Jornal Contramão 39

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contramão Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo Multimídia - Ano 11 Centro Universitário UNA - Campus Liberdade Belo Horizonte - Outubro de 2018

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Reitor: Prof. Ricardo Cançado Gonçalves de Souza Diretor dos Campi Liberdade e Guajajaras: Prof. Guilherme Guerra Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Márcia Maria Cruz (MG06027JP) Coordenação: Alexandre Milagres Téc. de Laboratório: Felipe Bueno Revisores: Prof. Aurélio José da Silva Felipe Bueno Prof. Márcia Maria da Cruz Prof. Piedra Magnani da Cunha Prof. Roberto Alves Reis Estágiarios: Guilherme Jardim, Kariny Santos, Marcelo Duarte, Moisés Martins, Patrick Ferreira, Rebeca Francoff e Thamires Nunes. Diagramação: Alexandre Milagres e Thamires Nunes Tiragem: 1.000 exemplares Impressão: Gráfica O Lutador

NESTA EDIÇÃO

3 .CRÔNICA: VIDA MINHA, ME ENSINE O DESVIO 4 .LUZES NA ESCURIDÃO 6 .REPRESENTATIVIDADE IMPORTA, SIM! 8 .ENSAIO: ELAS, SIM! 10.REFORMAR OS PARTIDOS PARA OXIGENAR A POLÍTICA 12.A INDÚSTRIA DA NOTÍCIA 14.30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO, DIREITOS E DESAFIOS

Foto de capa: Guilherme Jardim, no protesto Mulheres Contra Bolsonaro (veja mais na página 8)

CRÔNICA

Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimidia do Centro universitario UNA

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Vida minha, me ensine o desvio Crônica sobre o filme Mar de rosas, da cineasta Ana Carolina Teixeira Soares

Por Rebeca Francoff Aluna do curso de Cinema e Audiovisual

Após o golpe militar no Brasil, o cinema brasileiro foi inundado por personagens que caminham sem esperança rumo ao desconhecido. Em Mar de rosas (1977), a cineasta Ana Carolina constrói Felicidade e Betinha, mãe e filha, que, juntas, são empurradas para percursos estranhos e desorientam-se. As protagonistas, apesar de sofrerem restrições externas, criam novos caminhos a cada passo. A energia emanada das atrizes em cena é tão grande que parecem ter força potencial para construir a estrada por qual perpassam. As travessias, sejam por meio dos deslocamentos geográficos, ou através de transformações das personagens, são vazadas na tela através de experimentações no espaço. Essas transições são atravessadas pela dialética entre humor e dor, esperança e incredulidade. A caminhada é tão importante quanto a chegada. A viagem, aqui, é metáfora da vida. Abstração e utopia. Luzes se movimentam na escuridão da noite. Cintilâncias entram e saem do quadro, agitadas em intervalos de tempo curtos. Assim como os vagalumes de DidiHuberman, que persistem brilhando na poluição urbana, num breu similar ao dos fins dos túneis, o primeiro plano nos traz a esperança e o direcionamento de um futuro melhor. Conhecer os filmes da Ana Carolina é isso: ver um gafanhoto verde na cidade grande e admirá-lo. Sorte! Não por acaso, o filme acaba com Betinha, interpretada por Cristina Pereira, quebrando os limites da quarta parede, “dando banana” para a câmera, se libertando dos espectadores e de todo o sistema político ditatorial vivido à época. Ela embarca no trem, atira sua mãe para fora dele e segue sozinha. Desloca-se em um extenso trilho que ultrapassa e quebra as dimensões do quadro. São infinitas as possibilidades do extracampo e do destino da personagem. Há incertezas, mas também esperanças sobre o futuro de Betinha. O longa-metragem acaba em movimento, assim como começou: entre luz e sombra, confusão e ordem, discórdia e harmonia, e avança em direção à lei da impermanência. Tudo está em movimento e nada é igual ao momento anterior. Betinha é uma personagem antagônica. Demonstra ter forte opinião de ideias contra as correntes impostas pelas convenções sociais vivenciadas na obra. Irreverente e lúcida, tensiona as relações de poder e os limites narrativos. Insiste na livre manifestação de suas opiniões e no direito de ir e vir. Além disso, Betinha tem um bizarro passatempo: experimenta mirabolantes torturas com sua mãe, Felicidade, interpretada por Norma Bengell, que ironicamente não é feliz do início ao fim da história. Felicidade apresenta-se no enredo como uma mulher cansada. Presa em um casamento sobrecarregado e marcado pela tensa iminência de um divórcio repleto de mágoas, amarguras e insatisfações. Felicidade e o marido, Sérgio, interpretado por Hugo Carvana, discutem enquanto viajam os três, em família (mãe, pai e filha) no carro. As discussões pela estrada demonstram estresses e rancores somatizados por anos de convivência abusiva, até culminar em transgressão quando Felicidade transborda e tenta assassinar Sérgio. Esgotamento. Fúria. Rompimento. Coragem. Por fim, foge Felicidade com Betinha. A representação da liberdade está intimamente interligada com a morte. Curiosamente, na mesma época em que foi lançado o filme, em 1977, a lei do divórcio foi promulgada pelo presidente

Geisel. Mesmo com a aprovação da lei, Ana Carolina, sempre atenta ao seu tempo, reflete sobre os desafios da separação para as mulheres. A partir da fuga, as personagens caem em outro aprisionamento. As pulsões desenroladas na narrativa são limitadas. A personagem interpretada por Norma Bengell sofre tormentos e, vez ou outra, projeta seus aprisionamentos e sua infelicidade na filha. Felicidade busca emancipação escassa e se vê amarrada nas lembranças tristes do casamento. Na trama, ela pensa ter assassinado o marido. E os espectadores são conduzidos a pensar o mesmo. Felicidade se vê, então, aprisionada pela perseguição incansável da figura fantasmagórica, repressiva e misteriosa, denominado Barde (Otávio Augusto), que de acordo com o personagem Dr. Dirceu (Ary Fontoura) significa viajante (esse fato me fez lembrar do personagem Rafael em O viajante (1999), de Paulo César Saraceni, que de passagem em uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, deixa rastros de caos, desordem e desperta maldade de forma surreal assim como o Barde em Mar de rosas). O primeiro contato com o Barde é praticamente suspense “hitchcockiano’’. Felicidade, após supostamente matar o marido, dirige ansiosamente o carro na estrada. Eloquente, Betinha nota a perseguição de outro veículo e reconhece já ter visto o motorista, Barde, do carro no escritório de seu pai. Depois disso, o falecimento de Sérgio é colocado em dúvida pelos espectadores. Porém, sem ter tempo para entendimentos, Felicidade, atormentada, é levada pela correnteza dos acontecimentos e pressões. A culpa perturba os quadros. O castigo e o esgotamento constantemente marcam o seu trajeto através da filha, do Barde e de autopenitências: a protagonista é furada com alfinete, incendiada e quase soterrada com areia por sua filha. Felicidade é também atropelada por um ônibus. Sofre torturas psicológicas. É estuprada por Barde. Há também momento autopunitivo como na cena em que ela se joga de joelhos e estilhaça no chão juntamente com os cacos do copo que deixou cair e quebrar. Somente mais tarde, durante uma tentativa de fuga, Felicidade descobre que o marido estava vivo e o Barde foi enviado por ele. O longa-metragem é marcado por variações entre momentos de transbordamentos, trovas e rimas. Longos diálogos, atuações dramáticas e teatralidades. Crises, conversas confusas, rupturas, subversões, encontros e partidas. Falta de pudor e hipocrisia. Perturbações cotidianas e surrealistas. Acontecem tantas coisas no campo e no extracampo que o filme chega a ultrapassar as dimensões físicas. O extracampo difunde-se e repele-se. Os elementos visuais em cena competem pela atenção dos espectadores. Destaca-se também o desejo de anarquia, luta e denúncia como contraproposta ao contexto político ditatorial da época. Os personagens são torturados, se veem oprimidos, contidos, à beira de uma enorme explosão e de escapismos. Em Mar de rosas existem momentos nos quais risadas nervosas acontecem em situações tensas. Seus personagens por vezes são brincalhões. Lidam de maneira infantil no cenário obscuro ditatorial. Zombam dessa repressão de forma provocativa. A proibição e a liberdade vivem em extremos. Corpos vigiados que gritam por emancipação.


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ENTREVISTA

ANA CAROLINA

JC: Ana Carolina, você acredita em qual tipo de cinema? AC: Querida, eu sempre acreditei somente em bons filmes! JC: A trilogia Mar de Rosas, Das Tripas Coração e Sonho de Valsa são produções cinematográficas precursoras de uma linguagem bastante particular. Filmes extraordinários. Você poderia partilhar conosco algumas de suas influências?

Luzes na escuridão

Em entrevista exclusiva ao jornal Contramão, a diretora Ana Carolina Teixeira Soares revela o nome do seu novo projeto e rememora sua trajetória no cinema Por Rebeca Francoff Aluna do curso de Cinema e Audiovisual

“Vão à luta!”. Esse foi o conselho da diretora Ana Carolina Teixeira Soares para jovens realizadores de cinema no Brasil no atual período político e cultural do país. Nascida em 1945, em São Paulo, Ana Carolina, independentemente do momento, revela ao longo da carreira ser uma artista, por excelência, resistente e irreverente. As suas obras destacam-se pela coragem, personalidade e escolhas cinematográficas inventivas. Em entrevista ao jornal Contramão, a cineasta Ana Carolina expõe, com fluidez, o que pensa sobre política, influências, possibilidades cinematográficas e reflexões acerca da trilogia Mar de Rosas, Das Tripas

Coração e Sonho de Valsa. Na conversa, a diretora também revela o nome do próximo projeto: Paixões Recorrentes no Atlântico Sul. Realizadora cinematográfica há mais de quatro décadas, a produção de Ana Carolina reúne obras emblemáticas como Lavra-dor (1968), Getúlio Vargas (1974), Mar de Rosas (1977), Das Tripas Coração (1982), Sonho de Valsa (1987), Amélia (2000), Gregório de Mattos (2003), A primeira Missa ou Tristes Tropeços, Enganos e Urucum (2013). Ana Carolina Teixeira Soares também dirigiu óperas, escreveu peças de teatro e livros.

JC: O som cumpre papel valoroso em seus filmes. Gostaríamos de saber sobre a escolha da potência confusa dos diálogos e músicas cantadas pelas personagens. Como, por exemplo, na cena em que Felicidade canta em inglês no carro ou nas cantigas entoadas pelas estudantes em Das Tripas Coração. O que pretendeu atingir com esses trabalhos sonoros? Além disso, como o piano é visto em Das Tripas Coração?

AC: Confesso que em toda a trilogia, a narrativa desses filmes se apresentou, para mim, iminentemente pessoal, ou seja, fui realizando a tarefa de filmar apenas sentindo o que ocorria em cena. Eu não estava raciocinando, eu estava sentindo. No entanto, tenho consciência que, já naquela época, carregava paixões intelectuais e cinematográficas tais como Eisenstein, Resnais, Truffaut, Buñuel, Monteiro Lobato, Glauber Rocha, Gilberto Freyre, Gregório de Mattos e Nelson Pereira dos Santos.

AC: Sempre dediquei muito cuidado e muito trabalho na dramaturgia sonora dos meus filmes, conhecendo bem a grande importância do Som em matizar melhor as diversas nuances dos sentimentos presentes em cada cena. O piano é um personagem! Na verdade o piano é o estorvo social que nos oprime!

JC: No movimento Cinema Novo, artistas tiveram a esperança revolucionária de lutar pela transformação política através da cultura. No decorrer dos anos, o movimento sofreu mudanças com a ditadura. O filme Mar de Rosas foi feito neste período de transição e é marcado pela dialética entre humor e dor, esperança e incredulidade. Como foi fazer filmes na ditadura? Quais as barreiras e os impulsionamentos na época?

AC: O filme se passa dentro de um colégio interno, onde as alunas adolescentes demonstram, claramente, aos gritos, e desobediências incessantes, a força do poder repressor. Ora, não é o personagem do interventor, o homem que adormece e sonha que detém o poder destruidor? Você ainda não acredita que o sonho de poder é dos homens e das mulheres?

AC: Por incrível que possa parecer... é exatamente igual a hoje. A dificuldade não estava no percurso de produção, a interdição crucial ocorria na exibição. A interdição era política. Hoje é mercadológica. À isso se dá o nome de incoerência histórica. JC: Em Mar de Rosas, a mãe Felicidade, não é nem um pouco feliz. Ser mãe pode ser um desafio difícil. Como você enxerga a relação mãe e filha construída no filme? AC: Não posso partir do princípio que todo mundo tenha lido Freud, ou tenha experiência psicanalítica, mas o que importa é estarmos atentos a todas as características humanas, cruéis, exasperadas e irracionais, que se apresentam nas relações de poder. JC: Todos os seus atores ganham uma proporção enorme na tela. No filme Das Tripas Coração é quase difícil falar quais são os personagens principais. Em Mar de Rosas, a personagem representada por Norma Bengell chama muita atenção. Não conseguimos imaginar o papel sendo representado por outra pessoa. Quais foram os seus critérios para a direção de atores e a escolha dessa atriz? AC: Nenhuma escolha importante na vida obedece a critérios objetivos. As melhores e mais importantes são feitas pelo coração. Brecht e o Teatro do Absurdo sempre ajudam! JC: O ator Antônio Fagundes é também alguém bastante marcante e enigmático em Das tripas Coração. Quais foram as motivações para a escolha dele como o interventor sob a ótica do sonho para retratar os desejos recalcados das personagens? AC: O Fagundes é um grande amigo e um grande ator! É um ator consciente e colaborativo! E nós sabemos que, em determinada etapa da nossa vida, tentamos nos “enquadrar” nos sonhos masculinos.

JC: Em Das Tripas Coração, a repressão e a liberdade, a felicidade e a tristeza vivem em extremos no espaço escolar. Poderia discorrer um pouco sobre as instâncias de poder e esses corpos vigiados que gritam por liberdade?

JC: Qual a sua opinião sobre as produções cinematográficas brasileiras de hoje? Há realizações que lhe interessam? AC: Citando Paulo Emílio, “O pior filme brasileiro sempre será melhor do que o melhor filme estrangeiro”! Não tenho acompanhado a produção cinematográfica brasileira atual, mas posso lhe dizer que gostei muito dos últimos filmes brasileiros que assisti. JC: Enfrentamos panorama sombrio para as políticas culturais neste momento do país. De que maneira você acha que isso pode influenciar o cinema brasileiro? Há algum conselho para jovens homens e mulheres que queiram se tornar realizadores de cinema? AC: Qualquer panorama político e cultural vivido por uma nação, sombrio ou não, influencia a criação artística. Seja ela qual for. Os verdadeiros criadores são antenas a serviço do bem-estar da sociedade contemporânea. Você deve saber que os conselhos existem para não serem seguidos, mas sempre é de bom alvitre pelo menos escutá-los! Portanto, vão à luta! JC: Como você tem acompanhado o contexto político atual, caracterizado por uma onda conservadora crescente? Você acredita numa possível repetição do passado? AC: A história não se repete! Se ocorrer, não terá esse nome, não será aquela que já vivemos. Temos que estar atentos para descobrir como reagir. Acredito que viveremos uma atmosfera que favorecerá o recolhimento. Vamos trabalhar em silêncio por algumas conquistas que julgávamos imprescindíveis. JC: Você fez filmes críticos sobre ditadura militar e viveu esse período. Vale lembrar que vivemos um momento em que várias pessoas querem uma intervenção militar. Como você encara isso? AC: Querer não é poder! Temos que aprender a viver, no fácil e no difícil, para cumprir aquilo que temos de fazer. E aí, fazendo, fazendo, está feito!


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REPRESENTATIVIDADE IMPORTA, SIM!

Áurea Carolina

No Brasil, a representação política das mulheres saltou de 10% para 15%; popularidade baixa vem carregada de estigmas de décadas Por Marcelo Duarte

Aluno do curso de Jornalismo Multímidia

Há exatos 33 anos, o Brasil passou por um processo de redemocratização, e, mesmo depois de tantos anos e mudanças, as mulheres ainda não ocupam cargos políticos com a proporção devida. Elas representam aproximadamente 52% da população do país, mais da metade, mas a sua participação na política não chega a 10%, de acordo com os dados compilados pela União Interparlamentar, que têm como base as informações fornecidas pelos parlamentos nacionais, até o dia 1º de setembro de 2018. Nas eleições recentes, o percentual da participação da mulher na política aumentou, mesmo com a dificuldade que encontraram dentro do partido para terem suas campanhas financiadas. Segundo levantamento feito pela Campanha Libertas, que tinha como intuito dar visibilidade às candidaturas das mulheres, quase metade das candidatas mineiras não foi contemplada com recursos de seus partidos para realização de suas campanhas. O balanço feito mostra que apenas 53% delas receberam verbas dos diretórios estaduais ou nacionais das siglas. No 1º turno das eleições 2018, que ocorreram no dia 7 de outubro, foram eleitas 77 deputadas federais, contra 51 em 2014. No Senado, que neste pleito tinha duas vagas por federação, foram eleitas sete senadoras, como em 2010. Junto às mulheres da bancada atual, que ocupam a vaga até 2020, foram eleitas sete senadoras, o que representa um total de 12 cadeiras num universo de 81. Ainda de acordo com balanço feito pela Campanha Libertas, com base nos dados das últimas eleições para o legislativo, as mulheres finalmente alcançarão 15% de representação no

Foto: Lucas Ávila Congresso Nacional, a partir do dia 1º de janeiro de 2019. O número representa um aumento de cinco pontos percentuais. Ainda que seja um avanço, uma conquista histórica, as mulheres enfrentam muitos desafios na construção da representatividade política. A mineira Áurea Carolina é um contraponto a este cenário já desenhado e cheio de vícios. Nas últimas eleições municipais, em 2016, foi eleita vereadora de Belo Horizonte, a mais votada naquele pleito. Depois de ter conquistado uma votação expressiva para a Câmara de Vereadores da capital mineira, lançou-se como candidata a deputada federal, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), por Minas Gerais. Foi a 5ª mais votada, conquistando mais de 162 mil votos, e irá representar, entre outras bandeiras, a das mulheres, na Câmera dos Deputados, a partir de janeiro de 2019. Para Áurea, na política ou em qualquer outro campo profissional, as mulheres ainda enfrentam desafios para serem reconhecidas. “Nós mulheres enfrentamos problemas históricos seríssimos de não reconhecimento da nossa plenitude como pessoas capazes, que devem ser respeitadas e que devem estar em condição de igualdade com os homens. Isso é refletido nas mais diversas áreas, na saúde, na educação, no mundo do trabalho, na política. Muitas vezes, reproduzimos esse tipo de política, essa que nos obriga a falar mais alto para sermos ouvidas, que nos obriga a sermos duras para estarmos em pé de igualdade, mas aos poucos vamos mostrando outra forma de fazer política, a política do afeto e da convivência coletiva”, expõe Áurea Carolina. Na corrida para a eleição 2018, a candidatura de mulheres para os cargos de deputados (as) estaduais e federais representaram 30%. Para o senado, governo de estado e presidência da república, o número foi ainda menor. Apenas 16% das candidaturas eram femininas. Ainda de acordo com Áurea Carolina, a baixa proporção de mulheres nas esferas de poder institucional é uma consequência do sistema patriarcal, que produz a exclusão sistemática de mulheres das instituições políticas. “A questão se acentua quando falamos sobre mulheres negras. Nós somos sub-representadas nos espaços da política institucional: atualmente na Câmara dos Deputados, por exemplo, somos menos de 1% na Câmara dos Deputados. Essa é uma confirmação de como o nosso país é racista e machista”, pontua.

Histórico precisa ser mudado Nos cargos municipais, nas eleições de Belo Horizonte em 2000, apenas quatro mulheres foram eleitas. Já nas eleições de 2016, mais de uma década e meia depois, o número de mulheres eleitas foi o mesmo, estagnado em quatro. Para a vereadora de Belo Horizonte, pelo PSOL, Cida Falabella, o machismo e a misoginia são estruturantes de uma Câmara Municipal. “O contrário é que é quase impossível ter alguma facilidade por ser mulher. A forma de organização do espaço, a disputa pelo microfone, o silenciamento dos colegas, tudo está muito ligado a esse universo macho, que não é nem machista, é macho mesmo, esse universo da virilidade, do que é ser homem, do que é ser um ho-mem na política. Em contraponto, a relação com as outras mulheres, embora de campos políticos opostos ao nossos, é sempre uma relação de muito respeito, colaboração e escuta. Toda vez que nós estamos juntas os homens chegam e perguntam ‘o que é que o clube da luluzinha tá fazendo?’ sendo que eles estão sempre agrupados e a gente nunca pergunta ‘e aí, como está o clube do bolinha?’. A gente tenta construir algo muito diferente disso e, para isso, temos que mostrar o tempo inteiro que somos pelo menos duas vezes mais capazes que um homem”, explana. Em 2018, em todos os partidos, as mulheres são minoria, inclusive no Partido da Mulher Brasileira, o PMB. Essas dificuldades no Legislativos e Executivos são ainda maiores, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, entre 77 cadeiras, apenas seis são ocupadas por mulheres. “É muito importante incentivar as mulheres a ocupar os espaços políticas institucionais e apoiar essa escolha cotidianamente. Acredito que a população brasileira também tem enxergado isso e percebido que as mulheres têm a mesma capacidade que os homens para ocupar os espaços de poder que, por centenas de anos, foram um espaço exclusivamente

masculino”, comenta Áurea Carolina. Durante o período que compreende o primeiro mandato da ex-Presidenta Dilma Rousseff, entre 2010 e 2014, houve um aumento de aproximadamente 13% no número de mulheres se candidatando. Em 2016, após seu impeachment, esse número voltou a cair. Áurea Carolina acredita que a deposição de Dilma, um golpe em sua opinião, produziu no imaginário que as mulheres não têm capacidade de estar na política ou de fazer um bom trabalho como agentes públicas. “Com o golpe, criou-se uma associação de que a Dilma foi uma presidenta incompetente, incapaz e corrupta. Esse pensamento está presente no senso comum, mas estamos confrontando isso nestas eleições e intensificando as campanhas para que mais mulheres estejam nesta empreitada. É necessário que as mulheres ocupem os espaços de poder, pois é justamente por conta dessa violência machista que a presidenta Dilma foi atacada. Têm surgido muitas iniciativas nesse sentido, com a candidatura de mulheres, negras, indígenas, quilombolas, lésbicas, bissexuais e transexuais para a política institucional”, exemplifica Áurea Carolina. A pauta sobre representatividade feminina abre espaço também para pensar em outros grupos de minorias que não se sentem representadas politicamente. A sigla LGBT, por exemplo, vem tentando romper essa barreira e construir uma representação nas diversas esferas da política.

Quebrando Barreiras As eleições de 2018 vêm quebrando vários tabus. O número de pessoas transexuais candidatas para cargos políticos multiplicou dez vezes em relação à última eleição, em 2014. Só neste ano, foram 55 candidaturas, aponta lista divulgada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). A secretária de articulação política da Associação Nacional de Transsexuais

Outubro/ 2018 7 (ANTRA) e membro da diretoria da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Bruna Benevides, destaca o ineditismo e a necessidade de pessoas transexuais ocuparem os espaços institucionais da política. “A importância de ter pessoas trans e travestis nos lugares de poder é, principalmente, para que possamos ocupar lugares que antes não eram possíveis. Para nossa população e para pontuar as demandas e as políticas públicas necessárias para o resgate da cidadania e pensando em questões de representatividade, legitimidade e pertencimento, que quem vive com essas situações pode de alguma forma refletir de ações e medidas para o combate dessas violências e violações”, argumenta. O partido que mais contém candidaturas de pessoas transexuais e travestis é o PSOL, com cinco representantes em 12 estados; seguido por PT e PCdoB com cinco candidaturas em quatro estados cada; e PMB, com quatro candidatas em três estados. As eleições 2018 trouxeram duas candidaturas a deputada distrital pelo Distrito Federal; 17 a deputada federal; e 32 a deputada estadual, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Erica Malunguinho da Silva, mulher, negra, natural de Pernambuco, foi a 1ª transexual eleita deputada estadual em São Paulo. No total, três deputadas estaduais trans foram eleitas, todas do PSOL. A professora de literatura Duda Salabert, primeira candidata travesti ao senado, fala sobre a importância de termos grupos, que são dados como minorias, conquistando alguns cargos na política. “Historicamente, o senado é ocupado por senhores mais velhos. A idade mínima para pleitear esse cargo é 35 anos, que a idade de expectativa de vida de uma travesti no Brasil, dando a entender que não é um cargo feito para travestis. E esses 35 anos tem um valor muito simbólico para nós, e mais do que isso, o senado é ocupado por senhores mais velhos que têm o papel simbólico de moralizar a sociedade, e aí entra mais uma questão, o meu corpo, e o corpo das pessoas trans é lido tradicionalmente como imoral, então nós vamos rivalizar um conceito de moral, um conceito de política e um conceito de ética, para propor de fato uma nova forma de construir política e colocar em choque com esse modelo antigo”, defende. Com o efeito da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que garantiu direitos constitucionais ao grupo, os candidatos transgêneros puderam usar o nome social na urna eletrônica e participar da cota feminina dentro dos partidos.

Duda Salabert

foto: Guilherme Jardim

Primeira mulher trans a candidatar-se para o senado, na América Latina.


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ENSAIO

ELAS, SIM!

A representatividade feminina na política é um tema ainda sensível. Se por um lado, há um caminho longo para viabilizar as candidaturas de mulheres a cargos públicos, por outro, elas vêm se organizando em uma frente ampla que luta por mais direitos no mercado de trabalho e na política. As mulheres, além do combate à misoginia, vêm protagonizando discussões importantes acerca das liberdades individuais, e da interseccionalidade, teoria que leva em consideração as identidades sociais e os diferentes tipos de opressão. Em reação às declarações do candidato à presidência da república, Jair Bolsonaro (PSL), mulheres lançaram o manifesto #EleNão nas redes sociais. Por meio do Instagram, a cantora Madonna expôs publicamente seu apoio ao movimento. A adesão da atriz canadense Ellen Page à campanha foi celebrada, dada sua importância dentro do ativismo em defesa dos direitos das mulheres e de LGBTs. O movimento, que também foi acolhido por artistas brasileiras como Patrícia Pillar, Letícia Sabatella e Marília Mendonça, ganhou as ruas de várias cidades do Brasil no dia 29 de setembro de 2018 e mobilizou milhões de pessoas em todo país. Em Belo Horizonte, milhares de mulheres, homens, a comunidade LGBT, os movimentos sociais, entre outros grupos, ocuparam os espaços públicos da cidade em uníssono tom: “retrocesso, não!”. No dia seguinte ao ato #EleNão, apoiadores do candidato Jair Bolsonaro também saíram às ruas. Nas redes sociais houve movimentação de mulheres que apoiam o candidato do PSL, Mulheres com Bolsonaro. Atrizes como Regina Duarte, defenderam o #EleSim. A atriz global inclusive fez fotos com Bolsonaro. Outras personalidades apoiam Bolsonaro como a jogadora de vôlei Fernanda Venturini.

Foto: Guilherme Jardim

Foto: Guilherme Jardim

Foto: Rebeca Francoff

Foto: Helen Oliveira Foto: Guilherme Jardim

Foto: Guilherme Jardim

Foto de fundo: Rebeca Francoff


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Reformar os partidos para oxigenar a política por Marco Aurélio Faleiro Aluno do curso de Jornalismo Multímidia

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iferentes propostas de reforma política e eleitoral ocupam os debates que buscam soluções para a crise de representatividade no país. O número de partidos políticos ativos no país também é tema recorrente, mas pouco se discute sobre a transparência e a democracia interna dessas organizações, que, só neste ano, administrarão cerca de 2,7 bilhões de reais. O Movimento Transparência Partidária lançou em março deste ano um relatório sobre as informações prestadas pelas 35 legendas ativas no Brasil. O levantamento aponta a insuficiência e imprecisão de informações a respeito da organização e funcionamento dos partidos políticos no Brasil e expõe a falta de transparência das agremiações, que monopolizam importante papel na democracia e recebem vultosas verbas públicas. O Ranking Transparência Partidária não apenas considerou dados de contabilidade, mas também informações sobre dirigentes e filiados, procedimentos para exercício da vida partidária e estrutura de funcionamento. No ano passado, a Justiça Eleitoral implantou o Sistema de Prestações de Contas Anuais (SPCA) para disponibilização online da contabilidade dos partidos políticos, mas a ferramenta, segundo o relatório, ainda não trouxe mudanças efetivas. O resultado revela que a legenda mais bem colocada nesse ranking obteve apenas nota 2,5, numa escala de zero a 10, (ver gráfico).

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A baixa transparência e democracia interna dos partidos brasileiros prejudicam a oxigenação e renovação dos quadros políticos

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Desafios para a renovação

Recursos públicos Os partidos brasileiros hoje se sustentam a partir de dinheiro público. O Movimento Transparência Partidária, organização coordenada pelo cientista político Marcelo Issa, busca colocar em debate e promover a transparência e democracia dentro dessas representações partidárias. “Entendemos que transparência e prestação de contas são a contrapartida mínima que os partidos devem oferecer à sociedade pelo uso de recursos públicos. Os instrumentos que existem hoje para controlar o uso que os partidos dão aos recursos públicos são insuficientes”, defende o manifesto do Movimento Transparência Partidária. O manifesto ressalta que “para mudar a política, é preciso mudar os partidos”. Nesse sentido, o texto do movimento aponta que é preciso fortalecer alguns mecanismos e a participação de vários setores da sociedade. “Consideramos que a Justiça Eleitoral deve ser fortalecida para fiscalizar melhor os partidos, mas acreditamos que devem existir incentivos para que filiados, eleitores, imprensa e sociedade civil organizada participem ativamente desse processo”, advoga o manifesto. O Movimento Transparência Partidária coleta assinaturas para apresentar projeto de lei de iniciativa popular pela reforma partidária. “Nossa proposta valoriza os direitos fundamentais de acesso a informação e participação política, sem comprometer a autonomia dos partidos. Os princípios republicanos expressos na nossa Constituição demandam partidos políticos transparentes e democráticos”, esclarece o manifesto.

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O Brasil tem quase 17 milhões de filiados, mas o baixo percentual de renovação na liderança das legendas não reflete uma vida partidária ativa desses membros. Uma análise da consultoria Pulso Público registrou que 75% da composição das Executivas e Diretórios Nacionais dos partidos é a mesma, em média, há pelo menos dez anos. “Os partidos políticos, presos a estruturas burocráticas, funcionam hoje como meros cartórios, completamente desconectados dos anseios da população brasileira. As legendas partidárias perderam vida orgânica junto à sociedade e hoje são marcadas por pouca coesão programática, baixa renovação de quadros, precária transparência interna e fraca interação com suas bases. Isso é muito ruim para a democracia”, denuncia o cientista político Murilo Medeiros, embaixador do Movimento Politize. O recém-aprovado fundo eleitoral trouxe ainda mais poder aos caciques partidários e mais um entrave à renovação. A legislação não prevê parâmetros na distribuição dos recursos e, levando em consideração as partilhas já feitas nestas eleições, as cinco maiores legendas priorizarão quem já possui mandato eletivo na divisão do fundo de financiamento das eleições. Somado ao fundo partidário, são quase R$2,7 bilhões nas mãos dos dirigentes partidários. Na avaliação de Murilo Medeiros, “é muito importante que haja uma garantia de oxigenação de quadros nas estruturas de comando partidário. Os partidos precisam ser atrativos e, ao mesmo tempo, abertos a novos integrantes. Devem funcionar como verdadeiras incubadoras de formação de lideranças públicas”. A conclusão é que “a recuperação da política brasileira deve passar necessariamente pela reforma dos partidos políticos. Garantir mais transparência, melhor governança na estrutura interna e participação ativa dos filiados nas decisões partidárias, incentivando o engajamento e a renovação de quadros”, indica Medeiros.

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A indústria da notícia Por Amanda Gouvêa, Ana Flávia e Camila Toledo Alunas do curso de Jornalismo Multímidia

Foto: Guilherme Jardim

Diante da disseminação de notícias falsas, as “fake news”, é urgente entender a curadoria pela qual a informação passa antes de ser veiculada. O papel do jornalismo nunca foi tão importante como agora. Essa discussão vem ganhando espaço, uma vez que a mentira vem sobrepondo-se aos fatos. O debate político vem sofrendo com isso, sobretudo no período das eleições. Apenas no primeiro turno das eleições 2018, no Brasil, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Horbach, ordenou a retirada de 35 “fake news” contra o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad. O ministro Sérgio Banhos, também do TSE, determinou ainda, no dia 8 de outubro, que o Facebook derrubasse 33 publicações com conteúdo falso a respeito de Manuela D’Ávila, candidata a vice-presidente, na chapa de Haddad. Em geral, as “fake news” apresentam os fatos de maneira distorcida e descontextualizada, ou mesmo são originárias de uma mentira completa, veiculadas em forma de montagens grosseiras. A proliferação da mentira não é algo propriamente novo, mas ganhou força com a internet. Por meio do Facebook e Twitter, o Presidente eleito nos Estado Unidos, Donald Trump, fez uma campanha desleal, ao usar as “fake news” como arma, contra a sua opositora Hillary Clinton. O Cientista Político Rudá Ricci aponta estudo que evidencia a influência das notícias falsas na política. “Estima-se que 27,4% dos americanos com 18 anos ou mais acessaram artigos de fake news em sites pró Trump ou pró Clinton durante o período estudado, que abrange as semanas finais da campanha eleitoral de 2016. Enquanto a proporção pode parecer pequena, 27% da população votante dos Estados Unidos é mais de 65 milhões de pessoas”, esclarece.

Jornalismo x fake news Agência Lupa

Fato ou Fake

A Lupa é a primeira agência de notícias do Brasil a se especializar na técnica jornalística mundialmente conhecida como fact-checking, que consiste em checar o grau de verdade das informações e qualificar o debate público. Desde novembro de 2015, a equipe acompanha o noticiário diário de política, economia, cidade, cultura, educação, saúde e relações internacionais para corrigir informações imprecisas e divulgar dados corretos. O resultado desse trabalho é vendido a outros veículos de comunicação e também publicado no próprio site da agência. A Lupa integra a International Fact-Checking Network (IFCN), rede mundial de checadores reunidos em torno do Poynter Institute, nos Estados Unidos, e segue à risca o código de conduta e princípios éticos do grupo. Por este motivo, foi convidada a representar o Brasil em eventos de alcance global como maratonas de checagem da Cúpula do G-20 e debates da eleição presidencial americana de 2016.

A plataforma multimídia G1 lançou em julho do ano passado, o Fato ou Fake, serviço de checagem de conteúdos suspeitos. A iniciativa vem identificando mensagens e conteúdos que geram, ao público, incerteza e desconfiança. O intuito é contrapor as informações e esclarecer o que é real e o que é falso. A apuração tem sido conduzida em conjunto por jornalistas do portal G1, O Globo, Extra, Época, Valor, CBN, GloboNews e TV Globo. Facebook e Fake News O Facebook anunciou, em 16 de outubro de 2018, que diminuirá o alcance de postagens que tenham endereços de sites considerados de “baixa qualidade”, conhecidos por replicar conteúdos de outras fontes sem creditá-las corretamente. Essa medida foi tomada para combater o avanço de “fake news” no Facebook.

Como descobrir a veracidade de uma notícia Não é difícil descobrir se uma notícia é falsa. É necessário considerar alguns fatores antes de passá-la adiante: Faça uma pesquisa no Google com o assunto da notícia recebida. Caso não exista nada sobre o assunto ou se somente estes assuntos são encontrados em veículos e blogs pouco conhecidos, desconfie, as chances de ser mais uma notícia falsa é grande.

FONTES: ?????????

Não leia somente o título da reportagem. Antes de enviar, você precisa saber o que está sendo compartilhado. Isso vale para todas as matérias e não só para as que você acha que possam ser falsas, verifique a fonte e, aí sim, compartilhe.

Use o senso crítico. Análise se aquela imagem ou matéria recebida faz sentido ou se é oportunista. Áudios e vídeos podem ser facilmente editados e retirados do contexto. Procure gravações originais e confira as circunstâncias;

Verifique as datas das publicações. Geralmente são compartilhadas matérias antigas onde as informações serão usadas de má fé. Certifique-se se o assunto é atual e pertinente.


Outubro/ 2018 15

14 contramao.una.br

A Constituição brasileira completa 30 anos e revela desafios que a sociedade ainda precisa transpor em direção à igualdade de oportunidades e efetivação de direitos

A

sociedade brasileira anseia por mudanças. Cada um, com suas convicções, grava um vídeo, por meio de um celular, e diz o que espera para o futuro do país. Quando não havia meios de comunicação tão dinâmicos como hoje, mais precisamente em 1986 e 1987, os cidadãos foram consultados sobre a elaboração da Constituição Federal, que completa 30 anos em 2018. O Contramão acessou o acervo da Câmara dos Deputados onde estão arquivadas 72 mil cartas enviadas por eleitores de todo Brasil. Após a distensão política, que deu fim ao regime militar, era preciso imprimir à política brasileira aspecto mais moderno, que assinalasse uma ruptura definitiva com o passado antidemocrático, através de uma Carta Magna. Em 1986, foram disponibilizados, nas agências dos Correios, formulários para que a população pudesse expressar a opinião sobre a criação de novo projeto de nação. As correspondências, na ocasião, foram enviadas ao Senado, em Brasília, com propostas para a elaboração da Constituição. Mesmo depois de três décadas, a Constituição permanece atual e sinaliza os desafios que as diferentes esferas políticas têm de enfrentar para que direitos da população sejam assegurados. No entanto, muitas discussões geradas em torno da Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, ainda estão latentes na sociedade. O apelo da moradora da cidade de Pirapora, em Minas Gerais, Helena Ferreira dos Santos, enviado por meio de uma carta ao Senado, é de que as empregadas domésticas passassem ter seus direitos garantidos como qualquer outro trabalhador:

30 anos da Constituição, direitos e desafios Por Patrick Ferreira

“Sugiro que nesta Constituinte vigore uma Lei que estabeleça benefício às mulheres Domésticas, pois as mesmas trabalham a vida inteira e não recebem nenhum benefício, morrem desamparadas. Sugiro que os Direitos Humanos sejam ressuscitados nesta Constituinte”.

Aluno do curso de Jornalismo Multímidia

Foto: Fernando Bizerra

Ulysses Guimarães ergue a Constituição que relatou, promulgada em 5 de outubro de 1988

Na Foto: Ulysses Guimarães declara promulgada a Constituição de 1988

O pedido de Helena foi atendido 25 anos depois da reinvindicação, em 2013, com a Emenda Constitucional 72, mais conhecida como a PEC das Domésticas (PEC 66/2012), que regulamenta o trabalho doméstico com oito horas diárias, 44 horas semanais de

jornada e com direito a hora extra. Os direitos previdenciários são queixas recorrentes dos eleitores, como pontuou, em correspondência José Siqueira Sobrinho, de Taciba, São Paulo. Ele defendeu que a aposentadoria fosse facilitada para o contribuinte.

haja muitos desafios nesse sentido, a camada de menos favorecidos ascendeu por meio dos programas de inclusão nas universidades. A corrupção sempre foi assunto debatido pela sociedade. Joaquim Teixeira, de Tabosa, no Ceará, apenas um ano depois do fim da ditadura militar, pediu fiscalização mais rígida “Que a aposentadoria em geral volte a ser para para autoridades políticas e militares. os homens, por tempo de serviço máximo de 30 “Gostaria que houvesse uma fiscalização anos, por idade de 60 anos; para mulheres e rígida e punição às autoridades que desviam os trabalhadores em insalubridade, seja o máximo dinheiros públicos. Que haja uma fiscalização na de 20 anos de trabalho ou de 55 anos de idade. declaração de renda dos prefeitos e familiares – Isto porque atualmente no Brasil, às vezes, o anual. Que os militares sejam punidos pelos seus atestado de óbito chega primeiro do que a carta crimes e não apenas excluídos das corporações, de aposentadoria”. lhes dando possibilidades de continuarem O atual presidente da república, Michel livres, para, mortes, assaltos, estupros, etc. Temer, pretende aprovar ainda no restante Que os delegados e soldados, deem realmente do seu mandato a proposta de reforma segurança ao povo e não batendo nos pobres da Previdência. A idade mínima para a presos, para satisfazerem, seus instintos, aposentadoria de trabalhadores privados confiados na farda que usam. ” passará para 62 anos para mulheres e 65 para Ainda que muitos casos de corrupção, homens. No caso de servidores públicos e envolvendo políticos brasileiros e empresas, categorias especiais como professores, policiais invadam hoje os noticiários, o governo federal e trabalhadores submetidos a ambientes investiu nos últimos anos no fortalecimento e nocivos à saúde, a idade fixada será de 55 para autonomia do Ministério Público (MP) e da mulheres e 60 para homens. Polícia Federal (PF). Assunto que requer atenção, a desigualdade O respeito à diversidade sexual, outro tema de gênero ainda se mostra um desafio em sensível à sociedade brasileira, foi pautado várias áreas, sobretudo no mercado de por um homem identificado apenas como trabalho. Segundo dados do IBGE, de março Cláudio, de São Paulo, que escreveu: de 2018, as mulheres ainda recebem 25% a “Que os homossexuais tenham seus direitos menos que os homens. Em 1986, Jeronyma garantidos, que a nova Constituição apenas Queiroz Ferreira, morada de Serranópolis, em constate um fato e reconheça que nesse país Goiás, defendeu a pauta. existem, não um ou dois, mas sim milhares “Agradeço a oportunidade de poder dar de homossexuais que são discriminados e minhas sugestões: bastaria que houvesse humilhados por mentes conservadoras e igualdade de salários. Por que as mulheres atrasadas, os homossexuais são tão humanos sempre ganham menos que os homens?”. quanto os outros, pagam impostos, e têm que O mineiro de São João Del Rei, Celso Arcanjo ter seus direitos garantidos. Que a Constituinte da Silva, fez um apelo pela democratização do os reconheçam apenas.” ensino superior:

“A minha sugestão é a respeito dos cursos superiores, eu acho que deveriam colocar as coisas nos seus devidos lugares. Um bom exemplo disso são as faculdades federais que, dizem, são para alunos pobres, mas na realidade só entram para uma faculdade federal alunos ricos, pois os pobres não têm condições de estudar o suficiente para enfrentar os vestibulares das faculdades federais. Quem pega na enxada de dia e nos livros de noite não tem condições de enfrentar estes vestibulares. E o que acontece é que fazem o vestibular em escolas particulares onde o preço é muitas vezes superior a um salário mínimo e aí ficam em má situação. ” Alguns projetos do governo federal como o Reuni, programa de apoio a planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e as cotas raciais, promoveram, nos últimos anos, o acesso de milhões de brasileiros ao ensino superior. Ainda que

Desde 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável de casais do mesmo sexo. O mesmo tribunal vem sensibilizandose com os direitos de transexuais e travestis, ao garantir o uso do nome social em documentos, inclusive no título de eleitor. De 2008 para cá, a redesignação sexual é uma realidade no Sistema Único de Saúde. Mesmo com todos esses avanços, o Brasil é ainda o país que mais mata LGBTs no mundo. Em relatório produzido pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), foram registrados 445 homicídios de LGBTs em 2017, 30% a mais que o ano anterior, que teve 343 casos. A constituição brasileira, umas das mais elogiadas do mundo por dar devida atenção aos direitos humanos, foi elaborada com a intenção de promover diálogo com da população com o poder público, além de estabelecer os direitos e deveres de cada cidadão. A carta define os papéis e deveres dos cidadãos, bem como a função do Estado. Contudo, muitos desafios precisam ser transpostos rumo à efetivação destes direitos e promoção da igualdade.


Direito à voz Por Patrick Ferreira Aluno do curso de Jornalismo Multímidia

A

liberdade de imprensa é peça fundamental da democracia em tempos de debates políticos acalorados. O Contramão ouviu o jornalista e coordenador do programa Voz Ativa da Rede Minas, Chico de Paula, que acredita que, seja qual for o cenário depois do segundo turno, a Constituição Federal deve resguardar liberdade de expressão impedindo qualquer censura aos veículos de comunicação. Chico de Paula defende que é oportuno refletir sobre liberdade de imprensa. Ao comandar programa de entrevistas, advoga que os jornalistas devem adotar postura de respeito com os entrevistados. “A liberdade de expressão da imprensa justifica calar os convidados, colocá-los numa parede, impor o pensamento do jornalista sobre o assunto? Impedir a exposição de um pensamento, não é também uma censura?”, questiona. O Voz Ativa se guia por preceitos republicanos. A bancada é composta por jornalistas e

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pessoas que contribuem para o debate dos temas propostos. Chico destaca aspecto negativo do momento político brasileiro. Diante da polarização, foram registradas agressões e até mortes de pessoas que divergem de opiniões: “Quem se vê no direito de impedir a fala e existência de outros, seja por intermédio de uma ação física ou não, esses são os piores censores que podemos ter, e que, de alguma maneira, dão suporte à violência e ao autoritarismo ”, destacou. Ele ainda pondera que a eleição de 2018 ficará marcada pela disseminação de notícias falsas, vindas de pessoas de diferentes espectros ideológicos. Nesse cenário, o leitor assume papel relevante na seleção a informação. “É preciso averiguar, conferir, buscar fontes, para tudo o que lemos, ouvimos, e até mesmo para o que presenciamos. ” Ele defende que o jornalismo exerça os princípios baseados em boa apuração, em confrontamento de informações e na certificação dos fatos.

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