contramão
UNA - Ano 8 - Belo Horizonte - Agosto/Setembro de 2015 Jornal Laboratório do Curso de Jormalismo Multimídia Instituto de Comunicação e Artes
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TESTEMUNHOS, MOVIMENTOS, AUSÊNCIAS E ESPERANÇAS NO RASTRO DO RIO INTERROMPIDO
2 contramao.una.br
opinião
EDITORIAL O CONTRAMÃO retoma o tema da seca do rio São Francisco que já nos rendeu a capa da edição 30, de dezembro de 2014. Desta vez, a fotógrafa Jaqueline Dias, formada no curso de Cinema e Audiovisual do ICA, nos apresenta o relato da viagem às cidades de Pirapora e de Januária. Em 2015, o rio enfrenta a sua pior seca e a população ribeirinha luta pela sobrevivência em um cenário de quase deserto. Já o jornalista Marcelo Fraga, também formado pelo ICA, registrou em seu TCC o drama das famílias que lutam para encontrar os seus parentes desaparecidos no Brasil dos dados desatualizados. O repórter, formado em Jornalismo Multimídia do ICA, é ex-estagiário do NuC e propôs um recorte do seu trabalho. A edição 33 consolida as reformulações gráficas e editoriais que tiveram como marco o número anterior, o diálogo possível entre entre palavra e imagem para contar histórias do cotidiano. Nossa nova aposta é a página 3 inteiramente reservada para o exercício da crítica. Nesta edição, Juliano Vitral, aluno de Cinema e Audiovisual, analisa a série Narcos, sucesso do Netflix protagonizada por Wagner Moura, sob direção de José Padilha. A série tem chamado a atenção por sua televisualidade e sua percepção dramatúrgica do narcotráfico, na Colômbia doa anos 1970 e 1980, e sua personagem mais controversa, Pablo Escobar. Bruna Dias estreia na versão impressa do CONTRAMÃO escrevendo sobre a presença masculina no balé, considerado, por muitos, como uma arte exclusivamente feminina. Por sua vez, Gabriel Peixoto, assim como na edição 32, se dedicou à musica. Entrevistou as cantoras MC Carol, de Niterói, Priscilla Glenda, de Belo Horizonte e Laura Wrona, de São Paulo sobre a relação entre música e empoderamento feminino e como elas acontecem. O jornal destaca, ainda, a campanha Que Diferença Faz?, do Ministério Público em parceria com a Una, Rede Minas e outras intituições. A campanha promove o respeito às diversidades e o combate ao preconceito. Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia do - Instituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitora: Carolina Marra Simões Coelho Diretor do ICA/UNA: Prof. Lélio Fabiano dos Santos. Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Tatiana Carvalho Costa. Contramão. Coordenação: Reinaldo Maximiano (MTb 06489). Téc. de Laboratório: Ana Sandim (18727/MG). Revisores: Ana Sandim e Reinaldo Maximiano. Foto de capa: Jaqueline Dias Estagiários: Amanda Aparecida, Gabriel Peixoto, Gael Benitez, Julia Guimarães, Marina Rezende, Raphael Duarte, Victor Barboza e Yuran Khan. Diagramação: Gabriel Peixoto e Marina Rezende. Tiragem: 2.000 exemplares. Impressão: Sempre Editora.
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CRÍTICA
agosto/setembro de 2015 3 O assunto é Pablo Escobar, o famoso traficante
Enfim, a série monta um esquema fixo de que
colombiano. Pouco discutido no Brasil, mas
o mundo está interligado a Escobar, como se
agora bem presente por conta da série Narcos,
fosse à personificação da droga.
do Netflix, interpretada por Wagner Moura, no papel de Escobar, e dirigido por José Padilha, que, em alguns episódios, figura como produtor executivo.
com grande carisma, seus jeitos e expressões comovem. Ele ganha a simpatia do público, mas próximo da metade da série, Escobar é
A série propõe uma leitura conjunta com o
colocado como alguém doentio e sanguinário.
espectador a respeito de Pablo Escobar, sua vida
Ele distribui armas para crianças e coloca um
e suas atividades de traficante na Colômbia.
jovem, sem o seu conhecimento, para servir
O cenário colombiano é mostrado de forma
como homem bomba num avião. A partir daí,
belíssima em seus planos aéreos, com destaque
o narrador dos eventos, um policial americano
para a vegetação e paisagens exuberantes.
do DEA, personagem apagado no início, ganha
Mas quando o foco da série vai para as
pessoas e a vivência na Colômbia, com a câmera
muitas
vezes
acompanhando
os
personagens, o lugar vira um inferno, um país corrupto, extremamente violento, e abalado com problemas morais e éticos. Os episódios, que contêm vários travelings de câmera (lateral), mostram uma ideia de subjetividade da dimensão macro da produção. Um pilar da série, produção da droga, de como o dinheiro chega, o âmbito político, a polícia, a população e tudo que gira em torno. A série se prende na atitude seguinte de Pablo, se tornando elemento de repetição: o público se concentra em o que ele pode ser capaz de fazer da próxima vez. Sua personalidade é
Texto: JULIANO VITRAL aluno do curso de Cinema e Audiovisual 3° período / Foto: Divulgação
No começo da série, Escobar é retratado
força e começa a receber os holofotes da série. Naquele mundo horrível e insano tal qual foi retratado, ele parece algo mais próximo da ideia do bem: um exemplo claro é quando ele adota uma criança de uma mãe assassinada pelos capangas de Escobar. Os estereótipos de latinos estão bastante presentes. É ironizada a oposição à política intervencionista americana: a Colômbia é retratada como um país beirando o caos e, mesmo assim, os políticos locais resistem em pedir apoio ao exército americano, vistos então como super-heróis. A série tenta aprofundar o tema da guerra às drogas, até de forma didática, e tem uma
invariável, mas ao mesmo tempo existem novas
visão panfletária. Ela é válida como espetáculo
descobertas e surpresas acerca dela. O restante
e entretenimento, mas é frágil como análise
dos personagens é refém de seu psicológico.
histórica e política, que é um dos seus objetivos.
Narcos
apresenta questões perigosas
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SOBREVIVER
É PRECISO Texto e fotos: JAQUELINE DIAS
Nas cidades de Pirapora e Januária, a população e turistas se deparam com a seca do rio São Francisco, a pior em cem anos. Os pescadores convertem-se em pedreiros, os gatos estão à beira do canibalismo e as crianças fitam um horizonte em que quase não se vê a silhueta do Velho Chico.
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especial
“Vejo os rastros que ele traz, numa sequência arrastada, do que ficou para trás.”
Fernando Pessoa
“Façamos
da
interrupção
um
caminho
visitar a região me assustei ao ver que ele não
Onde já se viu?! O homem desmata e paga
novo (...), da procura, um encontro!”, ensina
existe mais. Os peixes estão morrendo por falta
uma multa de 15 mil e ganha 30 mil. Ai é lucro
Fernando Sabino sobre a beleza de se estar
oxigenação. Eles ficam caçando água e acabam
mesmo! Geralmente, quem compra uma terra,
diante do outro. Eu tive essa oportunidade
presos em poças d’água pulando desesperados.
limpa todo o terreno e constrói sítio ou fazenda.
quando em maio de 2015, viajei para a região
Os bichos da região estão morrendo. O que
Por que eles não mexem nas margens? Pra não
norte de Minas Gerais. Meu objetivo era
mais me preocupou foi o descaso do governo.
comprometer a base e a terra descer. Ai se vê
produzir um ensaio fotográfico sobre a seca
Nas cidades que passei em vários pontos
uma árvore em fila tampando a margem do rio
do rio São Francisco, nas cidades de Pirapora
desaguava esgoto direto no rio”. Em maio de
e, pra frente, tudo limpo.
e Januária, a pior em cem anos. Em pleno mês
2015, Ana Maria testemunhou mais umas das
de chuvas, eu encontrei um rio vazio, sem
ausências no Velho Chico: o vapor Benjamim
pescadores e poucos turistas. Uma paisagem
Guimarães não navegava, há oito meses.
devastada, marciana.
Adalberto Nunes dos Santos, 56 anos, é um
- Desmataram muito aqui, Seu Adalberto? - Eles já jogaram no chão pés de pequizeiro, mangazeiro, embaúba e outros. Mas a outro problema, é a umidade do ar. O tempo seco
Cheguei à Pirapora, às 10h30, do dia 16 de
homem jovial, com poucos cabelos brancos,
maio de 2015. Ao sair do ônibus, eu senti a baixa
moreno, de estatura baixa. O “pernambucano
umidade do ar e o tempo quente, a sensação
arretado”, como diz, usava uma camisa branca
térmica era de
40 °C, aproximadamente.
com a sigla da Polícia Militar de Minas Gerais,
Decido, a caminho do hotel, mudar os planos
trabalhou entre 1982 e 2007 como soldador do
e me hospedar em outro estabelecimento, bem
Benjamim Guimarães. O Seu Adalberto, hoje
em frente ao rio. Do Velho Chico, eu só vi em
aposentado, faz manutenções na estrutura do
A seca na região do alto São Francisco,
seu leito composto de terra rachada e mato.
Benjamim Guimarães. Ele me acompanhou até
obriga os pescadores a migrar para o afluente
No fim da tarde, passei pela ponte Marechal
a embarcação ancorada devido ao baixo calado.
rio Paraopeba e, em outros casos, a mudar
Hermes, cartão postal da cidade. De um de
- Aqui, antes, era só festa, muita gente, comida
seus dez vãos centrais, eu pude avistar uma
gostosa e música da boa!”, lembra Adalberto.
paisagem bem diferente daquela que deveria
Ele toma a dianteira e vai ao encontro do
existir em 10 de novembro de 1922, quando
integrante
a ponte foi inaugurada. O pontilhão de
Guimarães.
quase 700m de comprimento atravessa terra, pedregulhos e “piscinas” de água. o local que corresponderia ao leito do São Francisco, eu contemplei aquele símbolo de um projeto desenvolvimentista republicano. A colossal estrutura de ferro sobre o rio invisível tem certo aspecto desolado e surreal. Enquanto eu fotografava, à minha esquerda, um casal se aproximou, vindo de Buritizeiro. - Era impossível para qualquer pessoa atravessar o rio a pé, de Pirapora para Buritizeiro, como fizemos hoje!, disse a mulher, moradora de Pirapora referindo-se ao trajeto de ida à cidade vizinha.
Pernambucano arretado
da
tripulação
do
Benjamim
- A moça ali é fotógrafa. Ela quer tirar umas fotos do barco. Pode? - O comandante não está. Só ele pode autorizar. - responde o homem. - Por que o vapor está parado, moço? perguntei. - Estamos reformando, moça! Daqui alguns meses, voltaremos a navegar normalmente. Não é essa a impressão que os moradores de Pirapora têm. Nas ruas, para muitos, se o nível de água do rio não aumentar o vapor deixará de funcionar. Para o Seu Adalberto, o vapor está parado por dois motivos: por conta das reformas que começaram no inicio desse ano e por conta da seca.
Os moradores que convivem, todos os dias,
- Moça, um rio como esse que passa por
com rio estão assustados com a sua seca. Os
Minas Gerais, atravessa o estado da Bahia,
turistas, em 2015, se espantam, também, com a situação do São Francisco. A turista mineira Ana Maria de Paula de Freitas Dias descreveu o que viu no norte de Minas, em agosto de 2014: “É muito triste ver a situação do rio, vazio. Não conhecia o rio ainda e quando fui
Pernambuco, Sergipe e Alagoas não ser navegável? Ele tá deixando de ser navegável por maus-tratos. As pessoas não tem consciência! - Verdade. - A gente polui nosso rio e desmata desenfreado.
tá culminando em queimadas na região florestada. - explica.
Os pescadores
de profissão. “Alguns dos pescadores estão trabalhando com outros ofícios, a maioria como pedreiro. Em Pirapora, os pescadores estão se sustentando através da criação de animais ou migrando para trabalhar em Belo Horizonte ou em Brasília”, explica o pescador aposentado Pedro dos Santos Jesus, de 57 anos. Em Januária, os pescadores da colônia Z-2 passam por dificuldades e não trabalham mais com a pesca. No artigo A população ribeirinha de Januária – MG: Estudando a dinâmica vazanteira dos ribeirinhos da colônia Z-2, o pesquisador José Leonardo Nery Silva, formado em Geografia pelo Centro de Educação Integrada do Vale do rio São Francisco (CEIVA), explica que a colônia é uma associação cujo objetivo é “ajudar os pescadores a manter um preço fixo sobre o pescado, banindo assim os atravessadores”. A associação representa, ainda, os filiados junto à Federação dos Pescadores do Estado de Minas Gerais e à Confederação Nacional dos Pescadores. A colônia presta assistência com as documentações dos associados, ajuda a taxar os valores dos peixes e armazenar e vender a mercadoria para o Mercado de Januária, para a Feira do Ceasa e para os restaurantes de Januária. O atual presidente da Z-2 é Simeão Reginaldo Ferreira, também vereador de Januária, foi ele que me conduziu à colônia e me apresentou aos pescadores.
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cidadania - Nem os pescadores artesanais e amadores
pararam no Mercado Municipal de Pirapora.
estão trabalhando mais. Tive que entrar em
São homens, mulheres, jovens e idosos que
contato com o Ministério da Pesca e Aquicultura
trabalham o dia inteiro para o próprio sustento.
para ajudar, financeiramente, esses pescadores.
Os ribeirinhos usam de água direto da fonte, do
- Há perspectiva de melhora? - Eu acredito que a partir de outubro. Mas até lá vamos passar esses dois meses difíceis. Quem tenta pescar, hoje, encontra uma grande proliferação de lodo, de cianobactérias, que pesam a rede de pesca. Esse lodo aparece por causa dos dejetos das grandes cidades, no caso, o rio das Velhas que encontra o rio São Francisco, na cidade de Pirapora. Por conta do calor e dos dejetos, essas bactérias estão se reproduzindo muito rapidamente. - explica Ferreira.
rio, para irrigar a plantação, lavar a mandioca, fazer a fécula, farinha, polvilho, tapioca e, também, para consumo humano. O pastor Cleber Mota me levou de canoa à Ilha do Coqueiro. Na travessia, avistei um grupo de gatos sobre o casco de um barco, junto à margem procurando por alimento. Alguns miraram a nossa canoa, outros permaneceram concentrados na caça. Todos à beira do canibalismo. Na ilha, encontramos agricultores e testemunhamos o desmatamento de uma grande área de mangazeiro. Entramos pela margem a esquerda do rio, descendo para
Os agricultores e produtores de derivados da
o centro de Pirapora, onde há um corredor de
mandioca, na Ilha do Coqueiro, em Pirapora,
árvores que escondem, superficialmente, a área
também enfrentam dificuldades e dependem
desmatada. Quando chegamos, três homens
da Empresa de Assistência Técnica e Extensão
que trabalhavam nas terras tentaram nos
Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER),
intimidar.
por isso a produção e a venda dos produtos não
- Para de tirar fotos, moça! - gritou um deles.
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cidadania Olha a sucuri embaixo dos seus pés! Ela vai
encontra outro rio aqui da região, o rio Poeira,
te engolir! - Os outros dois homens riam e
com grande volume de água. Nessa região, nós
brincavam com a situação. Ele continuou:
chamamos o rio São Francisco de rio Grande,
- O viveiro das sucuris está atrás de você
por conta da largura. Dói muito saber que meu
e a cobra sente cheiro de fêmea! Sai daqui!
filho morreu aqui, um lugar que como você vê
- gritaram ao som das risadas dos demais.
está praticamente seco. Perder um filho mudou
O pastor e eu voltamos para a canoa e nos retiramos dali.
completamente minha vida. Na colônia, Seu Pedro me apresentou à família
Os olhos de Milena
de Nilson dos Santos acompanhado da filha, Luciene Moreira. Todos vivem da criação de
De volta à Januária, eu reencontrei Seu Pedro
animais que sofrem com a seca. De dentro da
dos Santos no calçadão, tomado pelo matagal. O
casa, vem à porta, a pequena Milena, filha de
rio está a alguns metros de distância, assoreado. As principais casas noturnas e bares da cidadSe estão fechados. As edificações estão caindo aos pedaços e a região está deserta. Seguíamos em
Luciene, espiar com seus olhos castanhos quem era a visita que chegou. Pelas ruas de terra, crianças brincam com baralhos. Nos quintais,
silêncio à Z-2, quando ele olhando a paisagem
mulheres lavam as vasilhas de cozinha em
contou a sua história.
baldes e bacias com um pouco da água retirada
- Meu filho morreu aqui no rio São Francisco,
do São Francisco. Do poço artesiano vem a
tem três anos. Foi no Recanto. Chamamos de
água que irriga uma enfraquecida plantação. O
Recanto onde a água vai subindo e fica parada
olhos de Milena fitam a visita como quem fita
parecendo uma lagoa. Lá o São Francisco
o horizonte.
Um dos pescadores da colônia Z-2 observa o horrizonte e o assoreamento do São Francisco
Lau
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oto
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Flá
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Ch arc
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8 contramao.una.br
FEMINI
a música como ferramenta de “Feminismos” tem conteúdo complementar em texto e vídeo. Acesse: contramao.una.br
“porque
é uma
crise que eu
também tenho, de ficar me
medindo pela
altura dos outros.”
Existe mais por trás da música que a vã ciência
Ocupado tem gente é o título do mais recente
pode imaginar. “Meu namorado é maior otário,
trabalho da cantora, compositora, designer
ele lava minhas calcinhas. Se ele fica cheio de
gráfico e produtora visual, Laura Wrona e a
marra eu mando ele pra cozinha.”, trecho de
música é trilha de seu primeiro videoclipe. Suas
uma música da funkeira carioca MC Carol,
produções são divulgadas em sua página no
pode soar despretensioso aos ouvidos numa
Facebook, em meio a postagens de fotografias
primeira impressão. Assim como “Menina,
e referências musicais.
por favor, respeite se seu tempo já é diferente”,
Wrona explica que a idealização de Ocupado
frase cantada pela multiartista paulista Laura
tem gente partiu de uma conversa com uma
Wrona em seu mais recente trabalho.
amiga. “Ela estava, na época, com uma crise
A sutileza de Laura e a intensidade de
de não se aceitar, de estar muito para baixo,
Carol se confluem e são formas distintas de
de comparar muito sua vida com as de outras
empoderamento e questionamento. Ambas
pessoas e querendo se melhorar de maneiras
expressam em suas músicas desejos que são
milagrosas.”, relata. Durante o processo de
inerentes às mulheres. As faltas históricas
criação, ela percebeu que o problema não era
que foram impostas às mulheres criam a
só com o outro. “É uma crise que eu também
necessidade de expor, pela arte ou por qualquer
tenho, de ficar me medindo pela altura dos
meio possível, questões silenciadas.
outros.”, reconhece.
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cultura
ISMOS
e empoderamento da mulher Texto: Gabriel Peixoto e Marina Rezende
“Traduz pro
favelês” Já MC Carol trilha por outros caminhos. Nascida numa favela de Niterói, Carol já cantou sobre a peruca de sua avó, crack, homens que abandonam mulheres grávidas e, mais recentemente, sua insatisfação com as aulas Cabral não descobriu o Brasil. “Ele invadiu”. “Quem lutou pelos negros foi Zumbi e para lutar contra os capatazes. Dandara que se infiltrou no meio dos “homi”, no meio do estou aqui, liberta, é graças a ela. Ela e outros
Além de professores de história e linguistas interessados em estudar a letra da música da trabalho da artista com olhares interessados.
ith
MC, ativistas feministas também olham para o
arcella Zam
negros.”, contextualiza a funkeira.
FLASH - M
marido, e lutou a favor dos negros. Se hoje eu
oto: I HATE
Dandara. Princesa Isabel não aprendeu capoeira
MC Carol. F
de história das escolas. Para ela, Pedro Álvares
10 contramao.una.br
música
entrevista com Priscila integrante da banda Djambê (vocal e sampler)
Glenda
Como você, enquanto profissional da música,
Para você, as mulheres têm estado mais
ao redor desse tema tem que existir essa
mulher e feminista, enxerga a importância de
presentes na música, tanto como ouvintes
vontade de mostrar que estamos conscientes
letras de músicas que contestam/questionam
quanto como profissionais do segmento? E,
do espaço que merecemos ocupar no mundo,
ou reafirmam o papel da mulher na sociedade?
das mulheres que já participam do cenário
pois ele é nosso por direito.
Considero essas letras importantíssimas, visto
musical, é comum encontrar algumas com
que temos pouca representação em diversas instâncias importantes de nossa sociedade.
“vibe” feminista? Se sim, quais seriam exemplos disso? Estamos conquistando nossos espaços. Mas,
que dirige uma empresa, canta, governa. Só
quando participo de festivais, vejo que ainda
assim vamos nos descobrindo como exemplo
somos minoria, tanto no palco, quanto na
e inspiração e desconstruindo a visão de que
produção, equipe técnica e por aí vai. Tenho
Como você aplica suas ideologias em suas músicas? Você acha importante que seu trabalho, além de entreter, também funcione como ferramenta de críticas e questionamentos acerca de assuntos como o feminismo? Não é algo premeditado, escrevo sobre minhas
encontrado algumas mulheres, cantoras e compositoras, preocupadas com essa questão. Aqui em BH tem a Bárbara Sweet, a Sarah Guedes e o Coletivo Negras Autoras (NEGR.A), que abrange a uma visão, ainda maior, do feminismo, sob a ótica das mulheres negras. Você
acha
compositoras
que acabam
mulheres fazendo
cantoras/ músicas
vivências. Estou em cada verso, exposta. A
feministas ou músicas que acabam indo neste
única coisa que racionalizo quando componho
caminho, quase que inconscientemente pelo
é em usar as palavras de um jeito simples, para que a mensagem possa circular em todos os lugares. Minhas composições crescem em torno das minhas críticas e questionamentos, não sei como escrever de outra forma e sinto enorme
com os ideiais feministas? Qual sua opinião sobre músicas como “Meu namorado é ‘mó’
É empoderador nos identificarmos na outra,
nascer mulher já nos impõe limites.
Sobre MC Carol: a cantora tem uma ligação
fato de serem mulheres? Por quê? Não são todas as mulheres, sejam elas cantoras e/ou compositoras, que têm essa preocupação. Como eu disse, acho que isso depende da vivência de cada uma. Algumas de nós ainda não entenderam, ou não pararam para refletir,
otário”? Sei que para as mulheres que estão à frente de suas casas, cuidando de filhos, lavando, passando, trabalhando fora e lidando com maridos que não ajudam, por terem sido criados por pais e mães machistas, a letra é empoderadora, sim! Não a conheço, não sei qual a ligação dela com o movimento feminista, mas na música fica bem claro, pra mim, que ela quer igualdade de direitos. Sobre Laura Wrona: Analisando a letra de “Ocupado Tem Gente”, você enxerga a música como feminista ou não? Se sim, em quais trechos é possível visualizar isso? Pra mim, essa música é bem feminista. Aborda uma questão muito importante com a qual temos que lidar desde pequena: a aceitação. Somos muito cobradas, temos que ser a mais bonita, gostosa, bem-sucedida, boa de cama,
gratidão por algumas pessoas se identificarem
sobre a sociedade que nos cerca e como somos
ótima mãe, etc. E o padrão estabelecido é irreal,
ao ouvir e irem além do arranjo legal, dançante.
tratadas. Pra uma composição nascer e crescer
normalmente, ditado por homens.
Foto: Adriana Aranha
Foto: Flávio Charchar
Foto: I HATE FLASH - Marcella Zamith
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diversidade
Sem ves
Texto: MARCELO FRAGA Foto capa: GAEL BENÍTEZ
tí
gios Reportagem produzida a partir do Trabalho de Conclusão de Curso orientado pelo professor Evaldo Magalhães. Belo Horizonte, julho de 2015.
12 contramao.una.br
Foto: Raphaella Dias
no
quando a pessoa é encontrada, ou retorna
Augusto Santos, de apenas 11 anos de
Brasil e no mundo, os desaparecimentos
para casa por conta própria, geralmente,
idade, desapareceu sem deixar vestígios.
não tem a atenção necessária dos órgãos
não somos comunicados”. Segundo ele, há,
Ele saiu de sua casa, no hipercentro de Belo
governamentais. A ausência de um banco de
ainda, uma dificuldade em atualizar o banco
Horizonte, para ir até uma papelaria localizada
dados integrado e internacional evidencia isso.
de dados nacional, do Ministério da Justiça,
No Brasil, os inúmeros sistemas que foram
porque o sistema não é integrado com os
No dia 8 de agosto de 2006, o garoto Pedro
a poucos metros dali. Clélia e Benone Prates, pais de Pedro Augusto, espalharam cartazes com a foto do filho e divulgaram o desaparecimento em programas de TV e rádio. Apesar de todo o esforço, o caso teve um fim
Augusto,
ocorrendo,
diariamente,
criados para dar suporte às famílias e à
estados e municípios. Portanto, as polícias
polícia em casos de desaparecimento estão
estaduais não têm acesso direto ao cadastro.
defasados. O Cadastro Nacional de Crianças
Ocorrências
e Adolescentes Desaparecidos, do Ministério
trágico. Poucos dias após o desaparecimento
da
completar um ano, em agosto de 2007, uma
desaparecidos cadastrados. O número diverge
autoridades brasileiras e das associações
denúncia anônima levou à polícia a realizar
bastante do apresentado pelas associações
independentes ilustram a ausência de políticas
buscas na mata do bairro Califórnia – região
de
públicas consistentes
nordeste da capital mineira. No local, uma ossada
infantil
foi
encontrada.
Justiça,
famílias
possui
de
pouco
pessoas
mais
de
360
desaparecidas.
O site da associação Mães da Sé, uma das
Exame
mais tradicionais organizações de familiares
de DNA confirmou que aqueles eram os
de desaparecidos no Brasil, mostra números
restos mortais do menino Pedro Augusto.
desatualizados, que, ainda assim são alarmantes.
O caso não foi esclarecido. A polícia não
Segundo o site, uma pesquisa nacional feita em
conseguiu identificar nem, tampouco, prender o assassino do garoto, bem como não se chegou às possíveis causas de sua morte. A tragédia ganhou destaque nos principais jornais de Belo Horizonte e estarreceu a população
1999 mostra que 200 mil pessoas desaparecem todos os anos no país. Número que também foi detectado pela Associação Brasileira de
o
divergência
entre
os
dados
direcionadas
das
para
desparecimento de pessoas. A criação de
delegacias de polícia especializadas na busca por desaparecidos é uma das estratégias já
adotadas
entretanto,
pelos
sem
governos
equipamentos
estaduais, e
efetivo
para realizar as buscas, estes locais tornamse apenas especializados no registro das ocorrências,
não
havendo
investigações.
Busca e Defesa das Crianças Desaparecidas,
“O que fazemos é colher os depoimentos dos
em pesquisa realizada 10 anos depois, em 2009.
familiares, amigos e outras pessoas que tenham
da cidade, chamando a atenção para o
O delegado Thiago Saraiva, titular da Divisão
problema do desaparecimento de pessoas.
de Referência da Pessoa Desaparecida, da Polícia Civil de Minas Gerais, argumenta que
Ausência
A
é difícil manter um banco de dados atualizado:
mantido contato com o desaparecido”, explica o delegado Thiago Saraiva. Ainda de acordo com o titular da delegacia de desaparecidos, as buscas somente são realizadas quando há uma denuncia ou outro tipo de informação
casos
“As famílias nos procuram para informar
que possa nos levar à pessoa desaparecida.
emblemáticos, como o do garoto Pedro
que um parente está desaparecido, porém,
“A polícia não tem como realizar buscas
Mesmo
com
outras
centenas
de
agosto/setembro de 2015 13
cidades
Duzentas mil pessoas desaparecem por ano no Brasil. Não há políticas públicas adequadas para tratar o problema; A solução para as famílias, que se sentem desamparadas, é buscar seus entes por conta própria.
imediatas e nem constantes, pois não há
ausência de um sistema integrado dificulta o
No Facebook, o grupo Desaparecidos em
efetivo
trabalho de investigação da polícia e diminui a
Minas Gerais – Essa dor tem que acabar possui
chance de encontrar uma pessoa desaparecida.
quase 4 mil membros, entre mães e outros
“Devemos utilizar os recursos que a tecnologia
familiares de pessoas desaparecidas. Todos
nos proporciona para criar um cadastro
os dias surgem diversas postagens com fotos
nacional de desaparecidos verdadeiramente
e informações sobre desaparecidos. Jullian
útil, com dados atualizados constantemente.
César, fundador e administrador do grupo
Assim, os órgãos de segurança do Brasil inteiro
explica que objetivo é mobilizar os familiares
poderiam cooperar com buscas e cercos em
e outros usuários do Facebook em torno da
aeroportos, barreiras e rodoviárias”, explica.
causa: “As redes sociais são uma esperança
Os
suficiente
boletins
Civil
para
de
revelam
11
isso”,
enfatiza.
ocorrência
da
mil
anuais
casos
Polícia de
desaparecimentos, em Minas Gerais. O número equivale a uma pessoa desaparecida por hora. A média é de 30 boletins de ocorrência diários. Os motivos para os desaparecimentos são muitos. A maioria dos casos, segundo o delegado Thiago Saraiva, não tem correlação com crimes, como no caso do menino Pedro
Segundo o deputado, o assunto está há
Augusto, mas com violência doméstica, outros
alguns anos na pauta do Ministério da Justiça
problemas familiares ou doenças mentais.
e, já chegou a ser discutido em um congresso. Porém, segundo ele, o processo é lento por se
Registo imediato
tratar de um assunto de âmbito nacional, que,
O delegado desmente a crença popular sobre a existência de uma regra para o registro do boletim de ocorrência. “Ao contrário do que
portanto, deve ter a participação e concordância de
todas
as
unidades
da
federação.
muitas pessoas pensam, não é necessário
Por conta própria
aguardar
uma
Em Belo Horizonte, mães de desaparecidos
delegacia. Assim que a família percebe o
se organizaram e criaram grupos no Facebook
desaparecimento, deve buscar a delegacia
e no WhatsApp para trocarem experiências e
mais próxima, imediatamente. Isso aumenta
discutirem ideias visando ações que chamem
a chance de encontrarmos a pessoa”, garante.
a atenção da sociedade e, sobretudo, do poder
O -
24
deputado membro
Humanos
horas
para
estadual da
procurar
Rogério
Comissão
da Assembleia
de
Correia Direitos
Legislativa
de
para essas pessoas porque, sem a ajuda dos órgãos públicos, passa a ser a ferramenta mais eficiente para divulgar os desaparecimentos e,
até
mesmo,
conseguir
alguma
informação que leve a encontrar alguém”. Com as mães mobilizadas, tanto no WhatsApp quanto no Facebook, Jullian César tenta na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais a marcação de audiências públicas para tratar, exclusivamente, do problema das pessoas desaparecidas. Além disso, ele busca parcerias com detetives particulares e outras pessoas que possam ajudar, de alguma forma, os familiares.
público para o problema. “Não temos apoio da polícia para encontrar nossos filhos e, muitas mães, assim como eu, são maltratadas nas delegacias. A solução é nos unirmos para buscar
Minas Gerais, e familiar do garoto Pedro
uma solução e ajuda do governo”, esclarece
Augusto , acompanhou as investigações do
Maria de Lourdes Neves, porta-voz do grupo
desaparecimento do menino e concorda que a
Onde Estão Nossos Filhos?, no WhatsApp.
acesse: semvestigiostcc. wordpress.com
14 contramao.una.br
especial
Texto e foto: Bruna Dias
EU FAÇO
BALÉ
agosto/setembro de 2015 15
cultura
Bailarinos superam
o machismo e provam que balé
O balé não existia sozinho e acompanhante
que estava fazendo dança de rua, dança de
da ópera. O inglês John Weaver, o italiano
salão, jazz! Na escola, eu escondia, por medo
Gaspero Angiolini e o francês Jean-Georges
do preconceito. Só fui assumir, após três
Noverre,
pela
anos de prática, quando superei meus auto-
revolução no Balé Clássico, foi quando essa
preconceitos.”, revela o bailarino e diretor da
arte tornou-se independente e assumiu o
Dançartes Escola de Dança Rodrigo Jauar, 30.
formato conhecido nos dias de hoje. O Dia
“Quando era menino, minha mãe me apoiava,
Internacional da Dança é comemorado em
mas apoiava por saber que era algo que eu queria,
29 de abril, a data do aniversário de Noverre.
não por ser algo que lhe agradava. Com o passar
foram
os
responsáveis
do tempo ela aceitou. Hoje em dia, conto com
Na ponta dos pés
sua ajuda e apoio em muitas decisões que tomo
No século XIX, as mulheres começaram a conquistar espaço com a criação das
não é
Gostar de futebol, ou balé, ou os dois, não
- e a popularidade feminina no balé cresceu
torna ninguém mais ou menos homem, é
nova técnica levou as mulheres a ganharem mais fama que os homens. Assim, com o tempo, a palavra
balé passou a remeter à
imagem da bailarina na ponta dos pés. A dança com a sapatilha é apenas uma das técnicas do balé. No espetáculo, homens e
Imagens
de
bailarinas
para
decorar
o
quartinho, roupinhas com tutu. Nas escolinhas, a atividade oferecida às meninas não poderia ser outra: balé.
Essa arte tão associada ao
universo feminino, historicamente, contou com a presença masculina em sua criação e consolidação, entre os século XVI e XVIII. De acordo com o livro História da Dança, de Eliana Caminada, foi em Paris, no ano de 1581 que surgiu o primeiro registro de um espetáculo de balé, intitulado Le Ballet Comique de la Rainé (O balé cômico da Rainha), a apresentação foi idealizada, coreografada, musicada e dançada exclusivamente por homens. Dado o passar dos anos, a dança foi se aperfeiçoando e popularizando, fato que não teria acontecido sem a intervenção, novamente masculina, do rei Luís XIV (1643-1715), na França. Luís XIV, ao que consta, apaixonou-se pela arte e, além de estrelar vários balés, foi o responsável pela criação da primeira escola destinada a esta arte, a Académie Royale de Danse (Academia Real de Dança), em 1661. Com a criação da escola, terminologias foram criadas e foi o professor Pierre Beauchamp quem criou as cinco posições de braços e pernas usadas, até hoje, na execução da dança.
Escolas
mulheres desempenham papéis igualmente importantes,
porém,
ficou
enraizado
na
sociedade, segundo Eliana Caminada, a ideia de que “balé é coisa de menina”, restrição esta que surge de um imaginário pouco fundamentado e, historicamente, controverso. Dado o passar dos anos, o machismo passou a exercer influência no fazer artístico. Esta perspectiva além de reduzir e, até mesmo, prejudicar a arte, instaurou o preconceito com os bailarinos. Professora de Balé Clássico, há 10 anos, Isabela Mendes, 29, presencia os danos causados pelo preconceito, diariamente, em sala de aula. “As meninas querem dançar um pas-de-deux (dança em casal), e nem sempre você tem um rapaz para dançar. Essa balé, entram só maiores, principalmente, porque há o desejo neles, porém o pai ou a mãe cortam [o desejo].”, explica.
Superação Ao contrário da animação da família em ver a filha iniciando no balé, quando o interesse surge em meninos, a história se configura de maneira diferente, foi esse o caso do bailarino, coreógrafo e diretor do Intrínseco Coletivo de Criação Ítalo Augusto, 22. “Quando comecei, a reação das pessoas próximas a mim era de preconceito, ignorância e não aceitação. Tive que fugir de casa, inúmeras
esta arte, o Ballet Ópera de Paris, foi fundada em
vezes, para poder dançar. Já fui tirado a força
1669, pelo bailarino Jean-Baptist Lully e existe
do palco por extremo machismo”, recorda.
de balé do mundo, a renomada Vaganova.
necessário aprender a identificar o que os une, e não o que os separa, defende o bailarino Ítalo Augusto. “Dançar, trabalhar com o corpo, não define orientação sexual, só te torna mais íntimo de si. O que todos deveriam fazer é conhecer as inúmeras possibilidades corporais que a dança proporciona, antes de julgar.”. *Fontes: CAMINADA, Eliana. História da dança. São Paulo: Editora, 1999.
“Dançar, trabalhar com o corpo, não
define orientação sexual, só te torna
mais íntimo de si” ÍTALO AUGUSTO
é outra questão, os meninos que entram no
A primeira companhia profissional dedicada a
até hoje. Lully também criou a segunda escola
esclarece o bailarino Guilherme Godoy, 20.
sapatilhas de ponta - de uso exclusivo delas consideravelmente. O aperfeiçoamento desta
“coisa de menina”
em relação a escolhas voltadas para o Balé.”,
A situação alcança, ainda, níveis mais graves, quando o preconceito é tão recorrente, que
Até a metade do século XVIII, o balé não era
passa a ser natural esquivar-se dele. “Eu tinha
visto como uma arte, potencialmente, forte.
vergonha de assumir para as pessoas, falava
“Eu tinha
vergonha de
assumir para as pessoas, falava que estava fazendo dança de rua, dança de salão, jazz” RODRIGO JAUAR
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Eu clamo a São Francisco esperando uma resposta. Uma que resolva ou equacione a falta que apavora. Apavora as divisas e desacelera as vontades de ir e voltar; de sentir e tocar. De beber.
faço da sombra uma utopia. Dela, uma verdade. Verdade que repito.
Levanto e percebo que nada mudou. Os gatos continuam sua caçada que, no final, termina no próprio rabo. A garota permanece Em meio às preces diárias enxergo, apoiada na parede de tijolos e, de joelhos, os caminhos que se como eu, espera. “Matar o tempo formam por debaixo. São linhas, antes que o tempo te mate.”. teias? Não sei. Com os olhos entreabertos aguardo um sopro que venha molhado. As mãos unidas pedem para nem sei mais quem e os pés, descalços, andam me fazendo acreditar ser maior que tudo isso. Posiciono o chapéu sobre a cabeça e
Oh, tempo, fique parado, por um instante, e deixe que a morte venha, se aproxime e leve com ela a falta; a desesperança; o vão; o nada; a sede. É o que lhe peço. Amém.
GABRIEL PEIXOTO