Quatro anos sem respostas: quem mandou matar Marielle?
© Evelyn Fagundes
Familiares e amigos seguem sem saber quem foi o mandante do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
Grafite da artista Ju Costa que preenche a parede externa do primeiro andar do prédio ERBM na PUC-SP. A arte é possível ser vista da escadaria da prainha.
Por Evelyn Fagundes, Laura Martins e Lídia Rodrigues
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ulher negra, lésbica, vereadora em prol dos direitos humanos, nascida e criada no Morro da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle Franco foi brutalmente assassinada a tiros no dia 14 de março de 2018, deixando um lega do importante para o ativismo brasileiro. Em sua trajetória, trabalhou em orga nizações da sociedade civil como Brasil Foundation e Centro de Ações Solidárias da Maré; coordenou a Comissão de Defe sa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e colaborou com os movimentos feministas, negros, periféricos e da co munidade LGBTQIA+, sendo um exemplo de força e resistência a muitas pessoas, principalmente mulheres.
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Em entrevista para o Contraponto, a vereadora e historiadora Dani Portela (PSOL), que está no cargo desde 2020, na capital pernambucana, Recife, discorreu sobre o assassinato e a memória de Ma rielle Franco. Para ela, a morte da carioca foi um crime político: “a grande pergunta que seguimos nos fazendo é quem man dou matar Marielle e Anderson? Sabemos que uma vereadora que fazia o enfrenta mento ao esquema de poder das milícias geraria um incômodo a ponto de a quere rem tirála dali.”, defendeu Dani. Os questionamentos levantados pela vereadora parecem estar longe de uma conclusão. As investigações apuraram os exPMs Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz como os principais suspeitos pelo assas sinato. Ambos foram presos em 2019 e devem ir a júri popular, sem data defini da. Durante as buscas, a polícia afirmou que o veículo envolvido no crime nunca mais foi visto. Já as balas utilizadas eram do mesmo lote usado na chacina em Ba rueri e Osasco, na Grande São Paulo, no ano de 2015. Os artefatos foram vendi dos para a Polícia Federal de Brasília em 2006, porém a arma usada no assassina to não foi encontrada. Dani Portela luta pela introdução do “Dia Marielle Franco de Enfrentamento
à Violência Política contra Mulheres Ne gras, LGBTQIA+ e Periféricas” na legisla ção do Recife. No entanto, a ideia não foi bem aceita pela bancada da oposição: “Foi articulada uma saída em massa para que não houvesse quórum para a votação do projeto”, pontuou a ativista. Em segundo momento, a vereadora conservadora Mi chele Collins (PP) quis substituir o nome de Marielle do projeto pelo nome de Júlia Santiago, ativista política da década de 40. Essa atitude de Michelle fez com que Portela levantasse a indagação: “a quem interessa apagar a memória de Marielle Franco? A quem interessa abafar um fe minicídio político que marcou a história recente do Brasil?” Após quatro anos da execução, o nome da vereadora executada continua sendo lembrado em festivais e manifestações. Dani Portela, conhecida como “Mulher da Flor”, se orgulha desse apelido, afirman do que cada flor carrega uma semente. Como Marielle, ela deseja espalhar as sementes da esperança, assim como fez a vereadora em seu mandato, que hoje é símbolo de resistência. “As dificuldades me dão ainda mais força para lutar pela promoção de uma cidade melhor para to das e todos. Não daremos mais nenhum passo atrás!”, concluiu a historiadora.
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP