ICNF Fitonotícias n.º8 - 4º trimestre de 2015

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Destaques

Editorial Muitas das espécies do género Phytophthora são agentes bióticos nocivos que podem provocar danos acentuados nas espécies vegetais suas hospedeiras, tanto em viveiros como em árvores adultas. A nível mundial têm sido identificados problemas fitossanitários graves em diversas espécies florestais, decorrentes da ação de Phytophthora spp., tendo sido descritas, entre 2001 e 2012, cerca de 103 novas espécies. Em Portugal são conhecidos os efeitos e a distribuição de P. cinamomi em castanheiro, sobreiro e azinheira, existindo no entanto menos informação sobre outras espécies de Phytophthora, nomeadamente P. ramorum, situação que se tem procurado reverter com o aumento das ações de prospeção a nível nacional.

Em foco

Saiba mais

Phytophthora spp.: pragas de elevada nocividade O género Phytophthora possui várias espécies com elevada nocividade e que podem provocar danos e prejuízos acentuados em espécies florestais (castanheiros, carvalhos, pinheiros, amieiros, nogueiras, faias, etc.), tendo sido descritas, entre 2001 e 2012, mais 103 novas espécies de Phytophthora, em que 64% delas foram encontradas em viveiros florestais, florestas ou outros ecossistemas naturais. Este acréscimo deveu-se ao: i) aumento do comércio internacional de plantas em contentor, considerada a principal via de dispersão de Phytophthora spp a longas distâncias; ii) desenvolvimento de novos meios de deteção molecular e de identificação, e iii) aumento da prospeção de diferentes espécies de Phytophthora. Muitas destas espécies afetam essencialmente o sistema radicular, causando a podridão do colo radicular em mais de 90% dos problemas detetados em plantas lenhosas. Outras espécies, como por exemplo P. ramorum, afetam o tronco e a parte aérea. De um modo geral, os sintomas manifestam-se na parte aérea, através de cloroses, transparência da copa, folhas pequenas, murchidão dos rebentos e folhas, necroses nas folhas, escorrimentos ou manchas escuras no tronco e morte súbita. A dispersão dá-se através da água de rega, da chuva, do transporte de terra e de material vegetal infetado. Veículos transportando terra nos pneus ou pessoas que transportem terra aderente aos sapatos podem contribuir também para a sua disseminação. Solos com má drenagem, baixo teor de matéria orgânica ou pobres em nutrientes são algumas das condições favoráveis para o desenvolvimento destes agentes bióticos nocivos. Em Portugal são conhecidos os efeitos nefastos de P. cinnamomi e P. cambivora (responsáveis pela doença-da-tinta) no declínio que afeta castanheiros, sobreiros e azinheiras. Contudo, é pouco conhecida a verdadeira dimensão da ameaça colocada por outras espécies de Phytophthora em ecossistemas e viveiros florestais. Para reverter esta situação e tendo em consideração as medidas de proteção fitossanitária legalmente impostas dada a classificação de algumas espécies como organismos de quarentena, nomeadamente P. ramorum, o ICNF, I.P. tem, desde 2012, implementado ações de prospeção a nível nacional para

NMP: obrigatoriedade de corte de pinheiros e outras resinosas + A eliminação de coníferas hospedeiras do NMP, secas ou a secar, tombadas e localizadas em áreas ardidas é obrigatória em todo o país, sendo prioritária nas áreas com Editais publicados. O incumprimento ou deficiente cumprimento das ações referidas está sujeito a coimas e sanções acessórias. Para mais informações consulte o(s) Edital (is) referente(s) ao(s) distrito(s) onde se localizam as árvores das quais é proprietário(a), usufrutuário(a),ou rendeiro(a).

Xylella fastidiosa: Circulação na UE de plantas hospedeiras. + O aparecimento de novos focos de Xylella fastidiosa na UE originou uma alteração da legislação comunitária, destacando-se o estabelecimento de uma lista de géneros e espécies hospedeiras identificadas como suscetiveis à bactéria. Alertam-se os fornecedores de MFR para a obrigatoriedade dos géneros e espécies indicadas nessa lista, seja qual for a origem das plantas (produzidas na UE ou importadas de país terceiro), circularem com passaporte fitossanitário exceto se a sua aquisição não tiver fins profissionais.

Gorgulho-do-eucalipto: Seminário Realiza-se dia 17 de março em Santa Cruz da Trapa o seminário sobre o gorgulho-do-eucalipto, promovido pelo ICNF, I.P., DGAV, INIAV, I.P., CELPA e Câmara Municipal de S. Pedro do Sul.

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esta praga, também conhecida como morte-súbita-dos-carvalhos, enquadradas nos programas de prospeção nacionais coordenados pela DGAV. Em 2014, foi reforçada a recolha de informação sobre Phytophthora spp. com o estabelecimento de um protocolo entre o ICNF, I.P. e a Universidade do Algarve (UAlg), para a realização de uma pesquisa a nível nacional de Phytophthora spp., tanto em ecossistemas como em viveiros florestais, enquadrada com os objetivos do projeto RESIPATH – “Respostas das Florestas e Sociedades Europeias a Espécies Invasoras Patogénicas”. Além de melhorar o conhecimento sobre a presença de Phytophthora spp. em Portugal, pretende-se divulgar informação sobre medidas de prevenção e controlo e elaborar um manual de boas práticas fitossanitárias associado a estes agentes bióticos nocivos. De acordo com o último relatório (janeiro de 2016) elaborado pela UAlg, foram recolhidas 452 amostras (386 de solo, 12 de casca e 54 armadilhas em linhas de água) tendo a presença de Phytophthora spp sido confirmada na maior parte dos locais amostrados. Encontra-se a decorrer a identificação dos isolamentos no sentido de determinar as espécies de Phytophthora presentes nos diferentes locais: até agora já foram identificadas 30 espécies de Phytophthora (incluindo 8 espécies novas). Local

N.º locais amostrados

N.º isolamentos de Phytophthora spp

Floresta

62

717

Viveiros

13

177

Linhas de água

42

1056

110 (7 são comuns a 2 categorias)

1950

Total

Prevenção e controlo

(Project - RESIPATH— Respostas das Florestas e Sociedades Europeias a Espécies Invasoras Patogénicas BIODIVERSA/0002/2012 Relatório de progresso janeiro 2016)

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Phytophthora spp: recolha de amostras Tendo em consideração que os sintomas associados a Phytophthora spp são comuns a diferentes pragas, a aplicação das medidas de prevenção e controlo mais adequadas na luta contra estes agentes bióticos nocivos depende da sua identificação, sendo para esse efeito necessário recorrer à recolha de amostras para posterior análise laboratorial. Os métodos de recolha de amostras são diferentes consoante o tipo de material a ser testado, devendo existir sempre uma identificação do local onde são recolhidas as amostras (fotografias e/ou coordenadas geográficas). Devem amostrar-se as árvores/plantas que apresentem sintomas associados à presença de Phytophthora spp. Material Vegetal - Cancros no tronco: recolher a amostra na periferia do cancro, retirando a casca até se observar a transição entre os tecidos sãos e os necrosados. Retirar da zona de transição pedaços de floema e xilema. Colocar o material em água destilada (ou engarrafada) e durante os 2 dias seguintes mudar a água 4 vezes por dia (de modo a reduzir o excesso de polifenóis). - Ramos: localizar no ramo a zona de transição entre os tecidos sãos e doentes. Cortar um pedaço do ramo de modo a incluir a zona de transição, com cerca de 15 cm de comprimento, e 7,5 cm de cada lado da zona de transição. Envolver os ramos em papel humedecido e colocar em saco de plástico bem fechado.

ATENÇÃO!  Todas as amostras devem ser enviadas rapidamente para um laboratório oficialmente reconhecido.

 Conservar as amostras em local fresco até ao seu envio para laboratório (material vegetal mantido a 10 – 15 ºC; amostras de solo mantidas abaixo de 20ºC).

- Folhas: recolher 4 a 6 folhas por planta (com diferentes graus de evolução dos sintomas, desde as lesões mais recentes às mais antigas). Envolver as folhas em papel humedecido e colocar em saco de plástico bem fechado.

Diplomas legais recentes +

Decisão de Execução (UE) 2015/2417 da Comissão, de 17 de dezembro , altera a Decisão de Execução (UE) 2015/789 no que se refere às medidas para impedir a introdução e a propagação na União de Xylella fastidiosa (Wells et al.)

+

Decreto-Lei n.º 254/2015, de 30 de dezembro, prevê um regime especial e transitório de formação do aplicador de produtos fitofarmacêutico

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Solo

Recomendações

O solo deverá ser recolhido junto do sistema radicular da árvore, a uma distância de 30-150 cm da base do tronco e a uma profundidade de 10-30 cm. Recolher pelo menos 1 kg /2 L de solo. Colocar em saco de plástico bem fechado.

Até final de março

+

 Elimine da sua área florestal as

Plantas de viveiro Além de plantas que apresentem sinto- Recolha de amostras de solo mas, poderão ser amostradas plantas assintomáticas que se apresentem com menor desenvolvimento quando comparadas às plantas do mesmo lote. Poderão ser recolhidas amostras de material vegetal (da forma anteriormente descrita) e solo (conteúdo total do contentor). Água Poderá ser avaliado o estado fitossanitário de águas superficiais (por exemplo, águas de rios ou ribeiros usados para Armadilha flutuante regas). Devem colocar-se armadilhas flutuantes com folhas jovens de diferentes espécies, durante 3 a 5 dias. As armadilhas devem ser envolvidas em papel humedecido e colocadas em saco de plástico bem fechado.

resinosas tombadas, ardidas, afogueadas ou que apresentem a copa seca ou a secar assim como os sobrantes da exploração. Este procedimento é obrigatório em todo o país

 Planeie as suas operações de exploração florestal e comercialização de produtos e subprodutos de resinosas atempadamente, tendo em atenção as alterações à circulação e armazenamento de material lenhoso que têm lugar a partir de abril.

 Elimine, preferencialmente, as Investigação

Pesquisa de Phytophthora spp.

+

RESIPATH – “Respostas das Florestas e Sociedades Europeias a Espécies Invasoras Patogénicas” (BIODIVERSA/0002/2012) Este projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, conta com a participação de 14 parceiros oriundos de dez países. A equipa portuguesa, dirigida pelo Prof. Alfredo Cravador da UAlg, integra também o Dr. Thomas Jung que lidera a linha europeia de trabalho 4 “Deteção e alerta precoce de agentes patogénicos fúngicos e oomicetas”, a qual visa desenvolver uma pesquisa de Phytophthora spp., agentes responsáveis por alguns dos mais devastadores problemas fitossanitários que afetam espécies lenhosas e ecossistemas naturais, essencialmente disseminados e instalados por via da utilização de materiais florestais de reprodução oriundos de viveiros infetados por estes agentes bióticos nocivos. Este estudo contribuirá não só para aumentar os conhecimentos em biologia e ecologia de Phytophthora spp., fornecendo indicações sobre como e onde aplicar metodologias para o seu controlo, como também para a conservação dos ecossistemas e para o aumento dos seus rendimentos e sustentabilidade. Objetivo: Estudar de que forma as florestas europeias são afetadas e como respondem a agentes patogénicos invasores, bem como desenvolver meios para mitigar o seu impacto. Participação nacional: Universidade do Algarve - grupo de investigação do Laboratório de Biotecnologia Molecular e Fitopatologia. Situação: em execução até 31 de dezembro de 2016.

árvores doentes, enfraquecidas ou mortas durante a execução das faixas de gestão de vegetação, à volta da sua edificação ou de outras infraestruturas, para prevenção dos incêndios florestais legalmente prevista pelo Decreto-Lei n.º 17/2009, de 14 de janeiro.

Até final de maio

+

 Para controlo da processionáriado-pinheiro pode aplicar cintas em volta dos troncos das árvores, embebidas em cola à base de poli-isolbutadieno e/ou proceder à recolha manual e queima das lagartas encontradas no solo (cuidado com os pelos urticantes). Pode ainda mobilizar o solo, nos locais onde se suspeita ter ocorrido o enterramento das lagartas, para destruição das pupas.

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Aconteceu

Decorreu no dia 01 de outubro, na Câmara Municipal de Alcácer do Sal, a assinatura do protocolo "Avaliação de danos e medidas de controlo do sugador das pinhas Leptoglossus occidentalis", estabelecido entre INIAV, I.P., ICNF, I.P., DGAV, ISA, Município de Alcácer do Sal, UNAV e Cecílio, S.A., com o objetivo de constituir um grupo de trabalho para avaliar, em termos nacionais, a perda de produção e de rendimento do pinhão e identificar os principais agentes causadores, bem como a apresentar proposta de medidas práticas, exequíveis e mais adequadas ao controlo deste inseto.

Cancro-resinoso-dopinheiro: Ação COST FP1406 + O ICNF I.P. participou os dias 25 e 26 de novembro, em SantanderEspanha, na reunião do projeto COST FP1406 Pine pitch canker strategies for management of Gibberella circinata in greenhouses and forests, onde foi apresentado o estado e evolução deste fungo nos diversos países participantes, com destaque para a sua biologia, comportamento, prevenção e controlo. Realizou-se ainda uma visita a uma área florestal de Pinus radiata, infetada com este agente biótico nocivo, para observação dos sintomas in loco.

Gorgulho-do-eucalipto: Manual de boas práticas No último trimestre de 2015 foi aprovado e divulgado o Manual de boas práticas: gorgulho-doeucalipto, elaborado pelo ICNF, I.P., em colaboração com DGAV, INIAV, I.P. e CELPA. Este manual destinado a técnicos e proprietários, fornece informação sobre a identificação desta praga, respetivo ciclo biológico, meios de luta, recuperação das zonas mais afetadas e ainda sobre as regras e procedimentos relativos à aplicação de produtos fitofarmacêuticos.

Coordenação Divisão de Fitossanidade Florestal e Arvoredo Protegido Conteúdo Dina Ribeiro, Helena Marques, José Rodrigues, Sofia Domingues, Suzel Marques e Telma Ferreira. Design gráfico e criatividade Inês Vasco

NMP: Última reunião da Task Force Após um ano de vigência, decorreu nos dias 19 e 20 de outubro, em Bruxelas, a sexta e última reunião da Task Force. Esta reunião teve como objetivo efetuar o balanço das atividades desenvolvidas por Portugal e Espanha, com particular atenção para a revisão das recomendações efetuadas pela Task Force para o controlo do NMP em Portugal e Espanha.

Agenda Portuguesa de Investigação e Inovação no sobreiro e na cortiça: Agenda 3i9 + A equipa de Coordenação do Centro de Competências do Sobreiro e da Cortiça (CCSC) apresentou publicamente no dia 5 de novembro, na CAP, a Agenda 3i9. A Agenda 3i9 surgiu na sequência dum processo participativo de auscultação dos parceiros do CCSC, que envolveu 81 investigadores e técnicos de 27 entidades. Foram identificadas 5 ações de suporte facilitadoras e ações de investigação prioritárias, que integram as linhas estruturantes de cinco planos funcionais:, um dos quais é o “Plano Nacional de Defesa contra Agentes Bióticos”. A Agenda 3i9 pode ser consultada no site do INIAV , I.P., da FILCORK e da UNAC .

Folheto da década de 80.

Sugador-das-pinhas: Protocolo para avaliação de danos e medidas de controlo

Ficha técnica

Contactos Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, IP | Departamento de Gestão de Áreas Classificadas Públicas e de Proteção | Divisão de Fitossanidade Florestal e Arvoredo Protegido Avenida da República, 16 - 1050-191 Lisboa | tel. 213 507 900 | www.icnf.pt Para receber o nosso boletim informativo ou propor sugestões, envie um email para dpfvap@icnf.pt

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