Jornal A Ilha 72

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Ano VII - n 72 - fevereiro de 2020 - Ilha de Paquetรก, Rio de Janeiro


A PELEJA DE PAQUETÁ CONTRA OS DRAGÕES DA MALDADE

em homenagem ao CLAUDIO MARCELO

A séde da CCR Vai ter que mudar pra cá Para não pedir falência Vai falir com Paquetá?

O professor tá lascado E o médico também O trabalhador se segure Ou não vai mais ver vintém

O governo anunciou Que o dinheiro não há Não paga pra CCR Que se dane Paquetá

Se tem alguém infartado Ou se teve um AVC Vai ter que esperar sentado Até a barca aparecer

O juiz deu a sentença A favor da concessão Não quis botar na balança A nossa situação

Seu defunto não morra Recém-nascido não nasça Ninguém tenha um imprevisto Até a barca estar na praça

Entre o mar e o rochedo O marisco é que se espraia Mas Paquetá é a jóia Da Baía da Guanabara

Mas não estamos vencidos Temos garra e ousadia Do nosso lado estão A mídia e a Defensoria

O visitante vem ver A Praia da Moreninha E quer voltar numa barca Não na lata de sardinha

Também temos o apoio Dos amantes dessa ilha Artistas e pensadores Que nos fazem companhia

Vai na Ponte da Saudade Vai beijar o baobá Mas presta muita atenção Pois a barca vai lotar

Os 5 mil moradores E o turista que desfruta Vão continuar unidos Nossa luta continua!

Tiraram muitos horários Paquetá não tem estrada A espera de tanto tempo Deixa a gente revoltada

Governador é pinóquio Ou vai dar a solução? Nossa luta é muito justa É pela revogação!

Durante a semana então CCR dificulta Corra logo pra estação Pra não perder a consulta

Iale Falleiros

Expediente

A Ilha é um jornal comunitário mensal organizado, elaborado e mantido pelos moradores da ilha de Paquetá. Mentor e fundador: Sylvio de Oliveira (1956-2014)

Colaborador eterno: Claudio Marcelo (1954-2019) Equipe: Cristina Buarque, Flávio Aniceto, Ialê Falleiros, Jorge Roberto Martins, Julio Marques, Mary Pinto, Ricky Goodwin, Toni Lucena, Vitor Matos e Washington Araújo. Programação Visual: Xabier Monreal Jornalista responsável: Jorge Roberto Martins - Reg. Prof. 12.465 As informações e opiniões constantes nas matérias assinadas são de exclusiva responsabilidade de seus autores.

Ano 7, número 72 fevereiro de 2020. Capa: Arte Toni Lucena - Foto Washington Araujo Ilustrações: AMANDIO Este número de A Ilha foi possível graças à participação dos anunciantes e às contribuições financeiras de

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Adilson Martins Amandio Ana Cristina Ana Mullek e Samuca Davit e Bia Coronel Paulinho Cristina Buarque Cristina Monteiro Dimas Fernando Guto Pires Hernani Jim Skea Jorginho e Leila Julia Menna Barreto

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Julio Marques Lula Lia e Guinho Marcio e Mariangela Mary Pinto Marilia Nadja Nilson Santana Nenem e Edinho Paulo e Joana Ricardo Bichara Ricardo Sant Clair Sandra Souza Wasinton Araujo

Amandio

Impressão: Gráfica e Editora Cruzado Ltda / Tiragem: mil exemplares Fale com a gente: cartasjornalailha@gmail.com Anuncie: comercialjornalailha@gmail.com

MARCHINHA DA REVOGAÇÃO Ei, Governador! Não tem mais barca Mas pode vir a pé O pessoal de Paquetá convida Para tomar café!

Ei, Governador! Não tem mais barca Mas pode vir a pé O pessoal de Paquetá convida Para tomar café!

Depois do café Durante a digestão O povo tá de pé Ouvindo com atenção.

Depois do café Durante a digestão O povo tá de pé Ouvindo com atenção.

Então, Governador, explica: - Cadê a revogação?

Então, Governador, explica: - Cadê a revogação? Pedro Amorim


CRONOLOGIA DA LUTA DE PAQUETÁ PELO DIREITO DE IR E VIR Levantamento e redação por: Conceição Campos, Iale Falleiros e Washington Araujo Fotos: Washington Araujo, Ernani Bessa, Neusa Matos, Ricky Goodwin e Benedita Rodrigues

DE JULHO A OUTUBRO 2019 ANTECEDENTES Desde julho de 2019, a baixa qualidade do serviço prestado pela CCR é discutido pela Associação de Moradores de Paquetá (MORENA), em resposta ao grande volume de reclamações encaminhadas pelos moradores. No dia 14/07/2019, uma das pautas do MORENA NA PRAÇA, encontro mensal dos associados, é referente aos atrasos constantes das barcas. A discussão evolui para a organização de uma reunião pública, em conjunto com a Frente Parlamentar em Defesa do Transporte Aquaviário (da Assembleia Legislativa - ALERJ), que ocorre em Paquetá, no dia 19/10/2019, envolvendo os responsáveis pelo transporte entre ilha e continente. Além dos parlamentares da Frente (deputados Flávio Serafini e Eliomar Coelho), comparecem os representantes da CCR Barcas (Sérgio Murilo), da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (AGETRANSP - Carlos Alberto Areias) e da Secretaria Municipal de Transportes (SMTR - Alessandro Almeida). Não comparecem os representantes da Secretaria Estadual de Transportes (SETRANS) e do RioCard. Com objetivo de embasar a reunião - e contando com a assessoria técnica de morador voluntário -, em 14/10/2019 a MORENA disponibiliza um sistema permanente de registro dos atrasos das barcas, que consiste em questionário online acessível no endereço http://bit.do/abarcademorou. A reunião pública de 19/10/2019 conta com a participação de mais de 80 moradores, e os principais problemas apontados são: # atrasos e falta de ventilação das barcas de duas proas; # acessibilidade precária nas estações e no embarquedesembarque; # falta de segurança na estação da Praça XV a noite, com o fechamento do acesso pelo estacionamento das barcas; # e intervalos grandes entre horários. Os moradores solicitam inclusão de horários nos intervalos maiores. A CCR alega dificuldades financeiras para honrar o contrato e afirma que, desde 2012, quando iniciou este trabalho, melhorou muito as condições do transporte aquaviário na Baía de Guanabara. O representante da AGETRANSP não responde aos questionamentos sobre o seu papel fiscalizador, limitando-se a informar que, devido à situação em suspenso do contrato, a Agência Reguladora pouco pode fazer. Os moradores cobram da AGETRANSP o cumprimento de seu papel fiscalizador, bem como do poder público o acesso ao contrato vigente (que está sob judicialização). Cobra-se, ainda, que representantes dos moradores possam participar da elaboração do edital de um futuro contrato. A Frente Parlamentar em Defesa do Transporte Aquaviário apresenta disposição de enfrentar esse imbróglio relacionado ao contrato com a CCR (em vista de sua alegação de falência), para garantir que o poder público estadual cumpra seu dever para com a população do Rio de Janeiro de ofertar um transporte público aquaviário de qualidade.

Em nenhum momento deste encontro de autoridades e representante da CCR com a população de Paquetá foi mencionado que a CCR planejava alterações na grade de horários das barcas.

O DRAMÁTICO ‘PRESENTE DE NATAL’ DA CCR PARA A ILHA DE PAQUETÁ

23 DEZ 2019 Nas vésperas das festas de final de ano, durante os recessos judiciário e parlamentar, a população de Paquetá é surpreendida pela fixação, nas paredes das estações das barcas, de um comunicado da CCR sobre mudança total – de rota e horários – na grade da linha Paquetá-Praça XV-Paquetá. A grade anunciada prevê a triangulação no trajeto – com parada em Cocotá em 6 horários e aumento do tempo de travessia de 50 minutos para 1h40min – , inviabilizando o funcionamento de diversas atividades e serviços públicos essenciais na Ilha, como escolas, creche e hospital. Nos fins de semana, a modificação seria ainda mais drástica, com redução de 50% das viagens, de 24 para apenas 12.

26 DEZ 2019 Às 19:30, realiza-se a 1ª Assembleia Geral dos Moradores para tratar do assunto, com uma marca histórica de cerca de 500 moradores presentes. A super lotação faz com que a maior assembleia de que se tem notícia na ilha seja transferida do Salão Paroquial para dentro da Igreja Bom Jesus do Monte, onde é aprovada, por unanimidade, a realização de um grande ato público no dia 29/12/2019. O Ato daria apoio à comitiva (formada pela MORENA e por moradores voluntários) que iria neste dia entrar com pedido de liminar, no Plantão Judiciário, para sustar a possibilidade de implantação da nova grade. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro se apresenta, na figura de seu Ouvidor Geral, Guilherme Pimentel, e da defensora Maria Júlia Baltar, da Assessoria Parlamentar da DP. Em fala pública na Assembleia, ambos colocam-se à disposição dos moradores para ajudarem a resolver a situação. Um abaixo-assinado em repúdio à nova grade da CCR é apresentado e aprovado na Assembleia e passa a circular na ilha. Em três dias, atinge mais de mil assinaturas. 27 DEZ 2019 A ALERJ, por meio da Comissão de Transportes, oficia à AGETRANSP, que notifica a CCR, sob alegação de que não foi oficialmente comunicada sobre a alteração na grade pela concessionária. A CCR é, então, obrigada a adiar a implantação da nova grade de horários para o dia 08 de janeiro de 2020.

Sob o título de “Medidas para melhora da eficiência operacional” (e citando uma decisão judicial), o texto da concessionária avisa que a nova grade passaria a vigorar a partir do dia 30 de dezembro de 2019. Percebe-se que as alterações já vinham sendo discutidas entre a CCR Barcas e o Estado do Rio, em processo de Rescisão da Concessão, sem que os moradores tivessem sido ouvidos ou sequer avisados das negociações.

A REAÇÃO DA POPULAÇÃO 23 DEZ 2019 A MORENA publica nota de repúdio, assinada em conjunto pelo Conselho Comunitário de Segurança (CCS) e pela XXI Região Administrativa de Paquetá (XXI RA), apontando a gravidade da medida tomada pela Concessionária CCR e deixando claro que, se implantada, a grade anunciada afetará drasticamente a população, o comércio e os turistas que frequentam a ilha. A nota reivindica a imediata revogação da medida e convoca os moradores para uma reunião emergencial no dia 26/12, às 19:30, no Salão Paroquial da Igreja Bom Jesus do Monte, em Paquetá. 26 DEZ 2019 Uma comissão formada pela MORENA e moradores associados vai ao Plantão Judiciário do Centro e consegue protocolar no Ministério Público (Direito do Consumidor) o pedido pela imediata revogação da medida anunciada pela CCR Barcas.

29 DEZ 2019 Realiza-se Ato Público em repúdio às mudanças de rota e horários impostos pela CCR Barcas, em frente à estação de Paquetá. Sob orientação da Defensoria Pública de recolher o máximo de depoimentos dos moradores, a MORENA, o CCS e a XXI RA divulgam a hashtag #respeitapaqueta, vinculada à campanha em que cada morador deve postar vídeos de até 1 minuto falando de suas dificuldades com a nova grade da CCR. 27 DEZ 2019 a 04 JAN 2020 - MORENA, CCS e XX RA mantêm contato direto com a Defensoria, enviando depoimentos de moradores, além de ofícios das Escolas, do Preventório e da Unidade de Saúde de Paquetá. A Defensora Patricia Cardoso (Coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor - Nudecon) assume a causa e, com uma equipe de mais dois defensores (Samantha Monteiro, do Núcleo de Fazenda Pública, e


Thiago Basílio, do Núcleo de Defesa do Consumidor), estuda medidas para evitar a alteração nos horários das barcas para Paquetá. MORENA, CCS e XXI RA convocam nova assembleia dos moradores para o dia 06/01/2020. A divulgação passa a contar com a ajuda voluntária de moradores que circulam pela ilha transmitindo gravação amplificada de convocação para a assembleia.

06 JAN 2020 MORENA, CCS e XX RA se reúnem com a Defensoria Pública. As recomendações dadas pela equipe de defensores são apresentadas aos moradores, no mesmo dia, durante a 2ª Assembleia Geral dos Moradores, que ocorre na Igreja Bom Jesus do Monte e conta mais uma vez com cerca de 500 pessoas. A decisão aprovada por expressiva maioria é a de apresentarmos em 20 dias uma contra-proposta de grade para a CCR, tendo por base um levantamento detalhado de impactos que a grade anunciada pela CCR trará para os moradores, trabalhadores, estudantes, comerciantes e instituições da ilha. Para a coleta dessas informações, a assembleia cria uma Comissão de Mobilização com mais de 40 voluntários. 07 JAN 2020 A CCR não considera a proposta dos moradores – de em 20 dias apresentar uma contraproposta de horários baseada em pesquisa de impactos –, e decide peticionar para que a Justiça autorize a implementação da nova grade de horários. 07 JAN 2020 A Defensoria peticiona também à Justiça, pela suspensão da alteração da grade, sob pena de multa diária de R$100.000,00. Pede ainda que o Estado do Rio de Janeiro garanta o nosso transporte com o aporte dos recursos necessários e que o juiz marque uma audiência especial entre CCR e DP. 07 JAN 2020 A CCR afixa comunicado nas estações das barcas informando que, enquanto aguardam a decisão judicial, as alterações nos horários ficam adiadas para o dia 15/01/2020.

Defensoria Pública, para o dia 15/01, para apreciar uma contraproposta de grade de horários a ser elaborada pelos moradores de Paquetá e apresentada pela Defensoria até o dia 13/01. Diante disso, MORENA, CCS e XXI RA convocam nova assembleia dos moradores para o dia 09/01/2020.

08 JAN 2020 Em função do despacho do juiz, realiza-se no Salão Paroquial a reunião da Comissão de Mobilização, na qual os presentes se organizam em dois grupos. O primeiro grupo – de Levantamento – subdivide-se nas Comissões de Pesquisa, que assumem a função de elaborar e aplicar formulários/questionários para o levantamento detalhado das necessidades dos moradores individualmente (trabalhadores, estudantes, comerciantes, pacientes em tratamento no continente etc.), assim como das instituições da ilha, tendo por base os prejuízos da nova grade apresentada pela CCR. A moradora Lia Calabre – ex-Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), pesquisadora e doutora em História com experiência no processamento de dados, se voluntaria para coordenar a tabulação e análise das informações coletadas. O segundo grupo assume a organização de um grande ato público a ser realizado na data da audiência especial (15/01), em frente ao Fórum, no centro do Rio. 09 JAN 2020 A 3ª Assembleia Geral dos Moradores ocorre na Igreja Bom Jesus do Monte, novamente com a participação expressiva de cerca de 500 pessoas. Diante da recusa da CCR em conceder o prazo de 20 dias pedido pela população para elaboração da pesquisa de impacto que embasaria uma contraproposta, encaminham-se duas possibilidades: construirmos uma contraproposta com alterações mínimas nos horários ou apresentarmos a grade atual como contraproposta. Considerando que qualqueralteração mínima iria prejudicar enormemente algum segmento da ilha, a ampla maioria aprova que a atual grade de horários, por ser já bastante restritiva, será a contraproposta dos moradores de Paquetá a ser levada à audiência especial na 7ª Vara de Fazenda Pública, no dia 15/01/2020.

07 JAN 2020 MORENA, CCS e XXI RA participam de uma reunião com o presidente da AGETRANSP, Murilo Leal, detalhando as peculiaridades que envolvem o traslado prestado pela CCR, bem como os transtornos que a nova grade de horários e a triangulação com Cocotá causarão para moradores e visitantes de Paquetá. O presidente da AGETRANSP solicita que, nos próximos dias, todos os atrasos e outras situações indevidas relacionadas às barcas sejam notificados pelos moradores, individualmente, para composição do relatório detalhado a ser elaborado pela Agência, pelo email ouvidoria@agetransp.rj.gov.br. 08 JAN 2020 O juiz tabelar Eduardo Antonio Klausner, da 7ª vara de Fazenda Pública, emite despacho determinando audiência especial entre a CCR e a

12 JAN 2020 Conforme aprovação na 3ª Assembleia Geral, realiza-se oficina de confecção de faixas e cartazes para manifestação no dia 15/01 na frente do Fórum. Primeira ação do Movimento #RespeitaPaquetá, a faixa com a hashtag é aberta na varanda fronteiriça da embarcação Ipanema e se torna a foto emblemática da nossa luta pela revogação dos novos horários impostos pela CCR para Paquetá.

13 JAN 2020 – Entrega à Defensoria do Levantamento realizado em tempo recorde pelas Comissões de Pesquisa, com mais de 400 formulários preenchidos, bem como um relatório das informações coletadas junto à unidade de saúde, às duas escolas, ao preventório, à guarda municipal e à agência bancária da ilha, e uma síntese comprovando que a grade atual já é por demais restritiva, tornando qualquer redução extremamente prejudicial para os segmentos de moradores e de instituições da ilha (SÍNTESE: http://bit.ly/2NNSKqW; TABULAÇÃO: http:// bit.ly/36eAn4O). MORENA, CCS e XXI RA convocam nova assembleia emergencial dos moradores para o dia 14/01, às 21h, na Igreja Bom Jesus, para compartilhar informações sobre a reunião realizada na Defensoria Pública e deliberar sobre estratégias para a audiência do dia 15/01. 14 JAN 2020 MORENA, CCS e XXI RA se reúnem com a Defensoria Pública e a Secretaria de Transportes (SETRANS), levando a decisão dos moradores tirada na última assembleia, assim como todas as informações processadas na pesquisa que serviram de base à essa mesma decisão. O Secretário Estadual de Transportes, Delmo Pinho, com sua equipe, apresentam aos representantes um esboço de grade (previamente aceito pela CCR) em que a triangulação com Cocotá é retirada. O esboço da Setrans – que nada propõe para o fim de semana – prevê perdas de cerca de 30% de viagens nos dias úteis, em viagens feitas por uma mesma embarcação (na ida e na volta), com intervalos médios de 3 horas entre as viagens. Não apresenta horários de chegada, o que deixa em aberto a duração da viagem e o tipo de embarcação a ser usada. A SETRANS sequer examina os documentos da pesquisa de impacto oferecidos pela população (1000 páginas de formulários, com tabulação e relatório-síntese) ignorando por completo o esforço e a reivindicação da comunidade. É dado o informe de que a reunião que aconteceria naquela tarde com o Vice-Governador, a Defensoria Pública e os representantes das entidades paquetaenses acabara de ser cancelada. 14 JAN 2020 A Defensoria Pública pede inclusão, no processo judicial em tramitação entre a CCR e o Estado do Rio de Janeiro, de mil páginas referentes aos materiais produzidos pelas Comissões de Pesquisa coordenadas pela MORENA, a partir das informações prestadas pelos moradores e instituições de Paquetá.

14 JAN 2020 Realiza-se, às 19:30, na Igreja Bom Jesus do Monte, a 4ª Assembleia Geral dos Moradores. As informações são repassadas aos cerca de 500 moradores presentes que, por imensa maioria, votam contra a apreciação do esboço apresentado pela SETRANS na véspera da audiência, avaliando a exiguidade de tempo para se avaliar e/ou se sugerir contrapropostas de maneira responsável. sugerindo a convocação de uma audiência pública para apresentar sugestões.


15 JAN 2020 Mais de 300 paquetaenses participam de Manifestação na porta do Fórum, onde ocorrerá a Audiência Especial. Portando faixas e cartazes, a população de Paquetá se pronuncia totalmente contra a grade imposta pela CCR. A Orquestra Jovem de Paquetá faz execuções musicais ao longo de todo o ato, que dura mais de quatro horas.

15 JAN 2020 Ocorre a Audiência Especial no Fórum, convocada pelo juiz Eduardo Antonio Klausner, da 7ª Vara de Fazenda Pública, com a presença da Defensoria Pública, SETRANS e CCR. Com a reunião já começada, o juiz convoca a MORENA e o CCS para participarem da reunião, mas nosso material não é apreciado. A SETRANS apresenta o esboço de grade com redução de 7 (sete) horários nos dias úteis, para possibilitar que apenas uma barca seja disposta para o trajeto PaquetáPraça XV. A CCR se mostra favorável a essa grade e apresenta como grade de final de semana a mesma grade que incluía Cocotá no trajeto, com redução de 24 para 12 viagens diretas para Paquetá. O juiz aprova a grade de horários elaborada pela SETRANS para os dias úteis e adiciona a essa grade os mesmos horários dos finais de semana que constavam na proposta anunciada pela CCR antes do natal. A Defensoria Pública luta até o fim da audiência contra essa decisão, sem sucesso, diante de um juiz determinado a dar a decisão em favor da CCR, com absoluta conivência da SETRANS – representante do governo do Estado do Rio de Janeiro e o maior responsável por essa brutal mudança de grade de horários para Paquetá. A decisão judicial também autoriza a CCR Barcas a implantar as mudanças a partir do dia 25 de janeiro.

relatório da pesquisa de impacto, chega-se à conclusão músicos, professores, trabalhadores do turismo e muitos unânime de que não há modificação razoável a ser moradores, pedindo pela revogação imediata da grade apresentada, sem que o pequeno benefício de um anunciada. segmento cause imensos prejuízos para outros. Diante da extrema limitação contida na grade, a Defensora conclui que o benefício a ser eventualmente obtido por qualquer proposta de ajustes mínimos será menos relevante do que o prejuízo de enfraquecimento trazido ao processo, que perderia interesse recursal.

16 JAN 2020 Ocorre a 5ª Assembleia Geral dos Moradores, lotando novamente a Igreja Bom Jesus do Monte. Depois que os representantes narram as conclusões tiradas na reunião com a Defensoria, a questão de elaborar ou não ajustes mínimos à grade autorizada por decisão judicial é colocada em votação, sendo aprovadas as seguintes propostas: 1) seguir a recomendação da Defensoria Pública de não apresentar as sugestões de ajustes mínimos à grade da SETRANS autorizada na decisão judicial de 15/01, para não prejudicar nenhum segmento da população da ilha em detrimento de outro, nem enfraquecer o recurso da Defensoria em relação à decisão judicial da 7ª. Vara de Fazenda Pública; 2) realizar dois novos atos públicos: 2.1) O primeiro em Paquetá, no domingo, 19/01/2020, com o objetivo de conquistar o apoio da população do Rio de Janeiro para a luta de Paquetá, com a presença de personalidades públicas que se solidarizem com nossa causa; 2.2) O segundo em frente ao Palácio Guanabara, na terça, dia 21/01/2020, para protestar contra a omissão e conivência do governador Witzel em relação à implantação da nova grade da SETRANS e CCR Barcas.

A Defensoria Pública obtém a anuência do juiz para que, num prazo de três dias, ainda tente obter pequenos ajustes na grade já autorizada, sem inclusão de novos horários, apenas adequando a hora das viagens previstas. O juiz acata, desde que esses ajustes tenham anuência da CCR. MORENA, CCS e XXI RA convocam uma nova assembleia geral dos moradores para 16/01, às 19h30, para aprovação ou não de se fazer esses ajustes mínimos na grade autorizada judicialmente, e também para a definição de novas estratégias de mobilização no novo cenário, pós-decisão judicial. 16 JAN 2020 Representantes da MORENA e do CCS comparecem à reunião na Defensoria Pública, acompanhados da pesquisadora Lia Calabre (moradora da Ilha de Paquetá que coordenou a pesquisa de impacto) para nova apreciação da grade da SETRANS, agora com objetivo de tentar elaborar uma proposta de ajustes mínimos, dentro dos limites impostos pelo juiz Eduardo Antônio Klausner na decisão judicial do dia anterior. Depois de 3 horas de uma reunião técnica, com aproveitamento minucioso dos dados contidos no

18 JAN 2020 É criada a página #RespeitaPaquetá na rede social Facebook, para divulgação dos atos organizados pela Comissão de Mobilização pela revogação dos novos horários da CCR e dos apoios obtidos entre artistas e celebridades amigas de Paquetá, bem como entre moradores e visitantes da nossa ilha. Um bloco de carnaval aporta na ilha trazendo adesivos com a hashtag do movimento, distribuídos amplamente entre a população. O Cardeal Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, vem a Paquetá para celebrar uma missa, acompanhado pela imagem de São Sebastião, padroeiro da cidade, e declara apoio à causa da revogação da grade da CCR que tantos prejuízos acena para nossa ilha.

21 JAN 2020 Ato público na frente do Palácio Guanabara, com participação massiva de moradores e amigos de Paquetá, cobrando do governador uma posição sobre o brutal impacto da nova grade da SETRANS e CCR Barcas para a vida do bairro. Uma comissão de representantes da Ilha é recebida pelo Subsecretário da Casa Civil, Carlos Alberto Lopes, pela Subsecretária de Mobilidade Urbana da SETRANS, Paula Azem, e pelo Subsecretário Militar do Gabinete de Segurança Institucional, Coronel PM Aristeu Tavares. A comissão entrega uma carta pedindo que o governador interceda na revogação da nova grade da CCR para Paquetá, e alertando sobre os riscos de segurança que a nova grade traz para os visitantes, sobretudo nos finais de semana. É acordado que, até o final da semana (24/01/2020), nova reunião será marcada entre os presentes, para apresentação de uma posição por parte do Governo do Estado. Na ilha, novos adesivos do movimento #RespeitaPaquetá são distribuídos massivamente e se tornam parte do traje dos moradores e visitantes.

23 JAN 2020 A MORENA aguarda a confirmação da reunião com os representantes do governo estadual, conforme o compromisso firmado e anunciado na reunião de terça-feira (21/01) no Palácio Guanabara. Às 20h22, diante da ausência de confirmação, a Diretoria da associação decide, em conjunto com o CCS e a XXI RA, convocar um novo ato para o dia seguinte no Palácio Guanabara, com objetivo de pressionar o Governo do Estado a apresentar uma resposta a Paquetá. Às 21:14, a MORENA recebe o convite oficial para uma reunião com o Secretário Estadual de Transportes, Delmo Pinho, e sua equipe, na sede da SETRANS.

24 JAN 2020 Ocorre o 2º Ato Público na frente do Palácio Guanabara. Entre as dezenas de moradores presentes no ato, muitos decidem acompanhar a comissão da MORENA, CCS e XXI RA até a sede da SETRANS, para a reunião marcada na noite anterior, e continuam a manifestação em frente ao prédio da 19 JAN 2020 Ato público na Praça em frente à Secretaria, em Copacabana. estação das barcas de Paquetá, com presença de


A reunião, que conta também com a presença da Defensora Patrícia Cardoso e de representante da AGETRANSP, é interrompida pelo pronunciamento do Governador Witzel anunciando em vídeo pelas redes sociais um acordo com a CCR Barcas, revogando a nova grade de horários para Paquetá. Poucas horas depois, a CCR Barcas divulga nota à imprensa desmentindo o Governador e revelando que o acordo feito consiste, tão somente, em adicionar 1 horário de ida e 1 de volta nos finais de semana, sem sequer explicitar que horários serão esses. Informa, ainda, que esta mudança será temporária e que estará em vigor por apenas 30 dias.

PAQUETÁ É SUBMETIDA À NOVA GRADE DE HORÁRIOS 25 JAN 2020 Num sábado de sol, a nova grade para Paquetá é implantada. Vários turistas que chegam para pegar a barca das 8h30 descobrem que, com os novos horários, uma barca já saiu às 7h e só há outras às 10h e 13h. Muitos desistem do passeio. A barca das 10h chega em Paquetá apinhada e vários passageiros, receosos pelo provável tumulto na volta, não se animam a descer, retornando na mesma barca, que deve partir às 11h30. Nesta barca das 11:30, a maca com um paciente de 94 anos que está sendo removido para o continente não consegue passar pela multidão, o que faz com que o senhor seja colocado em cadeira de rodas, segurando o próprio soro. Com o tumulto, a barca que deveria chegar ao continente às 12h40, só chega na Praça XV às 13h30, quando o paciente exausto, é finalmente removido.

27 JAN 2020 Cerca de 250 moradores participam da 6ª Assembleia Geral dos Moradores, a primeira após a implantação da nova grade de horários da CCR. Um dos informes principais diz respeito à nota de solidariedade da OAB(leiam nesta edição do jornal). É dado o informe, também, de que a MORENA participou, nesta mesma segunda (27/01 às 14h), de reunião na Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), com várias secretarias, Fórum de Mobilidade Urbana e Movimento Baía Viva, sobre"Barcas na Ilha do Governador e Paquetá". Informa-se que uma nova reunião foi agendada para o dia 30/01, às 11h, na SMTR, para tratar mais detalhadamente o problema envolvendo nossa ilha, com o Secretário Municipal de Transportes. Um ato inter-religioso envolvendo representantes de diferentes expressões atuantes na ilha, para fortalecimento do movimento, é proposto pelo padre Nixon e acatado por unanimidade. Durante a Assembleia, a segunda proposta aprovada foia realização de um café da manhã ("Bom Dia, Governador!") na Praça XV. É aprovada a sugestão de enviar um convite público ao governador para participar do Café da Manhã e esclarecer por que ele anunciou que nada mudaria na vida do paquetaense, para depois se calar diante da implantação da grade da CCR que tão gravemente prejudicará os moradores. A Assembleia aprova também a realização de um ato público na reabertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), dia 04/02, e forma uma comissão que percorrerá os gabinetes dos 70 deputados estaduais. Aprova-se, ainda, a formação de uma Comissão Específica de Transportes para aprofundar o entendimento do atual contrato de concessão à CCR, bem como a nova licitação anunciada pela Secretaria Estadual de Transportes; além de uma comissão para elaborar e executar um Festival #RespeitaPaquetá.

Já no fim da tarde, para retornar ao continente, quem antes podia viajar às 14h30, 16h, 17h30, 19h, 20h30, 22h e 23h30, agora tem somente as barcas das 14h30, 18h30 e 23h30. O resultado é uma quantidade enorme de pessoas na barca de 18h30 – situação que se repete no domingo, com ainda mais gente na barca: a empresa registra 1433 passageiros na embarcação Ipanema, cuja lotação máxima é de 900 passageiros sentados e 900 de pé. Idosos, crianças, gestantes e pessoas com crianças de colo enfrentam calor e desconforto durante uma hora e dez minutos para voltarem para suas casas, com muitos viajando em pé ou sentados nas escadas. O desrespeito aos turistas e a indignação com a redução de horários ficam evidentes. 26 JAN 2020 MORENA, CCS e XXI RA convocam os moradores para uma nova assembleia urgente, a ocorrer no dia seguinte, segunda-feira, 27/01, às 19:30, no Paquetá Iate Clube, para avaliar os últimos acontecimentos e definir com a população os novos passos da mobilização.

Em considerações finais, afirma-se que manter o interesse da imprensa e a cobertura jornalística favorável à Paquetá tem sido fundamental para o prosseguimento da mobilização e a pressão ao governo estadual. 30 JAN 2020 Carregando os equipamentos para o Ato-Café da Manhã ("Bom Dia, Governador!"), mais de cem moradores acordam às 4h para pegar a barca no novo horário de 5h10. O ato ocorre na Praça XV com grande adesão de moradores e passantes, tendo início às 6h30 e durando até 9h. Além da participação musical de integrantes da Orquestra Jovem de Paquetá, os manifestantes também cantam a “Marchinha da Revogação”, criada especialmente para a ocasião. Embora Governador não compareça, a cobertura jornalística é intensa, como vem sendo desde que a nova grade foi anunciada. Moradores foram entrevistados pela TV Globo (com duas entradas no Bom-Dia Rio), TV Record, SBT, Band, CBN, O Dia e G1.

30 JAN 2020 Reunião na Secretaria Municipal de Transportes, na qual são debatidos os terríveis impactos da nova grade de horários da CCR em nossa ilha. Participam, além da MORENA, representantes do Fórum Permanente de Mobilidade Urbana do Rio de Janeiro e do Movimento Baía Viva, o Secretário Municipal de Transportes, Cel Paulo Amêndola, a Gerente de Planejamento da SMTR, Eloir Faria, e o vereador Reimont, que organizou a reunião. O Secretário Municipal de Transportes se compromete a marcar uma reunião urgente com o Secretário Estadual de Transportes, além de levar ao Prefeito as demandas de Paquetá, para criação de um Grupo de Trabalho para estudar o assunto, com a participação de técnicos das duas secretarias e representantes da sociedade civil organizada de nossa ilha.

01 FEV 2020 Conforme deliberado na 6ª Assembleia Geral, ocorre o Ato inter-religioso no Paquetá Iate Clube, a partir das 17:30, com presença de representantes das igrejas Católica, Batista, Assembleia de Deus, Messiânica e Brasileira, além de lideranças espírita, budista e do candomblé. Todos na mesma mesa, numa corrente de fé, espiritualidade e amor, para fortalecer nossa ilha e a luta pelo direito de todos de ir e vir e pela revogação da nova grade de horários da CCR. O ato durou cerca de duas horas e contou com a presença de mais de 200 participantes.

ATIVIDADES PREVISTAS PARA FEVEREIRO E MAIS 03 FEV 2020 Reunião com o Conselho Tutelar em Paquetá, no Salão Paroquial. O Conselho Tutelar é responsável por zelar pelos direitos de todas as crianças e adolescentes e está somando forças com nosso movimento. Estará conosco para conversar sobre os impactos dos novos horários para os estudantes da ilha e do continente. Levaremos nosso relatório, produzido com ajuda dos pais e das escolas da ilha, e contamos com a participação de todos. 04 FEV 2020 Ato público na escadaria da ALERJ, para pressionar o parlamento estadual a se posicionar a favor dos moradores de Paquetá. Está prevista entrega de uma carta, elaborada pela comissão tirada na 6ª Assembleia Geral, aos 70 deputados estaduais do Rio de Janeiro, para reivindicar urgência na resolução dos transtornos trazidos para Paquetá com a redução dos horários das barcas. Os moradores e amigos de Paquetá irão cobrar, ainda, realização de Audiência Pública da Comissão Estadual de Transportes para discutir a situação e pedir apoio simbólico dos 70 deputados, de todos os partidos e matizes políticos, para a causa de Paquetá. Vamos solicitar que busquem caminhos legislativos para derrubar a alegada impossibilidade do governo estadual de aportar recursos para o nosso sistema aquaviário, em face do Plano de Recuperação Fiscal pactuado com o governo federal. 12 FEV 2020 Audiencia Pública na Alerj, sobre a situação da grde de horários de barcas de Paquetá, com a presença da Morena, da CCS e da XXI RA, convocação da Agetransp e da Secretaria de Transportes, e convite à CCR Barcas. DATA A DEFINIR # Festival Respeita Paquetá Evento cultural e gastronômico na ilha, com a realização também de uma Bicicletada, para buscar o apoio de todos os cariocas à nossa causa e incentivar o turismo na ilha nesses tempos sombrios da nova grade.

(Continua no próximo número...)


GALERIA RESPEITA PAQUETÁ Fotos de Washington Araujo, Ricky Goodwin, Rodney Alves, Sonia Coelho, Neusa Matos, Flávio Loureiro, Guilé Santos e outros.


GALERIA RESPEITA PAQUETÁ Fotos de Washington Araujo, Ricky Goodwin, Rodney Alves, Sonia Coelho, Neusa Matos, Flávio Loureiro, Guilé Santos e outros.



WALDERI MERCEARIA Frutas, legumes e verduras Congelados e laticínios em geral

Entregamos em domicílio Rua Coelho Rodrigues, 203

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O QUE NOS FAZ ACREDITAR QUE É POSSÍVEL VENCER! - A Defensoria continua lutando na justiça pela revogação da grade de horários que nos violenta enquanto cidadãos, assim como pelo cumprimento do contrato por parte da CCR Barcas. Nossos Defensores têm mostrado brilhantismo técnico e respeito às decisões da população organizada, sempre legitimadas nas assembleias. Estarão com a gente, aconteça o que acontecer! - Nossa mobilização tem gerado repercussão crescente em todas as mídias. Isso amplia nossa voz e aumenta a pressão sobre o poder público e judiciário. Agora, mais do que nunca, a participação de cada morador é decisiva para que conquistemos, juntos, o direito de ir e vir de todos os paquetaenses! Continue acompanhando e fortalecendo a união de todos em prol de Paquetá! - Até aqui, o engajamento de centenas de pessoas vem possibilitando que essa luta seja travada com garra, determinação, coragem e muita ousadia. A cada uma delas, toda a gratidão da MORENA, do CCS e da XXI RA. Um por todos e todos por um! Juntos somos mais fortes. #RespeitaPaquetá #revogajá MORENA – CCS – XXI RA

SABER QUEM SOMOS AJUDA NA LUTA! A pesquisa que colocou Paquetá dentro do Processo

abordadas, comparações entre a logística anterior e a anunciada e os impactos econômico-sociais das alterações nos horários das barcas. A tabulação completa da pesquisa pode ser acessada em http://bit.ly/36eAn4O

O processamento e análise de dados da pesquisa junto à comunidade e das pesquisas referentes às instituições e às crianças pequenas que estudam no continente foi realizado de forma voluntária pela moradora Lia Calabre, pesquisadora aposentada e ex-Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), doutora em História e especialista em Políticas Culturais, professora do Programa de Pós Graduação em Cultura e Territorialidades da UFF e do Programa em Memória e Acervos da FCRB, com o auxílio de três moradores voluntários de formação universitária.

NOS BASTIDORES DA AUDIÊNCIA Faz um tempinho, a CCR autuou judicialmente a Setrans e a Agetransp para ajudarem a elaborar uma nova grade de serviços das barcas (Paquetá, Cocotá, Charitas, Niterói), com redução de horários, diante do déficit financeiro auditado por empresa internacional e reconhecido pelo estado do RJ . Queriam aumentar a passagem. Vão fazê-lo em breve, mas queriam um reajuste maior. Mas, imagina, todos os passageiros unidos nessa briga! Decidiram então reduzir levemente os horários de Niterói e penalizar os mais fracos, menos numerosos, paquetaenses e moradores da Ilha do Governador. A CCR anunciou uma grade esdrúxula, que envolvia a triangulação com Cocotá e a redução dos horários, especialmente nos fins de semana. Paquetá gritou, pois era a única arma que tinha. E a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro nos ouviu. Pediu para os moradores apresentarem uma contraproposta. Em uma assembleia com 500 moradores, dissemos sim, mas pedimos 20 dias. No dia seguinte, a CCR entrou com uma petição judicial para implementar a grade esdrúxula. O juiz despachou que se apresentasse contraproposta.

Equipe da Defensoria Pública, levando a caixa com a Pesquisa de Impacto para a mesa do juiz na Audiência Especial

Sob a orientação da Defensoria Pública – e diante da necessidade de entender quais seriam os impactos causados à população pela grade da CCR anunciada no dia 23 de dezembro de 2019 –, a Associação de Moradores da Ilha de Paquetá (em conjunto com o CCS e XXI RA) organizou uma pesquisa com objetivo de embasar a nossa defesa diante da CCR-Barcas e do Governo do Estado. Realizada com e para os moradores – com consultoria técnica da pesquisadora Lia Calabre –, a pesquisa acabou refletindo a força do movimento popular, com participação voluntária intensa e organizada da população, das instituições e dos frequentadores de Paquetá.

Um jogo que já jogamos e perdemos, pois as regras nunca foram claras para nós, moradores. Nossa contraproposta foi a grade atual, que já foi fruto de negociação em 2014/2015, custando caro para o tecido social de Paquetá. Recusamos rifar horários preciosos para uns e menos danosos para outros. Preferimos comprovar a impossibilidade de alteração do horário já bastante restritivo ao qual nos adaptamos (moradores, trabalhadores, estudantes, comércio e instituições de saúde, educação, segurança etc). Com ajuda da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, produzimos em 4 dias essa comprovação, que foi anexada aos autos do processo que, até então, só envolvia a CCR e o Governo do Estado.

A íntegra do documento que sintetiza os resultados da pesquisa pode ser acessada através do endereço http:// bit.ly/2NNSKqW

O governo - que, junto com a Agetransp, se negara a incidir sobre a situação - apresentou um dia antes da audiência uma proposta de grade alternativa, construída junto com a CCR, e que segundo seus advogados reduziria igualmente o valor calculado de economia em relação à grade inicial (o que sabemos em relação à economia de um ou dois horários, logística, custos etc?). Nessa grade da Setrans, retirou-se a triangulação com Cocotá, proposta absurda que faria os moradores de Paquetá penarem quase duas horas para fazerem o traslado de 17 km até a Praça XV (que atualmente já leva cerca de 50 minutos). Mas era uma proposta inacabada, sem nada que se referisse aos fins de semana, quando os visitantes podem acessar o bairro turístico. Foi essa grade, incompleta, pensada nos 45 minutos do segundo tempo, a contraproposta analisada pelo juiz.

Ali estão detalhes da metodologia empregada, a classificação dos grupos de usuários, as instituições

Não imaginávamos que o juiz fosse nos enxergar com tamanho desrespeito. De sua boca, saíram frases como

Além dos resultados técnicos, esse trabalho nos mostrou mais. Mostrou que entender melhor quem somos e do que precisamos nos fortalece como comunidade. Mostrou que uma comunidade que, literalmente, navega na mesma barca não deve aceitar deixar ninguém do outro lado da roleta.

"quer ter o privilégio de morar em Paquetá? É assim mesmo. A empresa poderia alegar falência e vocês não teriam nenhum horário de barca". "Trabalhadores de saúde e educação que atuam em Paquetá deixarão os serviços? Haverá quem os substitua, o desemprego está grande." "Quem trabalha no continente terá que pegar a barca 5:10 e voltar as 20:50? Eu, quando comecei a trabalhar, também saía as 5h da manhã de casa para pegar o ônibus". “Pessoas infartadas viajam de barca para serem atendidas no continente? Ah, ambulancha, helicóptero, sei lá! Se virem! O importante é aprovar isso hoje!" A associação de moradores pediu 3 dias. "Hoje!" "Por favor, analise os nossos documentos comprovando a inviabilidade!" "Hoje" "Vossa excelência irá acabar com a economia da ilha, os serviços públicos, contribuir para o desemprego, os estudos dos moradores de Paquetá ..." "HOJE!!!!!" E assim, ficamos mais uma vez invisibilizados. Andamos para trás na conquista de mobilidade para os moradores e de tornar Paquetá uma ilha acessível para o turismo. Mas, como diz Candeia, se houver tristeza, que seja bonita, pois tristeza feia o poeta não gosta! Vamos continuar lutando, Paquetá, acima de tudo, merece!

Ialê Falleiros - integrante da diretoria da MORENA Eu estava lá na audiência e vi e senti a enorme pressão que fizeram contra Paquetá, durante nada menos que três horas (de 15 às 18h). Não nos reconhecem como bairro, não nos reconhecem como pessoas. Eles não nos reconhecerem não me espanta, me espanta nós não nos reconhecermos. Ouvi falar de não apresentação de contraproposta, mas a contraproposta foi a grade atual definida em assembleia, quem não foi referendou a decisão dos 500. Fiz o tal exercício do horário e lancei umas seis modificações que realmente alteraram no máximo 30 minutos (e mesmo assim no horário do fim de semana, pois durante a semana só consegui mexer 15 minutos) e sem a garantia de aceite por parte deles. As associações comunitárias procuraram uma especialista que com mais 39 pessoas tentaram mexer na grade e não deu para fazer de forma minimamente satisfatória. Sabemos que essa briga pode durar bastante tempo e podemos ter que conviver com essa grade esdrúxula por igual período, mas outras portas (pressão política através de deputados, comoção popular...) estão abertas. PAQUETA NÃO É LUXO, NÃO É LIXO, SOMOS LUTA! Paz e bem!!!!

Ana Paula Nog. Alencar - advogada e associada da MORENA Eu estava presente na audiência e posso afirmar que a Defensora Patrícia expôs toda a situação ao juiz para pedir mais tempo a fim de possibilitar a divulgação da grade de horários, sem a triangulação em Cocotá, elaborada na véspera da audiência pela SETRANS e mesmo assim o juiz mostrou-se insensível com o pedido de mais um prazo (de uma semana), para que pudesse orientar a MORENA corretamente sobre as opções postas na mesa, a fim de que trouxessem para uma assembleia toda essa situação de forma clara e exata e decidissem, enfim, se apresentariam uma contraproposta ou pugnariam pela manutenção da grade vigente. Cabe acrescentar um detalhe relevante: a Barcas SA, por seus advogados, foram firmes em afirmar expressamente ao juiz que, ou seria a grade apresentada pela SETRANS na audiência, ou seria aquela anteriormente divulgada, com triangulação em Cocotá, e que não estavam abertos a qualquer negociação de aumento de viagens ou de horários que implicasse no uso de mais uma barca.

Ricardo Bichara - advogado e associado da MORENA


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16 FEV

P AQ UE T Á


Amandio

Paquetá, um bairro que não dá lucro Zeca Ferreira Há algo de precioso na psicologia de uma ilha, potencializado ainda no nosso caso, quando a ilha é uma espécie de satélite flutuante de uma grande metrópole. Um lugar completamente fora do tempo, do ritmo acelerado da cidade, dos carros, do lucro. Paquetá não tem carros, e, ao que parece, Paquetá não dá lucro. Ainda assim, tão distante do Rio de Janeiro quanto um bairro poderia ser, estamos há apenas 17 km do seu centro nervoso, somos o passado e um futuro possível da cidade que já foi - e quem sabe ainda volte a ser – maravilhosa. Somos um poderoso espelho de tempos distantes, temos vocação pra utopia, ainda que sob a enganosa aparência de decadência. Somos a cidade maravilhosa na essência, negando a maquiagem da aparência. E com tudo isso, ou talvez por tudo isso, fomos condenados. A empresa que ganhou de um juíz o direito de legislar sobre nossos horários, sobre nossos ires e vires, quer nos penalizar com uma morte rápida, mas nós resolvemos não aceitar. Os antigos charreteiros de Paquetá hoje dirigem modernos carrinhos elétricos. Seus cavalos de estimação foram trocados por baterias que morrem a cada par de anos. Adquiriram novas, coisa de 8 mil reais o kit, e agora não se sabe como será possível pagar o prejuízo de morar em um bairro que não dá lucro. O pequeno e suado lucro diário dos nossos amigos condutores já caiu a menos da metade só nesses primeiros quatro dias de implantação da nova grade, assim como os restaurantes, o comércio ambulante e todo tipo de pequeno negócio pela ilha. Por isso nossa luta é utópica mas tambem é urgente. Mas o que significa o pequeno lucro de um charreteiro elétrico diante dos 7 milhões mensais que a empresa que agora governa os nossos relógios alega perder todos os meses levando e trazendo as pessoas para o nosso bairro? Os bairros agora, como os bancos públicos, os hospitais, as escolas, precisam dar lucro. Vou repetir a frase que está apontada para nossas cabeças, tal qual uma arminha de dedo: bairros agora precisam dar lucro. Sempre disse que Paquetá poderia bem ser um laboratório de políticas públicas: nosso transporte, nossa escola, nossos cuidados médicos, nossa segurança, tudo nosso depende do público. E quando o setor público não ajuda, compensamos no amor, pois o amor pela ilha sempre foi o fiel da balança entre lucros e prejuízos terrenos. Mas se um país decide que políticas públicas devem sucumbir à lógica do lucro, faz todo sentido que sejamos atacados como estamos sendo. Todas essas mal traçadas linhas aí em cima são pra explicar porque a morte do meu bairro é o começo da morte definitiva da cidade, do estado e do país. Nossa luta parece pequenina mas é uma luta grandiosa, pois é a luta pela vida, simplesmente. Se Paquetá morrer, morre o futuro. (Logo Paquetá, que parece um pedaço mal conservado do passado) Paquetá é o futuro, o único no qual eu acredito. Não vamos morrer, e só vamos até o fim pra poder começar tudo de novo.

Paquetá, a Bacurau bucólica, desafia a fria lei da oferta e da procura Luiz Fernando Vianna Começou a valer no dia 25/01 a nova escala das barcas que fazem a travessia entre a Praça Quinze, no centro do Rio de Janeiro, e Paquetá. A mudança prejudica os cerca de 5 mil moradores da ilha e reflete como o patrimônio material das empresas se sobrepõe ao patrimônio imaterial das cidades. Apesar do mau cheiro da baía de Guanabara, Paquetá mantém seu ar bucólico. Não há carros, não há asfalto, quase não há crimes. É escolhida por artistas e outras pessoas que buscam uma alternativa à vida sôfrega das grandes cidades. Foi cenário do romance A moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, e ainda é de namoros e casamentos, de rodas de samba e de choro. Formalmente, é um bairro do Rio, mas o prefeito Marcelo Crivella ainda não se manifestou sobre o que está acontecendo. Em 23 de dezembro passado, com a atenção das pessoas voltadas para as festas de fim de ano, a CCR Barcas anunciou que mudaria a grade de viagens. Nos dias úteis, o número de embarcações trafegando nos dois sentidos cairia de 22 para 15. Nos fins de semana, de 25 para 12. Nas palavras da CCR, as mudanças são “medidas para melhoria da eficiência operacional”. Embora os moradores de Paquetá não se sintam beneficiados por essa eficiência, a 6ª Vara de Fazenda Pública acolheu as alegações da concessionária. Ainda no jargão da CCR, é preciso “adequar a oferta à demanda, reduzindo os impactos da crise financeira e na busca de um modelo mais sustentável na prestação de serviço de transporte aquaviário”. Sob o palavrório vazio, há um jogo profissional. A concessionária moveu as peças pedindo à Justiça o pior cenário para os cidadãos que dependem das barcas: não haveria mais a linha direta Rio-Paquetá. Seria preciso fazer uma triangulação com Cocotá, na Ilha do Governador. Quem levava 50 minutos passaria a levar duas horas. Como a empresa sabia que aconteceria, a Secretaria Estadual de Transportes e a Justiça disseram não à proposta. Já havia outra pronta, esta que começou a valer no dia 25. Embora ex-juiz, o governador Wilson Witzel fez que ignorou a decisão judicial e afirmou na sexta (24) que nada mudaria. A CCR já tinha outra carta na manga: dois “horários alternativos” para a redução dos serviços não ser tão drástica. Fez-se mágica: em vez de cortar horários, ela estaria acrescentando dois.

Mais um lance surgiu no sábado, em nota da concessionária: as tais viagens extras “poderão ser mantidas por um período maior caso haja a percepção de que o governo estadual está se movimentando e avançando nas tratativas para atenuar os prejuízos”. Fez pressão — para não usar outra palavra. Segundo a CCR, o estado lhe deve R$ 1,4 bilhão, e os prejuízos mensais estariam na casa dos R$ 7 milhões. No duelo de notas à imprensa, a Secretaria de Transportes comunicou que está preparando nova licitação para determinar a quem caberá a operação das barcas. Fez pressão de volta. Há cheiro de queimado nesse jogo de profissionais. Pode ser que as duas partes cheguem a um acordo e que os cidadãos continuem arcando com o prejuízo. O tempo dirá. Os moradores têm contado com o auxílio da Defensoria Pública e prometem resistir. Fizeram manifestações em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, e receberam vídeos de apoio do arcebispo do Rio, cardeal Dom Orani Tempesta, de Chico Buarque — sua irmã Cristina mora na ilha — e outros. “Estamos irredutíveis. Dizem que somos a nova Bacurau”, disse a professora Alessandra Bruno, de 45 anos, brincando mas indignada. “Querem matar a ilha. A economia é feita de pequenos comércios, que dependem do turismo. Com os novos horários, o movimento vai diminuir muito.” Com o aumento do espaço entre as viagens, quem perder na Praça Quinze a barca das 7 horas, no fim de semana, só poderá viajar às 10 hora. Quem perder essa, só às 13 horas. Quem não voltar às 14 horas só poderá voltar às 18 horas. Nos dias úteis, criaram-se enormes buracos. As primeiras saídas de Paquetá, por exemplo, passaram a ser às 5h10m, às 7h40m, às 10h50m e às 14h30m. A maioria dos moradores trabalha, ao menos parte do tempo, no Rio. Alessandra Bruno leva sua filha Helena, de 8 anos e que tem autismo, para estudar e fazer terapias na cidade. As alterações nos horários podem forçar a família a voltar a morar no Rio, perdendo o sossego que é benéfico para a menina. (obs do editor: esta família já se mudou, deixando uma casa de dois andares com quintal para morar numa quitinete) Há nas redes sociais o movimento de protesto Respeita Paquetá, mas também existe no Facebook a página Desapega Paquetá, em que pessoas anunciam que, por causa da mudança na escala das barcas e para manter seus empregos, terão de deixar a ilha. As professoras que trabalham nas escolas e na creche de Paquetá vivem no Rio e também serão prejudicadas — assim como as crianças que dependem delas. Se tudo isso acontecer, oferta e demanda estarão afinadas, mas pelo caminho inverso: com menos gente dependendo das barcas, menos barcas serão necessárias. Como se disse, é jogo profissional.

(Publicado originalmente no site da revista ÉPOCA)


crônicas de paquetá A VIDA É COMO ELA É Julio Marques

Quando comecei a escrever crônicas no jornal pensei que só eu fantasiava esta Ilha. Não percebia que a Ilha é a própria fantasia. Os fanfarrões gananciosos, atrás de mais dinheiro que não tem aonde pôr (cuidado que o dólar pode virar pó), e os imperadores da lei, tropeçando no próprio estilo, se pensando elegantes e não passando de gigolôs infantis, não podem derrubar a Ilha e suas delicias, nenhum deles por mais que tentem. Nós vamos em frente e ao nosso lado caminham Villegaignon, os Tamoios e Anacleto. Luares nos acalentam e vamos ganhar de goleada desses bobalhões. Sei que às vezes nos vem um sentimento de derrota. É compreensível, mas não há como perder porque somos feitos de muitos sonhos e sonhos são duros como aço. Há quem pense que já fomos melhores quando Paquetá tinha águas translúcidas e menos bicicletas elétricas. Talvez fosse mais bonita quando as ruas eram de saibro e as crianças

brincavam na Furquim. Isso talvez seja verdade embora as crianças continuem a brincar nas ruas e praias e minha própria neta é um exemplo disso. O tempo vai modificando as coisas e nem mesmo quando as refinarias derramaram óleo na baia conseguiram acabar com a magia da Ilha. Somos sempre encantadores, sempre encantamos, sempre fomos encantados. Sempre haverá Nega Luiza, Birulinha, Claudio Marcelo, Silvio da Marília e Wanderley, nosso mestre- cozinheiro, todos desfilando nas nossas ruas, nas praias dos Coqueiros e de S.Roque, nas pedras jogadas no mar. Mesmo que tirem nossas coisas nós recolocamos. Como são bobos nossos inimigos. E como temos amigos. Não falo só dos que vivem aqui, convivendo nos mesmos mercados, no mesmo hospital. Aqui, onde a solidariedade tem morada, todos, bem ou mal, se falam.

Eu mesmo de alguns não gosto, prefiro não conviver, mas reconheço suas qualidades e defeitos e tropeço neles todos os dias sabendo que, no cotidiano, fazem parte da minha vida. . Mas queria dizer dos amigos que não conheço, mas que se irmanam conosco no amor a essa Ilha. Gente que tem memória afetiva da infância, mesmo de um passeio inesquecível, brincando pelas ruas, namorando debaixo dos flamboyant, admirando sem medo o céu imenso e sendo feliz. Estamos todos junto nessa luta contra os que, por caráter duvidoso, querem

mais dinheiro pensando garantir sua felicidade. Essa nós temos de graça. E sempre temos quem substitua os que se vão. Sylvio de Oliveira, fundador desse Jornal e ex-presidente da Morena, se foi e veio o Alfredo, a Ialê, a Conceição, o Guto, o Mario Jorge, o Fernando e tantos mais, mais novos e talvez melhores. Assim é Paquetá. JULIO - Daqui não saio, daqui ninguém me tira e certo que ganharemos, que nunca deixaremos de ser a Ilha da Guanabara, a Perola da baia que transforma tudo em pedras preciosas

Agradecemos às personalidades que deram depoimentos em solidariedade com a população de Paquetá: Ana Decker * Andrea Dutra * Angela Vieira * Bete Mendes * Carla Camuratti * Carlinhos Vergueiro * Chamon * Chico Alencar * Chico Buarque * Chico Diaz * Claudio Jorge * Cristina Pereira * Daniela Spielmann * Edino e Neném Krieger * Fhernanda Fernandes * Fernando Leitzke * Fernando Pereira * Gabriel Cavalcante * Don Orani Tempesta * Afonsinho * Hidelgard Angel * Jorge Jerônimo * Marcelo Santois * Paula Saldanha * Violeta Reis * Flávio Gomes Fox Esportes * Gregório Duvivier * Guinga * Hermínio Bello de Carvalho * Ines Peixoto * Isabela Garcia * João Senise * Leandro Braga * Leila Pinheiro * Humberto Carrão * Letrux * Maria Teresa Madeira * Moacyr Luz * Monica Salmaso * Mauro Senise * Nina Jô * Nina Wirttti * Moacyr Luz * Paula Saldanha * Paulo César Grande * Renato Braz * Roberto Didio * Simone Lial * Soraya Ravenle * Tim Rescala * Teresa Cristina * Moyses Marques * Paulinho Moska * Terreiro Grande * * Zezé Motta * Zélia Duncan e muitos outros. Agradecemos às pessoas que vivem fora de Paquetá (ou do Rio) e que mandam mensagens, que nos param na rua para passar palavras de conforto e ânimo, que estão vindo às nossas manifestações e que estão assinando nossas nossas petições virtuais. Paquetá pede apenas: RESPEITO!


FALA PAQUETÁ !! Horário péssimo, totalmente desengonçado, não sei quem foi o falta de inteligência que inventou esses horários e os colocou em prática, esse infeliz, não deve ser carioca e também nunca veio à Paquetá, muito menos ter cérebro pra idealizar uma coisa tão inviável. Absurdo, que Deus possa nos confortar. Sonia Santos Vou ter que me mudar da ilha. Tenho dois filhos que estudam no Rio de Janeiro: um no Pedro II, na Marechal Floriano, e outro na Fiocruz, em Manguinhos. Com o horário de 5:10 eles chegam muito cedo e tem que ficar esperando o colégio abrir, vulneráveis a assaltos e violências no Rio de Janeiro. Fora que os intervalos agora são de três em três horas. Tenho uma mãe com mal de Alzheimer, ela pode ter problemas de urgência, ela pode precisar ir ao médico de emergência e ter que esperar muito.. E fora os animais que eu tenho: se tiver uma emergência grande, como vou fazer? Helayne Ficou péssimo! Tenho uma filha de 5 anos que estuda de 8:00 às 16:30, em Botafogo. Com a nova grade ela irá passar a descer na barca de 05:10 da manhã. Isso significa que irá acordar às 04:15 da manhã e eu às 03:45h. Quando chegarmos na Praça XV terei que ficar com ela no meio da rua até 07:45h. E quando estiver chovendo? Na volta como acabaram com a barca de 17:30 ela só consegue voltar na barca de 18:30. Isso quer dizer que ela irá aguardar 2 horas para embarcar... sem falar que vai chegar em casa por volta de 19:40 para poder tomar banho, jantar, fazer as tarefas de casa e dormir.... Outra coisa é o fim de semana. No sábado após a mudança, ela tinha um aniversário para ir no Leblon de 15:00 às 18:00, isso significou descer na barca de 11:30 e ficar fazendo hora na rua e voltar na barca de 22:00... Flora Is Trabalho como segurança em Copacabana. Como largo do serviço às dez horas da noite, não dá para pegar a última barca para Paquetá, que sai justamente às dez horas. Então fico lá num canto, pernoitando, aí quando é três horas da manhã saio e pego um ônibus. Chego na Praça XV para pegar a barca ás quatro horas da manhã pra ir pra casa, descansar um pouco e quando é 10:50 voltar de novo pro trabalho. Fernando Quero a barca de 6:30 de volta !!! Não consigo chegar cedo no trabalho, agora só se descer 5:10 mas aí terei que vagar na rua até dar o horário! Quero a grade antiga de volta !!! Catherine Gallois Meu esposo trabalha no Rio e descia da barca de 6:30e voltava as 17:30, agora ele tem que ir às 5:10e voltar às 18:30 ou seja o cansaço é enorme Miriam Gomes Essa grade é desumana. Minha filha vai ter que sair comigo para pegar uma barca às 5:10 da manhã e só entrar na escola às 8:00. O horário de 6:30 foi cortado e o horáro de 5:30 foi antecipado. Vou ter que ficar fazendo hora com ela pela cidade. A outra opção seria pegar a barca das 7:40, chegando na escola com mais de uma hora de atraso. Isis Sou professor, trabalho o dia inteiro em pé, e vou ter pouquíssimas horas de sono e para preparar minhas aulas. Vou ter que me mudar com minha família inteira para o continente por conta desse absurdo que fizeram. Vai ser um gasto imenso, sem falar que vou ter que viver de aluguel, enquanto em Paquetá tenho casa própria. Muitos moradores de Paquetá estão na mesma situação do que eu, indo embora, precisando ter gastos extras. Com essa falta de governança no Rio de Janeiro, fazem o que querem com o povo. Bruno

Ilustrações de AMANDIO

Este horário está muito ruim, estou preocupada com a escola de Paquetá, pois meus filhos estudam nela e muitos professores não vão poder vir. Quando vou trabalhar agora fico até quase 2 horas em pé aguardando o horário de entrar. Fora que perdi meu tratamento pois preciso voltar na barca das 16:00. Isso além de minha preocupação do que o desemprego possa gerar em nossa Ilha por falta de turismo. Ciliane Souza Marcello Minhas netas moram em Paquetá e quando vou lá no final de semana voltava na de 20:00 agora só 23:30, vou chegar na minha casa de madrugada, Fátima Vieira Minha profissão no momento é ser mãe fulltime: não trabalho fora, só tenho, neste momento, que me dedicar ao pequeno. Na antiga grade, quando eu precisava ir ao continente deixava ele na escola às 8h e tomava a barca de 9h30 para o continente onde eu ia ao meu banco, pagava contas, ia à farmácia e, o mais importante, fazia compras! Fazia minhas compras e retornava para pegar a barca de 13h20 (com folga) para pegar meu bebê que saía da escola às 14h45. Tudo isso sem tumulto. Se a barca desenvolvesse bem o trajeto, dava tempo de guardar as compras, comer e buscar meu pequeno. Hoje, tive de tomar a barca de 10h50 para fazer essa rotina, até pra testar se ia funcionar. NÃO FUNCIONOU. Não fiz nada demais: não passei no banco e nem fui a outros estabelecimentos. Fui DIRETO pro supermercado e NÃO CONSEGUI REALIZAR MINHAS COMPRAS À TEMPO DE PEGAR A BARCA DE 13H30! Mesmo comprando menos e otimizando a lista, só consegui sair do caixa às 13h40. E por quê? Porque cheguei às 12h à Praça XV e só tinha, a partir desse momento,1h20 para realizar minhas compras! Antes eu dispunha de um pouco mais de 2hs de intervalo para resolver tudo e voltar a tempo de pegar meu filho na escola. Agora só pude voltar na barca de 16h! Ainda bem que a única coisa gelada que comprei foi manteiga e iogurte natural (nem vou comentar o estado da manteiga que derreteu durante às 1h58m que gastei esperando a próxima barca)... Não posso mais nem sequer resolver coisas corriqueiras da casa porque NÃO TEREI TEMPO!?! Serei obrigada a arrastar meu filho por onde for para não deixá-lo sozinho??! Sério: quem foi o LOGÍSTICO DE MERDA que projetou essa grade!?! Gigi Rodrigues (depoimento condensado por motivos de espaço no jornal) Dou aulas no continente duas vezes por semana. Pegava a barca de 9:30h para começar às 11:15h, em Vila Isabel. Agora, que a CCR mudou drasticamente a grade, precisarei ficar duas horas pela cidade, para só depois ir dar as aulas de teoria e violão no Lar Fabiano de Cristo onde sou voluntária há 10 anos. Irinea Maria Ribeiro

Trabalho com transportes, sou ecotaxista, e com esse quadro de horários que a CCR impôs aos moradores vai ficar difícil de sobreviver. Vou ter que mudar da ilha, muito a contragosto – moro aqui há 7 anos - mas vai ficar inviável o sustento da minha família. Djane Fomos muito prejudicados, a tendência é o Iate Clube fechar as portas em breve. Essa constatação não é só minha, é de praticamente todo o comércio de Paquetá. Eu atendia 60 mesas nos fins de semana. No primeiro fim de semana com menos barcas, foram menos de cinco mesas. Nós estamos assustados, e os turistas não têm previsão de horário para voltar para casa, então eles não vêm. Marcos Silveira Resido em Paquetá há dois anos com meu esposo e nossas duas filhas. Com a nova implantação da grade que nos foi imposta pela CCR se torna inviável continuar morando aqui. Meu marido terá que sair de casa às cinco da manhã e só retornar às dez da noite. Não teria convívio com nossas filhas. Eu também terei que chegar uma hora e meia mais tarde do trabalho. É o caso de mudar totalmente a nossa vida, sem planejamento, tendo gastos que não temos condição de pagar. Essa grade é inviável mas é inviável também mudar a vida da família inteira por conta de uma implantação imposta. Aline Essa mudança de horários acabou com tudo que estava programado. Faço curso em Niterói. Eu pegava a barca das 16:30 para chegar no meu curso às 18:00. Na volta, vinha às 22:15. Tudo se encaixava. Agora tenho que pegar a barca da 14:30, chegar no Rio às 15:30 e esperar um tempão na rua até começar minha aula. Na volta tenho que vir na barca das 23:10. Saio muito mais cedo e volto mais tarde. Minha produtividade vai cair por conta disso. Tenho várias amigas que também estão sendo prejudicadas, por trabalharem em shopping ou fazerem faculdade à noite. Vitória Paquetá é um dos principais destinos turísticos do Rio de Janeiro, mas nesse momento está sendo aviltada. Sofre com um terror estatal. As decisões tomadas pela concessionária, a Setrans e o Governo do Estado impõem obstáculos que deixam a população com pavor. Seria o mesmo que se a Cedae dissesse que não tem lucro operacional em Paquetá e passasse a diminuir a água que fornece. Mas acredito que o Governo irá cumprir o seu papel que é ó de administrar os recursos para os quais seus cidadãos contribuem, buscando os melhores serviços para a população. Pastor Ronaldo Tenho 79 anos e faço tratamento no Rio. Com essa mudança de horários não poderei continuar esse tratamento. Ai... como vou fazer? Não prejudica só a mim como a outras pessoas que precisam ir ao Rio para tratamento médico. Itacira Temos um amigo que mora aqui num prédio de apartamentos. TODOS os demais moradores se mudaram, foram embora, com a implantação da nova grade, que impossibilita que trabalhem, estudem, ou mantenham outros compromissos no resto da cidade. Ele agora vive num prédio deserto, fantasma, sozinho, rodeado pelas ausências. Logo estaremos vivendo num bairro fantasma. Ricky Goodwin O que acontece em Paquetá é um crime por motivo banal. O governo do estado deve a uma grande empresa, que, em represália, resolve matar um bairro. Zeca Ferreira


Ano VII - n 72 - fevereiro de 2020 Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro

1. Há seis anos este Jornal A ILHA publica neste espaço o horário das barcas, no intuito de prestar apoio aos turistas que nos visitam e também aos moradores que guardam o jornal para ter essas informações. Mas neste número nos recusamos a publicar a grade da CCR/Setrans, um horário do qual discordamos com veemência , um horário que nos violenta , que nos foi empurrada goela abaixo por uma corporação, unilateralmente , sem considerar as demandas do bairro à qual atende , movida por seus próprios interesses financeiros (ou nos usando como forma de pressão sobre as autoridades estaduais). Não podemos coadunar com essa vergonha cruel . Vidas valem mais que planilhas. 2. Durante a existência deste jornal nunca tivemos um assunto que mexesse tanto com Paquetá e que afetasse a TODOS os moradores (mesmo aos avestruzes). Por isto preparamos esta edição especial , de tema único, para noticiar uma parcela dos acontecimentos das últimas semanas. E mesmo assim são tantos fatos, com tanta velocidade , que quando o jornal chegar muito terá mudado. Mas queremos deixar o registro histórico desses dias em que Paquetá , uma pequena ilha , no fundo de uma baía , se agigantou e trovejou: AQUI NÃO, VIOLÃO!


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