A usurpadora de tronos - Léon Edson

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“Felizesparasempre”

APRESENTAÇÃO

PorJosuéDantas

Contos de fadas conseguem ser mágicos em todos os sentidos e em todas as realidades. Releituras dos clássicos são a prova de que tudo pode ser renovado e apreciado a partir de um novo ponto de vista.

Através da narrativa deste romance, o autor lança o leitor em uma fantasia com uma figura dos clássicos um tanto diferente. Conseguimos remover a pura delicadeza, fragilidade e inocência, e desfrutamos da coragem, ousadia e força da protagonista.

Entregue-se a essa nova experiência de braços abertos, olhos atentos e espada na mão. Aproveite a essência de cada palavra na escrita e cada efeito sensorial incrustado nas descrições. Talvez os finais não sejam tão felizes assim. A paz não está mais nas suas mãos. Então fuja das maçãs envenenadas e junte-se à Resistência!

Boa leitura!

N U V E N S N E G R A S

M UMA VASTA região, cheia de campos verdejantes, florestas e bosques encantados, rios de águas puras e brilhantes, com muitas cadeias de montanhas de picos pontiagudos acercados de nuvens e neblinas frias de um reino mágico, livre e feliz, o dia estava como muitos outros daquele verão agradável: ensolarado, fresco, bonito e tranquilo. Os tempos de paz parecendo que nunca iriam acabar.

Pelo menos era o que todos acreditavam.

Disputando com a acolhedora e aconchegante luz do sol, de repente, um enorme clarão fulgurou no horizonte enquanto ecoavam, o estrondo dos trovões e o som das rochas se chocando.

As testemunhas, espantadas, viram nascer altas e retorcidas como os dedos encarquilhados de um gigante esturricado, soterrado quilômetros abaixo do solo, tentando alcançar a superfície desesperadamente , novas montanhas. Tão unidas e entrelaçadas... uma floresta macabra de rochas cinzas e negras. As nuvens e a neblina ao redor tinham se adensado como as de uma tempestade. Mas ainda permitiam ver em sua glória, ainda que causasse o mesmo espanto e medo, o imponente castelo como nunca visto.

Materializara-se no topo do maior rochedo daquelas cordilheiras, ultrapassando a altura e o pico de todas elas, com suas incontáveis torres de telhados tão pontiagudos quanto os picos das montanhas ao redor. De sua base, na boca das gárgulas empedradas, jorravam as águas turvas que agora também se juntavam aos rios antes límpidos. De agora em diante não mais se via o fundo nem mesmo a vida dentro deles.

De agora em diante não mais havia cor; tudo era cinza.

Ainda sem acreditar no que acabara de surgir diante de seus olhares surpresos, todos os habitantes desavisados daquela região perceberam uma fumaça esquisita sair de uma rotunda altíssima na lateral do castelo por um óculo na sua cúpula ornamentada. A fumaça branca rodopiava no ar, formando imagens de rostos monstruosos em fúria, enquanto subia e se alastrava pelas nuvens no céu, ampliando-as magicamente.

Longe dos olhos amedrontados de quem ainda tentava entender os últimos acontecidos, no coração daquele tal castelo, estampadas com um emaranhado de desenhos, símbolos e linhas místicas formavam a trama completa de um amplo círculo mágico. Bem ali no seu entorno, uma bela mulher de longos cabelos pretos ondulados, pele clara e intensos olhos dissimulados, coberta por um distinto vestido medieval, andava cerimoniosa. Entoando palavras intraduzíveis enquanto lançava ingredientes retirados de uma sacola de veludo escuro num enorme caldeirão. Então, olhando para um conjunto de pedras brilhantes como cristais, saído do fundo da sacola, ela disse:

Prólogo
E

Desta matéria-prima serás feito. Do fogo encantado serás forjado. Arrancou um fio do cabelo e o deixou junto dos cristais na mão. Preenchido com fidelidade cega serás. Cansaço, fome, medo e frio não te afetarão. Terás a verdade escrita na testa e inflado com vida mágica viverás até que o contrário eu proclame e teu corpo pereça, retornando à matéria de que foste criado.

Ela atirou os cristais negros junto do fio de cabelo no líquido borbulhante no caldeirão. Então a fumaça subiu aos céus, transformando-se em nuvens e logo em tempestade. Cobrindo o azul, apagando a luz... o dia virou noite.

Na rotunda, a bela mulher abriu os braços para os lados, ergueu a cabeça para o óculo no teto e berrou para a tempestade que acabara de conjurar:

Caiam, caiam nesta terra frutífera! Ergam-se e se transformem! Façam o que peço! Conquistem quem eu quero! Despedacem quem eu mando!

Os pingos de chuva aparentemente eram granizo, mas iam se amontaoando em pequenos pontos brilhantes por onde caíam. Aquela, entenderam as testemunhas, não era apenas mais uma chuva de verão. E correram para buscar abrigo. Escondendo-se debaixo de pedras grandes, árvores, cavernas e em suas casas espalhadas pelo vilarejo local.

Em pé, protegida sob o teto de uma de suas torres, admirando seu feito e ouvindo o temor dos habitantes, a feiticeira gritou, gargalhando:

Surjam, golens de cristal! E que todos os meus inimigos conheçam o seu potente mal!

Não demorou para dos sólidos e brilhantes pingos de chuva, surgissem monstros de cristal enfeitiçado. Sedentos por morte e destruição. Tinham os troncos rechonchudos e uma grande cabeça redonda. A boca projetava duas presas ameaçadoras e todos tinham, entalhados nas testas, os mesmos símbolos estranhos.

Quando um raio prateado atravessou os céus sobre os gritos das bestas erguidas nos campos, a feiticeira ordenou o ataque. Espalhando o caos e assistindo ao desespero dos inocentes, incólume. Cada morador, estrangeiro e visitante naquelas frutíferas terras verdes foi atacado, humilhado e, aqueles que ofereceram resistência, assassinados.

Os dias de paz chegaram ao fim.

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