16ª Edição

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30 Anos NEF/AAC N.º

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| X Congresso Científico NEF/AAC

Doenças Raras e Medicamentos Orfãos pág. 07

Farmácia do Ano pág. 11

Académica Start UC “(...) tema controverso em Portugal. No entanto, o mesmo é vital para a criação de emprego e novas oportunidades.” pág. 15

A FFUC Investiga

Cristais Farmacêuticos de Bexarotene

pág. 17

Jornal do Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra - NEF/AAC


Ficha Técnica

Jornal O Pilão”

Mensagem do Presidente Caros leitores,

C

om trinta anos de história, o Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra é pautado por uma génese que prevalece ano após ano. A defesa intransigente dos direitos dos estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra é a grande força motriz de gerações de dirigentes associativos do NEF/AAC.

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra (NEF/AAC) Faculdade de Farmácia Universidade de Coimbra Pólo das Ciências da Saúde Azinhaga de Santa Comba 3000-548 Coimbra www.nefaac.pt www.facebook.com/nefaacoimbra geral@nefaac.pt jornal@nefaac.pt

Direção João Dias

Direção Editorial

Carla Pereira e Tânia Baptista Carla Pereira e Tânia Baptista

Redação

André Ribeiro, Carla Pereira, Carolina Maia, Cátia Almeida, Cristiana Fontes, Elisa Silva, Joana Diogo, Rodrigo Dias Almeida e Tânia Baptista

Colaboraram nesta edição

Maria Aquino, Carolina Ferreira, Márcia Franco, João Ferreira

Tiragem

400 exemplares Distribuição gratuita

Apoio Instituicional

Ordem dos Farmacêuticos, Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra

Patrocinadores

Plural - Cooperativa Farmacêutica, CRL ANF - Associação Nacional das Farmácias Edição redigida segundo o novo acordo ortográfico

O Núcleo mais antigo da Academia tem na 16ª edição do Jornal “O Pilão” a escrita dos artigos que celebram um número redondo no legado irreverente e contestatário de uma estrutura que acompanha as mudanças constantes do setor farmacêutico. Assim, torna-se essencial conceder aos estudantes as valências necessárias para encarar um mercado de trabalho instável que tem nos futuros jovens profissionais vindos da FFUC, a energia e dedicação para alicerçar um setor em transformação. Para finalizar, lanço o repto de idealizarmos o futuro, recordando o passado. O NEF/AAC é a estrutura construída por todos e para todos com o desígnio de defender os superiores interesses dos estudantes da FFUC. Que doravante os fundamentos se mantenham e a atualização seja um ponto basilar. Continuemos a construir a nossa casa nos próximos 30 anos!

Editorial Caros leitores, O Pelouro Jornal “O Pilão” tem o privilégio de apresentar a 16ª Edição d’O Pilão! Nesta edição presenteamos os nossos leitores com as habituais rúbricas do Caloiro vs Finalista e do Perfil do Professor, com o Professor Doutor João Canotilho Lage. Aumentamos o nosso conhecimeno com o X Congresso Científico NEF/AAC, passando depois para os Colégios de Especialidade da Ordem dos Farmacêuticos. Depois seguimos à descoberta da oferta curricular farmacêutica noutros países com Ciências Farmacêuticas: um universo além fronteiras e daqui partimos para a Farmácia Moreno, no Porto, vencedora de um Prémio Almofariz 2016. Vira-se mais uma página e abre-se mais uma janela, desta vez com as comemorações dos 30 anos do NEF/AAC em cronologia e com uma entrevista ao Dr. Paulo Fernandes, Presidente do NEF/ AAC entre 2005 e 2007 e Presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra em 2007. Inspirados por esta personalidade partimos para o empreendorismo com a Académica Start UC. Encontramos também o Doutor Nuno Mendonça, que nos guia pelo caminho entre a investigação e o mercado, passando depois para a investigação da FFUC, onde vamos explorar uma das novas patentes conseguidas por investigadores desta nossa casa-mãe, e por estarmos na FFUC, o Espaço Pedagógico, apresenta-nos toda a logística sobre os doutoramentos na mesma. De seguida, o nosso lado solidário surge com a Associação de Paralesia Cerebral, sendo audível durante toda esta viagem uma música fundo interpretada pelos grupos académicos da FFUC, devidamente apresentados. É tempo de nos mantermos saudáveis com o Espaço Saúde e Alimentação e de aprendermos a construir uma boa carta de motivação. Não nos poderíamos despedir sem as últimas novidades nas Flash News, e algum entretenimento com o Phartoon e o seu caráter humorístico, e palavras cruzadas para te divertires. Mais uma vez, a inovação e o espírito da novidade informativa estão em força no Jornal O Pilão! Estas são algumas das caraterísticas da nossa persistente equipa. Sem todas estas mãos preciosas seria impossível chegarmos à qualidade que atualmente é levada a tantos olhos, em formato online, na página do Facebook, e na sua versão impressa. Resta-nos agradecer aos nossos pacientes e trabalhadores colaboradores, à DNEF, aos nossos familiares, amigos e aos nossos patrocinadores, todo o apoio demonstrado para esta 16ª Edição, e que continuemos toda esta forte ligação para chegarmos ainda mais longe!

Carla Pereira

Tânia Baptista

Coordenadoras do pelouro Jornal O Pilão

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O Pilão | nº 16| Novembro 2016


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Destaques Entrevista

Farmácia Pelo Mundo

“(...)o Ensino Superior é a melhor oportunidade para adquirir e aprimorar competências e qualidades, para além da mera formação profissional.”

“(...)Erasmus é ‘Ir para fora para crescer por dentro’.”

Dr. Paulo Fernandes

Ciências Farmacêuticas: Um Universo Além Fronteiras

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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Por | Carolina Maia O tema desta crónica, que tem a sua segunda aparição na 16ª Edição do Jornal ‘’O Pilão’’ é ‘A Experiência desta Latada’ por um aluno da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Vamos, por isso, ler sobre a perspetiva de uma aluna de 1º Ano e de uma aluna de 5º Ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas.

Caloira | Maria Aquino

Finalista | Carolina Ferreira

“Sonhei entrar, não te quero abandonar’’ foi a primeira frase que li quando começou a Latada, mas só entendi o sentido desta frase enquanto caloira quando percorri aquelas ruas com aquele carro gritando até me doer a voz qual era sem dúvida o melhor curso. Quando, nesses momentos tive um sorriso tão grande gravado na minha cara, que não sorrir com tudo o que vivia se tornava um insulto, e na Latada tudo isto fez ainda mais sentido. Para uma caloira, a Latada é muito em pouco tempo. A serenata, as noites de recinto e o dia. O tão aguardado dia chega e não sabia o que pensar. As expectativas eram altas e foram todas superadas. Guardo muitas memórias mas para a mais especial não existem palavras. Não falo de família de praxe somente, falo de pertencer aqui, a tudo isto. Falo dos sorrisos honestos e dos cânticos em plenos pulmões. Falo do abraço da madrinha, do peso da capa dela nos meus ombros. Mas acima de tudo, falo de ter sido este o momento em que passei a sentir o que é este ano, o que é ser caloira. Ainda hoje quando penso nisto tudo a saudade tão conhecida sente-se. Coimbra não se vive, sente-se e a Latada, foi um sonho que se tornou real.

Uma, duas, três, quatro, cinco. Cinco edições da Festa das Latas que passaram como uma leve aragem. Recordo-me da magia da mesma quando fui caloira, quando fui madrinha, quando fui candeeira grelada. A magia não muda, seja a primeira, a terceira ou a última. Não me vejo como finalista. Embora conclua o curso no presente ano, é difícil atingir esta realidade. Quando se constroem amizades destas durante quatro anos e quando se ama Coimbra como se sempre fosse a nossa casa é difícil aceitar que os verdes anos estão a chegar ao fim. Por estas razões fiz por tirar da minha cabeça esta palavra “finalista” que é feia e traz mágoa. Quando a Festa das Latas chegou perdi a hipótese. No entanto, ao contrário do que eu esperava, a sensação de ser a última e a saudade que veio do que ainda não acabou obrigou-me a aproveitar tudo com as pessoas de quem mais gosto.

“Para uma caloira, a Latada é muito em pouco tempo. (...) o momento em que passei a sentir o que é este ano, o que é ser caloira.”

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“A magia não muda, seja a primeira, a terceira ou a última” Se há palavras que tenho para o cortejo elas certamente serão “Tenho saudades”. Foi como se tivéssemos voltado ao ponto de partida, disfarçados uma vez mais, mas com todo o conhecimento, com todas as experiências que destes tempos levámos e com toda a união de grupo. Já não precisamos de padrinhos para nos guiar, mas temo-los no coração. Já não precisamos de acompanhar os afilhados, mas estamos lá sempre para os apoiar. Já vimos tudo o que Coimbra tinha para nos dar, mas queremos mais. Já somos mais que amigos, somos irmãos. E a última Festa das Latas é tudo isto. É terminar com quem nos é querido, é ver os mais pequenos crescer, é ter noção de que todo o percurso vale a pena. É sentir que quando se ama Coimbra como se sempre fosse a nossa casa é difícil aceitar que os verdes anos estão a chegar ao fim. O que se diz popularmente tem muita sabedoria: O melhor fica sempre para o fim.

O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Professor Doutor João Canotilho Lage Por | André Ribeiro e Tânia Baptista Nasceu em Moçambique, mas ainda em tenra idade se mudou para Portugal. Frequentou a Licenciatura em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, onde entrou em primeira opção e contiunuou o seu percurso académico especializando-se nas áreas de Desenvolvimento e Tecnologias do Medicamento, sendo atualmente Docente Auxiliar com Agregação da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Este é o Professor Doutor João Canotilho Lage, a personalidade que destacamos no Perfil do Professor desta edição. -cristalização. OP: Depois de um percurso profissional tão marcante sente-se realizado? E se pudesse mudaria algo no seu trabalho?

Breve Biografia

Nascimento: 28/07/1965 em Moçambique. 1º Ciclo: Escola Primária de Almendra. 2º Ciclo: Ciclo Preparatório de Figueira de Castelo-Rodrigo.

Ensino Secundário: Escola Secundária Afonso de

Albuquerque, Guarda. Ensino Superior: Licenciatura em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, onde escolheu o ramo de Indústria Farmacêutica (Ramo B, no 3º ano do curso). Pós-licenciatura: convidado a ser assistente estagiário, fez a Prova de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica e Doutoramento sobre o estudo de polimorfismo da terfenadina.

Jornal “ O Pilão” (OP): Antes de mais, muito obrigada pela sua participação nesta edição. Começando pela sua infância, que profissão sonhava ter no seu futuro? João Lage (JL): Como nasci em África tenho um certo encanto pela natureza animal e de certa forma gostaria de seguir para Biologia ou Medicina Veterinária. Não prossegui por esse caminho, porque o meu pai me fez refletir acerca das oportunidades que a biologia me dava em Portugal, tendo apenas a docência como opção. Apesar de não ter sido premeditado, mais tarde acabei por ser professor na Faculdade de Farmácia. Para mim não interessava o curso, mas sim o destino: Coimbra com o seu encanto. OP: Após a sua formação académica tornou-se investigador e, tal como disse antes, Professor também. Qual é a sua área de investigação? JL: Comecei ligado ao Departamento de Química, onde desenvolvi todo o meu trabalho de doutoramento. Hoje estou num grupo de investigação multidisciplinar, onde esclarecemos estruturas de sólidos com atividade farmacológica, novas fases e formas sólidas, ou seja, estudos de polimorfismo e de co-

JL: Realizados nunca estamos, mas estou satisfeito com a profissão. Tenho feito o meu percurso académico de forma tranquila e normal. No meu trabalho mudaria a dinâmica do ensino, não acho que deva estar tanto tempo da mesma forma. Devem surgir e ser testados novos modelos, apesar de ser difícil implementar iniciativas e colocá-las em prática, já que a entropia gera mais desordem.

“Nada melhor que o princípio do equilíbrio de Le Châtelier aplicado a cada momento do vosso percurso!” OP: Apesar de uma carreira profissional tão preenchida deve de ainda existir tempo para outras atividades, como ler, ouvir música e ainda outros passatempos. Gostaria de nos dizer quais são os seus favoritos? JL: Um passatempo acaba por ser uma extensão da infância e como partilhei muitos momentos com a natureza, o meu acabou por ser a agricultura, onde ocupo a maior parte do meu tempo livre. Em relação a livros, prefiro os da autoria de Miguel Torga. Este escritor tem uma vasta obra, é um modernista, um amante da natureza e em tudo o que escreve tem grande sensibilidade pela mesma. Em termos musicais sempre gostei de música pop-rock e também de blues, apesar de ocuparem muito tempo. Gosto também do Fado de Coimbra, porque fiz aqui o meu percurso académico, tenho muitas recordações e isso toca no coração. OP: E em relação a tirar as mãos das terras portuguesas e ir conhecer novos sítios? Das viagens que já fez, qual foi a que mais o marcou? JL: Adoro viajar, sendo a viagem mais marcante ao Perú, onde consegui ir à “Terra do Condor”, Arequipa. Esta região mostra uma grande beleza, com muita força e muito rude para a vida dos povos, pois assemelha-se a um deserto montanhoso. Não fui a Machu Picchu, porque o comboio podia-se perder no caminho (entre risos) e

também porque não tive oportunidade. No Panamá equacionei a hipótese de ir às ilhas Galápagos, mas o voo estava quase sempre esgotado e não consegui ir. Ainda estive uma semana no Equador, em Quito e fui também ao Brasil, que se mostrou extraordinário. OP: Falando em viagens, se pudesse viajar no tempo e jantar com três personalidades, mundialmente famosas, quem seriam e porquê? JL: Jantaria com o Nelson Mandela, John Lennon e Willy Brandt. Um pacificador, um génio criador de um estilo de música novo em toda a sua totalidade e um social democrata fora de série. OP: E porque não um investigador tal como o professor? JL: Os cientistas são complexos! Há alguns matemáticos que são interessantes, apesar de todos terem o seu valor e os seus momentos. Neste caso talvez jantasse com Neil Bohr ou van der Waals. OP: Ultimamente houve algum tema que lhe tenha despertado a curiosidade? JL: Tenho uma vertente social democrata e sou político regional, sendo que costumo participar nas eleições autárquicas de Tábua, localidade onde resido. Neste momento, o que me preocupa é Portugal não produzir riqueza a um bom ritmo, e ao ser um país que não encontra forma de fazer riqueza ou é uma sociedade muito rigorosa ou não encontra soluções para os desafios dos tempos. Essa impossibilidade de enriquecermos e termos excedentes impede-nos a prática de uma boa política social. OP: Qual é o conselho que gostaria de deixar aos estudantes da FFUC? JL: Sejam equilibrados enquanto estudantes, ou seja, façam um pouco de tudo na dose certa e cresçam nas várias dimensões do génio humano, não só no domínio científico. Se conseguirem fazer isso de uma forma equilibrada, excelente, porque é a fórmula mágica para o sucesso. Nada melhor que o princípio do equilíbrio de Le Châtelier aplicado a cada momento do vosso percurso!

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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Oferta Formativa Por | Carla Pereira e Elisa Silva

A Ordem dos Farmacêuticos (OF) tem ao dispor quatro Colégios de Especialidade, sendo eles os Colégios de Especialidade de Indústria Farmacêutica, de Análises Clínicas e de Genética Humana, de Farmácia Hospitalar e de Assuntos Regulamentares. Serão abordados os Colégios de Análises Clínicas e de Genética Humana, e também de Assuntos Regulamentares, finalizando assim, este tema de Oferta Formativa. Em análises clínicas, o farmacêutico é o responsável por analisar materiais biológicos, como por exemplo, o sangue, mas também fica ao seu encargo realizar pesquisas toxicológicas. A Ordem dos Farmacêuticos é responsável pela concessão do título de Especialista em Análises Clínicas e de Genética Humana. Para pertencer ao Colégio de Especialidade de Análises Clínicas e Genética Humana é necessário cumprir alguns requisitos. A especialidade em Análises Clínicas exige um período mínimo de estágio de quatro anos ininterruptos com obrigatoriedade de integrar as seguintes valências: Quí-

mica Clínica, Hematologia, Imunologia, Microbiologia e Genética. Findo este período, os candidatos estão sujeitos a provas teóricas, provas práticas e a uma prova global. Em relação à especialidade em Genética Humana é exigido, também, um período mínimo de estágio de quatro anos com as seguintes competências a serem assimiladas: Citogénica e Citogénica Molecular, Genética Molecular e Oncogénica e Bioquímica Genética. Para avaliação final, os candidatos terão que prestar provas teóricas, práticas e uma prova curricular global. Segundo dados da Ordem dos Farmacêuticos, 6% dos farmacêuticos integram a área das Análises Clínicas.

“A tutela do Estado sobre a actividade farmacêutica tem vindo a exercer-se regularmente desde o Séc. XVII, através de cartas régias, normas, regulamentos e publicação de leis e decretos, tendo em vista os riscos para a Saúde Pública que podem decorrer do mau exercício profissional.” in Ordem dos Farmacêuticos. E assim, por último, mas não menos importante, apresentamos o Colégio de Especialidade de Assuntos Regulamentares. O farmacêuico que segue por este Colégio de Especialidade é congregado com o título de especialidade em Registos e Regulamentação Farmacêutica. Para a obtenção deste título, os candidatos devem realizar um exame pela Ordem. Para tal, devem requerê-

-lo, em carta registada e com destinatário ao Bastonário. No exame, o candidato terá o seu curriculum avaliado e discutido, para além de que deverá apresentar um trabalho técnico-profissional, dentro das áreas designadas pelo Colégio, tendo o mesmo de ser entregue ao Bastonário. Para além das normas gerais dos colégios, os candidatos devem possuir dez anos de atividade profissional, sendo esta avaliada a nível curricular e possuir uma descrição das funções exercidas durante esses anos. Outra opção que não a anterior, é o candidato possuir cinco anos de atividade profissional na área, sendo que deverá ser avaliado em curso de formação em Registos e Regulamentação Farmacêutica, acreditado pela Ordem.

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O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Doenças Raras & Medicamentos Orfãos

Por | Cátia Almeida e Rodrigo Dias Almeida

Porquê abordar este tema? Saberemos o suficiente para podermos contribuir para mudar o panorama no que toca a estas patologias, cujo estudo tem tão poucos apoios? Valerá a pena investir milhões de euros em centenas de pessoas quando poderíamos, com esse dinheiro, ajudar milhares? Com o intuito de ver estas questões esclarecidas, “O Pilão” decidiu marcar presença no X Congresso Científico no NEF/AAC. Sessão Solene de Abertura Durante a sessão solene de abertura foi elogiada a equipa organizadora pela iniciativa de promover o X Congresso Científico do NEF/AAC, que lotou o maior auditório da Unidade Central do Pólo III. Os oradores fizeram votos de que este congresso constituísse uma mais-valia para todos os participantes. Sublinhou-se o orgulho desta faculdade, tão próspera em investigação científica, em ter alunos preocupados com temas como o deste congresso.

Painel I – Doenças Raras

Dia 10 de novembro

Este primeiro painel teve como mote Doenças Raras, elucidando os congressistas para o facto de que têm vindo a ser descobertas novas doenças muito mais rapidamente do que se descobre o seu mecanismo e a sua componente genética. Além disso, foi dito que muito do avanço científico feito no estudo destas patologias se deve ao batalhar de várias associações de doentes raros, como a “Associação Sanfilippo Portugal”, que se envolvem em projetos científicos, mas que também apoiam o doente e os seus familiares. Também foi referido que um diagnóstico pode demorar entre 5 a 16 anos para ser apresentado corretamente e que a indústria farmacêutica não consegue dar a melhor resposta às novas doenças que surgem, dada a pouca aposta na investigação destas patologias, devido ao baixo retorno financeiro que daí se poderá obter, sendo necessários apoios para conseguir sustentar a investigação nesta área. Em Portugal, a investigação de terapêuticas para as doenças raras encontrava-se um pouco abandonada e com falta de apoios, tendo sido criada a “Estratégia Nacional para as Doenças Raras”, a ser executada entre 2015 e 2020, com o objetivo de desenvolver esta área. Painel II – Doenças Raras na Prática Clínica As Doenças Lisossomais de Sobrecarga inauguraram este segundo painel, mostrando que podem existir mais de 50 subtipos, já que os lisossomas têm cerca de 50 enzimas diferentes. Estas doenças são progressivas, debilitantes, incapacitantes e multissistémicas, revelando diferentes fenótipos, uns severos e outros atenuados, sendo que a terapêutica passa pela substituição enzimática. Outras doenças abordadas foram as neoplasias raras, caracterizadas por serem de difícil diagnóstico e terapêutica, sendo que, quando em estados muito avançados, não havendo uma terapêutica robusta, é aconselhável um acompanhamento e manutenção do conforto do paciente. Os objetivos futuros são: criar centros de referência multidisciplinares; fazer a caracterização histológica em bancos de dados; fazer a classificação pela OMS e criar associações de doentes, bem como aplicar mais inquéritos sobre qualidade de vida em ensaios clínicos.

A Paramiloidose, uma doença rara, degenerativa e hereditária, também esteve em destaque. O seu diagnóstico é feito através de testes genéticos e sequenciação do genoma. Se precocemente detetada, tem tratamento, que passa por um transplante hepático ou por tratamento génico. Painel III – Investigação Básica em Doenças Raras A referência a que mais de 2,8 milhões de pessoas morrem devido à obesidade, estando o excesso de peso ligado a mais mortes do que outros problemas, marcou o início da tarde. Foi também enfatizado que a epigenética tem um papel importante na obesidade e que é importante fazer testes de diagnóstico, pois apenas 50% das pessoas que tomam fármacos para a obesidade apresentam benefícios. A nanopartícula PEGASEMP™ foi o tema seguinte. Este lipossoma contém no seu interior um princípio ativo que, quando livre, é tóxico. A sua entrada para o meio intracelular deve-se ao reduzido tamanho, aos aminoácidos que rodeiam o lipossoma e à nucleotina que tem a capacidade de transportar ligandos do espaço extracelular para o intracelular e está sobrexpressa em células tumorais. Ao deparar-se com o ambiente acídico intracelular, a PEGASEMP™ liberta o princípio ativo do seu interior, levando à morte celular. Outra das doenças abordadas foi a Progeria de Hutchinson-Gilford, que se caracteriza pelo envelhecimento acelerado. Os doentes que sofrem desta patologia têm uma curta esperança de vida, cerca de 13-14 anos, e acabam por morrer por enfarte do miocárdio ou AVC. Em 2003, foi descoberta a causa desta doença: uma mutação do gene Lamin A - gene envolvido na produção da lamina A do envelope nuclear - que passa a produzir a lamina A mutada, chamada progerina. Estão a decorrer alguns ensaios clínicos e, por exemplo, um inibidor da farnesil transferase aumentou a esperança de vida dos doentes em 1,6 anos. Como foi visto que nas células de Progeria de Hutchinson-Gilford a autofagia está diminuída, tem sido investigada a hipótese de utilizar fármacos que estimulem a autofagia. Foram apresentados resultados de investigação em que se trataram os fibroblastos de doentes com esta patologia com neuropeptídeo Y e observou-se que esta molécula foi capaz de melhorar diversos marcadores de envelhecimento celular: aumentou a autofagia, diminuiu os níveis de progerina, diminuiu os danos no DNA e aumentou a capacidade de proliferação das células. O painel III terminou com a doença de Machado-Joseph, sendo esta patologia genética caracterizada pela repetição anormal de trinucleótidos CAG que codificam a glutamina. Quando esta repetição excede as 50 vezes, a proteína passa a Ataxina 3 mutada, que é tóxica para o cérebro, levando à morte de neurónios, dando origem à neuropatologia. Uma das estratégias promissoras e que mostrou resultados muito relevantes em modelos animais da doença foi o silenciamento da Ataxina 3 mutada, sem alterar Ataxina 3, utilizando terapia génica com vetores virais. Além disso, a ativação da sirtuina 1, quer por restrição calórica, quer por terapia génica ou farmacológica mostrou resultados muito promissores.

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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Painel IV – Economia da Saúde e Doenças Raras Este painel foi marcado pela discussão do tema “Avaliação de Tecnologias de Saúde e Financiamento de Medicamentos para Doenças Raras”. Atualmente é muito difícil conseguir verbas para financiar medicamentos órfãos, devendo ser o Estado a dar o maior contributo. Para que um fármaco órfão seja financiado, primeiramente deve ser avaliado pelas agências HTA através de um processo semelhante ao dos medicamentos não órfãos. Posteriormente estas agências cedem ou não a permissão, contudo existem ainda muitos medicamentos órfãos que são financiados mesmo sem passarem por esta avaliação. Concluiu-se também que é de extrema importância fazer um cálculo do risco clínico/técnico e do risco comercial da investigação clínica dos medicamentos órfãos, defendendo um estado de bem-estar com finanças intervencionistas, que permita uma maior comportabilidade orçamental e uma melhor gestão das verbas que forem direcionadas a investigação das doenças raras.

Dia 11 de novembro Painel V – Medicamentos Orfãos

Apesar do baixo número de ensaios clínicos e do investimento feito em investigações centradas nas causas subjacentes, no diagnóstico, na prevenção e no tratamento, faltam terapêuticas eficazes para 95% dos doentes afetados por doenças raras. O caminho para se encontrar um tratamento eficaz encontra-se na crucial colaboração entre os doentes e os seus grupos de defesa, a indústria farmacêutica, as universidades e os centros de investigação. Foi apresentada uma promissora terapêutica no campo dos tumores sólidos, o Redaporfin, apresentado pela Luzitin como um projeto que nasceu nos laboratórios da UC. Este é um composto fotossensível que, quando irradiado por uma lâmpada sobre o paciente, mata as células tumorais e do endotélio vascular que irrigam o tumor. Os testes em animais mostraram que não havia somente diminuição do tumor, mas sim a cura completa deste. E, quando se injetavam células tumorais novamente, em animais já curados, o organismo rejeitava essas células e, em animais com tumores secundários, quando tratado o tumor primário, denotou-se que havia uma diminuição do tumor secundário. Painel VII – Acesso à Inovação Terapêutica Neste painel foi dinamizado um debate em mesa redonda, onde se discutiram os diversos assuntos abordados ao longo destes dois dias, com o intuito de salientar e concluir alguns pontos relevantes. Começou então por se enfatizar a importância que o acompanhamento social e psicológico dos portadores destas doenças e dos seus familiares constitui, pois é essencial que os familiares saibam o que se passa com o doente, de modo a prepararem-se para a caminhada que têm pela frente. Muitas vezes agarram-se a tudo: sejam medicamentos que não sabem se poderão vir a tratar a doença em causa, sejam terapêuticas com um preço muito elevado. A entrada de novas terapêuticas e medicamentos no mercado é um processo complexo e demorado (ronda os 10 anos), porque é necessário que todos os ensaios clínicos sejam testados e comprovados e a própria avaliação económica tem de ter em conta a rentabilidade face ao preço solicitado pela indústria. Após esta produtiva discussão, ficou a mensagem de que todos devemos completar o conhecimento tanto em ciência como em saúde, mas sem esquecer uma componente essencial, a cidadania, para que futuramente tenhamos facilidade na resolução de problemas e dúvidas que nos ocorram enquanto farmacêuticos. O moderador do último painel rematou com a expressão: “se forem só farmacêuticos nem isso serão”, até porque não basta olhar aos princípios ativos, é necessário ter sensibilidade perante os doentes e fazer por marcar a diferença.

O segundo dia de trabalhos do X Congresso NEF/AAC começou com o tema “Regulamentação Portuguesa e Europeia de Medicamentos Órfãos”. Verificou-se que, com a criação do COMP (Committee for Orphan Medicinal Products), se definiram incentivos concretos e estabeleceu-se um sistema de reconhecimento de medicamentos órfãos. Também a relevância dos modelos pré-clínicos in vitro e in vivo foi posta em cima da mesa, pois é necessário que haja dados relevantes em qualquer modelo que se teste. De seguida, foi introduzido o SiNATS (Sistema Nacional de Avaliação das Tecnologias de Saúde), cuja criação permitiu que a avaliação de medicamentos órfãos passasse a incluir a possibilidade de utilizar ferramentas específicas de avaliação (TVF - Transparent Value Framework), tal como fazer a avaliação económica pós entrada no mercado (ex-post) e, sendo ainda possível, registar o im- O nosso like vai para: pacto dos diferentes medicamentos na qualidade de vida.

O excelente trabalho realizado pela equipa da Formação do NEF/AAC, que aliada à excelente Comissão Científica escolhida, fez deste o melhor congresso científico que a Faculdade de Farmácia da A visão hospitalar dos ensaios clínicos em medicamentos órUniversidade de Coimbra já viu. O trabalho realizado pela equipa fãos abriu o sexto painel. Verificou-se a importância de ensaios clíque dinamizou este congresso teve em atenção todos os detalhes e nicos, visto que estes dão ao doente acesso a medicinas e técnicas conseguiu surpreender. de diagnóstico inovadoras, mas também da existência de centros de excelência ao nível dos ensaios clínicos. A mensagem da organização O enquadramento regulamentar e legislativo da investigação clínica é determinante na atratividade desse país/centro para Foi para nós um orgulho organizar este congresso e querea realização dos seus estudos clínicos. Porém, não há uma regula- mos deixar um agradecimento especial a todos os que fizeram com mentação específica para os ensaios clínicos em doenças raras, nem que este se tornasse possível: a Comissão Científica, o Pelouro da técnicas especiais no desenho, execução e análise, devendo estes Formação, os Patrocinadores e Apoios e, por últiter em conta o pequeno tamanho da amostra e a elevada variabi- mo, mas não menos importante, os participantes, lidade inter-individual, o que os torna muito complexos. Esta com- para os quais esta atividade foi pensada. plexidade traduz-se numa grande demora, pois 80% dos ensaios clíOs objetivos foram cumpridos, promovennicos não cumprem as datas de recrutamento definidas e 50% dos do a consciencialização de que apesar destas docentros de ensaio recrutam um doente ou nenhum. enças serem raras, os doentes são numerosos.

Painel VI – Investigação Clínica em Doenças Raras

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O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Por | Carolina Maia, Cátia Almeida e Cristiana Fontes A Farmácia e, mais concretamente, o curso de Ciências Farmacêuticas estão espalhados pelo mundo. E que tal saberes mais um pouco sobre a abordagem do teu curso noutros países? Será que há mais semelhanças do que diferenças? Já pensaste em ir estudar ou até trabalhar para outro país? Para te ajudar a conhecer melhor outras realidades relativas à Farmácia temos o testemunho de alguns estudantes que foram de Erasmus para outro país ou que fizeram um SEP e, ainda, uma ideia geral de como será o estudo de Ciências Farmacêuticas noutras universidades do mundo.

Universidade Médica de Varsóvia | Faculdade de Farmácia Este último é o mais desafiante dos dois graus, pois os alunos gaNa Universidade de Varsóvia encontramos um curso de Ciências Farmacêuticas muito semelhante ao praticado em Portugal, especialmente em relação ao da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, tanto em termos de unidades curriculares, na forma de distribuição do conteúdo e, até, no tempo necessário para a conclusão do mesmo. O curso tem um período de 5 anos e 6 meses, tendo 11 semestres, sendo o último, um estágio de 6 meses numa farmácia após a defesa de uma tese. Talvez seja este um ponto de diferença, visto que o nosso curso apenas é composto por 10 semestres e a nossa defesa de tese é após a conclusão do estágio. O programa está dividido em 4 porções: 4 semestres de disciplinas pré-profissionais; 5 semestres de disciplinas profissionais, 1 semestre para preparar a tese acerca do tema de investigação seleccionado e 6 meses de treino. Em termos de disciplinas lecionadas encontramos muitas que são comuns ao ciclo de estudos de Ciências Farmacêuticas como: Anatomia Humana, Química Orgânica, Imunologia, Bromatologia, entre outras. Porém, também são leccionadas outras matérias distintas com algum cariz de interesse, tendo como exemplos – Treino de Cuidados Primários, Psicologia e Filosofia. Nesta universidade também encontramos um sistema de reconhecimento por créditos, sendo que um ano corresponde a 60 créditos, equivalendo a 1500-1800 horas de trabalho por parte do estudante, sendo o valor ECTS total do plano curricular de 330.

“(...) os alunos ganham mais experiência a lidar com os pacientes e a trabalhar com os profissionais de saúde do que os alunos que concluem apenas o bacharelado.”

Farmácia | EUA Os cursos de Farmácia nos Estados Unidos e em Portugal são bastante diferentes. Nos EUA, poucas universidades admitem estudantes vindos diretamente do ensino secundário. A maioria exige um ou dois anos de um nível universitário pré-farmácia ou pré-profissional, obtidos numa universidade regional acreditada. A maior parte das Faculdades de Farmácia requerem depois um teste de admissão (que tem um custo) para o estudante poder frequentar o curso. É um teste de escolha múltipla que avalia habilidades verbais e quantitativas, compreensão de leitura, biologia e química. Os estudantes podem, então, escolher entre os dois primeiros graus profissionais: o chamado “bacharelado de ciências” (Bachelor of Sciences (BS)) em Farmácia, que exige cinco anos de estudo, e o grau de “Doutor em Farmácia” (Doctor of Pharmacy), o chamado Pharm.D., que normalmente é de seis anos.

nham mais experiência a lidar com os pacientes e a trabalhar com os profissionais de saúde do que os alunos que concluem apenas o bacharelado. Os estudantes podem inscrever-se num Pharm.D. diretamente após a conclusão do estudo pré-farmácia ou após a obtenção de um bacharelado. O plano de estudos de um bacharelado ou Pharm.D. inclui estudos de química farmacêutica, farmacognosia, farmacologia, farmácia clínica, administração farmacêutica e também a oportunidade da prática de farmácia num ambiente de trabalho. Inclui ainda cursos avançados adicionais em áreas como a terapêutica, fisiopatologia, bioestatística e farmacocinética.

“Também o papel do farmacêutico é um pouco diferente, este tem uma maior relevância na sociedade e é bastante reconhecido pelos outros profissionais de saúde, bem como pela população em geral.(...)” Os estudantes que tenham obtido um diploma profissional podem qualificar-se para entrar num mestrado ou doutoramento (Ph.D.). Os alunos que tenham terminado o curso num campo relacionado com a farmácia (como química ou biologia) também se podem candidatar aos programas, embora algumas faculdades possam admitir apenas os alunos com os primeiros graus de farmácia. Estes programas são orientados para os interessados na investigação, no ensino ou na especialização. Depois de se formarem os estudantes podem também fazer estágios profissionais em farmácia. Existem estágios gerais que são para os recém-graduados e estágios de especialidade, direcionados para aqueles que tenham feito outros estágios anteriormente ou que já tenham experiência na área. Estes estágios têm como finalidade desenvolver capacidades e conhecimentos num vasto leque de serviços farmacêuticos, incluindo atendimento aos pacientes, informação sobre fármacos, política e desenvolvimento de fármacos e estratégias de crescimento de negócio. Também o papel do farmacêutico é um pouco diferente, este tem uma maior relevância na sociedade e é bastante reconhecido pelos outros profissionais de saúde, bem como pela população em geral. Por exemplo, em farmácia hospitalar, o farmacêutico ajuda o médico com as posologias e doses, participa nas rondas diárias feitas aos pacientes, e alguns podem até dar consultas e prescrever medicamentos em determinadas situações. Na farmácia comunitária o farmacêutico só é responsável pelo aconselhamento, enquanto a venda dos medicamentos está restrita aos técnicos de farmácia. Existe também um serviço de revisão da medicação, recomendada pelo médico e paga ao farmacêutico. Até mesmo a farmácia comunitária em si e alguns dos produtos nela comercializados distinguem-se da realidade que encontramos em Portugal. Existe uma extensa área de venda de produtos cosméticos e perfumaria, vitamínicos e nutrientes, até mesmo snacks e refrigerantes, produtos de limpeza, artigos para animais e nalgumas em especial clínicas médicas equipadas e com um médico qualificado.

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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Espanha | Márcia Franco (Erasmus)

Japão | João Ferreira (SEP)

O Pilão: O que te levou a fazer Erasmus? Foi uma ideia recente ou sempre quiseste?

O Pilão (OP): O que te levou a fazer SEP? Foi uma ideia recente ou sempre quiseste?

Márcia Franco (MF): Sempre foi uma ideia que me fascinou bastante, sempre ouvi várias experiências que me deixaram o “bichinho”. Por outro lado e, apesar de gostar muito de Coimbra, senti necessidade de uma lufada de ar fresco, de fugir da rotina diária e de sair da minha zona de conforto.

João Ferreira (JF): Desde o início senti uma imensa curiosidade em possuir uma experiência internacional. Assim, essa ideia consolidou-se com o programa SEP 2016. OP: Que países consideraste aquando da escolha? E porquê o Japão?

MF: Espanha, Itália, Bélgica e República Checa.

JF: Considerei o Japão, Indonésia e Egito. Queria abraçar uma cultura e um país totalmente diferentes e distanciar-me da Europa, pois sentia que seria enriquecedor em termos académicos, culturais e pessoais.

OP: Tiveste dificuldade em adaptar-te ao novo país?

OP: Tiveste dificuldade em adaptar-te ao novo país?

MF: Não. O nível de vida de Espanha é bastante semelhante a Portugal, mas existem algumas diferenças, especialmente em Granada que tem muita influência Árabe, que lhe confere um encanto muito especial. É uma cidade com bastante movimento, cheia de alegria, pela sua vida académica bastante marcada, mas também devido aos inúmeros visitantes e à própria cultura espanhola.

JF:Após uma pesquisa prévia já conhecia as diferenças entre países. Contudo, fui extremamente bem recebido e a adaptação decorreu sem qualquer entrave!

OP: Qual a maior diferença no ensino? E quais as semelhanças que encontraste?

JF: O ensino baseia-se na obtenção de metas de conhecimento e não na obtenção de uma classificação. As salas de aula estão mais adaptadas para que os alunos possam utilizar dispositivos eletrónicos, existindo uma grande diversificação tecnológica no contexto de aula, permitindo-lhes um contacto mais próximo com o docente e uma aprendizagem dinâmica. Os estudantes são preparados durante os três anos iniciais com outros estudantes da mesma área (por exemplo medicina, farmácia e enfermagem), após estes três anos focam-se em áreas mais concretas da sua formação consoante o curso frequentado. A última meta é o exame que lhes garantirá a obtenção do grau bem como da licença profissional.

OP: Que países consideraste aquando da escolha?

MF: O ensino em Granada por si só é bastante exigente e diferente. Como há muitos alunos, estes são agrupados em quatro turmas diferentes para aulas teóricas, mas por vezes o nível de exigência de cada docente responsável por cada turma difere bastante. As aulas práticas para um semestre são todas leccionadas em apenas uma semana intensiva com avaliação prática no último dia. Mais ou menos 1 mês após o início das aulas é publicada uma convocatória com a semana em que temos de realizar as aulas práticas, e independentemente de termos aulas teóricas à mesma hora, temos de faltar para frequentar as práticas dessa semana. Em Granada, a maioria dos alunos utiliza o computador/tablet para apontamentos ao invés do tradicional papel e caneta. Quanto aos exames, a época de recurso é apenas no início de setembro. Em Espanha os exames são cotados para 10 valores em vez de 20 e temos posteriormente de recorrer a uma tabela que nos vai dar a equivalência da classificação em Portugal. Quanto a semelhanças, não é obrigatório frequentar as aulas teóricas, embora alguns professores recolham a assiduidade.

OP: Qual a maior diferença no ensino? E quais as semelhanças que encontraste?

OP: As cadeiras eram semelhantes? JF: Os estudantes japoneses preferem a carreira de farmacêuticos hospitalares ou em análises clínicas, por isso deparei-me com um avanço no ensino da vertente clínica, e não tanto com a indústria, assuntos regulamentares ou comunitária. OP: Como é a dinâmica em laboratório e ao nível dos protocolos?

MF: Sim, todas as cadeiras do meu plano de estudos tinham equivalência.

JF: Laboratorialmente são bastante desenvolvidos nas áreas da tecnologia farmacêutica, biologia e genética moleculares, neurociências e oncologia. Denota-se uma quebra de transmissão destes conhecimentos para o contexto de aulas, centrando-se mais na perspetiva clínica.

OP: O que mais te enriqueceu com esta experiência?

OP: O que mais te enriqueceu com esta experiência?

MF: Como se diz por aí, Erasmus é “ir para fora para crescer por dentro”. Na minha opinião o Programa Erasmus permite-nos usufruir de uma oportunidade única que deve ser aproveitada ao máximo pelos estudantes. Superou todas as minhas expectativas e foi uma experiência muito enriquecedora, tanto a nível profissional, como a nível pessoal. Foram seis meses num país diferente onde descobri novas culturas, novos costumes, fiz grandes amizades, aprendi uma nova língua, entre muitas outras coisas.

JF: O conhecimento transmitido, a oportunidade de praticar e aprender outras línguas, o ensino ao nível das 4 vertentes por onde passei (Indústria, Hospital, Comunitária e Universidade), a diversidade cultural e a amabilidade das outras pessoas foi sem dúvida um ganho incontornável e insubstituível!

OP: Tiveste equivalência a muitas cadeiras?

OP: Achas que o país onde fizeste SEP seria um bom país para trabalhar no setor farmacêutico? Porquê? JF: O Japão é um excelente destino profissional, com ótimas condições de vida. A imensa oferta nos diversos setores da área farmacêutica representa um poço de esperança para futuros interessados.

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O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Por | Carla Pereira No passado dia 25 de outubro ocorreu a entrega dos Prémios Almofariz promovidos pela revista Farmácia Distribuição. Nesta mesma cerimónia foram entregues diversos prémios que permitem distinguir o que de melhor existe no setor farmacêutico em Portugal. De entre estes prémios está o de “Farmácia do Ano”, o qual foi entregue à Farmácia Moreno no Porto. O Jornal “O Pilão” falou com o diretor técnico desta farmácia, o Dr. João Teixeira de Almeida, para descobrir o que permitiu esta notória distinção.

toda a dinâmica de educar e promover a saúde, dentro e fora de portas, com temáticas muito diferentes, sensibilizar para a doença, com diversos despistes, todos os aspetos comunicacionais, mais ou menos informais, contribuíram de forma significativa para a nomeação e vitória final. Não conseguimos isolar um que tenha sido o decisivo. OP: Sabemos que a farmácia existe há mais de duzentos anos, o que é de valorizar e respeitar. Foi criado o espaço “Memórias da Pharmacia”, que reúne produtos ao longo destas duas centenas de anos. Como surgiu essa ideia?

O Pilão (OP): Antes de mais, muito obrigada por aceitar este convite do Jornal “O Pilão” e os nossos sinceros parabéns pelo prémio ganho. Como foi a receção e o sentimento ao vencer o prémio de Farmácia do Ano? João Almeida (JA): A receção ao prémio foi de surpresa. Não pela força que entendemos que a nossa candidatura apresentava, mas por ser a primeira vez que nos estávamos a candidatar. Ficamos agradavelmente surpreendidos por estarmos no lote restrito de finalistas, e pensamos que o nosso mérito estaria, desde já, muito bem reconhecido. Ressalvamos que este prémio é algo de muito relevante no nosso setor, dando, nos últimos três anos, uma relevância ainda maior às farmácias. OP: Quem passa na rua não consegue desviar o olhar da fachada: Farmácia a letras gordas e três outros idiomas lhe seguem, para além das duas cobras douradas no topo. Isto só o exterior. No interior, temos a harmonia entre o antigo e o moderno, o que confere um toque mágico ao local. Diria que conjugação do espaço e das atividades e projetos a que estão ligados, assim como a interação com o público é uma das razões por esta farmácia ser nomeada para diversos prémios, entre os quais o mais recente já referido? JA: De facto, há uma mistura de razões que levaram à nossa candidatura. Queremos acreditar que não foi o peso histórico da farmácia ou a sua imponente fachada o motor da mesma. Estes trazem-nos diariamente uma responsabilidade acrescida! Achamos que o cerne da candidatura reside na equipa de trabalho: jovem, empreendedora, irreverente. Aqui reside este nosso sucesso, e foi, no nosso entender, o ponto de partida para a multiplicidade de projetos em que nos envolvemos, junto da nossa comunidade. OP: Ainda dentro do contexto anterior, que projetos acha que tiveram peso nesta nomeação e vitória e quais os projetos que têm encaminhados para o futuro? JA: Tudo o que temos feito tem tido uma preocupação e objetivo de interação muito próxima com a comunidade que servimos. Assim,

JA: O Museu serviu dois propósitos claros. Preservar o património da farmácia, pois o passar do tempo e de propriedade depauperou muito do seu espólio. Esta farmácia carrega um historial riquíssimo pela sua provecta idade, foi fundada em 1804, pela sua localização, hoje mais nuclear no Porto, tal como em tempos passados, e pela dinâmica de vários dos seus proprietários. Ao mesmo tempo, quisemos promover a referida interação com a comunidade, dar a oportunidade para conhecer um pouco mais da história do setor e da farmácia . É um projeto que acarinhamos desde o primeiro momento. OP: Para além desse projeto, estão associados à Associação Cura+, sendo uma das Farmácias Cura +, que é uma enorme inovação e um importante passo em prol da comunidade. Poderia nos explicar um pouco de como se tornaram uma das farmácias e como funciona esse apoio? JA: Sempre nos preocupámos com o acesso da população aos medicamentos. Fizemos inclusive palestras sobre o tema “Como poupar nos seus medicamentos”, para explicar que o uso efectivo e correcto dos medicamentos é a melhor forma de poupar. Também desde sempre facilitamos crédito em medicamentos, para os nossos clientes que apresentavam dificuldades económicas. A descida abrupta do preço dos mesmos veio dar resposta a algumas dessas dificuldades. Mas há uma franja de pessoas que, independentemente do preço dos medicamentos, não tem condições para os adquirir. Nesses casos, temos de encontrar respostas, e é esse o objectivo da Associação Cura+, que tivemos o privilégio de conhecer em estádio embrionário. Encontraram uma resposta cívica e transparente de assistir pessoas que têm dificuldades temporais de acesso ao medicamento, com financiamento privado. Tem tudo para ser um modelo com sucesso, foi assim que o integramos. OP: Por fim, deseja deixar alguma mensagem aos estudantes de Farmácia, quanto à experiência vivida na Farmácia Comunitária? JA: A Farmácia Comunitária é um mundo de oportunidades para os farmacêuticos. Não há limites se quisermos colocar a nossa imaginação a funcionar para apoiar quem servimos. A crise que se abateu sobre o setor farmacêutico teve pelo menos o dom de exacerbar a criatividade que nunca devemos perder. Somos farmacêuticos, uma profissão do futuro.

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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Com o aniversário dos 30 anos do NEF/AAC, temos a honra de poder realizar uma breve cronologia, onde apresentamos os Presidentes que passaram pelo Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra, para além de marcas importantes na história do mesmo.

Assinatura do documento de fundação do NEF/AAC

1986

Carlos Jorge Figueiredo

1987/88 O Núcleo esteve inativo Representante da FFUC na DG/AAC

1989 Miguel Silvestre 1990 Miguel Narciso 1991 Sofia Gameiro

Primeiro Presidente eleito para o NEF/AAC

1992/93 Jorge Bigotte Santos 1994 João Paulo Cruz 1995 João Paulo Cruz

Maio - Criação do Jornal O Pilão

1996 Paulo Jorge Gouveia 1997 Paulo Jorge Gouveia 1998 Humberto Martins 1999 Humberto Martins, Mário Peixoto 2000 Carlos José Quelhas 2001 Bruno Miguel Gonçalves 2002 José Júlio Malta 2003/04 José Júlio Malta 2005 Paulo Fernandes

Paulo Fernandes é eleito o último Presidente da DG/ AAC da FFUC Fevereiro - Mudança de Instalações

2006 Paulo Fernandes 2007 Nuno Craveiro Nunes 2008 Nélson Antunes 2009 Tiago Craveiro Nunes 2010 António Rodrigues 2011 Rui Vasco 2012 Steve Estevão, Mariana Pinho 2013 João Martins 2014 Sandra Magro 2015 Luís Cruz

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- João Dias

O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Por | Carla Pereira e Tânia Baptista O mês de novembro de 2016 chegou e vem acompanhado das comemorações dos 30 anos NEF/AAC! Para tal o jornal “O Pilão” decidiu presentear a sua casa-mãe com uma entrevista ao Dr. Paulo Fernandes, Presidente do NEF/AAC de 2005 a 2007 e mais tarde, em 2007, Presidente da Direção-Geral da AAC. O Pilão (OP): Caro Doutor Paulo Fernandes, antes de mais muito obrigada por aceitar este convite do Jornal “O Pilão” para a edição comemorativa dos 30 anos do NEF/AAC. Nos anos de 2005 a 2007 foi Presidente da Direção do NEF/AAC. Quais foram as principais conquistas para o núcleo durante os seus mandatos e que balanço faz dos mesmos? Paulo Fernandes (PF): Foram dois anos de transição muito importantes, marcados por uma enorme motivação da equipa e por inúmeras atividades e mudanças na FFUC. Uma das conquistas mais importantes foi a união que conseguimos fomentar entre o NEF/AAC e os estudantes. Desenvolvemos, por exemplo, diversas atividades a nível político, nomeadamente algumas alterações no Processo de Bolonha, onde procurámos que todos os estudantes estivessem, também, envolvidos nesse mesmo processo. OP: Hoje em dia é visível algum desinteresse por parte dos estudantes em relação ao associativismo. Na época em que foi Presidente da Direção do NEF/AAC, os estudantes eram recetivos às atividades do núcleo? Verificava-se uma boa adesão às iniciativas? PF: Enquanto fui Presidente do NEF/AAC realizámos diversas atividades bem sucedidas. No entanto, devido ao elevado número de iniciativas, houve uma certa dispersão nas mesmas. Algumas atividades eram de cariz formativo, nomeadamente palestras pontuais e o Congresso Científico do NEF/AAC, tendo este último tido uma elevada adesão. Era o congresso organizado por estudantes com maior adesão na Universidade de Coimbra. Além de alguns docentes palestrantes, tentámos trazer oradores de outras instituições, dado que estes apresentavam perspetivas diferentes relativamente à profissão farmacêutica e ao seu futuro no que concerne às áreas em crescimento no setor. Era um congresso elogiado quer pelos estudantes quer pelos professores da Universidade de Coimbra. Elaborámos outras iniciativas nas mais diversas áreas como, por exemplo, no desporto com a Liga NEF/AAC e as Olimpíadas, ou na vertente recreativa, com os famosos convívios do NEF/AAC. Recordo-me ainda que no primeiro mandato inaugurámos um espaço de Internet no NEF/AAC. Adquirimos diversos computadores de livre acesso a todos os alunos, tendo essa iniciativa um impacto positivo na participação às atividades. OP: Relativamente ainda à relação do NEF/AAC com a comunidade, como descreve a relação entre os docentes e a Direção do núcleo na altura? Havia proximidade e interajuda? PF: O formato dos Órgãos de Gestão da FFUC da altura era diferente, sendo que estes eram constituídos pelo Conselho Diretivo, Conselho Pedagógico e Conselho Científico. Verificava-se uma forte ligação de proximidade e de entendimento entre estes três órgãos e o NEF/AAC, mas também uma porta aberta para expor reivindicações. No que toca ao Conselho Pedagógico, havia uma constante procura por melhores condições de ensino. No que concerne ao Conselho Diretivo, recorríamos a este órgão no sentido de obter apoios para o desenvolvimento das atividades, seja na vertente monetária ou na vertente de ensino, como por exemplo, na cedência de aulas. Em relação aos professores, sentia-se uma grande ligação e abertura havendo compreensão e valorização do trabalho realizado pelo NEF/AAC.

OP: Em 2006 já se falava da mudança da FFUC para o Pólo III. Perspetivavam-se excelentes instalações, outra localização para a faculdade e, portanto, também uma mudança para o NEF/AAC. Como eram as instalações do Palácio dos Melos? E o que esperavam desta mudança? Era ansiada pelos estudantes ou existia o desejo de permanecer no Pólo I? PF: O NEF/AAC no Palácio dos Melos estava localizado no último piso, ao lado da reprografia, sendo um local fechado e sem janelas. Havia, no entanto, uma grande afluência de pessoas. Efetivamente o edifício apresentava um défice de condições, sendo a mudança para o Pólo III necessária, embora, ainda hoje exista uma grande nostalgia pelo Palácio dos Melos. Contudo, esta limitação não invalidou a excelente formação ministrada aos alunos, devido à capacidade de superação do corpo docente, criando farmacêuticos capazes e extremamente competentes. De realçar que a mudança de infraestruturas da FFUC foi perspetivada inicialmente para o Pólo II, porém esta hipótese foi contestada pelos Órgãos de Gestão da FFUC, dado que estes consideravam que a Faculdade de Farmácia deveria situar-se num campus dedicado à saúde.

“(...) o Ensino Superior é a melhor oportunidade para adquirir e aprimorar competências e qualidades, para além da mera formação profissional (...)” OP: Após a sua passagem pelo núcleo, foi Presidente da Direção Geral da AAC em 2007 e o último estudante da FFUC a ocupar esse cargo até ao momento. Que impacto teve este evento para a FFUC e para os seus estudantes? PF: A AAC tem uma componente mais política e de maior impacto que o NEF/AAC. Os temas discutidos são frequentemente mais afastados das problemáticas diárias, porém são assuntos que a longo prazo irão melhorar as dificuldades sentidas pelos estudantes. Um momento que marcou todo o nosso mandato foi o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), em 2007. Realmente, este mudou radicalmente o formato de organização dos Órgãos de Gestão nas Unidades Orgânicas, tendo havido uma ávida participação dos estudantes da Universidade de Coimbra nesta discussão. Outro dos momentos marcantes foi a restauração das relações entre a Universidade de Coimbra e a AAC. OP: Além de ter sido Presidente do NEF/AAC e, no ano seguinte, Presidente da Direção Geral da AAC, foi ainda Presidente da Phartuna, membro da Assembleia e do Senado da Universidade de Coimbra, membro da Comissão Fiscalizadora da Queima das Fitas de Coimbra, Presidente da Assembleia-Geral da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia e atualmente membro do Conselho Jurisdicional Regional do Centro da Ordem dos Farmacêuticos. Que balanço faz de um percurso tão preenchido pelo associativismo? Considera fundamental o envolvimento dos estudantes em atividades e projetos extracurriculares durante o percurso académico? PF: É fundamental o envolvimento no associativismo, visto que o

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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Ensino Superior é a melhor oportunidade para adquirir e aprimorar competências e qualidades, para além da mera formação profissional. Desta forma, obtêm-se aptidões essenciais para que futuros profissionais sejam capazes de enfrentar o mercado de trabalho e os obstáculos pessoais. Tanto o NEF/AAC, como a própria AAC fornecem excelentes oportunidades onde os estudantes se podem envolver, nomeadamente as Seções Desportivas e Culturais da AAC. Nestas e noutras participações, criam-se redes de contactos, que no futuro poderão ser extremamente importantes. No que concerne há minha experiência pessoal, percebi que osmeus colegas me deram cada vez mais responsabilidades demonstrando, deste modo a sua confiança em mim. Durante a minha experiência associativa desempenhei várias funções, entre as quais: Tesoureiro da Phartuna, Presidente da Phartuna, Presidente do NEF/AAC e Presidente da Direção Geral da AAC. Este percurso gradual foi essencial para ir aperfeiçoando diversas capacidades, para que em momento algum defraudasse a confiança em mim depositada. OP: Olhando para trás, depois de já estar no mercado de trabalho há vários anos, e tendo em conta os cargos que teve em diversas instituições e associações, há alguma coisa que gostaria de ter feito diferente? PF: Sim, gostaria de ter participado no Programa Erasmus. É uma experiência além-fronteiras, com uma componente formativa e de intercâmbio cultural entre diferentes nacionalidades, que prepara os estudantes para um mundo cada vez mais global, tornando-os cidadãos do mundo. Contudo, apenas tive oportunidade de frequentar o Student Exchange Programme (SEP). Recomendo-o vivamente, dado que possibilita frequentar uma Universidade diferente e estagiar numa outra realidade, com novas abordagens ao estudo e prática de Ciências Farmacêuticas.

“(...) o processo de eliminação da propina é uma luta diária e constante do movimento estudantil (...)”

OP: A luta contra o aumento das propinas tem sido uma prioridade da política educativa da AAC. Para este ano letivo conseguiu-se que as mesmas congelassem através de carta aberta que a DG/AAC fez ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Como vê esta conquista dos estudantes? E que mais medidas acha que ainda necessitam de ser tomadas até que possamos ter um ensino sem propinas? PF: Quando as propinas foram inicialmente instituídas, seriam uma verba extra para melhorar a qualidade de ensino e ainda as condições físicas, pedagógicas e científicas das Instituições de Ensino Superior. No entanto, com os progressivos cortes que ocorreram no Ensino Superior, as propinas transformaram-se numa verba fundamental para as despesas correntes das Instituições de Ensino Superior. Se a esta despesa dos estudantes se aliasse uma ação social escolar que contrabalançasse as dificuldades económicas de alguns colegas, a questão da propina seria menos grave. Porém, a ação social escolar não dá resposta a esses casos e ainda hoje existem estudantes que não frequentam ou desistem do Ensino Superior devido a limitações financeiras. Tanto o NEF/AAC, como a AAC defendem que um país se desenvolve em grande parte através da educação e da maior formação dos jovens. Neste sentido, um país desenvolvido deve financiar o ensino na sua plenitude, o que inclui o Ensino Superior e este foco deve ser sempre relembrado aos nossos governantes e dirigentes. Todo o processo de eliminação da propina é uma luta diária e constante do movimento estudantil que tem de ser feita junto das Instituições de Ensino Superior e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. O congelamento das propinas foi uma grande vitória, contudo deve-se continuar a frisar a importância de um maior grau de literacia, assim como os ganhos evolutivos de um país com mais licenciados, mestres e doutorados. Há ainda um longo caminho a percorrer e o ideal seria a existência de uma propina cada vez menor, tendo em conta as possibilidades económicas de Portugal, até à eliminação da mesma, de modo a permitir um livre acesso ao Ensino Superior a todos. OP: Por fim, gostaria de deixar uma mensagem a todos os estudantes da FFUC?

OP: Passados onze anos do seu mandato no NEF/AAC, como vê atualmente o núcleo e a importância que o mesmo pode ter no percurso académico dos estudantes, tanto através de todas as formações e oportunidades que fornece, assim como a sua importância na sociedade e para o mercado de trabalho nesta área, pela constante defesa dos interesses estudantis e a sua aproximação ao setor farmacêutico? PF: A defesa dos interesses estudantis junto dos Órgãos de Gestão é extremamente importante para que haja uma melhoria contínua das condições físicas, pedagógicas e científicas do ensino. Os Núcleos e Associações de Estudantes devem ouvir e entender as principais preocupações dos alunos que representam, no sentido de transmitir essas informações aos Órgãos de Gestão contribuindo, de forma decisiva para o crescimento da sua instituição. É de facto essencial reivindicar a melhoria do ensino e da profissão farmacêutica, sendo que o movimento estudantil deve mostrar-se interventivo, propondo novas ideias. Estas propostas devem ir ao encontro de melhorias no ensino superior e a estruturas que regulem a profissão farmacêutica, tal como a Ordem dos Farmacêuticos e outras associações do setor. O NEF/AAC deve ainda fornecer oportunidades no campo da formação extracurricular e lúdica, visto que são ambos importantes na criação de uma rede de contactos e reflectem-se num aperfeiçoamento de capacidades e qualidades que os estudantes devem desenvolver no seu percurso académico.

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PF: Gostaria de dizer-vos que os anos da faculdade são os melhores da vossa vida. No início do meu primeiro ano estive presente numa sessão com a presença dos Órgãos de Gestão da FFUC e dos representantes estudantis, no qual me recordo de mencionarem precisamente isso e que possivelmente ao nosso lado estaria o nosso futuro cônjuge. De facto, a minha experiência pessoal constatou isso mesmo. O vosso percurso na faculdade deve ser aproveitado ao máximo, quer a nível formativo, quer a nível lúdico, de modo a se tornarem farmacêuticos capazes e com amigos e colegas desta e de outras áreas, aos quais possam solicitar ajuda. Pretendo ainda partilhar que a profissão farmacêutica, além de ser muito prestigiada, é também uma ocupação que me orgulha muito.

“É de facto essencial reivindicar a melhoria do ensino e da profissão farmacêutica(...)”

O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Por | Cristiana Fontes e Rodrigo Dias de Almeida “Académica Start UC – Rede de Embaixadores para o Empreendedorismo” é um projeto piloto de sensibilização, educação e formação dos estudantes da UC para a inovação e empreendedorismo, criado pela UC e pela AAC, a ser concretizado no ano letivo de 2016/2017. Entrevistámos o doutorando Luís Bento Rodrigues, um dos fundadores do projeto que está a promover o empreendedorismo junto dos estudantes da UC. O Pilão: (OP): Muito obrigada por aceitar o convite para esta entrevista. Este é um projeto bastante inovador e diferente do que tem sido feito na UC. Como é que surgiu esta ideia?

Breve biografia

Formação académica: Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e Doutorando no Instituto de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra. A sua formação pós-graduada abrange as áreas do direito da propriedade intelectual, direito da farmácia e do medicamento, do empreendedorismo social e do empreendedorismo de base tecnológica. Cargos atuais: Desempenha funções na área da gestão de inovação e empreendedorismo social, na educação, sensibilização e formação para o empreendedorismo, presta apoio jurídico na área da propriedade industrial e é colaborador na Divisão de Inovação e Transferências do Saber da Universidade de Coimbra. O PROJETO: Tem como base uma rede de vinte e seis estudantes embaixadores para o empreendedorismo supervisionados pela UC e pela AAC. Estudantes como a Francisca Morais (4º ano do MICF, embaixadora da FFUC) são responsáveis por promover uma política de proximidade junto dos seus pares, sensibilizando-os, recrutando-os e promovendo eventos locais para a inovação e empreendedorismo, em estreita articulação com os respetivos núcleos de estudantes da AAC e com o apoio da UC e da AAC. Procura-se que haja, também, um envolvimento de parceiros complementares no projeto, abarcando todas as pessoas, singulares e coletivas, públicas e privadas, que tenham interesse em contribuir para o projeto, como por exemplo ex-estudantes da UC empreendedores, incubadoras, empresas, associações, entre outros. A meta a atingir passa pela promoção de uma mudança de atitudes, valores e comportamentos mais empreendedores e abertos, o uso de novas ideias e tecnologias e o combate ao estigma do fracasso.

Luís Rodrigues (LR): A Divisão de Inovação e Transferências do Saber (DITS) da UC tem, entre outras, a competência de promover a inovação e empreendedorismo junto da academia. Existia uma grande necessidade de aproximar os estudantes desta temática, pelo que foi dado o passo de iniciar negociações com a AAC no sentido de criar um projeto de educação, formação e sensibilização do empreendedorismo. Nasceu assim a ideia de nomear um embaixador estudante por cada núcleo de estudantes para divulgar e dinamizar iniciativas desta índole, junto dos seus pares, em colaboração com os núcleos de estudantes e com o apoio da UC e da AAC. OP: Como é que analisa o enquadramento do empreendedorismo em Portugal e em particular na cidade de Coimbra? LR: O empreendedorismo continua a ser um tema controverso em Portugal. No entanto, o mesmo é vital para a criação de emprego e novas oportunidades. Num mundo cada vez mais globalizado, a competição entre todos é maior e mais exigente e apenas com a capacidade de inovar e criar novos negócios é possível superarmos as nossas dificuldades económicas e sociais. Coimbra tem um longo percurso pela frente, todavia, nos últimos anos, tem sido feito um enorme esforço para melhorar estes indicadores para os quais os vários agentes têm contribuído. O papel da Universidade de Coimbra, neste aspeto, é muito importante porque contribui para uma economia baseada no conhecimento. OP: Quais os critérios que usaram para nomear os embaixadores da Académica Start UC? LR: Os embaixadores são nomeados pela

AAC e UC, sob proposta dos vinte e seis núcleos de estudantes. Compete em primeira linha aos núcleos de estudantes, legítimos representantes dos estudantes, escolher qual a pessoa que entendem ser mais capaz tendo em conta os objetivos do projeto. OP: Como é que é estabelecida a ligação entre a UC, a AAC e os diversos núcleos de estudantes? LR: Através dum secretariado que orienta e supervisiona a atividade dos embaixadores. O secretariado tem quatro pessoas (duas da DG/AAC e duas da DITS). OP: Numa universidade tão tradicionalista como a nossa de que forma é que a Académica Start UC pretende destacar-se pela inovação? LR: A UC é tradicional e histórica, mas também é inovadora. Uma Universidade que existe há tanto tempo é uma Universidade que sabe adaptar-se aos tempos e por outro lado deve ser capaz de lançar tendências. A Académica Start UC é uma resposta inovadora para aumentar o interesse dos estudantes nestas áreas. No final do ano letivo conseguiremos aferir o impacto deste projeto, mas julgamos que será muito positivo tendo em conta a execução do projeto. OP: Que projetos têm em vista num futuro próximo? E quais os que no passado tiveram mais impacto? LR: Garantir formação académica em empreendedorismo a todos os estudantes da Universidade de Coimbra e estabelecer a UC como referência europeia enquanto ecossistema de inovação e empreendedorismo. Em relação a projetos do passado/atuais destacaria o CEBT, Creative C, Concurso de Ideias e Planos de Negócio Arrisca C e as bolsas de ignição do InovC. Podem ter acesso a informação destes e outros programas em www.uc.pt/dits.

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Por | Carolina Maia e Joana Diogo Já alguma vez te questionaste como é que um investigador consegue o financiamento necessário para desenvolver um novo projeto de investigação ou continuar o mesmo? Nesta edição do jornal “O Pilão” tivemos a oportunidade de ver esta questão respondida pelo Dr. Nuno Mendonça, que desempenha o papel de unificador das empresas aos investigadores da Universidade de Coimbra. O Pilão (OP): Enquanto gestor na área da investigação científica, que funções desempenha no seu quotidiano e de que forma as mesmas se relacionam com as restantes partes interessadas? E que desafios enfrenta na realização das suas funções? Nuno Mendonça (NM): As funções que desempenho atualmente visam diminuir a distância entre os investigadores e o mercado. Mais do que simplesmente identificar potenciais empresas que podem estar interessadas na investigação realizada pela Universidade de Coimbra, o meu objetivo é promover contactos e reuniões entre investigadores e empresários/empreendedores para que possam trabalhar em conjunto. Colaboro ainda na preparação de projetos inovadores que financiem algumas destas parcerias estratégicas, que muitas vezes visam o desenvolvimento de produtos ou serviços disruptivos. Vivencio diariamente 3 desafios: gerir as expectativas divergentes de empresas e investigadores que tendem a ameaçar potenciais parcerias; coordenar um cronograma de gestão do tempo delicado, no qual o timing de desenvolvimento da academia e de implementação pela indústria são contraditórios; e intermediar a tradução das múltiplas linguagens usadas pelas empresas e pelos investigadores, evitando o surgimento de ruídos e possibilitando a criação de um código comum a todos os intervenientes. OP: Tendo em conta as necessidades atuais das sociedades e as caraterísticas do mercado de trabalho, qual considera ser o perfil ideal de um gestor e de um investigador? NM: Considero que o mercado atual não se coaduna com profissões estanques. Um investigador deve ter competências na área da gestão, assim com um gestor deve ter noções básicas de investigação, e apenas com o desenvolvimento de soft skills, será possível obter uma maior rentabilidade das funções desempenhadas. Tenho tido o prazer de encontrar excelentes investigadores, mas que sentem dificuldades em transferir conhecimento e tecnologia para o mercado. São um excelente exemplo do quanto os gestores de ciência podem auxiliá-los. O gestor de ciência consegue reunir algumas qualidades únicas, entre as quais a experiência em investigação e a preparação e respetiva submissão de projetos científicos e outputs associados. Essa experiência possibilita a compreensão da visão e linguagem dos investigadores e o desenvolvimento de estratégias direcionadas para as reais necessidades do mercado. OP: Que recomendações daria a um futuro licenciado ou a um recém-licenciado interessados em iniciar uma carreira na área da investigação científica e do medical writing? NM: Aliar as competências à prática será sempre a melhor estratégia para o desenvolvimento de capacidades no âmbito da investigação científica e do medical writing, ou seja, deve-se desenvolver estas habilidades, quer através de estágios em laboratórios de investigação, onde são necessárias competências inerentes ao pensamento

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científico e ao processo associado a estrutura de um projeto de investigação potencialmente direcionado ao mercado, quer através da participação em formações de medical writing, poderão aprender como comunicar eficazmente (com o focus no mercado da saúde).

“(...) o mercado atual não se coaduna com profissões estanques (...)” OP: Considera o medical writing um passo importante na investigação científica? Ajuda de alguma forma a unir uma investigação a um financiador? NM: De facto, a investigação apresenta um modo de escrita e de apresentação de resultados muito particular e normalmente direcionada à comunidade dos próprios investigadores. Este tipo de escrita, apesar de eficiente a nível de investigação, apresenta uma maior ineficácia a nível do mercado e de potenciais financiadores. O medical writing poderá ser determinante para facilitar a comunicação e o modo como esta é organizada, tendo como alvos principais a indústria farmacêutica e a indústria dos dispositivos médicos, mas ainda outras capacidades deverão ser desenvolvidas, como o modo de comunicação não escrita e o modo de promoção. OP: Como surgiu a oportunidade de trabalhar nesta área? O facto de trabalhar previamente em investigação deu-lhe alguma vantagem? NM: A necessidade premente de estabelecer contactos com empresas permitiu que fosse possível aplicar boa parte das minhas competências. Todas estas capacidades adquiridas durante os doze anos que dediquei à investigação e a outros projetos foram determinantes para o desenvolvimento do gestor de ciência que hoje sou. No entanto, um gestor de ciência nunca pode nem deve estar satisfeito com as suas qualificações. A meta é sempre desenvolver novas competências e buscar a excelência em novas áreas como o marketing, a tomada de decisão estratégica e outras valências associadas à gestão de empresas. OP: Como se procede no processo de ligação das empresas às investigações, existe algum método ou etapas que são seguidas? NM: O Programa Innovation@UC é uma iniciativa criada pelo Instituto de Investigação Interdisciplinar e promovida pelo seu Diretor, Professor Doutor Amílcar Falcão. Este posicionamento está alinhado com a visão estratégica da UC para uma participação ativa no mercado, focada na implementação e dinamização de articulações entre empresas e investigadores, com o intuito de fortalecer um relacionamento sólido e profícuo entre os intervenientes. Esta é uma aposta firme em promover e impulsionar um ecossistema já de sucesso que aproveita o melhor dos mundos académico e empresarial. Relativamente às etapas desta ligação, não há nenhum modelo estanque, uma vez que diferentes empresas têm diversos métodos de trabalho. É nossa prerrogativa utilizar um contacto exploratório para as reuniões com investigadores que permitam futuramente a preparação adequada de candidaturas conjuntas.

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Por | Carolina Maia e Tânia Baptista Ricardo Esteves Castro, Licenciado em Ciências Farmacêuticas, Doutorado em Química Farmacêutica e docente na Universidade de Coimbra, dá a conhecer a sua mais recente investigação ao jornal ‘O Pilão’ – Cristais Farmacêuticos de Bexarotene.

- Fármaco - Co-formador O Pilão (OP): Muito obrigada por nos conceder esta entrevista. A par da sua mais recente investigação acerca dos cristais farmacêuticos de Bexarotene será que nos poderia indicar o que são co-cristais? Ricardo Castro (RC): Um co-cristal é um sistema cristalino multicomponente, de estequiometria bem definida cujas interações são de natureza não covalentes e em que os componentes são sólidos à temperatura ambiente. Quando pelo menos um dos componentes é um fármaco, o co-cristal é designado co-cristal farmacêutico. Para o sucesso da co-cristalização devem ser utilizados como co-formadores, moléculas com grupos funcionais complementares aos do fármaco. Nesta seleção do co-formador também deve ser tido em conta a segurança, recorrendo-se a uma listagem de compostos. Uma das principais vantagens dos co-cristais farmacêuticos é a de conseguir otimizar as propriedades físico-químicas dos fármacos nomeadamente a solubilidade, a higroscopicidade, a estabilidade química, a compressibilidade, fluidez, entre outras. Após a dissolução do co-cristal farmacêutico o fármaco fica livre para uma rápida absorção, devido às interações não covalentes, não implicando novos estudos associados a uma nova molécula. OP: Para melhor elucidar os nossos leitores será que nos pode explicar o que é o bexaroteno? RC: O bexaroteno é um agente antineoplásico, indicado para o tratamento de linfoma cutâneo das células T, sendo comercializado como Targretin®. OP: Este projeto encontra-se em desenvolvimento há muito tempo? E no futuro continuará o seu desenvolvimento? RC: O projeto foi desenvolvido ao longo do último ano, tendo originado uma tese de mestrado defendida no passado mês de setembro, acabando por ficar algumas perguntas por responder, às quais vamos tentar encontrar respostas. OP: Esta nova descoberta está interligada com alguma start-up já existente ou poderá desencadear uma nova? Em caso afirmativo, em que área e quais os desenvolvimentos que poderiam surgir? RC: Neste momento não está ligada a nenhuma start-up, contudo estão a ser efetuadas diligências no sentido da viabilizar essa via. OP: Que alterações poderá trazer para a indústria a comercialização destes co-cristais? RC: Esta capacidade de otimização das propriedades físico-químicas dos fármacos tem sido utilizada por outras indústrias, como por exemplo na nutracêutica, cosmética, explosivos e agroquímica, entre outras. Em relação à indústria farmacêutica, apenas no ano passado começou a ser comercializado o primeiro co-cristal farmacêutico aprovado pela FDA, o Entresto™ da Novartis.

OP: Quais as qualidades de maior relevo que este tipo de co-cristais possuem que permitam a obtenção de uma patente? RC: São três as características necessárias para a obtenção de uma patente: ser novidade, ter um passo inventivo (não ser óbvio) e ser útil, isto é, suscetível de aplicação industrial. Desde que o co-cristal farmacêutico não tenha sido descrito anteriormente, satisfaz o requisito da novidade. A síntese de co-cristais farmacêuticos não é de todo óbvia, cumprindo assim o segundo requisito. E por último, devido à melhoria das propriedades físico-químicas do fármaco é passível de aplicação industrial. OP: Foquemo-nos agora no desenvolvimento de uma patente, será que nos pode ajudar a compreender qual o processo que se tem de seguir para obter uma patente? RC: A gestão do processo em si exige algum cuidado. Efetivamente logo após a descoberta, é importante não divulgar no imediato os resultados obtidos, o que vai contra a filosofia normal de divulgação de resultados científicos na forma de painel ou artigo. Neste caso concreto, tivemos esse cuidado desde o início, caso contrário passaria a ser informação do domínio público, e portanto não passível de ser patenteada. Refira-se a este propósito que a Universidade de Coimbra tem um Gabinete de Apoio à Propriedade Industrial (GAPI), que ajuda os inventores neste processo.

“(...)[a patente] ser novidade, ter um passo inventivo (não ser óbvio) e ser útil (...)” OP: Quanto tempo poderá demorar desde o fim de uma investigação até à obtenção da patente definitivamente? RC: O processo demora mais de um ano. Depois de submeter a patente, esta é registada de forma provisória no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Este organismo verifica se o documento preenche os requisitos para passar a definitiva, durando este processo cerca de 8 a 10 meses. Após este período, e até aos 12 meses a Universidade de Coimbra poderá fazer o registo definitivo apenas e só no caso em que surja interesse na patente, pois os custos anuais da mesma são elevados. OP: Portugal tem vindo a aumentar o seu número de patentes, sendo a área farmacêutica aquela com maior relevo, porém continua com valores abaixo das médias europeias, estarão estes valores relacionados com dificuldades na aprovação? Ou pela falta de lugares para uma investigação mais frutífera? RC: O problema é a falta de orientação no meio académico para a proteção de propriedade intelectual. No entanto, trata-se de um processo que tem registado grandes evoluções nos últimos anos. OP: Que conselho quererá deixar aos nossos leitores acerca da importância da iniciativa e empreendedorismo? RC: É sempre bom encetar novos desafios e sair da zona de conforto. Sem esse salto há muitos negócios que ficam por realizar e muita riqueza que não é gerada.

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Por | Pelouro da Pedagogia Nesta nova edição do Pilão, o Espaço Pedagógico decidiu dar destaque ao Programa Doutoral, no qual se verifica uma falta de informações no que toca a dados concretos para ingressar nesta via. Assim, este artigo pretende fornecer, de uma forma simples, sucinta e prática, algumas bases sobre este assunto. Quais os objetivos gerais da realização de um Programa Doutoral (3º ciclo de estudos) na FFUC? O Doutoramento é um grau académico conferido pelas Universidades a um candidato que tenha submetido a sua tese, com base numa investigação original e realizado a sua defesa. A criação de um Curso de 3º Ciclo em “Ciências Farmacêuticas” neste âmbito pretende: Estimular a inter e transdisciplinaridade; Promover as relações interpessoais; Estabelecer sinergias entre a FFUC e Centros de Investigação; Aglutinar os estudantes em torno de uma identidade comum; Proporcionar aos estudantes de um currículo atual, estimulante e personalizado; Capacitar e dar competências através de um ensino e uma investigação de excelência; Desenvolver mecanismos internos conducentes à aquisição do grau de Doutor. Realizando um doutoramento, a que tipo de Saídas Profissionais tenho acesso? Estes novos doutorandos serão formados e avaliados de acordo com critérios restritos de qualidade internacional, pelo que terão empregabilidade num espaço alargado, que inclui Instituições Académicas, Institutos de Investigação, agências de caráter governamental, Unidades Clínico-Hospitalares ou Empresas Farmacêuticas e de Biotecnologia, entre outros.

Quais os parâmetros de ingresso a um Doutoramento? Os alunos que se podem candidatar ao ciclo de estudos conducente ao grau de doutor dizem respeito a: Detentores de grau de mestre ou equivalente legal; Titulares de grau de licenciado com um currículo escolar ou científico especialmente relevante que seja reconhecido como adequado pelo Conselho Científico da FFUC; Os detentores de um currículo escolar, científico ou profissional que seja reconhecido para a realização do Programa Doutoral pelo Conselho Científico da FFUC; O reconhecimento a que se referem as alíneas b) e c) tem como efeito apenas o acesso ao 3º ciclo

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de estudos.

Especificações da FFUC: Média de conclusão do MICF superior ou igual a 14 valores; Quanto maior é o número de artigos publicados, maior é a valorização do currículo; Na valorização do currículo, a média final é apenas encarada como um complemento; Para que a defesa da Tese de Doutoramento ocorra em faculdade, o candidato terá de ter pelo menos 2 artigos publicados como 1º autor; O Projeto da Tese deve incluir quais os objetivos principais no tema, o que já foi abordado em trabalhos anteriores com o mesmo tema, quais os meios a utilizar para alcançar o que se pretende.

Qual a funcionalidade de uma Bolsa de Doutoramento? Na maioria dos casos há a candidatura a uma Bolsa Doutoral que sustenta todo o projeto de investigação do doutorando, caso contrário o mesmo terá que ser sustentado pelo aluno. A principal entidade nacional de atribuição de bolsas doutorais e pós-doutorais é a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que emite um concurso nacional online de atribuição de bolsas individuais. A decisão sobre a atribuição da bolsa é baseada num processo de avaliação com três critérios de avaliação: mérito do candidato (40%); mérito do plano de trabalhos (30%); mérito das condições de acolhimento (30%). O mérito dos candidatos é avaliado tendo em conta o percurso académico (a partir de uma nota base que resulta das classificações dos 1º e 2º ciclos de estudo) e currículo pessoal (percurso científico e profissional), onde devem constar publicações científicas e/ou comprovativos de desempenho científico ou profissional.

A quem se destinam estas bolsas? Cidadãos nacionais, cidadãos de outros estados membros da União Europeia, ci-

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dadãos de estados terceiros detentores de título de residência válido ou beneficiários do estatuto de residente de longa duração, ou cidadãos provenientes de países com os quais Portugal tenha celebrado acordos de reciprocidade. Para instituições estrangeiras só podem candidatar-se os cidadãos que comprovem residir de forma permanente e habitual em Portugal.

Quais os pré-requisitos específicos para a candidatura a uma Bolsa Doutoral FCT? Quem concluiu o grau académico de mestre até à data de submissão da candidatura; Detentor do grau de licenciatura e/ou um currículo científico relevante que seja reconhecido, pelo órgão científico legal e competente da universidade onde pretende ser admitido; Não ter beneficiado de uma Bolsa de Doutoramento ou Pós-Doutoramento em Empresas diretamente financiadas pela FCT; Não ter sido selecionado para atribuição de qualquer bolsa, independentemente da sua tipologia em qualquer Programa de Doutoramento FCT.

Quais os documentos de apresentação obrigatória para a candidatura a uma bolsa da FCT? Curriculum Vitae (CV) atualizado na plataforma FCT-SIG ou na plataforma DeGóis; Assegurar que o orientador científico se associa à candidatura e lacra a junção do seu CV, tal como co-orientadores que o candidato inclua; Plano de trabalhos a desenvolver – projeto da Tese; Uma carta de motivação e duas cartas de recomendação. Certificados de habilitações, especificando a classificação final obtida em todas as unidades curriculares realizadas.

Agradecimento pela colaboração na pesquisa: Doutora Victoria Bell, Doutora Ana Fortuna, Doutor Artur Figueirinha, Doutora Ana Miguel Matos, Doutora Sara Domingues, Doutora Mafalda Laranjo.


Por | André Ribeiro “O Pilão” continua a sua busca solidária pelas instituições coimbrãs, de modo a mostrar várias opções para os estudantes que estejam interessados nesta área. Desta vez, quem nos abriu as portas foi a Associação de Paralesia Cerebral de Coimbra (APCC). A APCC foi fundada em 1975 com o reunir de esforços de um grupo de pais e técnicos. O Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral de Coimbra (CRPCC) foi criado, tendo como objetivo a reabilitação de crianças com Paralisia Cerebral e doenças neurológicas afins. Em 1989, começou a Formação Profissional de forma a responder a pessoas com deficiência e a jovens e adultos em risco de exclusão social. O Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) foi criado em 1992, salientando o compromisso inicialmente estabelecido em termos de reabilitação e de integração da pessoa com deficiência. Na década de 90, iniciou-se a actividade em termos internacionais através de um projeto sobre novas metodologias de formação em pessoas com paralisia cerebral. Criou-se o Lar de Apoio e o Lar Residencial, que pretenderam responder a clientes e famílias. Surgiram, também, os serviços abertos à comunidade.

Como ser voluntário: O candidato tem de solicitar uma entrevista através do e-mail voluntariado@apc-coimbra.org.pt ou do contacto telefónico 239 792 120. Após a marcação, o candidato preencherá uma ficha de inscrição, circunstância na qual o técnico responsável lhe explicará a dinâmica institucional. O processo é submetido à direção e, quando aprovado, é ativado um seguro. O voluntário é integrado e após período de experiência, assina um compromisso de actividade. A actividade termina quando o voluntário deixa de ter disponibilidade, sendo emitido um certificado de participação. Todos os voluntários recebem semanalmente por e-mail, geralmente à sexta-feira, um programa onde é feita a distribuição por actividades, algumas destas são: Hidroterapia, Hipoterapia, Refeitório e Recreio, Desporto, Quinta Pedagógica “O Caracol”, Oficina do Brinquedo, Jardim de Infância entre outras. Contactos: Rua Garcia de Orta – Vale das Flores 3030-188 Coimbra Telefone: 239792120 Email: geral@apc-coimbra.org.pt

Por | André Ribeiro Sempre que te candidatas a um novo projeto pedem-te uma carta de motivação? Escreves o que achas adequado, mas não tens a certeza se estás a fazer o acertado? “O Pilão” veio em teu auxílio para esclareceres essas dúvidas! Carta de Motivação Esquema utilizado para responder a um anúncio ou fazer uma candidatura espontânea. Esquema No canto superior esquerdo deves indicar os dados pessoais: - Nome completo - Morada - Código postal e cidade - Nº de telefone - Email No canto superior direito deves indicar os dados da empresa à qual se candidatam: Cidade e data Um título ou referência da candidatura: - Se respondes a um anúncio: coloca-se a referência do anúncio e o nome do cargo; - Se fazes uma candidatura espontânea: coloca-se Candidatura Espontânea e o nome do cargo pretendido;

1º Parágrafo: diriges este parágrafo à empresa à qual te propões, e porque é que ela te interessa. Assim mostras que estás mesmo interessado em colaborar com a empresa. Porquê esta e não outra empresa? Deves chamar à atenção do leitor, argumentando com alguma pesquisa relativa à empresa à qual tu concorres. Evita demasiados elogios e tenta ser neutro na escrita. 2º Parágrafo: escreves a tua experiência profissional, as tuas competências e tudo aquilo que tu podes oferecer à empresa, relativamente ao cargo. Descreve as tuas responsabilidades, os sucessos conseguidos na área, e quais as tarefas que desempenhavas nos últimos empregos/estágios. Utiliza algumas palavras ou expressões utilizados no anúncio. 3º Parágrafo: a colaboração entre ti e a empresa pode ser importante para quê? O que podem fazer juntos. Mostra que és a pessoa que corresponde melhor ao perfil desejado pela empresa. Indica quais os projetos pelos quais tu te interessas, ou que gostarias de desenvolver dentro da empresa e como é que isso pode ajudar a empresa a se desenvolver. Despedida : diz que estás disponível rapidamente para uma entrevista. Despede-te cordialmente. Assinatura

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Por | Rodrigo Dias de Almeida e Tânia Baptista, em colaboração com o des.Liga

Alimentação Saudável e Prevenção do Cancro: des.LIGA-TE dos Excessos! Já conheces o projeto des.liga?

Sabias que:

75 a 80% da maior parte dos cancros são causados por fatoO des.LIGA é um projeto de educação para a saúde res associados ao estilo de vida? e prevenção do cancro desenvolvido no contexto do 1/3 das mortes por tumores malignos é atribuída a maus háensino superior, promovido pelo Núcleo Regional do bitos alimentares e à inatividade física? Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro em coo40% dos cancros poderiam ser evitados com mudanças no peração com Associações, Núcleos de Estudantes e outras Instituições. estilo de vida? Desenvolvido por estudantes e para estudantes, o des.LIGA visa a sensibilização para a prevenção do cancro e para a adoção de estilos de vida saudáveis, através da promoção de iniciativas dirigidas à comunidade estudantil e tem por objetivos:

Uma dieta saudável com uma alimentação variada e equilibrada e a prática de exercício físico regular ajudam a reduzir o risco de cancro. Também é importante a realização de 5 a 6 refeições por dia, de modo a não ficar mais de 3h30 sem comer. Deste modo há uma distribuição mais equilibrada dos alimentos ao longo das horas e existe também regulação do apetite, sendo possível fazer um controlo da ingestão alimentar por dia. Alguns dos fatores de risco alimentares são as gorduras saturadas presentes em carnes vermelhas e enchidos, o excesso de calorias e açúcares, que leva à obesidade, os alimentos tostados, o excesso de bebidas alcoólicas e muito sal na alimentação. Existem alimentos que ajudam na prevenção de tumores malignos, através da remoção de substâncias cancerígenas e da inibição do crescimento de células cancerígenas, tal como o ómega-3. Deve-se assim utilizar algumas práticas nutricionais como: • limitar o consumo de gorduras saturadas, açúcares e sal, sendo preferível utilizar ervas aromáticas, alho e cebola para temperar; • não reutilizar gorduras e preferir o azeite; • reduzir o consumo de carnes vermelhas; • preferir carnes brancas e peixe, preferencialmente peixes gordos (sardinha, cavala, salmão); • não comer alimentos pré-confecionados, pois contêm elevados teores de sal; • inclua leguminosas na sua alimentação. Os legumes contêm fibras, minerais e vitaminas, em especial os de cores vermelha e roxa têm licopeno, um potente antioxidante; • aumentar os produtos hortícolas e fruta nas refeições. Este são uma fonte de fibra e as hortaliças de cor verde escura têm sulfurafanos; • consumir cereais integrais; • não comer alimentos total ou parcialmente carbonizados; • moderar o consumo de bebidas alcoólicas.

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• Promover a criação de grupos de jovens que atuem ao nível da prevenção do cancro no ensino superior; • Potenciar as ações de educação para a saúde, prevenção e sensibilização para a problemática do cancro dirigidas à comunidade estudantil e comunidade em geral (ex: ações de sensibilização para a infeção pelo HPV e prevenção do cancro do colo do útero; ações de prevenção do tabagismo; ações de educação sobre hábitos alimentares saudáveis …); • Fomentar a adoção de comportamentos de saúde; • Atuar ao nível da prevenção primária e da promoção da prevenção secundária do cancro; • Potenciar a formação em oncologia junto da comunidade estudantil; • Diminuir os comportamentos de risco para o cancro em estudantes do ensino superior e promover a adoção de comportamentos de saúde. Em 5 anos de projeto, os voluntários já tiveram a oportunidade de participar em inúmeras atividades de promoção da saúde e de prevenção do cancro. Destacam-se atividades e campanhas de sensibilização realizadas durante a Queima das Fitas, a Festa das Latas, o Peddy-Paper “des.LIGA o Mito”, a produção de vídeos de sensibilização, e a publicação assídua em revistas e jornais universitários. Se gostavas de ser voluntário num projeto também adaptado a ti, junta-te à nossa equipa! Procura pela representante do des.Liga na FFUC (Tânia Baptista - 4º ano MICF) ou contata-nos pelo email: educacao.nrc@ligacontracancro.pt e esclarece todas as tuas dúvidas.

O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Em que consiste? A diabetes é uma doença crónica metabólica em que se verificam níveis elevados de glicose na corrente sanguínea durante um longo intervalo de tempo, resultando de uma insuficiente produção de insulina ou de uma incapacidade do organismo em utilizá-la. Os sintomas de uma hiperglicémia devem-se em grande parte ao aumento da osmolaridade na corrente sanguínea e ao aumento da eliminação de água na urina para que haja glicose eliminada, assim ocorre uma desidratação que leva a ativação de mecanismos como a xerostomia e uma sede constante e intensa. Outros sintomas são também a visão turva; o cansaço, devido ao maior esforço celular; a poliúria (para eliminar glicose); polifagia (as células não estão a receber glicose e o organismo ativa este mecanismo, porque deduz que o problema falta de comida); bem como comichão e sudação excessiva. Se não for controlada, esta patologia pode causar uma série de complicações: doenças cardiovasculares, doença renal crónica, úlceras e até a morte. Quais os diferentes tipos de diabetes? Existem três tipos principais de diabetes: A diabetes mellitus tipo 1 que resulta da produção de uma quantidade insuficiente de insulina pelo pâncreas. As causas são desconhecidas e normalmente é uma doença hereditária. A diabetes mellitus tipo 2, geralmente tem origem na resistência à insulina, uma condição em que as células do corpo não respondem à insulina de forma adequada. À medida que a doença avança, pode também desenvolver-se insuficiência na produção de insulina. A principal causa é peso excessivo e falta de exercício físico. A diabetes gestacional é a condição em que uma mulher sem diabetes apresenta níveis elevados de glicose no sangue durante a gravidez. Normalmente após a gravidez a doença cessa, mas existem casos em que tal não acontece. Estatísticas: Estima-se que em 2015 cerca de 415 milhões de pessoas em todo o mundo tivessem diabetes, sendo que cerca de 90% dos casos eram diabetes do tipo 2. Estes números indicam-nos que 8,3% da população adulta é portadora desta doença, afetando em igual proporção homens e mulheres. Entre 2012 e 2015, a diabetes foi a causa de entre 1,5 e 5 milhões de mortes anuais. O que devemos fazer? Tanto a prevenção como o controlo da diabetes consistem em manter uma dieta saudável, praticar regularmente exercício físico, manter um peso normal, não fumar, ter cuidados com outras doenças metabólicas, como a ateroesclerose, e com feridas. A diabetes do tipo 1 deve ser controlada com injeções regulares de insulina. A diabetes do tipo 2 pode ser tratada com antidiabéticos não insulínicos ou com insulina.

Em caso de hipoglicémias: As hipoglicémias caraterizam-se por palidez, tremores, dificuldades em raciocinar e palpitações. Deve-se ingerir ou beber imediatamente hidratos de carbono, como: dois pacotes de açúcar (15 g) ou meia lata de refrigerante (não dieta). Se está acompanhado, o acompanhante pode injetar Glucagon, se o diabético estiver inconsciente, agitado, confuso ou com a glicemia muito baixa (menos de 50 mg/dL). Esperar 15 a 20 min e caso os valores não tenham aumentado repetir o tratamento. Em caso de hiperglicémias: O diabético deve considerar se pode haver uma causa para os valores elevados. Deve tentar fazer algum exercício ou caminhada para reduzir o seu valor de glicémia. Caso tenha sido instruído de como o fazer, pode aumentar um pouco a dose de insulina. Se os níveis forem superiores a 200 mg/dl dirigir-se imediatamente ao um médico. O que é que tem sido feito? A nível do tratamento... Já no próximo ano, todas as crianças até aos 10 anos terão uma bomba de insulina: serão pelo menos 230. A medida, publicada em Diário da República uma semana antes do Dia Mundial da Diabetes - que se assinalou a 14 de novembro - cumpre uma resolução do Parlamento de 2015, que tem sido adiada até à data. O Ministério da Saúde vai assim alargar o acesso às bombas de insulina a todas as crianças e jovens com diabetes tipo 1, até agora só estava disponível para crianças até aos cinco anos. O previsto é que até 2019 todos os doentes até aos 18 anos possam usar este mecanismo. «A bomba de insulina é sem dúvida o melhor tratamento. O que queremos é levar ao maior número de pessoas este tipo de tratamentos. Infelizmente os recursos são limitados», explicou Cristina Valadas, coordenadora do Programa Nacional para a Diabetes. A nível da prevenção... A Novartis apresenta como missão “investigar e desenvolver tratamentos inovadores, procurando novas formas de os fazer chegar a tantas pessoas quanto possível”. Mantendo esse horizonte em cima da mesa a Novartis está a promover a Academia Digital, um curso online de 30 horas, sobre diabetes, que está a formar mais de 2 mil profissionais de saúde, em Portugal. Esta iniciativa tem como objetivo dotar os profissionais de saúde de capacidades e competências na abordagem e gestão da diabetes tipo 2 com vista a prevenir as complicações resultantes da doença, contribuindo, assim, para melhorar a qualidade de vida dos doentes. Este projeto também promove a aquisição de conhecimentos no âmbito da fisiopatologia da diabetes, terapêutica com antidiabéticos não insulínicos e insulinas, gestão das complicações, nutrição e acompanhamento do diabético.

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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Por | Carolina Maia Na FFUC podes encontrar três grupos académicos, todos eles com as suas particularidades, porém com um denominador comum – a música. ‘’O Pilão’’ apresenta-te nesta edição cada um deles relatando as suas experiências através dos seus Presidentes. Se te sentes incompleto nesta tua jornada académica, desafia-te e aumenta as tuas vivências fazendo parte de uma destas fantásticas famílias.

FFUCoral

Apresentamo-nos como FFUCoral e somos o grupo musical mais recente da FFUC. Este coro feminino foi fundado no dia 3 de Outubro de 2013 por dois alunos (João Henriques e Helena Santos) que aliaram a sua formação musical à vontade de criar um coro formado por estudantes. Interpretamos vários estilos musicais, desde peças de cariz estudantil, passando por músicas conhecidas do cinema, até adaptações de músicas jazz. Estreámo-nos no jantar de gala de Natal do NEF/AAC a 20 de Dezembro de 2013. Seguiram-se várias atuações entre as quais, o Encontro de Coros no Mosteiro de Santa Maria de Semide, a Noite Solidária FFUC, o jantar de finalistas da FFUC, e o Jantar da Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Farmacologia, para as quais tentámos levar sempre a melhor qualidade possível de modo a representar bem a nossa faculdade e ainda organizamos um concerto por ano. De atuação para atuação e de ensaio para ensaio a amizade entre todos nós foi crescendo e começámos a organizar algumas atividades para nos tornarmos cada vez mais uma família, entre as quais destacamos as viagens que fizemos a outros pontos do país, sempre acompanhadas de muita diversão, “flashmobs” pelas ruas de Coimbra, o já habitual CBB e o acampamento de Verão. Ao longo deste tempo, temos evoluído bastante e sentimos que a qualidade do coro está cada vez maior. Gostaríamos, no entanto, de crescer ainda mais e, para isso, contamos com novas vozes que queiram fazer parte da nossa família. Estamos todas as terças e quintas-feiras das 18h às 20h na sala de tunas.

Por: João Henriques Imperial TAFFUC

A Imperial TAFFUC foi fundada em 2007 por um grupo de amigos e estudantes da FFUC que desejavam ver nascer uma tuna masculina associada à sua casa-mãe. Após 9 anos e alguns momentos de menor fulgor a Imperial TAFFUC conta actualmente com cerca 30 de membros activos. Para além de Festivais de Tunas onde regularmente participa, uma digressão na Suíça no verão de 2014, a Imperial TAFFUC organiza anualmente a Semana Imperial que este ano decorreu entre 3 e 6 de Outubro. No fim de semana de 1 e 2 de Abril de 2016, realizou-se a primeira edição do IMPERIVS - Festival de Tunas da Imperial TAFFUC, um sonho de todos os elementos da Imperial TAFFUC desde os dias da sua fundação. A segunda edição do IMPERIVS, que se espera que seja de

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igual sucesso, irá ocorrer no fim de semana de 24 e 25 de Março de 2017. Pertencer à Imperial TAFFUC é pertencer a um grupo coeso, unido, que trabalha em conjunto para os seus objectivos. É este sentido de responsabilidade que é passado a cada membro e que os faz crescer enquanto pessoas e como consequência faz crescer a tuna. Em troca pela dedicação de cada um, a Imperial TAFFUC oferece a oportunidade de aprender música, o estabelecimento de um grupo de amigos e a possibilidade de viver momentos únicos e aproveitar ao máximo a curta passagem de cada um de nós por Coimbra. Convidamos todos os rapazes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra a virem experimentar um ensaio. Estamos todas as segundas e terças-feiras pelas 21:30h na Unidade Central do Polo III.

Por: André Melo Phartuna

Foi em Janeiro de 1996, que em plena sala do NEF/AAC, na antiga Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, situada no Palácio dos Melos, um grupo de estudantes com enorme gosto pela tradição e música Coimbrã, decidiu fundar a Phartuna – Tuna de Farmácia de Coimbra. Foi então fundada a primeira Tuna Mista de Faculdade da UC. Com orgulho e dedicação percorremos Portugal de norte a sul, em Festivais, Encontros de Tunas, atuações em Eventos, Retiros de Tuna e numa panóplia de atividades realizando este ano letivo a 4ª edição do nosso festival Boticários. Os nossos principais objetivos passam não só por difundir a tradição e música Coimbrã da melhor forma possível, mas também pela ajuda daqueles que mais precisam, pelo proporcionar de um simples sorriso àquele que menos tem, pela preparação dos nossos elementos para a vida, dando-lhes não só uma componente lúdica, mas incutindo-lhe respeito, espírito de união e trabalho em equipa. Atualmente, situamo-nos no Pólo III da UC, deixando para trás toda aquela mística da alta da Cidade, que aos poucos vamos tentando construir de uma forma diferente. É com muito Orgulho que dizemos que somos a Phartuna – Tuna de Farmácia de Coimbra! Se nos quiseres vir conhecer melhor aparece às quartas e quintas-feiras a partir das 21:30 na sala de tunas do Polo III.

Por: Pedro Santos

O Pilão | nº 16| Novembro 2016


Por | Cátia Almeida e Elisa Silva

Médicos e nutricionistas alertam para o risco do consumo excessivo de sementes As sementes são saudáveis devido ao seu conteúdo em fibras, vitaminas e minerais, contudo a ingestão de sementes como a chia, girassol ou sésamo está a preocupar médicos e que têm recebido pacientes com problemas causados pelo consumo excessivo destes alimentos, que chegam ao mercado sem controlo de qualidade. Este tipo de alimentos é consumido preferencialmente cru o que pode proporcionar a ingestão de micotoxinas, substâncias tóxicas produzidas por fungos. Segundo estes especialistas as sementes são utilizadas com o objetivo de estimular o intestino e são concordantes ao afirmarem que as pessoas têm a ideia errada que as podem consumir sem preocupação por serem saudáveis e não desencadearem sintomas colaterais. Para evitar este risco, o consumo deve ser feito sob orientação médica, uma vez que estes alimentos estão contraindicados em doentes com determinadas patologias, como a doença de Crohn ou perturbações no tubo digestivo.

Fumar provoca mutações genéticas nos pulmões aumentando risco de cancro Um cigarro contém mais de sete mil substâncias químicas diferentes, entre as quais 70 são conhecidas por serem cancerígenas. Esta situação implica que fumar um maço de cigarros por dia pode provocar cerca de 150 mutações por ano nas células pulmonares, contudo outros tecidos podem sofrer alterações no DNA, resultando num risco acrescido dos fumadores desenvolverem cancro. Os cientistas encontraram características moleculares específicas no DNA dos pulmões dos fumadores e determinaram o número nos diferentes tumores. Este estudo teve como base a comparação do cancro de fumadores com cancros semelhantes de pessoas que nunca fumaram, o mesmo também poderá ajudar no avanço da investigação e ajudar a desenvolver terapêuticas que melhorem a qualidade de vida dos pacientes diagnosticados.

Hospitais têm oito medicamentos novos contra cancro, VIH e hepatite

Os hospitais portugueses receberam neste ano oito medicamentos inovadores para combater cancros, VIH, hepatite C e psoríase. Metade destes novos tratamentos, que foram aprovados por darem resposta a doentes sem alternativa ou por serem mais baratos do que os já disponíveis, são dedicados à oncologia. A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) tem ainda mais de 200 fármacos em avaliação, que não serão todos inovadores, apesar de serem novos tratamentos. Os oito inovadores que chegaram aos hospitais neste ano - não são vendidos nas farmácias - são para o cancro da próstata, linfoma, melanoma, psoríase, VIH e hepatite C. O Infarmed demorou cerca de 250 dias a aprovar os novos medicamentos, embora o aumento de peritos deva reduzir estes prazos. “Demonstraram trazer benefícios adicionais face aos medicamentos com os quais foram comparados. Podemos destacar os relativos a eficácia, segurança, custo-efetividade ou existência de vantagem económica”, diz o Infarmed, que quer chegar ao final do ano com mais aprovações do que as 13 de 2015.

Saúde quer mais genéricos de biológicos para aumentar doentes tratados A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) quer aumentar o uso de genéricos dos medicamentos biológicos nos hospitais para conseguir tratar mais doentes. Têm de ser 20% mais baratos do que os medicamentos de marca que lhes deram origem e os hospitais vão ter de atingir uma quota mínima de 20% de uso de biossimilares. A poupança gerada pode ser aplicada a tratar mais cedo doentes que precisam deste tipo de cuidados ou para libertar dinheiro para a entrada de novos medicamentos inovadores. Os biossimilares, ou biogenéricos, como alguns especialistas lhes chamam, são uma espécie de genéricos dos biológicos. Não são cópias, mas sim similares aos de marca. Portugal tem 21 biogenéricos aprovados, para oito substâncias diferentes, como hormonas do crescimento, insulinas, estimulantes de crescimento de glóbulos brancos e vermelhos, para a artrite reumatoide e outras doenças autoimunes. Prevê-se que nos próximos dois anos mais quatro biogenéricos fiquem disponíveis, estes para o tratamento de cancro, devido à perda de patente, permitindo cada vez mais um aumento destes medicamentos.

Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

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1 - método/reagente usado na deteção de proteínas, cuja solução se torna violeta e cujo fundamento se baseia na interação entre o cobre e as ligações peptídicas. 2 – regra química, segundo a qual os átomos tendem a combinar-se de modo a ter, cada um, oito eletrões na sua camada de valência. 3 – enzimas que degradam dissacarídeos em monossacarídeos. 4 – o fibrinogénio é convertido em... pela ação da trombina. 5 – órgão linfático envolvido em processos como a produção de anticorpos e a hematopoioese. 6 – é uma forma de tecido conjuntivo rígido, é branco ou acinzentado e pertence às superfícies articulares dos ossos. 7 – tipo de imunidade não específica, que nasce com o indivíduo, sem necessidade de introdução de substâncias exógenas. 8 – hidrocarboneto com uma ligação dupla entre os seus átomos de carbono.

* as respostas sairão na página do Facebook d’O Pilão

9 – grupo de natureza não-proteica, que faz parte de proteínas conjugadas, e é essencial à atividade biológica dessas proteínas. 10 – a adenina está para a timina, assim como a guanina está para a... 11 – válvula auriculoventricular da zona esquerda do coração. 12 – principal proteína do plasma sanguíneo sendo sintetizada no fígado, pelos hepatócitos, e existe na clara do ovo. 13 – acelera a velocidade de uma reação sem ser consumido durante o processo. 14 – depuração plasmática, um conceito aplicado no estudo da eliminação de uma substância do corpo, pode ser abreviado para a expressão inglesa de... 15 – O ciclo do ácido cítrico é, também, conhecido por ciclo de... 16 – com ação contrária à insulina, é produzido no pâncreas sendo importante na iniciação da glicogenólise, com imediata produção e libertação de glicose pelo fígado. 17 – palavra que se refere, num sentido amplo, ao vocabulário próprio de uma determinada área de saber, segundo regras e metodologias próprias. 18 – recipiente alongado, de diâmetro uniforme, usado na medição de volumes e, principalmente, em titulações. 19 – técnica muito utilizada em microscopia, geralmente, para investigação e análise de problemas hematológicos e para deteção de parasitas, por exemplo. 20 – grau de imprecisão associado a uma medição, caracterizando-se por uma gama de valores possíveis.

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