ICNF Fitonotícias n.º4 - 4º trimestre de 2014

Page 1

n.º

1

Destaques

Editorial São diversos os agentes bióticos nocivos que podem causar danos às espécies florestais, de quarentena ou não, sendo que no caso destes últimos não há, em geral, um controlo oficial generalizado. Não obstante, alguns destes agentes destacam-se pela sua nocividade ou risco de atingirem níveis epidémicos e, em alguns casos, pela ameaça que podem constituir para a saúde pública, ainda que em situações concretas. É o caso da processionária-do-pinheiro, sendo por isso importante divulgar medidas de prevenção e controlo, tema a que é especificamente dedicado este número.

Em foco

Saiba mais

Processionária-do-pinheiro: Thaumetopoea pityocampa (Denis & Schiffermüller) Inseto fitófago, é uma importante praga de pinheiros, sobretudo na região Mediterrânica, parasitando também Cedrus spp. e Larix spp.. Pode causar desfolhas severas, resultando em stress e suscetibilidade ao ataque de pragas secundárias, perda de biomassa e danos económicos. As plantações entre os 5 e os 15 anos são as mais suscetíveis mas, em geral, recuperam, exceto perante ataques intensos ou consecutivos, intensidade que é condicionada pelos níveis populacionais de processionária, fortemente influenciados pelas condições climáticas, entre outros fatores. Completa o seu ciclo biológico, num ano, distinguindo-se 2 fases, uma aérea, na copa dos hospedeiros, sendo o sinal mais distinto da sua presença a existência de ninhos sedosos formados na extremidade dos ramos, e outra subterrânea, no solo, ocorrendo a passagem de uma fase à outra com a migração coletiva das lagartas, que abandonam a parte aérea do hospedeiro em procissão.

NMP: corte de pinheiros e outras resinosas + Continua a decorrer, nas freguesias da Zona Tampão e adjacentes, a eliminação de coníferas hospedeiras do Nemátodo da Madeira do Pinheiro (NMP) secas ou a secar, tombadas e localizadas em áreas ardidas. O ICNF, I.P. tem vindo a substituir-se aos proprietários que não cumprem com estas obrigações, atuação que irá ser agora também direcionada a grandes áreas ardidas. Foi solicitado às Juntas de Freguesia divulgação de Editais relativos a estas ações.

Derrogação à madeira do freixo: Foram introduzidas exigências fitossanitárias adicionais à importação de certas espécies de madeira em resultado de alterações recentes à Diretiva 2000/29/CE, de 8 de Maio de 2000, entre as quais, novas exigências à importação de madeira de freixo originária de vários países terceiros. Assim, foi publicada a Decisão de Execução da Comissão 2014/924/UE, de16 de dezembro de 2014, que se aplicará até final de 2015 para madeira, estilha, casca isolada e objetos de casca de Fraxinus L. originários dos EUA e Canadá.

PDR2020: abertura de candidaturas + Foi divulgado o plano de abertura das candidaturas ao novo quadro comunitário PDR2020, destacando-se a medida M8. Proteção e Reabilitação de Povoamentos Florestais, nomeadamente as ações referentes à prevenção e restabelecimento da floresta face aos agentes bióticos e abióticos (8.1.3 e 8.1.4), com datas de abertura previstas para a 2ª quinzena de março e de julho, respetivamente.

n.º 4 |4.º trimestre de 2014 | 1


Nos dois últimos estádios de desenvolvimento as lagartas apresentam pelos urticantes que uma vez em contacto / inalados podem provocar irritações na pele e mucosas, causando, frequentemente, reações alérgicas graves. Podem igualmente afetar, com severidade, animais domésticos e fauna selvagem. Em 1997 foi descoberta, na Mata Nacional de Leiria, uma população atípica, com desenvolvimento larvar estival, ocorrendo as fases urticantes no Verão (de agosto a outubro), por oposição à população invernal (outubro a março), o que obriga à adequação das medidas de controlo preconizadas. Uma vez que só em ocasiões muito específicas conduz à morte dos hospedeiros, não está definido um plano de controlo oficial para este inseto. Todavia, é importante divulgar medidas de prevenção e controlo, sobretudo dados os potenciais impactos na saúde pública, com destaque para locais habitados ou frequentados por populações, junto de pinhais.

Prevenção e controlo

Saiba mais

Combate à dispersão de processionária-do-pinheiro  janeiro a maio: destruição das lagartas em procissão e pupas no solo - Aplicar cintas nos troncos das árvores embebidas em cola à base de poliisolbutadieno e/ou proceder à recolha manual e queima das lagartas encontradas no solo (cuidado com os pelos urticantes!); mobilizar o solo, nos locais onde se suspeita de enterramento, para destruição das pupas.

 junho a setembro: uso de armadilhas - Instalar armadilhas iscadas com ferormonas sexuais (1 a 3 por hectare), para captura de machos (borboletas).

 setembro a outubro/novembro: tratamentos bioquímicos - Através de inibidores de crescimento, hormonas de muda dos insetos e inseticidas microbiológicos à base de Bacillus thuringiensis (apenas eficaz nos primeiros instares de desenvolvimento larvar 8-10mm de comprimento) - até outubro; - Através de microinjeção no tronco (lagartas até 30mm) - normalmente eficaz entre setembro e novembro .

 outubro a dezembro: destruição de ninhos - Proceder à remoção manual dos ninhos seguida de queima ou injeção de um inseticida piretróide de síntese nos ninhos (ação a executar durante o dia, quando as lagartas se encontram no ninho).

 Outras medidas, essencialmente preventivas - Utilizar espécies não hospedeiras na bordadura de plantações de hospedeiros, em particular na proximidade de aglomerados populacionais e caminhos; - Monitorizar os hospedeiros (observação e utilização de armadilhas); - Aplicar tratamentos preventivos (microinjeção no tronco), em áreas circunscritas. + Consulte a DGAV para informações sobre os produtos fitofarmacêuticos mais adequados, sua venda e aplicação.

Atenção! NÃO DESCURE A SEGURANÇA! Use proteção adequada no manuseamento de ninhos, lagartas e ramos de árvores atacadas. Interdite o acesso a zonas afetadas, sobretudo a crianças e animais domésticos, particularmente na fase de procissão e quando da adoção de métodos mecânicos de destruição. Em caso de irritações originadas por processionária, recorra ao serviço de saúde (ou veterinário) mais próximo!

Diplomas legais recentes +

Decreto-Lei n.º 170/2014, de 7 de novembro, procede à nona alteração ao Decreto -Lei n.º 154/2005, de 6 de setembro, transpondo para a ordem jurídica interna duas diretivas de execução de junho de 2014.

+

Decisão de execução da Comissão 2014/924/UE, de 16 de dezembro, derrogação a determinadas disposições da Diretiva 2000/29/CE, do Conselho, de 8 de maio no que respeita a madeira e casca de freixo originários do Canadá e EUA.

n.º 4 |4.º trimestre de 2014 | 2


Aplicações e equipamentos

Recomendações

DRONE: aplicação à monitorização de áreas florestais1

Até final de março

1

Adaptado de texto cedido por Luis Miguel Martins (UTAD)

Novas soluções e técnicas de monitorização de áreas florestais em declínio estão a ser desenvolvidas e recorrem a métodos de deteção remota, designadamente através da utilização de informação obtida por aeronaves não tripuladas. Vulgarmente conhecidos por Drones, são equipamentos facilmente transportáveis e estão concebidos para terem capacidade de voo e registo de imagens, com controlo relativamente simples pelo operador. Além disso, o espaço habitualmente necessário às operações de descolagem ou aterragem é relativamente curto o que permite a sua operacionalidade em praticamente qualquer área de floresta. Um exemplo desta tecnologia aplicada à fitossanidade florestal, deu-se em 2014 com a monitorização do declínio em áreas de castanheiro localizadas na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Num estudo desenvolvido pela equipa do Prof. Luis Miguel Martins (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro-UTAD, lmartins@utad.pt), com recurso ao Drone (eBee da senseFly) obtiveram-se fotografias aéreas policromadas e de infravermelho próximo (NIR), nos concelhos de Valpaços e Vinhais, as quais, comparadas com registos aerofotográficos de 2006, permitiram estimar que, entre 2006 e 2014, as perdas de produção de castanha atingiram quase 50% dos povoamentos, devido à mortalidade e ao declínio dos castanheiros, cujas causas se podem imputar sobretudo à tinta e ao cancro. As fotos captadas pelo Drone possibilitaram ainda conhecer os focos de declínio mais expressivos.

 Elimine da sua área florestal as resinosas tombadas, ardidas, afogueadas ou que apresentem a copa seca ou a secar assim como os sobrantes da exploração. +

 Planeie as suas operações de exploração florestal e comercialização de produtos e subprodutos de resinosas atempadamente, tendo em atenção as alterações à circulação e armazenamento de material lenhoso que têm lugar a partir de abril. + +

 Ao fazer a faixa de gestão de vegetação para prevenção dos incêndios florestais à volta da sua edificação ou de outras infraestruturas, legalmente prevista (Decreto-Lei n.º 17/2009, de 14 de janeiro) dê preferência ao abate de árvores doentes, enfraquecidas ou mortas.

Após 1 de abril  O material vegetal de reprodu-

Castanheiro com cancro e fotografia área obtida pelo Drone (eBee da senseFly).

Esta metodologia poderá ser utilizada como ferramenta de apoio à identificação, avaliação e monitorização do estado fitossanitário de outras espécies florestais, nomeadamente para identificação de coníferas com sintomas de declínio. Neste sentido, foi proposta uma parceria entre o ICNF, I.P. e a GNR para, a título experimental, utilizar esta metodologia na área do Parque Nacional da Peneda Gerês, com o objetivo de monitorizar e identificar arvoredo com declínio, delimitar áreas ardidas e monitorizar o estado das faixas de gestão de combustível.

ção de castanheiro introduzido, no período de novembro a março, em locais sem proteção física contra o inseto Dryocosmus kuriphilus situados na zona demarcada e que não tenha sido comercializado, não poderá permanecer na zona demarcada no período de abril a outubro, devendo por isso ser transferido, até 31 de março, para um local com proteção física contra o inseto situado na zona demarcada, ser expedido para uma zona isenta deste inseto ou ser destruído. + Lista das freguesias que integram as zonas demarcadas. +

n.º 4 |4.º trimestre de 2014 | 3


Aconteceu

Reunião anual de fornecedores de MFR O ICNF, I.P. realizou no dia 20 de outubro mais uma Reunião Anual de Fornecedores de MFR, a qual contou também com a presença da ANEFA e da CELPA; um dos temas abordado visou as medidas de proteção fitossanitária em fornecedores de MFR. +

Ficha técnica

POSF: Instrumento estratégico de prevenção e controlo

Coordenação Divisão de Proteção Florestal e Valorização de Áreas Públicas

A 6 e 12 de novembro, o Programa Operacional de Sanidade Florestal, foi apresentado pelo ICNF, I.P. como instrumento estratégico de prevenção e controlo de agentes bióticos nocivos, em dois encontros promovidos pela ANEFA e pela AIFF, respetivamente. +

Ilustração: João Carlos Farinha

Ações de formação para Vigilantes da Natureza No âmbito dos objetivos estabelecidos no POSF, o ICNF, I.P. realizou, nos dias 23 de outubro e 11 de dezembro, duas ações de formação para Vigilantes da Natureza. A primeira visou melhorar o conhecimento dos vigilantes sobre os procedimentos em vigor para operacionalizar as ações de controlo do NMP e a segunda disponibilizou informação sobre diversos agentes bióticos nocivos com impacto nos ecossistemas florestais e procedimentos de prevenção e controlo para minimizar os seus efeitos negativos. +

Reunião de peritos da Ação COST FP1002 PERMIT

Conteúdo Andreia Oliveira, Dina Ribeiro, Helena Marques, José Rodrigues, Sofia Domingues, Suzel Marques e Telma Ferreira.

Design gráfico e criatividade Inês Vasco

Primeira reunião da Task Force criada pela Comissão Europeia Decorreu, entre 24 e 28 de novembro, a 1.ª reunião da Task Force dirigida ao controlo do nemátodo da madeira do pinheiro, que foi criada pela Comissão Europeia com o objetivo de rever e procurar eventuais novas soluções que contribuam para um controlo mais eficiente e eficaz do NMP. Estão previstas 5 novas reuniões deste grupo de trabalho, a decorrer em 2015, visando a continuação da discussão desta temática e incluindo a análise de diversas áreas, desde as relacionadas com a adoção de boas práticas de gestão florestal sustentável à investigação aplicada.

Em 27 de outubro, o ICNF, I.P. participou na reunião de peritos nacionais e internacionais, promovida pelo INIAV, I.P. no âmbito da Ação COST FP1002 PERMIT, apresentando uma comunicação intitulada “What can happen in the case of invasive alien species introduction? The Portuguese case study related to PWN control”. +

Prémio para melhor comunicação na área florestal No 1º Simpósio da Sociedade de Ciências Agrárias de Portugal e 7º Congresso da Sociedade Portuguesa de Fitopatologia, “Novos Desafios na Proteção das Plantas”, que se realizou nos dias 20 e 21 de novembro, foi atribuído ao investigador Luís Miguel Martins, da UTAD o Prémio de melhor comunicação na área florestal, patrocinado pelo Grupo Portucel Soporcel com a apresentação sobre “Monitorização da condição fitossanitária do castanheiro, por fotografia área obtida com aeronave não tripulada”. Este trabalho teve coautoria dos Investigadores João Paulo Castro do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Ricardo Bento (UTAD) e Joaquim Sousa (UTAD).

Contactos Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, IP | Departamento de Gestão de Áreas Classificadas Públicas e de Proteção | Divisão de Proteção Florestal e Valorização de Áreas Públicas Avenida da República, 16 - 1050-191 Lisboa | tel. 213 507 900 | www.icnf.pt Para receber o nosso boletim informativo envie um email para dpfvap@icnf.pt

n.º 4 |4.º trimestre de 2014 | 4


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.