um ano de Filosofia em São João del-Rei, em 1988, na Faculdade Dom Bosco. No ano seguinte, fui acolhido por dom Luciano Mendes de Almeida para uma experiência vocacional na Arquidiocese de Mariana, onde continuei meus estudos de Filosofia no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA), de 1989 a 1990. Terminando os estudos de Filosofia, fui para o Seminário São José, da Arquidiocese de Mariana, para fazer o curso de Teologia, entre 1991 e 1994. Fui ordenado Diácono no dia 15 de agosto de 1994, em Mariana, e exerci meu diaconato na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Congonhas. E, no dia 22 de abril de 1995, fui ordenado sacerdote em minha terra natal, Barbacena. O senhor disse que teve uma passagem por São João del-Rei nos anos preparatórios ao sacerdócio. Como foi esse primeiro contato com a cidade que agora o recebe como seu novo bispo? No ano de 1988, fiz o primeiro ano de Filosofia na Faculdade Dom Bosco, aqui em São João del-Rei. Nesse ano pude conhecer as celebrações realizadas aqui e participar delas. Participei muito na Paróquia de São João Bosco e o nosso trabalho pastoral era feito no oratório Dom Bosco. Tive a oportunidade de ajudar em uma Semana Santa no Caburu (São Gonçalo do Amarante), experiência muito enriquecedora. Como foi sua nomeação para a Diocese de São João del-Rei? No dia 09 de novembro de 2018, recebi um comunicado do Núncio Apostólico Dom Giovanni d’Aniello, informando-me que o Santo Padre o Papa Francisco havia me nomeado Bispo da Diocese de São João del-Rei, devendo ficar sob sigilo Pontifício até

a data da publicação, que ocorreu no dia 12 de dezembro de 2018. O senhor teve uma acolhida festiva em São João del-Rei, sendo saudado por centenas de fiéis e religiosos na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar e no Largo do Rosário. Qual foi sua sensação ao ter o primeiro contato com o povo e com a diocese? Senti a acolhida de todos como um pai que recebe o abraço de seus filhos. Tudo foi muito bem preparado, senti o carinho em cada detalhe e senti nos olhares, nos sorrisos e nos abraços de cada um a alegria de estar recebendo o novo Pastor. Como foi marcante a acolhida pelos padres e religiosos e religiosas da diocese! Desde que tomou posse, o senhor visitou todas as paróquias da diocese. Como foram essas visitas? O senhor já conhecia um pouco da Diocese de São João del-Rei? Essas visitas foram momentos marcantes, preciosos para estar em contato com as pessoas que fazem parte da diocese; conhecer, estar perto, abraçar. Como diz o Papa Francisco: “O Pastor tem que sentir o cheiro das ovelhas.” E este foi o meu primeiro desejo: conhecer aqueles a quem Deus me confiou. Foram momentos inesquecíveis, de demonstração de muita fé, espiritualidade, de vivência do amor fraterno. Já conhecia São João del-Rei, pois, além de ter estudado um ano na Faculdade Dom Bosco, tivemos encontro de Confraternização dos padres da Província (Juiz de Fora, Leopoldina e São João del-Rei) aqui na cidade. E por ser muito amigo de dom Célio, fiz a ele algumas visitas. A Igreja conta hoje com grandes desafios, especialmente no campo da pastoral. Quais são suas prioridades para o trabalho pastoral na Diocese de São João del-Rei? A Diocese de São João del-Rei já tem as suas prioridades pastorais, que foram escolhidas na Assembleia Diocesana. Venho para dar continuidade a esses trabalhos já existentes, que tão bem foram conduzidos pelo nosso querido dom Célio. O Papa Francisco tem insistido muito no que ele chama de

Dom José Eudes Campos do Nascilmento, bispo diocesano de São João del-Rei, durante celebração eucarística na igreja matriz de Resende Costa (Foto Camila Silva)

“Igreja em saída”, ou seja, uma aproximação maior da Igreja com o povo. O Concílio Vaticano II já conclamava a Igreja para essa ação. A Igreja ainda tem dificuldades de se aproximar do povo? Acredito que a Igreja está cada dia se aproximando mais do povo, visto que a Igreja é o próprio povo. Nós, pastores que conduzimos a Igreja, estamos intimamente ligados às pessoas pela nossa fé. “Uma Igreja em saída” significa que Jesus Cristo está onde o povo está. Devemos ir ao encontro daqueles que mais necessitam, daqueles que estão desamparados, não só econômica, mas, sobretudo, espiritualmente. Acolher o outro é estar perto, ajudar, vivenciar de fato o Evangelho de Jesus Cristo. Outro pedido do Papa Francisco é que a Igreja capacite os leigos e os insira ativamente nas pastorais. Como o senhor avalia a participação dos leigos na Igreja? Leigos e leigas são o sal da terra e a luz do mundo. O ano de 2018 foi dedicado ao laicato. Estudamos e promovemos muitas ações para conscientizar todos quanto à participação dos leigos na Igreja e na sociedade. O senhor tem projetos para incentivar a participação dos leigos na Diocese de São João del-Rei? Já pude constatar através das visitas feitas às 42 paróquias como os leigos e leigas são engajados e comprometidos. Só posso aqui incentivá-los cada vez mais a que assumam realmente na Igreja o seu precioso papel, pois, a partir do Batismo, são chamados a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo. Diversas dioceses têm instituído o Diaconato Permanente, ou seja, em sua maioria, homens casados que se ordenam diáconos para exercerem esse ministério nas paróquias e comunidades. O senhor pretende implantá-lo em São João del-Rei? Preciso conhecer primeiro a realidade de toda a diocese. As vocações religiosas e sa-

cerdotais vêm sendo uma grande preocupação da Igreja, tanto no que diz respeito à escassez quanto à qualidade da formação. Como o senhor pretende trabalhar as vocações na diocese? As vocações sacerdotais e religiosas são as pupilas de todos os bispos, pois são dessas vocações que teremos religiosos(as) e sacerdotes para servir à Igreja e ao seu povo. A qualidade da formação, a meu ver, só tem melhorado. Tem-se trabalhado nos nossos seminários a formação humana, espiritual, doutrinal, pastoral e missionária. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) escolheu “Políticas Públicas” como tema da Campanha da Fraternidade 2019. Qual a finalidade dessa escolha? O tema da Campanha da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e Políticas Públicas”, que tem como lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), quer chamar a atenção de cada um de nós para o direcionamento de políticas públicas que promovam a libertação de todos à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja. É necessário fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade. Refletir sobre políticas públicas é importante para se entender a maneira pela qual elas atingem a vida cotidiana e o que pode ser feito para que sejam efetivadas, e também para acompanhá-las com uma boa fiscalização, pois, só assim serão aprimoradas. Como a Igreja pode colaborar para um debate profícuo sobre a política no Brasil? Quando cheguei à Diocese de São João del-Rei, reuni-me com os prefeitos e os vereadores dos 25 municípios que compõem a diocese e propus a eles que estudem o texto base da CF nas Câmaras de vereadores e que nossas autoridades coloquem em prática as diversas propostas de ações que a Campanha da Fraternidade nos sugere. Propus também que nossas seis foranias e todas as paróquias, nossas pastorais, movimentos, irmandades, confrarias estudem e divulguem bem a Campanha da Fraternidade deste ano.


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“O turismo é a nossa grande indústria do futuro” Cláudio Rocha, eleito diretor-tesoureiro da ASSETURC, defende a integração do comércio de Resende Costa, a solidificação de um mercado forte e a implantação da indústria do turismo local ANDRÉ EUSTÁQUIO

“Precisamos fomentar a indústria do turismo em Resende Costa.” É o que defende o empresário Cláudio Márcio de Matos Rocha, proprietário do Supermercado Bom Preço e eleito diretor-tesoureiro da ASSETURC (Associação Empresarial e Turística de Resende Costa) em assembleia realizada no dia 28 de fevereiro último. Cláudio participou da diretoria anterior e foi convidado a continuar por mais um mandato. “Recebi a proposta de dar continuidade às ações que vinham sendo desenvolvidas no mandato anterior, dando cada vez mais enfoque no fortalecimento do comércio local”, disse o empresário. Resende Costa vem vivenciando, ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento substancial do comércio de artesanato, impulsionando diretamente outros setores da economia local. “A ASSETURC, querendo ou não, divide-se entre dois setores do comércio e cada setor tem sua peculiaridade. Nós aqui de cima (refere-se ao comércio no centro da cidade) temos nossas peculiaridades. Temos supermercados, farmácias, lojas de confecções, serviços etc. Lá embaixo (avenida Alfredo Penido), o artesanato tem outro foco, que é o atendimento maior no fim de semana. O foco deles é diferente. Portanto, não adianta hoje, para nós da associação, trabalharmos

de forma igual para todos. Cada um tem a sua peculiaridade. Foi então que começamos a discutir o que fazer com as lojas de artesanato, com os comerciantes lá de baixo”, disse Cláudio Rocha. COLHENDO FRUTOS E PENSANDO O FUTURO Uma das ações mais recentes da ASSETURC e que causou grande repercussão na cidade e entre os turistas foi a criação da mascote Tixa. A simpática lagartixa, representada em estátuas instaladas nas portas de alguns comércios da cidade, vem atraindo os olhares e a curiosidade das pessoas. A Tixa tornou-se celebridade, modelo fotográfica e atrativo turístico de Resende Costa. Além da Tixa e da sua revistinha que conta a história da cidade, a ASSETURC criou uma página no Facebook para divulgar suas ações e as aventuras da Tixa, tornou-se parceira da prefeitura e de outras instituições na realização de importantes eventos, como o Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes e a Mostra de Artesanato e Cultura. “Estamos colhendo hoje os frutos dessas ações. Já vemos mais pessoas procurando a cidade, pousadas cheias fora do período de férias e feriados e uma movimentação maior de turistas”, constata Cláudio. “Nesse segundo mandato, queremos solidificar o que já foi realizado e aumentar os convênios e parcerias. Queremos também promover mais

eventos com o objetivo de atrair cada vez mais turistas que vêm especialmente do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Esse é o nosso foco”, completa o diretor-financeiro da ASSETURC. Para o empresário, a principal estratégia, no momento, é investir na construção da “indústria do turismo”. “Entramos na questão da criação de infraestrutura para receber os turistas. Precisamos decidir, no entanto, qual o perfil de turistas que a gente quer. Nós já temos o turismo de atacado, que é forte, uma tendência em Resende Costa. Ou seja, o turista que vai às lojas fazer compras. Isso se desenvolveu sem nenhum envolvimento do poder público e fomentou o comércio local”. Para Cláudio Rocha, é necessário agora atrair turistas que permaneçam em Resende Costa e usufruam de outros atrativos que a cidade oferece além da diversidade das lojas de artesanato. A ASSETURC, de acordo com o projeto defendido por Cláudio, faria a mediação entre o poder público e outras instituições, como universidades, para a realização de convênios. “Podemos oferecer propostas de estágios a alunos universitários de turismo a fim de assessorar e capacitar pessoas na acolhida aos turistas que vêm aqui.” INTEGRAÇÃO E PARCERIA COM O PODER PÚBLICO O diretor-tesoureiro da ASSETURC caracteriza a economia

Foto André Eustáquio

ESPECIAL - Comércio em Resende Costa

Cláudio Rocha, empresário e diretor-tesoureiro da ASSETURC

de Resende Costa como uma cadeia de produção formada pelo que ele chama de “comércio nativo” (supermercados, farmácias, lojas de confecções e serviços etc.) e pelo artesanato. No entanto, e de acordo com ele, ambos os setores “são reféns do mercado”. “Uma crise econômica forte abala todo mundo”, alerta. Cláudio propõe como alternativa de blindagem às crises a criação de uma economia forte sustentada pelo turismo. “A indústria do turismo é a saída para superar a crise. E o que eu proponho? Parceria com a nova secretaria (Secretaria Municipal de Turismo, Artesanato e Cultura), visando à capacitação de pessoas para o fomento da indústria do turismo em Resende Costa. Falo da ampliação de opções e atrativos para o turista, como bares, pousadas, restaurantes, museu, divulgação da nossa rica história ligada ao movimento da Inconfidência Mineira... Por que não atrairmos, ainda que 10% dos turistas que vão a Tiradentes, para ficarem aqui? Mas para isso precisamos do poder público para captar recursos e buscá-los onde eles estão.” A preocupação do atual tesoureiro da ASSETURC é com a integração, isto é, conscientizar lojistas, comerciantes e empresários dos diversos setores do comércio de Resende Costa da importância estratégica do desenvolvimento de um mercado interno forte. “Precisamos fortalecer a economia de Resende Costa, que é frágil e nos deixa

reféns do mercado. Fomentar o mercado de Resende Costa e criar a nossa independência. Essa é a nossa preocupação”, diz Cláudio. E para atingir essa autonomia de mercado, o empresário aponta para o desenvolvimento do setor do turismo. “A nossa independência se chama turismo. Para chegarmos lá precisamos do envolvimento de todos, sobretudo de uma parceria forte entre o poder público, a ASSETURC e a iniciativa privada.” Cláudio Rocha aposta na indústria do turismo como garantia do futuro econômico e do desenvolvimento de Resende Costa. Para o diretor da Associação Empresarial e Turística, é urgente que se crie no município uma agenda política capaz de planejar ações de médio e longo prazos. “O turismo tem que estar na pauta do desenvolvimento de Resende Costa. E para isso é necessário um projeto político e econômico de continuidade.” Atrair à cidade turistas que desejam conhecer e curtir os atrativos da cultura mineira é uma boa estratégia, segundo o diretor da ASSETURC. “O turista que visita o Nordeste quer praia e sol; já quem visita Minas quer história, segurança, religiosidade. E isso nós temos aqui. Então, não podemos perder mais tempo, temos que aproveitar essa oportunidade que a história está nos dando.Temos que entender de uma vez por todas que o turismo é a nossa grande indústria do futuro”, conclui Cláudio Rocha.

Educação

Escola Paula Assis suspende uso de copos plásticos descartáveis VANUZA RESENDE

A Escola Municipal Paula Assis, localizada no povoado do Ribeirão, zona rural de Resende Costa, tomou uma decisão consciente para o ano letivo de 2019. A instituição de ensino não utilizará mais copos descartáveis. A diretora da escola, Virginia Daher, explica como surgiu a decisão: “Eu ficava incomodada

comigo mesma por usar tantos copos descartáveis. Esqueciame de guardar para o café do recreio o copo em que tomava água e acabava usando uns 4 ou 5 copos por dia. Não lembrava de reutilizar. E a quantidade no lixo só ia aumentando. Então conversei com os professores para que cada um trouxesse sua caneca. Todos aprovaram a ideia. Alguns funcionários já faziam isso, outros passaram a trazer também”, conta a diretora. Com a decisão, os copos

plásticos são usados apenas esporadicamente na escola, como explica Virginia: “Os alunos já não utilizavam copos, eles enchem suas garrafinhas para levar pra sala ou bebem direto do bebedouro. Com a medida, a redução mensal do copo plástico foi de praticamente 100%. Só usamos nos módulos quinzenais que são feitos em Resende Costa e nos eventos escolares como festa junina e formaturas.” A escola segue o exemplo de campanhas mundiais para a

redução do uso de plástico, um dos principais vilões da poluição marinha. O parlamento europeu, por exemplo, definiu no mês de março que até 2021 pratos, talheres, canudos e cotonetes de plásticos não serão mais fabricados. Em julho de 2018, a cidade do Rio de Janeiro foi a primeira capital a proibir o uso de canudos plásticos em estabelecimentos alimentícios. A proibição na cidade carioca teve repercussão positiva e serviu de exemplo para outros municípios

do país, que também aderiram à ideia. Para Virginia, ainda que pequenos, gestos como o uso de folhas com erros de impressão para rascunho e impressão de provas no modo frente e verso, adotados pela escola, ajudam a evitar o desperdício e protegem o meio ambiente. “Ainda temos muito a fazer nesse sentido. Mas estamos satisfeitos em, mesmo em pequena escala, contribuir para a preservação do meio ambiente”, afirma a diretora.


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ESPECIAL - Comércio em Resende Costa

ASSETURC elege nova diretoria ANDRÉ EUSTÁQUIO

No dia 28 de fevereiro último, a ASSETURC (Associação Empresarial e Turística de Resende Costa) elegeu e deu posse à sua nova diretoria, que terá mandato de dois anos. O empresário e sócio-proprietário da loja de artesanato Traços de Minas, Edmar de Assis, foi eleito presidente. É a segunda vez que Edmar assume a presidência da ASSETURC. Ele foi o primeiro presidente e um dos fundadores da associação, criada no dia 12 de setembro de 2005. Atualmente, a ASSETURC possui 58 associados, entre eles empresários do setor do artesanato e do comércio em geral. Edmar destaca a importância da associação para o comércio e o turismo de Resende Costa: “Acredito que a importância maior da ASSETURC é a busca de visibilidade e de melhorias para os setores do turismo e do artesanato, impulsionando também o crescimento do comércio em geral, uma vez que, se tivermos turistas em nossa cidade, todos saem ganhando: as lojas de artesanato, as farmácias, os supermercados...”. De acordo com Edmar, turismo e comércio representados numa mesma instituição podem colaborar para o fortalecimento da associação. “Com certeza, é uma estratégia que une os dois setores no que diz respeito a termos uma associação forte e que busca sempre o melhor para Resende Costa.” DIAGNÓSTICO E PROJETOS Edmar de Assis analisa o atual momento do turismo e do comércio de Resende Costa.

Para o novo presidente da ASSETURC, falta mais investimento em divulgação tanto do artesanato quanto dos atrativos turísticos do município. “Hoje, infelizmente, o turismo em Resende Costa está estagnado e isso se reflete no comércio local. Não temos investido na divulgação da nossa cidade, ou seja, faltam propagandas e informações de que somos a cidade do artesanato. Precisamos atrair ainda mais turistas, sejam eles de compra ou de permanência em nossa cidade, para que possam apreciar as belezas naturais de Resende Costa. Volto a insistir que o alvo principal para a melhoria da nossa cidade passa por maior investimento em publicidade. Acredito que com isso teremos mais pessoas visitando Resende Costa.” Enquanto estratégia de divulgação, Edmar de Assis já tem alguns projetos em vista e, entre eles, inclui-se a instalação de dois outdoors no trevo de acesso à cidade. “Os outdoors terão fotos ilustrativas mostrando o artesanato para que o turista que estiver passando pelo trevo tenha a dimensão da riqueza de nossa cidade.” Edmar deseja também divulgar os atrativos turísticos de Resende Costa através de vídeos. “Planejamos produzir vídeos institucionais e enviá-los a agências de turismo com o intuito de apresentar o artesanato e os pontos turísticos.” O presidente da ASSETURC planeja também incentivar o desenvolvimento do Ecoturismo, ou turismo rural – uma antiga demanda do município, que conta com grande potencial e atrativos. “Estamos pensando em desenvolver o Ecoturismo em parceria com restaurantes e fazendas, com o intuito de oferecer aos turistas passeios, para que fiquem mais tempo em Resende Costa e

Foto André Eustáquio

Edmar de Assis assume pela segunda vez a presidência da Associação Empresarial e Turística de Resende Costa. Aumentar o número de associados do setor do artesanato é uma das metas da nova diretoria.

Edmar de Assis, presidente da Associação Empresarial e Turística de Resende Costa

possam descobrir, na companhia de guias de turismo, cachoeiras, fazendas produtoras de queijos, de cachaça, além, é claro, de saborear um almoço da roça com gostinho do fogão a lenha.” BENEFÍCIOS PARA OS ASSOCIADOS Os empresários associados à ASSETURC podem usufruir de benefícios, que vão desde consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) a convênios médicos e exames. A associação possui também convênio com a ACIdel-Rei (Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei), além de disponibilizar

serviços de encaminhamento a empregos, xerox e confecção de etiquetas. A ASSETURC disponibiliza a seus associados o Cartão Sysprocard, fruto da parceria entre a associação, empresas privadas e prefeitura municipal. O Sysprocard, lançado em 2017, foi criado com a proposta de oferecer aos funcionários e empresários conveniados à associação uma opção segura de crédito, além de estimular o comércio de Resende Costa. Um dos desafios atuais da nova diretoria da ASSETURC é atrair mais associados do setor do artesanato. De acordo com Edmar de Assis, Resende Costa

possui atualmente 85 lojas de artesanato, porém somente 17 são associadas à ASSETURC. “Desejamos ampliar esse número por acreditarmos que só assim teremos uma associação forte e capaz de representar dignamente seus associados.” Edmar conta com a adesão de novos associados para colocar em prática projetos que visam o fortalecimento da associação e o desenvolvimento do comércio e do turismo. “Para conseguirmos realmente colocar em prática os nossos projetos, é vital que mais lojas se associem a nós, acreditem em nossas ideias para juntos trabalharmos em prol do desenvolvimento do turismo e do comércio de Resende Costa.”


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ACONTECEU

6º Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes movimentou Resende Costa e levou grande público ao Parque de Exposições O evento está crescendo a cada ano, oferecendo muitas opções aos participantes”, disse Lúcio, membro do Moto Clube Pilantras e um dos organizadores do encontro. O Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes vem sendo realizado em Resende Costa através de uma parceria entre os moto clubes “Os Aven-

O 6º Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes, realizado entre os dias 5 e 7 de abril no Parque de Exposições, movimentou Resende Costa. Durante todo o final de semana, passaram pelas ruas da cidade motos de diferentes marcas, modelos e tamanhos e motociclistas vindos

de diversas cidades de Minas e de outros estados. Shows com bandas e artistas que interpretam clássicos do rock agitaram o grande público que curtiu a programação do encontro. De acordo com os organizadores, o evento contou com a participação de 240 moto clubes e moto grupos inscritos. “Houve aproximadamente 800 motos.

A Tixa e um motocicilista membro do moto clube Os Pilantras, de São João del-Rei.

O Encontro de Motociclistareúne quem curte motos, boa música e um clima alegre de descontração, como destacou Viviane Santos. Na foto, ao fundo, com seus amigos.

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Familiares de Alcides Lara promoveram encontro que reuniu diversas gerações Encontros felizes podem surgir até mesmo nos revezes da vida. Foi justamente num desses momentos difíceis que a vida reserva para todos nós que surgiu a ideia de promover um encontro dos familiares de Alcides Lara. Em novembro de 2018, parte da família se encontrou em Barbacena por ocasião do falecimento de Ana Lara, filha de Alcides. Naquele dia triste, brotou a feliz ideia de promover uma confraternização reunindo descendentes (e agregados) de Alcides. “Ficou acertado um outro encontro, dessa vez motivado pela alegria da presença de pessoas ligadas por importantes laços familiares”, disse Regina Coelho, neta de Alcides Lara e uma das organizadoras do encontro.

Contatos realizados, programação definida, chegou o grande dia – momento para abraçar e rever os familiares. O “Encontro Família Alcides Lara” aconteceu no último dia 16 de março em Resende Costa. Às 10h, na igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França, foi celebrada missa em ação de graças, presidida por padre Claudir Possa Trindade, pároco da Paróquia São Judas Tadeu, em São João del-Rei. Após a missa, cerca de 90 pessoas, incluindo o filho de Alcides, Paulo Lara, netos, bisnetos e tataranetos e suas respectivas famílias se confraternizaram no Sítio do Papagaio, onde foi servido um delicioso almoço com churrasco. A.E.

O Encontro Família Alcides Lara reuniu diversas gerações. Missa em ação de graças e almoço no Sítio do Papagaio marcaram a programação do encontro.

tureiros” e “Pilantras”, ambos de São João del-Rei, Prefeitura, Câmara Municipal e ASSETURC (Associação Empresarial e Turística de Resende Costa). “Temos o imenso prazer de fazer parte dessa parceria na organização do encontro de motociclistas. Trata-se de um evento que movimenta muito o comércio de Resende Costa. Consideramos

um dos melhores eventos realizados em nossa cidade, que recebe muitas pessoas, sendo motociclistas ou não”, disse Edmar de Assis, presidente da ASSETURC. Viviane Santos, moradora de Resende Costa, elogiou o evento: “Parabéns aos organizadores! Ótima música, excelentes bandas, povo educado na festa, clima maravilhoso!”

As crianças se divertiram com a mascote Tixa, também presente no 6º Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes.

Fordinho 1929 da “Novela das 6” circula em SJDR JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE

Acabou a telenovela “Espelho da Vida” – a Novela da 6 – da Rede Globo. Mas o famoso Ford 1929 cor vermelhosangue, que durante a novela transitava pelas ruelas de Mariana e Tiradentes, na região histórica de Minas Gerais, continuará a circular pelas ruas de São João del-Rei, em eventos especiais. Um desses eventos foi o casamento de Dirceia, filha dos resende-costense Antônio Januário da Silva, o Toninho da Menina, escultor de oratórios em São João del-Rei, e de Ana Alda da Silva. A noiva foi conduzida nesse fordinho à igreja do Carmo por ocasião de seu casamento com Daniel Alves, em 1º de maio de 2010. O fordinho da novela, de

propriedade de Eustáquio Coelho de Resende, foi alugado para a Rede Globo por intermédio de Marcos Carazza, o Marquito, presidente da Associação de Carros Antigos de São João del-Rei. O carro, totalmente original, foi restaurado há mais de 40 anos na oficina de Mazinho – especialista em restaurar Ford 1929, já falecido –, que existia na Avenida Josué de Queiroz, perto da Escola Estadual Tomé Portes del Rei, no bairro de Matosinhos. Esse carro sempre esteve na posse de duas famílias, conta Eustáquio. “Ele pertenceu ao Geraldo Caputo, de São Tiago. Meu pai, José Coelho de Resende, comprou dele. Depois, o Nei Caputo (filho do Geraldo) comprou do meu pai. Então, meu irmão (Eudes) comprou do Nei e eu comprei do meu irmão.”

Eustáquio Coelho de Resende e seu Fordinho 29, em São João del-Rei.


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A teia do mundo

Contemplando as palavras

JOSÉ ANTÔNIO*

REGINA COELHO

ZÉ ERRADO – Alô?! É o Zé? – Alô! Sim, é o Zé. – Oi, Zé! Aqui é a Carol. – Tudo bem, Carol? – Espere aí... essa voz não é a do Zé que eu estou procurando. Desculpe, liguei pro Zé errado. Tchau! Zé errado... Eu sou o Zé Errado. Se existe o Zé Errado, então existe também o Zé Certo. E quem é ele? Onde ele está? Ele é o meu eu ao contrário ou o meu eu aperfeiçoado? Pelo menos, uma coisa eu posso afirmar: o Zé Certo não comete os erros que cometo, certo? Na escola, sempre me atrapalhei com os números. Errava tanto as contas que era mais do que Zé Errado: era Zé Absurdo. O Zé Certo acertaria todas, certamente. Sou míope. Um dia, aplaudi emocionado a manobra radical de um avião da Esquadrilha da Fumaça... lá no alto. Errei: era um urubu. O Zé Certo jamais seria bicado pela miopia, com certeza. E minha relação com o tempo? Sou fiel e assíduo ao atraso. Sempre arrumo umas coisinhas pra fazer na hora em que eu deveria estar fazendo outras coisas. O Zé Errado acaba sempre chegando atrasado. E o Zé

Certo? Sempre pontual, certeiro. Sou o Zé Errado, que muitas vezes acreditou que as madrugadas não amanheciam... e às vezes nem eram madrugadas. Não conte pra ninguém, mas eu nunca aprendi a assoviar. Nas vezes em que tentei, fiz um biquinho de francês com asma e chiei que nem pneu esvaziando. Coisas do Zé Errado. Enquanto isso, o Zé Certo fica na dele, acertando todas. E ainda é ventríloquo da minha consciência. É alter ego idealizado, perfeição distante, completude que virá depois do meu fim. Já que não sou o Zé Certo, contento-me em ser simplesmente um certo Zé. Cheio de erros, é verdade. Zé Errado porque vivo... e é impossível viver sem tropeçar. Zé Errante porque amo... e é impossível amar sem sentir saudade do porto. Zé Errata porque escrevo... e é impossível escrever sem voltar pra fazer de novo. E o Zé Certo? O Zé Certo, na certa, é uma transformação e não um encontro. Por mais que o procurem, ninguém o encontrará pronto. Nem a Carol.

*JOSÉ ANTÔNIO OLIVEIRA DE RESENDE é professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura da Universidade Federal de São João del-Rei. Membro da Academia de Letras de São João del-Rei. E-mail: jresende@mgconecta.com.br

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A fala como marca de identidade Em seu texto de apresentação do livro O que é isso, companheiro? (1979), do jornalista Fernando Gabeira, Ziraldo faz uma revelação interessante sobre o autor. “Tão bem ele usava as palavras de sua língua e tanto impressionava seus colegas de jornal (Jornal do Brasil), (...) que foi este detalhe a primeira coisa que o denunciou quando o embaixador dos Estados Unidos foi sequestrado para a libertação dos primeiros prisioneiros da guerrilha urbana brasileira. O bilhete do resgate estava tão bem escrito, tão tecnicamente bem escrito que os colegas de Gabeira – que havia abandonado o emprego de Chefe de Departamento de Pesquisa do jornal para cair na clandestinidade – não tiveram dúvida: Gabeira está nessa! E não deu outra.”, relata Ziraldo. Assim é. Podemos ser identificados por inúmeras marcas pessoais, entre elas, pelo nosso estilo linguístico, aqui entendido pelo jeito único que cada um tem de falar e escrever. Essa particularidade é principalmente explorada por muitos profissionais da comunicação. Como apresentador do Mesa Redonda, programa de debates da TV Gazeta de São Paulo, Roberto Avallone, que faleceu recentemente, ao fazer uma pergunta, sempre dizia “interrogação” no fim da frase. E se afirmava algo, “exclamação”. Dependendo da empolgação, dizia “vírgula” ou “ponto”. Isso me faz lembrar o hábito de muitos do desenho com os

dedos médio e indicador de cada mão imitando as aspas que cercam certas falas. Não por acaso, no processo de composição de personagens em novelas, programas de humor e propagandas, especialmente, os responsáveis por dar vida a essas criaturas da ficção dão também a elas determinados bordões, as tais frases proferidas exaustivamente para colar na imagem e nas ideias de quem fala. A intenção é essa. E quando um bordão emplaca, ganha a boca do povo, muitas vezes resistindo ao tempo. Prova disso é o “Tô certo ou tô errado?” do inesquecível Sinhozinho Malta (Lima Duarte), em Roque Santeiro (1985), TV Globo, novela de Dias Gomes. Na contextualização da frase, em tom intimidatório, querendo ter sempre razão, a personagem balança pulseira e relógio de ouro no braço, chacoalhando-os como uma cascavel. Mais recente (2004-2015) é o “Isso não te pertence mais”, de Fabiana Karla, intérprete de Dona Gislaine, uma divertida personal trainer de novos-pobres no Zorra Total, TV Globo, hoje reformulado no título (apenas Zorra) e na proposta (mais cult e foco no cotidiano). Para completar a trinca de bordões populares, não poderia faltar o “Não é assim uma Brastemp” (1991), texto usado ainda hoje como justificativa na comparação de algum produto tido como inferior porque não é uma “Brastemp”, ou seja, um artigo com a qualidade dessa

marca, subentendida como superior em relação às demais. Com olhos e ouvidos atentos e treinados pela profissão de muitos anos, vivo interessada nas palavras, em especial, nas expressões da vida real compartilhadas por tanta gente, ao mesmo tempo personalizadas em vocabulário próprio adotado naturalmente. Dessa forma, nós nos pegamos falando como nossos pais falariam e absorvemos o que vem da rua, da tevê, das redes sociais, dos livros... Daí surge o estilo linguístico de cada um. Com bordões, inclusive, que isso não é só coisa de artista. A gravação de uma voz anunciando pelas ruas de Resende Costa o “abacaxi doce, doce como mel” e o grito de “ó gás ás ás!!!” ecoando pelo centro da vizinha São João são boas formas de identificação desses produtos e de seus respectivos vendedores. Mas marcante mesmo foi ouvir por muito tempo a voz sorridente de uma certa senhora quando chegava em nossa casa carregando um balaio com sua produção artesanal de sabão de bola, que vendia para as freguesas, minha mãe, uma delas. Feito com cinza curtida (cujo líquido virava a dicoada) e sebo de vaca cozido, cada um deles vinha embrulhado na palha. Da escada mesmo, ao anunciar sua presença, D. Maria da Luz Vieira dizia: “D. Olga, ó o sabão, bem!”, todas as vezes exatamente assim, cativante e estilosa.


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Cidade

Resende Costa às escuras Escassez de postes e luminárias com luzes queimadas ou com acendimento intermitente têm deixado, com frequência, ruas e praças da cidade às escuras. Moradores reclamam de demora na manutenção Fotos André Eustáquio

ANDRÉ EUSTÁQUIO / VANUZA RESENDE

Desde que foi aprovada na Câmara, no dia 13 de setembro de 2013, a Lei Municipal 3.733 que institui a “Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (CIP)” ainda não foi muito bem aceita pela população de Resende Costa. Concomitante à aprovação da referida lei, uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) determinou que, a partir do dia 01 de janeiro de 2015, os municípios mineiros passariam a ser responsáveis pela iluminação pública das cidades, serviço até então gerenciado pela Cemig, conforme mostrou uma reportagem do JL publicada em setembro de 2014. Desde então, a população da cidade vem pagando a taxa de iluminação pública, porém a contrapartida não tem sido satisfatória. Basta percorrer à noite algumas ruas do centro e de diversos bairros da cidade para constatar que poucas melhorias foram feitas desde janeiro de 2015. Ruas escuras, postes apagados e outros com iluminação intermitente, ou seja, luz fraca que acende e apaga com frequência. Há informações de que comunidades rurais do município também apresentam o mesmo problema: iluminação fraca e luminárias com lâmpadas queimadas. No final do mês de março, o JL percorreu algumas ruas e praças da cidade, conversou com moradores e confirmou o que vem sendo motivo de muitas reclamações: Resende Costa carece de iluminação pública de melhor qualidade. Na avenida Alfredo Penido, entrada da cidade e onde se localizam as lojas de artesanato, há postes apagados e outros apresentando problemas. “A lâmpada de um dos postes acende e apaga com frequência. Os moradores reclamam, os técnicos vão ao local, trocam a lâmpada, mas o problema persiste. Às vezes, quando os técnicos chegam, a lâmpada acende. Eles vão embora e ela apaga novamente”, disse Leonardo Vieira, morador da Alfredo Penido. Antes de fechar a edição, Leonardo informou ao JL que, apesar da demora, o problema havia sido resolvido em um dos postes na Avenida Alfredo Penido. Na rua João Batista de Resende, bairro Nossa Senhora da Penha, os moradores tiveram que esperar por aproximadamente 45 dias até

Poste apagado em frente à Câmara Municipal de Resende Costa

Praça Nossa Senhora de Fátima com apenas uma luminária acesa

que a empresa responsável pela manutenção da rede pública fosse até o local e trocasse a lâmpada em um dos postes. “Os moradores ligaram e a empresa nada de fazer o conserto”, disse Valter Resende, morador do bairro. A rua escura traz transtornos aos moradores. “Quando os estudantes chegam à noite da faculdade, eles têm muita dificuldade de passar pelas ruas”, informa Valter, que mora na rua vereador Eliano de Sousa Resende, próxima à rua João Batista de Resende. Ele solicitou à prefeitura a instalação de mais um poste em sua rua. “Já pedi ao prefeito que instale mais um poste na minha rua, que continua muito escura. Mas até agora nada foi feito.” No centro da cidade, há também postes que apresentam problemas, deixando ruas e praças às escuras. Um dos postes da Avenida Monsenhor Nelson ficou apagado durante muito tempo entre dezembro do ano passado e o início deste ano. O problema se apresenta também em algumas praças da cidade. Na praça Nossa Senhora de Fátima, situada no Mirante das Lajes, até o fechamento desta reportagem havia somente uma luminária com lâmpada acesa. A escuridão é quase total no principal cartão-postal da cidade. “O poste em frente à minha casa é doente. De vez em quando ele acende”, reclama uma moradora do centro da cidade.

cobrar”, conclui o vereador.

RECLAMAÇÕES As constantes reclamações provenientes de diversos moradores da cidade chegaram ao vereador Vitor Tibuço (PSD). “Desde o dia 30 de janeiro deste ano, foram muitas reclamações que chegaram até mim. O pessoal geralmente reclama da taxa de iluminação pública, mas a partir do final de janeiro surgiram reclamações com maior frequência em relação a postes apagados, luz

fraca e intermitente”, informa o vereador. Segundo o vereador Tibuço, o problema é geral na cidade. “Não tem diferença de bairro”. Ainda de acordo com ele, as pessoas reclamam que o serviço de troca de lâmpadas demora a ser feito. “As pessoas ligam, agendam, anotam o protocolo, mas muitas vezes, segundo dizem, o serviço não é realizado. A gente liga para a empresa responsável, eles dizem que prestaram o serviço, mas os moradores afirmam que não”, disse Tibuço. No início de fevereiro, o vereador Vitor Tibuço procurou o prefeito Aurélio Suenes para tratar do problema. “Conversei com o prefeito para saber se a prefeitura está ciente da situação e quais medidas devem ser tomadas. Ele me disse que houve mudança de empresa prestadora de serviço. A prefeitura então realizou uma série de anúncios na rádio e nas redes sociais orientando a população a ligar para o 0800 e que, ao solicitar o serviço, anote o número do protocolo. Caso o problema não seja resolvido, as pessoas devem levar o número do protocolo até a prefeitura para as devidas providências.” Se após a instituição da taxa de iluminação pública ruas e praças de Resende Costa permanecem escuras e o serviço de manutenção é ineficaz, é plausível que os moradores questionem o valor cobrado e a eficiência do serviço prestado. “O que foi feito de melhoria na rede de iluminação pública desde 2013? Muitos moradores reclamam que pagam a taxa de iluminação pública, mas a sua rua não tem luminária, está escura”, diz Tibuço. “Às vezes a população pensa que a gente é omisso, mas tudo tem seu trâmite, tempo de prestação do serviço que a lei exige ser de cinco dias... No entanto, é nosso papel fiscalizar e

O QUE DIZ A PREFEITURA MUNICIPAL Desde que a ANEEL determinou serem as prefeituras responsáveis pela manutenção da iluminação pública nos municípios, a Prefeitura Municipal de Resende Costa julgou necessário terceirizar o serviço. “A prefeitura não dispõe de estrutura adequada para realizar um bom trabalho com segurança. Atualmente, a empresa responsável pelos serviços de manutenção citados é a Vagalume Instalação e Manutenção Elétrica e a gestão do contrato é feita pelo CIGEDAS VERTENTES (Consórcio Intermunicipal de Gestão e Desenvolvimento Ambiental Sustentável das Vertentes), criado para desenvolver ações conjuntas de 18 municípios do Campo das Vertentes. A contratação da referida empresa se deu por meio de licitação, objetivando maior economia na prestação dos serviços”, esclarece o prefeito Aurélio Suenes. Segundo informou a prefeitura, o valor médio da taxa de iluminação pública no município, arrecadado pela Prefeitura Municipal, varia em torno de aproximadamente R$ 20,00 por consumidor. Ainda de acordo com a prefeitura, 30% desse valor arrecadado é utilizado para novas instalações e modernizações da rede de distribuição de energia elétrica e iluminação pública de Resende Costa. O restante é direcionado ao pagamento da conta de iluminação pública e para cobrir os serviços de manutenção da rede pública prestado pela empresa contratada. Questionado sobre a quantidade de postes apagados na cidade, o prefeito disse: “A empresa contratada para execução dos serviços iniciou suas atividades em janeiro

deste ano. Porém, havia uma grande demanda para manutenções a serem realizadas na cidade e a empresa necessitou ajustar a disposição de equipes e equipamentos para atender a todas, o que ocasionou certo atraso. A empresa está regularizando a situação para poder atender às demandas no prazo estabelecido de cinco dias úteis. Inclusive, no sábado, dia 23 de março, foi realizada manutenção em aproximadamente 100 pontos que estavam com protocolos em aberto.” ATENDIMENTOS Em caso de postes apagados, a população deve entrar em contato com o Call Center da empresa: 0800 090 0300. “Este Call Center foi criado unicamente para atender a esse tipo de demanda. Ao ligar, os cidadãos devem ter em fácil acesso o endereço e um número residencial de referência e devem também anotar o número do protocolo. Caso o serviço não seja executado pela empresa no prazo de cinco dias úteis, o cidadão pode entrar em contato com a prefeitura informando esse protocolo para que possamos tomar providências”, orienta o prefeito Aurélio. Aurélio Suenes informou que existem novos projetos para melhoria na iluminação pública de Resende Costa. “O município estuda a possibilidade de substituir as atuais luminárias pela tecnologia de LED, que, além de ser mais econômica, é bem mais eficiente. Junto a isso, está em andamento o projeto de Extensão de Rede Elétrica com a empresa contratada JM INSTALAÇÕES ELÉTRICAS e está passando por aprovação na CEMIG, o que pode acarretar atrasos na execução. O projeto abrange cerca de 30 ruas e pode ser consultado na Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos”, conclui o prefeito.


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Retalhos literários EVALDO BALBINO

O pescador de lembranças No profundo romance Uma fenda na muralha, o escritor português Alves Redol escreveu que “se no Mar um homem matasse peixe como as palavras puxam lembranças, o Mar ficaria vazio em poucos meses”. Não sou matador de peixes, mas luto sim com palavras para puxar lembranças. É uma luta amorosaa que faço. Tudo o que digo não se conclui, nunca termina. E assim vou vivendoentre palavras e palavras mais. Pois não há como fugir das palavras. Quero tocar as coisas, e não consigo. Tenho só palavras. Temos só palavras, principalmente as poéticas, para tentarmos dar conta do que não se consegue na vida, sobretudoda eternidade. Por isso fazemos representações literárias. Construções metafóricas de Deus, da vida, enfim de tudo o que existe e o que se imagina. Esbarramos sempre na impossibilidade de falarmos de nós mesmos. Então falamos de tudo. No

fundo mesmo, todavia, buscamos falar é da gente. Estamos sempre lá, entre as palavras, mesmo que por detrás de máscaras. E, mascarados, vivemos a vida, entre palavras, lembranças e sonhos. Eis a superfície da mesa que pesco com meus olhos. Eis a cadeira vazia da minha presença. Eis as cortinas por fechar e abrir, a brisa calma lá de fora da nossa casa. Eis a nossa casa mesma e tudo o que nela existe. Eis a rua e os seus passantes, as pessoas outras, os animais, as plantas com sua vontade de movimento e vida... Eis tudo isso que cai na rede de nossas mãos copiosas no buscar rastros do que se viveu, passos do que se vive. E sempre tecendo, as nossas mãos rendeiras vão tramando redes para futuras pescarias. E vão sempre esperando que chegue o Filho do Homem com suas promessas de peixes, o ar benfazejo soprando das águas da vida. Isto aqui, o que urdo, não

tem nenhuma pretensão. Não sou o poeta promovendo um Cântico dos cânticos. Não sou o rapsodo proclamando o Poema dos poemas. Os traços que vou arquitetando são meros traços. Riscos pretos em pauta branca, página que se abre à minha frente como se abre a neblina do tempo para os longes que vão se formando e se distanciando à medida que o tempo passa. E a neblina, não obstante seja densa, permite aos meus olhos a (re)visão de muitas coisas, de pessoas, de fatos. Visões e revisões que se transformam, que se curvam e mudam de forma, mutantes. Assim mesmo como um pauzinho imerso n’água nos apresenta sua pontinha curva que, na verdade, é reta. Tudo é filtrado por espelhos, tudo ao contrário e a mesma coisa. Não são apenas contos de fado o que conto. Mas o que traço são pinturas amorosas por mãos de memorioso, de um que me-

moria e que o faz com amor. De tanto memoriar amorosamente, posso-me sim dizer memorioso, o pleno de passados, vividos e revisados. Não quero e não posso, portanto, compor a Memória das memórias. Assim vou tecendo recordações diversas, pequenas, várias. Minhas mãos são meu coração. E meus dedos se emaranham em pedaços de retalho para a composição duma colcha que não se finda. Pequenas falas, as minhas. Homilias que tentam alcançar a grandeza da vida. Alocuções conscientes de que tal grandeza é inalcançável e de que nos resta apenas viver a vida. Cada momento eterno e mutável em nossa memória. Sem nenhuma vaidade, então, vou ciscando as páginas ofertadas a mim pela existência real e concreta. Vou ciscando-as tal qual uma galinha esperta indaga o terreiro vasto. Vou remexendo detritos para vasculhar e retecer o passado, que é tão e sempre pre-

sente. Tão e sempre diverso de mim e igual a mim mesmo. Resgato e reconstruo tudo como se redimem pecadores das profundezas do inferno na mitologia cristã ou como se libertam mortos dos mundos subterrâneos em outras mitologias. Faço, portanto, como todo ser humano fez e faz: construo narrativas para poder me salvar, para nos amparar a todos de tempo e traça. Faço isso para defender a própria traça, transformando-a também num traço. Tudo são memórias de memórias mais. Tudo isso que aqui se verbaliza e se busca arrematar. Mas não alcanço arremate de nada. A vida nunca termina, é eterna. Nada se conclui, tudo prossegue. Pesco nas águas da vida, retiro delas com afinco as ondas que nos perfazem. Apanho dessas águas, sempre. Tento ardilosamente conseguir rever os passados, e sempre estou imerso num tempo sem fim.

podem servir de alerta para pais e docentes, como obsessão por armas ou mídias violentas, postagens sobre ataques e comportamentos agressivos ou depressivos, entre outros.” Fala o doutor em Psicologia e professor do Instituto Federal de Goiás, Timoteo Madalena Viera, em artigo sobre o assunto: “O que sabemos é que mesmo pessoas biologicamente saudáveis podem desenvolver problemas assim quando submetidas a condições adoecedoras, ou quando inseridas numa cultura doente, pelo fato de que nossas crenças, nosso modo de interpretar e compreender a realidade não são algo imutável, fixo, rígido. No senso comum, a ideia de um monstro, um psicopata tresloucado, é muito usada para dar a resposta que procuramos. Isso simplifica as coisas. Explicações assim falsificam a realidade e nos ajudam a evitar a percepção de que podemos ter responsabili-

dade na expansão desse fenômeno.” Não digo que se resolva tudo, pois tais acontecimentos continuarão a ter aspectos imprevisíveis, mas uma tomada de posição da sociedade que transita por práticas socioeducativas, legislação sobre mídia internética, política de desarmamento etc. melhora bastante. A sociedade não pode jogar para debaixo do tapete tais acontecimentos. Eles devem gerar reflexões fundamentadas, estudo de práticas pedagógicas, um olhar cuidadoso para a cultura da paz e sua implementação em todos os níveis sociais: família, religião, política, integração de refugiados e demais problemas. Distribuir a verdade é a melhor arma. É o que penso. E você?

O verso e o controverso JOÃO MAGALHÃES

Massacres. Como interpretar? Uma das características humanas é a ânsia por explicações para os mistérios que nos rodeiam. Raiz, aliás, de muitas religiões e impulso para as pesquisas científicas. Acompanhamos recentemente o massacre de alunos e funcionários da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano/SP. Dois ex-alunos, um – 17 anos – com arma de fogo, outro – 25anos – com arco e flecha, besta, machadinha – invadem a escola. Em 15 minutos, matam a esmo duas funcionárias e cinco estudantes e deixam 11 feridos. E o massacre da Nova Zelândia, com um atirador matando 49 pessoas, invadindo duas mesquitas e transmitindo o ataque ao vivo no Facebook, com uma câmera no capacete. Frente a tais acontecimentos subanimalescos, assassinatos frios contra indefesos, aleatórios, muitos terminando com suicídio, buscam-se explicações. Cérebros

criminosos natos, conforme a famosa teoria do criminologista italiano Cesare Lombroso (18351909)? Psicopatas de estrutura gélida, cruenta, sádica? Pessoas incrustradas de ódio, fanatizadas e orientadas por grupos do mesmo jaez? Uma contribuição informativa: há estudos científicos recentes analisando o teor de dezenas desses atiradores pelo mundo que portam informações inesperadas, contrariando, inclusive, explicações de senso comum. Revelam que, na maioria dos casos, não havia indícios de psicopatia. Experiências de vida, traumas, abusos de vários tipos e outros fatores sociais desenvolveriam tais comportamentos, mesmo em pessoas biologicamente sadias que passam por tais fatores. Segundo o psicólogo americano Peter Langman, um dos maiores estudiosos do assunto no mundo, na pesquisa que fez em

150 ataques (site schoolshooters. info), os perfis psicológicos dos atiradores são diferentes. Dividiu-os em três grupos: os traumatizados, os de transtornos psicóticos, os psicopatas. As motivações também são diversas. Contudo, há semelhanças: maioria homens (94%), brancos (63%), armas vêm da própria casa e são de posse dos pais, a maioria suicidou-se e 38% são menores. Ainda conforme o estudioso americano: “Entre os atiradores traumatizados, os pais são os principais problemas na vida dos filhos. Para os outros perfis, não é que os pais estejam falhando. Muitas vezes, eles (atiradores) escondem deliberadamente os seus pensamentos e sentimentos dos pais. Mesmo quando os atiradores estiveram em psicoterapia, ocultaram suas intenções violentas.” Prossegue Peter Langman: “Há sinais, no entanto, demonstrados previamente pelos atiradores que

Fonte: Fabiana Cambricoli in O Estado de S. Paulo.


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REGIONAL - Bairros são-joanenses

Bairros são-joanenses: Matosinhos no jogo de perde e ganha “Matosinhos é um bairro completo, que só não tem agência bancária”, resume o corretor de imóveis Eustáquio Coelho Resende, morador desde 1997. No jogo de perde e ganha, o bairro perdeu mais um bem histórico – a portada (portal) da antiga igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Mas vai ganhar três empreendimentos econômicos de grande porte: um conjunto de duas torres (prédios), um prédio, ambos residenciais, e um shopping center. Uma “quase cidade” que cresceu muito nas últimas décadas, ao ponto de se subdividir em vários “bairros” (vilas e núcleos habitacionais). Para unir esforços em defesa dos interesses das comunidades desses “bairros”, funciona desde 1999 a Associação dos Moradores e Amigos do Grande Matosinhos (ASMAT). Entre outras atividades, a ASMAT edita o jornal “O Grande Matosinhos” (impresso até março de 2013, apenas eletrônico a partir daí), diz José Cláudio Henriques, seu fundador e primeiro presidente, que é membro do Instituto Histórico e Geográfico (IHG) e da Academia de Letras de São João del-Rei e autor do livro “Bairro de Matosinhos – berço da cidade de São João del-Rei” (Editora UFSJ, 2003). Portal. A perda mais recente do bairro é a portada em pedra sabão da primitiva igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, de 1771-1774, demolida “criminosamente” no início da década de 1970, mesmo tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), diz José Antônio de Ávila, membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei. A portada fora “irregularmente negociada com um magnata paulista (o advogado e banqueiro Mário Pimenta Camargo), que a adquiriu para ornamentar a entrada da sua fazenda. O paradeiro da portada acabou sendo descoberto e, desde o ano de 2003, tramitou na Justiça um processo para que a histórica peça voltasse a integrar o patrimônio cul-

tural são-joanense”, diz Ávila. “Por fim, depois de todos esses anos de luta, conseguimos a devolução da portada pelas vias judiciais e a peça chegou à cidade na tarde de 27 de fevereiro último, tendo sido descarregada e guardada no Museu de Arte Sacra (Largo do Rosário)”, prossegue Ávila. “No entanto, apesar de estar bem guardada, a portada deveria ter voltado é para o lugar de onde nunca deveria de ter saído, ou seja, o seu local de origem, o adro do atual Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, onde seria reinstalada num memorial que ficaria o mais próximo possível de seu local de origem, já com a concordância do Padre Bittar, pároco local.” O retorno do portal não deixa de ser uma vitória dos fundadores do IHG, que “em 1970 manifestaram-se energicamente contra a demolição da igreja”, recorda Ávila. “Com a igreja em processo de extinção, os membros do IHG lutaram para que pelo menos a portada aqui permanecesse.” De nada adiantou e a peça (de aproximadamente seis metros de altura por três de largura) foi vendida pelo padre Jacinto Lovato Filho por cinco mil cruzeiros. Há cerca de 4 anos, o escultor sacro Osni Paiva elaborou projeto de colocação do portal no interior da atual igreja de Matosinhos. A peça seria instalada próximo ao presbitério junto ao altar, que assim seria reformulado para que formasse, junto com a portada, um conjunto harmonioso. Nesse conjunto estariam incluídas as imagens do Bom Jesus (século 18), de Nossa Senhora da Lapa (imagem portuguesa do século 18 com belíssima coroa de prata), do Divino Espírito Santo e de São Libório (século 19), esta última atribuída ao artista são-joanense Joaquim Francisco de Assis Pereira. Foi realizada uma pesquisa de opinião (internet e presencial) e o resultado foi a aprovação da proposta, conta o santeiro. “Até uma sexta-feira, estava certo que o projeto seria executado. Quando foi na segunda-feira, por forças ocultas o projeto foi desfigurado e não mais

incluía a portada.” Monsenhor Paiva, ex-pároco da Catedral do Pilar, chegou a se interessar pela portada porque já pretendia criar o Museu de Arte Sacra, conta Osni. Mas ele ofereceu um valor de quatro mil cuzeiros, ou seja, mil cruzeiros a menos do que o que seria pago pelo empresário paulista. O portal ficou mais de 40 anos na Fazenda São Martinho da Esperança, em Campinas (SP). Osni também gostaria que o portal – lavrado em pedra-sabão talvez pelo mesmo artista que trabalhou nas portadas em pedra da igreja de São Francisco – voltasse para Matosinhos. Mas reconhece mérito ao padre Geraldo Magela da Silva, atual pároco da Catedral, que se empenhou em guardar a peça no Museu de Arte Sacra. Empreendimentos. O comércio de Matosinhos vai ganhar novo impulso com o shopping center que será erguido na área (15.500 m²), onde funcionou a antiga Fábrica de Tecidos São João, na Avenida Josué de Queiroz. A construção abrangerá área de 7.500 m², distribuída entre supermercado (3.500 m²) e área central (de 4 mil m²) ocupada por 40 lojas (das quais sete nas casinhas da Vila Operária, tombadas pelo Patrimônio Histórico), posto de gasolina e praças de alimentação, além de estacionamento de veículos com cerca de 300 vagas. A terraplanagem já foi concluída e estão em fase inicial as obras de fundação e de infraestrutura (água, esgoto, pavimentação, instalação elétrica etc.), conta João Lombardi Neto, o Joe Lombardi. A prioridade é a construção do supermercado (com estacionamento no nível superior), cuja inauguração está prevista para o final do ano. No setor habitacional, um conjunto de duas torres de 12 andares por prédio (cerca de 240 apartamentos no total) será construído na Avenida Tomé Portes del Rei (saída para Santa Cruz de Minas), ao lado do supermercado Sales. Também está prevista a contrução de um prédio de 15 andares na Rua Sete de Setembro, ao lado do supermercado

Bergão. A informação é de que já houve até a desapropriação de lojas de comércio e escritórios no local. Mas esses empreendimentos residenciais não significam, ne-

cessariamente, uma tendência de verticalização na região central de Matosinhos, por falta de terrenos disponíveis, explica Eustáquio Resende.

Fotos José Venâncio

JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE

Antiuga Estação Chagas Dória, no Matozinhos, está abandonada

Conjunto chafariz e estátua, adquirido em 1887 na França pela Câmara Municipal e tombado pelo Patrimônio Cultural

Os escultor são-joanense Osni Paiva e a portada da antiga igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, demolida no início da década de 1970


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REGIONAL - Bairros são-joanenses

Comércio. Apesar de não mais ter agências bancárias, o centro do Matosinhos é considerado a segunda força comercial da cidade. O radialista Tovar Luiz da Silva, que nasceu e vive no bairro, recorda que já funcionaram lá agências de bancos como Credireal, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco. Ainda assim, o comércio do bairro continua pujante, acrescenta Tovar. São dezenas de lojas de confecção, de autopeças e de material de construção, oficinas mecânica e de artesanato (ferro e madeira) e postos de gasolina. No ramo de comunicação e tecnologia, a Conecta, com sede no bairro Matosinhos, vende serviços de internet, TV por assinatura via satélite etc., além de produtos eletrônicos, como smartphones. Um dos maiores e mais tradicionais fabricantes de carrocerias de Minas Gerais – o Agostini – também está no bairro, com variada linha de produtos, tanto carrocerias quanto pallets, embalagens de madeira, portas, janelas, materiais de construção e madeiras. Desde 1960 a empresa produz carrocerias. Já são três supermercados (Bergão, Esquinão e Sales), com a perspectiva de chegar mais uma bandeira em breve. O Bergão e o Esquinão são propriedade de famílias genuínas de Matosinhos, observa Tovar, respectivamente as famílias Bergo e Nascimento. Aliás, o Bergão adquiriu, há algum tempo, área gigantesca na Rua Sete de Setembro (antiga Fazenda do Gualter), utilizada atualmente como estacionamento da frota do supermercado. Um futuro hipermercado para sair do aluguel e fazer frente ao acirramento da concorrência? No terreno da paróquia, adquirido do antigo Cotonifício Chagas Dória, existem múltiplas atividades, como quadra poliesportiva e espaço para eventos; brechó beneficente; espaço para ensaios e aulas da sinfônica paroquial; e salão para círculo bíblico. Também funciona a “Arca de Noé” (lojas de artigos religiosos), além de haver espaço para os feirantes, que expõem aos domingos em frente à estação Chagas Dória, guardarem seus pertences. No adro atrás do Santuário do Senhor Bom Jesus, há salas para catecismo, reuniões de grupos de oração, dos Narcóticos Anônimos e grupo de cursilho da comunidade. No setor educacional, a Uno-

par (universidade à distância) e a “Up and Go” (escola de inglês) têm menos de dois anos, lembra Tovar. Mais antigos são o Sesi/Senai (educação básica e cursos profissionalizantes) e as escolas municipais e estaduais (Tomé Portes del Rei, Mateus Salomé, Governador Milton Campos (antigo Polivalente) e Escola Elpídio Ramalho), além de três creches municipais. Centros clínicos de reabilitação e de terapias formam o cenário da área de saúde, como a Policlínica de Matosinhos, que atende o bairro e a cidade (caso da oftalmologia), em cujo anexo funcionam equipes de saúde da família (ESF) e uma farmácia municipal. A Clínica São Lucas atende a cidade inteira em várias especialidades médicas. Uma inovação é o Centro de Terapias Integradas (CETIN), da psicóloga resende-costense Jane Resende, que desde 2015 oferece atendimentos clínicos nas áreas de psicologia infantil, adolescente, adulta e geriátrica, psicopedagogia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Estação. Toda semana, de sexta a domingo, incluindo feriados, é comum ouvir o apito característico da Maria Fumaça, que corta o centro de Matosinhos no trajeto de bitola estreita (70 cm) entre São João del-Rei e Tiradentes. Com um detalhe: o trem passa direto pela Estação de Chagas Dória. A Estação Ferroviária de Chagas Dória foi inaugurada para atender ao novo ramal, construído nos idos de 1908, entre Matosinhos e Águas Santas, o conhecido balneário localizado no município de Tiradentes. Até então, o bairro era caminho dos trens da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM), inaugurada em 1881, entre São João del-Rei e Sítio (atual Antônio Carlos) – passando por estações como Tiradentes, Prados, Barroso e Barbacena, que se ligavam com a Estrada de Ferro Pedro II. Antes da estação, o trem fazia breve parada para o embarque de passageiros e movimentação de cargas. O ponto era mais conhecido como a Parada do Matosinhos, relata José Antônio de Ávila. Aquele ramal não existe mais e a estação, “embora retocada por várias reformas paliativas e descaracterizantes, permanece abandonada. A originalidade dela foi bastante afetada por

intervenções desastrosas”. Mesmo assim, a “sua romântica plataforma ainda conserva a lateral em pedra original…”. A Estação de Chagas Dória pertencia à massa falida da Rede Ferroviária Federal, que passou a ser administrada pelo IPHAN, juntamente com a sede da Rede Ferroviária Oeste de Minas (EFOM) em São João del-Rei e a estação de Tiradentes. “É um importante monumento de valor documental-histórico, tanto que é tombado em nível federal pelo IPHAN”, assinala Ávila. O acervo da antiga EFOM, atualmente, é explorado para fins turísticos pela Ferrovia Centro Atlântica (FCA), explica Ávila. “A Estação Chagas Dória e seu entorno estão sendo transformados em lixeira pública, motel a céu-aberto, local de encontro de consumidores de drogas, pouso de mendigos, além de invadidos pelo mato.” Parece que nem mesmo a permissão para a prefeitura instalar ali um centro de referência do artesanato no local, cuja gestão é feita pela Secretaria Municipal de Cultura, resolveu o problema. Há um movimento para que se crie um atrativo para os turistas (por exemplo, lojas de artesanato) com a Maria Fumaça fazendo uma curta parada na estação, lembra Ávila. A esperança estaria no projeto de restauração e reurbanização do seu entorno, encomendado há alguns anos pela ASMAT à arquiteta Zuleica Teixeira Lombardi, diz Ávila. “O projeto foi doado para a associação, mas, por falta de interesse público, por injunções políticas negativas e por falta de patrocinador, infelizmente não foi implantado.” Estátua. Na praça principal do bairro, encontra-se exposto à ação dos vândalos o conjunto chafariz e estátua, adquirido em 1887 na França pela Câmara Municipal e tombado pelo Patrimônio Cultural. A estátua é uma representação masculina, mais provável que seja uma alegoria ao Verão (l´Été, em francês), observa Ávila. Antes, acreditava-se que fosse a figura mitológica da deusa Ceres, representada por uma escultura colocada em cima de um chafariz, formando “conjunto belíssimo, que ora agoniza no meio da principal

Foto José Venâncio

Bairros são-joanenses (continuação)

Igreja do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, construída no local onde antes localizava-se umo belo templo erguido entre 1771 e 1774

praça de Matosinhos”. O chafariz bem que poderia “voltar a jorrar água das bocarras de faunos lá existentes”. Corroído pela ferrugem, o conjunto “merece mais atenção e carinho”, lamenta Ávila. Do patrimônio histórico e arquitetônico de Matosinhos, restaram apenas dois monumentos decadentes: a Estação Ferroviária de Chagas Dória e o conjunto do chafariz e estátua, contabiliza Ávila. O bairro perdeu o pavilhão estilo mourisco (de 1913) e a igreja primitiva (século 18) do Bom Jesus. “Se o povo e o bairro de Matosinhos já perderam grande parte da riqueza arquitetônica que possuíam, o pouco que restou do seu patrimônio merece maiores e melhores cuidados. Se não cuidarmos deles, as futuras gerações os terão apenas como ´retratos drummondianos´ nas paredes.” Esporte. O esporte faz parte da vida dos moradores do bairro. Segundo Tovar, três clubes são-joanenses desenvolvem atividades em Matosinhos: o Athletic, um dos mais antigos de Minas (fundado em 1909); o Social, “patrimônio do bairro” e um dos mais tradicionais de São João del-Rei (fundado em 1939) e o Siderúrgica. O Athletic, que luta pelo acesso à principal categoria do campeonato mineiro, tem estádio (Joaquim Portugal) e sede social (inclusive, com restaurante) no bairro onde realiza treinamentos e aloja atletas da base e do profissional. Já o Social, além do estádio Paulo Campos, dispõe de parque aquático, quadras e sauna para sócios e atletas, estes últimos com opção de alojamento. Por fim, o Siderúrgica, além do estádio João Gonzaga, conta com quadra coberta, que é usada tam-

bém pela comunidade. Trânsito. Uma das deficiências do bairro é, “sem dúvidas, o trânsito caótico nas avenidas Josué de Queiroz e Sete de Setembro”, diz José Cláudio Henriques. Além do trânsito normal da cidade, o fluxo de carretas, caminhões e ônibus corta o bairro em direção às cidades de Lavras e Barbacena e vindo delas. Matosinhos também é “vítima do péssimo transporte público coletivo, prestado pela concessionária em São João del-Rei”, acrescenta o ativista social Air Sousa Resende, membro da Associação dos Movimentos Sociais, Moradores e Amigos de São João del Rei (AMMAS DEL REI). Além disso, existem linhas sobrepostas (Tiradentes e Santa Cruz de Minas), que não atendem aos usuários de Matosinhos porque os ônibus só pegam passageiros “ponta a ponta”, ou seja, não transportam passageiros dentro da cidade. São exemplos de sobreposição as linhas Tijuco – Santa Cruz de Minas, São João del-Rei – Tiradentes e a linha via BR-265, com destino ao Elvas, que tem ponto final antes da ponte do rio Elvas. Por isso, Air defende que o governo estadual faça convênio ou consórcio entre esses municípios para realizar uma licitação comum para o transporte público. É a chamada “metropolização do transporte”, com base na Constituição e na Lei Federal 12587/2012 (Lei da Mobilidade Urbana). “Esse convênio ou consórcio teria preços de tarifas urbanas.” (A íntegra da reportagem está disponível em www.jornaldaslajes. com.br/sao-joao-del-rei) (J.V.R)


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Gastronomia CLÁUDIO RUAS

Era uma vez um frango Era uma vez um frango. Não um frango em si, o bicho, que cresce, cisca, morre e vai para a panela. Um frango como uma “instituição”. Um frango em forma de tradição, cultura e celebração. Um frango como um evento semanal, quase religioso, em um peculiar cotidiano de um grupo de amigos, numa rocinha de uma cidade do interior das Minas Gerais, no coração do Brasil. Era uma vez um frango. Que começou há mais de vinte anos atrás. Não em um final de semana, mas numa noite de segunda-feira brava. Era nesse dia que o proprietário tinha uma folguinha na sua agenda corrida. E lá se foram ele e seus amigos aproveitar a rocinha recém-comprada, com muita prosa, cachaça boa, luz de lampião e um clássico da culinária mineira: o frango caipira ensopado. Era uma vez um frango. Depois da primeira semana, ele foi se repetindo, repetindo, tomando forma e corpo, virando

tradição. Sempre nas segundas (à exceção do Carnaval, quando era transferido para Quarta de Cinzas), só os homens e o prato principal, o frango. Abatido na hora. Cozido no mesmo caldeirão. Ensopado, na maioria das vezes com caldo engrossado com fubá. Algumas vezes com quiabo, quase nunca ao molho pardo, mas por um bom motivo: o “sango”, talhado no caldo quente, se transformava num concorrido tira-gosto. Era uma vez um frango. Que, na verdade, escondia por detrás da sua figura culinária um colosso de tira-gostos. A começar por uma taia de qualquer coisa preparada às pressas na chapa quente do fogão, a modo de amparar o primeiro – e urgente – gole de cachaça. A mandioca cozida na leiteira grande, a pele enfumaçada do varal de bambu, o torrêmo e a linguiça. Sempre escoltados por um prato de angu quente (roubado da panela), ainda um pouco cru. Pimenta em cima e aquela “obrigação” de beber

uma pinga. Era uma vez um frango. Onde a chegada do tira-gosto na mesa tinha o poder de promover uma inquietude dos participantes, uma ciscação danada. Alguns se levantando do banco, outros largando suas funções de preparo, a conversa interrompida e todos ali, salivantes, em volta da comida, caçando o vidro de pimenta ardida e disputando a canequinha de cachaça esmaltada. A lista dos petiscos tradicionais era grande e variava conforme a disponibilidade dos ingredientes, inclusive da horta. Nem só de carne viviam aquelas hienas famintas. O jiló e o brócolis, por exemplo, eram dois itens presentes no cardápio. O primeiro, cru, com sal e limão, e o segundo, cozido no vapor do próprio frango, servido com muito azeite português – uma verdadeira iguaria. Era uma vez um frango. Que volta e meia ainda recebia outros animais para dividir sua atenção. Cabrito, carneiro,

leitoa, peixe e até alguns exóticos, como javali, paca, tatu, cotia (não!). Quase sempre presentes ofertados ao dono, pessoa querida da cidade e grande apreciador de sabores especiais. Mesmo assim, o frango continuava como a grande estrela da companhia, mesmo não sobrando tanto espaço para ele nos estômagos da turma. Era uma vez um frango. Cujo ritual começava no planejamento da ida, na parada estratégica para comprar cerveja na venda de roça, na sintonização do rádio companheiro, na escolha dos copos preferidos de cada um, no descascar do alho, na expectativa do tira-gosto inicial, na primeira prosa levantada. E aí a coisa corria. Com muito assunto, muitas risadas, algumas polêmicas e, sobretudo, uma alegria imensa por estarem ali, desligados das suas vidas e plugados naquele outro mundo, sem nem lembrar que ainda haveria – com ressaca ou não – uma semana

de trabalho pela frente. Era uma vez um frango. Que acolheu muita gente diferente ao longo desses anos. Uns passaram, outros permaneceram. E no período de férias ou feriados, ainda ganhava reforço daqueles que moravam longe e sonhavam com aquilo ali semanalmente. Teve gente que até já saiu da capital só para vir ao frango e voltar cedinho no outro dia (valia a pena, viu?). Era uma vez um frango. Cujo mentor e responsável pelo seu acontecimento foi capaz de proporcionar momentos muito importantes, não só para quem de fato esteve lá. Ali se alimentaram não somente pessoas, mas também a nossa cultura, nossas tradições e nossas origens. Aquele frango, naquele lugar especial e bucólico, agora não existe mais. Mas ele não morreu. Transformou-se, adaptou-se a uma nova realidade e continua vivo, em outro lugar. Esse frango é para sempre.

moro e que celebra diariamente a missa: padre, vamos deixar a missa hoje e vamos varrer a praça onde fica nossa igreja; está muito suja! Tive que sair quase correndo, para não ouvir uma espinafração. Eu sei que se pode fazer uma coisa, sem deixar de fazer a outra. Mas não temos feito ambas as coisas. Então, de vez em quando, poder-se-ia fazer uma que não é tão comum. Mas não se trata disso. Trata-se é de lembrar aos cristãos que a fidelidade aos sacramentos sem uma ação transformadora pode ser tudo, menos o que o cristianismo nos pede. Não é possível esquecer: “FAZEI isso quando vos lembrardes de mim.” FAZEI é o grande preceito. FAZEI é o critério de identi-

ficação com o seguimento de Jesus. Li uma coisa muito interessante: o grande e único pecado que se comete é o da omissão. Em primeiro lugar, omissão com relação à infinita bondade de Deus. Acreditamos pouco na misericórdia sem limites de Deus. Mas omissão também com aquilo de Jesus: Tive fome, tive sede, estava nu, sem abrigo, e... e.... e... O cristianismo não é uma ideologia. É uma práxis. Ação. Sabe-se muito bem que o rito é parte essencial de nossas vidas. Em toda atividade, em toda manifestação de vida há rito. A vida, entretanto, não se exaure nos ritos. Neles, fica aprisionada. Neles, pode até

ficar irreconhecível. O que dá sentido aos ritos é a vida, é a ação que eles simbolizam. Rito sem vida, é vida sem sentido. Vida que não produz vidas. Quaresma celebrada em todas as manifestações penitenciais, oracionais, litúrgicas, paralitúrgicas sem transformação da vida pode ser Quaresma. Mas não será expressão de vida cristã. Cultural, talvez. Quaresma: tempo da salvação. Fraternidade: “Paixão por Deus inseparável da paixão pelo homem.”

De um ponto de vista JOÃO BOSCO DE CASTRO TEIXEIRA*

Fraternidade 2019 François Varone escreveu livro muito sério: Esse Deus que dizem amar o sofrimento. Numa de suas passagens, declara: “Jesus realiza perfeitamente a síntese profética que quer que a paixão por Deus seja inseparável da paixão pelo homem.” Varone explicitou o que o evangelista João, escancaradamente, proclama: “Se alguém disser ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, que não vê, não poderá amar.” (Jo 1,4-20) Não há, definitivamente, cristianismo sem uma ação transformadora. Frequência aos sacramentos, santo sacrifício da Missa, sem preocu-

pação com a melhoria de vida das pessoas, engano. Santa celebração da Semana Santa, sem modificação dos hábitos opressores, doce engano. Piedoso acompanhamento da procissão do Senhor Morto sem luta para que todos tenham vida e vida em plenitude, enorme engano. Cristianismo sem preocupação com Mariana, Brumadinho significa outras muitas barragens. Cristianismo com menores abandonados, sem escola; com o povo sem saúde, sem segurança, muito pobre cristianismo. Cuidado para com todos aqueles que não têm ‘com quem contar’, vigorosa expressão de cristianismo. Outro dia sugeri a um dos sete párocos da cidade onde

*Professor aposentado da UFSJ, membro da Academia de Letras de São João del-Rei.


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ANO XVI Nº 192 - ABRIL 2019

ESPORTE

Estádio do Expedicionários sediou jogos da Copa Brasileirinho Sub-14 Garotos do Expedicionários se classificaram para a segunda fase da competição VANUZA RESENDE

O Estádio do Expedicionários foi palco da Copa Brasileirinho Sub-14 durante três sábados do mês de março. A competição reúne 40 equipes do estado. Na primeira fase, 32 times foram divididos em 8 grupos. No sistema todos contra todos, os dois melhores se classificaram para a segunda fase. O tradicional Estádio dos Eucaliptos recebeu os jogos da chave C, entre as equipes do Bangu, Expedicionários, JM Sport e Olympic. Da chave, passaram para a segunda fase o Expedicionários e o Olympic, este último da cidade de Barbacena. Na segunda fase, os jogos são únicos e os oito melhores passam para a terceira fase. No sábado, 05 de abril, o

Expedicionários foi até a cidade de Contagem, na grande BH, enfrentar a equipe do Helsingborg. Os garotos de Resende Costa saíram atrás no placar, mas correram lutaram pelo empate, levando a partida para os pênaltis. No tempo normal, o placar ficou em 2x2. Nas penalidades, o Expedicionários venceu o Helsingborg por 4x3, garantindo a classificação para a segunda fase. O ESC espera ainda a definição do seu próximo adversário. O jogo que abrirá a segunda fase da Copa Brasileirinho Sub-14 tem data prevista para o dia quatro de maio. GRANDES EQUIPES NAS PRÓXIMAS FASES Na terceira etapa do campeonato, entrarão em campo oito equipes que fizeram boa campanha na edição 2018 do Brasileirinho Internacional. É a oportu-

nidade dos garotos de times do interior jogarem contra atletas de grandes times nacionais, como Atlético e Cruzeiro. Os garotos também foram avaliados por observadores técnicos em alguns jogos. O Expedicionários Sport Club recebeu Eugênio Salomão, observador técnico do Atlético Mineiro e os observadores do Athletic Club de São João del-Rei, Cleiton e Diogo. Paulo Ricardo, dirigente do ESC, explica como o clube resende-costense conseguiu sediar os jogos do campeonato. “Há dois anos apresentamos nossa estrutura aos organizadores, mas naquele momento era inviável financeiramente para nós. Para nos tornarmos sede, tivemos que arregaçar as mangas. A diretoria entrou com o trabalho, contamos com o apoio dos sócios do clube para infraestrutura do campo e os garotos

da base estão vendendo uma rifa para poder suprir os gastos das competições deste ano.” Segundo o diretor, os custos com arbitragem e com material de jogo foram arcados pelo Expedicionários. No entanto, ter sido aceito para sediar os jogos confirma que o Estádio dos Eucaliptos oferece boa estrutura. “Temos um dos melhores estádios da região. Uma estrutura elogiada por todos. O fato de ficarmos numa região central também ajudou a sermos agraciados como sede”, destaca Paulo. Sediar um campeonato estadual abre portas ao ESC para que, no futuro, novas competições importantes possam ser disputadas em Resende Costa. Paulo revelou que a diretoria do Expedicionários está negociando para receber jogos da Copa Brasileirinho Internacional no segundo semestre deste ano. “Estamos conver-

Eugênio Salomão, do Atlético Mineiro, foi um dos observadores técnicos que assistiram às partidas do campeonato

sando, tentando trazer jogos da Copa Brasileirinho Internacional no segundo semestre. Se conseguirmos, vamos ter a presença de duas grandes equipes da Série A do Brasileirão.”

No domingo, 07 de abril, o ginásio poliesportivo Eli Lélis de Sousa (Boca Júnior), localizado no bairro Dois de Junho, em Resende Costa, sediou a segunda edição do “Festival Esportivo de Resende Costa”. O evento foi realizado das 8h às 14h e 30min e recebeu três modalidades esportivas ao longo do dia: tênis, jiu-jitsu e futsal (adulto e infantil). O presidente do Conselho de Esporte do município, Lucas Paulo, falou sobre a programação do festival: “O evento teve algumas novidades em se tratando de modalidades (esportivas). O tênis, que vem pedindo espaço para se apresentar e ganhando campo na cidade, além da grande novidade que será o jiu-jitsu. O futsal vem com a categoria de base sempre muito forte; e o futsal adulto, que é muito concorrido e disputado.”

De acordo com Lucas, além de promover o esporte, o evento colabora no sentido de consolidar o ginásio do Boca Júnior, recém reinaugurado, como uma opção para os praticantes de esporte em Resende Costa. “Queremos apoiar o esporte em nossa cidade, que precisa dessas competições para ganhar forças. Além de movimentar o novo ginásio do Boca Júnior, que passou por uma reforma recentemente. Esses eventos vêm para reforçar que o espaço deve ser utilizado e cuidado.” DISPUTAS Oito equipes disputaram o torneio de futsal. O time do Furões Ouro venceu por 2x1 o Casa Nova. Os Tião venceram por 5x2 o Liverpool; o PFC derrotou a equipe dos Furões pelo placar de 3x1. Furões Prata em-

patou com Spartacus em 1x1, levando a disputa para os pênaltis. Nas penalidades, o Furões Prata se deu melhor, vencendo por 1x0. A semifinal foi disputada por Furões Ouro x Os Tião e PFC x Furões Prata. No primeiro jogo da semifinal, a equipe do Furões Ouro venceu por 8 x 3 Os Tião. Na outra partida, o PFC venceu por 5x3 a equipe prata do Furões. Na grande final, melhor para os Furões Ouro, que derrotaram o PFC por 3x1. As demais modalidades se apresentaram durante o domingo, porém sem promover campeões. O ginásio do Boca Júnior fica aberto de segunda a sexta-feira das 14h às 22h. Os interessados em usar o espaço devem entrar em contato com a prefeitura através do telefone: (32) 3354-1366 (ramal 210).

Foto Cássio Almeida

Ginásio do Boca Júnior sedia 2° Festival Esportivo

O tênis foi uma das modalidades esportivas do 2º Festival Esportivo realizado no Ginásio do Boca Júnior.


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