contramão
Jornal Laboratório do Curso de Jormalismo Multimídia - Ano 9 Instituto de Comunicação e Artes - UNA Belo Horizonte - Fevereiro/Março 2017
CONFLITOS, POESIAS, PESSOAS E PERSONAGENS
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Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia do Instituto de Comunicação e Artes, do Centro Universitário UNA. Reitor: Átila Simões Vice-reitora: Débora Guerra Diretor do ICA/UNA: Rafael Luiz Cicarrini Nunes. Coordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Carla Maia Coordenação Jornal Laborátorio: Professor Alexandre Milagres Técnica de Laboratório/Jornalista: Ana Sandim (MTb 18727) Revisores: Ana Sandim, Alexandre Milagres e estágiarios do NuC. Foto de capa:
Bárbara Dutra
Estagiários: Ana Paula Tinoco, Amanda Eduarda, Bruna Dias, Gabriella Germana, Isabela Castro Isadora Morandi, Lais Brina, Lucas D’Ambrosio e Rúbia Cely. Diagramação: Ana Sandim. Tiragem: 2.000 exemplares. Impressão: Sempre Editora. O Jornal CONTRAMÃO é um laborátorio de ensino jornalístico, publicitário e de audiovisual. Mesmo sendo um projeto do curso de Jornalismo Multímidia, o jornal está de portas abertas para a colaboração de alunos e professores do Instituto de Comunicação e Artes, assim como de outros cursos. Este espaço é dedicado aos alunos, aqui eles podem exercitar a prática e divulgar suas produções para o mercado. Participe!
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Foto: Isadora Morandi
20 ANOS DE CINEMA EM TIRADENTES por: Gabriela Germana e Isadora Morandi Entre os dias 20 e 28 de Janeiro ocorreu a 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes, com o tema “Cinema em reação, Cinema em reinvenção”, que abordou a adaptação da sétima arte em meio ao cenário político atual. Além disso, a participação da mulher no mercado audiovisual também teve espaço para discussões durante a Mostra. Como resultado da luta constante de diretoras, atrizes e produtoras para terem voz ativa no meio cinematográfico, 12 dos 34 longas reproduzidos foram dirigidos por mulheres, o que totalizou o percentual de 41% dos selecionados. Ao todo, 108 filmes, dentre eles: 34 longas, dois médias e 72 curtas a disposição do público. As atrizes e diretoras homenageadas deste ano foram Helena Ignez e Leandra Leal, que teve seu filme “Divinas Divas” apresentado na noite de inauguração do Festival, reunindo aproximadamente 800 pessoas no Cine Tenda para prestigiar o longa. Enquanto Helena exibiu seu filme “Ralé” no dia 21, durante a Mostra Homenagem, no Centro Cultural Yves Alves. A atriz Camila Pitanga também marcou presença no evento com o documentário “Pitanga”, sua estreia como cineasta. A obra conta a história de vida e trajetória artística do seu pai, Antônio Pitanga. Dirigido em parceria com o cineasta Beto Brant, o documentário aborda diversas fases da vida do ator, mas tendo como base sua carreira cinematográfica respeitosa. Pitanga é consagrado um dos maiores atores
do cinema brasileiro, tendo participado de filmes de grandes diretores como Glauber Rocha, Anselmo Duarte e Sérgio Rezende. O documentário explora a jornada do ator, onde o mesmo narra os principais acontecimentos de sua vida de forma pessoal. Ele abraça e envolve a câmera como uma velha amiga, talvez pelo fato de sua filha estar por trás dela. Pitanga vai encontrando diversos de seus amigos, sendo eles artistas ou não e começa a relembrar de momentos emocionantes tanto de sua criação na Bahia quanto de momentos no set de seus filmes. Ele se mostra ser um jovem carismático, namorador, charmoso e com muita lábia, principalmente ao jogar seu famoso charme em todas as mulheres que passam pelas câmeras que não fazem parte de sua família. Além disso, fica evidente no filme o amor por sua ex esposa Vera, e seu carinho e dedicação com seus dois filhos. Uma das convidadas a participar do documentário foi a atriz Angela Leal, mãe da também atriz Leandra Leal. Durante seu depoimento, Leal lembra que Antônio Pitanga e Vera Manhães serviram como uma base maternal, para que ela pudesse se criar e se sentir confiante o suficiente para se tornar uma boa mãe. O documentário “Pitanga” além de lindo, é sincero, pessoal, acolhedor, carismático e apaixonante. A 20ª edição da Mostra foi um momento de aprendizado, diversão e conscientização da importância entre cultura e arte na vida das pessoas.
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Veja nas redes sociais e no site do contramão a cobertura realizada pelas estagiárias Gabriela Germana (Jornalismo) e Isadora Morandi (Cinema).
CRÍTICA
crítica
Fevereiro/Março 2017
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Sherlock: Uma adaptação elementar Crítica por Ana Paula Tinoco Foto: Divulgação
“O meu espírito rebela-se contra a estagnação. Deem-me problemas, muito trabalho, o mais complicado criptograma ou a mais intrincada análise e eu estarei no meu meio”, a frase é de um dos mais importantes personagens da literatura mundial. Respeitado no meio dos amantes de romances policiais, o homem criado pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle é dotado de uma inteligência e capacidade imensas. Seu poder de dedução o leva a desvendar crimes que à primeira vista parecem insolúveis e essa peculiaridade faz com que a fascinação em torno do mito cresça, pois Sherlock Holmes não é um ser comum. Sua primeira aparição foi no romance escrito para a revista Beeton’s Christmas Annual, intitulado “Um Estudo em Vermelho” em 1887, ganhando sua primeira edição em formato de livro no ano seguinte. Com apelo e potencial para o grande público, as aventuras de Sherlock Holmes tornaram-se rentáveis e assim a partir da década de 1970 passou a ganhar inúmeras adaptações para o cinema e televisão, sendo interpretado por grandes atores ao longo desses anos. Entre eles: Christopher Lee, Robert Downey Jr., Michael Caine, Peter O’Toole e mais recentemente Ian McKellen. Holmes é um homem de muitas faces. Em 2010, a BBC decidiu investir na criação de Doyle, mas diferente do que havia sido feito, eles arriscaram e trouxeram o universo do detetive para os dias de hoje. O que poderia ter sido um grande fiasco, na verdade trouxe um frescor, como uma brisa no final de uma tarde quente. E assim, a dupla Mark Gatiss e Steven Moffat provaram, com a série Sherlock (como é intitulada), que é possível inovar e surpreender mesmo com a saturação dos personagens pelas obras que retratam sempre o mais do mesmo. Essa mudança de ambiente ou século, como preferir, nos permite ver como seria a vida de Holmes em meio a tecnologia que possuímos. Com o alcance da internet, ele pode ir a lugares até então não imaginados. E é impressionante como essa adaptação não fez com que o personagem se tornasse
escravo dessa evolução, pois ela está ali como mera coadjuvante, uma auxiliar, afinal estamos falando de um homem que possui, além de sua inteligência lógico dedutiva, um palácio de memórias. Para protagonizar a série, a BBC serve na pele do famoso detetive e seu fiel escudeiro, a dupla de atores Benedict Cumberbatch (Sherlock Holmes) e Martin Freeman (Dr. John Watson), que desde o primeiro episódio, “Um estudo em rosa”, mostram do que são capaz. O entrosamento, química, carisma e domínio de ambos em cena contribuem, e muito, para o altíssimo nível da produção e os atores coadjuvantes, também, não deixam a desejar. Como é o caso do ator irlandês, Andrew Scott que na pele do vilão, Jim Moriarty, nos surpreende a cada take em que ele aparece e, cujo teste surpreendeu até mesmo a Gatiss. A produção do canal britânico está em sua 4ª temporada finalizada. Contendo três episódios de 90 minutos de duração cada, ela é lançada de dois em dois anos, salvo a última temporada exibida, mas a altíssima qualidade do produto não a deixa cair no esquecimento. Com um figurino e fotografia impecáveis, a série apresenta um edição com transições dinâmicas e rápidas que unem trama e subtrama em um laço só para que o mistério adaptado não se perca ou não se torne tedioso. Ela se supera a cada ano lançada. E o ar de mistério em torno dos personagens e as descobertas de suas jornadas fica por conta da forma como Londres é captada e mostrada na história, sempre enevoada. A tensão ou leveza de cada cena é transmitida pela iluminação dos ambientes, um plano que varia de acordo com o que é pedido pelo roteiro e que, ao mesmo tempo parece se comportar e se moldar de acordo com o humor de Holmes. Mas sem mais delongas, o que podemos concluir é que Sherlock é sem dúvida um das mais belas produções dos últimos tempos. E assim como sua ficha técnica impecável, ela prova que de forma elementar é possível transferir para outros moldes e formas clássicos sem que a essência seja perdida ao longo da produção.
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FELIPE homem ARCO poeta
Cidades
É com a mão direita que Felipe Arco transcreve suas percepções e sentimentos para o papel, ou para a parede. Conceituado como artista contemporâneo, o jovem belohorizontino, de 25 anos, soma palavras em poesias e adentra no universo das cores para desenhar em forma de grafite.
Por Ícaro Ambro Ana Lívia Nascimento Fotos: Arquivo pessoal Felipe Arco
Cidades
Fevereiro/Março 2017 5 “Sou mais uma alma em busca de viver e compreender o amor”, ele se define. Definição lógica, já que o amor é praticamente a base de toda sua construção artística. Seja na poesia, com descrições de cenários ou petições de amor entre os homens, ou no grafite, com rebeldia e alusão a liberdade, sempre que há uma brecha, o garoto abre o coração. Ao conversar, Arco se mostra tímido, talvez medroso e com certeza cético. Talvez a sua espontaneidade permita tais percepções. Felipe é claro, não sente vergonha do seu jeito. De barba grande e cabelo bagunçado, suas características transparecem pelo sorriso – ele sorri com os olhos e os lábios acompanham. Chega a ser sedutor. O linguajar é livre. Felipe não se incomoda com as palavras. Apesar de um empório lírico nos textos, os seus dizeres são desprendidos de aceitação ou reputação. Gírias são presentes, opiniões também. Daí nota-se uma diferença entre o homem e o artista. Chamaremos o homem de Felipe e o artista de Arco para ser possível distingui-los. Felipe é mais tranquilo, desagarrado e batalhador. O Arco parece ser mais exigente, maduro e didático. Na correria do dia-a-dia, os dois caminham juntos ou separados, depende da circunstância. Arco é inspiração, é referência. Felipe é guerreiro, é exemplo. Exemplo de um jovem que tinha um dom e um propósito e os queria deixar fluir. Por acreditar no Arco, Felipe lutou, venceu e tornou-se poeta. E com passar do tempo, também se fez grafiteiro. Foi no metrô de Belo Horizonte que toda sua poesia ganhou notoriedade. Em busca de público, Arco escrevia e vendia sua poesia por apenas R$0,50. Entre um vagão e outro, o ainda garoto tentava inserir ideias e inspiração em seus leitores de momento. Ele queria ganha-los, e conseguiu. Felipe é da rua, do povo. Gosta de pintar e ver filme. Tem admiração pelos infinitos tons da cor azul. Tem preferência pelo sabor azedo. É apaixonado por limão e por pratos que levam a fruta. Sonha marcar a história e ser feliz. Acredita que político seja todo ser que se preocupe com o bem da comunidade, bem mesmo, como a palavra vinda do grego significa. Acredita que cada ser tem sua cultura e considera linda a pluralidade cultural. Diz que o ser humano devia ser mais respeitoso com as diferenças e entende o valor presente em todas as manifestações artísticas. Defende a arte. Foi há dez anos, ainda aos treze, que Arco entendeu que seu lugar era na arte. Foi exatamente quando conheceu mais afundo da cultura Hip Hop. Mas foi nos últimos quatro anos que ele a tornou um propósito. Hoje, além de propósito, a arte é um ofício, tanto para Arco quando para Felipe. Ele se lembra bem do dia que se deu conta do sentido da poesia. Foi quando uma criança, de aparentes três anos, segurava um de seus trabalhos e se entretinha com o papel, que por sinal estava de cabeça para baixo. De imediato, Arco pensou “até criança que não sabe ler entende poesia”. Depois veio o choque de realidade e Arco se deu conta de que o que vale não é a arrecadação. A função do artista não é entreter. É inspirar. E ele trabalhou a inspiração. Arco comenta de inúmeros casos de pessoas que o procuraram para contar com se sentiram ao ler sua poesia. O garoto compreendeu finalmente que ele não escolheu a arte, foi a arte que o escolheu por necessidade. Como se ela o quisesse para ser uma espécie de portão entre a subjetividade e a realidade. Neste dia Arco e Felipe se misturaram e se tornaram um só – Felipe Arco.
Cidades
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Para a transição, inspirações não faltaram. Foram muitas. As mais fortes, segundo o próprio, são Gandhi, Basquiat, Renato Russo, Leminski e Mano Brown. “Acredito que sou uma mescla desses artistas. Tem muito deles em mim”, ele diz. Forte também foi a presença do Rap em sua vida. Rima improvisada e impulsão nas palavras poderiam ter o tornado um MC, mas ele não trilhou este caminho. E desta rebeldia nasceu a paixão pelo grafite.
Novo e artista Felipe Arco já se considera um escritor e um grafiteiro. Comenta que escreve para desabafar e para se esvaziar. ”Escrevo por necessidade, pra mudar vidas e tocar corações. Fazer a revolução em cada vida é meu maior objetivo” ressalta. Sua poesia é confusa em um ponto: a dedicatória. O poeta tem intimidade com as palavras, a impressão é que ele escreve diretamente para alguém. Que os demais leitores saibam captar! Ao ser questionado sobre a possível dedicatória, o poeta confessa que nem sempre escreve para alguém, mas na maioria das vezes sim. Ele acredita que é mais verdadeiro. Sexo não é um tabu na obra de Felipe. Ele trata a relação com naturalidade e formosura. Em um de seus poemas, o qual ele descreve uma elação com uma mulher, o poeta torna o corpo da parceira uma verdadeira obra de arte e deixa o prazer em segundo plano. A preocupação é com a descrição de um momento de união entre homem e mulher. “Acredito que o sexo seja algo natural do ser humano, uma ligação maravilhosa e única. Eu acho fascinante a forma que duas pessoas podem se ligar, por isso escrevo”, explica. Com estas palavras, outra vez, nota-se a afinidade pelo amor. Desta, um amor carnal e dual, o qual é o tiro de largada para a vida. Apesar de Felipe confessar que não há um critério para determinar o que escrever, é notável um encaixe semântico de rimas ao longo dos versos. Geralmente, os poemas do artista nascem de uma única palavra, de forma bem natural. “A medida que as coisas vão desempenhando, as palavras soam na minha mente e assim nasce o processo criativo”, confessa.
Tato, paladar, audição, visão e olfato, os sentidos do corpo humano, aparecem, não como sensações, mas como identidade, na obra de Felipe. O jovem dá uma brecha para o leitor absorver e sentir o ambiente de sua imaginação. Ele é certo de que tal absorção depende da concentração e sensibilidade de cada um, mas acredita neste caminho. Jogada inteligente. Oferecendo uma paisagem não vista, é causada a curiosidade no leitor e, de certo modo, o torna fiel.
O Escritor O Felipe escritor é um cara que não aceita viver de outra coisa. Poesia é o que move o coração dele. Liberdade é o bem maior da sua vida e escrever é isso para ele. Outra característica é a humildade. Felipe é humilde, não com as palavras, mas sim com os seus ídolos. “Obrigado é o que eu diria se caso visse um deles”, confessa o rapaz. “Também diria que palavras mudam vidas, inclusive mudaram a minha” conclui. Sempre a um passo de distância do seu entrevistador, o Artista parece preservar pelo limite entre leitor e ídolo. “Acho que tanto o escritor, quanto o leitor tem uma vida particular. Saber separar vida pública de vida privada é o ideal, pois muitas vezes rola uma invasão desnecessária”, comenta. Como todo bom artista inspirado, o nosso não deixa de escutar música brasileira. Sempre com um fone de ouvido, Felipe predilecia a escuta de suas melodias favoritas antes de escrever, durante não. Ele é disperso, perde a concentração fácil. Ainda mais se for um Rap, Raggae ou MPB, na caixa de som. Depois de tanto sentimento meloso, a impressão que fica é que nosso personagem é apenas romântico, mas Felipe é agitado também. Talvez por isso que se familiarizou com o seu segundo dom, o grafite. “O grafite me chamou atenção desde a primeira vez. Foi amor a primeira vista. Eu sabia que aquilo tinha vindo para ficar”, comenta sobre o primeiro contato com a manifestação artística. Treino. Treino. E treino. Esse é o caminho para se tornar um bom grafiteiro. Habilidade está longe do pensamento de Felipe. Para ele, tudo é uma questão de passo-a-passo unido da inspiração. E se perguntarem ao rapaz o que é o grafite, ele não mede palavras e coloca brilho no olhar para responder. “Considero o Graffiti uma arte marginalizada, assim como o pixo é a voz da cidade. Uma parede colorida tem um poder transformador”, respondeu. Sua preferência é a utilização de cores diversas, mas confessa que preto e o branco tem seu valor. O homem, que se torna um garoto brincando um giz de cera, ao desenhar. A latinha de spray em
“Sou mais uma alma em busca de viver e compreender o amor”
Cidades sua mão é manuseada com tanta facilidade e precisão que parece até uma refeição. E, ao contrário do nosso sistema digestivo, ele come a imperfeição e defeca a perfeição. Uma parede desgastada, velha e úmida, nas mãos de Felipe se tornam uma tela. Se há ele for dado alguns minutos, uma Monaliza pode nascer. A percepção pode não ser a mesma de Da Vince, mas a pureza da obra sim. Ele é transformador. Para ele, não há um parâmetro para concluir a coloração e a tonalidade correta. Tudo depende da obra a ser feito, da mensagem por trás desta obra e do local onde ela será feita. Felipe compara o grafite com a pintura clássica, mas teme o preconceito, “É impossível ser traduzido, mas é um dos poucos momentos em que me sinto pleno. Apesar de estar ganhando algumas galerias, o preconceito ainda é muito grande. Principalmente com o real Graffiti”, ele diz. Depois de ganhar o metrô, o moço ganhou a rua, e dela não quer sair mais. Ele balança a cabeça em sinal negativo e rir timidamente quando a pergunta é sobre quantas obras grafitadas ele já fez. Já há quase quatro décadas, a arte mistura ideias e revoluciona a cidade. Felipe concorda. E apesar do preconceito da sociedade contra o grafite, o Artista não tem preconceitos contra uma prima desta arte – a pichação. Mesmo sabendo que o ato de pichar é tratado como crime, Felipe prefere não observar desta forma e dá ao pichador uma posição de libertador dos próprios monstros. “O pixo, apesar de ser uma transgressão, não deixa de ser arte. Tem um processo criativo, tem uma mensagem por trás também. É um outro fenômeno, mas que é muito criminalizado”, é o que ele pensa a respeito. Agressivo é a melhor palavra para utilizar ao tratar o Felipe Arco grafiteiro. Diferente do Felipe poeta, no qual a melhor palavra é amoroso. A pergunta que este texto reponde é: Dá para manter dois sentimentos tão extremos acesos juntos ou realmente é necessário se dividir em dois para viver cada um deles? Um jovem apaixonado por adrenalina. Se preocupa pouco com estética. Dá maior importância ao amor. Vive num mundo onde a importância é a mensagem por trás da realidade. Às vistas do seu público, Felipe Arco é apenas um, mas no íntimo de quem o observa com o coração, o jovem apostador é dois. Sob sua percepção de si mesmo, o Artista pode ser quantos quiser, basta sentir.
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Comunidade Quilombola “Açude” Por: Bárbara Godinho e Julia Portuense
Na comunidade quilombola “Açude” reside 11 famílias, em torno de 60 pessoas que sobrevivem do trabalho no campo, alguns como guia turístico, educador e algumas das mulheres trabalham em casa de família ou em pousadas da região. A comunidade está localizada em Jaboticatubas, região Metropolitana de Belo Horizonte, próxima a rodovia MG-10, encontra-se a três quilômetros do distrito de Cardeal Mota. A escola em que os meninos estudam fica localizada em Jaboticatubas, um ônibus da prefeitura busca os jovens na comunidade para levar e voltar com os eles. Os menores vão para uma creche que fica próxima a comunidade. O posto de saúde que fica de fácil acesso pros moradores só tem um médico que vai uma vez na semana para atender a comunidade e regiões. A água utilizada pelos moradores vem de um poço artesiano, que se encontra no fundo na comunidade. Segundo Cuta de 44 anos, morador do açude, a
comunidade hoje está tranquila, mas tempos atrás era bem sofrida, ele foi embora do quilombo com 14 anos para não trabalhar com fazendeiro e ver o sofrimento dos pais. Foi o término da escravidão, mais ainda existia a escravidão moderna. Na época era muito difícil de estudar, a serra do cipó era toda preconceituosa com a comunidade por conta do candombe. Hoje eles sabem dos seus valores e tem uma tranquilidade de vida boa, sossegada. “É uma memória que a gente não vai apagar nunca, é chato gente da gente falando, porque você está morando em casa de capim? Naquela época tinha muita doença de chaga na comunidade muitas crianças morreram por conta da condição de vida, a gente era julgado demais pela cor e por onde vivíamos, então era muito complicado. Hoje eu não falo que demos a volta por cima 100 por cento, mas 89,9% já demos a volta por cima”, Cuta.
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Cotidiano Flávio Henrique e Chico Amaral, fizeram uma composição “Casa Aberta” para a comunidade, Marina Machão e Milton Nascimento gravou a música, que cita nome de vários moradores do Açude.
Trecho da Música: “Lua luou Vento ventou Rio correu pro mar Foi beijar as areias de lá Mato queimou Fogo apagou o céu escureceu Vem de lá Tambuzada no breu... Na casa aberta É noite de festa Dançam Geralda, Helena, Flor Na beira do rio Escuto Ramiro Dona Mercês toca tambor Lua azul, lua azul turquesa Já que a casa está vazia Vem me fazer companhia Na janela da cozinha”
Cerca de 9 jovens da comunidade quilombola “açude” dizem não querer deixar o quilombo, mas pretendem ir para a capital fazer faculdade e depois voltarem. Bianca Santos de 15 anos, estudante do ensino médio da escola Municipal de Jaboticatubas, é uma delas que não quer ir embora da comunidade. Por conta da sua história e dos seus ancestrais, tem vontade de fazer uma faculdade de medicina. Ela conta o que sabe sobre os escravos que viveram na comunidade. “Os escravos que criarão os tambus e o candombe como uma forma de diversão na fazenda, onde eles eram escravos na fazenda do cipó, fez em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. O senhora dos escravos ouviu eles tocando um dia e não gostou, mandou o cervo dele ir lá e acabar com o tambu. Eles foram lá colocaram os tambu para queimar , com a fumaça dos tambu o senhor do escravos sufocou. Quando ele estava quase morrendo, pediu a mulher dele pra construir outros de novo e tocar para Nossa Senhora do Rosário. A mulher dele foi lá e pediu o cervo deles para fazerem outros. Eles fizeram e tocaram, só que mesmo assim ele morreu”, Bianca dos Santos.
Cultura
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Renegado Além dos conflitos particulares
Texto: Ítalo Lopes, Umberto Nunes e Victor Barboza Foto: Bárbara Dutra
À
s 22h ecoava no domingo belorizontino o samba-enredo de 1982, da carioca União da Ilha, mais conhecido por regravações, como a de Caetano Veloso. “Diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu…” Na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul da capital, Flávio misturava a sua voz com cerca de seis sambistas e um público de aproximadamente 50 pessoas no Acampamento pela Democracia, que já ocupava a Praça havia quase uma semana. Quando terminou o refrão, repetido várias vezes, se mostrava ali um lado politicamente engajado do artista. Declaradamente contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, pediu força e garra aos presentes, puxou um clamoroso “não vai ter golpe” e deu fim à sua participação no Samba pela Democracia,
que se estendeu por mais meia hora. Quatros dias depois, após uma manifestação, e agora rodeado por fãs, o rapper posava para várias selfies dividindo a atenção do público com o roqueiro Tico Santa Cruz, com quem lançaria o single “O Morro Mandou Avisar”. Fazendo o simbólico movimento de ‘paz e amor’ com as mãos, apresentava a segunda palavra tatuada, de letra em letra, nos dedos da mão direita. Nove dias depois, no ambiente intimista de um apartamento simpático, também na região centro-sul da cidade, Flávio sentava confortavelmente em uma poltrona e respondia com tranquilidade a tudo o que lhe era perguntado. Até que foi interrompido por Danusa, sua produtora: “Não vai falar dos trabalhos novos não né, Renê? Não é pra divulgar isso ainda”.
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Cultura
Voz cansada e óculos escuros F
lávio Abreu Lourenço, de 34 anos, era quem nos atendia ao interfone, na manhã de uma quinta-feira. Com uma voz arrastada, parecendo ainda estar com sono, respondia “pô, podem subir ai. É o número 12, no último bloco”. O ambiente era um apartamento decorado com bom gosto, dividindo seu espaço entre casa e o escritório da produtora, que trabalha junto ao cantor há mais de 10 anos. Os móveis, feitos em madeira maciça e escura, tinham uma aparência rústica e acabamento em vidro. Alguns detalhes da sala de estar eram vintage, como o telefone de disco e a luminária amarela que ficava na mesa de apoio. As oito caixas de Redbull, sendo que uma delas já estava aberta, logo ao lado da porta de entrada, mostravam que ali era um ambiente de muito trabalho e que, se precisasse, iria noite a dentro. Além da voz cansada, Flávio usava óculos escuros e demonstrava a simpatia de um bom anfitrião. Enquanto se distraía com o pequeno Duke, o cachorro de estimação da casa, preparou um café e conversou com um amigo pelo viva voz do telefone sobre o último jogo de seu time. Atleticano, lamentava a eliminação do clube na Copa Libertadores da América. Cantando um pequeno trecho de “Baile de Favela”, trouxe duas bandejas, uma com biscoitos, outra com a bebida, e começou a conversar.
O atrevido N
ascido e criado no Alto Vera Cruz, Região Leste de Belo Horizonte, quando o aglomerado ainda era de terra batida e as pessoas costumavam mudar o endereço em seus currículos para conseguir emprego, Flávio cresceu com uma mãe que, segundo ele,
sempre serviu de inspiração na vida, e dois irmãos, pois o pai já havia saído de casa. Na adolescência, “cheio de hormônios, aprontava e causava” nas ruas do aglomerado, até encontrar quem o convidasse a participar dos projetos sociais realizados na região. “Tive pessoas que me conduziram para outras perspectivas em um momento importante”, relatou. Em suas palavras, Flávio transparece saber muito bem quem ele foi e quem ele é hoje. Ainda envolvido em causas sociais na comunidade, o artista age com naturalidade quando perguntado sobre ser uma referência de inspiração para jovens que, também foram criados em condições parecidas. “A parada não é proposital, sacou? O objetivo é tentar levar para o cara um pouco mais de tranquilidade no meio dessa loucura e dessa guerra que é viver”. Diante das condições impostas por essa vida, Flávio teve que “virar homem” muito cedo. Entre jogar futebol e dar os seus “rolês”, como costuma dizer, aos 13 anos o cantor já tinha virado diretor da associação do bairro e logo mais, aos 15, começou a trabalhar. Antes de se envolver com a música, foi office-boy na ASSPROM (Associação Profissionalizante do Menor), durante 3 anos e com 19, passou a atuar como educador social, no bairro em que cresceu. Mesmo com as oportunidades de trabalho, Flávio não deixou de presenciar o tráfico e o caminho “errado” prejudicando alguns amigos e companheiros de bairro. Lembrando dos momentos e de algumas perdas, ele se descreveu como um “sobrevivente”. De acordo com o artista, nem todos tiveram, e têm, a mesma sorte. “Mas eu também acho que não é culpa dos caras, né?! O processo é muito excludente, a gente não pode ser errado e falar que a pessoa quis tomar esse
destino. Nós temos um processo de 516 anos de escravidão”. Apesar da maré negativa, Renê - como foi carinhosamente chamado por Danusa - diz que sempre correu atrás das suas próprias coisas. “Eu sempre fui atrevido nesse sentido ai, mano. Nunca fui de me contentar com osso! Sempre cheguei junto”. Hoje, considerando-se dono do seu próprio destino, fala com orgulho sobre o legado que deixou no Alto Vera Cruz. Depois de mais de 10 anos dedicando trabalhos ao Grupo Cultural NUC (Negros da Unidade Consciente), decidiu, em conjunto com Dana - apelido afetuoso que ele chama sua produtora - iniciar outro projeto. A casa em que cresceu na comunidade se tornou, em maio, a sede da ONG A Rebeldia. “A gente ressignificou ela para ser a sede da ONG. Lá, trabalhamos para formação e inclusão da galera no mercado de trabalho”.
“Eu sempre fui atrevido nesse sentido ai, mano. Nunca fui de me contentar com osso!”
Cultura
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PRO RAP TEM QUE TER FLOW S
empre envolvido nos movimentos de ocupação de Belo Horizonte, Flávio foi rebatizado “pelas ruas”. Agora, com o codinome Renegado, ele fazia suas participação no Duelo de MC‘s de Belo Horizonte, sendo um dos precursores do movimento. A estima do artista com o gênero musical ficava visível no tom de voz. “O rap me fez ler meu primeiro livro”, lembrou sorrindo e apontou para a estante de livros, próxima à janela da sala. “Acho até que alguns aqui são meus”, disse, enquanto procurava pelo exemplar de ‘Abusado’, escrito por Caco Barcellos. “Ah, não. Esses aqui são da Dana, confundi”, lamentou. Defendendo os princípios culturais do movimento, Renegado sempre foi uma presença ilustre no duelo, que carrega essas características desde agosto de 2007. Aparentemente orgulhoso do que fez, o cantor comentava sua participação no começo dos encontros, ajudando a dar vida ao projeto. “Durante dois ou três anos, fui um dos agentes lá. Me sinto parte disso, por ter deixado essa contribuição”. Enquanto falava, Renegado enfatizou a repercussão que o rap ganhou em BH com a ocupação de espaços ociosos. “Ao mesmo tempo em que é um som da periferia também é um som urbano, da cidade”, disse o cantor. Instigado ao poder representar pessoas, ele classifica o estilo como “a voz da verdade”. “Se naquela comunidade tem problema, o rap vai falar! Se tiver felicidade, vai falar também”. Argumenta ainda que o crescimento contínuo se deve a uma característica musical rara, encontrada no gênero. “Ele age de uma forma muito natural, porque é inclusivo. Não precisa ser músico pra cantar rap. Tem que ter flow, tem que ter feeling.”
Flávio começou a fazer suas primeiras rimas ainda na adolescência. Seguindo influências como Racionais MC’s, Rappa, Bob Marley e os conhecidos 3 malandros do samba, Bezerra da Silva, Dicró e Moreira da Silva; percebeu, na música, um caminho promissor a se seguir.
Do Alto Vera Cruz para o mundo
O
primeiro disco, chamado “Do Oiapoque a Nova York” (2008) só veio aos 26 anos, e cumpriu o que o nome sugeria. Com o álbum, Renegado fez shows na Europa, Ásia, Oceania e em todas as Américas, encerrando sua primeira turnê internacional com um show no Central Park, em Nova York. Além de amizades, como a de Bebel Gilberto, com quem gravou na cidade norte-americana, ele trouxe referências e composições de onde passou. Agora, já sem os óculos escuros, Renegado parecia mais próximo e imerso na conversa. Relembrando suas produções, o artista mostrou um lado adepto às mudanças, que faria o que fosse preciso para mostrar um trabalho com maior qualidade e “redondo” para o público. “Eu faria tudo diferente. Acho que quando você tem essa coisa da criação, você tenta mudar tudo o tempo todo, mas arrependimento não tenho, de verdade. Faria tudo diferente por perfeccionismo mesmo”.
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Sobre o segundo trabalho, que veio três anos depois, em 2011, o artista destaca a canção composta em Cuba, que também dá nome ao álbum. “‘Minha tribo é o mundo’ é uma música muito importante, fiz com uns malucos lá”. Mostrando mais a identidade do cantor, o álbum apresenta as clássicas rimas do artista junto de uma mistura de estilos musicais, a verdadeira marca Flávio Renegado de fazer música, que não hesita em mesclar ritmos.“Eu não vejo música separado igual a galera faz. Tudo dialoga, tudo pode estar junto. Estamos vivendo uma era de fusão, de trocas”. A obra abriu ainda mais portas para o artista, que teve a oportunidade de apresentar o trabalho nos festivais Back2Black e no Rock in Rio de 2013. De acordo com sua produção, ele concluiu a primeira etapa de sua carreira com o lançamento do CD e DVD “Suave ao vivo”, que foi gravado em 2013 no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no centro de Belo Horizonte. Em seu último trabalho, “Relatos de um conflito particular”, cuja primeira parte foi
Foto: Dayran Dornelles
lançada em outubro de 2015, Renegado faz uma brincadeira com suas músicas e os pecados capitais. O EP foi disponibilizado com sete músicas, cada uma representado um dos pecados, convidando os ouvintes a descobrir qual faixa representa o que. De acordo com a produção do artista, a ideia da criação foi colocar em discussão a seguinte dúvida: “o dia a dia é feito de más condutas ou é permeado por instintos básicos do ser humano?” Sobre seus trabalhos, Flávio justificou a presença das caixas de energético no escritório. A respeito do tempo livre, no dia a dia, o cantor brinca: “Tempo o que? (risos) Eu durmo”. Os relatos dele remetem a dias de muito trabalho, porém, de uma forma que a diversão consegue conviver junto com a profissão. “Eu me divirto, falo isso brincando. É tudo muito trabalhando mesmo. Tô com os amigos tomando uma, e ao mesmo tempo compondo; lendo algo que vou abordar. É tudo muito direcional com o que eu estou querendo tratar [nas músicas]”.
“COISAS DESSE ... TIPO”? D
ois violões: um no canto da sala, ainda ligado no amplificador, e outro apoiado no sofá, fora de sua case, pareciam estar preparados para serem usados a qualquer momento. Filiado ao PC do B e sempre atento ao momento político, o rapper fez de alguns singles pontos-chave para alavancar a sua carreira. Destaque para o lançamento de “Coisas desses tipo”, postado no YouTube três dias depois do polêmico depoimento do então candidato a governador, Pimenta Veiga (PSDB/MG), em 2014: “Aqui nós vamos ter um encontro com alguns setores específicos: juventude, algumas minorias, negros, índios... coisas desse tipo”. Assistindo a entrevista ao vivo, Renegado se indignou e já começou a compor a canção. “Só cumpri o papel de falar o que tinha que ser dito naquele momento. Eu vi a parada e falei ‘caralho’... Aí saiu rápido, em produção a jato”. Cerca de um ano depois, em setembro de 2015, após sua participação no Criança Esperança, programa anual da TV Globo, um dos trechos de sua música foi cerne de um embate de ideias nas redes sociais. Com ‘Mundo Moderno’, música feita especialmente para o evento, ele rimou: “Insultos mil, tição, macaco, criolo, complete a lista, enquanto a Ku Klux Klan bate panela na Paulista”. Sobre a polêmica e as críticas recebidas pela música, ele fala bem-humorado. “Sou meio Kamikaze de vez em quando, né?! Não dá pra deixar passar batido. Convivi com a miséria e com a fome, não vou conviver com crítica no Twitter?” Filho de Oxóssi, no Candomblé, ele traz a história da divindade como sua doutrina guia. O Orixá, que teve apenas uma flecha para acertar a ave que lançava fogo sobre a cidade de Ifé, é uma das inspirações para o artista. Se definindo como workaholic, em sua música “Redenção”, e almejando ainda mais objetivos, o artista acredita ter alcançado a sua “vitória”. “Se você não amar o que faz e não se jogar, o retorno é meio complexo, complicado de acontecer. E também depende do que as pessoas consideram como retorno, né?! Para alguns é financeiro, para outros é realização. Quando você consegue conciliar as duas coisas... aí é vitória”.
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Crise no Jornalismo Por: Thauane Ferreira, Roberto Márcio, Lee Miranda
Os últimos anos ouvimos falar sobre a crise do jornalismo, mas pensando bem, eu não vejo uma crise na profissão mas sim para o profissional. O Jornalismo sempre esteve atrelado ao campo multimidia, desde a época do impresso com Gutemberg, passando pelo rádio e TV até chegar a internet e plataformas online. O profissional jornalista não acompanhou esse processo, porque e manteve-se preso em equipes de apoio, mas com o enxugamento das redações se viu sozinho e tendo que fazer um pouco de tudo, se tornando então um profissional multitarefa. Estamos elaborando esse trabalho para analisar esse contexto que tem como pano de fundo o avanço tecnológico das plataformas digitais, enxugamento das redações e questionamento do diploma de jornalista.
Fevereiro/Março 2017 15
Profissões
PAOLO XAVIER TV Rede Minas
ENTREVISTA
O jornalismo vem passando por uma crise. Como você avalia este processo?
ta do impresso tem espaço na web. O formato está mudando e cabe ao profissional se adaptar a isso.
R.: Se pensarmos no jornalismo em todas as suas mídias, temos que pensar que os jornalistas não detém mais o monopólio da informação. Sem entrar no mérito da qualidade, qualquer pessoa pode produzir e reproduzir informação de maneira instantânea no universo web. Essa mudança tem feito o consumidor de notícias ser mais exigente e crítico em relação ao que nós profissionais produzimos. Entregar uma notícia com a velha receita da pirâmide invertida já não é o bastante. Muitas vezes o expectador já sabe mais do que diz aquele punhado de linhas (o expectador dando furo no repórter). Para mim é processo natural e um caminho sem volta. Por isso, é preciso repensar o papel do jornalista. Mas do que mero anunciador, o jornalista tem que ir além e ser o profissional que dará ao expectador os caminhos para interpretação aprofundada da notícia. É ele quem vai ser a ponte entre a manchete e a análise aprofundada dos fatos.
Com as mídias sociais e a Internet, as notícias são divulgadas em questão de minutos. Estes novos canais de comunicação tem alguma influência na crise que o jornalismo atravessa?
Diante do cenário Internacional (com a demissão de diversos profissionais na redação) o que podemos esperar para o futuro do jornal impresso? R.: Quando a TV surgiu, profetas de plantão cravaram a extinção do rádio. Isso não aconteceu. O rádio ainda está presente no nosso dia a dia, seja dirigindo um carro, fazendo uma tarefa doméstica ou dentro do transporte público indo para o trabalho. Da mesma forma, quando a internet começou a se popularizar, muitos acreditavam no fim da TV. Hoje a TV e a internet até criaram uma relação simbiótica com o fenômeno da Segunda Tela, momento em que o telespectador emite opiniões nas redes sociais estimulado pelo o que ele vê na TV. Observe que tanto o Rádio quanto a TV ganharam novas funções diante do surgimento de mídias concorrentes. Mas e o jornal impresso? Para ele, a situação é mais complicada. Até agora não se descobriu uma nova função para ele. O impresso deveria se dedicar ao conteúdo mais aprofundado, aos textos mais densos, a análise mais detalhada. Nas revistas é possível observar isso. Mas o jornal impresso parece não ter fôlego para tal função. A internet é espaço fértil para isso, ainda que a maioria dos internautas, principalmente os mais jovens, são inquietos e dispersos. Além disso, de todas as mídias o jornal impresso é o que tem o sistema mais complicado (para não dizer antiquado) de dfusão. Só de pensar em todo o processo que acontece no parque gráfico e na logística de distribuição para as bancas e assinantes já se percebe as dificuldades. Diante de tudo isso, há poucas esperanças para o jorna impresso. O desaparecimento é uma tendência mundial. Na sexta passada, o tradicional jornal britânico The Independent enviou pela última vez a edição para a gráfica. Outras publicações tradicionais fizeram o mesmo. Jornais mineiros como o Estado de Minas e Hoje em Dia agonizam, estão à beira da falência. Claro que há má gestão envolvida, mas é fato que as novas tecnologias têm grande influência nesse processo. Paulatinamente, os jornais impressos tendem a desaparecer. O impresso poderia ter uma nova função, mas perdeu-se a oportunidade de encontrá-la.
O jornalista do impresso corre o risco de ter sua profissão extinta, frente ao desenvolvimento tecnológico? R.: O jornalista do jornal impresso sim. As revistas ainda encontram uma sobrevida, mas não por muito tempo. Mas o jornalis-
R.: Certamente. No jornal impresso, por exemplo, a notícia sempre será desatualizada, haverá atraso de várias horas entre a ocorrência e a publicação. Então o jornal deveria se preocupar com grandes reportagens e deixar o factual de lado. Outro problema é o aspecto físico: é mais cômodo carregar um smartphone ou tablet que um jornal impresso com várias páginas e que não oferece nenhuma ferramenta de interação, nenhum hiperlink. Muitos produtores de rádio e TV ainda estão tentando compreender o que está acontecendo. Algumas emissoras já estão adiantadas em experiências de fundir as mídias tradicionais com as novas mídias. Como que em uma seleção natural, vão sobreviver as empresas que estiverem mais adiantadas e com experiências bem-sucedidas na web.
Como o profissional pode se adaptar a esses novos meios de comunicação? R.: Basta entender que as mídias digitais já se consolidaram e que o comportamento do público mudou drasticamente. Estamos lidando com uma audiência que agora possui as ferramentas para expressar suas opiniões. Essa audiência tem se mostrado muito ativa e crítica nas redes sociais. O desafio agora é compreender esse comportamento e tirar proveito disso.
O que falta no jornalismo de hoje? R.: Para mim faltam duas coisas. A primeira delas é a falta de valorização do profissional, tanto no aspecto financeiro quanto nos relacionamentos interpessoais. Sinceramente, parece-me injusto que um jornalista graduado ganhe menos de R$ 2.000, mesmo com anos de experiência, enquanto trainees de outras graduações ganham até mais que isso. Claro que impera a lei da oferta e da procura: formam-se milhares de jornalistas por semestre no Brasil ao mesmo tempo em que se formam algumas centenas de engenheiros, por exemplo. Mas ainda assim não há equilíbrio. Temos que olhar também o aspecto das relações interpessoais. O ambiente de uma redação é muito hostil, há um briga de egos muito forte entre os colegas, principalmente em TVs comerciais, e situações de assédio moral entre chefia e repórteres é muito comum. Certa vez, um colega com mais de 20 anos de profissão disse “que no jornalismo você tem que saber apanhar”. Discordo. A profissão tem sim as particularidades e desafios, o jornalista é movido por imprevistos. Mas o repórter também é um ser humano que quer ter qualidade de vida, ele não pode se doar completamente para o ofício. Dizer que o jornalista tem que viver a notícia 24 horas por dia é uma visão romântica da profissão. Tem que haver respeito às leis trabalhistas e cada um de nós “baixar a bola” e respeitar os colegas. A segunda coisa que falta é os jornalistas transformarem a palavra crise em oportunidades. Não se pode ficar lamentando que o jornal impresso está acabando e que empresas tradicionais estão desaparecendo. A internet é terreno fértil de oportunidades e que ainda não foi completamente explorada. Rádio e TV, as velhas mídias, também estão aí sobrevivendo.
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