Jornal Contramão 15ª edição

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OPINIÃO

A tal da paciência Vizinho gritando, bebê chorando, chefe reclamando, professor cobrando, fila no banco, fila na padaria... fila no restaurante, na farmácia, no supermercado. Haja paciência! Quem consegue ter paciência nos dias de hoje? Tem faltado paciência para nossa sociedade, mas onde e como encontrar? Se alguém souber onde achar, por favor, me conte, tenho procurado a minha há algum tempo.

Foto: Etiene Martins Meninas de Sinhá Belo Horizonte - MG

Editorial Esta edição de o Contramão está bem focada nas artes e nas manifestações culturais. O malabirista urbano é o tema da reportagem do aluno Vitor Hugo. O grupo Meninas de Sinhá, do Alto Vera Cruz, ganha nossas páginas pela redação de Etiene Martins. Já a aluna Izabela Pacheco faz uma crônica sobre a falta de tempo e paciência das pessoas. Marcos Oliveira, por sua vez, assina a reportagem sobre o coletivo de artistas contemporâneos, Kaza Vazia, uma iniciativa cuja proposta é ousada e surpreendente. Reportamos, ainda, a inauguração da Casa UNA de Cultura, espaço privado para uso da população de Belo Horizonte, abrigado no emblemático casarão do início do século XX, então, pertencente à família de Afonso Penna, na rua dos Aymorés. A Casa UNA de Cultura é uma das realizações do Centro Universitário UNA alusivas ao seu aniversário de 50 anos. A edição destaca a presença do Sr. Wildes que visitou a redação de o Contramão. Quando da cobertura do velório do exvice-presidente, José Alencar, no Palácio da Liberdade, em 31 de março, entre as entrevistados pela nossa equipe, estava o Sr. Wildes, que cantou uma música composta por ele em homenagem a Alencar. O vídeo, postado no Contramão on line, foi visto pelo nosso personagem que gostou e veio, pessoalmente, agradecer. Esta ‘estória’ é importante, no mínimo, sob dois aspectos quando se busca ensinar e aprender jornalismo. O sr. Wildes viu que aqueles “meninos” da reportagem eram sérios. Durante a reportagem, na Praça da Liberdade, disseram que o vídeo sairia e saiu, na data e no espaço combinados. Assim, nasceu um compromisso cidadão que deve orientar o jornalismo, a fidelidade e honestidade com as suas fontes. Outro aspecto importante, evidenciado neste episódio, foi a prática da reportagem. Em tempos de banda larga e de buscas automáticas na internet, o ser humano, razão da atividade jornalística, tem ficado em segundo plano. As belas “estórias” humanas, os personagens que inspiram e acrescentam, muitas vezes, têm ficado em último plano. Os números, entretanto, ganham realce. O que são números e dados estatísticos se não tiverem por trás personagens que têm vidas pulsantes? Enfim, ao encontrar o sr. Wildes e tantos outros personagens/cidadãos no velório, os aprendizes de jornalismo perceberam a importância do corpo a corpo na construção da notícia. Um bom aprendizado.

Se existisse uma fábrica de paciência, seria tão mais fácil enfrentar um trânsito parado, com carros buzinando (e você lá com aquela tranquilidade, paciência e serenidade, sem envelhecer, porque falta de paciência envelhece!). Mas quem disse que o que é fácil a gente dá valor? Isso é só porque nós, seres humanos, somos um pouco complicados. Ouvi dizer por aí que, para conseguir a grande virtude de se ter paciência, precisamos exercitar a mente e trabalharmos o espírito com energias positivas, talvez até plantar uma horta, criar um cachorro ou até mesmo escrever uma crônica! “Ihh”... Será que vou ter paciência para isso? A verdade é que o problema de não se ter paciência é que você pode fazer com que as outras pessoas te tenham como arrogante, mal educado e ninguém quer que as pessoas pensem isso! Mas essas pessoas que podem o ver assim podem também estar sem paciência para aguentá-lo. Então, pronto! Está todo mundo sem paciência! A falta da paciência pode te fazer muito mal. Ela normalmente não aparece sozinha e vem sempre acompanhada de um amigo, o estresse. Esse, em conjunto com a falta de paciência, pode te fazer um mal danado. É comprovado por médicos que eles podem causar doenças, e eu não quero ficar doente, então é melhor eu ir procurando minha paciência ou um médico. Vou tentar trabalhar meu espírito e minha mente, e sugiro a você fazer o mesmo. A vida é curta demais para ficarmos perdendo paciência com o que quer que seja. Respire fundo, conte até dez, pense em coisas boas, o mundo não vai parar por conta da sua falta de paciência. Vou terminando por aqui, porque minha paciência já acabou! Espero que você ache a sua, porque eu já vou indo procurar a minha! Por Izabela Pacheco O conteúdo deste artigo não expressa a opinião do Contramão

EXPEDIENTE Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela Teixeira Vice-reitor: Átila Simões Diretor do ICA: Prof. Silvério Otávio Marinho Bacelar Dias Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Piedra Magnani da Cunha Contramão - Tel: (31) 3224-2950 - contramao.una.br Coordenação: Reinaldo Maximiano (MTb 06489), Tatiana Carvalho e Cândida Lemos Diagramação: Débora Gomes Revisor: Roberto Alves Reis Estagiários: Andressa Silva, Anelisa R. Santos, Bárbara de Andrade, Daniel Lemos, Débora Gomes, Felipe Bueno, Marcos Oliveira, Maria Amélia, Marina Costa e Thaline Araújo Tiragem: 2.000 exemplares Impressão: Sempre Editora

“Era uma casa que não tinha nada...” Coletivo de artistas contemporâneos discute a divisão dos espaços da arte e a urbanização das cidades Por Marcos Oliveira e Matheus Azevedo

Uma casa sem moradores, abandonada, jogada às traças, cupins, ratos e invasões tempestivas é o lugar ideal para uma galeria de arte. Pelo menos é assim que acontece com o Kaza Vazia, um coletivo de artistas independentes que, há cinco anos, ocupam os lugares mais insólitos e incomuns para promover e discutir os caminhos da arte. “Estamos na busca de um espaço expositivo não tão restrito como nas galerias, os museus e as bienais, e que fosse gerido pelos próprios artistas”, explica o artista plástico Hernani Fernandes. O Kaza Vazia começou como uma iniciativa dos alunos recém formados da Escola de Belas Artes da UFMG, que não encontravam espaço no seleto mercado artístico mineiro. “Procuramos fazer arte em cima desse lugar que a gente ocupa, como se fosse um suporte”, esclarece Fernandes. Hernani Fernandes, 24, é artista e estudante da escola de Belas Artes, e encontrou no Kaza Vazia a identificação estética e conceitual para desenvolver a sua perspectiva de criação: “A Kaza dialogava muito com o que eu acreditava como arte”. O artista se juntou ao grupo em 2008 e já participou de duas edições do projeto. O projeto já teve 10 edições e, em cada uma delas, o grupo ocupou um lugar diferente. Além das casas abandonadas, os “kazeiros” já ocuparam o Parque Municipal e o edifício Maletta, no centro de Belo Horizonte, além dos convites aceitos para se instalar em um antigo casarão em Ouro Preto (MG) e em um apartamento no emblemático Edifício Pedregulho, no Rio de Janeiro (RJ). Esse “coletivo de arte contemporânea”, conta atualmente com a participação

de 10 artistas. “O legal do coletivo é que ele é aberto. Qualquer um pode vir e se juntar ao grupo, como também qualquer um pode ir embora.”, explica Hernani Fernandes. A artista plástica e poeta, Raissa Machado, 22 é “kazeira” desde a 4° edição do projeto. Na ocasião, em 2007, o grupo, ao lado de artistas convidados, fez uma intervenção em um apartamento em reforma no Conjunto Habitacional IAPI, no bairro São Cristóvão. “Lidar com o vazio em um espaço e na escrita é muito custoso. São muitas as sensações que aparecem daí trabalhamos em cima disso”, explica Raissa. “O Kaza me leva pra uma experiência única, sempre. Toda casa fala, revela, pede alguma coisa, tem seu próprio cheiro, sua marca, seu tempo”, analisa. Marconi Marques é integrante da Kaza Vazia desde o início do projeto. “Eu trabalho desde a 5ª edição com a criação de blogs, desenvolvo peças gráficas, produzo textos com pretensões descritivas e/ou poéticas. Na última edição documentei em vídeo vários momentos do grupo”, conta Marques. Na época em que conheceu o grupo, se identificou com a proposta que foi emendando cinco ocupações consecutivas. “Destaco a ocupação do Edifício Pedregulho, como a mais importante, pelo conceito ampliado de casa e vazio, em que o embate com a vida real foi intenso, numa aproximação com a comunidade diante de uma arquitetura imponente”, explica. Todos os conceitos e projetos do Kaza acabam por esbarrar em questões urbanas que extrapolam os parâmetros da arte. A Kaza Vazia é mais do que um simples aglomerado de artistas. “A Kaza foi evoluindo

com o passar do tempo e ficamos mais próximos da intervenção urbana”, confirma Hernani Fernandes. Entre as influências do coletivo Kaza Vazia estão as vanguardas brasileiras inauguradas na década de 1960, em especial o trabalho de Hélio Oiticica. O grupo, também, propõe intervenções em suas obras e instalações contando com a participação do público no “modus operandi artístico”, como definem. Para que o Kaza construa uma ocupação, é feito um estudo com os artistas/membros e agregados, levantados em mesas de debates chamados de “mezas vazias”. Em uma dessas mezas, o grupo conheceu Joviano Mayer, membro da ONG Brigadas Populares que propôs uma ação na Comunidade Dandara (uma ocupação de sem-teto na região metropolitana de BH), com a criação de uma galeria de arte. Aceitado o desafio, em abril do ano passado, a Kaza

Vazia passou a produzir, com moradores do assentamento, ensaios fotográficos, piqueniques, oficinas para artistas e moradores. Os kazeiros também ajudaram na construção de diversas casas no terreno do Dandara. Além das oficinas de pedreiro oferecidas pelos moradores para artistas, os kazeiros realizaram oficinas de pipa, teatro, arte em argila e dança. “Nossa relação com o Dandara foi sempre pautada na base da troca, aprendemos juntos com a comunidade. Hoje, nos falamos da forma mais informal possível”, explica Hernani Fernandes. Onde mais o Kaza pode ocupar? Essa pergunta fica pairando no ar, entre as frestas das ocupações, nas janelas desprotegidas. O kaza ocupa também os condomínios virtuais que podem ser acessados por meio do portal do projeto: http://kazavazia.blogspot.com

Foto: Acervo KV

Ernani Fernandes na comunidade Dandara


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