Contraponto 128 - EDIÇÃO MAIO/JUNHO

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A carne mais barata do mercado é a carne negra O assassinato de George Floyd e Daunte Wright, assim como o massacre em Jacarezinho, ocorreram pela violência e abuso de poder por parte dos que deveriam ser “oficiais da lei”

© Mark Clennon

Protestos contra o assassinato de George Floyd em Nova York

E

m maio de 2020, o mundo parou com o assassinato de George Floyd, sufocado por um policial branco. Menos de um ano depois, a história se repete, desta vez com Daunte Wright que, após um erro policial, recebeu um tiro de pistola em seu peito. No Brasil, em maio deste ano, houve o caso de Jacarezinho, onde policiais invadiram uma comunidade no Rio de Janeiro, vitimando mais de 25 pessoas.

George Floyd George Floyd cresceu em Houston, para onde retornou após desistir da faculdade, a fim de trabalhar com customização de automóveis, muito pelo fato de sempre ter tido ligação com a cidade. Floyd também tinha grande participação no cenário musical texano, com cinco canções em participação com o famoso DJ Screw. Após significativas passagens pela polícia, um assalto a mão armada resultou em uma condenação para George. Pelo crime, ele foi sentenciado a cinco anos de prisão, ficando detido de 2009 a 2014. Ao sair da cadeia, o ex-rapper foi tentar uma nova vida em Minneapolis, Minnesota. Lá, conseguiu emprego, como caminhoneiro e segurança, para sustentar os três filhos. Em 25 de maio de 2020, George Perry Floyd Jr. se encontrava desempregado devido a pandemia da Covid-19 quando foi acusado por quatro policiais brancos de ter comprado cigarros com uma nota falsa de 20 dólares.

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Os policiais o algemaram, lhe encaminhando para a viatura estacionada do outro lado da rua. Vídeos mostram que Floyd relutou a entrar, alegando que tem claustrofobia. Após a chegada de apoio, quatro policiais conseguiram colocá-lo à força no veículo, mas, em poucos segundos, o empurraram para fora dele novamente, colocando-o no chão com o rosto contra o asfalto. Civis que passavam pelo © Matt Hong

Por Andre Nunes Rosa, Carlos Eduardo Morita, João Victor Guimarães

Representação do policial, Derek Chauvin, como um porco

local se espantaram, e começaram a filmar a agressão. Em certo ponto do vídeo mais repercutido, o policial Derek Chauvin é visto pressionando o pescoço de George com seu joelho, enquanto a vítima suplicava por misericórdia, repetindo a frase “eu não consigo respirar”. O sufocamento durou cerca de oito minutos. Nos três últimos, a vítima estava imóvel e sem pulso. Ainda assim, o policial seguiu com o joelho em seu pescoço. Uma hora depois, George Floyd foi declarado morto. A autopsia apontou assassinato. O crime resultou em uma revolta não só na cidade em que se passou, mas por todo o mundo. Protestos assolaram as metrópoles estadunidenses e, até mesmo, outros países. Foram dias de pessoas nas ruas reivindicando os direitos básicos de quem sofre com o racismo e contra a ignorância policial. Um dos termos mais usados nas manifestações foi “Pigs” [“Porcos”, em tradução livre], se dirigindo aos policiais. O termo depreciativo, que foi frequentemente usado durante o século XIX, desapareceu por um tempo. Reapareceu, em especial, nas décadas de 1960 e 1970, permanecendo na cultura underground de muitos países de língua inglesa. Também foi utilizado em círculos anti-autoridade, como o punk, gótico, metaleiro, motociclista, mafioso e no hip-hop. A hashtag #blacklivesmatter foi o tópico mais comentado nas redes sociais, apoiado em meios diferentes e de diversas formas. Três meses após o assassinato, a NBA (principal liga de basquete do mundo), por exemplo, ao retomar a temporada interrompida pela pandemia, contava com o “bordão” Black Lives Matter adesivado na quadra e os jogadores puderam escolher uma frase que remetesse ao tema para ser escrita nas costas de seus uniformes.

Daunte Wright Daunte Wright, 20, deixou um filho de 2 anos após ser assassinado em uma abordagem policial, no dia 11 de abril. A data coincidiu com a terceira semana de depoimentos do julgamento de Derek Chauvin, acusado de assassinar Floyd no ano passado. De acordo com Tim Gannon, chefe do departamento de polícia de Brooklyn Center, Wright estava com os documentos do carro vencidos. Os policiais descobriram, então, que ele tinha um mandado de prisão.

CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP


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