Edicao 144

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ABRIL 2015

ANO XII - Nº 144 Resende Costa - MG

A creche-escola poderá ter suas atividades iniciadas ainda neste mês. A inauguração oficial deverá acontecer em junho, durante as comemorações do aniversário de Resende Costa. A meta inicial é atender a crianças de três a cinco anos de idade. PÁGINA 15

Fundado em 2003

Igreja matriz de Resende Costa ganha iluminação externa no ano em que a paróquia comemora 175 anos de criação Foto Emanuelle Ribeiro

Obras do Proinfância de Resende Costa está em fase final de conclusão

www.jornaldaslajes.com.br contato@jornaldaslajes.com.br

Distribuição Gratuita

Primeiras igrejas evangélicas em Resende Costa e SJdR Estima-se que existam cerca de nove igrejas evangélicas em Resende Costa. A primeira, a Congregação Cristã do Brasil, chegou formalmente nos anos 1960. Em São João del-Rei a Igreja Presbiteriana do Brasil, primeira a se instalar na cidade, iniciou suas atividades na década de 1880. PÁGINA 12

Criação de gado e jumento pêga em Lagoa Dourada PÁGINA 08

No dia 3 de abril de 2015, sexta-feira da Paixão, a Paróquia completou 175 anos de criação

A nova iluminação, inaugurada na véspera da Semana San-

ta, valorizou ainda mais um dos principais cartões-postais

da cidade, a Praça Cônego Cardoso – marco inicial do an-

tigo Arraial da Lage. PÁGINA 06

Assalto e homicídio assustam resendecostenses no mês de março No fim da tarde do dia 19, dois indivíduos encapuzados invadiram o Supermercado Bom

Preço, no centro da cidade, roubaram cerca de mil reais e ainda agrediram funcionários

e clientes do estabelecimento. No dia 28, um rapaz de 23 anos foi assassinado a tiro no

bairro Nova Resende.

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Jornal das Lajes

E D I T O R I A L

Uma revolução pela educação

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No Brasil a política e os políticos vivem momentos de profundo descrédito frente à opinião pública. Os discursos – demagógicos e dissonantes da realidade do país – não convencem mais ninguém. No cenário de horror em que se transformou a cena política brasileira nos últimos tempos, poucas vozes lúcidas ainda se fazem ressoar. Uma delas é a do senador do PDT do Distrito Federal, Cristovam Buarque. Quando Cristovam Buarque se candidatou à Presidência da República, em 2006, a sua proposta para o Brasil era clara e objetiva: “Uma revolução pela educação”. Todas as vezes que o candidato aparecia na televisão já se podia adivinhar sobre o quê ele iria falar: educação. Enquanto os outros candidatos apresentavam propostas amplas, o senador, ex-governador, ex-ministro da Educação e ex-reitor da UNB falava unicamente de educação. “O Brasil só vai mudar se fizermos uma revolução pela educação”, insistia Buarque. Não faltou gente para chamá-lo de “candidato de uma proposta só”. Cristovam Buarque não foi eleito presidente. Continua senador com mandato até 2018. Talvez o eleitor brasileiro não tenha levado a sério – ou não entendido - a sua proposta. Venceu o melhor marketing. O que fazer com o Brasil? Essa é a pergunta que fazemos diante da triste e infame realidade na qual o país está mergulhado: corrupção, violência, descaso com a saúde e com a educação. Todos defendem que o Brasil necessita de reformas amplas. Para muitos a mais urgente é a reforma política. Há já partidos disputando a paternidade do melhor projeto de reforma, que, para eles, mudará definitivamente a política do país, salvando a ética e exterminando a corrupção. Sobre que base, porém, se sustentará uma séria e profunda reforma política? Ou melhor, quem fará essa reforma? Os políticos da “lista do Janot”? Há, inclusive, quem diz que a corrupção está arraigada na cultura brasileira, incrustada em cada instância do poder. A reforma política, da qual se fala tanto, será capaz de mudar essa cultura perversa? Cristovam Buarque está certo. O Brasil só mudará efetivamente se a educação for prioridade, principalmente na sua base. Não basta somente oferecer vagas no ensino superior. É preciso investir no ensino fundamental para o país começar a formar cidadãos conscientes e capazes de mudar os rumos da sociedade, transformando o Brasil numa nação justa, onde a política assuma sua missão primordial de ser ferramenta em favor do bem comum, não um meio vergonhoso para beneficiar partidos políticos ou uma classe privilegiada. “Estamos passando por um momento especial da história brasileira. Temos condições de mudar o futuro. Podemos escolher agora qual a direção que vamos tomar. O Brasil poderá ser só um pouquinho melhor do que é hoje ou poderá ser um país desenvolvido, com justiça social e grande produtor de conhecimento. Podemos escolher entre seguir melhorando aos pouquinhos em várias áreas e piorando em outras (violência, meio ambiente). Podemos continuar a ser um país dos mais desiguais do mundo, ou um país onde todas as pessoas tenham condições de desfrutar da riqueza gerada por todos. É hora de investir em educação. Não um pouquinho. Nada de gambiarra. Precisamos superar os conservadorismos e corporativismos. É hora de uma revolução na educação. Hora de uma mobilização nacional efetiva e responsável. A juventude precisa se encantar com o magistério, com as escolas sendo centros de cultura e tecnologia. O Brasil somente será um país de oportunidades se a educação for o caminho do desenvolvimento. É por isso que precisamos de uma Revolução na Educação” (Cristovam Buarque).

Jornal das Lajes Ltda Editor-chefe: André Eustáquio Diretor de Redação: Rosalvo Pinto Diretora de Reportagens e editora-assistente: Emanuelle Ribeiro Diretor Regional e jornalista responsável: José Venâncio de Resende Diretor Administrativo: Eustáquio Peluzi Chaves

Redação: Rua Assis Resende, 95 Centro - Resende Costa, MG CEP 36.340-000 - TEL(32)3354-1323 Editoração e Site: Rafael Alves Impressão: FUMARC - Av. Francisco Sales, 540 - Floresta - Belo Horizonte Tiragem: 4000 exemplares Circulação: Resende Costa, São João del-Rei e Lagoa Dourada

Conselho administrativo: Eustáquio Peluzi Chaves, Antônio da Silva Ribeiro Neto e Denilson da Mata Daher. Conselho Editorial: André Eustáquio, Emanuelle Ribeiro, José Venâncio de Resende, Rosalvo Pinto, João Magalhães e José Antônio Oliveira de Resende. Os artigos assinados não refletem obrigatoriamente a opinião do jornal.

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Meio Ambiente

ADRIANO VALÉRIO RESENDE

Alfabetização Ecológica: um desafio para a educação no século XXI

(Uma reflexão para nós, educadores)

Fritjof Capra, físico e escritor austríaco, muito conhecido pelos seus livros O Tao da Física (1975) e O Ponto de Mutação (1982), trabalha com o termo alfabetização ecológica no livro A Teia da Vida (1996). Simplificadamente, seria a educação das crianças para um mundo sustentável. É notório que o planeta passa por uma grave crise ambiental. Dessa forma, segundo o autor, para o século XXI, um dos nossos maiores desafios será o de se construir e manter comunidades humanas sustentáveis, isto é, comunidades que satisfaçam suas necessidades e aspirações sem diminuir as oportunidades das futuras gerações. E, certamente, essa mudança de mentalidade passa pelas escolas. Como isso seria possível? A alfabetização ecológica se baseia na possibilidade de nutrir um sentimento de afinidade com o mundo natural, ou seja, despertar a biofilia (amor à vida, à conservação) nos educandos. Isto é, na compreensão do lugar ocupado pelo ser humano na história evolutiva da vida, e mais além, compreender que a saúde, o bem-estar e a própria sobrevivência humana dependem da convivência com e não contra a natureza. Uma pessoa ecologicamente alfabetizada, portanto, teria o conhecimento necessário para compreender a relação homem-natureza, além da competência prática necessária para agir baseado tanto no conhecimento quanto

na intuição. Uma condição essencial para a alfabetização ecológica de crianças é a necessidade da experiência direta com a natureza. O ensino não acontece de cima para baixo, mas exige uma troca cíclica de informações. O foco está na aprendizagem e todos integrantes do sistema educacional são ao mesmo tempo mestres e aprendizes. Nas escolas, a ecoalfabetização valoriza a aprendizagem baseada em projetos, como, por exemplo, em uma horta escolar ou um projeto de recuperação de um curso d’ água. Por estar intelectualmente fundamentada no pensamento sistêmico, a alfabetização ecológica é muito mais que educação ambiental. Graças à interconectividade do cérebro, tudo que acontece a uma criança tem consequências diretas e indiretas. Corpo e mente se interagem profundamente. Por exemplo, tocar piano ou cantar em um coral melhora o raciocínio espacial. As artes (as artes visuais, a música, as artes cênicas) desenvolvem e refinam a capacidade natural de uma criança de reconhecer e expressar padrões. A leitura aumenta a capacidade de abstração do aluno e assim por diante. Toda aprendizagem é complexa e em cada encontro os professores estão lidando com o sistema inteiro envolvendo a criança. O novo entendimento do processo de aprendizagem também envolve o reconheci-

mento de que toda aprendizagem é fundamentalmente social. Cada indivíduo está necessariamente inserido em um sistema social, em uma comunidade. Parte de nossa identidade depende dos laços que tentamos estabelecer na comunidade e boa parte de nossa aprendizagem depende das comunidades a que pertencemos. Nessa direção, Capra aponta a necessidade de uma reforma escolar, que trate de desenvolver novos processos de se aprender e um novo processo de lideranças envolvendo crianças, professores, pais e funcionários da nova escola, pois o novo ensino será uma troca cíclica e não uma relação hierárquica. As crianças não são potes vazios à espera de serem preenchidos com informações, elas constroem ativamente seus conhecimentos, relacionando todas as novas informações com as experiências anteriores em uma busca constante de significados. Capra enfatiza que à medida que nosso novo século se desdobra, a sobrevivência da humanidade dependerá da alfabetização ecológica: nossa capacidade de compreender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com eles. Este é um empreendimento que transcende todas as diferenças de raça, cultura ou classe social. A Terra é nosso lar comum e criar um mundo sustentável para nossas crianças e para as futuras gerações é uma tarefa para todos nós.

EDITAL O Ministério Público do Estado de Minas Gerais informa que se realizará no dia 29 de abril, do corrente ano, no período da manhã, CORREIÇÃO ORDINÁRIA na Promotoria de Justiça de Resende Costa, conforme edital afixado no quadro de avisos/editais do Fórum da Comarca. Atenciosamente, Bruno Lucena Barbosa Promotor de Justiça

Assine o Jornal das Lajes Assinando o JL, você estará colaborando para a consolidação de um projeto jornalístico diferente, que já é referência na região do Campo das Vertentes, pois é reconhecido como um periódico que, além da notícia, leva ao leitor informações referentes aos mais variados temas de interesse da cidade e da região. Faça uma assinatura anual do JL e colabore com esse projeto de valorização e divulgação da nossa cultura! Local: R$ 40,00. Fora de Resende Costa: R$ 80,00 Contato pelos telefones: (32) 3354-1323; 3354-1705 e (31) 3281-4467.

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Informativo da Câmara

Política e Poder

O espaço informativo do Legislativo Municipal de Resende Costa tem como objetivo informar o cidadão sobre os projetos aprovados em plenário.

Confira alguns dos projetos de lei aprovados em março de 2015 Projeto 13, de autoria do prefeito municipal: “Prorroga a data do vencimento da parcela única do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU, com desconto para o dia 30 de abril, do exercício de 2015 e dá outras providências”. Projeto 14, de autoria do prefeito municipal: “Autoriza a abertura de crédito especial e dá outras providências”. Visa o presente projeto de lei a necessária autorização legislativa para abrir, no corrente exercício financeiro, um crédito especial no valor de R$110.126,66 (cento e dez mil, cento e vinte e seis reais e sessenta e seis centavos) para garantir recurso para a conclusão da obra da Quadra da Nova Resende. Projeto 15, de autoria do prefeito municipal: “Autoriza a assinatura de convênio a ser firmado entre o Município de Resende Costa e a Associação das Empresas de Turismo e do Artesanato de Resende Costa – ASSETURC, a abertura de crédito especial, o repasse de recursos financeiros e dá outras providências”. Trata-se o projeto de lei da necessária autorização legislativa para celebração de convênio entre o município de Resende Costa e a Associação das Empresas de Turismo e do Artesanato de Resende Costa – ASSETURC, bem como repassar recursos públicos à referida entidade, com a finalidade de garantir a realização do 2º Encontro Nacional de Motociclistas. Projeto 16, de autoria, do prefeito municipal: “Autoriza a abertura de crédito especial e dá outras providências” Visa o presente projeto de lei a necessária autorização legislativa para abrir, no corrente exercício financeiro, um crédito especial no valor de R$113.434,62 (cento e treze mil, quatrocentos e trinta e quatro reais e sessenta e dois centavos) para garantir recursos para a realização da obra de troca do calçamento da Rua José Pergentino de Sousa, no Bairro Várzea. Projeto 17, de autoria do prefeito municipal: “Institui o Programa de Saúde para Custeio Total ou Parcial de suplemento alimentar/leite e dieta de prescrição especial a pessoas

portadoras de necessidades especiais e pacientes oncológicos residentes no município de Resende Costa e dá outras providências”.

salários aos servidores municipais ativos e inativos, lotados nos quadros do Poder Executivo Municipal, a partir de 1º de abril de 2015.

Projeto 18, de autoria do prefeito municipal: “Autoriza assinatura de convênio a ser firmado entre o Município de Resende Costa e o Coral e Orquestra Mater Dei e dá outras providências”. Trata-se o projeto de lei da necessária autorização legislativa para celebração de convênio entre o município de Resende Costa e o Coral e Orquestra Mater Dei, com a finalidade de incentivar os munícipes com talento musical a participarem do Coral e Orquestra, bem como para garantir a participação do coral nas festividades culturais durante o ano de 2015.

Projeto 22, de autoria da Mesa Diretora da Câmara Municipal: “Concede reajuste de vencimentos e salários aos funcionários da Câmara Municipal e dá outras providências”. Trata-se o projeto de lei da concessão de reajuste de vencimentos e salários aos servidores lotados no quadro do Poder Legislativo Municipal, a partir de 1º de abril de 2015.

Projeto 19, de autoria do prefeito municipal: “Autoriza assinatura de convênio a ser firmado entre o Município de Resende Costa e a Associação Pescadores da Fé em Cristo – APEFEC, o repasse de recursos e dá outras providências”. Visa o projeto de lei a necessária autorização legislativa para a celebração de convênio entre o município de Resende Costa e a Associação Pescadores da Fé em Cristo – APEFEC, com a finalidade de garantir recursos para a aquisição de cestas básicas e outros gêneros alimentícios, a serem distribuídos a famílias carentes do município, devidamente inscritas na APEFEC. Projeto 20, de autoria do prefeito municipal: “Autoriza a abertura de crédito especial e dá outras providências”. Visa o presente projeto de lei a necessária autorização legislativa para abrir, no corrente exercício financeiro, um crédito especial no valor de R$ 270.000,00 (duzentos e setenta mil reais) para garantir recursos para a contratação de empresa especializada para recebimento, tratamento e transporte dos resíduos sólidos produzidos no município. Projeto 21, de autoria do prefeito municipal: “Concede reajuste sobre os vencimentos básicos dos servidores municipais ativos, inativos e pensionistas e dá outras providências”. Trata-se o projeto de lei da concessão de reajuste de vencimentos e

Mais informações: www.camaraderesendecosta.mg.gov.br

Projeto 23, de autoria da Mesa Diretora da Câmara Municipal: “Dispõe sobre atualização do subsídio dos Secretários Municipais e dá outras providências”. Trata-se o projeto de lei da atualização dos subsídios dos Secretários Municipais, da administração municipal da legislatura 2013/2016. Projeto 24, de autoria da Mesa Diretora da Câmara Municipal: “Dispõe sobre a atualização do subsídio do Prefeito e do Vice-prefeito e dá outras providências”. Trata-se o projeto de lei da atualização dos subsídios do Prefeito e do Vice-prefeito, da administração municipal da legislatura 2013/2016. Projeto 25, de autoria da Mesa Diretora da Câmara Municipal: “Dispõe sobre atualização do subsídio dos vereadores e presidente da Câmara Municipal de Resende Costa e dá outras providências”. Trata-se o projeto de lei da atualização dos subsídios dos vereadores e do presidente da Câmara Municipal de Resende Costa. Projeto 26, de autoria do prefeito municipal: “Autoriza a abertura de crédito especial e dá outras providências”. Visa o presente projeto de lei a necessária autorização legislativa para abrir, no corrente exercício financeiro, crédito especial no valor de R$ 71.611,64 (setenta e um mil seiscentos e onze reais e sessenta e quatro centavos) para garantir recursos no intuito de regular o pagamento dos Conselheiros Tutelares do Município de Resende Costa, em adequação ao Ato Declaratório Executivo CODAC nº 7, de 24 de fevereiro de 2015.

Venha participar das reuniões da Câmara Municipal de Resende Costa. É seu direito de cidadão participar dos assuntos de interesse do município.

Praça Nossa Senhora de Fátima, S/N, Centro. Tel.: (32) 3354-1526

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JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE

Novas manifestações de rua à vista Foi um Março literalmente infernal para a presidente Dilma Rousseff. Mês em que cerca de dois milhões de pessoas foram às ruas contra a corrupção, o governo e o PT; em que a popularidade da presidente “recém-reeleita” caiu ao fundo do poço; em que o governo teve de levar o PMDB de volta ao centro do poder, depois de tentar alijá-lo; em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, “demitiu”, antes de Dilma, o ministro da “pátria educadora” Cid Gomes; em que a presidente, em raro momento de humildade, reconheceu que a crise econômica decorre de erros do seu governo; em que o PMDB abriu guerra contra o governo por este ter favorecido a criação de novo partido (PL) pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab. Para piorar, o cenário de pessimismo decorrente da crise econômica. Indicadores negativos (inflação, impostos, gastos públicos e dólar em alta, produção, emprego e renda em queda etc.) têm contribuído para que o “presidencialismo de coalizão” tenha seus alicerces abalados. Esse é o pior momento desde o impeachment de Collor, com a conjunção das crises de governabilidade, econômica, hídrica, de energia e do sistema partidário, diz o professor de filosofia da Unicamp, Marcos Nobre. Situação esta que se pode agravar (O Estado de S. Paulo, 22/03/2015). O desafio de Dilma, neste segundo mandado, é evitar que o “vem pra rua” e a má vontade da sua base parlamentar não prejudiquem seus planos de correção de rumos na economia. A presidente ainda não reconquistou a cumplicidade do PMDB, que quer dividir de fato o poder com ela e o PT para garantir a governabilidade. E o PT questiona a política “neoliberal” de cortes de despesas, para atender seu público interno (sindicalistas, MST etc). A onda “verde-amarela” de 15 de Março – cujas lideranças se dizem não vinculadas a partidos - embute uma grande contradição e uma

aparente omissão. Estariam os cartazes e faixas contra o governo Dilma condenando o estelionato eleitoral ou o ajuste das contas públicas? Seriam as faixas e cartazes contra a corrupção, implicitamente, um protesto a favor da reforma política para baixar os custos de campanhas eleitorais, além de leis mais duras contra políticos corruptos? O ajuste fiscal é extremamente necessário por causa do fracasso das experimentações do primeiro mandato de Dilma (a tal “nova matriz macroeconômica”) e da “herança maldita” de seu antecessor e padrinho político, que desorganizaram completamente a economia e levaram à estagnação e à inflação. Eleitores ou não de Dilma, todos pagarão a conta, sem a certeza da mercadoria entregue. Já a reforma política que se discute no Congresso Nacional neste momento, capitaneada pelo PMDB, está longe de atacar o cerne da questão: a deficiência de representatividade dos partidos e os custos das campanhas eleitorais, que geram corrupção. Foca basicamente questões como financiamento de campanhas eleitorais, coincidência de data de realização das eleições em todos os níveis, fim da reeleição, redução de mandato de senadores. Nem uma palavra sobre propostas vitais como voto distrital, redução do número de partidos e substituição do horário eleitoral dito “gratuito” por debates em rede nacional de rádio e TV. Mas é ilusão acreditar que as manifestações de rua vão parar. Tudo indica que devem continuar, talvez até engrossadas por mais gente. O desfecho, só Deus sabe! Digno de nota. No final do mês, a presidente Dilma indicou o professor de filosofia e ética Renato Janine Ribeiro para o Ministério da Educação. Bola dentro! E entregou a Secretaria de Comunicação Social (Secom) para o tesoureiro do PT, Edinho Silva. Bola fora!


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Cidade

Instituto Rio Santo Antônio realiza mutirão de limpeza da Fonte da Ilha

FLÁVIA CRISTINA

Em continuidade ao projeto “ReNascentes”, o Instituto Rio Santo Antônio (IRIS) organizou um mutirão de limpeza na Fonte da Ilha, nascente situada no bairro Jardins, em Resende Costa. A ação ocorreu no dia 22 de março e contou com a presença de quatorze trabalhadores voluntários. A principal atividade do grupo foi o recolhimento do lixo acumulado no local, dezenas de sacos foram retirados ao longo do curso d’agua. O projeto, fruto de uma bem-vinda parceria entre o IRIS e a Secretaria Municipal de Saúde, teve início logo no primeiro mês deste ano e busca recuperar as seis nascentes situadas no perímetro urbano, além de educar e conscientizar a comunidade a respeito da importância do uso consciente e sustentável da água. Tendo em vista que o tema dos recursos hídricos vem ocupando a mente de estudiosos e populações por todo o país, a missão do projeto se torna ainda mais necessária. Além de primordial para a vida humana, a qualidade da água está diretamente ligada à saúde e aos surtos de dengue e febre chikungunya, tornando o problema responsabilidade coletiva. No que toca a Fonte da Ilha, especificamente, sabe-se que é a que apresenta maior vazão de água. Apesar disso, os levantamentos feitos pelos agentes do projeto indicaram a presença de manilhas que despejam o esgoto residencial no curso d’água, com-

prometendo ainda mais a situação já critica. A água da chuva, ao escoar pelas ruas e no entorno, carrega lixo e entulhos para dentro da nascente e em alguns pontos impede a água de correr livremente. A equipe voluntária que fez a limpeza retirou não somente garrafas pet e sacolas plásticas, como também roupas velhas e restos de borracha e peças de automóveis. Em alguns pontos, percebeu-se a formação de uma espuma insalubre por cima da água e um odor insuportável a sinalizar a insalubridade do local. Uma rápida passagem pelo local pode demonstrar o enorme potencial que a Fonte da Ilha guarda. Ela nasce na divisa entre os bairros Jardins e Bela Vista e percorre um longo caminho por entre a mata, dentro da propriedade dos herdeiros do ex-vereador Antônio Salomão. A alguns metros do nascedouro, a fonte encontra-se com outra mina e segue o curso até desaguar no Córrego do Tijuco, conhecida área de captação de água pela Copasa. A vegetação nativa está relativamente preservada e, não fosse a irresponsabilidade humana, a nascente desfrutaria positivamente da presença das árvores. Ao mesmo tempo, o terreno possui inúmeras trilhas que poderiam ser utilizadas para passeios recreativos ou com finalidades educativas, e prática de atividades esportivas. Historicamente as nascentes tiveram importância significativa para as comunidades, uma vez

que eram pontos de encontro de lavadeiras, meninos buscando por diversão e passantes sedentos que se refrescavam na água limpa oferecida pela natureza. As mudanças culturais, aliadas a um descaso injustificável pela natureza, afastaram as fontes do cotidiano das pessoas. Assim, aliada às ações de recuperação, foram elaborados encartes educativos que foram discutidos em sala de aula, por estudantes do ensino fundamental da Escola Estadual Assis Resende. Diante da reação dos alunos, percebe-se que muitos ignoram a existência dessas nascentes e a situação crítica em que se encontram. A iniciativa visa não só a dar a conhecer melhor o espaço geográfico da cidade, como também a valorização cultural do nosso passado e a elaboração de intervenções sustentáveis para os problemas urbanos. As etapas seguintes da iniciativa preveem o cercamento e a implantação de placas educativas, além do trabalho corpo a corpo a ser realizado pelos agentes de saúde nas residências. É preciso orientar as pessoas e garantir que as ações de recuperação sejam reproduzidas para alterar o quadro desastroso. Os desdobramentos do projeto, portanto, vão muito além de ações pontuais e paliativas, pretende alcançar um objetivo mais nobre e duradouro: uma mudança de hábito e de cultura em relação ao nosso patrimônio natural e cultural.

IRIS realizou mutirão de limpeza na Fonte da Ilha

Fonte da Ilha

Os desafios para a crise de abastecimento de água

JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE

O brasileiro precisa tirar uma lição da crise de abastecimento de água: a de que a água é um recurso econômico finito. Pode parecer estranho na medida em que o Brasil é considerado o “reservatório do mundo”. Nesta conversa com o JL, o engenheiro civil e empresário Jorge Hannas Salim, especialista em meio ambiente e economia, ajuda a entender esta aparente contradição. Esta crise ensina que a água deve sempre ser usada racionalmente, pois o consumo desmedido é um dos fatores que contribuem para o desequilíbrio na recarga dos mananciais. Os outros são a ocupação desordenada dos solos, a destruição das matas ciliares, a poluição dos rios, queimadas e desmatamento. Jorge Hannas, que é professor aposentado da UFSJ, compara a situação com a de um balde, onde para cada copo de água que se retira repõe-se apenas uma gota. O especialista chama a atenção para o ciclo de vida da água, que funciona como o do ser hu-

mano. Da água de nascentes e rios, parte evapora e volta em forma de chuvas, parte abastece os aquíferos (reservatórios subterrâneos) e parte é utilizada no consumo humano, da agricultura e da indústria. O desequilíbrio desse ciclo resulta em escassez, água poluída e acesso cada vez mais difícil às fontes de abastecimento. “É difícil por exemplo despoluir um aquífero poluído. Não se tira água do subsolo a custo zero”, lembra Jorge Hannas. Duas saídas. O especialista identifica dois caminhos a serem trilhados para enfrentar este problema. De um lado, a adoção de parcerias público-privadas (PPP) na área de saneamento para o aproveitamento mais eficiente dos esgotos. De outro, a conscientização da população por meio dos meios de comunicação e da escola. As empresas estaduais de saneamento estão um pouco defasadas em tecnologia e com o caixa baixo por conta de gestão política

e da crise de abastecimento de água, entre outros motivos, daí porque precisam aumentar tarifas e taxas. Estações de tratamento de esgoto (ETEs), por exemplo, ainda despejam o esgoto semi-tratado nos rios, quando deveriam aproveitá-lo como adubo e água de reúso. No setor privado, já existem empresas com maior know-how tecnológico e poder de fogo financeiro. Por exemplo, a Companhia de Águas do Brasil (CAB) - que atua em municípios de vários Estados por meio de concessões e parcerias na gestão e operação de água e esgoto – atinge 94% de eficiência em tratamento (químico e físico) de esgoto. Em lagoas facultativas, aeradas, de maturação e de sedimentação (tratamento secundário), esse material pesado é depositado no fundo e depois realocado em vala impermeável recoberta de terra, para futura reutilização como adubo. A água tirada do esgoto pode ser reutilizada em jardins, agricultura, indústria, vasos

sanitários e lavagem de banheiros, carros e calçadas. Em países como Israel, o reúso da água do esgoto já atinge 100%, incluindo o consumo humano que exige tecnologia mais avançada. Para fazer frente a este desafio, em primeiro lugar, é preciso acabar com esta reserva de mercado que impede empresas estaduais como Sabesp e Copasa de disputarem o mercado em municípios de outros Estados. Em segundo lugar, as empresas estaduais precisam ser mais flexíveis para fazer PPPs com prefeituras e o setor privado. Além disso, municípios podem fazer PPPs diretamente com o setor privado. A melhor solução seria a contratação de PPPs com empresas que detém a tecnologia e dispõem dos recursos financeiros (ou de capacidade de buscá-los em agentes financiadores) para investimentos, defende Jorge Hannas. “Desde que sentem à mesma mesa o poder público, a empresa e os diversos segmentos da sociedade civil, para discutir o que é

bom para todos.” Conscientização. Por fim, o poder público deve utilizar seus meios disponíveis para conscientizar a população da real necessidade do uso racional da água. Mas também tem de atuar em parceria com os agentes econômicos e sociais com vistas à proteção e recuperação das nascentes e à ocupação ordenada do solo. No curto prazo, a saída é o racionamento de água que deve vir acompanhado de campanhas educativas nos meios de comunicação. Afinal, os governos desperdiçam bilhões de reais com propaganda política auto-promocional. Não poderia direcionar esses recursos para campanhas mais eficazes? Na escola, o resultado do trabalho virá a longo prazo, na medida em que vai mudar comportamento das novas gerações. Mas existe algum benefício de curto prazo pois as crianças podem exercer influência no comportamento de suas famílias.


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Semana Santa atrai multidão de fiéis e encanta os resendecostenses

Fotos Emanuelle Ribeiro

Semana Santa

ANDRÉ EUSTÁQUIO

No ano em que a Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França completa 175 anos de criação, a Semana Santa em Resende Costa teve um brilho especial: a igreja matriz recebeu iluminação externa, destacando a sua bela fachada, as laterais e a torre. O projeto vinha sendo pensado pelo pároco já há algum tempo: “Já vínhamos planejando a iluminação externa da igreja, mas devido à sobrecarga na parte elétrica interna, ocorrida em dezembro passado, agilizamos a realização deste projeto”, disse padre Eder Sebastião Santos. A empresa EFL Energia, Força e Luz foi a responsável pela execução das obras. “O Bebeto (da EFL) apresentou um projeto moderno e nós discutimos este projeto até chegarmos ao que havíamos pensado”, explicou padre Eder, idealizador do projeto. A igreja matriz é vista de quase todos os cantos da cidade, devido à sua localização no alto das lajes. “Agora quem chega à cidade à noite pode avistar a igreja de longe”, ressalta o pároco. A iluminação externa da matriz valorizou ainda mais um dos principais cartões-postais de Resende Costa, a Praça Cônego Cardoso – marco inicial do antigo Arraial da Lage –, que ainda preserva vários imóveis construídos nos séculos 18 e 19. A inauguração da iluminação da igreja aconteceu na noite do dia 27 de março, sexta-feira, após o encerramento do Setenário das Dores e da Via Sacra na Praça Cônego Cardoso. Pela primeira vez, a paróquia realizou a Via Sacra encenada numa praça, com a participação das pastorais e escolas da cidade. As estações da Via Sacra foram montadas

nas janelas e varandas das casas da Praça Cônego Cardoso, exceto a primeira e a última, meditadas no interior da matriz. “Depois que vi a Via Sacra da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, pensei em fazermos aqui também, de acordo com a nossa realidade”, disse padre Eder, que escolheu para reflexão o texto original da Via Sacra da JMJ Rio 2013. A organização da Via Sacra contou com a colaboração de alguns jovens que atuam nas pastorais da paróquia: Camila Silva, Sandro Silva, Edinéia Fernandes e o seminarista Elissandro José Campos de Carvalho. “Padre Eder pediu que nós o ajudássemos na organização e distribuição das estações para os movimentos, pastorais, Escola Assis Resende e APAE”, contou Camila Silva. Os grupos responsáveis pelas estações escolheram os leitores e prepararam os cenários. “Com tudo preparado, chegou o dia de relembrarmos o doloroso caminho que Jesus percorreu até a sua crucificação”, diz Camila. Durante o trajeto da Via Sacra o clima na histórica praça foi de profundo silêncio e piedade, estimulando a reflexão. “Sem dúvidas, foram momentos de muita emoção para todos aqueles que prepararam, encenaram, cantaram e participaram deste momento. Quem participou pôde refletir um pouco mais sobre o calvário que algumas pessoas vivem no cotidiano de suas vidas”, acrescentou Camila. O texto da Via Sacra da JMJ desperta a reflexão para os problemas e desafios dos indivíduos, das famílias e da Igreja, na sociedade contemporânea. Os preparativos para a realização da Via Sacra de

Da esquerda para direita, os sacerdotes João Bosco Pinto, Eder Santos e Erminio Ignácio

encerramento da Quaresma começaram em dezembro passado. Para Camila valeu a pena o esforço e a dedicação de todos: “foi uma primeira e rica experiência para a nossa paróquia. Foi gratificante ver a organização e o empenho dos grupos convidados e a emoção de quem assistiu à Via Sacra. Ano que vem, se Deus quiser, vamos realizá-la novamente, contando com novas participações e novidades”, concluiu.

Semana Santa No dia 29 de março deu-se início a Semana Santa, com a celebração do Domingo de Ramos. A solenidade deste dia marca a entrada de Jesus em Jerusalém, onde Ele sofreria a paixão e morte de cruz. Em Resende Costa as solenidades da paixão, morte e ressurreição de Jesus preservam as belas e ricas tradições litúrgicas da Igreja Católica. Os atos internos e externos são abrilhantados pela Orquestra Mater Dei e pela Banda Santa Cecília. Marchas fúnebres, motetos, missas solenes e outras obras sacras escritas por compositores que viveram na região nos séculos 18, 19 e início do 20 proporcionam um clima místico às celebrações, tornando-as ainda mais piedosas. Os sermões do encontro de Jesus com sua mãe, na terça-feira santa, e o descendimento da cruz, na sexta-feira, são os que mais atraem os fiéis. O sermão do encontro deste ano, na Praça Mendes de Resende, foi proferido pelo padre Odair José de Carvalho. Na sexta-feira santa foi a vez de a Praça Cônego Cardoso ficar tomada por uma multidão de fiéis que assistiram ao tradicional sermão do descendimento da

Os figurantes bíblicos ganharam novo figurino

Imagem de Jesus Crucificado no adro da igreja matriz de Resende Costa

cruz, pregado pelo padre Erminio Ignácio dos Reis. Padre Erminio, pároco da Paróquia de Santo Antônio em Taiúva, interior de São Paulo, há 20 anos não participava da Semana Santa de Resende Costa. Resende-costense apaixonado, ele revelou ao JL a emoção de participar da Semana Santa em sua terra natal: “Celebrar a Semana Santa em Resende Costa depois de vinte anos foi para mim, acima de tudo, uma graça de Deus. Há tanto tempo fora de Resende Costa, trabalhando em outra realidade paroquial, voltar sempre é uma graça. Cada celebração, cada gesto, cada procissão, cada música executada, cada dobre dos sinos calava muito em meu coração. Os Depósitos de Nosso Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores, os primeiros acordes da Marcha de Passos, o vento soprando e balançando o velário das imagens, a Irmandade do Rosário vindo ao encontro do andor com o Pálio, cada moteto executado nos passinhos. As Razouras! Uma alegria particular! Senti-me como um menino que se encanta com o sino do Rosário a dobrar. Uma viagem na história. Para mim um momento de emoção e mergulho em minha história. Senti em meu coração a alegria de um filho que retorna para casa. Tudo tinha um sabor, uma profundidade,

um sentido todo especial. A maior alegria e o maior presente foi ver os rostos de tantos que fizeram e fazem parte de minha história, minha família, meus amigos. Trago, para minha vida, um ensinamento particular desta Semana Santa: Resende Costa está na minha alma! Mesmo longe desta terra amada, aí está meu coração que aprendeu desde criança com este povo a amar a Deus e a Nossa Senhora. Resende Costa faz revigorar meu caminho e minhas forças para Deus. Obrigado, meu povo e minha família! Feliz e Santa Páscoa!” A Semana Santa foi encerrada na segunda-feira da Páscoa com a santa missa e a procissão do triunfo de Nossa Senhora. O resende-costense padre Paulo Marcelo Daher Gomes Filho presidiu a celebração e a chegada da procissão na igreja matriz. Novamente uma multidão de fiéis se reuniu para mais este ato de fé. A Semana Santa terminou deixando o sentimento de saudade. O som dos sinos e das matracas, os acordes da banda e da orquestra, o aroma do incenso e do manjericão, a voz do pregador que emana eloquente do púlpito ficarão impregnados na alma de cada resende-costense, que já espera ansioso pela próxima Semana Santa.

Uma multidão de fiéis se reuniu na Praça Cônego Cardoso durante sermão da sexta-feira santa


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Aconteceu

I Aleluia CL Fest agita primeiro fim de semana de abril O Sábado de Aleluia foi top em Resende Costa! A Comitiva Ladrão preparou uma festa regada a sertanejo e cerveja barata na Pousada Belas Artes. Ao som do DJ Kevin, a galera se divertiu e lotou o espaço para a ‘I Aleluia CL Fest’. O atrativo principal foi o preço da cerveja: R$ 1,99 até as 3h. Além do sertanejo remix feito pelo animado DJ Kevin, um som diversificado marcou a noite agradável na pousada. A festa foi registrada pelo JL:

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EMANUELLE RIBEIRO


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São João del-Rei

Lagoa Dourada

O mundo comemora o dia do “Ser diferente é normal”

Fazenda Camenguem, de Lagoa Dourada, cria raça de gado rara no Brasil

JÚLIA BENATTI

O Dia Internacional da Síndrome de Down, 21 de março, foi marcado por comemorações realizadas pela APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São João del-Rei. O evento contou com apresentações musicais, distribuição de pipoca e algodão doce e busca a interação dos portadores da síndrome com a população. A Síndrome de Down é uma condição cromossômica causada por um cromossomo extra no par 21, por isso também é conhecida como a trissomia 21. Normalmente, os humanos têm 46 cromossomos, mas as pessoas portadoras da síndrome possuem um a mais. O que isso modifica no organismo varia segundo a ex-

tensão dessa cópia, da genética familiar da criança, além de fatores ambientais e estímulos dados aos portadores durante a infância. A APAE atende 28 alunos com Síndrome de Down e oferece a eles educação, refeições e tratamentos com fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros. Esses serviços são essenciais para que os portadores se adaptem à sociedade e tenham suas limitações amenizadas. Tatiana Valéria de Andrade é fonoaudióloga na APAE e afirma que apesar de suas dificuldades os pacientes com a síndrome conseguem aprender tudo que lhes é ensinado. Ela também fala sobre as outras complicações que eles

enfrentam: “A primeira dificuldade é motora, a criança demora um pouco para andar. Eles geralmente são um pouco mais lentos para assimilar, mas são muito afetuosos e estão sempre dispostos a aprender”. O setor de saúde da APAE e alguns pais de crianças com Síndrome de Down foram os organizadores do evento que, segundo Tatiana, foi realizado para conscientizar a população sobre os direitos e necessidades dos portadores da trissomia 21. Ela ainda reforça “amigos não contam cromossomos”, uma associação ao fato de que as pessoas com Síndrome de Down têm um cromossomo a mais.

A Revolução Francesa guardada em São João del-Rei A coleção do jornal francês Le Moniteur Universel é uma das raridades guardadas na biblioteca da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e, por ser uma das mais completas do mundo, atraiu a visita de um ex-presidente francês. O fundador da Biblioteca Municipal de São João del-Rei comprou os periódicos em um sebo e acabou trazendo para a cidade um registro completo sobre a Revolução Francesa. Le Moniteur Universel foi fundado em 1789 em Paris,

José Orozimbo de Resende, natural de Resende Costa, trabalhou décadas na Biblioteca Municipal de São João del-Rei, onde cuidou do jornal Le Moniteur Universel com muito zelo

França, por Charles Joseph Panckoucke e foi o principal jornal durante a Revolução Francesa, sendo considerado diário oficial do governo francês por 60 anos. Por difundir basicamente ideias iluministas o diário teve uma grande difusão na Europa e na América, onde a maioria dos países estava em processo de independência. O fundador da Biblioteca Municipal de São João del-Rei achou a coleção em um sebo no Rio de Janeiro e a trouxe para implementar a sua biblioteca, que no momento ainda possuía basicamente livros do seu acervo pessoal. Apesar de ter noção da importância histórica que aqueles diários possuíam, não teve noção da raridade dos mesmos. Segundo José Antônio Oliveira de Resende, professor do curso de letras da UFSJ, a coleção de São João del-Rei é uma das mais completas do mundo, sendo comparada somente às coletâneas da Bélgica e Estados Unidos. José Antônio é filho de José Orozimbo de Resende, que foi bibliotecário por muitos anos da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d’Almeida e teve contato direto com a coleção dos jornais

JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE

Os irmãos Cláudio e Luciano Resende, da Fazenda Camenguem, em Lagoa Dourada, são os únicos produtores da região – e talvez de Minas – a criar um rebanho cem por cento puro (PO) da raça austríaca Pinzgauer. Existem animais dessa raça no Paraná e no Rio Grande do Sul, mas a pureza nestes Estados está muito consanguínea, ou seja, não houve investimento nela, observa Cláudio. Os dois empresários rurais possuem cerca de 100 animais, cuja principal finalidade é a produção de leite. As vacas da raça Pinzgauer alcançam, na Camenguem, produção de cerca de 28 litros por dia, uma média que Cláudio considera boa dentro do padrão nacional. A Fazenda Camenguem trabalha também com animais cruzados da raça Pinzgauer com o Holandês PO (puro de origem). As vacas resultantes destes cruzamentos produzem em média 45 litros de leite por dia. Na Pinzgauer, predominam as cores vermelha e branca, enquanto nos animais cruzados a predominância é de preto e branco. Os bovinos da raça Pinzgauer são animais de porte médio e muito bonitos, de acordo com Luciano. São rústicos e podem ser criados soltos no pasto, sem necessidade de maiores cuidados. São tão

resistentes que praticamente não adoecem. Outra vantagem do Pinzgauer, segundo Luciano, é que são animais andeiros (possuem casco em pé) e por isso se adaptam bem em regiões montanhosas. Têm aptidão tanto para a produção de leite quanto de carne. São animais de grande longevidade, vivendo até mais de 25 anos. Jumento Pêga. A Fazenda Camenguem mantém ainda uma criação do jumento Pêga, com seleção de 100 anos, originária do reprodutor Guarani da Fazenda Boa Esperança. São 25 jumentas e seis reprodutores registrados. Há 40 anos, os irmãos Cláudio e Luciano fazem cruzamentos de Pêga com éguas Campolinas para obter os muares (burros e mulas) que são utilizados em cavalgadas, concursos de marcha e no trabalho. Esses animais cruzados são comercializados na desmama, diretamente na Fazenda. Cláudio e Luciano são descendentes do Coronel Eduardo – criador da raça Pêga – por três bisavôs, que eram irmãos: José Eduardo de Rezende, da Fazenda da Pedra; Saturnino José de Rezende, da Fazenda Mendanha; e Eduardo José de Rezende Júnior, da Fazenda Boa Esperança.

Exemplar original do jornal francês Le Moniteur Universel

franceses e suas histórias. Na época o Le Moniteur Universel era guardado na biblioteca municipal e depois foi transferido para a UFSJ por motivos de segurança e melhor acondicionamento. Segundo o professor, o ex-presidente francês François Mitterrand e a ex-primeira dama Danielle Mitterrand conheceram seu pai enquanto buscavam pela coleção de jornais: “François ficou emocionado quando viu, uma coisa que nem lá na França eles têm. Então a primeira dama da França Danielle pediu para levar pra França e restaurar, encadernar e depois mandar de volta para o Brasil. Claro que não viria. Então não concordaram e a coleção permaneceu aqui.” J.B.

Lote de mulas desmamadas, fruto de cruzamento de Pêga com égua Campolina

Novilhas elite Pinzgauer


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A Teia do Mundo

JOSÉ ANTÔNIO*

Nasceram um para o outro Não é de hoje que venho ouvindo isso. Inclusive, tem até uma variante: Sempre tem um chinelo velho para um pé cansado. Tem casais cujos pares combinam tanto entre si que passam a se parecer fisicamente um com o outro. Mais que irmão. Nasceram um para o outro. Já vi Geraldo casado com Geralda... Lauro com Laura... Fabiano com Fabiana... E o Paulo que se casou com a Paula? E aí, veio aquela paulada pra amamentar: Paulina, Paulete e Pauliene. Essa coisa é meio estranha. Tem casal que vive às turras, o cara bate na mulher, a mulher anda com não sei quem, unhada e soco, choros na delegacia... e o casal não se desgruda. Nasceram um para o outro. E aqueles casais que são cúmplices até na profissão? O marido é borracheiro e a mulher é mecânica. O marido é agente funerário e a mulher faz maquiagem no defunto. O marido é policial e a mulher é detetive. O marido é escritor e a mulher é revisora. Já viu esposa que é agenda do marido? Em casos assim, geralmente o marido é motorista da esposa. Nasceram um para o outro. Acho que aquela frase Eu não consigo viver sem você não é frescura. Se um nasceu para o outro, então se um morre o outro não demora a dar entrada no cemitério. Filosofia profunda aquela música antiga: “Aonde a vaca vai, o boi vai atrás...” Nasceram um para o outro. É o caso do Tristão com a Isolda. O grande cavaleiro nascido na Cornualha que-

ria com tal ardor a sua mulher amada que foi pra cama com duas Isoldas (favor, não relacionar isso com o nome da região onde o Tristão nasceu). Como não pôde ter definitivamente a primeira Isolda, ficou mais do que triste, morreu Tristão. Também nasceram um para o outro o Romeu e a Julieta. Dependiam tanto um do outro que escolheram fazer a mesma estupidez juntos: colocar os burros na frente do carro. Fizeram mais que nascer um para o outro: morreram um pelo outro. Tinha que dar nisso mesmo: ele inconsequente e metido a valente; ela burrinha e metida a sabidinha. As rimas não mentem. Nasceram um para o outro. Por incrível que pareça, ainda existem Penélopes que ficam a vida inteira fiando, confiando e desfiando o tempo e as oportunidades, sempre naquela fidelidade ao homem da sua vida. E o Ulisses não decepciona: aparece e vivem felizes para sempre. Nasceram um para o outro. Sabe aquela coisa da noiva, depois do casamento, jogar para trás o buquê? Pois é, tem moça que pega e ainda cai aos pés do futuro marido. Nasceram um para o outro. Não sei se a vida é exata ou hesita. Para uns, ela é exata como aquele chinelo velho esquecido num canto e sempre encontrado pelo pé cansado. Para outros, ela hesita até ficar exata: Essa é a minha metade, a minha eterna companhia! Bem, não é com todo mundo que isso acontece. Tem que nascer um para o outro.

*JOSÉ ANTÔNIO OLIVEIRA DE RESENDE é professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura da Universidade Federal de São João del-Rei. e-mail: jresende@mgconecta.com.br

Contemplando as Palavras

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REGINA COELHO

“Uma ilha perdida no oceano da razão” (Machado de Assis)

Ano passado, foi vista passeando por algumas ruas da cidade, por vezes entrando em bares, uma mulher vestida de noiva. Não a conheço, não vi a cena protagonizada por ela, mas mesmo assim aquela situação me chamou a atenção. Fico pensando na história que pode haver por trás de alguém que, sem ser uma artista numa performance de rua, age dessa forma. Em março de 1988, poucos dias após a morte do Padre Nélson, como era do desejo dela morrer, faleceu a Zita de Melo, nossa vizinha de sempre na Rua Gonçalves Pinto. Isso porque ela e seu irmão Álvaro já moravam ao lado do terreno onde mais tarde foi construída nossa casa. Desde quando nos lembramos deles, não eram mais jovens. Guardamos dos dois inúmeras histórias, quase todas alegres e divertidas. Mas saber que a Zita estava sendo levada para ser internada em Barbacena não era nada engraçado. Era um misto de dó, susto e tristeza vê-la de partida para lá. Figura de destaque em Resende Costa como médico e prefeito (1935-1946), o doutor Costa Pinto marcou época aqui na primeira metade do século passado. Por intermédio de minha mãe, exímia contadora de casos, fui levada a conhecer um pouco da vida de D. Santinha. Tendo vivido parte de sua existência afastada da família devido aos constantes tratamentos de sua saúde mental, ela era casada com o doutor Costa Pinto.

Isaac Newton (16431727) foi um dos maiores gênios de todos os tempos. Inventor do cálculo, desenvolveu a Lei da Gravidade e construiu o primeiro telescópio refletor. Apesar do brilhantismo, era conhecido por seus transtornos mentais. Newton era uma pessoa de difícil convivência e apresentava mudanças drásticas de humor. Alguns de seus biógrafos sugerem que ele tinha transtorno bipolar e esquizofrenia. Como se vê pelos breves relatos acima, os problemas de perturbação da mente não fazem distinção de época, de condições social e intelectual, ou de gênero, representando um desafio constante para os especialistas dessa área do conhecimento humano. E em que pesem os reais avanços observados nos tratamentos para as popularmente chamadas “doenças da cabeça”, a vida dos acometidos por elas representa ainda um estigma social a ser superado. Em outros tempos, durante séculos, pessoas com sofrimento mental eram simplesmente afastadas da sociedade, escondidas pelos familiares, e até encarceradas em casa ou submetidas a maus-tratos em hospícios de triste memória. Hoje, felizmente, a luta antimanicomial e a consequente humanização no atendimento e acompanhamento desses pacientes são um alento, pois conferem dignidade aos que vivem ou sobrevivem fora dos limites da chamada normalidade. No Brasil, na diantei-

ra dos estudos sobre tratamentos não violentos, a médica alagoana Nise da Silveira (1905-1999) deflagrou uma completa transformação do modelo de atendimento psiquiátrico no país. Por se opor radicalmente às terapias utilizadas até então, que incluíam eletrochoques, lobotomia (intervenção neurocirúrgica em que se extirpa parte do cérebro como forma de “acalmar” pacientes mentais, hoje em desuso) e trabalhos forçados, Nise optou pela defesa e aplicação de técnicas terapêuticas inovadoras. Uma delas envolvia a convivência dos doentes com seus prováveis animais de estimação, através dos quais os pacientes iam recuperando seu vínculo com o mundo real. Outro método desenvolvido pela psiquiatra era a terapia ocupacional ligada a atividades prazerosas para que os necessitados de seus cuidados pudessem se expressar por meio da pintura, do teatro e de trabalhos manuais como o artesanato. Revolucionária essa doutora Nise. Pioneira também por buscar outros caminhos, certamente mais leves, nem por isso menos seguros, como forma de respeito e amparo aos discriminados em razão de sua condição de saúde. E ainda inspiradora, certamente, pois deve haver em projetos interessantes espalhados por aí muito do que ela pregava e realizava como notável profissional da psiquiatria.


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Causos e Cousas

ROSALVO PINTO

Meu Tio o Saneco Plagiando o título de um dos mais belos contos de Guimarães Rosa (“Meu Tio o Iauaretê”, do livro Estas Estórias), vou relembrar aqui um dos tios que marcaram minha infância. A única diferença do título é que o Iauaretê do Rosa era uma onça/homem mansa, ao passo que o meu tio Saneco era um homem bem bravinho. Era de porte pequeno (marca da “família da Chácara”...), mas um leão para trabalhar, um grande homem em todos os sentidos. Lembro-me bem do tio Saneco (Domiciano de Paula Pinto) quando morava no Maracujá, numa fazenda arrendada. Tia Quiquita (Maria Benedita Santos) era a rainha da casa: alta, magra, bondosa e trabalhadora. Em minhas primeiras férias na roça, lá estavam os 9 filhos, em ordem de nascimento: a Maria (já casada e residente nas redondezas do Maracujá), o Dinho (Geraldo), a Adair, a Carmem (Sebastiana do Carmo), a Olga, a Ivone, o Renato, a Vera e o Osmar (Mazinho). Tio Saneco tinha um trato com o Góes, meu pai. A Adair vinha para nossa casa em Resende Costa para fazer o primário e tornar-se professora na zona rural (no Maracujá) e eu passaria as férias de fim de ano lá na roça. O mesmo aconteceu com a Ivone, depois que tio Saneco se mudou para a Floresta, onde nasceu seu 10º filho, o Zé Imar. Imaginem que Resende Costa era muito pequena, quase uma grande roça. Mas para mim, com meus oito anos, a fazenda era um paraíso. As vacas no curral berrando de

manhã bem na janela do quarto, sobretudo a “Paraíba”, pegadeira, que dava medo, os cavalos, a mula para levar fubá, banda de porco e milho para vender na vila, o cachorro Piloto do Renato, com uma cangalhazinha de verdade no lombo para a gente brincar de burro de carga, um fornão de lenha na cozinha, de onde saíam os gostosos biscoitos da tia Quiquita, um engenho para o açúcar, o melado e a rapadura e a gente tirando escondido os torrõezinhos de açúcar que secavam ao sol nas esteiras, quanta coisa boa na memória de um menino da vila... À tardinha era uma gostosura. Na frente da casa havia um espaço gramado, no qual o Dinho costumava soltar uma bola para nossa alegria. Daí ele ia ao munho (moinho) e ligava um pequeno dínamo, que acendia uma lâmpada fraquinha no quarto dele e de onde saíam os sons de um velho rádio. Costumava também chegar algum violeiro, para se ajuntar ao cavaquinho do agregado Zé Maria. Numa tarde fomos todos ver a sede do sítio Floresta, que o tio estava comprando. Achei gozado ver o proprietário, doente na cama, debaixo de tábuas de queijo corando dependuradas no teto. Mas acabou-se o que era doce. Antes do fim das férias no Maracujá, peguei um sarampo brabo. Para minha tristeza, numa manhã ensolarada de domingo, o tio Saneco me pôs na garupa da mula, marchando para a minha casa. Era 1950 e a cidade estava engalanada de bandeirinhas para a festa da Missa Nova do padre Josué Francisco da Nativida-

de. Nas férias seguintes fui para a Floresta. Era fim de ano e a Adair fez uma festinha de “formatura”, colocando-me para declamar uma poesia. Numa tarde fomos visitar o vizinho senhor Belena, já bem doente no seu enorme casarão. No canto, ao pé do catre (cama), uma galinha chocava tranquilamente os seus ovos. O tio Saneco era bem bravinho. E era mesmo. Um dia ele foi ao armazém do Chiquito Vale, na vila, para fazer a tradicional barganha: descarregar da mula uma banda de porco para colocar depois um saco de açúcar. Ali por perto estava o Sô Pedro (o Sô Pedro Reco-reco) varrendo a rua. A mula era alta e tio Saneco pelejava para arribar o saco. Sô Pedro não perdeu a oportunidade para dizer: “Aí, Sô Saneco, que falta que faz um palmo de homem, hein?”. E, sabendo que o tio Saneco era bravo, correu para ajudá-lo... Assim era o tio Saneco. Sempre me lembro dele desde quando, muitos anos depois, li um belo conto do Guimarães Rosa, “Substância”, (Primeiras Estórias)*. Conto de amor na roça, envolvendo o Sionésio, a Maria Exita e a brancura no fabrico do polvilho. Ficou gravado na minha memória o ambiente da Floresta e tio Saneco todo branquinho de polvilho, ali por perto da cachoeirinha que cantava dia e noite nos fundos da casa da Floresta. Tempos bons que não voltam mais... *Pedro Bial e sua ex-mulher, Giulia Gam, transformaram esse conto e mais quatro outros em cinema (longa).

Trilha Sonora

RENATO RUAS PINTO

Mulheres no Rock No fim de março, o mês das mulheres, me peguei escutando várias artistas que fizeram trabalhos relevantes no rock e andei matutando sobre o pioneirismo e o papel que elas tiveram nesse estilo, que pode até ser rotulado de machista. Quando se pensa nos grandes ícones do rock, rapidamente vem à cabeça nomes como Beatles, Led Zeppelin ou Pink Floyd. Nenhuma mulher no line-up dessas bandas e tantas outras que escreveram a história do estilo. Entretanto, algumas mulheres foram protagonistas e produziram trabalhos de qualidade e, creio eu, mereceriam maior reconhecimento. Não é difícil entender a dificuldade que as mulheres tiveram em um passado não muito distante. Se nos conservadores anos 50 e 60 os pais ficavam horrorizados ao ver seus filhos homens deixando os cabelos crescerem e se agitando ao som do rock, imagine qual não seria a reação de um pai ao ouvir sua filha pedir uma guitarra. Ainda assim algumas mulheres venceram o preconceito da sociedade e, talvez, até do mercado: público e gravadoras. Entre cantoras e compositoras podemos fazer uma lista enorme com nomes como Grace Slick (Jefferson Airplane), a pioneira Suzi Quatro, Deborah Harry (Blondie), Patti Smith e, em tempos recentes, Alanis Morissette ou Amy Winehouse. Porém, por hoje vou falar de um quarteto mais que fantástico: Janis Joplin, Joan Jett, Bonnie Rait e Rita Lee. Janis Joplin deixou o conservador Texas com apenas 20 anos para se estabelecer em San Francisco, o epicentro do rock psicodélico no fim dos anos 60. Cantora e compositora com o pé fincado no blues, ela se tornou conhecida cantando com a Big Brother and the Holding Company. Sua estrela, porém, brilharia bem forte e após dois álbuns partiria para cantar sozinha. Dona de uma voz crua e emocionante, Janis sucumbiu aos abusos de álcool e drogas e se foi com apenas 27 anos. Deixou somente quatro álbuns de estúdios e alguns ao vivo. Recomendo o álbum Pearl, que estava em gravação quando Janis partiu e foi lançado postumamente. À mesma época, Rita Lee ganhava notoriedade no Brasil.

Cantora de Os Mutantes, junto com os irmãos Dias Baptista, Arnaldo e Sérgio, foi pioneira ao levar o rock brasileiro para a idade adulta, em contraste com o rock inocente que existia por aqui. Descontente com a guinada para o rock progressivo dos Mutantes, Rita Lee partiu para a carreira solo e surpreendeu ao sobreviver, e bem, sozinha. Com uma carreira sólida até os dias de hoje, Rita Lee é a quarta artista com mais discos vendidos no Brasil, com a incrível marca de 55 milhões de álbuns. Fora os ótimos álbuns dos Mutantes, o disco “Fruto Proibido” é audição obrigatória. Filha do blues, Bonnie Rait lançou seu primeiro álbum em 1971 e o sucesso comercial veio alguns anos depois. E foi uma das primeiras mulheres a serem aclamadas como instrumentista, com sua guitarra que segue as melhores tradições do blues do Mississipi. Bonnie Rait tem uma voz suave e cristalina, mas mesmo assim se sai muito bem em um estilo que normalmente é território de vozes potentes. Os seus dois primeiros discos, Bonnie Rait e Give It Up, apesar de não terem tido grande sucesso comercial, foram bem cotados pela crítica e valem a audição para quem gosta de um blues executado com o tradicional slide. Joan Jett vem de uma onda bem diferente das outras três. Seu rock é cru e visceral, com o peso, energia e simplicidade do Punk. Joan se revelou e teve certo sucesso com a sua banda The Runaways, composta só de mulheres, formação pouco usual mesmo em 1975. Após o fim da banda em 79, Joan começaria uma carreira solo de sucesso com sua banda de apoio, The Blackhearts. Da sua ótima discografia recomendo os álbuns Bad Reputation e I Love Rock and Roll, seu grande sucesso comercial. Vale também conferir o filme The Runaways, que conta a história da banda. Quatro roqueiras que provaram que o estilo não é um clube masculino e que sempre entregaram rebeldia, energia e música de qualidade como o estilo pede. (Visitem a página no Facebook para mais dicas: https:// www.facebook.com/TrilhaSonoraBR)


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Retalhos Literários

EVALDO BALBINO

A assombração do cor’go da Sá Bilica – Parte 01 O mutirão de mulheres e homens estava no terreiro da casa dos meus pais. Eram todos nossos familiares. Os maridos batiam as palhas de feijão com varas que vergavam e cantavam pelo ar, e as esposas também cantavam com suas peneiras esvoaçantes, soprando palhas e livrando os grãos de feijão do excesso de terra e cisco. Decidida, a meninada deixou toda aquela faina do terreiro e debandou para o cor’go da Sá Bilica. A caçula da Nita estava conosco. Ela já tinha sofrido o bastante a morte da mãe. Não que tivesse esquecido. Mas o tempo tem o poder de amainar montanhas, de amansar tristezas. A dor continua ali, bem escondida, todavia pacificada por outras coisas da vida. E o que a vida demandava de todos nós, naquele momento, era um banho fresco no cor’go onde as mulheres lavavam roupas, onde moças sonhavam seus amores e onde moços, rindo, alimentavam vontades de namoros e tinham estertores nos olhos plenos de obscenidade e vigor. Deixamos os adultos em sua labuta com peneiras, varas de bater, palhas de feijão e os grãos que nos alimentariam durante o ano todo. Deixamos todos para irmos refrescar nossos corpos jovens e sedentos de água corrente. Da grande pedra embaixo de arbustos e cipós entrelaçados, a garotada começou a jogar-se sobre as águas. Todos

de roupa, que moços e moças não podiam desnudar-se assim, uns perante os outros, sem mais nem menos. Ainda mais diante de crianças. Éramos muitas crianças, supostamente ingênuas e não portadoras das ditas maldades humanas. Todos, então, mergulhavam seus corpos usando roupas. Mas eram roupas leves, shorts curtos, os meninos e moços sem camisa, as meninas e moças com leves camisetas e shorts também curtos. Todos pulavam da grande pedra. Aquela em que, diziam, uma assombração ficava sentada, cismando sua vida eterna e penada, durante noites inteiras. Sobre a grande pedra, eu não gostava de ficar. Tinha medo de a tal da assombração, a que diziam cismar noites inteiras, aparecer de repente e me levar para mundos outros, talvez para a morte. Desta vez, para variar, eu não estava sobre a grande pedra nem mergulhava como faziam todos. Do lado oposto do cor’go, sobre a areia árida e segura eu fiquei. Ora banhando os pés, ora pensando se deveria entrar na água convidativa das margens, mesmo que pouca. De repente um ruído estranho. Um estrondo na plena luz do dia. Pensei na hora na tal da assombração. As sombras das árvores, a despeito do dia, davam um ar meio tétrico ao ambiente. Em meio a tanta luz e água resplandecente correndo sobre areia e

pedras, as sombras tinham o que dizer. Não, não podia ser a assombração! Eu nunca a tinha visto, e não seria naquele momento, à luz oblíqua do sol, que eu a veria. Passado o susto de todos, a calma retornando aos corpos antes esfuziantes, a bagunça foi reconquistando seu lugar. Era água e espuma de água para tudo quanto é lado. Gritaria, um empurra-empurra gostoso de pura molecagem. No meio de tudo isso, de novo um barulho, agora vindo de detrás da pedra, de atrás das árvores e dos cipós. Todos olhamos, assustados, para aquele lado. Eis que de entre as tranças dos cipós saiu um ser estranho, parecia uma mulher, calçando botas de homem (as de sete-léguas). Sua saia era branca e cheia de remendos de panos de outras cores. Mais para cima das botas, com o balançar da saia pelo vento, viam-se suas meias, negras e grossas. Sua camisa era de um vermelho pálido, cor de sangue velho e morto. Seus braços eram negros, seu pescoço também. Sobre o rosto um pano preto, com quatro buracos bem fundos que eram seus olhos, o nariz adunco e negro (que despontava sobressalente do pano) e a boca vermelha como sangue, dividida entre emanar gemidos e cachimbar um grande cachimbo torto e amarronzado. Sobre um dos ombros, uma foice, com lâmina brilhando, faiscando em nossos olhos.

Gastronomia

CLÁUDIO RUAS

Peixe fresco Olhos vivos, pele brilhante, guelras vermelhas, carne firme e cheiro de mar ou de rio (não de peixe!). Esse é o peixe fresco, que consequentemente não pode ter sido pescado há muito tempo nem muito longe, muito menos maltratado no meio do caminho. O peixe e tantas outras criaturas do mar e das águas costumam ser iguarias tão especiais que, se a gente bobear, “a onda leva”. O Brasil e o mundo vivem hoje um momento delicado no que diz respeito à questão da pesca, da oferta de pescados (cada vez menos frescos) e dos impactos ambientais. Nunca se comeu tanto peixe, o que é muito bom. Porém, a forma como isso tem se dado é preocupante: a pesca indiscriminada tem ameaçado muitas espécies de extinção, enquanto a aquicultura desenfreada também tem trazido prejuízos ambientais, sociais e até culturais (explico adiante). Como todos sabem – ou deveriam saber – a natureza tem seus ciclos e suas épocas de produção. A manga, por exemplo, costuma dar principalmente entre o fim e o início de ano. Ou seja, se você quiser comer manga o ano inteiro ou você vai ter que “forçá-la” a produzir ou então ir buscá-la longe, lá na China. Com os pescados tem ocorrido a mesma coisa, o que tem comprometido e muito a qualidade do alimento, assim como no exemplo da manga. A colhida no quintal, na época certa, é infinitamente superior àquela que atravessou o mundo e/ou foi forçada a produzir. Além disso, no caso dos pescados, ainda existe o agravante do impacto ambiental, sobretudo no que diz respeito à ameaça de extinção de muitas espécies em função da pesca indiscriminada, seja nos mares, rios ou lagoas. Falta regulação, fiscalização, educação e consciência, não só de quem pesca, mas também de quem consome “de olhos fechados”. A dificuldade em capturar os pescados por perto faz com que os pescadores naveguem cada vez mais longe no mar, demorando para retornar. Ou seja, quando aquele barco encosta no

porto para descarregar – e você imagina inocentemente que os pescados estão fresquíssimos – às vezes parte deles já foi pescada há mais de uma semana. E ainda tem um longo e tortuoso caminho a percorrer até chegar ao seu prato, passando por atravessadores, entrepostos, caminhões inadequados, estradas, aviões, aeroportos, centros de distribuição, supermercados... ufa! No Brasil essa cadeia é muito precária, o que não só estraga o produto, mas o encarece também. Diante disso, os mercados estrangeiros nadam de braçada, como o do Chile, da China, do Vietnã e até do Alaska, que vem tomando conta do nosso mercado, das nossas panelas e da nossa cultura. Tudo bem vender um salmão chileno por aqui, mas é uma pena não poder comprar um dourado do Velho Chico, ou uma truta criada logo ali na Serra da Mantiqueira, ou então uma boa traíra pescada ali na rocinha ao lado, conforme nossa tradição cultural. Tudo o mais fresco possível, graças à curta distância a se percorrer e à cadeia produtiva mais inteligente e justa, que ajude e estimule o pequeno produtor. Globalização tem limites. A tilápia vem sendo um peixe muito cultivado e pode ser uma boa alternativa caseira para a falta de peixe fresco, pois é de fácil manejo e bom rendimento, mesmo em pequenos espaços. Tem uma carne branca e suave, ideal para se fazer o “ceviche”, prato típico do Peru e do Chile, que caiu no gosto do lado de cá da Cordilheira dos Andes também. É delicioso e facílimo de se fazer: basta picar o peixe em cubos e adicioná-lo a uma mistura de suco de limão, sal, azeite, cebola roxa picada finamente, coentro/salsinha e dedo de moça picadinha. Misture e leve à geladeira por vinte minutos, tempo suficiente para que os ácidos do limão e da cebola, juntamente com o sal, “cozinhem” o peixe sem necessidade de ir ao fogo. Sirva em uma taça individual ou cumbuca, acompanhado de mandioca frita. O pré-requisito básico e essencial para essa receita é que o peixe seja fresco, o que também deveria ser a regra de consumo para tantos outros preparos. Definitivamente, isso não é frescura.


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Religião

O crescimento das igrejas evangélicas em Resende Costa e SJdR Presbiteriana, igreja centenária E

JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE

fizesse apenas uma manifestação pública, de fé católica…” Enquanto padre Nélson rezava o terço na Matriz com senhoras e moças, homens, mulheres e crianças manifestavam-se diante da casa onde se encontravam os “protestantes”. Quatro homens dirigiram-se aos protestantes e os intimaram a “sair espontaneamente” da cidade naquela mesma noite. “O povo acompanhou-os até às autoridades perante quem assinaram uma declaração, e, em seguida, foram postos em um automóvel (de propriedade do Nito do Saturnino Chaves) e levados e acompanhados até o Viegas, fora da cidade”. Quando foram expulsos da cidade, declararam às autoridades “que vieram a Resende Costa a fim de pregar o Evangelho”. Mas os cultos continuaram a acontecer nos anos 1950, no Ribeirão, na casa de Antônio Gonçalves Filho, tio de Dário Gonçalves. Esses cultos domésticos evoluíram para a construção do templo da Igreja no Ribeirão, 46 anos atrás (por volta de 1969), segundo o pedreiro Jesus Balbino, mais conhecido por Didi, que trabalhou na obra. Antes de mudar para a cidade, há 32 anos, Didi foi batizado na igreja do Ribeirão. Também a sua esposa, Laura Antonia da Silva, recebeu lá o batismo, em 1980. “Desde mocinho, comecei a congregar na sala de uma casa perto da Igreja do Rosário, onde havia cultos”, conta Didi. O cooperador era João Batista, funcionário da prefeitura, que frequentava o Ribeirão na época de Antônio Gonçalves. Didi também participou algumas vezes de cultos na casa de Francisco Barbosa, no Viegas. Construção. Em 1983, o pedreiro Didi trabalhou na construção do templo da Congregação no bairro da Várzea. Ao lado dos tios Sebastião e Paulo Gonçalves e de Aristides Passini, além de membros da Congregação do Ribeirão,

Didi construiu o templo em pouco menos de um ano. Até o surgimento da igreja da Várzea, havia cultos numa casa particular em frente ao cemitério, conduzidos por “irmãos” de São Paulo, relata Didi. Um dos frequentadores dos cultos era Sebastião Nelson Gonçalves, que se mudara do Ribeirão para a cidade. Até que um determinado dia os trabalhos se transferiram para a casa do próprio Sebastião, na Várzea. Didi então começou a participar dos cultos na casa de Sebastião, seu tio. Nesse meio tempo, Aristides comprou um terreno na Várzea e doou um lote para a Congregação. É neste lote que está edificada a igreja da Congregação Cristã do Brasil. Atualmente, existem três templos da Congregação no município – Ribeirão, Várzea e Michaela – e um está em fase de construção no Bairro dos Expedicionários. São cerca de 150 membros, sem considerar aqueles que mudaram de Resende Costa principalmente para os grandes centros urbanos. A Assembléia de Deus, segunda igreja evangélica em Resende Costa, teria surgido nos anos 1980, de acordo com Dário Gonçalves.

Hierarquia. A Congregação Cristã do Brasil chegou ao país em 1910, originária dos Estados Unidos, segundo o cooperador. “Consideramos pastor Jesus Cristo, daí sermos cooperadores.” Na hierarquia da igreja, abaixo do pastor vem o ancião, responsável pelo sacramento do batismo, santa ceia e participação em reuniões regionais e nacionais. Logo abaixo, aparece o diácono, “que atende os menos favorecidos”. Então, surge o cooperador cuja função é “presidir os cultos, na ausência do ancião, e visitar os irmãos”. Já a administração cuida da parte material (documentação, finanças

em São João del-Rei

A história da primeira igreja evangélica da região de São João del-Rei - a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), na Rua Paulo Freitas - está ligada ao surgimento da indústria têxtil e do comércio locais, relata o pastor Ashbelle Rédua. A Igreja começou suas atividades na década de 1880 e a primeira conversão foi a do operário José Cordeiro, empregado da fábrica de tecidos São Joanense. Oficialmente, a IPB iniciou seus trabalhos em 9 de Novembro de 1902, quando foi fundada a Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei (ACI del-Rei). A IPB é considerada herdeira direta da reforma protestante do século XVI, com João Calvino. “Somos considerados reformistas”, resume o antigo membro da igreja Edson Alves Ferreira. “Isso porque adotamos os princípios da reforma”, complementa a jornalista Sueetc.). Dário faz questão de destacar que a Congregação não tem dízimo (as ofertas são voluntárias) e anciãos e cooperadores não recebem salário. O cooperador, por exemplo, é vendedor autônomo e também trabalha como serralheiro e agricultor. Assim, ele preside os cultos apenas nos finais de semana e à noite.

“Pedreiro de confiança” de padre João por dez anos Didi foi uma espécie de “pedreiro de confiança” do padre João Rodrigues de Paula durante o período em que ele foi pároco em Resende Costa, entre 1988 e 1998. Foi procurado pelo padre João mais uma comissão da Paróquia, inicialmente para construir o CPP

ly Montalvão Rédua, também membro da igreja. A região de São João del-Rei foi inicialmente evangelizada pelo ex-padre José Manoel da Conceição, que foi o primeiro pastor presbiteriano brasileiro. A igreja funcionou na casa de dona Alavina Araújo, na Rua Paulo Freitas, até 1929 quando foi construído o templo no mesmo endereço. Assim, no início, a igreja recebeu muitos adeptos da São Joanense, da Estrada de Ferro Oeste de Minas e do 11º RI, relata Edson. A segunda igreja evangélica de São João del-Rei surgiu apenas na década de 1960, de acordo com Edson Ferreira. Ele e Suely estimam que existam, atualmente, entre 30 e 40 igrejas evangélicas no município. “Este é um bom número porque o catolicismo aqui é muito forte e chegou muito antes”, dizem. (Centro de Pastoral Paroquial) e reformar o Salão Paroquial, edificado por padre Adelmo Ferreira da Silva, no início da década de 1950. Foi uma conversa franca, lembra Didi, que logo no início expôs o conflito religioso. Mas o pároco prontamente esclareceu que religião e negócio eram assuntos diferentes. As duas obras duraram o tempo de um ano e dois meses. “Eu e meus três filhos (Elias, Elton e Edinei) fizemos muitos serviços de pedreiro para o padre João”, conta Didi. Reformaram as duas igrejas (matriz e do Rosário), os dois cemitérios, a casa paroquial e o salão dos vicentinos. E ainda ampliaram a capela do Cajuru, que era pequena. “Na verdade, foi feita praticamente nova, um pouco maior e com torre”, lembra o pedreiro.

Foto José Venâncio

stima-se que existam cerca de nove igrejas evangélicas no município de Resende Costa. “E a tendência é crescer mais, pois hoje as pessoas são livres para escolher como servir a Deus”, prevê Dário Gonçalves da Silva, atual cooperador (espécie de pastor) da Igreja Congregação Cristã do Brasil, no bairro da Várzea (antigo Tijuco). A primeira igreja evangélica chegou formalmente a Resende Costa nos anos 1960, mas antes disso, entre 1945 e 48, membros da Congregação Cristã do Brasil, oriundos de Volta Redonda (RJ), já realizavam cultos em casas particulares do município. Os pastores João Manoel Pereira e Joaquim Alves da Silva foram convidados por “um tal de José Barbosa”, escreveu padre Nélson Rodrigues Ferreira no primeiro volume do Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França. O movimento dos evangélicos - ou “protestantes” como ele os intitulava - iniciou-se em 1945, um ano após sua posse como vigário da paróquia. Ele tratou logo de agir contra a permanência dos evangélicos na cidade. A primeira atitude foi aconselhar os paroquianos a se esquivarem dos evangélicos. Outra medida foi tentar convencer proprietários de casas a não vender as suas propriedades para eles. O médico e ex-prefeito de Resende Costa, José Vilela Costa Pinto não cumpriu a promessa. Padre Nélson, então, tentou adquirir os imóveis de Costa Pinto, mas não recebeu autorização do arcebispo de Mariana, dom Helvécio Gomes de Oliveira. Porém, um movimento contra os evangélicos crescia em Resende Costa. “Dia 10 de setembro (1948), desde cedo, notava-se que alguma cousa se tramava”, escreveu padre Nélson, que pediu prudência “a várias pessoas ponderadas”. “Gostaríamos que se

Igreja Presbiteriana em São João del-Rei

Templo da Congregação Cristã do Brasil em Resende Costa


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Polícia

Assalto a supermercado e homicídio assustam resende-costenses O assalto a um estabelecimento comercial de Resende Costa assustou a população no mês de março. No fim da tarde do dia 19, por volta das 18h30, dois indivíduos encapuzados invadiram o Supermercado Bom Preço, no centro da cidade, e agrediram funcionários e clientes. Os assaltantes roubaram cerca de mil reais e depois fugiram do local em sentido ao bairro Santo Antônio. A Polícia Militar, assim que acionada e de posse das informações, tentou rastrear os bandidos, mas não conseguiu localizá-los. De acordo com o tenente Mozart Coelho, comandante do 3º Pelotão de Polícia Militar de Resende Costa, a primeira ação da PM foi iniciar o rastreamento após contato com as vítimas. Mesmo seguindo as informações de testemunhas, a PM não conseguiu encontrar e prender os assaltantes. Mozart disse ao JL que minutos antes do ocorrido, uma viatura da PM havia passado em frente ao supermercado durante ronda policial. Passados alguns minutos, a PM foi acionada: “Foi um intervalo de cinco minutos. Os ladrões tiveram sorte”, comentou o comandante. Conforme boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar, um dos assaltantes portava arma de fogo e agrediu com coronhadas o proprietário do comércio, um funcionário e um cliente que estava no caixa. Outra funcionária conseguiu correr, como mostram as imagens das câmeras de segurança interna do supermercado. As imagens revelaram informações importantes sobre os autores: ambos usavam calças jeans e sapatos pretos, sendo que um estava com uma blusa marrom com listras pretas e o outro usava blusa preta. Os dois aparentavam ter aproximadamente um metro e 70 centímetros de altura e são magros. O tenente Mozart informou ainda que as imagens do supermercado serão essenciais para a investigação. Segundo ele, foram solicitadas as imagens das câmeras de segurança dos Correios. Resende Costa possui cinco câmeras espalhadas por pontos estratégicos da cidade e que são monitoradas pela PM. “Nesse caso específico, não usamos essas câmeras, pois elas não cobrem a área do assalto. Mas com certeza ajudam a inibir ações de criminosos. As câmeras foram instaladas por empresas

particulares em parceria com a Prefeitura Municipal e temos acesso às imagens no quartel”, contou Mozart. Em situações como essa ocorrida em 19 de março, a orientação da PM é que as vítimas não reajam: “A vida é insubstituível. Pessoas que cometem o crime são um risco em potencial, pois eles estão mais nervosos do que as vítimas e querem conseguir o objetivo. O patrimônio pode ser recuperado, a vida não. Quando a PM não consegue evitar a situação, esperamos pelo menos que ninguém saia ferido”, alertou o tenente. Mozart indicou ainda que para prevenir assaltos, os estabelecimentos comerciais podem investir na instalação de alarmes, já que o barulho chama a atenção da vizinhança e desorienta os bandidos.

Homicídio No dia 28 de março, a população de Resende Costa recebeu mais uma notícia preocupante: um rapaz foi assassinado a tiro no bairro Nova Resende. A esposa de J.M.S.P., 23 anos, acionou a Polícia Militar após o companheiro ser atingido por disparo de arma de fogo na janela de sua casa. A PM, então, contatou a equipe do Samu, que rapidamente chegou ao local, mas nada pôde fazer, visto que a vítima sangrava muito e não suportou o ferimento. “A vítima possuía um histórico policial comprido, já teve envolvimento com tráfico de drogas, lesão corporal, entre outros crimes. Já havia tido problemas em Santa Cruz de Minas, onde já residiu, inclusive sendo ameaçado de morte”, informou o tenente Mozart Coelho. A solicitante, em contato com a PM, informou que alguém havia batido na janela da casa chamando pelo esposo, que ao atender foi atingido no olho direito. A mulher, então, foi até a janela e viu uma pessoa parada na esquina e outra correndo. O rapaz que corria usava calça, camisa colorida e boné. A equipe da PM realizou rastreamento, mas não localizou o assassino. O fato assustou os resende-costenses, preocupados com a segurança na cidade. Mas, segundo o tenente Mozart, esse homicídio é um caso isolado: “Não influi em nada na vida da cidade. A vítima tinha envolvimentos e influências errados. Foi consequência da vida que ele escolheu”.

Ciência e Tecnologia

UFSJ e equipes brasileiras fazem bonito em competição internacional RENATO RUAS PINTO*

Investigação A Polícia Civil está investigando o assalto ao Supermercado Bom Preço e o homicídio ocorrido no bairro Nova Resende. Os investigadores trabalham com a hipótese de os suspeitos, tanto do assalto quanto do homicídio, serem de Resende Costa. As investigações, até agora, levam a polícia a suspeitar que há ligação entre os dois casos e que a motivação de ambos está ligada ao tráfico de drogas. Os investigadores estão analisando as imagens do circuito interno do Supermercado Bom Preço, da agência dos Correios e de algumas câmeras localizadas em imóveis particulares. A polícia cumpriu mandados de busca, mas não foi encontrada nenhuma prova material de interesse investigativo. As investigações continuam.

Assaltos na região Na manhã do dia 19 de março, quatro indivíduos assaltaram a agência do banco Sicoob Credivertentes em Lagoa Dourada. A ação não durou mais do que cinco minutos e os bandidos roubaram aproximadamente 23 mil reais. Um dos assaltantes, armado, permaneceu na porta da agência, enquanto dois outros entraram e renderam o segurança. Eles agrediram um cliente e depois renderam o gerente e conseguiram abrir o cofre. Com o dinheiro em mãos, eles fugiram em um carro que estava posicionado em frente ao local pronto para a fuga. No mesmo dia, a PM encontrou o carro com placa de Contagem abandonado na MGT 383 e descobriram que se tratava de um veículo roubado. A Polícia Civil trabalha com as imagens da câmera de segurança para tentar localizar os assaltantes. Três dias depois, outro banco foi vítima da ação de bandidos em Lagoa Dourada. A agência do Banco do Brasil foi invadida na madrugada de 22 de março. Os bandidos entraram pelos fundos da agência através de um lote vizinho, pularam o muro e fizeram um buraco na parede do prédio. Eles cobriram as câmeras e sensores de movimento, impedindo que o alarme disparasse e também que fossem reconhecidos pelas imagens do circuito interno. A ação durou cerca de quatro horas. Os bandidos roubaram um malote, após usarem um maçarico para arrombar dois cofres.

Equipe Trem Ki Voa e os prêmios conquistados no Aerodesign 2015

A equipe Trem Ki Voa-Micro da UFSJ manteve a tradição das equipes brasileiras na competição Aerodesign East, realizada em Lakeland, Florida, entre os dias 13 e 15 de março, e voltou com o segundo lugar na categoria Micro, além da marca de maior peso levantado na classe e terceiro lugar em eficiência estrutural. A equipe carimbou o passaporte para os EUA ao vencer a competição nacional de 2014, que qualifica os vencedores das categorias Advanced e Micro e os dois primeiros da categoria mais disputada, a Regular. Assim, partiram para os EUA, além da Trem Ki Voa, as equipes Car-Kará da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Uirá da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e Urubus, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O Aerodesign é uma competição de engenharia que premia as melhores aeronaves radiocontroladas em função do projeto (relatório de cálculo e apresentação oral) e o desempenho em voo em quesitos como carga paga (maior peso voado) e eficiência estrutural (relação entre o peso levantado e o peso vazio da aeronave). Resumindo: para competir é preciso um trabalho de engenharia completo que envolve pesquisa de metodologias de projeto aeronáutico, fabricação de componentes e o voo em si. As equipes brasileiras possuem tradição na competição, com um histórico de vitórias e bons resultados e as representantes desse ano mantiveram a escrita. Além dos resultados da UFSJ, na categoria Regular tivemos a Unifei e Unicamp em segundo e quarto lugar respectivamente. Não bastasse a dificuldade técnica, as equipes ainda lutam contra limitações de recursos financeiros para a construção do avião e para levar a equipe para os EUA. De acordo com Sarah Oliveira, vice-capitã da Trem Ki Voa-Micro, “o principal desafio foi a situação finan-

ceira da equipe. Os recursos que recebemos de patrocínio em 2014 foram todos aplicados no projeto da competição Nacional. Para o mundial, precisávamos de fazer algumas importações de material e estávamos limitados tanto pelo tempo quanto pelo dinheiro e, infelizmente, não tivemos muito apoio financeiro de patrocinadores e da instituição”. Para contornar o obstáculo a equipe lançou mão até de campanha de financiamento coletivo (crowd funding) em sites especializados. Digno de nota é o espírito de competição e camaradagem entre as equipes, com frequentes relatos de cooperação durante a competição e esse ano não foi diferente. Sarah contou que houve um erro da organização no cálculo das notas, que iria alterar o resultado final. Uma equipe favorecida pelo erro foi a primeira a apontar a discrepância e foi premiada ao final com uma menção honrosa de “Fair Play”. Mais importante do que a competição em si, o objetivo principal do Aerodesign é divulgar e multiplicar conhecimentos em engenharia aeronáutica. Alinhado com esse espírito, a Trem Ki Voa-Micro reúne 25 alunos dos cursos de engenharia mecânica, elétrica e produção. “Uma preocupação da equipe é não deixar que o conhecimento adquirido se perca com a saída dos membros mais experientes, por isso contamos com alunos do 1º ao 9º período.”, diz Sarah Oliveira. E assim vai se mantendo viva a chama da aeronáutica no Brasil, país do qual veio ninguém menos do que o primeiro homem a levantar do solo, com meios próprios, uma máquina “mais pesada do que o ar”, Alberto Santos Dumont. Parabéns à Trem Ki Voa e equipes brasileiras pelos belos resultados. * Engenheiro aeronáutico e voluntário da comissão avaliadora da competição Aerodesign nacional que acontece anualmente em São José dos Campos.


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Crônicas do Cotidiano

Encontro de Motociclistas

Encontro Nacional de Motociclistas repete sucesso do ano anterior EMANUELLE RIBEIRO A cidade do artesanato foi palco do II Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes, realizado de 20 a 22 de março, no Parque de Exposições. O evento contou com novidades neste ano, entre elas a programação estendida até o domingo, com o último show marcado para as 13h. “O II Encontro de Motos aconteceu repetindo uma parceria que deu certo no ano passado. Tão certo que o sucesso se repetiu esse ano. Aprendemos com o que foi feito no ano passado para que fosse corrigido agora, e esperamos que no ano que vem seja melhor e possamos trazer mais frutos para o município”, declarou Luís Cláudio dos Reis, um dos organizadores. O Encontro foi organizado pela Asseturc (Associação das Empresas do Turismo e do Artesanato de Resende Costa) em parceria com os motoclubes “Pilantras” e “Os Aventureiros” e teve o apoio da Prefeitura Municipal de Resende Costa. Lúcio Resende, membro dos Pilantras, destacou a melhor estrutura da festa em 2015: “O evento é muito bom, é organizado

e não é bagunça. Reúne as pessoas. Os frequentadores gostaram muito das atrações e também das exposições que preparamos, tudo de acordo com o público”. O Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes foi realizado pela primeira vez em 2014 e o sucesso foi tanto que o evento permaneceu no calendário, sendo que em 2015 um número significativo de motociclistas e um público ainda mais participante marcaram a festa. Weber Soares é vice-presidente do motoclube “Os Aventurerios”, que já tem 15 anos de estrada, e falou ao JL sobre o evento: “A chuva atrapalhou um pouco, algumas pessoas deixaram de vir, mas temos milhões de brasileiros pedindo pela chuva. Então não podemos achar ruim, o nosso evento foi abençoado pela chuva. Esse ano, contamos com a participação expressiva da população de Resende Costa, o que faltou no ano passado. É um evento aberto, gratuito, musical e que aproxima as pessoas. Procuramos confraternizar com os diversos motoclubes do Brasil. Motoclube é uma

O encontro foi agitado por muito Rock and Roll

família, entra quem pretende fazer boas ações, confraternizar”. A infraestrutura foi elogiada pelos motociclistas, visitantes e resende-costenses que curtiram o evento. Café da manhã, área de camping e troféus foram oferecidos aos motociclistas durante os dias do Encontro. Além disso, o rock and roll, mais uma vez, movimentou o público no Parque de Exposições. Os shows das bandas Estado Crítico, Rockwave, Alliennid, Opala Azul e Appetite for Destruction foram marcantes. O II Encontro Nacional de Motociclistas das Lajes foi importante também para incrementar o turismo local, influenciando diretamente na economia do município: “Contamos com a presença maciça dos motociclistas e de um público muito grande. Desde a semana anterior ao evento já não se encontrava mais vagas de hospedagem em Resende Costa”, comentou Luís Cláudio. “Fazemos a festa aqui para atrair públicos para a cidade, que já é atrativa pelo seu artesanato”, destacou o motociclista Lúcio.

Weber e Lúcio, organizadores do evento

RAFAEL CHAVES

A declaração Todo ano a mesma coisa, a gente tem que fazer declaração. A minha, deste ano, vou começar declarando assim: - Imposto de Renda, eu te odeio! Não bastasse surripiarem mensalmente de meu salário, ainda me fazem despender um dia de minha preciosa vida para eu mesmo fazer as contas do tanto que sou extorquido. É um disparate este bicho Leão. Faz-me reunir todas as minhas contas, somente as por ele eleitas, e somá-las para dizer que minha soma não pode dar o resultado que deu. Para esse bicho, eu jamais posso ter gasto mais que isso com educação, mais do que aquilo com saúde, mais do que tanto com meus dependentes... O Leão, como todo quadrúpede, é um animal irracional, cuja matemática segue regras e conceitos próprios. A mim resta postar-me de quatro, como um hibrido asinus caballus que foge pela estepe – como se pudesse sobreviver ao ataque –, para, pelo menos como burro, tentar entender suas equações. A par disso, das minhas próprias contas, minha filha sempre recorre a mim para fazer a declaração dela. E quem sou eu para negar este favor a ela? Prontifico-me. Há um consolo meio sádico: percebo que todos nós, assalariados, fazemos parte do mesmo curral (para o Leão). Nessa hora peço-lhe os documentos, os de rendimentos e os de despesas. Ela, então, se lembra dos alertas que eu lhe dei para guardar todos os recibos. Alguns dias atrás me telefonou. - Pai, posso abater despesas médicas, né? - Sim, filha, pode. Mas você tem plano de saúde, ora. - É, mas como estou aqui no Paraná e o plano é daí de Minas. Tive que consultar aqui sem usar o plano. - Ah... Pode abater sim. - Falar nisso, pai, posso pedir ressarcimento dessas despesas ao plano? - Sim, filha, creio que possa pedir sim. Pode ser que não

lhe ressarçam do total, mas de uma parte, com certeza. - Oba! Então posso abater e ressarcir! - Sim, pode. Senti-me como se tivesse encontrado um bosque no meio da savana. “Aha, Leão, passei você para trás, vou abater e ainda vou recuperar a grana”, asneirei escondido entre as árvores, esquecendo-me do faro sensível do felino. - Pai, pai, dentista também pode? - Sim, dentista pode abater do imposto de renda sim, Filha. - E ressarcir, tem jeito? - Não, Filha, aí também é demais. Só abater do imposto de renda mesmo. Um silêncio se seguiu. Eu quase lhe disse que o plano era de saúde e que dente não é saúde e que por isso seu dinheiro não poderia ser reavido. Porém, antes, dei-me conta da besteira que havia pensado. Sequelas de minha burrice, face ao Leão. Despedimo-nos ao telefone. Alguns dias se passaram e ela voltou a me ligar. - Pai, pai, tenho recibo de nutricionista. Posso abater? - Como é, Filha? Abater? – Custei a me dar conta do assunto, que a esse tempo eu estava bípede. - É pai, tenho recibo de nutricionista. Posso abater do Imposto de Renda? - Ah... Não, nutricionista não pode não. Tanto não em uma frase só. Mas é assim mesmo que funciona com o Leão: não, não e não. - Nutricionista só abate do peso mesmo, Filha! – retruquei. - Mas, pai, nem emagrecer eu emagreci. - Então abate a nutricionista! – ri com ela. Um silêncio se seguiu. É ruim o silêncio ao telefone: não podemos ver a expressão do nosso interlocutor do outro lado. Sentimo-nos impotentes. De repente o silêncio se quebrou: - Pai, odeio o Imposto de Renda! – declarou.


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Educação

Economia e Negócios

Proinfância poderá iniciar atividades ainda em abril

Café Soberano amplia e moderniza sua fábrica para aumentar produção

EMANUELLE RIBEIRO

A creche-escola Proinfância está praticamente pronta para iniciar suas atividades em Resende Costa. No dia 02 de abril, o Jornal das Lajes visitou a instituição de ensino e conheceu suas instalações, localizadas no bairro Tijuco. A estrutura é espetacular e, pelo que vimos, os alunos terão muito conforto e espaço. A creche-escola conta com oito salas de aula com quatro padrões diferentes para creche e pré, sendo que todas têm acesso a área de solário e duas delas possuem banheiro. Além disso, são quatro banheiros para funcionários (administrativos, professores e auxiliares de serviços gerais), dois de uso comum

para os alunos e dois próprios para deficientes físicos; pátio coberto com refeitório e área para brincadeiras; pátio descoberto onde estarão tanque de areia e parquinho; sala de informática; biblioteca; lavanderia e passadoria; estacionamento; por último, a cozinha toda equipada e com pias específicas para cada atividade e dispensas diversas, onde está localizado ainda o lactário. A área externa está em fase final de conclusão. A rua de acesso à escola foi asfaltada e há um projeto para a construção de uma praça em frente à instituição. O Proinfância atenderá crianças de 0 a 5 anos. Inicialmente, somente os alunos

da Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) e da Escola Municipal Conjurados, entre 3 e 5 anos, serão atendidos. A ideia é que a creche funcione a partir de 2016. Para funcionar, o Proinfância necessita apenas de aprovação da Superintendência de Ensino e do Corpo de Bombeiros. A intenção da Secretaria Municipal de Educação é abrir a creche-escola já em abril e há pretensões de inaugurá-la em junho, durante as comemorações do aniversário de Resende Costa. Conheça o “Centro Municipal de Educação Infantil Aquarela”, como será chamada a unidade do Proinfância em Resende Costa:

Entrada da creche-escola Proinfância, localizada no bairro Tijuco

A cozinha da creche-escola possui diversas pias, uma para cada atividade específica, entre elas limpeza de verduras, carnes e utensílios e preparação de sucos. Além disso, existem dispensas diferentes e equipamentos como microondas, freezer e geladeiras

Os banheiros possuem chuveiros, sanitários próprios para as crianças e funcionários, acessibilidade, escovários. Há também área de lavanderia e passadoria

Anfiteatro destinado às apresentações

Berçário

Infelizmente, antes de a Proinfância entrar em funcionamento, alguns vândalos depredaram o patrimônio, quebrando vidros de algumas salas. Na foto, janela da Biblioteca

Sala de aula com carteiras compartilhadas

Jogo rápido A secretária municipal de educação, Silvanda Maria de Resende, conversou e com o JL sobre o Proinfância: Qual a importância desse novo centro de ensino para Resende Costa? Entregando este Centro de Educação Infantil para nossa comunidade estaremos

garantindo um espaço totalmente adequado para que as atividades escolares possam ser realizadas com conforto e segurança. O que a senhora destaca na estrutura da escola? A capacidade para receber 240 crianças. Este é o número de alunos que temos matriculados na Educação Infantil esse ano, totalizando 11 turmas, divididas

JOSÉ VENÂNCIO DE RESENDE A empresa Café Soberano, que produz atualmente cerca de 35 mil quilos de café por mês, está na fase final de modernização de sua fábrica, em São João del-Rei. As obras começaram um ano atrás. O investimento, que se constitui de ampliação do prédio e aquisição de novas máquinas e equipamentos, vai permitir melhorar as condições de trabalho e aumentar a capacidade produtiva da fábrica. A reportagem do JL foi recebida pelo proprietário do Café Soberano, Walter Luiz Baccarini, e pela gerente geral, Patrícia de Oliveira Baccarini, que falaram da história e das inovações na empresa. Com este investimento, eles esperam aumentar a produção em cerca de 10%, no final da reforma, e em mais 10% um ano depois. A matéria-prima utilizada pelo Café Soberano é trazida de Varginha, tradicional região produtora no sul de Minas. A empresa consome em torno de 9.600 sacas anualmente. Trata-se de café cem por cento arábica e bebida dura (de melhor padrão para as torrefadoras). “O resto (cuidados na moagem e na torrefação) é com a fábrica”, resume Walter Baccarini. A torrefação do Café Soberano define o seu padrão de qualidade e de pureza, que é controlado pela ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café). Ou seja, além do grão em si, a ABIC analisa o processo de torrefação (estrutura física e aspectos legal e trabalhista), explica Patrícia. Apesar das exigências rigorosas da ABIC, “foi muito bom para a empresa porque nos fez melhorar no geral, ter cuidado com a firma no seu todo”, complementa. Histórico. Registros antigos de vendas do produto indicam que o Café Soberano teria surgido no início da década de 1930. Adquirida por Walter Baccarini em 1980, a empresa funcionou por bom tempo num espaço de pouco mais de 100 metros quadrados na Rua Paulo Freitas, ao lado da Igreja Presbiteriana. O torrador, com capacidade para uma saca de café em grão, e o empacotamento (saquinhos pesados um a um na balança)

eram manuais. A embalagem era de papel (fechada com grude). Mais tarde, foi adquirido um torrador com maior capacidade (dois sacos de café em grão) e introduzida a embalagem de plástico. Embalavam-se dois saquinhos de cada vez. Na fase seguinte, a empresa passou a utilizar uma máquina de embalagem mais eficiente, embora a operação se limitasse a um saquinho de cada vez. Foi substituída por uma máquina de bobina, que empacotava, pesava e fechava o saquinho automaticamente. Em seguida, a empresa adquiriu mais uma máquina deste último tipo. Em 1980, o Café Soberano tinha três funcionários. Atualmente, são 16 colaboradores, incluindo os membros da família. Além de São João del-Rei, a empresa comercializa seu produto nos municípios vizinhos, inclusive Barbacena, atuando numa área de 250 quilômetros. Investimentos. Depois de cerca de oito anos funcionando na Colônia do Marçal, o Café Soberano iniciou em 2014 a nova fase de investimentos, que deve melhorar a eficiência da fábrica. “Antes da reforma, faltavam condições de trabalho, o que sobrecarregava os funcionários e prejudicava o atendimento”, explica Patrícia. Nesta nova fase, à área construída de 500 metros quadrados foi acrescido um galpão de aproximadamente 300 metros quadrados. Além da ampliação do prédio, a empresa adquiriu máquinas mais modernas e mudou todo o equipamento. Foram comprados um torrador, um moinho e cinco silos para armazenamento. Também foi adquirida uma terceira máquina automatizada de empacotar, que permitirá mais que dobrar a produção. Com isso, a torrefação passa de duas sacas para quatro sacas a cada 15 minutos; a capacidade de armazenagem vai de 3800 kg para 9000 kg de café torrado em grão; a capacidade de moagem aumenta de 400 kg por hora para 900 kg/hora; e o empacotamento, de 38 pacotes de 500 gramas por minuto passa para 83 pacotes de 500 gramas por minuto.

entre a Emei e o Conjurados. De início, essas turmas seriam atendidas pelo Proinfância. Como será a seleção dos funcionários? Por enquanto, os funcionários serão aqueles já efetivos na Educação Infantil. Haverá um concurso em agosto para a seleção de dois monitores, que serão admitidos assim que a creche entrar em funcionamento.

Patrícia e Walter na nova área de empacotamento, em fase final


16 Jornal das Lajes

ANO XII Nº 144 - ABRIL DE 2015 / RESENDE COSTA - MG

Giro Esportivo

Furões conquistam a IV Copa Independência de Futsal CÁSSIO ALMEIDA

Dia 29 de março de 2014, Ginásio do Boca Juniors, em Resende Costa. Decisão da IV Copa Independência de Futsal. Dois dos principais times de Futsal de Resende Costa disputam a grande final. De um lado o time dos Furões, atual campeão da Taça de Prata do Torneio de Inverno. Do outro, o Casanova, equipe campeã do I Torneio de Verão. Um jogo de grandes viradas, sendo que até os últimos minutos da partida era impossível arriscar o vencedor. Mas no fim a garra da equipe dos Furões se sobressaiu ao ótimo elenco do Casanova. Não foi fácil para esses times chegarem até a grande final. O campeonato foi disputado em formato de mata-mata. Na primeira fase (quartas de final), os times

disputaram jogos de ida e volta e na primeira rodada somente um dos jogos terminou com mais de um gol de diferença – Furões 5 x 2 Barcelona. Nos outros jogos as partidas terminaram com a diferença de apenas um gol, fator que prova o equilíbrio entre as equipes da cidade. “A competição foi muito bem disputada, com resultados apertados e jogos emocionantes. E a fórmula da disputa contribuiu para que mesmo os times que perderam o primeiro jogo pudessem se recuperar na partida de volta”, afirmou João Lázaro, atleta dos Furões. E um exemplo dessa recuperação foi a equipe dos Galáticos. Perderam o primeiro jogo por 3x2 e no jogo de volta chegaram a estar perdendo por uma diferen-

ça de quatro gols. Mas foram pra cima e conseguiram levar o jogo para os pênaltis e acabaram vencendo a equipe dos Vasp’s, conquistando a vaga na semifinal. Assim foi a IV Copa Independência de Futsal, competição que vem se tornando uma das mais tradicionais da nossa cidade. Além de servir como “laboratório” para as equipes se prepararem para o Torneio de Inverno, a Copa Independência se torna palco de inesquecíveis partidas de futsal. Melhor Goleiro Paulo (Furões) – 12 Gols Sofridos Artilheiros Léo (Furões) – 7 Gols Fabinho (Matsubara) – 6 Gols

Esporte e qualidade de vida Professor da UFSJ fala durante palestra no CPP sobre obesidade, suas consequências e como preveni-la. ANDRÉ EUSTÁQUIO A obesidade é considerada hoje, ao lado das guerras, doenças infecciosas e outras graves doenças, um dos maiores males que assolam a humanidade. Milhões de pessoas sofrem deste mal, que pode matar. A boa notícia é que esta doença tem cura e o tratamento é acessível a praticamente todas as pessoas, basta uma boa orientação médica e o acompanhamento de profissionais, como nutricionista e educador físico. No dia 20 de março, o professor Alessandro de Oliveira, do curso de Educação Física da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), proferiu palestra em Resende Costa, no Centro de Pastoral Paroquial Nossa Senhora da Penha (CPP), sobre obesidade e a importância da prática de exercícios físicos na qualidade de vida das pessoas. O evento foi organizado pelos profissionais da RE Studio e Academia, Cristiane Vale, Erika Bárbara e Renan Resende.

Durante aproximadamente 1 hora de palestra, Alessandro de Oliveira destacou as causas da obesidade e suas consequências na vida das pessoas. “O problema da obesidade em si não é estar obeso, mas o fato de ela ser o ‘estilingue’ para outras doenças”, disse o professor. Ou seja, a obesidade pode estimular o surgimento de outras doenças graves. O palestrante apresentou números que mostram a diferença biológica entre uma pessoa considerada saudável de uma pessoa que já é caracterizada como obesa. “Se você é uma pessoa com um peso corporal normal, você tem de 25 a 30 bilhões de células gordurosas em seu corpo. Agora, se você for uma pessoa obesa, você pode chegar a ter 260 bilhões de células gordurosas”. Um dos maiores desafios para as pessoas que ainda não possuem o hábito de praticar exercícios físicos é justamente começar. De acordo com o pro-

fessor Alessandro, essa dificuldade atinge também as pessoas que sofrem com a obesidade. “O mais interessante que a gente vê nesse tema obesidade e atividade física é que todo mundo sabe, mas a pergunta sempre é: porque é tão difícil tomar a decisão certa?” A decisão certa é a mudança do hábito de vida. Sair do sedentarismo e reeducar a alimentação. O professor dá a receita: “para prevenir e combater a obesidade, recomendo que procure um educador físico e um nutricionista”.

Paulo Autuori levantou a taça juntamente com Wágner, Wilson Goiano, Wilson Gottardo, Gonçalves, André Silva, Leandro Ávila, Jamir, Beto, Sérgio Manoel, Donizete e Túlio. O Cruzeiro ficou perto do título, terminando a competição em terceiro lugar. O Atlético veio logo atrás, em sétimo. Renato Gaúcho estrelou o mico de 95: após a vitória por 4 a 1 do Fluminense sobre o Santos no primeiro jogo da semifinal, Renato Gaúcho disparou:

fessor Alessandro de Oliveira. Durante três meses Cristiane acompanhará os treinos físicos das mulheres participantes. “O objetivo é observar o emagrecimento e seus efeitos psicofisiológicos nas mulheres entre 30 e 50 anos”, explica Cristiane Vale. A busca pela qualidade de vida física e mental é uma das prioridades da atividade. No decorrer das atividades serão realizadas avaliações físicas, além de ser apresentado às mulheres participantes um questionário sobre atividade física e nível de estresse. Sair do sedentarismo para ad-

quirir melhor qualidade de vida é um dos benefícios proporcionados pela atividade física e destacado pela graduanda em Educação Física: “Levar as pessoas a sair do sedentarismo, melhorando a sua qualidade de vida, além de combater, estaremos evitando uma das síndromes que está atingindo cada vez mais a população de todo o mundo: a obesidade”. As atividades de acompanhamento físico e a coleta de dados acontecerão na RE Studio Academia. As mulheres interessadas em participar podem deixar nome e telefone na RE Studio e Academia.

Trabalho com a educadora física A graduanda em Educação Física pela UFSJ, Cristiane Vale Sousa, iniciará em maio um trabalho de acompanhamento de exercício físico com mulheres entre 30 e 50 anos de idade. A atividade fundamentará seu projeto de pesquisa de conclusão de curso, que será orientado pelo pro-

Série “Campeões brasileiros” 1995 foi o ano do Botafogo! O time da estrela solitária conquistou seu único Campeonato Brasileiro em cima do Santos: venceu a partida de ida por 2x1 e empatou na volta em 1x1. Ao todo foram 27 jogos disputados, somando 14 vitórias, nove empates e quatro derrotas. O Fogão marcou 46 gols e sofreu 25. O artilheiro foi Túlio Maravilha, que marcou 23 gols e foi considerado também o craque daquele ano. Giovanni, do Santos, foi a revelação. O técnico

Furões venceram IV Copa Independência de Futsal

“A gente vai trabalhar em cima do desespero deles”. No Pacaembu, o Peixe fez 5 a 2 e Renato chorou na entrevista depois do jogo. No cinema, um filme marcou aquele ano: um contador de histórias sentado em um banco de madeira conquistou plateias de todo o mundo. “Forrest Gump” foi lançado e ganhou o Oscar de melhor filme, melhor ator para Tom Hanks e mais quatro categorias.

Da esquerda para direita Renan Resende, Erika Bárbara, o professor Alessandro de Oliveira e Cristiane Vale.


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