32ª Edição - "O Pilão"

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na SOMBRA DE Ana Cabral

PharmaCurious

6 factos sobre a Indústria Farmacêutica pelo mundo

artigo de opinião

O Farmacêutico como Agente Prescritor

GRANDE ENTREVISTA COM

O PILÃO mariana roldão santos mariana roldão santos

“Muitos olham para o trabalho da OMS apenas quando é mencionada nos noticiários, no entanto, há um trabalho contínuo de extrema importância e que serve como pilar durante emergências de saúde.”

32ª EDIÇÃO // DEZEMBRO 22 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Revista do Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra

Grafismo e Paginação

Guilherme Baleiras e Vanessa Cipriano

Direção Editoral

Guilherme Baleiras e Vanessa Cipriano Redação

Beatriz Couceiro, Bernardo Hingá, Catarina Neves, Francisco Sampaio, Guilherme Baleiras, Inês Rosado, Inês Paião Silva, Inês Sofia Silva, Joana Abreu, Joana Pereira, Laura Cavalcante, Manuel Silva, Margarida Torres, Maria Araújo, Vanessa Cipriano

Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra

Polo das Ciências da Saúde, Azinhaga de Santa Comba, 3000-548 Coimbra

Contactos

nefaac.pt

opilao@nefaac.pt

@opilao.nefaac

/opilao.nefaac

Caros leitores,

No início do presente mandato, propusemo-nos a reaproximar os estudantes da FFUC da Revista do NEF/ AAC e a torná-la o mais apelativa possível para quem a lê, uma vez que acreditamos que “O Pilão” constitui uma ferramenta bastante útil do ponto de vista da integração, união e difusão do conhecimento. Para tal, procurou-se integrar conteúdos que tentassem abranger o maior número de áreas de interesse possível.

Assim, nesta trigésima segunda edição da Revista “O Pilão”, tentou-se envolver ao máximo a comunidade estudantil, através de iniciativas como a Open Call para a redação de um texto de opinião e a rubrica “C’a Tuna às Costas”, e ao mesmo tempo explorar certos assuntos e temas que estão na ordem do dia. Contudo, conscientes de que nada disto seria possível se não tivéssemos tido a ajuda certa, gostaríamos muito de agradecer a todos os que nos ajudaram a concretizar os nossos objetivos para esta Edição da revista, nomeadamente: Inês Pais, Catarina Melo, Dra. Mariana Roldão Santos, Professora Doutora Ana Cabral, Matilde Flórido, João Albernaz Zica, Beatriz Neto, Leonel Caria Guerra, Matilde Lopes, Susana Fanado, Phartuna, Imperial TAFFUC. Deixamos ainda um agradecimento especial ao pelouros da Intervenção Cívica e Social, da Pedagogia, da Educação e Promoção para a Saúde e das Relações Internacionais do Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra (NEF/AAC) pela dedicação que tiveram na elaboração dos textos das suas rubricas recorrentes.

Votos de uma excelente leitura e de um Bom Natal! A Equipa d’O Pilão

F I C H A T É C N I C A
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A NOSSA EQUIPA

Interessas-te pela escrita e julgas que podes acrescentar valor ao Pilão? Entra em contacto connosco e vem dar voz aos Estudantes da faculdade de Farmácia da universidade de Coimbra!

BEATRIZ COUCEIRO BERNARDO HINGÁ CATARINA NEVES INÊS ROSADO MARIA ARAÚJO INÊS sofia SILVA MANUEL SILVA MARGARIDA TORRES FRANCISCO SAMPAIO vanessa cipriano guilherme baleiras joana pereira joana abreu laura cavalcante INÊS Paião SILVA
5 Mensagem da Presidente do nef/aac, catarina melo 6 apresentação dos pelouros 9 CHEGADA DOS NOVOS CALOIROS 2022/2023 atividades nef/aac 17 Grande Entrevista com mariana roldão santos 26 insónias pelouro da promoção e educação para a saúde 28 gender bias nos ensaios clínicos 30 o papel das INFLUENCERS digitais na promoção da literacia em saúde apef social pelouro da intervenção cívica e social 35 na sombra de ana cabral 33 Liga de Propriedade Intelectual dos Estudantes da Universidade de Coimbra 38 ARTIGO DE OPINIÃO o farmacêutico como agente prescritos 40 c´a tuna às costas 42 12 31 17 35 42 espaço pedagógico pelouro da pedagogia 47 44 PHARMACURIOUS pelouro das relações internacionais agenda formativa

MENSAGEM DA PRESIDENTE

Diz-se por entre os Estudantes que o brilho de Coimbra é diferente do Brilho do resto do mundo. A todos os novos Estudantes que ingressaram no Ensino Superior, dizer-vos que esta será a vossa Casa e a cidade que vos irá receber ao longo dos próximos anos. Com o início deste novo desafio, permitam-me congratular-vos por este primeiro passo, certamente, numa das mais bonitas e memoráveis jornadas da vossa vida. Será inexplicável a História que estou certa que escreverão nesta Academia.

O Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra (NEF/AAC) conta já com 36 anos de História, lado a lado com com todos os Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra que dela queira fazer parte. Sendo o Núcleo mais antigo da Associação Académica de Coimbra, o NEF/AAC sempre se caracterizou pela luta constante na reivindicação dos interesses dos Estudantes, preparado para se adaptar às mudanças que lhe vão sendo exigidas e investindo igualmente no desenvolvimento de competências formativas cruciais para o percurso académico e profissional de todos os Estudantes.

Internamente, o Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra organiza-se em onze pelouros com as suas respetivas áreas de atuação. São dirigidos por Coordenadores que permitem o seu dinamismo e a conceção de atividades no âmbito a ele associado, de forma a responder às exigências dos cerca de 1800 alunos que representa, quer de Licenciaturas, Mestrados e Doutoramento. Toda a equipa NEF/AAC encontra-se disponível para, ao longo de todo o vosso percurso, vos ajudar e esclarecer todas as vossas dúvidas e ouvir sugestões. O reconhecimento da Comunicação e Imagem como aposta crucial na projeção da imagem externa do Núcleo, adaptando-nos às ferramentas que a evolução digital nos oferece e permitindo-nos um maior alcance e proximidade à comunidade estudantil.

A Formação como elemento preponderante de projeção dos Estudantes no mundo do trabalho, aliada à multidisciplinaridade das suas atividades e permitindo que cada Estudante da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra seja denotado profissionalmente, preparando os Estudantes para o mercado de trabalho.

Estes objetivos serão apenas cumpridos se a proximidade com os Estudantes for reforçada e aliada à Pedagogia NEF/AAC promovendo a relação entre os Orgãos Superiores da FFUC e fazendo-nos ouvir enquanto Estudantes, assertivamente e em prol do progresso e da excelência.

É também imprescindível uma contínua aproximação às comissões de curso naquele que deve ser o nosso dever de auscultar todos os Estudantes sobre as diferentes problemáticas que envolvem cada curso ministrado na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.

Querer escrever o capítulo dos 36 anos da História do Núcleo Mais Antigo da Academia é querer escrever um capítulo de irreverência, de respeito, de luta mas acima de tudo, de conquistas. É querer Deixar a Nossa Marca no seio da comunidade estudantil da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e no seio da Academia.

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A Presidente da Direção do NEF/AAC, Catarina Melo

DIREÇÃO

GAPE “O PILÃO” PEDAGOGIA RECREATIVO

NEF YOU

for

No passado dia 20 de setembro, decorreu a I Feira NEF For You, organizada pelo pelouro Recreativo - vertente Cultural. A feira teve como objetivo dar a conhecer o Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra (NEF/AAC) aos seus Estudantes, com especial foco nos alunos recém-chegados. Esta atividade surgiu no sentido de apresentar os vários pelouros do NEF/AAC, os seus integrantes e as atividades dinamizadas por cada um deles. Cada pelouro personalizou uma banca com características alusivas ao mesmo, onde se realizaram várias atividades. Desta forma, os estudantes puderam contactar diretamente com cada um dos pelouros, estabelecendo uma relação mais próxima com os seus representantes.

No caso da barraca do pelouro d´O Pilão, a atividade consistia em pedir aos caloiros para escreverem num papel uma palavra que descrevesse o seu primeiro dia na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. De entre as várias respostas, algumas delas bastante engraçadas, as palavras mais escritas foram: “Divertido“, “Assustador“, “Incrível“, “Diferente”, “Entusiasmante”. Desta forma, os Estudantes puderam contactar diretamente com cada um dos pelouros, estabelecendo uma relação mais próxima com os seus representantes. O feedback recebido foi bastante positivo tanto que, muitos dos alunos dos diferentes anos e cursos decidiram juntar-se ao Núcleo de Estudantes e colaborar em atividades futuras.

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Receção ao Caloiro

No dia 19 de setembro de 2022, iniciou-se a Semana da Receção aos novos estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC). Às 9h, os novos alunos tiveram a oportunidade de assistir à Sessão Solene de Abertura, que contou com a intervenção do Diretor da FFUC, Professor Doutor Fernando Ramos, da Presidente do NEF/AAC, Catarina Melo e do Tesoureiro da Associação de Antigos Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (A2EF2.UC), Dr. Tiago Craveiro. Pelas 10h45, a Receção ao Caloiro contou com as tão esperadas atuações das Tunas Académicas da FFUC, Imperial TAFFUC e Phartuna. De seguida, os alunos tiveram a oportunidade de participar em sessões de esclarecimento com os coordenadores do seu respetivo curso, a Professora Doutora Lígia Salgueiro Couto no caso do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, o Professor Doutor Rui Manuel no caso da Licenciatura em Ciências Bioanalíticas e o Professor Doutor António José Ribeiro no caso da Licenciatura em Farmácia Biomédica. Na parte da tarde, realizaram-se as Visitas Guiadas pela Faculdade de Farmácia, onde os novos alunos, para além de conhecerem as instalações e serviços da Faculdade, tiveram ainda a oportunidade de contactar com estudantes mais velhos, trocando impressões e esclarecendo quaisquer dúvidas.

No final deste primeiro dia, o NEF/AAC organizou uma Febrada, em colaboração com o Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (NEM/AAC), com o intuito de promover um convívio entre os Doutores e os recém-chegados caloiros. Esta atividade teve início pelas 18 horas, no átrio exterior da Biblioteca das Ciências da Saúde, tendo os alunos sido brindados com música ambiente proporcionada pelas Tunas da Faculdade de Medicina e, mais tarde, pelas atuações das Tunas Académicas da FFUC, Phartuna e Imperial TAFFUC.

No dia 22 de novembro, pelas 18h30, decorreu o Peddy-Papper organizado pelos pelouros Recreativo vertente Cultural e Recreativo vertente Desportiva do NEF/AAC. Os novos Estudantes tiveram oportunidade de conhecer alguns pontos-chave e locais históricos daquela que será a sua casa, nos próximos anos. A atividade consistia na resposta a alguns desafios colocados em cada local, de entre os quais podemos destacar a Cruz de Celas, as Escadas Monumentais, a Porta Férrea, Palácio dos Melos (antiga Faculdade de Farmácia), Estátua do Leão e a Associação Académica de Coimbra (AAC), casa-mãe de todos os estudantes da nossa Universidade. Todos os participantes mostraram-se divertidos e motivados ao longo do percurso, tendo saído vitoriosa a equipa “Farmacêuticas Anónimas”.

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diário de um Caloiro

Cheguei a Coimbra, vindo de um dos concelhos mais envelhecidos. Fui do oito ao oitenta. Vim de uma escola pequena, de uma aldeia pequena, onde é tudo muito sossegado, devido à falta de gente, e aterro em Coimbra, onde me deparo com uma cidade muito agradável, cheia de vida estudantil e marcada por um ritmo alucinante. Na verdade, é uma cidade que parece ser dotada de uma vida própria. Uma vida para os estudantes. A ideia de ser uma cidade grande, onde não se conhece ninguém depressa se desmistifica, muito em virtude da Praxe. Sim, da Praxe! Quando ouvia a palavra Praxe, ficava meio assustado. Contudo, a praxe foi integradora. Esta atividade que muitos repudiam, foi, no meu caso, ótima para conhecer grande parte dos meus colegas. Conhecemos quer caloiros, quer Doutores que, efetivamente, se mostram muito disponíveis para nos orientar nos primeiros dias de aulas (e sempre). E isso fascina! O espírito de entreajuda que se faz sentir logo no primeiro momento é algo que nunca vou esquecer, bem como a diversidade de pessoas com que nos cruzamos. Esse lado compensa todas as sensações mais negativas próprias das incertezas que carregamos nos primeiro dias. Pertencer à FFUC é fazer parte de uma instituição bastante moderna, onde o ensino se revelou, até agora, de qualidade. A ideia de que os professores universitários possuem um grande ego, pois não estão para acompanhar quem não acompanha, também se destruiu rapidamente. Na minha licenciatura, existe uma boa proximidade entre os docentes e os discentes, sendo que os docentes se revelam muito preocupados e disponíveis. Estudar em Coimbra é toda uma experiência! É carregar anos de história. É sentir na pele o verdadeiro espírito académico, marcado por uma tradição incrível e indescritível. A Serenata e o Cortejo são os momentos que mais destaco, é impossível traduzir para palavras o que se sente. Assim, se quiserem, acima de tudo, conjugar a felicidade e o conhecimento, venham estudar para Coimbra. Acreditem que é a melhor escolha.

Desde que me lembro que sempre quis vir estudar para esta cidade. Talvez por influência de familiares e amigos que já cá estudaram e disseram que, realmente, Coimbra tem outro encanto. No meu primeiro dia de aulas na Faculdade, estava receosa, era tudo novo, tudo desconhecido. No entanto, ao ser recebida pelos alunos da FFUC e, em especial, pelos meus Doutores de LCB, o receio transformou-se em segurança e felicidade! O ambiente familiar, a alegria, a empatia e a vontade de ajudar todos os caloiros foi deveras notória, fazendo-me sentir em casa. Não podia estar mais grata por toda a disponibilidade que demonstraram para comigo. Cada vez estou mais certa da minha escolha e espero um dia influenciar alguém da maneira que me influenciaram a mim, porque, de facto, a partir de agora, Coimbra terá outro encanto.

Com os meus tenros 12 anos de idade, já sonhava com o primeiro dia de Universidade. A ideia de estudar o que mais me interessava, de mudar de cidade, de casa e de estilo de vida sempre me deixou genuinamente entusiasmada e impaciente. Finalmente, a espera terminou e esse tempo chegou. Sou a Matilde e estudo Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Apesar do entusiasmo inicial em relação a esta nova fase da minha vida, muitas foram as inseguranças que me roubaram o sono nos primeiros dias de aulas. Sair do ninho acabou por não se revelar o encanto que imaginei… Felizmente, junto das minhas colegas de casa, também elas caloiras da FFUC, encontrei apoio, companheirismo, compreensão e o calor humano de que tanto necessitava. Afinal, todas passávamos pelo mesmo! De igual modo, o ambiente simpático, caloroso e cordial com que fui acolhida nesta Faculdade pelos doutores tranquilizou-me e fez com que estas primeiras semanas de Faculdade se tenham tornado no sonho de menina que outrora idealizei. Neste momento, mal posso esperar para descobrir o tanto que acredito Coimbra tem para me oferecer!

Leonel Caria Guerra, 1º ano lfb Matilde Lopes, 1° ano micf
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Beatriz Neto, 1º ano LCB

V FEIRA DE EMPREGO

Nos passados dias 18, 19, 20 e 25 de outubro decorreu, na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, a V Feira de Emprego NEF/AAC, cujo objetivo foi proporcionar uma proximidade entre as diversas áreas do Setor Farmacêutico e os estudantes da faculdade, dando a conhecer inúmeras opções de saídas profissionais e a oportunidade de participar em workshops úteis à entrada no mercado de trabalho. Estas atividades decorreram tanto em regime presencial como por via remota.

Nos dias 18 e 19 de Outubro, entre as 9h e as 17h, contou-se com a presença de várias empresas e associações do Setor Farmacêutico, distribuídas por vários stands, no átrio interior da Faculdade. O primeiro dia contou com a Owlpharma, a Generis, a LabialFarma, a Plural+Udifar e a Associação Portuguesa dos Farmacêuticos Hospitalares (APFH). No dia seguinte, estiveram presentes a LabialFarma, a Glintt, os Laboratórios Germano de Sousa, a Bluepharma, as Farmácias Holon e os Laboratórios Basi.

Adicionalmente, nestes mesmo dias, das 18h às 20h, foi possível frequentar as sessões complementares, realizadas em regime misto (presencialmente e por via remota), em que de forma mais ordenada e dire-

ta as respetivas empresas transmitiram informações de carácter relevante. Para além das empresas e associações supracitadas, o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses e a GlaxoSmithKline também participaram nas sessões complementares, tendo sido representado pela Doutora Helena Teixeira.

Para além dos stands e das sessões complementares, também se encontravam incluídos no programa da Feira de Emprego do NEF/AAC o workshop

“Curriculum Vitae e LinkedIn de Sucesso”, ministrado pela Dra. Rita Mendes, no dia 20 de novembro, às 18h, e a “Simulação de Entrevista”, no dia 25 de novembro, às 18h, sob a orientação da Dr. Carolina Pedreira. Cerca de um mês depois, no dia 7 de dezembro, foi lecionado pela Drª. Joana Nobre um outro workshop, cujo tema era a “Comunicação Empresarial”.

Em suma, a V edição da Feira de Emprego NEF/AAC revelou-se novamente uma atividade, acima de tudo, esclarecedora, importante e útil, cuja aproximação dos estudantes à realidade das várias áreas farmacêuticas e mercado de trabalho foi feita com uma abordagem dinâmica.

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por inês paião silva

Política em Saúde

No passado dia 11 de outubro decorreu, na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), no Auditório da Unidade Central, a primeira edição da atividade Política em Saúde, dinamizada pelo pelouro da Pedagogia do Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra (NEF/AAC).

A atividade Política em Saúde teve como principal objetivo dar a conhecer à comunidade estudantil do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (MICF) as entidades externas análogas à sua futura profissão. Desta forma, os Estudantes tiveram a oportunidade de ter contacto direto com estas entidades e de compreender a sua posição relativa à profissão farmacêutica, através da promoção de um debate entre as mesmas.

O Plano da Atividade contemplou:

Com a presença do Senhor Subdiretor da FFUC, Professor Doutor João José Sousa e Presidente do NEF/AAC, Catarina Melo.

“O Futuro da Profissão Farmacêutica em Portugal” Debate com a participação do Senhor Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Professor Doutor Hélder Mota Filipe, da Senhora Vice-Presidente da Direção da Associação Nacional das Farmácias (ANF), Srª. Drª. Paula Dinis, do Presidente da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF), Bruno Alves e, ainda, com a Secretária-Geral da Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde (SPFCS), Drª. Maria do Céu Ferreira.

O Debate foi moderado pela Professora Doutora Margarida Castel-Branco, docente da FFUC.

Os participantes que assistiram ao Debate, tiveram a oportunidade de colocar questões individuais às entidades intervenientes e a oportunidade de conhecer de forma próxima as mesmas.

A realização desta atividade permitiu aos Estudantes conhecer melhor as entidades convidadas e estabelecer uma visão mais aprofundada face ao tema do Debate, “O Futuro da Profissão Farmacêutica em Portugal”, sendo este de grande interesse para os jovens e futuros farmacêuticos. O feedback da atividade foi bastante positivo, tendo também apresentado grande adesão por parte dos Estudantes da FFUC.

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Sessão de Abertura Sessão de Debate Sessão de Esclarecimentos por inês rosado

I SEMANA INTERNACIONAL

Nos passados dias 26, 27 e 28 de setembro, realizou-se a I Semana Internacional.

O primeiro dia deste evento iniciou-se com a Welcoming Session para estudantes Erasmus Incoming, que decorreu na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), pelas 18h, em colaboração com o pelouro da Pedagogia e a Professora Doutora Carla Vitorino, Coordenadora de Erasmus Incoming. No decorrer da sessão, foram explicados os direitos e deveres aos estudantes, bem como alguns processos burocráticos. De seguida, as Coordenadoras e colaboradoras do pelouro da Pedagogia clarificaram o modo de funcionamento das plataformas da Universidade de Coimbra (UC). A parte lúdico-cultural foi introduzida pelo pelouro das Relações Internacionais, tendo sido realizado, após a Welcoming Session, o Peddy Paper Internacional, que contou com a presença de 4 estudantes italianas e a cooperação das colaboradoras do pelouro das Relações Internacionais. Nesta atividade, foram dados a conhecer locais emblemáticos da Cidade de Coimbra, como a Praça da República, o Pólo I, o Palácio dos Melos, a Sé Velha, a Baixa, entre outros. Foram realizadas atividades em cada ponto, muito relacionadas com as tradições Coimbrãs, das quais se obteve um feedback muito positivo por parte das estudantes.

Para além do referido, foram publicados três testemunhos de quatro estudantes da FFUC - Testemunhos de Erasmus Outgoing - sobre a sua experiência de Erasmus, de anos e países diferentes, em formato de vídeo. Estes vídeos foram uma mais-valia, pois, desta forma, os estudantes conseguiram perceber a realidade de outros estudantes que frequentaram este programa de mobilidade.

Na página do International Spot, também foi efetuado um Quizz via instastories - Frequently Asked Questions (FAQs) - que continha perguntas frequentes que os estudantes costumam fazer e as suas respetivas respostas, de forma a colmatar algumas dúvidas mais comuns apresentadas pela comunidade estudantil.

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por francisco sampaio

No 2º dia da I Semana Internacional, realizaram-se as IX Jornadas da Mobilidade. Nesta atividade explanaram-se e clarificaram-se os diversos programas de mobilidade que os alunos poderão realizar durante a sua jornada académica. Promoveu-se o conhecimento das diversas associações que realizam estes programas, bem como o conhecimento dos mesmos tendo, dando a conhecer associações nacionais e internacionais de estudantes de Farmácia, como é o caso da APEF (Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia), European Pharmaceutical Students’ Association (EPSA) e a International Pharmaceutical Students Federation (IPSF). Pôde contar-se com a presença do Professor Doutor António José Ribeiro, a Sra. Dra. Ana Isabel Ferreira, o Professor Doutor Ricardo Castro, o Liaison Secretary da APEF - Josué Moutinho, a Student Exchange Officer da APEF - Joana Neves, Contact Person da IPSF, Denise Ettenberger e, ainda, o Professor Doutor Carlos Cavaleiro.

Foram, ainda, publicados vídeos com Testemunhos de SEP (Student Exchange Program) e Twinnet de diferentes estudantes da FFUC, em que estes relataram um pouco da sua experiência internacional. Os vídeos tiveram como principal objetivo a divulgação de experiências que permitiram elucidar e esclarecer algumas questões dos vários estudantes da nossa faculdade, tais como questões económicas, sociais, culturais, acerca dos diversos países para os quais os mesmos têm a oportunidade de ir.

No terceiro e último dia, decorreu o International Dinner, em colaboração com o pelouro Recreativo - vertente Cultural. O jantar contou com a presença de estudantes italianas e portuguesas, onde cada uma se fez acompanhar com algo típico do seu país/ região para partilhar. Após esta partilha gastronómica, foi realizada uma dinâmica acerca de expressões e ditados portugueses na qual as estudantes teriam que adivinhar o que significavam e vice-versa.

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GRANDE ENTREVISTA COM

Mariana Roldão Santos

Experiência profissional

2010: Estágio Farmácia Hospitalar no UAMS Medical Center, Little Rock, EUA

2011-2012: Estágio em Farmácia Hospitalar no Hospital de Santo André em Leiria, Estágio em Farmácia Comunitária na Farmácia São José, Coimbra, Portugal

2012: Investigação (Erasmus Placement) na University College London (UCL) – School of Pharmacy, Londres, Reino

Unido

2013: EU Regulatory Officer, na Obelis Group - Representante Autorizado da UE, Bruxelas, Bélgica

2013-2016: Chief Policy Advisor/ International Affairs Officer, na Agência Europeia do Medicamento (EMA), Londres, Reino Unido

2016: Membro do Parlamento, Parlamento de Saúde do Reino Unido

2016-Presente: Embaixadora da One Young World (OYW), Londres, Reino Unido

2016-2018: Project Researcher, Strategy Team, Access to Medicines Foundation (ATMF), Amesterdão, Países Baixos

2017: Visiting/Invited Lecturer na London School of Economics and Political Science (LSE), Londres, Reino Unido

2018-2019: Pharmaceutical Specialist no Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), Kiev, Ucrânia

2019-2021: Scientist, Regulatory Systems Strengthening team, Regulation and Safety, na Organização Mundial de Saúde (OMS), Genebra, Suíça

2021-Presente: Technical Officer, Facilitated Product Introduction team, Regulation and Safety, na Organização Mundial de Saúde (OMS), Genebra, Suíça

2022-Presente: Membro do Comitê de Peritos na Access to Medicines Foundation, Amesterdão, Países Baixos

Formação

2007-2012: Mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmacia da Universidade de Coimbra, Portugal

2012: Leading Pharma – Programa de Gestão para a Indústria Farmacêutica, Católica-Lisbon, School of Business & Economics, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal

2013: Pós-Graduação em Direito da Farmácia e do Medicamento, Faculdade de Direito, Universidade de Coimbra, Portugal

2017: Pós-Graduação em Saúde Global e Diplomacia, Graduate Institute Geneva, Genebra, Suiça

2018: Pós-Graduação em Análise de Politicas Farmacêuticas, Utrecht Institute for Pharmaceutical Sciences, Utrecht, Países Baixos

OP: Durante o seu percurso académico como estudante do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, desempenhou cargos ligados ao associativismo, nomeadamente, no Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra (NEF/AAC) e na Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF), tendo ainda realizado diversos estágios e formações, tanto dentro como fora de Portugal, em diferentes áreas. De que forma é que o seu percurso académico moldou a profissional que é hoje em dia?

MRS: O meu percurso académico e as escolhas que fiz durante o mesmo definiram a minha entrada no mundo profissional. Escolhas como pertencer a grupos associativos, fazer estágios dentro e fora de Portugal e optar por estudos adicionais, como pós-graduações ou formações online, tiveram e continuam a ter um grande impacto no meu trajeto profissional. Estas atividades ajudaram-me a adquirir competências de cariz técnico e não-técnico, como competências pessoais e sociais, de grande importância e que influenciaram de forma significativa o meu percurso profissional, incluindo a forma como me posicionei no seu decorrer, as escolhas que fiz durante o mesmo, e a minha abordagem para encarar e superar cada desafio. Por exemplo, tanto o SEP nos EUA como o Erasmus Placement em Londres foram experiências e oportunidades que, para além de me terem permitido explorar áreas que eram do meu interesse naquele momento, também me possibilitaram adquirir conhecimento sobre o papel do farmacêutico fora de Portugal e perceber como me poderia inserir num meio multicultural, ajudando por sua vez na escolha de um trajeto internacional de forma consciente, informada e com mais segurança. O facto de ter desempenhado cargos ligados ao associativismo durante o MICF também influenciou significativamente o meu trajeto pós-académico, nomeadamente, na minha propensão para continuar a trabalhar em prol da comunidade. Isto é visível e reflete-se nas minhas escolhas profissionais, onde se pode observar que optei sempre por uma ocupação com uma vertente comunitária e de impacto em saúde pública, regional ou global, assim como na minha predisposição para trabalhar, complementarmente à minha ocupação principal, com grupos que visam contribuir para uma melhoria da saúde na comunidade. Alguns exemplos da influência dessas experiências associativas incluem as minhas participações no UK Health Parliament, como Membro do Parlamento, e no One Young World, como Embaixadora na área de saúde global e acesso a produtos médicos, em países em

desenvolvimento, bem como os vários os artigos que já escrevi sobre o tópico: “Access to essential medicines”, no Jornal The Hippocratic Post, “Securing Our Health System For The Future: Striving Towards Sustaining Optimal Health For All In The United Kingdom”, durante o UK Health Parlaiment 2017, e “WHO collaborative registration procedure using stringent regulatory authorities’ medicine evaluation: reliance in action?”, no Expert Review of Clinical Pharmacology Journal. Durante o meu percurso académico, também completei várias formações adicionais que tiveram um impacto significativo nas minhas competências técnicas e no meu trajeto profissional. No entanto, a aprendizagem deve ser constante durante o nosso percurso. Há sempre conhecimentos a atualizar e algo mais que nos pode adicionar valor. A formação de que me refiro não necessita de ser da forma clássica como a conhecemos, pode ser simplesmente uma formação online, certificação ou até mesmo a aprendizagem através de um bom livro. O timing para aprender algo novo é sempre o correto quando há a necessidade de adicionar conhecimento, até mesmo em fases mais avançadas do nosso percurso profissional.

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Cada passo que dei durante o meu percurso académico, teve um impacto significativo e muito positivo nas escolhas que fiz e naquilo que me tornei, enquanto farmacêutica a trabalhar em políticas de saúde pública global e a dar apoio a países em desenvolvimento, para que todos tenham acesso a saúde como um direito básico.
GRANDE ENTREVISTA
Avaliação das Autoridades na Região Sul Africana no zimbabué

OP: Em entrevista ao Lado F, o Podcast da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos, utilizou a expressão “andar com a minha vida às costas durante quase 10 anos” para descrever os 10 anos que se seguiram após concluir o Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Durante a sua “viagem profissional” por 7 países, quais foram as maiores dificuldades e choques culturais que teve de enfrentar?

MRS: Como mencionei durante a entrevista com a APJF, foram sim, 10 anos ricos de experiências e aprendizagens, a viver em vários países e em missões em tantos outros, e sempre “com a minha vida às costas”. Mas também há o outro lado da moeda, pois não houve atalhos. Não apelido isto de dificuldades, mas apenas de desafios que tive de superar ao longo deste percurso, sendo que alguns são comuns a todos os que optam por viver de forma semelhante. Não nos iludamos, pois não é fácil ter de optar pelo caminho mais difícil no foro pessoal ou ter um aeroporto como segunda casa ou simplesmente ter de recomeçar, repetidamente, a vida num país novo e adaptar rapidamente a novas formas de viver e trabalhar. No meu caso, eu considero que tudo isso teve um impacto muito positivo em mim, no entanto, nem sempre o processo para lá chegar foi fácil, acarretando alterações ou transformações drásticas na minha vida e em mim enquanto pessoa. E por isso, para mim, o grande desafio foi manter a minha identidade após estar exposta a tantas alterações de ambiente e mudanças de vida, depois de me ter de adaptar a formas de viver tão díspares e experienciar tanta realidade diferente. No meio desse percurso, o desafio é mantermo-nos íntegros à nossa essência, identidade, valores e princípios, ao mesmo tempo que usufruímos da “viagem”, apreciamos as diferenças e aperfeiçoamos o que pode ser melhorado em nós. Este equilíbrio passa em primeiro lugar por nos conhecermos e em segundo por não encararmos as diferenças como um motivo para divergência, mas ao invés vê-las como algo positivo que nos complementa, enriquece e fortalece. Eu costumo categorizar os desafios mais comuns em 3 tipos: os culturais e administrativos, os ligados aos relacionamentos próximos e, por fim, os relacionados com o clima. Começando pelos desafios administrativos, quando mudamos para outro país, temos de estar preparados para nos deparar com sistemas significativamente diferentes daqueles que conhecemos, a nível governamental, político, fiscal, financeiro, de saúde, entre outros. Foi necessário reaprender e adaptar-me consecutivamente aos vários sistemas de cada país e para isso é necessário não só flexibilidade, mas também alguma

resiliência. É necessário considerar que mudanças de país não envolvem apenas comprar um voo e encontrar uma casa para viver. Na verdade, têm de se fechar vários processos administrativos no país onde se reside e abrir novos no país para aonde se vai residir, e, assim consecutivamente, de país em país. Quanto aos desafios culturais, é de salientar as diferenças na alimentação e nos alimentos disponíveis localmente, pois é necessário haver uma adaptação, até mesmo fisiológica, às cozinhas e alimentos locais. É de considerar também as diferenças culturais nas formas de viver, pois há hábitos e costumes díspares dos nossos que temos mesmo de integrar, como substituir um carro por uma bicicleta como meio de transporte principal. As diferenças nas formas de trabalhar também não passam despercebidas, sendo por vezes este o maior choque para muitos. Por exemplo, o facto de em algumas culturas não ser bem aceite trabalhar mais de 7-8h diárias, demonstrando falta de planeamento por parte do empregador ou falta de eficiência por parte do trabalhador, enquanto noutras ser culturalmente aceitável que um trabalhador trabalhe diariamente mais de 10h, com ou sem compensação. Estas alterações requerem que aquele que está a chegar, concordante ou discordante com o sistema em vigor, se tenha de adaptar ao mesmo. Outro desafio que para mim se fez sentir, foi na área dos relacionamentos próximos, como com a família, marido e amigos. Nem todos lidam bem com a distância daqueles que lhes são mais queridos e, por isso, sei que este desafio tem um peso diferente de pessoa para a pessoa. Esta é a parte da minha vida que não pude trazer sempre “às costas” para onde ia, como teria gostado, dado ser uma pessoa muito chegada à família. Uma vez mais tive de optar pela decisão mais difícil de manter o equilíbrio, através de viagens frequentes e videochamadas diárias, mantendo uma relação afetiva à distância, durante quase uma década. Como é obvio não há receita mágica, nem “certos” ou “errados” sobre este assunto, apenas acredito também não haver impossíveis, e espero que a minha experiência, que acredito ser bem-sucedida até então, dê coragem a tantos outros jovens que partilham experiências semelhantes, aonde a distância tem um peso acrescido. Finalmente, as diferenças de clima, que nos tendem a afetar não só biologicamente, com horas de sol diárias díspares, mas também na nossa dinâmica, nas nossas rotinas, etc. No entanto, acredito que o ser humano é de hábitos e se houver vontade, também aqui não há impossíveis. Há sempre prós e contras em todas as decisões que tomamos, só temos de analisar qual dessas decisões se torna mais favorável para nós e

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para os envolventes e ter a coragem necessária para a tomar, mesmo sendo essa a mais difícil das opções. Por vezes é necessário tomar decisões difíceis para se encontrar a realização com que se sonha e viver o seu propósito.

OP: Em 2018, teve a oportunidade de trabalhar numa missão de campo na Ucrânia pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP). Podia-nos falar mais acerca da mesma? Que desafios é que surgiram ao trabalhar num país em desenvolvimento?

MRS: Na sequência do trabalho que realizava na Access to Medicines Foundation, em Amesterdão, surgiu a questão: “não seria melhor estar no campo para perceber quais são as dificuldades reais de Low and Middle-Income Countries em termos de acesso à saúde, de forma a poder ter um impacto superior nesta área?”. E foi neste contexto que aceitei esta missão na Ucrânia, com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP/PNUD). Entre todos os países onde já vivi e trabalhei, a Ucrânia, foi sem dúvida o mais diferente de todos. Foi a minha primeira experiência de longa duração e do género num Low and Middle-Income Country. Enquanto experiência, tive uma excelente receção e fui muito bem acolhida pelos meus colegas que me levaram a conhecer todos os cantos da cidade de Kiev. Como é obvio, existem sempre diferenças culturais e diferentes níveis de segurança, mas nunca os senti como dificuldades ou desafios para a minha experiência no país. A minha adaptação cultural e social foi surpreendentemente rápida e até encontrei várias semelhanças na alimentação. Os desafios com que me deparei estiveram relacionados apenas com o clima, o idioma e alfabeto e o facto de, naquela altura, não haver muitas conexões de voos para Portugal, o que levou a que ficasse lá longos períodos de tempo sem conseguir vir a casa. Quanto ao contexto do meu trabalho na Ucrânia, em 2014, após a revolução nacional, a instabilidade política que se vivia colocava várias limitações e dificuldades ao Ministério da Saúde para fazer face às necessidades de aquisição de produtos médicos para todo o país. O Ministério da Saúde da Ucrânia solicitou, então, apoio à UNDP/ PNUD na aquisição de medicamentos e dispositivos médicos para todo o país. Como outros problemas surgiram sobre a qualidade dos produtos que circulavam no país, nomeadamente, medicamentos falsificados ou contrafeitos, simultaneamente, também se iniciou uma reforma do sistema de saúde na Ucrânia, incluindo a criação de uma agência centralizada para a aquisição destes produtos no Ministério da Saúde.

O objetivo principal deste trabalho era garantir a circulação de produtos médicos de médicos de qualidade no país e garantir um consistente acesso aos mesmos por parte da população ucraniana. Quando me juntei à equipa da UNDP/PNUD, acabei por estar envolvida em diversos projetos neste sentido com o Ministério da Saúde e a Autoridade do Medicamento. Nomeadamente, fornecia aconselhamento técnico às entidades envolvidas na reforma do sistema nacional de saúde ucraniana e ajudava na sua implementação, fornecia aconselhamento nas revisões de políticas, sistemas e regulamentações, como foi o caso da mais recente regulamentação sobre patentes, desenvolvi sistemas para garantir qualidade nas várias fases do ciclo do medicamento, aquando a sua aquisição pela UNDP ou pelo Ministério de Saúde, dei treinos ao staff envolvido na aquisição de produtos médicos, realizei avaliações de qualidade de medicamentos, bem como inspeções de Good Storage and Distribution Practices (GSDP). Entretanto, aceitei a proposta de me juntar à OMS e poder contribuir para o mesmo objetivo de todos poderem ter acesso a produtos de qualidade, mas a um nível global, podendo com as minhas ações abranger um número muito superior de países. Quando terminei a minha missão na Ucrânia, já estava desenvolvida a agência centralizada no Ministério de Saúde para a aquisição de produtos médicos para todo o país. Hoje continuo a trabalhar com a Ucrânia, especificamente, com a Autoridade do Medicamento, noutra vertente, mas contribuindo para os mesmos objetivos: fortalecer o acesso à saúde no país, fortalecer os sistemas regulamentares farmacêuticos e garantir que a população ucraniana tem acesso a produtos médicos de qualidade, particularmente, durante emergências e crises.

OP: Atualmente, encontra-se a trabalhar na Organização Mundial da Saúde (OMS), integrando a equipa de Facilitated Product Introduction do departamento de Regulation and Prequalification. Em que é que consiste o trabalho desenvolvido pela sua equipa?

MRS: Na OMS, integro de momento a equipa Facilitated Product Introduction (FPI), que como o nome indica, tem por objetivo apoiar as autoridades do medicamento e facilitar a introdução de produtos médicos de qualidade em todos os países, de forma a que as suas populações tenham acesso aos mesmos atempada e consistentemente. Tem também como intuito fortalecer e melhorar os sistemas regulamentares de produtos médicos dos países a nível global, introduzindo mecanismos e ferramentas para que os

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GRANDE ENTREVISTA

mesmos estejam aptos a responder de forma rápida e eficiente às necessidades das suas populações. A equipa é também uma das envolvidas durante períodos de emergências em saúde, como epidemias e pandemias, trabalhando com proximidade às Autoridades do Medicamento, para garantir que uma avaliação e autorização acelerada de produtos de qualidade e, deste modo, o acesso atempado aos mesmos pela população. Mais concretamente o meu trabalho divide-se em 3 pilares. Um primeiro pilar que se foca no apoio e ajuda às Autoridades do Medicamento na implementação de vias regulamentares de registo acelerado nos seus sistemas e instituições, para uma avaliação, autorização e introdução acelerada de produtos médicos nos países, ao mesmo tempo que se assegura a qualidade dos mesmos. Como parte deste trabalho organizamos treinos e cursos para várias Autoridades e ajudamos os países individualmente na implementação destas vias regulamentares de registo acelerado nos seus sistemas, ajudando com a revisão necessária da legislação nacional farmacêutica, desenvolvimento de diretrizes e procedimentos internos e treinos do staff envolvido na autoridade, incluindo os avaliadores. O segundo pilar foca-se no desenvolvimento e coordenação de mecanismos que permitem aos países acelerar a avaliação e registo de produtos médicos através do conceito de reliance e reconhecimento. Isto é, para reduzir a duplicação de esforços entre autoridades, reduzir os recursos humanos e financeiros e o número de peritos e expertise necessário para processar a avaliação e autorização de produtos médicos, as Autoridades podem colaborar e utilizar o trabalho de avaliação científica já realizado por outras autoridades ou instituições de referência. Para isso coordenamos mecanismos de colaboração entre países, os quais permitem aos países utilizar avaliações já existentes e realizadas por outros, de forma a acelerar o processo de autorização de introdução no mercado de produtos médicos, ao mesmo tempo que se garante, então, a qualidade dos mesmos. Alguns destes mecanismos incluem: o Collaborative Registration Procedure (CRP), as Avaliações conjuntas regionais (Africa, Caraíbas e Ásia) e os mecanismos que se formam durante emergências de saúde pública, como pandemias, para acelerar a avaliação e autorização de produtos. O CRP tem como base a submissão de um produto médico para introdução no mercado por parte de uma empresa farmacêutica, a vários países ao mesmo tempo, utilizando o mesmo dossier do produto e os relatórios de avaliação do produto realizado por outra autoridade ou instituição. As várias autoridades que recebem esta submissão do produto e aceitam a utilização do

CRP emitem um parecer e a autorização de introdução no mercado do produto, num período de 90 dias. Estas iniciativas envolvem não só as Autoridades do medicamento, mas também a indústria farmacêutica. Por fim, o terceiro pilar foca-se no fortalecimento de autoridades do medicamento e seus sistemas regulamentares através de um processo chamado Benchmarking e Performance Evaluation. Através deste processo, as Autoridades são submetidas a uma avaliação em 9 funções regulamentares, realizada por uma equipa de peritos formada pela OMS. O staff da nossa equipa participa enquanto avaliadores e peritos durante essas avaliações das Autoridades, sendo que no meu caso estou por norma responsável pela função regulamentar de Autorizações de Introdução no Mercado e Registo. Como resultado desta avaliação, atribui-se um nível de maturidade à autoridade e a designação de WLA (Autoridade reconhecida pela OMS), dependendo dos resultados, juntamente com um relatório com a lista de todas as áreas a melhorar identificadas pelo perito e respetivas recomendações a adotar para cada uma dessas áreas. Muitos olham para o trabalho da OMS apenas quando a mesma é mencionada nos noticiários ou durante emergências de saúde, no entanto, como podem constatar, há um trabalho contínuo da OMS, que, apesar de ter pouca visibilidade, é de extrema importância e serve como pilar durante emergências de saúde, mas, principalmente, para ajudar vários países a assegurar a estabilidade a longo prazo no acesso a saúde das suas populações.

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Avaliação da autoridade da coreia do sul

OP: Que desafios é que são experienciados pelas autoridades regulamentares de países em desenvolvimento? Quais os aspetos a serem melhorados e qual o impacto das pandemias?

MRS: Um dos primeiros grandes desafios tem sido reconhecer globalmente a importância de sistemas regulamentares para produtos médicos, sendo que são uma das primeiras portas para o acesso a produtos de qualidade pela população. Até há muito pouco tempo, vários países em desenvolvimento não tinham uma entidade regulamentar para supervisionar os produtos médicos que circulam no seu mercado e, dos poucos países que possuíam esta entidade, a grande maioria não as apoiava financeiramente ou estruturalmente, o que comprometia em larga escala um funcionamento adequado. Nos últimos anos, devido também às emergências de saúde publica, como epidemias e pandemias, tem sido dada maior visibilidade e importância a esta temática, reconhecendo-se que a avaliação e registo de produtos médicos e o trabalho de uma entidade regulamentar de produtos médicos é um elemento fundamental para o acesso a saúde de qualidade num país, sendo que sem este elemento o acesso fica largamente comprometido. No entanto, de acordo com dados atuais, mais de 70% dos países no mundo não possuem uma entidade regulamentar adequada às necessidades do país. Apenas 29% dos países no mundo têm uma autoridade do medicamento funcional, sendo a maioria países desenvolvidos. As autoridades ou entidades reguladoras de produtos médicos em países em desenvolvimento, ainda enfrentam vários desafios, como sistemas nacionais de regulamentação e legislação farmacêutica pouco desenvolvidos ou inexistentes, dependência estrutural e financeira das autoridades com o próprio governo, limitando o desempenho das suas funções em situações de instabilidade política que se faça sentir em alguns países, falta de recursos humanos, financeiros e de pessoal devidamente qualificado para realizar avaliações de medicamentos e falta de cooperação e colaboração entre países. Estes desafios, associados a fatores externos, como o aumento da complexidade das cadeias de distribuição e logística e o aumento dos desafios de saúde pública global, como pandemias, tem gerado uma sobrecarga sobre estas entidades regulamentares em países em desenvolvimento, o que compromete seriamente a resposta que as mesmas dão às necessidades do país. Com a experiência adquirida durante as pandemias, como em 2009 com o vírus Influenza (H1N1) e atualmente com a COVID-19, tem sido dada mais relevância à necessidade de dar apoio a países em desenvolvimento

vimento, particularmente, às autoridades do medicamento, pois hoje sabemos que um problema de saúde a 10000km do nosso país pode facilmente tornar-se um problema global e chegar até à nossa porta. Com a globalização que vivemos, tornou-se óbvio que o caminho não continuará por pensar de forma local ou individual no setor da saúde. Neste contexto, muito trabalho tem sido realizado nesta área em países em desenvolvimento e foram várias ferramentas e mecanismos que foram desenvolvidos. Através da experiência com a pandemia atual, foi possível demonstrar a utilidade e o impacto positivo da implementação dessas ferramentas que se encontram à disposição de todas as autoridades. Algumas dessas ferramentas surgem como “soluções” para muitos países em desenvolvimento, não só durante pandemias, mas também de forma continuada, para assegurar um acesso contínuo e atempado a tratamentos necessários nos mesmos. Estas “soluções” denominam-se de vias regulamentares de registo facilitado ou acelerado e compreendem um aumento de eficiência nas atividades regulamentares de um país e uma autorização de produtos de qualidade mais acelerado no mesmo, através da colaboração entre países, partilha de informação e expertise, redução de duplicação de esforços, de recursos e de tempo das autoridades para desempenhar tarefas regulamentares. Exemplos destas vias regulamentares de registo facilitado/acelerado incluem os mecanismos pelos quais a minha equipa se encontra responsável e que foram mencionados na resposta à questão anterior. A utilização deste tipo de mecanismos por países e pelas indústrias farmacêuticas beneficia ambos ao permitir acelerar o processo de autorização de introdução no mercado de produtos médicos, garantido ao mesmo tempo a sua qualidade, eficácia e segurança, e assegurando não só o acesso atempado aos mesmos durante pandemias ou epidemias, mas também de forma continua e consistente no país. Todos os países, mais ou menos desenvolvidos sob o ponto de vista regulamentar farmacêutico, podem beneficiar deste conceito de colaboração, sendo que até os países mais desenvolvidos fazem uso do mesmo frequentemente, como acontece na União Europeia.

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GRANDE ENTREVISTA
visita da autoridade da tailândia

OP: Qual o papel que enquanto farmacêuticos podemos desempenhar nesta área para melhorar o acesso a tratamentos de qualidade pelas populações e contribuir para a mudança de paradigma?

MRS: Enquanto farmacêuticos, todos podemos ter um impacto positivo nesta área, seja através do setor público ou privado, ou a partir de instituições não governamentais, sob um ponto de vista mais técnico-científico, clínico, ou até mesmo educativo da população, tanto a nível local, nacional ou global. Como sempre defendi, o farmacêutico em Portugal tem uma formação de excelência que lhe permite explorar e dedicar-se a variadíssimas áreas em saúde pública global. Se não nos limitarmos enquanto profissionais, podemos intervir e contribuir, direta ou indiretamente, de forma muito positiva em diversas frentes e necessidades globais, podendo ter um raio de ação muito vasto, ajudando milhares ou milhões de pessoas. Não nos esqueçamos que a ação local tem um impacto global, principalmente, no que remete à saúde pública. Até nas mais simples ações, o farmacêutico pode ter um papel importante, nomeadamente, no esclarecimento da população, o que nos dias de hoje se tornou tão importante com a problemática relacionada com a “desinformação”. A extensão desse impacto, no entanto, também é definida através do objetivo e intenção de cada uma das nas nossas ações ao longo do nosso percurso profissional e se as mesmas estão alinhadas com o interesse maior de melhorar a saúde pública.

setor público como privado. Portanto, gosto sempre de salientar a importância de todos os setores nesta área, independentemente do raio de ação aparente do seu trabalho. É possível criar sinergias benéficas para todos, num mundo onde todos ganham.

OP: O seu percurso profissional é pautado por uma forte vertente internacional. Quais são as competências que considera que um jovem farmacêutico deve desenvolver, antes de começar a trabalhar no estrangeiro?

São várias as iniciativas desenvolvidas pela indústria farmacêutica para a introdução de produtos de relevância em mercados, que apesar de menos apelativos comercialmente, necessitam dos mesmos, tal como ilustrado pelo Access to Medicines Index, que analisa o trabalho de 20 empresas farmacêuticas na melhoria do acesso a produtos médicos de relevância para saúde pública em países em desenvolvimento. No meu caso, enquanto farmacêutica, optei por atuar através do setor público a nível global, mas o impacto do meu trabalho só é possível porque existe também uma ação local e nacional por parte de alguém, tanto do

MRS: Na minha opinião, não existe uma fórmula mágica que nos prepare para trabalhar no estrangeiro. Vamos aprendendo consoante vamos vivendo e é por isso que muitos consideram que uma experiência no estrangeiro se equivale a uma “licenciatura”, pois são de facto imensas as aprendizagens que se retêm e competências que se adquirem. Na verdade, o único ingrediente necessário para ir para o estrangeiro, não está relacionado com competências. Este é a “Vontade” de ir. Tendo vontade, tudo o que for necessário para essa transição, naturalmente, se adquirirá. No entanto, existe sempre um “trabalho de casa” que se pode fazer e que se pode tornar muito vantajoso, nomeadamente: adquirir algum conhecimento sobre o local para onde se pretende ir. Por exemplo, conhecer os sistemas administrativo, fiscal e de saúde do país, familiarizar com os aspetos socio-culturais do local, bem como dominar os idiomas necessários. Outras competências e características que considero sempre importantes incluem a resiliência e capacidade de rápida adaptação a vários ambientes e mudanças; tolerância e compreensão social e cultural; flexibilidade e capacidade de aceitação de novos ideais e formas de viver; boa comunicação oral e escrita para várias audiências; uma boa quantidade de coragem e persistência e também humildade. Considero ainda importante o trabalho de auto-conhecimento que vem com a capacidade de nos analisar e identificar os nossos pontos fortes e as nossas vulnerabilidades, de forma a tornarmo-nos mais conscientes de como nos posicionar melhor. No entanto, a melhor forma de adquirir estas características ou competências é mesmo expormo-nos a situações em que necessitemos das mesmas. Como preparação, pode-se começar com experiências de curta duração como, por exemplo, estágios. No meu caso, antes de ir trabalhar para fora de Portugal, eu fiz dois estágios no estrangeiro durante o mestrado, o que me permitiu explorar a minha capacidade de adaptação e forneceu ferramentas fundamentais para tomar a decisão de ir para o estrangeiro como mais facilidade e mais segurança. E gosto sempre de lembrar que é vantajoso que coloquemos a nós

Todos os setores na área farmacêutica, público ou privado, têm, portanto, um papel fundamental para melhorar o acesso à saúde e a dimensão do seu impacto apenas depende da intenção e ética com que se trabalha para atingir um bem maior.
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próprios as seguintes questões antes de se sair de Portugal: O que me leva a sair de Portugal ou o que me leva a ficar em Portugal? Ao sermos honestos e espontâneos nas respostas, ficamos aqui com um Guia para a nossa jornada.

OP: Com a evolução do meio digital, fica cada vez mais difícil de conter a disseminação de informação errada e não fidedigna, que potencia o negacionismo científico. Dado que se trata de uma problemática que põe em risco a saúde pública, que estratégias é que recomenda para promover literacia em saúde e mitigar este fenómeno?

MRS: Vivemos num período, em que conseguimos justificar com facilidade tudo em que queremos acreditar. A informação é tão facilmente manipulada, que se procurarmos conseguimos sempre encontrar argumentos viáveis ou artigos aparentemente fidedignos que suportem o “contra” ou o “a favor” sobre qualquer assunto. Esta problemática é maior do que parece, pois leva a que aqueles que se questionam se tornem cada vez mais céticos sobre tudo o que ouvem e vêem e os que os seguem sem se questionar, a viverem a ansiedade de serem apresentados cada vez mais por informação contraditória, toda ela sustentada por fontes aparentemente fidedignas. Isto gera pontos de vista diferentes, que quando “cientificamente” sustentados, promovem discórdias e divisões na população, bem como problemas sérios de saúde mental e pública, como temos observado nos últimos anos sobre as mais diversas temáticas. O “negacionismo científico”, como é chamado nos dias de hoje, assume que existe uma negação a um ponto de vista cientificamente justificado e, portanto, faria sentido utilizar-se esta terminologia se vivêssemos num mundo onde se verificasse que apenas um ponto de vista tivesse ciência que o sustentasse. No entanto, essa não é a realidade em que vivemos hoje, pois conseguimos com facilidade encontrar artigos científicos de revistas com renome que sustentem duas ou mais posições diferentes sobre um tópico. Portanto se todos refletirmos um pouco, a terminologia “negacionismo científico”, nos dias de hoje, não é nada

menos que uma designação aplicada a todos aqueles que não concordem com um ponto de vista, seja ele “a favor” ou “contra”. Esta designação é apenas mais um instrumento que gera a iliteracia em saúde por promover a colocação de rótulos, discórdia e a divisão entre profissionais de saúde, não permitindo que haja lugar para os chamados “diálogos socráticos”, que beneficiariam a literacia de muitos profissionais. A aprendizagem e a literacia vêm muitas vezes não com aquilo que sabemos, mas com o que não sabemos, e, portanto, passa também por mantermo-nos atentos, abertos e questionarmo-nos. Na minha ótica, não há uma fórmula imediata para solucionar esta problemática nem “one-size fits all”, senão através do esforço e responsabilidade individual de cada um em manter-se devidamente informado. A minha recomendação baseia-se apenas na estratégia que pratico comigo e passa pela minha análise individual dos factos: por exemplo, continuar a seguir as fontes de informação que considero mais fidedignas, estar aberta para ouvir e ler opiniões contrárias às minhas ou argumentos diferentes ou novos, questionar-me sobre o que é que faz mais sentido, de acordo com o conhecimento que tenho, e, sempre que acho necessário, procurar saber mais ou encontrar mais dados que fundamentem adequadamente um ponto de vista. E nem sempre temos de ter uma posição a defender, por vezes, podemos simplesmente escolher o caminho “do meio”, podemos escolher não ser “contra” nem “a favor”, quando consideramos que não há evidência suficiente que nos permite chegar a uma conclusão plausível. Nem tudo tem de ser de extremos, e quando não se está “a favor”, não quer dizer que se esteja “contra”. Devemos ter humildade para aceitar que nem sempre estamos devidamente informados para ter uma posição ou dar um aconselhamento. Quando se trata de saúde pública, nesses casos, muitas vezes, “menos é mais” e dar menos é melhor do que aconselhar erroneamente. Este exercício é particularmente importante para nós, farmacêuticos, e para a atividade que exercemos, pois temos um papel fundamental no aconselhamento e esclarecimento da população, o que acarreta também grandes responsabilidades.

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GRANDE ENTREVISTA
treino para a indústria na região asiática

OP: Para finalizar, que conselhos gostaria de deixar aos nossos leitores, sendo eles maioritariamente estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra?

MRS: É com prazer que deixo algumas mensagens, as quais gostaria de ter recebido enquanto estudante e que acredito que podem ser úteis aos leitores na transição para o mundo do trabalho. A primeira é que apenas quando tentamos ir mais longe sabemos o quão longe podemos ir. É possível ser um jovem farmacêutico com pouca experiência profissional e alcançar qualquer sonho, chegar a qualquer lado, explorar várias áreas de trabalho, ir além-fronteiras, sem limitações. Enquanto farmacêuticos formados na FFUC, têm uma formação de excelência, o que no mundo do trabalho, vos vai permitir sentir confortáveis para explorar várias áreas, e ir além-fronteiras. No ano após terminar o meu Mestrado, eu estava a trabalhar na EMA em assuntos internacionais e poucos anos mais tarde, com menos de 30 anos, estava na OMS a desempenhar funções em políticas de saúde internacional. Nenhum destes tópicos se aprende na faculdade e nem eu tão pouco sabia que um farmacêutico poderia desempenhar funções nestas áreas. Isto só foi possível porque me senti sempre confortável para aceitar o próximo desafio, apoiada e sustentada por uma formação sólida. A experiência profissional ao longo dos anos foi indispensável para todas as minhas etapas, mas a minha formação foi a base para me sentir apta a desempenhar as minhas funções de forma confiante. Por isso, gostava de vos lembrar para não colocarem limitações de qualquer tipo, assim que iniciarem o vosso percurso profissional. Enquanto farmacêuticos, existem várias áreas para explorar e este é um mundo de infinitas possibilidades. Mas como uma amiga me disse, sejam interessados, pois só assim podem ser interessantes. A realização é também proporcional à dedicação e empenho. E não se esqueçam de ir celebrando as pequenas vitórias pelo caminho, pois são essas que dão o sustento, a satisfação, a realização e a motivação para continuar. Se estivermos sempre a pensar na próxima meta e não celebrarmos a que alcançámos hoje, vivemos apenas na ansiedade do futuro, constantemente frustrados e insatisfeitos. Mas também não tenham pressa para mostrar aos outros as vossas conquistas, pois poderão cair no erro de não estarem a percorrer o vosso caminho, mas aquele que vos dará a aprovação dos outros. O reconhecimento verdadeiramente merecido vem sempre de forma natural, não precisa de ser exibido. Se por vezes, for do vosso interesse alterar o curso do vosso trajeto e,

para tal, tiverem que dar um passo para trás para depois dar dois para a frente, façam-no sem medos, pois vamos sempre a tempo de mudar e de ser bem-sucedidos nessa mudança. Quando eu me despedi da EMA em 2016, para muitos era como se eu estivesse a andar para trás e não tardou muito até eu ter a confirmação de que tomei a decisão mais acertada. Hoje sou apaixonada pelo meu trabalho, não me importo de trabalhar noites ou fins de semana, o que significa que depois de ter um dado um passo para trás, em pouco tempo dei dez para a frente. Gostava também de salientar a importância da ética e integridade no caminho que percorremos, pois no mundo do trabalho todos somos substituíveis. Apesar de alguns pensarem o contrário, a verdade é que quando saímos de uma posição e alguém vem para o nosso lugar,com mais ou menos qualidade, o trabalho continua.

E por fim, gostaria apenas de lembrar que não existe uma fórmula de sucesso que se aplique a todos de formal igual. É útil termos referências que admiramos e que utilizamos como guias no nosso caminho, mas não existe one-size fits all que se aplique neste contexto. Somos todos diferentes, com características, preferências e ambições diferentes. Como tal, é sempre perigoso adotar ou copiar modelos que se aplicaram a “role models”, arriscando viver limitações e frustrações desnecessárias. Em vez de adotar, experimentem a adaptar o que vos interessa à vossa realidade, às vossas necessidades, preferências e aspirações. Apesar de parecer básico, esta tem sido a maior pitfall que tenho vindo a observar nos que me rodeiam. E isto deve ser considerado com atenção para não arriscarem viver a vida de outros em vez da vossa, e sonharem com algo que não vos satisfará ou se aplicará no vosso contexto. Reflitam de forma honesta sobre a vossa definição do que é ser bem-sucedido em todos os setores e criem a vossa própria definição de “sucesso”, de acordo com aquilo que são e que desejam alcançar. Tenham a audácia de sonhar, de se expandirem sem medos, de ser autênticos e de criarem os vossos próprios modelos à imagem da vossa realidade.

O que fica de nós em cada lugar por onde passamos é a forma como marcamos os outros e o legado que deixamos em cada local.
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INSÓNIAS

Para onde vamos quando não dormimos?

Dormir é uma necessidade básica do ser humano que permite, não só o descanso do corpo, mas também a reorganização e equilíbrio emocional da mente. A privação do sono acarreta graves consequências e, de entre as várias perturbações, falamos agora especificamente das insónias. Trata-se de um distúrbio de natureza psicológica (refletida a nível psicológico e fisiológico), caracteriando-se como uma experiência subjetiva de sono desadequado e/ou de qualidade limitada apesar da existência de condições adequadas para o fazer. As principais queixas associadas são a má qualidade do sono e o facto de o descanso não ser, na realidade, reparador. As consequências deste problema refletem-se, como já referido, a vários níveis, por exemplo, prejudicando a regulação emocional, causando a sensação de constante cansaço físico, dificultando o desempenho das funções cognitivas básicas e influenciando o funcionamento social, ocupacional e de outras atividades diurnas. Trata-se, de facto, de um problema significativo, na medida em que o sono representa cerca de um terço da vida humana e tem uma importância vital para a recuperação física e psíquica.

A insónia pode manifestar-se de variadas formas:

Insónia inicial

Quando a dificuldade é iniciar o sono

Insónia intermédia

Quando a dificuldade é manter o sono

Insónia terminal

Quando o sono termina de forma precoce

Insónia relativa

Dificuldade em adormecer ou em manter um sono profundo e reparador

Insónia absoluta

Quando a dificuldade é iniciar o sono

Podemos ainda caracterizar a insónia quanto à sua duração, sendo de duração aguda, se inferior a quatro semanas ou crónica, se superior a quatro semanas, verificando-se a existência de sintomas em pelo menos três noites durante a semana.

Em Portugal,

28,1% da população com mais de 18 anos de idade apresenta sintomas de insónia.

Este número pode atingir os 50% se falarmos da população acima dos 65 anos, o que, juntando ao processo natural de envelhecimento, pode diminuir significativamente a qualidade de vida da população. Como consequências, assistimos ao aumento da mortalidade causada por doenças cardiovasculares, distúrbios psiquiátricos, diabetes, acidentes e absentismo laboral.

Pelouro da Educação e Promoção para a Saúde
Nos países europeus, tem-se vindo a verificar um aumento dos gastos com medicamentos para dormir, uma realidade que constitui uma preocupação crescente.
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Por ser sub-diagnosticada, muitos pacientes não recebem o tratamento adequado. É de referir que a insónia pode ser uma doença por si só, um sintoma de uma outra doença ou uma consequência de má higiene de sono e de vida. Alguns sinais de que podemos estar a sofrer de insónia são o facto de nos sentirmos ansiosos antes de dormir, com pensamentos acerca de assuntos que nos preocupam, sentir agitação e stress, preocupação constante com a qualidade do sono, medo de não adormecer ou de dormir mal, dificuldade de concentração durante o dia, fadiga e cansaço depois de uma noite de sono, pesadelos frequentes e ainda padrão de sono alterado.

A insónia absoluta está intrinsecamente ligada a ataques de pânico ou memórias de eventos traumáticos na hora de adormecer, visto que a mente cria resistência ao sono como forma de evitar esses episódios.

A abordagem que traz alterações significativas e naturais na qualidade do sono é a psicoterapia, que incide nas causas da insónia a fim de acabar com a mesma. Pode complementar-se a terapêutica farmacológica com a não farmacológica; neste último caso, por exemplo, através de terapia cognitivo-comportamental, conjugada com a prática de exercício físico (só de manhã ou ao início da tarde), ingestão de um jantar leve acompanhado de pouca água e outros hábitos saudáveis, como não fumar nem beber álcool ou bebidas com

Como forma de tratamento, é utilizada a intervenção farmacológica, com recurso a medicação indutora do sono (não trazendo alterações sustentadas na qualidade do sono, induzindo apenas o sono através de substâncias químicas, que acabam por causar dependência e alguns efeitos secundários indesejados).

cafeína. É também recomendado utilizar o quarto apenas para dormir e não para trabalhar ou comer. Paralelamente, tomar fármacos hipnóticos e sedativos, tem vindo a revelar-se um tratamento eficaz, por exemplo, as benzodiazepinas e a melatonina, sendo os fármacos mais comuns aos quais recorremos na tentativa de controlar a insónia.

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GENDER BIAS NOS ENSAIOS CLÍNICOS

Os ensaios clínicos randomizados controlados são considerados o gold standard para avaliar a eficácia de um dado tratamento. Idealmente, são feitos com populações heterogéneas e fornecem informações gerais, que podem ser aplicadas a diferentes grupos populacionais.

As indústrias farmacêuticas também usaram como argumento o aumento do custo da realização dos ensaios clínicos, caso se faça uma análise para cada um dos géneros ou se as interações hormonais forem tidas em consideração, pois isto exigiria uma amostra suficientemente grande para que fosse possível detetar as diferenças pretendidas. Porém, o processo de retirar um produto do mercado devido à alta presença de reações adversas em mulheres é muito mais dispendioso, particularmente, se se descobrir que não foram realizados estudos suficientes para demonstrar a segurança do produto em mulheres.

Durante décadas, a investigação clínica foi realizada em homens e o resultado foi considerado equivalente para as mulheres. As mulheres eram equiparadas a um homem com um corpo de dimensões mais pequenas, não se tendo em consideração as diferenças biológicas existentes entre os dois géneros. Contudo, é sabido que essas diferenças fazem com que homens e mulheres reajam de forma diferente às terapêuticas, nomeadamente, a alguns grupos de medicamentos.

Os argumentos recorrentes a favor da exclusão sistemática das mulheres nos ensaios clínicos foram baseados no risco fetal durante a gravidez, a flutuações hormonais e ao uso exógeno de hormonas, sendo, no entanto, estas as principais razões pelas quais existe uma necessidade de incluir as mulheres nestes estudos.

A preferência pela inclusão de indivíduos masculinos provocou um desequilíbrio em vários ensaios clínicos. Em 1986, num estudo que pretendia avaliar os efeitos da obesidade na atividade estrogénica e a sua relação com o desenvolvimento de cancro da mama e do útero, todos os indivíduos que participaram no estudo eram homens.

As doenças cardíacas são um claro exemplo de como as mulheres são afetadas devido a esta negligência para com a sua saúde. Um historial de pesquisas priorizando voluntários do sexo masculino conduziu a uma desvalorização da mulher neste tipo de doença. Contudo, os sintomas apresentados pelas mulheres não são necessariamente iguais aos dos homens. A clássica descrição de dor no peito, dá lugar à falta de ar, dor no braço e cansaço, o que leva a um atraso ou erro no diagnóstico de ataque cardíaco na mulher.

Porém, ao longo da história, as mulheres têm sido extremamente sub-representadas em ensaios clínicos.
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Segundo um estudo britânico, as mulheres que sofreram um ataque cardíaco tinham 59% de probabilidade de serem diagnosticadas erradamente, numa primeira instância. Para piorar a situação, outros estudos demonstraram que os médicos gastam menos tempo a educar as suas pacientes sobre as doenças cardíacas.

Esta exclusão já há muito que abala as indústrias farmacêuticas e centros de investigação que negligenciam os possíveis efeitos colaterais que possam afetar as mulheres. Um relatório do US Government Accountability Office (GAO) mostrou que, entre 1997 e 2001, 10 medicamentos prescritos foram retirados do mercado, sendo que oito desses medicamentos foram removidos, porque afetavam negativamente a saúde das mulheres. Há mais de 20 anos que este problema tem vindo a ser reportado por ativistas da saúde da mulher, levando a mudanças no panorama mundial.

Nos Estados Unidos da América, o Congresso aprovou a Lei de Revitalização do Instituto Nacional de Saúde de 1993. Esta medida levou a que os investigadores incluíssem mais mulheres e minorias em ensaios clínicos, constituindo um primeiro passo para combater o gender bias em ensaios clínicos. Para além disto, recentemente, em 2015, o GAO declarou que existia uma necessidade de estudar mais as diferenças observadas entre indivíduos do género masculino e feminino, durante a investigação clínica.

Em contrapartida, em 2005, uma avaliação das normas em estudos clínicos realizada pela EMA resultou na conclusão de que, apesar de a representação feminina em ensaios clínicos ser inferior, essa discrepância não é significativa o suficiente para comprometer a avaliação do efeito do género, caso este se verifique, sendo isto válido para os ensaios clínicos realizados na União Europeia, nos EUA e no Japão. Assim, considerou-se desnecessário alterar a regulamentação ICH (International Conference on Harmonization) referente a este ponto.

Atualmente, é certo que seria impensável acontecer algo semelhante ao que ocorreu em 1986. Contudo, há ainda que proceder a alterações regulamentares ao nível dos ensaios clínicos, de forma a garantir a devida representação da mulher nos estudos clínicos.

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A sustentabilidade da saúde
mundial depende do combate ao GENDER BIAS em ensaios clínicos.

influencers digitais

NA PROMOCAÇÃO DA LITERACIA EM SAÚDE

Otermo “Influencer” é dirigido para as pessoas que utilizam as plataformas digitais, nomeadamente, as redes sociais, com o propósito de influenciar a opinião dos seus seguidores relativamente a um determinado tema,

podendo provocar alterações nos seus hábitos ou comportamentos. Um dos objetivos do trabalho de um influencer passa por estabelecer uma relação de confiança com, pelo menos, uma parte dos seus seguidores, de forma a que sua mensagem tenha o efeito desejado. As redes sociais não são propriamente recentes, mas o seu alcance tem crescido exponencialmente, isto porque, ao contrário dos jornais online ou em papel, o Instagram ou o Facebook têm milhares de perfis criados, todos com opiniões diferentes e que podem ser partilhadas, muitas vezes, sem um controlo rigoroso no que toca à sua veracidade. É inegável que as redes sociais e os seus usuários mais famosos já nos levaram, em algum momento, a questionar hábitos diários. Principalmente no que respeita a saúde, há cada vez mais “fontes’’ às quais recorrer, muitas delas não fidedignas, o que corrobora o maior argumento de ataque às comunidades digitais: o quão inundadas estão de “fake news”. Um exemplo bastante elucidativo deste problema é a pandemia da COVID-19. A revolta contra as vacinas agigantou-se, a propagação de dados não científicos também e, por isto mesmo, esperava-se que as pessoas com plataformas com maior alcance tivessem um papel fulcral em consciencializar a comunidade acerca dos perigos e o que poderia acarretar se caíssemos nessas mentiras. No entanto, nem sempre foi isto que aconteceu. Houve casos de pessoas influentes a impulsionar a

ideia de que a pandemia não passava de uma estratégia monetária ou de uma gripe sem importância ou mesmo a desincentivar a toma das vacinas. Isto acabou por deturpar a visão de pessoas mais influenciáveis, mais novas ou com menos literacia em saúde, tendo isto como uma das suas consequências a dificultação do trabalho dos diferentes profissionais de saúde. Outro exemplo está associado à divulgação de conteúdos “fitness”. As publicações englobam dicas de exercícios físicos e alimentação/suplementação alimentar e vitamínica, apesar de, muitas vezes, os usuários não terem qualquer tipo de experiência na área. Os suplementos, não sendo sujeitos a receita médica, podem ser adquiridos facilmente. Muitos influencers publicitam-nos, dão feedback, códigos promocionais, promessas de obter um corpo desejável, sem realmente se preocuparem se estes produtos poderão, de alguma forma, prejudicar a saúde de quem os toma. Existe, portanto, uma responsabilidade acrescida nas pessoas com uma grande dimensão virtual, quer sejam da área da saúde ou não, em propagar hábitos saudáveis. Isto porque um futuro mais consciente e informado passa, cada vez mais, pelo que vemos nas redes sociais. Como? Através do reconhecimento generalizado por parte dos profissionais de saúde das redes sociais como um meio de comunicação relevante, que traz consigo a oportunidade de promover a literacia em saúde junto de um universo muito significativo. Por exemplo, um Farmacêutico teria a oportunidade de educar os indivíduos para um uso correto do medicamento, minimizando os efeitos nefastos do fenómeno de automedicação ou de descrença nas terapias atuais.

O PAPEL DAS
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social

A atividade que muda vidas

O APEF Social é uma atividade do Departamento de Intervenção Cívica e Educação para a Saúde (DICES) que visa, através da dinamização de um conjunto de projetos e ações, fomentar o espírito solidário e cívico dos seus participantes, enquanto contribui para a promoção da literacia em saúde da população da localidade onde decorre. A edição deste ano ocorreu em Seia, entre os dias 11 a 14 de agosto, e contou com a presença de Estudantes vindos de todo o país.

O primeiro dia teve uma vertente mais formativa, de modo a preparar os participantes para as ações junto da comunidade. Neste sentido, foi estabelecida uma parceria com a Associação Cura+, que desenvolveu os materiais e conteúdo das ações, mas, sobretudo, capacitou os participantes com estratégias de adaptação e comunicação. Adicionalmente, ocorreu uma formação prática sobre Rastreios Cardiovasculares, que permitiu que cada participante treinasse a técnica apresentada. No fim do dia, foi dinamizado um Training sobre Emotional Intelligence, com vista a desenvolver as competências individuais em gestão emocional dos participantes, através da realização de exercícios práticos.

O segundo dia foi dedicado à população de Seia, começando pela visita a duas valências da Santa Casa da Misericórdia de Seia, a creche e a estrutura residencial para idosos (ERPI). Deste modo, os estudantes interagiram diretamente com as crianças, abordando a temática do “Uso Responsável do Medicamento” e “Alimentação Saudável”, adaptadas à faixa etária e suportadas por dinâmicas visuais e apelativas. Por outro lado, na interação junto dos utentes seniores, foi possível abordar o tema “Gestão da Polimedicação”, sendo que os utentes foram extremamente recetivos à ação dos participantes.

Pel ouro da Intervenção Cívica e Social
APEF
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Por fim, é de se agradecer toda a colaboração prestada pela Autarquia de Seia, pelo Centro de Interpretação da Serra da Estrela, pela Santa Casa da Misericórdia de Seia e pelo Centro Escolar de Seia, na medida em que o seu apoio foi completamente crucial para o sucesso da atividade.

A cumplicidade estabelecida entre utentes e participantes foi notória, sendo que ficaram na memória as conversas e sorrisos partilhados nas ações.

Já no terceiro dia, os participantes tiveram oportunidade de descansar e conhecer uma praia fluvial da região e, no período da tarde, realizou-se uma Campanha de Saúde Pública direcionada para a temática do Consumo de Psicofarmácos. Adicionalmente, foram realizados Rastreios Cardiovasculares no centro da cidade, já que, enquanto futuros farmacêuticos, os estudantes de Ciências Farmacêuticas podem desde já acrescentar valor ao educar a população sobre questões de saúde. O número de pessoas rastreadas superou as expectativas, assim como a adesão ao inquérito da Campanha de Saúde, que atingiu valores elevados.

No último dia, visitou-se o Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), onde se explorou a exposição didática sobre a região e se realizou um workshop sobre ervas aromáticas. Paralelamente, houve espaço para momentos de partilha entre todos, assim como a possibilidade de conhecer o património cultural da região, através do Museu dos Brinquedos, o Museu Natural da Eletricidade ou as comemorações anuais da localidade.

“Do APEF Social levam-se memórias e amizades e a certeza de que há uma papel ativo a desempenhar, enquanto futuros profissionais de saúde e cidadãos responsáveis, e que, pequenas ações podem mudar vidas.“
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DO EQUILÍBRIO ENTRE

A DEFESA DAS PATENTES E A CONSIDERAÇÃO DOS MEDICAMENTOS COMO UM BEM SOCIAL EM DECORRÊNCIA DO DIREITO À SAÚDE

João Victor Albernaz Andrade Zica, Estudante da Licenciatura de Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e representando a Liga PIEUC

A Liga de Propriedade Intelectual dos Estudantes da Universidade de Coimbra tem como objetivo o estudo e aprofundamento dos assuntos relacionados à Propriedade Intelectual, que são realizados por meio de aulas internas e workshops conduzidos por profissionais de diferentes áreas profissionais.

Se queres tornar-te um(a) profissional mais capacitado(a) e com uma visão mais ampla, junta-te a nós e aprende mais sobre o teu mercado de trabalho e os teus direitos.

e avanços desenvolvidos, e muito menos negará o dinheiro colossal que uma simples patente é capaz de mover. A força de uma patente e a importância daquilo que esta representa é facilmente visualizada, se tomarmos por exemplo a quebra ou não quebra da patente da vacina contra a COVID-19 e o conflito polarizante que se gerou entre a defesa do instituto da patente e da sua sustentabilidade financeira e a necessidade de vacinar o maior número possível de pessoas e evitar que o número de mortos continuasse a aumentar ao redor do globo. No plano farmacêutico, a questão da não acessibilidade do direito à saúde leva-nos a tentar compreender o regime dos medicamentos patenteados e porque é que esse é um estatuto tão importante de ser juridicamente salvaguardado, enquanto os medicamentos genéricos são apresentados como uma possível solução para o acesso ao medicamento. Com benefícios económicos, os genéricos desempenham bem o seu papel, mas a questão temporal da sua produção industrial, muitas vezes, retarda o acesso ao direito à saúde para muitos.

Desenvolvimento:

Num momento inicial, é preciso compreender que uma patente se constitui, basicamente, como um direito de exclusividade para a exploração económica de uma invenção1. Deste modo, essa criação permanece resguardada pelo direito da propriedade intelectual no seu fabrico, comercialização, licenciamento, importação e exportação unicamente para o seu inventor ou empresa farmacêutica, como aqui nos focamos. Essa exclusividade, que é atribuída por um determinado período temporal, é um fator importante para que as patentes cumpram o seu objetivo de recompensarem as inovações e estimularem o desenvolvimento contínuo de novos estudos nas mais diversas áreas, como a da saúde.

Introdução:

Atualmente, munidos de diversos tratados e acordos internacionais, ninguém contestará que o direito à saúde é um direito universal, cuja execução, no entanto, é defraudada por imensos fatores que transformam os elementos estruturantes dessa mesma saúde em bens de mercado. Dessa forma, o direito, uma vez já garantido, para ser usufruído precisa de ser adquirido pela compra e, com isso, muitos são excluídos desse direito à saúde. Já no plano da propriedade intelectual e industrial, especialmente, da Indústria Farmacêutica, também ninguém negará a importância que uma patente desempenha na proteção dos conhecimentos

Por sua vez, o direito à saúde encontra-se em diversos documentos de relevância internacional, como cabe referir a Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo 25.º que prevê que “todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar (…), cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis (…).”2, e que nos remete, indiscutivelmente, para a definição de saúde que encontramos no preâmbulo da Constituição da Organização Mundial de Saúde: “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”3. Essa visão extensa da saúde revela-nos que muitas po líticas que determinam a saúde são, na realidade, executadas fora do âmbito usual desta e acabam por

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afetar determinantes sociais também4. Além disso, a Declaração Universal de Bioética e Direitos Huma-nos em seu artigo 14.º, número 2 e alínea a), vem mencionar a existência dos chamados “medicamentos essenciais” e detalhar ainda mais essa promoção da saúde pública que pretende ser tutelada pelo direito. No entanto, esse bem que pretendia ser social tornou-se um verdadeiro bem de mercado, sobre tudo, quando a sua produção, utilização e inovação passaram a ser reguladas pela Organização Mundial do Comércio e não pela Organização Mundial da Saúde5. Soma-se a isso, o fator de que no Acordo sobre Aspetos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) não vem em nada diferenciar os medicamentos dos demais bens que podem ser alvos de patentes. Com isso, submete-se o pedido de patente dos fármacos à lógica de exclusividade e recuperação dos altos gastos e investimentos durante a sua fase de desenvolvimento, excluindo esses fármacos do clássico raciocínio económico de que quanto maior é a oferta, menores são os preços, devido a uma competição imperfeita de mercado. Esses medicamentos que se encontram patenteados pavimentam o solo de uma realidade em que os fármacos disponíveis no mercado crescem, na mesma medida que não acompanha esse crescimento o acesso a eles. Inúmeros fatores podem ser considerados, como, o mais elementar deles, o preço. No entanto, diante dessa questão relativa ao valor cobrado pelos medicamentos, os medicamentos genéricos vêm disponibilizar alternativas não só mais baratas, mas como também de qualidade para o problema da saúde pública. E por genéricos compreendemos dos medicamentos genéricos para a manutenção da saúde coletiva, que, muitas vezes, encontra-se vinculada por decisões empresariais e que necessitam do apoio e suporte dos investimentos estatais. o fármaco que não é produzido pelo laboratório que desenvolveu o princípio ativo do medicamento, isto é, o laboratório que o produziu pela primeira vez e o patenteou5. Do ponto de vista legal, os medicamentos genéricos podem ser produzidos no momento da queda da patente, ou seja, findo o período de 20 anos de exclusividade do seu inventor. Do ponto de vista fármaco-clínico, o medicamento genérico deve possuir o mesmo composto ativo do medicamento antes patenteado e atuar da mesma forma no corpo, garantindo a sua qualidade7. Diante disso, é crucial a exposição da importância da política dos medicamentos genéricos para a manutenção da saúde coletiva, que, muitas vezes, encontra-se vinculada por decisões empresariais e que necessitam do apoio e suporte dos investimentos estatais. A respeito dos inúmeros problemas relativamente à

maior dificuldade de acesso aos medicamentos que se encontram protegidos pelas patentes, e diante das justificativas do Setor Farmacêutico de que os elevados custos dos fármacos se devem aos valores relacionados com a investigação e o desenvolvimento, o papel desse setor na capacitação de profissionais de saúde e a sua capacidade de gerar riquezas e postos de trabalho8, podemos invocar a Declaração de Doha de 2001 e mencionar o seu tópico 17 que afirma a necessidade de uma implementação e interpretação do Acordo TRIPS de maneira a dar suporte à saúde pública, promovendo o acesso a medicamentos e o desenvolvimento de novos fármacos mesmo que, para isso, uma outra legislação seja adotada9. Além disso, a Declaração ainda reconhece uma flexibilidade normativa quanto às patentes destacando que reconhece que os países membros do Acordo sobre os TRIPS adotem medidas para proteger a saúde pública e para promover o acesso de todos aos medicamentos. Dessa forma, nota-se que nesse documento os medicamentos são separados dos restantes bens que podem ser alvo de patenteamento, que o interesse público da saúde coletiva avança sobre a defesa dos direitos de propriedade industrial e da primazia do direito privado e que essa declaração deve ser considerada uma verdadeira conquista no sentido da salvaguarda da saúde pública e deve ser aplicada no sentido de garantia do direito à saúde universal5.

Considerações finais:

Como fica claro, o Direito preocupa-se tanto com a tutela do direito à saúde quanto com a tutela do instituto da patente, mas precisa encontrar o ponto de equilíbrio entre a preservação, valorização e recompensa do esforço empregado no desenvolvimento dos medicamentos, e uma regulação própria para o instituto da patente quando tratamos do patenteamento de medicamentos. É certo que o problema não reside na existência da patente, mas sim na regulação inapropriada do instituto quando este se refere a um interesse público tão relevante como a saúde pública.

1. Tobar F., Sánchez D. El impacto de las políticas de medicamentos genéricos sobre el mercado de medicamentos en tres países del MERCOSUR. Montevideo: Fundación Carolina ceALCI; 2005; 2. Declaração Universal dos Direitos Humanos; 3. Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS); 4. Compreender os Direitos Humanos: Manual de Educação para os Direitos Humanos, IUS Gentium Conimbrigae, 2012, p. 168; 5. SPINELLI, Sebastían - Acceso a los medicamentos: las patentes y los medicamentos genéricos. Las consecuencias de considerar al medicamento como un bien de mercado y no social; 6. Angell M. La Verdad acerca de la Industria Farmacéutica: Editorial Norma; 2006; 7. Humet C. Responsabilidad Social y Salud. En Casado M. (Coord) Sobre la Dignidad y los Principios. Análisis de la Declaración sobre Bioética y Derechos Humanos UNESCO. Navarra: Civitas Thomson Reuters; 2009. p. 363-374; 8. Doha WTO Ministerial 2001: Ministerial Declaration; 9. SPINELLI, Sebastían, Op. Cit.

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Na Sombra de

por inês sofia silva e joana pereira

ANA CABRAL

2010 - Iniciou atividade Docente na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, onde é atualmente Professora Auxiliar Convidada. Desde 2010 que é também Farmacêutica Comunitária na Farmácia Saúde, na Figueira da Foz, com especialização na área dos Cuidados Farmacêuticos (Revisão da Medicação, Acompanhamento Farmacoterapêutico e Farmacovigilância).

2012 - Professora Adjunta Convidada da Unidade Curricular de Farmacologia da Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.

2017 - Obteve o grau de Doutorada pela Universidade de Coimbra, na especialidade de Farmacologia e Farmacoterapia, com nota máxima, por unanimidade.

2018 - Recebeu o título de Especialista em Farmácia Comunitária pela Ordem dos Farmacêuticos.

2019 - Membro do Conselho Editorial do Boletim do Centro de Informação do Medicamento da Ordem dos Farmacêuticos.

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OP: Sempre tencionou seguir uma área relacionada com as ciências da saúde? Em que momento da sua vida tomou essa decisão?

AC: Sim. Tive essa consciência cedo, mas a área em particular foi difícil de escolher. Acho que só mesmo no 12º ano é que a hipótese Ciências Farmacêuticas foi colocada em cima da mesa. Mesmo assim, penso que só no 3º ano do curso é que tive a certeza de estar no curso certo.

OP: Visto que é Farmacêutica Comunitária, o que é que a levou a seguir essa área?

AC: As oportunidades que foram surgindo foram-me fazendo trabalhar nessa área, acabei por descobrir a amplitude de intervenções que um farmacêutico comunitário pode ter, a forma subaproveitada como este profissional trabalha, o imenso potencial que tem… quanto mais trabalho em farmácia comunitária, mais noção tenho do percurso que falta percorrer para que esta profissão possa ser desenvolvida em toda a sua plenitude. Contribuir para o crescimento do farmacêutico comunitário, enquanto profissional de saúde, reconhecido pelos doentes e pelos seus pares, é algo que gosto muito de fazer.

OP: Que alterações faria para mudar o atual paradigma da Farmácia Comunitária?

AC: Existem duas grandes componentes que devem ser tidas em conta, por um lado, a desmotivação do farmacêutico comunitário enquanto profissional de saúde, por outro lado, a forma como este profissional é visto pelos seus pares. Se por um lado vejo colegas muito ativos nas redes sociais, a reivindicar o seu papel enquanto profissional de saúde habilitado, por outro, no terreno, ainda são poucos os casos de sucesso no que diz respeito à integração do farmacêutico comunitário em equipas multidisciplinares. Por exemplo, são poucos os casos de contacto direto com médicos de família. É fácil apontar o dedo ao sistema, culpar a falta de acesso aos dados de saúde dos doentes, a falta de reconhecimento por parte das instâncias governamentais, e atenção que eu não estou a dizer que estas não são barreiras reais ao nosso desempenho, mas é fundamental a mudança começar de dentro. Têm de ser os farmacêuticos a mostrar o seu valor através dos atos, e isto tem de começar nas tarefas rotineiras, validar prescrições de forma proativa, confirmar doses, detetar interações, contactar o médico prescritor sempre que haja dúvida, e acima de tudo, tornar este contacto num hábito. Depois obviamente, num nível superior, há muitas mudanças necessárias. Acredito que a componente clínica do farmacêutico comunitário seja hoje em dia uma oportunidade de desenvolvimento, mas como qualquer profissional, não trabalhamos gratuitamente, é importante dar um valor ao nosso trabalho. Não podemos pedir que o farmacêutico comunitário preste serviços clínicos como revisão da terapêutica, acompanhamento farmacoterapêutico, reconciliação da terapêutica, etc e depois não haja um retorno económico dessa prestação. Da mesma forma, não podemos exigir que estes serviços sejam prestados com qualidade se o farmacêutico não tiver acesso aos dados de saúde mais básicos do doente. Em suma, há um reposicionamento da profissão que é importante e necessário ser feito, pese embora as várias barreiras que têm de ser desconstruídas, passo a passo.

OP: Qual foi o momento mais desafiante da sua carreira?

AC: O terminar do meu Doutoramento… tive de fazer muitas escolhas pessoais e profissionais… nunca sabemos se estamos a fazer a coisa certa… mas correu tudo bem!

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OP: Enquanto professora na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), que ensinamentos ou mais valias tem retirado da sua experiência?

AC: Eu tenho a sorte de ter o melhor de dois mundos, por um lado, na farmácia tenho uma experiência no terreno muito importante, por outro lado, na FFUC tenho a atualização teórica. Tenho a perspetiva da teoria versus realidade, guidelines versus prescrições efetivas, tenho a perspetiva dos doentes, das suas dificuldades… e é exatamente isso que tento passar aos alunos.

OP: Mudando um pouco a dinâmica desta entrevista, gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas de resposta rápida.

Pessoa que tenha marcado o seu percurso?

A Professora Isabel Vitória.

Uma frase que a identifique?

“Só conseguimos mudar as coisas se formos resilientes.”

Hobby?

Ler.

Livro ou série/filme que recomenda?

“O Deus das Pequenas Coisas”, de Arundhati Roy.

Cor preferida? Branco.

Dia ou noite?

Dia.

OP: Que mensagem gostaria de deixar aos estudantes da nossa faculdade, futuros profissionais de saúde?

AC: Que a aprendizagem não termina quando acabam o curso. Que se quiserem ser bons profissionais de saúde, têm de se manter atualizados, e isto é um processo extremamente proativo – na nossa área é muito fácil confundir formação com informação. A informação que recebemos de determinados laboratórios, de determinadas marcas, é fundamental, mas apenas é verdadeiramente útil se for acompanhada por um espirito crítico e este tem de ir beber a formações com base científica. A ciência desenvolve-se a uma grande velocidade, todos os anos temos medicamentos novos no mercado, dispositivos médicos novos, que mudam a forma de tratar as doenças – é importante conhecer as novas alternativas terapêuticas, de que forma se posicionam no algoritmo de tratamento dos doentes, de que forma o farmacêutico pode atuar para otimizar o tratamento dos doentes e os seus outcomes.

Nascer do sol ou pôr do sol? Pôr do sol.

A cadeira que menos gostava no curso? Física.

Qual o seu ídolo de infância?

Não me lembro de nenhum…

Uma cidade? Londres.

Plano ideal para o fim de semana? Estar com a família.

Algo que não possa faltar no seu dia a dia?

O beijinho da minha filhota.

Momento mais marcante do percurso académico?

O meu Doutoramento.

Um sonho para o futuro?

A integração do farmacêutico comunitário nos cuidados de saúde primários.

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ESPAÇO PEDAGÓGICO

Como se constrói o calendário da Época de Exames ?

A Época de Exames é um dos momentos mais importantes do semestre. As longas horas de estudo, as reduzidas horas de sono, as conquistas e as desilusões são algumas das características de uma árdua Época de Exames. Mas como é que se constrói o Calendário de Exames?

Após a Universidade de Coimbra (UC) anunciar o calendário letivo, é a vez da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC) realizar uma adaptação do mesmo face à sua realidade, respeitando sempre o calendário disponibilizado pela a UC.

Após aprovação em Conselho Pedagógico da FFUC, o pelouro da Pedagogia do Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra (NEF/AAC) entra em contacto com as diferentes Comissões de Curso do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (MICF), Licenciatura em Ciências Bioanalíticas (LCB) e Licenciatura em Farmácia Biomédica (LFB) para solicitar uma proposta de calendário de exames do respetivo ano e curso. Esta proximidade entre o pelouro da Pedagogia do NEF/AAC e as Comissões de Curso permite que a proposta de calendário de exames esteja de acordo com as necessidades dos estudantes.

Aprovada a proposta global do Calendário de Exames, é momento de averiguar a disponibilidade dos docentes responsáveis pelas Unidades Curriculares para a data e hora marcada para a realização do Exame Final na Época Normal e na Época de Recurso. Esta é uma das etapas mais morosas de todo o processo, uma vez que na impossibilidade de um docente comparecer no dia/hora proposta devido a compromissos previamente agendados, induz obrigatoriamente à alteração da data ou horário de um Exame de outra Unidade Curricular. A alteração de datas pode gerar uma nova incompatibilidade de horários.

Confirmadas, individualmente, todas as sugestões é agendada uma nova reunião de Conselho Pedagógico, onde estão presentes docentes e alunos integrantes do mesmo, bem como o pelouro da Pedagogia. A reunião é dirigida pelo Diretor da FFUC. É realizada uma votação para aprovação do Calendário, sendo que o pelouro da Pedagogia do NEF/AAC não tem direito de voto, uma vez que está presente em reuniões de Conselho Pedagógico como convidado.

Compiladas as onze propostas de Calendário de Exames das Comissões de Curso (5 do MICF, 3 da LCB e 3 da LFB), o pelouro da Pedagogia analisa detalhadamente e inicia a construção global do Calendário. O método de avaliação de cada Unidade Curricular, o facto da avaliação ser antecipada, entre outros, são fatores tidos em conta durante a elaboração do Calendário de Exames. Finalizada a proposta global, é agendada uma reunião com os alunos do Conselho Pedagógico da FFUC, de modo a debater eventuais alterações e a recolher diferentes pontos de vista.

É importante referir que o principal objetivo tanto do pelouro da Pedagogia do NEF/AAC como do Conselho Pedagógico da FFUC é estabelecer o melhor Calendário de Exames possível, de modo a proporcionar o maior sucesso académico aos Estudantes.

Pel ouro da Pedagogia
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Admitido o Calendário de Exames, este é disponibilizado no website da FFUC.
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C A Tuna às Costas

Vem conhecer a Vida Tunante

PHARTUNA

Foi a 10 de janeiro de 1996, em plena sala do NEF/ AAC, na antiga Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, situada no Palácio dos Melos, que um grupo de estudantes movido por um inigualável gosto pela tradição e música Coimbrã decidiu fundar a Phartuna – Tuna de Farmácia de Coimbra, que viria a tornar-se não só a primeira tuna mista da Faculdade de Farmácia, mas de toda a Universidade de Coimbra. Hoje, conta com 26 anos de História e, ao longo de mais de um quarto de século, foi conquistando vários marcos importantes, como no dia 16 de março de 1996, no decorrer do II Simpósio do NEF/ AAC, onde atuou oficialmente pela primeira vez.

Os anos passam, mas a essência permanece, procurando-se fomentar o espírito académico e tunante, difundir a inigualável tradição estudantil Coimbrã e contribuir para a formação musical e, acima de tudo, pessoal dos seus membros, incutindo-lhes valores como espírito de união, respeito pelo próximo e capacidade de trabalho em equipa, honrando o nome da sua Faculdade. Atualmente situada no Polo III da Universidade de Coimbra, conta com cerca de 50 membros ativos, um reportório constituído por 20 originais e inúmeras passagens de norte a sul de Portugal, nomeadamente, em festivais, encontros de tunas, atuações em eventos de cariz social e lúdico e também nas duas digressões realizadas em 2018 e 2019. Em 2014, no ano em que completou 18 anos de existência, surge a tão aguardada primeira edição do “BOTICÁRIOS – Festival de Tunas Mistas da Phartuna”, festival que já conta com VII edições de grande sucesso e, a passos largos, tem vindo a conquistar o seu lugar no mundo académico e tunante nacional.

No início de cada ano letivo, a Phartuna é uma parte ativa na receção dos novos estudantes que ingressam pela primeira vez no meio académico e na nossa faculdade. No passado dia 29 de setembro, os jardins da Associação Académica de Coimbra foram palco para a XI edição do PRAXIS- Encontro de Tunas Mistas da Phartuna, um evento que permite mostrar ao nosso público e, especialmente, aos mais recentes caloiros, o melhor que se faz no mundo das tunas mistas em Coimbra. Prontamente, a Tuna de Enfermagem de Coimbra, a Desconcertuna e a Quantunna aceitaram o nosso convite e contagiaram a nossa fantástica audiência com a sua energia. Foi uma noite repleta de boa música, boémia e um convívio que, certamente, nos ficará na memória. Para os mais novos estudantes, consideramos que esta é uma ótima oportunidade de conhecer um pouco do que é o mundo tunante e tudo aquilo que envolve. Sem dúvida, os melhores anos da nossa vida serão os passados na vida académica, e com a Phartuna de certeza que estes serão vividos da forma mais intensa possível! Para ti, caro/a leitor/a, se és estudante da FFUC, junta-te a nós nos nossos ensaios, às quartas-feiras e quintas-feiras, pelas 21h30, no Pólo III. Ao longo dos anos, vários têm sido os palcos que esta tuna tem pisado e em todos é com muito Orgulho que dizemos que somos a Phartuna – Tuna de Farmácia de Coimbra!

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Recentemente, marcamos presença no II Tunacel – Festival de Tunas Universitárias de Celorico de Basto, festival ao qual voltamos após a primeira edição em 2019, ainda antes da pandemia. Este evento contribuiu para aproximação dos elementos da Tuna, bem como de convivência e troca de experiências com os outros Grupos presentes e até mesmo com a população da vila, levando a momentos de partilha únicos e certamente enriquecedores para todas as partes. Enquanto Tuna, estes são dos espetáculos mais gratificantes que podemos realizar, representamos a Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e a Imperial TAFFUC, dando a conhecer todo o nosso espírito acolhedor e de entreajuda, característico da nossa Faculdade e mostrando o que a cultura Coimbrã tem de melhor. Como tal, trouxemos para casa o Prémio Tuna Mais Tuna, atribuído precisamente ao Grupo com maior e melhor espírito Tunante.

Passamos os dias a tocar e a cantar, sempre juntos, mas acima de tudo orgulhosos da representação que fazemos da Imperial TAFFUC!

Para os que quiserem fazer parte da Imperial TAFFUC podem juntar-se a nós nos nossos ensaios às segundas e terças, às 21h30, no Pólo III.

IMPERIAL TAFFUC

A Imperial TAFFUC, Imperial Tuna Académica da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, foi fundada por estudantes desta prestigiada Faculdade, em julho de 2007. Ao nível de atuações, contamos já com três internacionalizações: a primeira, em 2009, no Torneio Internacional de Futsal de Faculdades de Farmácia em Sevilha, representando a Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra; a segunda, em 2014, com a nossa primeira digressão internacional pela Suíça; a terceira, em 2018, na segunda digressão Europeia. Organizamos, periodicamente, atividades para toda a comunidade universitária e, especialmente, para os alunos da FFUC, como por exemplo, a Semana Imperial, que teve este ano a sua oitava edição, com uma série de atividades relacionadas com a nossa vida tunante. Em 2013, tivemos também a nossa estreia na realização de um festival comemorativo do nosso V aniversário, e orgulhamo-nos de ter lançado no ano letivo 2014/2015 o nosso primeiro CD - “Memórias”. No fim de semana de 1 e 2 de abril de 2016, realizou-se a primeira edição do IMPERIVS - Festival de Tunas da Imperial TAFFUC, um sonho de todos os elementos da Imperial TAFFUC desde os dias da sua fundação, que tem vindo a prosperar, ano após ano, com a realização da sua anual edição, contando então já com quatro delas. A organização deste festival marca indubitavelmente a entrada da Imperial TAFFUC e do IMPERIVS no circuito dos grandes certames de Tunas, sendo resultado de um crescimento constante e sustentado ao longo destes 15 anos. Ainda no ano de 2016, a Imperial TAFFUC lançou o seu segundo CD de originais gravado ao vivo no Teatro Académico de Gil Vicente, aquando da primeira edição do seu festival, intitulado com o nome do mesmo - “IMPERIVS”. Já em 2017, foi ao completar o seu décimo aniversário que a Imperial TAFFUC decidiu reunir todos os membros desde a sua fundação, juntamente com amigos e família, e dar azo à tão marcante Gala 10 Anos - Imperial TAFFUC, evento este destinado à comemoração de todo o crescimento e desenvolvimento observados nesta primeira década de existência. Atualmente, estamos no nosso 15º ano de existência, perspetivando comemorar este feito com a nossa Gala de 15 Anos e realizar a 5ª Edição do festival IMPERIVS.

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o farmacêutico como agente prescritor

“O Farmacêutico é um profissional de saúde com competências para executar todas as tarefas que respeitam ao medicamento (...)”.

Será que faz sentido afastar o especialista do medicamento da ação de prescrição, tendo em conta a forma como a profissão se encontra enquadrada deontologicamente?

Se por um lado foram os medicamentos que abriram o caminho para a longevidade, por outro, também podem levar a alguma perda da qualidade de vida, especialmente, se não existir um uso racional dos mesmos. Neste âmbito, a intervenção de um farmacêutico pode fazer toda a diferença, nomeadamente, nas situações de polimedicação, através da identificação e minimização de potenciais interações medicamentosas, por exemplo. Em caso de erros de prescrição por parte do médico, o farmacêutico deve reportar os mesmos e sugerir alternativas. Contrariamente ao que sucede em farmácia comunitária, no contexto da farmácia hospitalar, dada a maior proximidade médico-farmacêutico, o próprio médico pode facilmente esclarecer com o farmacêutico algumas questões relacionadas com a terapêutica a instituir, de forma a contribuir para o tal desejado uso racional do medicamento e, consequentemente, evitar que os indivíduos percam qualidade de vida, enquanto se encontram a tomar o que lhes deveria devolver a mesma, os medicamentos.

Na verdade, é fácil de compreender que, sendo o especialista do medicamento, o Farmacêutico possa ter um papel determinante na construção e reconstrução de planos terapêuticos mais personalizados, quando consultado pelo médico e por outros profissionais de saúde. Contudo, para além de ser consultado, o farmacêutico tem que ser mais proativo. Em Portugal, infelizmente, o Cuidado Far-

macêutico ainda está numa fase muito inicial, não existindo uma grande oferta de serviços farmacêuticos clínicos (acompanhamento farmacoterapêutico e revisão da medicação, por exemplo) prestados nas Farmácias. Uma triste realidade é a existência de um número de indivíduos que é deixado, praticamente, à sua sorte com os medicamentos, sendo que o grau de literacia em saúde, em muitos dos casos, não é suficiente para fazerem essa “autogestão”, o que pode, então, conduzir a situações graves, como a incidência de efeitos adversos cumulativos e cruzados, comuns quando a reconciliação terapêutica é mal feita ou não é feita de todo.

ARTIGO DE OPINIÃO
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Mas para que estes serviços sejam implementados, não basta querer, pois tratam-se de serviços que exigem do farmacêutico um aprimoramento e uma renovação contínua do seu conhecimento, através de formações e prosseguimento dos estudos (mestrados, pós-graduações, doutoramentos). Mais uma vez, no contexto português, faltam incentivos e uma maior divulgação das formações existentes, para que os farmacêuticos estejam capacitados para implementar e prestar estes serviços, visto que, após o término da sua formação académica, um farmacêutico tem pouco mais que as ferramentas básicas, não podemos julgar que saem “grandes craques feito” das Faculdades de Farmácia, é preciso sim, incentivar os recém-formados a mudarem a pouco e pouco o paradigma, dando-lhes a formação necessária para tal. O farmacêutico é um profissional capaz e muito importante para os sistemas de saúde, mas os jovens farmacêuticos não podem cair na falácia e na cantiga de que somos muito bons logo a priori, assim que saímos da faculdade. Não, somos bons, se trabalharmos e nos continuarmos a atualizar diariamente, tentando reunir o máximo de conhecimento e, só assim, é que poderemos implementar o Cuidado Farmacêutico em força em Portugal e, consequentemente, valorizar verdadeiramente a profissão farmacêutica.

Posto isto, no panorama atual português, é irrealista pensar no farmacêutico como agente prescritor. Primeiramente, teria que se cortar com os

Cuidados Farmacêuticos. Ao mesmo tempo, ter-se-ia que promover um estreitamento das relações entre os diferentes profissionais de saúde, com o intuito de facilitar a comunicação entre os mesmos e facilitar o acesso a dados clínicos do doente, para que os serviços clínicos pudessem ser prestados da melhor forma pelo farmacêutico. Só depois de se ter estruturado, implementado e desenvolvido o Cuidado Farmacêutico é que se poderia começar a preparar terreno para ser delegada ao farmacêutico a função de agente prescritor. Num país com falta de médicos de família, o desenvolvimento e delegação da competência da prescrição ao farmacêutico poderia ser uma boa solução para resolver essa carência e aliviar um pouco a pressão que esta problemática tem no nosso sistema de saúde.

MATILDE FLÓRIDO
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O apelo é cada vez mais imperativo e cabe-nos a nós, profissionais do futuro, lutar, mais que pela postura que podemos adotar, pelo contributo que podemos dar para o sucesso terapêutico de todos e cada um dos doentes.

PharmaCurious

Para a I rubrica do PharmaCurious, o pelouro das Relações Internacionais traz até ti 6 factos sobre a Indústria Farmacêutica pelo mundo.

Facto #1 da indústria farmacêutica no mundo

cerca de

Os estados unidos da américa representam 40%

Os Estados Unidos da América representam cerca de 40% da Indústria Farmacêutica no mundo, sendo que metade das 10 maiores empresas farmacêuticas se encontram neste país. A indústria com mais receitas este ano, a Johnson&Johnson, que se encontra sediada nos EUA, lucrou cerca de 67.4 mil milhões de dólares, enquanto que a empresa mais lucrativa da Europa, a Novartis, lucrou cerca de 52.9 mil milhões de dólares. Deste conjunto de 10 empresas, aquelas que se encontram sediadas na europa, localizam-se, maioritariamente, na Suíça, à exceção da Sanofi e da GlaxoSmithKline, cujas sedes são em França e no Reino Unido, respetivamente.

Facto #2

A Food and Drug Association (FDA) aprova apenas

medicamentos por ano 50

Embora o Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos da FDA (CDER) faça revisão de centenas de medicamentos a cada ano, apenas cerca de 10% dos medicamentos recebem a aprovação da FDA. Em 2019, apenas 48 medicamentos foram aprovados e, em 2020, 53 foram aprovados.

Relativamente à Agência Europeia do Medicamento (EMA), em 2019, esta aprovou 30 medicamentos e, em 2020, foram aprovados 39 (foram apenas considerados medicamentos de uso humano).

Tal acontece porque a FDA e a EMA mantêm toda a indústria farmacêutica em padrões extremamente altos, sendo rigorosos na avaliação da segurança e eficácia, tendo sempre em consideração a relação risco/benefício.

Embora a percentagem possa parecer baixa, esses altos padrões protegem os consumidores de medicamentos falsificados, roubados, contaminados ou prejudiciais.

Pel ouro das Relações Internacionais
0 25 50 75 Pfizer AbbVie Johnson&Johnson Novartis Bristol-Myers Squibb Roche Sanofi Merck & Co AstraZeneca GlaxoSmithKline 67 4 58 4 55 2 52 9 49 1 48 2 47 1 45 1 42 5 34 9
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Facto #3

Em 2019, a Indústria farmacêutica gastou

mil milhões de dólares 186 em investigação e desenvolvimento de novos fármacos

A Investigação e Desenvolvimento (I&D) de novos fármacos tem um custo elevado, uma vez que compreende estudos complexos e morosos, com o intuito de descobrir e sintetizar novos compostos químicos e orgânicos, que, posteriormente, são testados e, por vezes, manipulados a nível molecular para descobrir novas terapias e tecnologias. Na América e na Europa, os investimentos em I&D estão diretamente relacionados com o crescimento económico e competitividade das indústrias em cada país. Se observarmos os números a nível comunitário, percebemos que, em 2019, a União Europeia gastou cerca de 2.19% do PIB (Produto Interno Bruto) em despesas relacionadas com a I&D, enquanto os Estados Unidos da América gastaram 2.82%. Com isto, observamos que os EUA apostam mais em I&D do que na Europa

Facto #4

quase dos americanos

70% tomam um medicamento sujeito a receita médica

Estudos recentes da CDC (Centers for Disease Control and Prevention) indicam que 69% dos cidadãos americanos, com idades compreendidas entre os 40 e os 79 anos, tomam medicamentos sujeitos a prescrição médica. Adicionalmente, apreendeu-se que 22% dos indivíduos nesta mesma faixa etária tomam cinco ou mais medicamentos deste tipo, de forma regular.

Na Europa, a situação apresenta-se diferente. Os estudos realizados não nos permitem comparar ou afluir com exatidão sobre os resultados do presente estudo da CDC. Os dados disponíveis para o espectro europeu mostram que há consideráveis diferenças não só entre cada faixa etária, mas também entre géneros.

No que diz respeito à faixa etária, sabe-se que, em média, 48% dos indivíduos considerados para o estudo (maiores de 15 anos) tomam algum tipo de medicamento sujeito a receita médica, sendo que há um aumento gradual do número de pessoas que toma este tipo de medicação com o avançar da idade. Além disso, nota-se uma prevalência no uso destes fármacos nas mulheres europeias, em relação aos homens.

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Facto #5 a população mundial consome mil milhões 66 de aspirinas por ano

A Aspirina foi sintetizada por Felix Hoffmann, em 1897. Em 1899, começou a ser comercializada em pó, como era norma. Em 1900, a Aspirina tornou-se o primeiro medicamento a ser comercializado sob a forma de comprimidos.

O ácido salicílico pode ser extraído da casca do salgueiro (Salix alba L.) e da planta Filipendula ulmaria L. (no século XIX, chamada de Spirea ulmaria). Foi esta última planta que deu o nome alemão ao composto, spirsäure, traduzindo-se para português como “ácido salicílico”. O nome “aspirina” (ácido acetilsalicílico) deriva do nome alemão do composto. O “a” refere-se ao grupo “acetil” adicionado ao spirsäure, daí o “spir”. Já o “in” era uma forma comum de terminar os nomes dos medicamentos na altura.

A aspirina é um dos fármacos mais utilizados no planeta, sendo que, por ano, são produzidas mundialmente cerca de trinta e cinco mil toneladas de aspirina e consumidos mais 60 mil milhões de comprimidos de aspirina. Os americanos consomem 29 mil milhões por ano, o que equivale a 117 comprimidos por ano a cada homem, mulher e criança nos EUA. A Europa representa cerca de 24% do consumo mundial de aspirina, o que equivale a cerca de 16 mil milhões de comprimidos por ano.

Facto #6

Humira®

Humira® (adalimumab) é um medicamento biológico sujeito a receita médica que tem a capacidade de se ligar especificamente ao fator de necrose tumoral (TNF), neutralizando a função deste, ou seja, é utilizado para bloquear a sua interação com os recetores TNF p55 e p75 que se encontram na superfície celular. Isto faz com que sejam reduzidos os efeitos da inflamação no organismo, uma vez que se dá uma diminuição das citocinas pró-inflamatórias.

Assim, este medicamento ajuda a tratar uma grande variedade de doenças autoimunes (colite ulcerosa, artrite reumatóide, artrite psoriática, espondilite anquilosante, etc.), tendo pouquíssimas reações adversas, o que constitui uma grande vantagem. Devido a este facto, o Humira® tornou-se, num curto espaço de tempo, o medicamento prescrito mais rentável do mundo, tendo sido aprovado tanto pela FDA como pela EMA.

Sabe-se ainda que os EUA são o maior mercado de produção de Humira®, com uma participação no mercado de vendas de aproximadamente 65% em 2017. Já o segundo maior mercado é a Europa, com uma participação no mercado de vendas de 30%. Em 2018, a receita global de Humira estava avaliada em milhões de dólares, tendo esta aumentado para milhares de milhões de dólares em 2020, atingindo cerca de 20 mil milhões de dólares, com quase todo esse montante proveniente dos EUA, o que significa que os EUA continuam a ser o maior mercado de Humira® do mundo.

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América do Norte 37 4% Ásia 27 3% Europa 24 2% Resto do Mundo 11 1%
por Beatriz Nunes, Carolina Fernandes, Filipa Costa, Mariana Fernandes, Sílvia Sousa, Inês Pereira
PharmaCurious
Pel ouro das Relações Internacionais
é o medicamento prescrito mais rentável do mundo

A GENDA FORMATIVA

CIM à tarde na Sociedade Farmacêutica | Inibidores da PARP na Terapêutica Farmacológica

12 de dezembro

Formato virtual

II Webinar de Investigação Aplicada em Farmácia

20 de dezembro

Formato virtual

I Há Conversa no CHLOEncontro do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CHLO

19 a 20 de janeiro

Formato virtual

EXPOFARMA 2023

9, 10 e 11 de fevereiro

Centro de Congressos de Lisboa

14º C ongresso das Farmácias

“A Saúde Próxima de Todos

9, 10 e 11 de fevereiro

Centro de Congressos de Lisboa

17.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global

10 a 13 de fevereiro

Grande Real Santa Eulália

XI Jornadas Minhotas de Dermatologia

17 a 18 de fevereiro

Escola de Medicina da Universidade do Minho

XXX Congresso de Pneumologia do Norte

9, 10 e 11 de março

27.º Congresso da Associação Europeia de Farmacêuticos Hospitalares

22, 23 e 24 de março

Centro de Congressos de Lisboa

V Jornadas Regionais Temáticas de Infeciologia

23, 24 e 25 de março

Centro de Congressos do Hotel Sheraton Sesimbra Hotel

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