Como a tradição monárquica é influenciada por tabloides britânicos Ruptura da família real enfatiza a essência racista da mídia inglesa
Por Eduarda Magalhães, Júlia Gomes Zuin, Manuela Pestana e Sarah Catherine Seles
O legado da “Princesa do Povo” Em 1977, com apenas 16 anos, Diana Frances Spencer, descendente de uma família de aristocratas britânicos, conheceu seu futuro marido: Charles Philip Arthur George, com 29 anos na época e herdeiro da Coroa inglesa. Pressionado pela realeza
18
britânica, príncipe Charles pede Diana em casamento em 1981 e 5 meses após o pedido eles se casam na St. Paul ‘s Cathedral, em Londres. Diferente da expectativa dos súditos, a princesa Diana não era “bela, recatada e do lar” (referência à apresentação de Marcela Temer pela revista Veja, em 2016), muito pelo contrário. Em seu casamento escreveu seus próprios votos e negou jurar obediência ao seu marido, influenciando futuras gerações. Por não corresponder aos padrões da realeza e quebrar séculos de paradigmas, Diana, agora nominada “sua alteza real, a princesa de Gales” (e carinhosamente pela população de “a Princesa do Povo”), foi alvo de perseguição não apenas na própria família real, como também na mídia, desde o começo de seu relacionamento com Charles, até sua morte. A família real sempre foi objeto de interesse da mídia, principalmente de modo sensacionalista e, assim, a imprensa estava presente o tempo todo em suas vidas. © Reprodução
A história da realeza britânica A história da família real britânica possui centenas de anos repletos de sucessões, um tanto confusas. Mas existem algumas informações chaves para entender o que a monarquia representa hoje. O caminho para compreender como a Rainha Elizabeth II chegou ao poder se inicia em 1837, com a Rainha Victoria assumindo a Coroa, até 1901, o ano de sua morte. Então, seu filho, Edward VII, assumiu o trono até 1910, quando a coroa passou para George V. Com a morte de George V em 1936, a linhagem do reinado continuou com seu filho Edward VIII, que finalmente quebra com a sequência de sucessões harmônicas de quase 100 anos, ao se casar com Wallis Simpson, uma cidadã americana divorciada. A união não combinava com as regras da igreja e da monarquia, o que levou à abdicação do trono para seu irmão, George VI, em dezembro do mesmo ano. George VI foi casado com a Rainha Elizabeth I, conhecida também como a “rainha mãe” e enfrentou crises juntamente com a 2° Guerra Mundial até sua morte em 1952, quando deixou a Coroa para sua filha, a atual Rainha Elizabeth II. A rainha assume o trono aos 25 anos e bate o recorde de mais tempo no poder na história de sua família e mundial, com quase 70 anos de reinado. A família real é formada pelo cônjuge do monarca e pelos parentes próximos, que são a Rainha Elizabeth II, seu marido, príncipe Philip (que faleceu no último 9 de abril), os 4 filhos do casal, os príncipes Charles, Anne, Andrew e Edward; sendo Charles o primeiro na linha de sucessão do trono. Atualmente o primogênito é casado com a Duquesa Camilla e possui dois filhos, William e Harry, frutos de seu primeiro casamento com a princesa Diana. William, que será o próximo a assumir o trono, casou-se com Kate Middleton e tem três filhos, George (que está em terceiro lugar na linhagem real), Charlotte e Louis. A partir de 1215, o poder real foi perdendo força e o Parlamento se fortaleceu. Atualmente a realeza tem papel mais simbólico do que efetivo, visto que o atual Primeiro-Ministro, Boris Johnson, exerce o poder Executivo.
Casamento de Diana e Charles
A repórter Roxanne Roberts, do jornal Washington Post, opina que Diana teve quase uma relação mutualista com a imprensa: “Diana compreendia o poder da mídia, e a usou em seu favor para auto divulgação, e, mais tarde, como uma arma contra a realeza, especialmente na época de sua separação com Charles.” Entretanto, assim como a mídia ajudava Diana em alguns quesitos, também a prejudicava. Em agosto de 1997, a tragédia aconteceu. Diana, seu namorado da época e seu motorista não resistiram ao bater o carro no túnel de uma ponte em Paris, ao serem
perseguidos por fotógrafos. Após investigações, foi constatado que o motorista estava dirigindo alcoolizado, justificativa para aqueles que o concluem como culpado. Porém, o debate é bem mais amplo: seriam culpados os fotógrafos? Ou uma fusão de todos os fatores? Também existem múltiplas teorias da conspiração sobre a própria família real ter manipulado o acidente.
A cisão real Diferente de Charles e Diana, Meghan Markle e o príncipe Harry não tiveram um casamento arranjado. Eles se conheceram por meio de amigos em comum e se casaram em 2018. Meghan é uma atriz americana, divorciada e negra, motivos suficientes para ser alvo de perseguição da família real e das mídias. Todavia, Meghan Markle não é a nova Diana. O ponto em comum entre ambas é o assédio da mídia, porém Lady Di tinha privilégios perante a Coroa inglesa que Meghan não tem: Diana era branca, inglesa e veio de uma família aristocrata. O racismo é um dos principais preconceitos sofridos por Meghan, comparada diariamente com Kate Middleton, que agrada aos padrões reais. Após serem vítimas de preconceito por parte da Coroa, da mídia e do povo, o príncipe Harry e Meghan anunciaram em janeiro de 2020, que estavam se desvinculando da família real para conquistar sua própria independência, deixando suas funções reais em 31 de março de 2020. Em entrevista à jornalista Oprah, foi exposto pelos cônjuges seus pontos de vista sobre a realeza, relações entre a família e escândalos preconceituosos. Em um momento da conversa, Meghan revela que, quando estava grávida, um membro não identificado da família real estava preocupado com a cor da pele de seu filho, Archie, antes de seu nascimento. A imprensa britânica e o racismo A mídia inglesa é notoriamente conhecida por seu caráter incisivo e hostil. Os “tabloides”, como são chamados jornais como The Sun, Daily Mail, Daily Star, entre outros, assumem a tarefa de reportar ao público os acontecimentos – desde os mais cotidianos até os mais relevantes – da vida de figuras públicas na forma mais crua e “cômica” possível. É uma das fontes mais ricas de entretenimento aos ávidos leitores que buscam descobrir segredos de seus ídolos. Essa dinâmica, portanto, segue a lógica capitalista de oferta e procura, gerando uma indústria extremamente lucrativa em que uma foto de qualquer celebridade se torna uma riqueza, e a busca por consegui-la vai além de qualquer limite.
CONTRAPONTO Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo – PUC-SP