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preocupam região às portas da vindima

este ano deve registar-se uma queda porque aumenta a produção. Vai ser um ano de abundância na altura em que as vendas estão a cair”.

Com menos benefício e o preço das uvas a ser revisto em baixa, a preocupação é muita entre os viticultores que, por outro lado, vêm também os custos do seu trabalho aumentarem.

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"A tal notícia da ADVID veio-nos dizer que vamos ter mais produção, esses senhores vêm dizer que não precisam de tantas uvas, portanto vão poder comprá-las mais baratas.

A ADVID não pode vir lançar esta carta para a mesa a dias do Interprofissional, vem desvirtuar o processo negocial porque quem compra fica logo numa posição confortável, se há mais produto logo o preço baixa, isto é a lógica do mercado.

Um ano que foi difícil, com granizo e doenças, chegamos a julho e o presidente da instituição que nos audita aceita uma medida que nos tira 11% daquilo que andamos a gastar durante o ano. Esta é a atual realidade da região.

Para quem não tem uma gestão rigorosa, está colocado à face do abismo. O granjeio de 2024 vai ser muito difícil para toda a região, mas vamos continuar a ter estes senhores, sentados no ar condicionado que no inverno aquece e no verão arrefece, que tomam uma decisão destas a 15 dias da vindima", afirma Rufino Pereira.

O produtor questiona ainda o timing para a apresentação do quantitativo de vindima alegando que sobra pouco tempo para uma negociação séria entre quem vende e quem compra a uva, ficando o último beneficiado face às circunstâncias.

"Se o ano fiscal acaba a 31 de dezembro, porque é que esta decisão não é tomada no 1º trimestre ou, no máximo, até ao final de abril, porquê? Será do interesse de todos que o produtor não tenha tempo para encontrar outras soluções? Possivelmente é. O objetivo é que os produtores continuem a respirar por uma palha que é para nos terem sempre na mão".

Para Rufino Pereira a sua vantagem é a aposta em ou- tras áreas de negócio dentro da quinta, como a vinificação dos próprios vinhos e o turismo, que vão ajudando a gerir todo o processo, bem como os acordos já estabelecidos que mantêm os preços da última vindima.

"Ao longo deste tempo fui investindo em mais áreas de negócio na quinta, com a vinificação a partir de 2015 e mais recente a aposta no turismo. Ter a capacidade de vinificar dá-me algum conforto e elasticidade para negociar as uvas de outra forma, se não as vender ao preço que pretendo consigo transformá-las aqui.

Tenho uma parceria, selada com um aperto de mão, com uma quinta aqui próxima que ficam com os brancos que vinifico mas não quero engarrafar, e uma outra a quem forneço uvas tintas para fazerem os rosés.

Felizmente estas duas casas têm um comportamento exemplar e vão manter os preços do ano passado. Se não o fizessem a minha quebra não seria apenas de 10 mil euros".

Preocupação é também a palavra que define o estado de espírito de Rui Paredes, sendo que o benefício poderia até ter baixado mais, o responsável da produção no CI defende que os preços deveriam seguir o sentido oposto e aumentar, algo que está muito longe da realidade.

"A reunião do CI deste ano foi muito desgastante para todos. Havia três propostas em cima da mesa, a redução do benefício, conjugada com uma proposta de redução da produtividade e outra de alterações das letras. Três momentos em que houve necessidade de uma negociação difícil, que no final acaba sempre a prejudicar os pequenos viticultores, ou seja aquele que efetivamente devemos defender.

A discussão do benefício para este ano partiu das 98 mil pipas, o objetivo era bastante mais baixo. Entendemos que o momento é de queda acentuada nas vendas de vinho e isso obriga-nos a ser todos mais conscientes. Contudo a realidade é que este também não era o momento de baixar das 116 para as 98, a não ser que houvesse uma compensação.

Não podemos dizer ao viticultor que vai ter menos benefício e vai receber menos pelas suas uvas, o trabalho destas pessoas tem que ser valorizado.

Já há muito tempo que a reunião não terminava sem um acordo entre as partes, mas este ano revelou-se impossível. O quantitativo até poderia baixar mais, mas o preço por pipa também teria que aumentar significativamente. Este foi um ano em que foram necessários fazer muitos tratamentos com produtos cada vez mais caros, tal como acontece com a mão de obra. Os custos aumentaram exponencialmente".

Para Rui Paredes uma das soluções para este problema seria a implementação do designado Contrato de Vindima, "um documento com três cópias, feito entre duas partes, o vendedor e o comprador. Nesse contrato ficaria explícito o preço a que as uvas seriam compradas e depois de assinado por ambos cada um ficaria com a sua cópia e a terceira era entregue no IVDP, como garante que seria cumprido.

Esta questão não passou porque da parte do comércio há o entendimento que isto resultaria numa cartelização de preços. Isto não faz nenhum sentido, se temos uma obra em casa também vamos pedir um orçamento e mediante o seu valor fazemos ou não. Contrario, seria o que ia acontecer aqui. Vamos continuar a lutar por isto, era algo que poderia credibilizar a relação entre as partes".

Com as mesmas ou mais uvas, a um menor preço, a vindima deste ano promete algum desconforto na região na relação entre quem vende e quem compra.

A colheita declarada em 2022, na Região Demarcada do Douro, foi de cerca de 233 mil pipas de vinho, uma quebra de 12% comparativamente com o ano anterior e inferior à inicialmente prevista que rondava os 20%.○

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