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Criptofascismo: sinais escondidos na extremadireita

Criptofascismo: sinais escondidos na extrema-direita

Com a popularização da internet e de novas mídias, organizações fascistas encontraram o espaço propício para se multiplicarem silenciosamente

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Por Andre Nunes, Anita Woge e Enrico Souto brancos, e pode ter sido utilizado pelo presidente com este intuito.

De acordo com a antropóloga da Unicamp Adriana Dias, para a Revista Fórum, “neonazis usam o leite o tempo todo. ‘Tomar branco, se tornar branco’. Ele vai dizer que não, que é pelo desafi o. Mas é um jogo de cena, como eles sempre fazem”

O que é criptofascismo?

Muitas dessas práticas podem ser associadas ao “criptofascismo”: movimento de grupos fascistas que escondem a realidade de seu pensamento e plantam pequenas pistas. Esse comportamento é feito para que possam atrair a atenção de simpatizantes, ao mesmo tempo em que não deixam tão claro sua associação com o fascismo tradicional, para naturalizar a presença desses discursos no debate público.

Esse fenômeno surge em um contexto pósSegunda Guerra, no momento em que essas ideologias totalitárias já não eram mais aceitáveis. O termo foi cunhado em 1963, em uma obra do sociólogo alemão Theodor W. Adorno, mas o criptofascismo só veio se espalhar com o advento da internet, quando, por volta dos anos 2000, subfóruns de um site chamado 4chan passaram a ganhar força.

Atualmente, essas páginas se tornaram o principal ponto de encontro da chamada alt-rights (abreviação de “direita alternativa”), movimento político americano, fruto direto da internet. Para esse grupo, a extrema direita tradicional não defende adequadamente os interesses da sociedade branca e ocidental e, por isso, eles propõem mudanças radicais na organização de instituições mais ortodoxas.

É nesse contexto que surge uma estratégia de comunicação fundamental para a alt-right: o dog whistle. O nome faz referência aos “apitos caninos”, instrumentos que podem ser ouvidos por cães, mas são imperceptíveis para humanos. A expressão faz relação com as mensagens políticas que são empregadas por códigos, entendidas por adeptos ao movimento, mas ocultas para o resto da população. Esses símbolos geralmente se apropriam de imagens, expressões e gestos presentes na vida comum, o que tanto difi culta sua identifi cação quanto facilita eventuais justifi cativas.

É mais do que necessário a identifi cação desses sinais, pois é apenas assim que é possível combatêlos. O Contraponto lista alguns exemplos de símbolos comumente usados pela extremadireita:

Fashwave: é uma vertente fascista com a estética visual do Vaporwave, um ramo da música eletrônica nascido em 2010 e atrelado a um posicionamento anticapitalista e presente na cultura da internet. O Fashwave, entretanto, apenas se apropria das características reconhecíveis – como o neon e as referências ao futurismo retrô dos anos 80 – e adiciona símbolos, frases e fi guras reacionárias, de Bolsonaro à Hitler.

Gesto de “OK”: feito pelo assessor Filipe Martins durante uma sessão do Senado em maio de 2021, nasceu como uma piada em 2017. Na época, usuários do 4chan tinham o principal objetivo de convencer os meios de comunicação de que o símbolo “OK” feito com as mãos era uma manifestação de supremacia branca. A campanha, apelidada de “operação OKKK”, em referência à organização racista Ku Klux Klan, partia do pressuposto de que os três dedos levantados no gesto formavam um ‘W’, e o círculo, feito com a junção do polegar e do indicador, desenhava cabeça de um ‘P’ (abreviação de White Power, “Poder Branco”, em tradução). No entanto, após a piada se diluir, o símbolo passou a ser usado genuinamente por esses grupos.

Pepe, the frog: é um personagem de desenho animado que se tornou um meme famoso nas redes sociais, mas, à medida que se popularizou em fóruns no 4chan e Reddit, começaram a usar a fi gura do sapo sorridente para criar imagens com conotação racista e antissemita. Esses signifi cados preconceituosos não estavam no meme original, o que levou o seu criador, Matt Furie, a formar uma campanha chamada #SavePepe, com o objetivo de desvincular o personagem de discursos de ódio.

Nos últimos anos, a internet tem viralizado casos de personalidades famosas defendendo ou realizando apologia a discursos extremistas, como o nazismo. Um dos episódios mais recentes aconteceu com o exapresentador Monark, do podcast Flow, no início de fevereiro, quando ele defendeu a existência de um partido nazista. Depois dessa situação, Adrilles Jorge, comentarista político da Jovem Pam, fi nalizou seu programa com um gesto similar ao utilizado por Adolf Hitler.

Esse movimento foi considerado uma saudação nazista não só pelos internautas, mas também pela Condeferação Israelita do Brasil (Conib), que publicou em nota: “A Conib condena estarrecida o gesto repugnante de saudação nazista feito pelo apresentador Adrilles Jorge em programa da Jovem Pan”. Após o caso, o comentarista foi demitido sob falas da emissora de não aceitar “nenhum tipo de manifestação nazista e alusão a perseguições de quaisquer tipos”. Um mês após o escândalo e a nota de repúdio da Jovem Pan, Adrilles foi recontratado.

Estimulado por este dinâmica, o presidente Jair Bolsonaro também fl ertou com essa ideia. Durante uma live presidencial, em maio de 2020, Bolsonaro tomou um copo de leite puro e afi rmou ser um desafi o da Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite), como um incentivo a essa indústria no Brasil durante a crise do coronavírus. Segundo especialistas de estudos do nazismo, o leite puro é um código de identifi cação de supremacistas

Quando colocados lado a lado, os gestos de Adrilles e Hitler são inegavelmente semelhantes

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