Contraponto 131 - EDIÇÃO ABRIL/MAIO

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Quatro anos sem respostas: quem mandou matar Marielle?

© Evelyn Fagundes

Familiares e amigos seguem sem saber quem foi o mandante do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes

Grafite da artista Ju Costa que preenche a parede externa do primeiro andar do prédio ERBM na PUC-SP. A arte é possível ser vista da escadaria da prainha.

Por Evelyn Fagundes, Laura Martins e Lídia Rodrigues

M

ulher negra, lésbica, vereadora em prol dos direitos humanos, nascida e criada no Morro da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle Franco foi brutalmente assassinada a tiros no dia 14 de março de 2018, deixando um lega­ do importante para o ativismo brasileiro. Em sua trajetória, trabalhou em orga­ nizações da sociedade civil como Brasil Foundation e Centro de Ações Solidárias da Maré; coordenou a Comissão de Defe­ sa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e colaborou com os movimentos feministas, negros, periféricos e da co­ munidade LGBTQIA+, sendo um exemplo de força e resistência a muitas pessoas, principalmente mulheres.

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Em entrevista para o Contraponto, a vereadora e historiadora Dani Portela (PSOL), que está no cargo desde 2020, na capital pernambucana, Recife, discorreu sobre o assassinato e a memória de Ma­ rielle Franco. Para ela, a morte da carioca foi um crime político: “a grande pergunta que seguimos nos fazendo é quem man­ dou matar Marielle e Anderson? Sabemos que uma vereadora que fazia o enfrenta­ mento ao esquema de poder das milícias geraria um incômodo a ponto de a quere­ rem tirá­la dali.”, defendeu Dani. Os questionamentos levantados pela vereadora parecem estar longe de uma conclusão. As investigações apuraram os ex­PMs Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz como os principais suspeitos pelo assas­ sinato. Ambos foram presos em 2019 e devem ir a júri popular, sem data defini­ da. Durante as buscas, a polícia afirmou que o veículo envolvido no crime nunca mais foi visto. Já as balas utilizadas eram do mesmo lote usado na chacina em Ba­ rueri e Osasco, na Grande São Paulo, no ano de 2015. Os artefatos foram vendi­ dos para a Polícia Federal de Brasília em 2006, porém a arma usada no assassina­ to não foi encontrada. Dani Portela luta pela introdução do “Dia Marielle Franco de Enfrentamento

à Violência Política contra Mulheres Ne­ gras, LGBTQIA+ e Periféricas” na legisla­ ção do Recife. No entanto, a ideia não foi bem aceita pela bancada da oposição: “Foi articulada uma saída em massa para que não houvesse quórum para a votação do projeto”, pontuou a ativista. Em segundo momento, a vereadora conservadora Mi­ chele Collins (PP) quis substituir o nome de Marielle do projeto pelo nome de Júlia Santiago, ativista política da década de 40. Essa atitude de Michelle fez com que Portela levantasse a indagação: “a quem interessa apagar a memória de Marielle Franco? A quem interessa abafar um fe­ minicídio político que marcou a história recente do Brasil?” Após quatro anos da execução, o nome da vereadora executada continua sendo lembrado em festivais e manifestações. Dani Portela, conhecida como “Mulher da Flor”, se orgulha desse apelido, afirman­ do que cada flor carrega uma semente. Como Marielle, ela deseja espalhar as sementes da esperança, assim como fez a vereadora em seu mandato, que hoje é símbolo de resistência. “As dificuldades me dão ainda mais força para lutar pela promoção de uma cidade melhor para to­ das e todos. Não daremos mais nenhum passo atrás!”, concluiu a historiadora.

CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP


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