Contraponto 131 - EDIÇÃO ABRIL/MAIO

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Cem Anos de Mulheres na Política – A Batalha Não Acabou Luta ainda prevalece após aniversário centenário da primeira entidade política

H

á um século florescia o primeiro partido feminino brasileiro. Com o intuito de conquistar a participa­ ção das mulheres na política, a Federação Brasileira das Ligas pelo Progresso Femi­ nino (FBPF) foi uma organização fundada em agosto de 1922, visando, primordial­ mente, o sufrágio universal, o qual foi con­ quistado dez anos depois. Na celebração centenária da organiza­ ção, cabe destacar que existem avanços, retrocessos e estagnações diante da luta pela igualdade de gênero. Quando se fala sobre o combate ao pa­ triarcado, costuma­se esquecer as mulhe­ res que vieram antes e abriram caminhos nessa batalha. Bertha Lutz liderava a FBPF, movi­ mento que militava por direitos femininos como a participação política e civil, acesso à educação, presença no mercado de tra­ balho e outras reivindicações para a equi­ dade de gênero. Uma das grandes conquistas da luta ocorreu em 1932, com a promulgação do código eleitoral. Foi o momento em que a representação feminina deu um passo à frente e as mulheres conquistaram o di­ reito de votar e serem votadas no Brasil. Embora o direito ao voto tenha sido um enorme avanço feminista, é preciso escla­ recer que o movimento era composto, em sua maioria, por mulheres brancas da alta classe média.

Segundo Simone Nascimento, pré­ ­candidata a deputada estadual da Ban­ cada Feminista do PSOL, desde seus primórdios a luta já era segmentada, pois quando o voto feminino foi aprovado, ainda não era garantida a participação política dos analfabetos. “A maioria da população analfabeta no Brasil era negra. Isso significa que a população negra não passou a votar quando o sufrágio avançou no Brasil”. Ainda que aprecie a conquista, Nas­ cimento adverte que é preciso articular a intersecção entre gênero e raça durante as reflexões sobre as mulheres brasileiras. Atualmente, de acordo com o estu­ do realizado pela União Interparlamen­ tar, mesmo compondo 51%da população brasileira, as mulheres representam ape­ nas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados. Em entrevista ao Contraponto, Luana Alves, vereadora em São Paulo pelo PSOL, afirma que as cotas femininas muitas ve­ zes ainda servem como fachada para os partidos. “Eles preferem apostar, por exemplo, naquele carinha que é filho de alguém, que muitas vezes não tem talen­ to nenhum, mas faz parte de uma família importante;: homem, branco e hétero, ao invés de apostar em mulheres negras que têm um trabalho real”. A parlamentar também pontua a prática de corrupção pelos partidos com candidatas laranjas como um obstáculo a ser superado.

© Isadora Taveira

Por Fernanda Querne, Isadora Taveira e Bianca Novais

A repórter Fernanda Querne entrevistando a vereadora Luana Alves (PSOL)

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CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP


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