Revista Jardim Zoológico | Junho 2012

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Jardim Zoológico

BASTIDORES

mos de fazer”. Outro caso de grande sucesso foi o da Rã-tomate, uma espécie endémica de Madagáscar, muito específica. Para conseguir que reproduzissem, Telma Araújo e a sua equipa simularam uma época das chuvas, de forma a criar um ambiente mais parecido com o habitat natural, usando câmaras e água. “Elas começaram a cantar e a namorar”, conta a curadora, “todo o procedimento estava a correr bem, mas nós esperávamos que só fizessem uma postura no ano seguinte”. No entanto, as Rãs-tomate surpreenderam todos, pondo ovos logo da primeira vez. “Foi muito precipitado. Tivemos de reagir logo, mas depois correu bem. Tivemos centenas de girinos!” Mas o trabalho não parou por ali. Um pequeno grupo foi separado para fazer uma alimentação diferente, para se aprofundar o estudo sobre a reprodução de anfíbios em cativeiro, sobre a qual ainda se sabe pouco. “Foi muito bom a nível internacional para credibilizar o trabalho do Jardim Zoológico, porque não havia muita experiência na reprodução daquela espécie”, orgulha-se Telma. Este reconhecimento internacional é fundamental não só para a credibilidade do JZ, mas para a própria preservação das espécies. O contacto e partilha com outras instituições são constantes e são também função essencial de um curador. Recentemente, Telma Araújo esteve numa reunião na Alemanha, onde visitou alguns zoos e trocou informação e experiências. “Esta reunião foi particularmente interessante, porque foi muito internacional. Realizaram-se reuniões dos TAG, Taxonomic Advisory Groups, que são grupos de aconselhamento sobre animais da mesma família”. Além de curadores, estiveram presentes profissionais de organizações internacionais de renome no que toca à preservação das espécies. Esta troca de experiências, além de servir os próprios zoos, serve também as equipas que trabalham no habitat natural, onde é mais difícil estudar certas características das espécies. “As pessoas não têm ideia de que um zoo trabalha tanto para a conservação das espécies”, lamenta Telma. Além deste trabalho no estrangeiro, Telma tem, como outros curadores do JZ, um studbook, ou seja, é responsável por tudo o que esteja relacionado com uma determinada espécie, no

A 1ª cria de Calau-trombeteiro do Jardim Zoológico, nasceu em 2009.

caso, o Periquito-dourado, que está extremamente ameaçado na sua zona de distribuição no Brasil. “Isso implica que tudo o que tenha a ver com os animais desta espécie que existem em zoos dentro da EAZA [Associação Europeia de Zoos e Aquários] – quem deve reproduzir com quem, problemas com a espécie – tem de passar por mim”, explica a curadora. “O meu objetivo é fortalecer a população que existe fora do habitat natural”. A curadoria de aves e répteis do Jardim Zoológico vai assim muito além do Reptilário e das instalações das aves que podemos ver no parque. Cuidar dos animais dentro do JZ é essencial não só para que os visitantes os possam admirar nas melhores condições, mas também para contribuir para a preservação daquelas espécies e da biodiversidade. As vitórias sucessivas que o Jardim Zoológico tem conseguido no que toca à reprodução é resultado de profundo conhecimento científico e trabalho árduo dos técnicos. Telma conclui: “O sucesso não vem gratuitamente. Eu sou exigente no meu trabalho e acho que transmito isso para as equipas. Se vamos fazer, temos de fazer o melhor que pudermos. Vamos fazer o melhor para os nossos animais e tentar sempre dar um passo em frente”.

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