Mariana
Grupo
1ª
Copyright desta edição © 2021 by Grupo Editorial Quimera
Editor Responsável
Marianna Roman
Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e não emitem opinião sobre eles.
Dados Internacionais de Catalogação da Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, RJ, Brasil)
T266 TEIXEIRA, Mariana
Duologia Império de Cinzas – Livro II – O trono de prata / Mariana Teixeira. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Grupo Editorial Quimera, 2021.
ISBN 978-65-994685-1-3
1. Ficção Brasileira 1. Título
17-09128
Índice para catálogo sistemático
CDD-869.3
1. Ficção: Literatura Brasileira 869.3
[2021]
Todos os direitos desta edição reservados ao
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Plágio é crime.
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Ao grupo de amigos mais surtados do mundo, Bia, Jenny, Giu e Bruno, por sempre aguentarem as minhas loucuras e terem me ajudado a acreditar nos sonhos que se tornam realidade.
DEVO COMEÇAR COM um "era uma vez" agora?
Acredito que a história que continuarei contando ainda não é sinônimo de um conto de fadas, sinto em te decepcionar. Portanto, dispensarei os clichês que tanto amo agora.
A cada dia que sento em frente a essas folhas, sinto-me diferente. Sinto que estou deixando um pouco de mim aqui. Você está recebendo uma parcela de mim, sinta-se privilegiado.
O processo de escrita não se torna mais fácil com o tempo, sinto em lhe dizer. É uma montanharussa de sensações. Cada lembrança vem acompanhada de um sentimento bom ou de um sentimento ruim.
Há coisas que não quero lembrar, sinto calafrios só de pensar que terei que descrever tais sensações. Mas devo a você isso tudo. Prometi que lhe contaria a minha história. Sei que tudo isso pode estar demorando demais, mas eu prometo, tem um fim.
Comecei a escrever a minha história poucos meses depois de encontrar a carta de meu pai e, de certa forma, revolucionar. Agora, já faz alguns anos que não sento em frente a uma escrivaninha e escrevo sobre o que passei.
Muita coisa aconteceu até aqui, muitos anos depois da primeira vez que escrevi sobre mim. A Natasha que escreveu suas emoções não é a mesma que se encontra aqui, nesse momento, retornando a escrever.
Peço perdão por ter demorado tanto a refletir sobre minhas memórias. Mas há dores que passei que não gostaria de sentir novamente.
Mas eu lhe devo a minha história. Se ela é uma história feliz? Deixo você descobrir e opinar por conta própria.
Preciso contar a vocês meus momentos de fraqueza. Minhas derrotas. Tudo o que passei por ansiar sentar novamente no trono da Rússia como soberana.
Como única soberana.
Mas é claro que não passei apenas por momentos de tristezas nesse tempo que passou. Há momentos tão incríveis que quero descrever cada cheiro, cada cor, cada pequeno gesto e mesmo descrevendo tudo não parecerá ser o suficiente.
Há histórias que merecem ser detalhadamente contadas.
Será que você aprendeu a confiar cegamente nas pessoas que lhes apresentei? Será que você prestou atenção em tudo o que lhe contei?
Essa não é apenas uma história sobre pessoas boas e um vilão tirano. Há muito mais a ser descoberto. E aprendi, da pior maneira, o preço de confiar em quem não se verdadeiramente conhece.
Aliás, falando no tirano, essa história recomeça naquele momento de felicidade do meu quase casamento, você se lembra?
Lembra-se de quando Dimitri foi derrotado naquele salão? Era uma realidade que nunca poderia ser mudada. Eu nunca me cansarei de relembrar-me desse momento único. É uma vitória que sempre irei guardar na memória
O fato é, eu comecei uma Revolução naquele dia. Dimitri não poderia contê-la. A Rússia levantouse. E não cairia até se ver livre. Pois ninguém me derrubaria até eu vê-la em liberdade.
Eu era a Czarina, a única a quem deviam respeito. Não havia Parlamentos. Não havia Ministros.
Eu havia, sem perceber, mudado um pedaço do mundo naquela tarde do meu quase casamento.
Não há paz sem ter tido guerra. Mas há guerras sem paz, sem fim, sem saída. Apenas nós podemos decidir se haverá um ponto final. Afinal, somos responsáveis por aquilo que criamos.
ANUNCIAR O FIM do Parlamento na frente de todos os ministros e de boa parte de uma colônia? Se eu te disser que não foi nem um pouco apavorante, eu estaria faltando com a verdade.
Mas eu estava confiante, já que havia estudado muito para não deixar nenhum detalhe escapar. Sei que vocês devem estar se perguntando o que eu pretendia fazer com a Rússia e toda essa história de me tornar czarina e criar um império tão de repente parece um pouco de loucura, eu sei.
Mas eu terei o prazer de explicar isso tudo, assim como expliquei tudo aos ministros na primeira oportunidade que tive, naquela mesma festa da coroação de Elissa. Devo mencionar que eles me cercaram como abelhas cercam um pote de doce
O fato é, a Rússia não seria mais uma Monarquia Parlamentarista. Não mudaria muita coisa além do rompimento com o Parlamento, porque ainda precisava de informantes em todos os lugares. Ainda não podia me dividir em várias e estar em toda a Rússia ao mesmo tempo, embora esse fosse o meu desejo.
Os ministros apenas diminuiriam sua influência e trocariam de título. Passariam a exercer a função de Chefe de Província, em cada colônia do reino. Teríamos ainda reuniões para me manter informada sobre tudo, mas a última palavra de todas as decisões seria minha.
Eu me tornaria mais do que apenas a figura de uma rainha. Não deixaria ninguém destruir nossa história.
Naquela coroação de Elissa, também recebi um presente. Pude ver meu povo apoiar as minhas decisões e ver quem eu realmente era.
Eles me prestaram uma reverência, ajoelhando-se no chão, como muitas outras que havia recebido em minha vida de rainha. Mas aquela reverência ali nunca seria esquecida por mim.
Ela era uma aceitação.
E, da mesma forma, meus joelhos encontraram o chão em sinal de respeito. Eu os amava, tudo aquilo era por eles.
Iria até o fim por eles, por que são o motivo de eu estar aqui, até hoje, escrevendo essa história. A Rússia é feita de seu povo. E, cada vez mais, essa realidade tomava forma em minha mente.
Não há súditos sem rei? Não, eu vou muito mais além. Não há uma rainha sem seu povo. E eu lutaria pelo meu.
Muitas coisas aconteceram naquela festa de coroação. Muitas ficaram na minha mente e outras eu já esqueci ou não lembro com perfeição.
Mas há coisas tão nítidas em minha mente que até parecem que aconteceram ontem. Mas já foram há anos atrás e, até hoje, as consequências das minhas escolhas sobrevivem e fazem parte da história da Rússia. Porque eu fui responsável por tudo de ruim e de bom que aconteceu no meu império depois disso tudo.
E isso já me assustou muito. A quem quero enganar, isso ainda me assusta muito.
Uma rainha tem que cuidar de todos os seus súditos. E uma czarina tem a mesma função. Mas foi quando virei uma imperatriz que eu finalmente pude sentir o peso da minha coroa.
Foi quando eu pude, finalmente, entender o significado de governar. E eu pude ver que era feita para isso, pela primeira vez em anos.
A festa que comemoraria o meu casamento foi totalmente esquecida pelas pessoas. Todos comemoravam o começo da derrota de Dimitri. O ódio por ele era algo unânime.
Ele só conseguiria aliados se não contasse tudo o que ele fazia para tentar se promover.
Pude finalmente conversar com algumas pessoas da colônia sobre os mais variados assuntos e conhecer ainda mais o meu povo.
Todas as pessoas eram simpáticas e muitas crianças vinham conversar comigo também. Eu ficava encantada com a simplicidade delas e elas ficavam curiosas com a cor do meu cabelo e também com a minha Coroa tão chamativa.
Muitas pessoas me desejavam boa sorte e todas me trataram com muito carinho, um carinho que muitas vezes pensei não ser digna.
Eu ainda estava usando o meu vestido branco, mas não me importava. Algumas pessoas me cumprimentavam e não deixavam de salientar o quanto eu estava bela. Eu devolvia as reverências e sorria. Era muito bom saber o quanto aquelas pessoas me queriam bem.
É claro que havia pessoas que não gostavam do meu governo. Havia pessoas como os republicanos e que provavelmente nem pisaram naquele salão. Mas havia pessoas que só queriam que eu os governasse de verdade. E eu admirava meu povo na mesma intensidade que eles me amavam.
Falei também com alguns dos ex-ministros. Nenhum deles me criticou pela minha decisão, embora alguns não parecessem muito felizes com tudo aquilo.
Mas foi com Yuri que conversei mais naquele tempo. Ele era o mais indignado com o governo de Dimitri. Mas naqueles três anos que se passaram ele se sentia ameaçado demais para falar a verdade, assim como os outros.
Sentia isso em suas reuniões, ele foi o primeiro a tentar contar o que estava acontecendo fora daquele castelo e o primeiro votar a favor da minha lei contra a escravidão. Se tivesse que confiar em alguém, seria nele.
Mas há quanto tempo a situação tornou-se trágica dessa maneira? eu perguntei, enquanto caminhávamos pelo salão.
Quando a senhora veio para Pervyy, ele permaneceu em Moscou, como deveria, já que aceitou ser regida por um Parlamento.
E eu não deveria ter feito isso, não é? É algo que fico refletindo quase todos os dias eu disse, não o encarando nos olhos.
Não, a senhora não deveria. Mas como poderia adivinhar que isso tudo aconteceria depois? Seus pais morreram quando a senhorita não tinha ainda recebido toda a instrução para governar. E
Dimitri se aproveitou disso. Seis meses depois, ele já se sentia o rei do castelo de Moscou e todos os criados de lá tinham medo dele. Ninguém o suportava.
Então a denúncia de escravidão é verídica realmente? Um dos guardas me disse que Dimitri havia confessado para ele que fazia parte do comércio e tráfico de pessoas e que possuía muito escravos lá eu perguntei.
Provavelmente sim, nunca estive muito tempo em Moscou e no castelo. Mas ele não deve ter parado o negócio depois de a lei ter sido aprovada. Ele é um verdadeiro criminoso, não duvido de mais nada.
Ele é. Desde a época do meu pai estava tentando derrubá-lo do poder, não importava como. Ele queria colocar a Coroa na cabeça dele. Mas ele não era digno disso tudo, nunca conseguiria burlar a Coroa.
A senhora é a verdadeira soberana, todos sabem disso ele disse. Ninguém sabia como a Rainha Natasha Sofia de Korona era e nem poderiam saber. Não quando Dimitri conseguiu te deixar presa aqui. Eles precisam de uma rainha e agora poderão ver como é realmente ser governado por uma.
Uma czarina. Eles precisam de uma czarina eu corrigi e ele sorriu.
Exato, uma czarina ele disse e eu sorri. Sabe que a luta contra ele apenas começou, certo? Há muita coisa pela frente que a senhora precisa enfrentar.
Eu tenho conhecimento disso. Mas eu irei derrotá-lo. Honrarei meus pais e honrarei meu povo. É uma promessa que eu fiz a mim mesma e que irei renovar todos os dias.
Não há ninguém no mundo melhor do que a senhora para nos governar e ninguém no mundo tão forte e capaz de derrotá-lo. E é por isso que essa Coroa lhe cai tão bem, majestade.
Agradeço, Yuri. Quando eu conseguir sair de Pervyy, quero conversar um pouco mais com você. E os ministros, como estão lidando com essa situação?
Há sempre aqueles que não iriam lhe apoiar, existem pessoas assim em todos os lugares. Mas a maioria não suportava mais Dimitri. As ordens que ele nos dava eram absurdas, todos estão insatisfeitos com as suas ações. Mas eu posso, se a senhora me permitir, verificar se alguém pode estar conspirando ou algo do tipo. E assim poderemos verificar quem deve ser retirado da chefia das colônias. Acho que assim seria melhor.
Eu realmente espero que não tenha mais pessoas conspirando contra mim dentro do governo novamente, seria mais um problema para eu lidar. Não queremos mais um Dimitri eu disse. Mas, se tiverem, poderia me indicar pessoas para assumir os lugares deles como Chefes de Província?
É claro, ajudarei em tudo o que vossa majestade precisar eu sorri.
Obrigada por me apoiar, Yuri. Mas agora, aproveite a festa. No futuro, ainda teremos muito o que conversar.
Ele sorriu, prestou-me uma reverência e voltou para perto dos outros ministros. Eu respirei fundo e voltei a caminhar pelo salão.
Havia conseguido um aliado para minha luta e, quem sabe, um conselheiro no futuro. Tudo estava começando a se encaixar. E eu podia sonhar com a Rússia verdadeiramente livre.
Infelizmente, eu não tinha ideia das coisas pelas quais eu iria passar para conquistar esse sonho.
Pervyy, fim de 2863
Sentei-me e conversei com Nikolai muitas vezes depois daquele dia.
Ele era o único que poderia me explicar toda aquela história, o único que poderia entender os motivos pelos quais meus pais abriram mão de viver com sua filha.
Creio que as senhoritas descobriram da pior maneira a história toda. Eu tenho certeza que eles desejaram todos os dias, após Elissa nascer, que o dia em que poderiam apresentar vocês duas devidamente chegasse logo Nikolai me disse.
É algo que eu não consigo ainda acreditar. Ela é minha irmã. Por mais que eu dissesse isso todos os dias, que ela exercia esse papel por mim, ela é realmente minha família. É estranho, isso tudo. Achei que nunca mais teria alguém da família assim, de volta.
Nadeja ficou tão feliz quando descobriu a gravidez e seu pai ficou radiante. Todos os dias ela ia ao jardim conversar comigo sobre os seus planos ele sorriu com a lembrança e senti lágrimas em meus olhos. Sentia tanta saudade deles. Ela às vezes levava você e dizia para você o quanto seria maravilhoso ter uma irmãzinha.
E eu, o que achava? perguntei, enxugando algumas lágrimas.
Você era a mais animada. Perguntava todos os dias quando Elissa chegaria. Às vezes, você ia indignada para o jardim reclamar de toda aquela demora nós rimos.
Eu não me lembro de nada, não tenho nenhuma lembrança da mamãe grávida ou da nossa vinda para Pervyy. Tentei vasculhar na minha memória, mas não tenho nenhum resquício delas eu disse, encarando Nikolai.
Você era muito pequena, não tinha nem três anos ainda quando Elissa nasceu. E creio também que você bloqueou as lembranças em sua mente, afinal, eu imagino como tudo foi muito triste e traumático. Os reis retornaram do palácio de férias sem sua irmã e comunicaram ao povo que ela havia morrido no parto. Foi um momento de luto em todo o reino.
E eu simplesmente me esqueci de que teria uma irmã?
Você perguntou muitas vezes a Rainha Nadeja onde ela estava. Isso doía mais nela do que em qualquer outra pessoa. Aos poucos, você cresceu e a memória se apagou.
Deve ter sido horrível para mamãe e papai ter que dizer que a sua filha estava morta, mesmo sabendo que isso salvaria a sua vida.
O povo ficou tão triste, estavam animados com o nascimento do novo herdeiro. Mas essa história toda virou quase um segredo. Ninguém nunca mais mencionou nada e você nunca perguntou sobre. Todos assumiram que você não se lembrava de nada e, talvez, fosse melhor dessa forma. O assunto tornou-se quase um segredo em todo o reino.
Não sei se foi melhor assim dei um longo suspiro. Parece que tem toda uma parte da minha vida roubada de mim. Mas sei que muito mais foi roubado de Elissa.
Encaramos os jardins em nossa frente e tentei pensar sobre tudo. Haveria ainda outros segredos envolvendo a monarquia russa? Eu não saberia dizer.
Mas de uma coisa tinha certeza: eu amava a ideia de ter Elissa em minha família.
Ela é minha irmã eu disse, quebrando o silêncio. Não poderia escolher alguém melhor para ser.
Elissa é luz. Leva essa alegria dela para todos os lugares. É a melhor irmã que você poderia ter.
Eu sorri abertamente. Ele sempre tinha razão.
Eu concordo, Nikolai. Elissa é a luz que faltava em minha vida.
Pervyy, Outubro de 2863
Uma das coisas que eu mais me lembro da festa é de Elissa e Iago. Eles passaram todo o tempo possível ao lado um do outro, de modo que eu tive que roubar minha irmã do príncipe franco para poder falar com ela.
Eu sabia que eles tinham muitas coisas para conversar e que quase nunca podiam falar um com o outro. Não com o nosso compromisso eminente. Não fazia ideia se eles já haviam conversado sobre os seus sentimentos algum dia antes de nosso casamento.
Mas coisas do coração são complicadas mesmo.
Mas o fato é, eu tive que roubá-la, precisava conversar um pouco com ela. Joguei uma responsabilidade enorme em suas mãos, tinha que, pelo menos, tentar explicar um pouco as coisas.
O senhor permite que eu roube um pouquinho do tempo dessa princesa aqui? eu perguntei para Iago.
Não precisaria pedir, majestade, desculpe sequestrar sua irmã da festa ele disse com um sorriso culpado. Natasha, obrigado, que bom que descobriu um jeito de acabar com o nosso compromisso. Mas na próxima vez me avise antes de fazer as coisas. Não me leve a mal, mas pensei que iríamos nos casar de fato.
Eu sinceramente espero que não haja uma próxima vez. Mas eu lhe compreendo, você pensou que iria ficar preso a mim para sempre. Concordo, é assustador nós rimos e Elissa encarou meus olhos. Se algo desse errado, eu colocaria vocês em risco. E não poderia fazer isso.
Você é uma verdadeira rainha, Natasha, espero ser como você um dia o príncipe me disse seriamente.
Czarina. Mas você irá se acostumar com o novo título, não se preocupe ele sorriu e prestoume uma reverência. Vi Filipe aproximar-se e eu sorri. Príncipe Iago, encontrei uma companhia para o senhor. Roubarei Elissa por um instante, mas já retornaremos.
Ele nos prestou uma reverência e lancei um sorriso para Filipe antes de Elissa e eu sairmos um pouco de toda aquela bagunça que se instalou. Nós riamos enquanto fugíamos e desviávamos de alguns convidados que já haviam conversado comigo.
Ela me acompanhou até o jardim, onde nos sentamos no banco uma do lado da outra com meu vestido branco e volumoso ocupando quase todo o espaço.
Elissa encarou o chafariz e ficamos em silêncio por um tempo. Vi em suas mãos o livro do meu pai. Sorri. Parecia que ela estava agarrada a sua única certeza naquele momento.
Eu sei que está tudo uma bagunça, sei que você está confusa e pode estar chateada comigo. Eu também não sei direito o que está acontecendo eu falei. Talvez você pense que utilizei essa informação e que usei você para resolver o meu casamento com Iago, mas juro que estava pensando em você também. No seu bem, no nosso bem.
Natasha ela disse e colocou sua mão sobre a minha, encarando meus olhos com um mínimo sorriso. Acalme-se, está tudo bem. Eu sei que você ama Filipe mais do que ninguém nesse mundo e sei que lutaria por ele com todas as suas forças, até o fim. Você também sabe o quanto eu gosto de Iago, embora eu ainda tenha medo desse sentimento. Mas a última coisa que eu iria pensar é em você me usando para alguma coisa. Confio em você mais do que em qualquer outra pessoa nesse mundo.
Elissa, você é a pessoa mais sábia e mais extraordinária que eu já conheci. Eu sentia, quando estava ao seu lado, uma conexão. Sentia que você era a minha irmã. E você é. Você é minha alma gêmea eu sorri.
Ela encarou meus olhos e me abraçou. Eu sabia que ela se sentia da mesma forma.
Você leu a carta? eu perguntei.
Não tive coragem de abrir o livro ainda.
Ela disse e encarou a capa do livro de papai. Sabia o quanto ela estava confusa. Era muita informação para assimilar ao mesmo tempo.
Eu sei que eles eram meus pais, mas ainda não consigo entender, não consigo enxergar isso tudo. É tudo tão complicado.
Leia e tenho certeza que algumas coisas serão esclarecidas. E, se não forem, estarei aqui para responder o que eu puder e o que eu souber eu disse e coloquei minhas mãos sobre as suas. Irá descobrir que somos muito mais parecidas do que parece, cada vez mais consigo enxergar. Não na aparência, mas em quem somos. E acredite, enxergo eles quando vejo você agora. Você é tão bonita como a mamãe e o papai foram, não só por fora, mas por dentro coloquei a mão no livro em nossa frente. E quando estiver pronta, converse comigo. Eu gostaria muito que nada se alterasse entre a gente, que continuássemos sendo as amigas que éramos antes.
E nada vai mudar. Você já era uma irmã para mim. Agora é apenas mais real e oficial ela disse e riu.
Beijei sua bochecha e me levantei, deixando-a sozinha com as palavras de meu pai.
E foi ali que ela entendeu tudo, palavra por palavra. Foi ali que ela soube que não poderia julgar seus pais por tudo aquilo. Que eles a amaram incondicionalmente e igualmente me amaram.
Mas também soube, naquele momento, que não perdeu sua mãe Raysa e não perdeu sua pequena irmã Paula. Ela só ampliou a família dela.
E ela se sentia mais amada. Nada é melhor que essa sensação.