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A dublagem como democratização do acesso ao entretenimento

Mais que tradução, a dublagem brasileira é um instrumento de inclusão

Por Anna Cecília Nunes, Giulia Aguillera e Ricardo Dias de Oliveira Filho

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por Marco Ribeiro e Andrea Murucci, respectivamente.

Silvio Giraldi, ator, dublador e diretor de dublagem, já deu voz a personagens como Will Schuester, de Glee; Daryl Dixon, de The Walking Dead; Gohan, do anime Dragon Ball; entre outros. E em conversa com o Contraponto, conta que recorreu à dublagem como uma alternativa após enfrentar uma falta de recursos fi nanceiros enquanto ator. “Um dos papéis [da dublagem] é dar acesso a tantas obras estrangeiras de forma ‘imersiva’, promovendo uma experiência única de mergulhar em uma história, a ponto de desfrutar o que chamamos de uma ‘catarse’, que pode ser entendida como ‘transformação’”.

Ele ressalta ainda que a dublagem como profi ssão vem crescendo no Brasil e tornandose mais conhecida. “Em um passado relativamente recente, a dublagem era um trabalho ‘anônimo’. Ninguém nos conhecia e havia um certo preconceito – inclusive da própria classe artística – sobre os atores na dublagem. [...] Os dubladores não tinham seus nomes nos créditos dos fi lmes e não queriam que seus colegas soubessem que eles estavam na dublagem”, explica.

Em 1927, chega ao cinema o primeiro fi lme dublado do mundo, “O Cantor de Jazz”. Até então, todas as produções eram silenciosas, sendo só na época do cinema sonoro que os telespectadores puderam ouvir as vozes dos personagens. Com o passar do tempo, a dublagem foi sendo aperfeiçoada até se tornar um dos elementos mais importantes em um fi lme.

Dublagem é, em sua essência, a substituição da voz e da interpretação original de uma produção audiovisual pela voz de um outro ator, com intuito de traduzir um idioma para outro ou, até mesmo, melhorar a qualidade do som quando ocorre algum problema na sua captação.

O debate sobre a preferência por conteúdos dublados ou legendados está cada vez mais constante nos grupos de amigos, família e conhecidos. À medida que o mercado estrangeiro ganhou força na indústria de entretenimento brasileiro, a divergência de ideias apenas ascendeu.

A dublagem brasileira é considerada e reconhecida internacionalmente como uma das melhores do mundo, contando com diversas indicações e prêmios. Inclusive, ela está presente na memória afetiva do público, já que as vozes das dublagens marcam os filmes e séries que passavam na TV aberta. Elas ajudam não só a caracterizar os personagens favoritos das telonas, como também adaptálos para uma realidade mais próxima dos telespectadores. Alguns dos exemplos mais notáveis são as dublagens de Jim Carrey e Julia Roberts feitas

O analfabetismo e a dublagem

Apesar do prestígio, existe um argumento de que “a dublagem estraga” as obras. Na verdade, ela possui um papel importante para as pessoas analfabetas que, uma vez que não podem ler legendas, dependem exclusivamente dela para a compreensão da história.

Silvio também é professor da Universidade de Dublagem, em São Paulo, e comenta: “Durante muito tempo, as pessoas tinham vergonha de preferir ver fi lmes dublados para não serem taxadas de analfabetas, quando na verdade a dublagem é uma opção cultural.”

Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), 11,041 milhões de pessoas não sabem ler e escrever no Brasil. A grande maioria deles – cerca de 76% – são de cor parda ou negra, incluindo crianças de até 15 anos de idade. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD).

Por isso, entendese que produtos audiovisuais legendados não podem ser consumidos por grande parte da população – fora as crianças que ainda não chegaram à idade de alfabetização e, portanto, não têm outra opção a não ser consumir produtos dublados. Desse modo, mais do que simplesmente tradução e caracterização, a dublagem signifi ca também acessibilidade para esse público.

Com o crescimento de canais streaming e de conteúdos sendo produzidos a todo vapor, a dublagem será cada vez mais indispensável.

© Reprodução: Getty Images /Klaus Vedfelt ©Reprodução:GettyImages/AthimaTongloom

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