Cem Anos de Mulheres na Política – A Batalha Não Acabou Luta ainda prevalece após aniversário centenário da primeira entidade política
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á um século florescia o primeiro partido feminino brasileiro. Com o intuito de conquistar a participa ção das mulheres na política, a Federação Brasileira das Ligas pelo Progresso Femi nino (FBPF) foi uma organização fundada em agosto de 1922, visando, primordial mente, o sufrágio universal, o qual foi con quistado dez anos depois. Na celebração centenária da organiza ção, cabe destacar que existem avanços, retrocessos e estagnações diante da luta pela igualdade de gênero. Quando se fala sobre o combate ao pa triarcado, costumase esquecer as mulhe res que vieram antes e abriram caminhos nessa batalha. Bertha Lutz liderava a FBPF, movi mento que militava por direitos femininos como a participação política e civil, acesso à educação, presença no mercado de tra balho e outras reivindicações para a equi dade de gênero. Uma das grandes conquistas da luta ocorreu em 1932, com a promulgação do código eleitoral. Foi o momento em que a representação feminina deu um passo à frente e as mulheres conquistaram o di reito de votar e serem votadas no Brasil. Embora o direito ao voto tenha sido um enorme avanço feminista, é preciso escla recer que o movimento era composto, em sua maioria, por mulheres brancas da alta classe média.
Segundo Simone Nascimento, pré candidata a deputada estadual da Ban cada Feminista do PSOL, desde seus primórdios a luta já era segmentada, pois quando o voto feminino foi aprovado, ainda não era garantida a participação política dos analfabetos. “A maioria da população analfabeta no Brasil era negra. Isso significa que a população negra não passou a votar quando o sufrágio avançou no Brasil”. Ainda que aprecie a conquista, Nas cimento adverte que é preciso articular a intersecção entre gênero e raça durante as reflexões sobre as mulheres brasileiras. Atualmente, de acordo com o estu do realizado pela União Interparlamen tar, mesmo compondo 51%da população brasileira, as mulheres representam ape nas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados. Em entrevista ao Contraponto, Luana Alves, vereadora em São Paulo pelo PSOL, afirma que as cotas femininas muitas ve zes ainda servem como fachada para os partidos. “Eles preferem apostar, por exemplo, naquele carinha que é filho de alguém, que muitas vezes não tem talen to nenhum, mas faz parte de uma família importante;: homem, branco e hétero, ao invés de apostar em mulheres negras que têm um trabalho real”. A parlamentar também pontua a prática de corrupção pelos partidos com candidatas laranjas como um obstáculo a ser superado.
© Isadora Taveira
Por Fernanda Querne, Isadora Taveira e Bianca Novais
A repórter Fernanda Querne entrevistando a vereadora Luana Alves (PSOL)
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CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP