Contraponto 128 - EDIÇÃO MAIO/JUNHO

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São novos tempos... até para o mundo geek Com personagens marcantes e representativos, o mundo dos super-heróis está cada vez mais inclusivo no cinema, nas animações e nos quadrinhos

© Reprodução/Marvel

Por Fabrício De Biasi, Flavia Cury, Gabriel Yudi e Leonardo Matias Duarte

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rande parte dos super-heróis clássicos, como Batman e Super-homem, são brancos, héteros e homens. No Brasil, país com um grande público geek, 54% da população é preta. No mundo todo, mulheres e asiáticos também são maioria. Mesmo assim, ainda faltam exemplos de representatividade dentro desse universo. Desde o início do século 21, as minorias começam a ganhar força em desenhos animados, quadrinhos e filmes de heróis, dando espaço para a diversidade étnica-social. Um exemplo é o personagem Pantera Negra (que Chadwick Boseman esteja em paz!), filme de 2018 protagonizado por pretos, cuja bilheteria superou filmes como Batman vs Superman (2016). Quando crescemos rodeados de heróis que nos representam, é mais fácil acreditar e colocar valor em si mesmo. Afinal, se nossos semelhantes da ficção conseguem, nós também conseguimos. Por isso, a identificação com o entretenimento é tão importante, ainda mais no mundo dos super-heróis, ambientado por ícones admirados e poderosos. Lucas Santana, dono do canal Mundo Geek no Youtube, diz que foi uma mudança gradativa para fãs mais velhos e comenta sobre alguns personagens marcantes.

O mestre em Kung Fu tem a missão de proteger o mundo dos vilões e o mistério dos dez anéis, os responsáveis pela trama do filme, mas que são fortes com guerreiros cósmicos aprisionados em cada um. A realização do filme mostra que não só os ocidentais brancos são os heróis. Lucas Santana tem uma opinião enfática sobre o tamanho do filme e sua representatividade para o povo asiático: “Shang-Chi é um personagem nível B/C da Marvel que, infelizmente, poucas pessoas conhecem e participou de pequenos arcos nos quadrinhos. Já o Pantera esteve sempre no primeiro escalão, participando de grandes momentos da editora de filmes. No entanto, se o filme for excelente ou no mesmo nível do Pantera Negra, acredito que a receptividade pode ser a mesma”.

Falcão

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O povo asiático e seus descendentes recebem pela primeira vez um representante em filmes com a magnitude que a Marvel e a Disney alcançam. É um dos primeiros passos para que o continente mais populacional do mundo comece a ganhar espaço com atores principais e não só coadjuvantes. A representatividade asiática cresceu nos últimos anos. O filme do personagem Shang Chi, protagonizado por um herói asiático, será lançado pela Marvel em setembro de 2021. Espera-se que chegue perto, em termos de números e aprovação, ao filme do Pantera Negra.

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Shang-Chi

Miles Morales em Homem-Aranha no Aranhaverso

A série Falcão e o Soldado Invernal, da Disney Plus, dominou as atenções no último mês de abril. O tema principal é a passagem do manto de Capitão América para Sam Wilson, um homem negro, soldado estadunidense e membro dos Vingadores. Mais conhecido pelo seu apelido Falcão, nos quadrinhos sua história de origem é muito diferente do Cinematográfico Marvel, sendo um gangster que conseguiu

sair da vida do crime, ao invés de ser um integrante do exército. A primeira impressão é de que o foco principal seria a ação contra um inimigo maior, além da pressão de ter que se tornar um combatente à altura de seu antecessor, Steve Rogers. Contudo, no decorrer dos episódios, discussões muito mais profundas e realistas se instalam no meio da ficção. O tom da série muda quando os personagens principais fazem uma visita ao veterano de guerra Isaiah Bradley, que conta sua trágica trajetória e coloca na mesa a hipocrisia dos valores dos EUA. O ex-soldado revela, assim como Steve Rogers, ter servido de cobaia em experimentos para a criação de um super soldado. Porém, mesmo com o processo dando certo e ele arriscando sua vida em nome do país, não teve a mesma glória do status de se tornar um símbolo e o motivo foi ele não ser loiro dos olhos azuis, mas sim um homem afrodescendente. De maneira muito forte, ele dá um conselho para Sam Wilson sobre como a sociedade nunca aceitaria por completo um homem da sua cor como representante da nação devido ao fato dela, em sua fundação, ter uma mentalidade racista. Outra cena marcante da série foi quando Sam discute com seu parceiro Bucky, antigamente chamado de Soldado Invernal, e são abordados por dois policiais em Baltimore, Maryland, cidade marcada pela morte de Freddie Gray em 2015, causada pela polícia. Apenas Sam foi repreendido e ameaçado quando um dos oficiais se preparava para pegar uma arma, o que é resolvido no momento em que eles reconhecem o herói. Ou seja, ele só foi tratado com dignidade por ser famoso, mas caso

CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP


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