O fortalecimento do empreendedorismo feminino Empreender; uma atividade historicamente dominada pelo sexo masculino, mas que agora mais mulheres estão liderando
Por Ana Carolina Cesar Sousa, Livia Veiga Andrade, Victória Toral de Oliveira
Não se limite. Muitas pessoas se limitam ao que eles acham que podem fazer. Você pode ir tão longe quanto sua mente permite. O que você acredita, lembre-se, você pode alcançar. Sônia Hess empresária brasileira, vice-presidente do Grupo Mulheres do Brasil e ex-presidente da camisaria catarinense Dudalina.
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nalisando historicamente o mercado de trabalho, os homens sempre estiveram presentes, ocupando os cargos mais altos, recebendo os maiores salários, com mais prestígio e respeito do que a maioria das mulheres. “Empreender” é a capacidade de criar soluções em momentos desafiadores, identificar uma oportunidade e desenvolver algo que impacte a sociedade, atividade que já foi predominada pelo sexo masculino. Assim, atribuíam para o “sexo frágil” cargos de menor importância, trazendo como explicação a incapacidade de mulheres aguentarem a pressão, não conseguirem liderar uma equipe ou a fragilidade por uma possível gravidez. No entanto, a pesquisa apresentada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora entre setembro e outubro do ano de 2020, quebra esse pensamento ao mostrar que as mulheres demonstraram serem mais resilientes e confiantes em momentos de dificuldade. Persistentes e fortes, essas características são predominantes nas mulheres empreendedoras. Lutando todos os dias para driblar os grandes empecilhos, elas estão superando o predomínio dos homens nessa área. A pesquisa revela que 68% dos negócios com até 3 anos são administrados, ainda em sua maioria, por mulheres brancas. Essa presença no mercado gera exemplos para outras também buscarem sua independência financeira, causando um impacto econômico importante. Mas não é só na economia que mudanças são feitas pelas empreendedoras. Ter uma renda própria estimula a quebra do ciclo de violência e ajuda as mulheres a terem o controle de sua própria história.
Com o avanço da pandemia, as desigualdades de gênero ficaram ainda mais evidentes. Em 2020, foram registrados no canal Ligue 180, 105.821 denúncias de violência contra mulheres. O aumento de chamadas está vinculado ao fato das vítimas serem obrigadas a ficar mais tempo com seus agressores. O cenário também obrigou, principalmente as mulheres, a reorganizarem suas rotinas. Com as crianças em casa muitas famílias tiveram que se reinventar para conciliar as tarefas profissionais e familiares. Os dados trazidos pelo Instituto mostraram que dos 1.555 entrevistados, 17% das mulheres sentiram mais dificuldades quando comparadas com os 8% dos homens. Apesar do desgaste, continuam confiantes e trazem criatividade em suas ações. Na busca por novas estratégias para seus negócios, elas encontraram formas de ampliar seus conhecimentos e levá-los para o meio digital, trazendo maior diversidade para o mercado. Muitas exploraram o ramo da internet para criar sua própria visão de sucesso e qualidade de vida, usando de seus próprios valores e crenças para influenciar, vender e se comunicar com outras pessoas, principalmente outras mulheres. Essas empreendedoras buscam o sucesso dentro de seus próprios termos, e também, de suas rotinas. Para mães ou mulheres que trabalham meio período e querem conquistar uma renda extra, o empreendedorismo ligado à internet acaba sendo a melhor escolha, tendo em vista que ainda não é um mercado saturado. O carisma e a sensibilidade feminina também ajudam na conquista e permanência do público, requisitos essenciais para estratégia de divulgação e atendimento ao cliente. De acordo com a Rede Mulher Empreendedora, 54% das mulheres que decidem abrir seus próprios negócios o fazem por necessidade e optam por atuar em áreas
de serviço. Segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), os principais serviços são venda de roupas, acessórios ou calçados, prestação de serviços domésticos ou a abertura de salões de beleza e serviços de alimentação (restaurantes, bares e cafeterias).
Nada é tão nosso quanto nossos sonhos. Boca Rosa (Bianca Andrade) Mesmo com o crescimento do desempenho feminino no mercado empreendedor, ainda há empecilhos durante a elaboração de seus projetos, como por exemplo a questão racial e a falta de apoio familiar e econômico. O desânimo pode levar muitas à desistência, mas, hoje em dia, com o número crescente de projetos apoiando as empreendedoras, esse cenário pode ser superado. Um exemplo é A Rede Mulheres Empreendedoras, criada em 2010, por Ana Fontes, que tem como objetivo compartilhar o conhecimento sobre o empreendedorismo feminino, por meio de eventos e cursos. Em 2021, a iniciativa concretizou uma parceria com o Instituto Social Fundación MAPFRE, a fim de criar um programa profissionalizante para mulheres marginalizadas socialmente. Já o projeto Grupo Mulheres do Brasil nasceu em 2013, com 40 mulheres que tinham o propósito de conquistar melhorias para o país através de um cenário heterogêneo, que abrigasse classe social, raça e religião. Suas iniciativas contam com disposição de eventos, reuniões e comitês para ajudar aquelas que buscam o conhecimento para empreender e desenvolver suas carreiras por todo o Brasil. Em maio de 2020, elas já somavam mais de 90 mil mulheres.
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP