TEA e Inclusão Escolar
Écom alegria e propósito que apresentamos este livreto, criado para disseminar informações claras e acolhedoras sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e alguns processos relacionados à inclusão escolar.
Nosso objetivo é oferecer a terapeutas, educadores, familiares e à sociedade em geral um material acessível, que combata a desinformação e promova práticas inclusivas à neurodiversidade. Ao longo do material, abordaremos desde as características do TEA e o processo de diagnóstico até a desconstrução de mitos comuns e, principalmente, a importância de ambientes escolares que acolham as diferenças com adaptações significativas e valorização das potencialidades de cada estudante.
Acreditamos que a inclusão escolar não é apenas um direito garantido por lei, mas um passo essencial para a construção de uma sociedade mais justa e empática.
Este livreto surge como um convite à reflexão e à ação, incentivando práticas que respeitem às individualidades e criem oportunidades reais de desenvolvimento e participação para todos. Boa leitura!
OTranstorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação e a interação social, assim como os padrões de seus comportamentos, com interesses restritos e/ou repetitivos que influenciam em sua funcionalidade (APA, 2022). Esse transtorno também conhecido e nomeado como autismo, está presente desde bebê, mas em muitos casos a investigação diagnóstica pode ocorrer posteriormente à primeira infância, devido aos contextos em que vive e às demandas cotidianas. Isso, principalmente, porque as manifestações do transtorno dependem dos níveis de gravidade e como eles se apresentam no dia a dia da família e dos demais contextos de vivências.
A prevalência ainda é instável porque depende de metodologias específicas para caracterizar as amostras no Brasil e no mundo, mas sabe-se que desde 2019 o censo demográfico brasileiro incluiu o TEA em suas métricas, o que possibilitará mensurações confiáveis a partir de 2025 (PIRES, 2023). Esses dados serão essenciais para colaborar com as melhorias em políticas públicas e demais processos que envolvam os direitos das pessoas com TEA e suas famílias em todos os âmbitos de suas vidas.
De acordo com o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) (APA, 2022), às pessoas com TEA apresentam:
• Déficits na reciprocidade socioemocional;
• Déficits nos comportamentos verbais e não verbais, usados nos processos comunicativos e nas interações sociais;
• Dificuldade para desenvolver, manter e compreender
a interação social e de comunicação envolvidos nos relacionamentos;
• Padrões de comportamentos repetitivos como movimentos motores de balançar o corpo ou partes do corpo, alinhar objetos ou repetir frases;
• Insistências em fazer ou ter as mesmas coisas, repetidas vezes;
• Inflexibilidade com as rotinas, para criar as etapas de suas atividades ou para flexibilizar eventos do seu dia a dia;
• Dificuldade para a comunicação verbal ou para os processos da linguagem, tais como dificuldade em compreender ironia, sarcasmo e expressões faciais;
• Hipersensibilidade ou hipossensibilidade para estímulos sensoriais, como sons, luzes, texturas, dor e temperatura;
• Interesses incomuns por aspectos sensoriais do ambiente, como observar o ventilador rodando, olhar e tocar em portas automáticas, sentir o toque dos objetos com as pontas dos dedos e lábios.
A Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (CID-11), apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) teve sua última atualização em 2019 e apresenta o diagnóstico de TEA parecido com os descritivos do DSM-V, mas acrescentando a presença ou não de déficits cognitivos e comprometimentos na linguagem (WHO, 2019). Para verificar tudo sobre o CID-11 basta acessar o site https://icd.who.int e procurar por ‘6A02’ ou ‘Transtorno do Espectro do Autismo’.
Abaixo estão as subdivisões encontradas para o TEA.
6A02 Transtorno do espectro autista
6A02.0 Perturbação do espetro do autismo sem perturbação do desenvolvimento intelectual e com ligeiro ou sem perturbação da linguagem funcional
6A02.1 Perturbação do espetro do autismo com perturbação do desenvolvimento intelectual e com perturbação ligeira ou sem perturbação da linguagem funcional
6A02.2 Perturbação do espetro do autismo sem perturbação do desenvolvimento intelectual e com linguagem funcional alterada
6A02.3 Perturbação do espectro autista com perturbação do desenvolvimento intelectual e com alteração funcional da linguagem
6A02.5 Perturbação do espectro autista com perturbação do desenvolvimento intelectual e com ausência de linguagem funcional
6A02. Y Outro transtorno do espectro do autismo especificado
6A02. Z Transtorno do espectro autista, não especificado
Embora existam os critérios para diagnóstico do TEA, bem elencado no DSM-V e no CID-11, as manifestações nas pessoas são muito particulares e precisam de atenção dos profissionais envolvidos. Os mesmos critérios estão em 2 crianças, mas os comportamentos podem ser completamente diferentes. Além disso, os níveis de gravidade influenciam diretamente nas características das pessoas em diferentes comportamentos e em variados ambientes. Esses níveis de gravidade são classificados de acordo com a quantidade de suporte que a pessoa necessita no dia a dia, podendo variar do nível 1 ao 3 (APA, 2022).
Para o DSM-5, as pessoas com TEA podem estar no nível 1, “exige apoio”; nível 2, “exige apoio substancial” ou nível 3, “exige apoio muito substancial”, de acordo com as necessidades de suporte para a funcionalidade em sua vida (APA, 2022).
Para o CID-11, as pessoas com TEA estão no código 6A02 e precisam ser classificadas com a presença ou não de deficiência intelectual e/ou comprometimento da linguagem (seja falada ou sinalizada). Portanto, a pessoa com TEA é classificada ‘com ou sem’ deficiência intelectual e se apresenta ‘leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional’, ‘linguagem funcional prejudicada’ ou ‘ausência completa ou quase completa da linguagem funcional’ (WHO, 2019).
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, mas muitos pediatras e neuropediatras podem indicar diversos exames complementares ou que descarte outros diagnósticos, ou seja, não há exames de imagem ou laboratoriais que possam detectar o TEA. Isso mostra a necessidade de especialização cada vez mais avançada para os profissionais envolvidos, seja na expertise para as avaliações clínicas, seja na busca por instrumentos de avaliação que possam colaborar com o diagnóstico.
Durante a investigação é essencial que a pessoa consiga especificar os comportamentos no dia a dia e qual o impacto na funcionalidade. No DSM-V serão utilizados os critérios diagnósticos de A até E e os níveis de gravidade, sendo 1, 2 ou 3 (APA, 2022). Para o CID-11 será classificado considerando a presença ou não de deficiência intelectual e as características da linguagem (WHO, 2019).
O diagnóstico nem sempre é apresentado com rapidez e pode demorar meses até que todos os processos sejam investigados através dos exames clínicos dos médicos de referência e dos terapeutas (terapeuta ocupacional, fonoaudiólogos e psicólogos, neuropsicólogos e outros) que possuem protocolos de avaliação direcionados para auxiliar no diagnóstico final.
Nesse sentido, com o objetivo de contribuir e facilitar os diagnósticos, existem alguns instrumentos disponíveis, tais como: M-Chat (Escala Modified Checklist for Autism in Toddlers), ADOS-2 (Autism Diagnostic Observational Schedule), ADI-R (Autism Diagnostic Interview), PROTEA-R , RITA-T (teste de triagem rápida e interativa para autismo em crianças) e afins.
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Atualmente, existem muitos recursos para o diagnóstico precoce e correto que devem ser utilizados pelos médicos e terapeutas de reabilitação para testes de triagem, protocolos de detecção do TEA e avaliações de habilidades específicas (motoras, sensoriais, cognitivas, sociais, linguagem e comunicação).
Todos esses instrumentos de avaliação irão apontar aspectos importantíssimos para a família e para os próximos direcionamentos de intervenções medicamentosas, de reabilitação cognitiva, motora, de linguagem, sensorial, comportamental, social e de inclusão escolar (ARAÚJO et al., 2019).
Importância das terapias
Os processos de intervenção devem ser iniciados o mais logo possível de acordo com as necessidades individuais de cada criança. A equipe interdisciplinar é essencial para intervenções de pessoas com TEA porque potencializa os resultados positivos e funcionais para a criança e sua família (ARAÚJO et al., 2019). Assim, quanto mais integrada estiver a equipe, melhor serão os desenvolvimentos de habilidades e a participação social da criança em sua vida em casa, na escola e outros ambientes da sociedade.
Pensando nisso, é primordial que todos os terapeutas, médicos e professores considerem as individualidades das crianças para traçar os métodos de avaliação, metodologias de intervenções e estratégias de acessibilidade para propor treinos de habilidades (motoras, sensoriais, cognitivas, linguagem, comunicação, sociais, dentre outras), ampliação de participação em atividades dos contextos que vive, na alimentação, nas interações sociais, na inclusão escolar e diversas outras necessidades apontadas principalmente pela família.
As crianças recém-diagnósticas podem precisar de atendimentos com a terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, psicopedagogia, adaptações curriculares na escola, musicoterapia, atividades físicas, terapia alimentar com nutricionista, intervenções domiciliares, dentre várias outras modalidades de intervenção.
Diante disso, fica evidente o impacto positivo da boa condução dos médicos e terapeutas envolvidos com cada criança, mas o
cuidado com a família é primordial, porque a forma como são acolhidos, orientados e apoiados fará diferença em muitos processos desde o diagnóstico até a vida adulta. O apoio familiar permitirá que a família se sinta segura para todos os desafios que vão trilhar com os filhos, sejam em suas atividades em casa, na escola e na comunidade (PIRES, 2023).
MITOS E VERDADES SOBRE O TEA
Após essa introdução sobre o TEA, vamos rever alguns mitos que sempre aparecem no dia a dia da nossa sociedade, às vezes em conversas com conhecidos, na internet e nos argumentos populares.
Mito
O correto é dizer “portador de autismo” ou “sofre de autismo”.
O TEA é uma doença.
É classificado apenas como leve ou severo.
Verdade
O correto é dizer “pessoa com TEA”.
O TEA não é uma doença, mas sim um transtorno do neurodesenvolvimento.
O TEA é um espectro e pode ser classificado em níveis de suporte (1, 2 ou 3), dependendo das necessidades individuais de cada pessoa.
Pessoas com TEA não falam.
As pessoas com TEA têm dificuldade com os processos que envolvem a comunicação e a linguagem, mas não diretamente relacionada a ‘falar ou não’. Algumas pessoas com TEA são não verbais, mas utilizam de dispositivos de comunicação alternativa (CAA) ou gestos para se comunicar.
Mito Verdade
Pessoas com TEA não entendem sentimentos e não sabem se expressar.
Pessoas com TEA são agressivas.
Se a criança bate, empurra ou grita, é porque tem um comportamento inadequado e precisa de disciplina.
Não gostam de interagir com outras pessoas.
Só crianças podem ser diagnosticadas com TEA.
O TEA é causado pela criação dos pais.
Elas sentem emoções, sim, mas podem ter dificuldades em expressá-las e/ou compreendê-las.
O TEA não causa agressividade. Algumas pessoas podem ter comportamentos agressivos devido à sobrecarga sensorial, frustração, dificuldades de comunicação ou quando o ambiente não está adequado.
Muitas vezes, esses comportamentos são tentativas de comunicação ou reações a um ambiente estressante. É importante entender a causa, modificar o ambiente e as atitudes das pessoas que estão ao redor.
A maneira de interagir pode ser diferente, assim como, podem ter dificuldades em compreender normas sociais e expressarse da maneira esperada.
O TEA pode ser diagnosticado em qualquer idade. Muitas pessoas descobrem apenas na vida adulta.
O TEA tem bases genéticas, ambientais e neurobiológicas, não sendo causado pela forma como os pais educam seus filhos. Mas todas as pessoas envolvidas precisam de orientações e treinamentos para melhor colaborar com o desenvolvimento da criança, proteger os direitos e inclusão social.
Mito Verdade
As pessoas com TEA são sempre iguais.
O espectro é muito diverso. Cada pessoa tem experiências, desafios, comportamentos e habilidades únicas.
São muitos mitos e informações erradas em torno do TEA, sobre suas características e dificuldades, então todos precisamos buscar atualizações constantes para evitar o preconceito, o capacitismo e falta de inclusão nos espaços. Foi pensando nisso que os próximos tópicos serão focados na inclusão escolar, que é hoje, um desafio para os alunos, os pais, os professores, terapeutas e todos os envolvidos.
A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO ESCOLAR
A inclusão escolar é um direito fundamental de todos os alunos, garantido por leis, declarações nacionais e internacionais, independentemente de suas dificuldades e características. Apesar disso, ainda é um desafio concretizar as ações para o benefício educacional e social que a escola proporciona, através de benefícios tanto para as crianças com TEA quanto para a comunidade escolar como um todo (NEPOMUCENO; SANDES, 2023).
De acordo com Rosa, Matsukura e Squassoni, (2019), os principais responsáveis pela exclusão e evasão de alunos com deficiência nas escolas estão ligados às barreiras metodológicas do ensino pelos professores (que não conseguem seguir as necessidades
educacionais dos alunos com TEA) e às barreiras atitudinais, observadas como preconceitos, falta de atitudes colaborativas com as reais necessidades (como criar planos individualizados, adaptar os currículos e seguir estratégias assertivas para proporcionar a participação e aprendizado dos alunos) (PINHO et al., 2023).
Então, temos duas realidades, 1: os alunos com TEA matriculados nas escolas regulares precisando desenvolver habilidades, aprender os conteúdos das aulas, conviver com os colegas e professores; 2: os professores e demais profissionais da escola, vivendo desafios com as demandas de saúde dos alunos, dificuldade com os métodos e metodologias de ensino dos conteúdos e precisando lidar com as necessidades sociais e comportamentais que realmente façam a diferença na inclusão dos seus alunos (MORALES et al., 2019).
Diante disso, podemos perceber a realidade do que ocorre nas instituições escolares públicas e privadas, que apontam crescentes necessidades de apoio para a inclusão escolar e se mostram despreparadas para atuarem com os alunos com deficiência.
A culpa não está em um único ponto, porque embora existam as leis que garantem os direitos e deveres, suas efetivas ações de aplicabilidade ainda estão caminhando para funcionar. Isto é, os professores precisam de apoio colaborativo, capacitações mais assertivas e individualizadas, as políticas públicas precisam ser mais focadas nas necessidades tanto dos professores, como dos alunos e, os recursos necessários (financeiros, materiais, acessibilidade, tecnologia assistiva etc.) precisam ser direcionados e planejados (LOPES; MARQUEZINE, 2012).
Apesar desses desafios, as instituições escolares são ambientes que oferecem muitos benefícios para todos os alunos, sejam relacionados aos aprendizados acadêmicos, sejam todos os outros relacionados a aspectos de desenvolvimento humano. Aprender com pares e com os professores são fatores importantíssimos presentes na escola e, além disso, oferecem aprendizado para uma sociedade mais justa.
Desenvolvimento acadêmico e cognitivo:
Através da criação de planos individualizados e adaptações curriculares corretas, os alunos com TEA terão oportunidades de aprendizado e progresso acadêmico.

Para os alunos com TEA
Melhoria na comunicação e interação social: As interações que ocorrem nos espaços da escola, com os colegas, favorece a aquisição de muitas habilidades sociais e comunicativas essenciais.
Maior autoestima e senso de pertencimento: Estar na escola e sentir-se incluído, fortalece a autoconfiança, reduz sentimentos de isolamento e promove motivação para aprender.
Preparação para a vida em sociedade:
A escola representa um espaço cheio de organizações que representam a sociedade e, por isso, oferecerá aprendizados de regras sociais e convivência em grupo.

Para os colegas de turma
Desenvolvimento da empatia e da valorização da diversidade:
Conviver com um colega com TEA ajuda os alunos a entender e respeitar as diferenças.
Melhoria no trabalho em equipe e colaboração:
A inclusão estimula o apoio mútuo, tornando os alunos mais colaborativos.
Quebra de preconceitos e estereótipos:
Ao interagir com colegas com diferentes características, as crianças e adolescentes desenvolvem uma visão mais inclusiva e com menos capacitismo.

Para os professores
Aprimoramento profissional:
O ensino inclusivo desafia os professores a desenvolverem novas metodologias e estratégias de ensino.
Aprendizado de novas abordagens pedagógicas:
A necessidade de adaptação e diferenciação do ensino enriquece a prática pedagógica, promove o raciocínio considerando a diversidade e resulta em aulas mais dinâmicas para todos.
Desenvolvimento de um olhar mais sensível para as necessidades individuais:
A experiência com inclusão torna os professores mais atentos às dificuldades e potencialidades de cada aluno.
Ambiente de sala de aula mais colaborativo e respeitoso: O convívio com a diversidade tende a criar uma cultura de respeito e cooperação.

Para as famílias
Fortalecimento da inclusão social: A escola inclusiva prepara o aluno para outros contextos da vida em sociedade.
Maior segurança e tranquilidade: Os pais sentem-se mais confiantes ao ver que seus filhos estão em um ambiente que os acolhe e respeita.
Criação de redes de apoio entre famílias: A interação com outras famílias na escola pode gerar trocas de experiências e suporte emocional.
Redução da segregação:
Ao ter acesso à escola regulares, o aluno com TEA e sua família vivenciam uma experiência satisfatória e encoraja a seguir com desafios que estão na sociedade.
LEGISLAÇÃO E DIREITOS
Que a inclusão escolar é um direito garantido por lei, todas as pessoas já sabem, mas é essencial identificarmos que apenas a lei não é o suficiente para que os alunos com TEA tenham uma educação de qualidade. Muitas políticas públicas precisam ser melhoradas e outras criadas. Os profissionais e familiares precisam se inteirar de todos os processos, assim como participar dos avanços necessários. É possível observar movimentos em muitas esferas (municipais, estaduais, federais, dentro das instituições de reabilitação, nas escolas, APAEs e outros centros de atenção à pessoa com TEA), responsáveis por fazer as leis serem praticadas e isso é o que demonstra o avanço na inclusão no Brasil. No país, foram estabelecidas várias leis e diretrizes para garantir que estudantes com deficiência tenham acesso a instituições
de ensino em todos os níveis, permaneçam com qualidade, recebam recursos pedagógicos adequados para sua aprendizagem e participação (BRASIL, 2015). Assim como garantir recursos que auxiliem os profissionais da educação na promoção da inclusão escolar, respeitando as diferenças e atendendo às necessidades individuais de cada aluno (BRASIL, 2008; BRASIL, 2015).
É preciso ficar atento a tudo o que já existe nas legislações. Alguns dos principais marcos legais incluem:
• Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência (LBI) nº13.146/2015: Garante a inclusão de pessoas com deficiência em todos os âmbitos da sociedade, incluindo a educação. Apresenta a necessidade do Plano Individualizado e do Atendimento Educacional Especializado (AEE) nas escolas.
• Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Prevê adaptações necessárias para garantir a inclusão.
• Decreto nº 7.611/2011: Regulamenta o atendimento educacional especializado (AEE) e reforça o papel da escola na inclusão.
• Lei 12.764/2012 (Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA): também conhecida como a Lei Berenice Piana, garante que as pessoas com TEA sejam reconhecidas como
pessoas com deficiência e tenham seu lugar legitimado. Garante a oferta de suporte adequado, incluindo mediadores e auxiliares. A aquisição de novas oportunidades, como a Carteira de Identificação da Pessoa com TEA (CIPTEA), pela lei 13.977, de 8 de janeiro de 2020, na qual as pessoas com TEA têm prioridade nos atendimentos públicos e privados na saúde, educação e na assistência social.
A escola tem o dever de cumprir essas leis, promovendo acessibilidade, suporte especializado e adaptações curriculares para os alunos com TEA.
Metodologias e Estratégias de Ensino
A adoção de metodologias eficazes é o que possibilita o desenvolvimento acadêmico, social e emocional dos alunos com TEA, contribuindo para sua participação ativa na escola. A inclusão escolar requer a adoção dessas metodologias e estratégias que realmente atendam às suas necessidades específicas de cada aluno, promovendo um ambiente educacional acessível e estimulante para todos os aprendizados necessários (BRASIL, 2015; PINHO et al., 2023).
Algumas estratégias são valiosas (OLIVEIRA; SANTOS; SANTOS, 2024; BRASIL, 2015; PINHO et al., 2023; LOPES; MARQUEZINE, 2012). Conheça-as a seguir!
Uso de Recursos
Visuais e Estruturados

Materiais visuais, como pictogramas, tabelas, rotinas ilustradas e esquemas, auxiliam na organização das informações e favorecem a compreensão do conteúdo. O ensino estruturado, baseado em previsibilidade e rotina, reduz a ansiedade e melhora a assimilação das atividades escolares.
Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA)

Algumas crianças com TEA apresentam dificuldades na comunicação verbal. O uso de ferramentas como PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras) e dispositivos tecnológicos contribui para a expressão de pensamentos e necessidades, facilitando a interação com professores e colegas. Pensando nisso, a Inclusão Eficiente promove a Imersão Internacional em CAA, que te auxilia a compreender e implementar a CAA. Clique aqui e saiba mais.
Ensino Baseado em Interesse
Explorar os interesses específicos da criança pode aumentar o engajamento e a motivação para aprender. Associar os conteúdos escolares a temas de interesse do aluno torna as atividades mais atraentes e significativas.


Suporte Socioemocional e Mediação de Interações
As dificuldades na interação social podem ser trabalhadas por meio de estratégias que estimulem o contato com colegas, como atividades em dupla ou pequenos grupos. Além disso, a mediação de professores pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais.
Ambiente Escolar Acessível

A acessibilidade é descrita na LBI (no capítulo I, artigo 3º) como ‘possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida’. Para isso, é preciso acabar com as barreiras urbanísticas, arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações, na informação, nas atitudes das pessoas e no acesso a recursos de tecnologias. Alguns exemplos práticos podem ser vistos a seguir:
• Sala de recursos multifuncionais: Espaços equipados com tecnologia assistiva e profissionais especializados para apoio educacional.
• Manejo dos professores e mediador escolar no suporte ao aluno com TEA.
• Organização da sala de aula.
• Uso de materiais visuais: Pictogramas, agendas visuais e sinalização adequada.

Personalização do Ensino
Cada criança com TEA apresenta características únicas, o que torna essencial a personalização das estratégias pedagógicas. A adaptação dos conteúdos e a utilização de abordagens flexíveis permitem que o ensino se alinhe ao ritmo e estilo de aprendizagem de cada aluno. Para atingir esses objetivos, as escolas precisam se fortalecer para construir 2 documentos essenciais: O Plano individualizado e a Adaptação curricular. O currículo adaptado é um processo de modificação ou adequação do currículo escolar, enquanto o Plano individualizado é um documento que define o perfil do aluno, suas características, potencialidades, dificuldades e estipula as principais necessidades educacionais para que o aluno alcance suas metas e objetivos na escola.
1. Plano Individualizado
O Plano individualizado é encontrado na literatura também como: Plano de desenvolvimento individual e escolar (PDEI), Plano educacional individualizado (PEI) ou Plano de desenvolvimento
individualizado (PDI). Ele é um documento pedagógico obrigatório previsto no artigo 28 da Lei nº 13.146/2015.
Esse plano precisa ser criado pela escola para que o aluno tenha o aprendizado adequado e participe com qualidade dos espaços e das atividades desenvolvidas durante todo o período escolar. Embora seja um documento de responsabilidade da escola, ele precisa ser desenvolvido com a construção colaborativa envolvendo a família e a rede técnica de apoio (terapeutas).
Não existe um modelo desse plano disponibilizado para as escolas, mas de acordo com as caracterizações necessárias alguns tópicos são primordiais e outros são construídos pelas equipes pedagógicas de cada escola.
Perfil do aluno:
• Diagnóstico e todas as informações que puder colher.
• Informações de medicamentos, alergias, terapias e atividades extracurriculares, perfil da família, perfil alimentar.
• Suas habilidades motoras, cognitivas, sensoriais, emocionais, sociais, comunicativas, linguagem, seus interesses e características particulares.
Metodologias e estratégias:
• Quais técnicas para facilitar o aprendizado.
• Tipo de ensino estruturado.
• Tipos de recursos de Tecnologia Assistiva são necessários na escola e nas atividades.
• Quais metodologias necessárias para as aulas, para as atividades, quais materiais escolares serão usados etc.
Objetivos de aprendizagem:
• Construa de forma colaborativa quais são as metas relacionadas ao currículo acadêmico e demais atividades, vivências e experiências na escola.
Avaliação e acompanhamento:
• Como serão os registros dos progressos.
• Como serão as adaptações das provas, trabalhos e outros exercícios.
• Como os professores vão registrar o alcance dos objetivos traçados na adaptação curricular?
2. Adaptação curricular
A adaptação curricular refere-se às modificações ou adequações no currículo escolar com o objetivo de atender às necessidades específicas de estudantes com deficiência, garantindo-lhes acesso pleno ao conteúdo educacional (tudo o que está previsto do Projeto Político Pedagógico (PPP), nas grades curriculares e nos planejamentos das aulas). Ele é um documento pedagógico obrigatório previsto no artigo 28 da Lei nº 13.146/2015.
Durante as aulas todo professor constrói uma dinâmica para a aula, desde o momento em que chega até o momento de ir embora, o ambiente físico, como estarão dispostos os móveis, como será a dinâmica com os alunos etc. Sendo assim, a adaptação curricular se refere a todos esses processos e não apenas às adaptações das grades curriculares ou dos conteúdos das aulas (relacionadas às matérias e atividades pedagógicas). Dessa forma, a construção de uma adaptação curricular deve levar em consideração:
• Grade curricular e conteúdo das aulas: adaptar as atividades ou a complexidade dos conteúdos, reduzir ou simplificar os temas trabalhados nas aulas.
• Metodologia durante as aulas e a condução com a turma: uso de recursos visuais, tecnologia assistiva e atividades práticas para facilitar o aprendizado.
• Processos avaliativos: uso de avaliações alternativas, como provas orais, trabalhos em grupo ou observação do desempenho ao invés de provas escritas tradicionais.
• Ambiente: Organização da sala de aula, minimização de
estímulos sensoriais e criação de espaços mais estruturados, onde cada aluno vai se sentar, fazendo uso de quadros de rotina.
• Manejos com os alunos: organização das regras, uso de reforçadores, hora do lanche, hora de explorar outros ambientes da escola, ensaios para eventos e apresentações, relações com os pares.
A adaptação curricular deve garantir que a criança com TEA possa aprender no seu ritmo, respeitando suas particularidades e potencializando suas habilidades.
O uso de metodologias e estratégias pedagógicas adaptadas às necessidades dos alunos é fundamental para que a inclusão escolar de crianças com TEA seja efetiva. Um ensino acessível, estruturado e sensível às necessidades individuais favorece a aprendizagem, a autonomia e o desenvolvimento social dos alunos, garantindo seu pleno direito à educação.
Quem é responsável pela inclusão do aluno com TEA?
Toda a comunidade escolar é responsável pela inclusão do aluno com TEA, cada profissional precisa executar algumas ações separadas, mas complementares. Os professores regentes e das disciplinas especializadas são responsáveis pela condução da turma (incluindo alunos com e sem deficiência) e devem garantir o acesso ao currículo pedagógico, fazendo adaptações conforme necessário (baseado na construção do plano individualizado e da
adaptação curricular). Já os segundos professores (ou professores de apoio pedagógico), atuam junto ao professor regente, auxiliando na adaptação de atividades e no suporte pedagógico durante toda a estadia do aluno na escola. Juntos esses professores devem ser colaborativos para tornar a educação com qualidade e inclusiva.
Para finalizar...
A inclusão escolar de crianças com TEA é um direito fundamental e garantir que esses alunos tenham acesso a um ambiente educacional acolhedor e adaptado às suas necessidades não beneficia apenas o seu desenvolvimento acadêmico, mas também fortalece suas habilidades sociais, emocionais e comunicativas. As ricas interações que ocorrem dentro das instituições escolares são primordiais para o desenvolvimento social da criança.
A interação entre pares é importante, sobretudo quando associadas às mediações de qualidade dos professores, pois tornarão os resultados positivos, seja nos aspectos acadêmicos ou sociais. Essas interações são desafiadoras para alunos com TEA, mas também são uma das áreas em que a escola pode contribuir significativamente.
Para que a inclusão seja efetiva, é essencial que as escolas adotem metodologias de ensino diversificadas, contem com profissionais capacitados e disponibilizem recursos de acessibilidade que favoreçam a aprendizagem. Além disso, a sensibilização da comunidade escolar e o envolvimento da família são fatores determinantes para o sucesso desse processo.
Algumas estratégias incluem:
• Estimular a interação entre alunos, com brincadeiras cooperativas e atividades em grupo (planeje adaptações se for preciso), jogos estruturados, dinâmicas de grupo e projetos conjuntos.
• Estratégias para estimular a interação e evitar o bullying.
• Manter um canal aberto entre pais e professores para trocar informações sobre o progresso do aluno.
• Orientar os pais sobre o aprendizado, fornecendo dicas de como reforçar o conteúdo escolar em casa.
Mais do que um dever legal, a inclusão é um compromisso social. Quando garantimos que crianças com TEA tenham oportunidades de aprendizado em um ambiente respeitoso e adaptado às suas necessidades, estamos promovendo não apenas seu crescimento individual, mas também contribuindo para uma educação mais rica, humanizada e igualitária para todos.
E S C O L A R
Referências bibliográficas
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