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Do cru ao cozido: conversar ao comer
do mar;319 e também os cadáveres de seus semelhantes. Quando comem algo cozido, é unicamente porque algum incêndio queimou as carcaças.
J Do cru ao cozido: conversar ao comer
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Ao que parece, foi na China, por volta de 550 mil anos antes da nossa era, que teve início a domesticação do fogo.17 Em Zhoukoudian, próximo de Pequim, foram descobertos vestígios de uma fogueira usada por aquele que chamamos de “o homem de Pequim”, um Homo erectus datando de 450 mil anos.
A domesticação do fogo constitui uma imensa transformação: os alimentos se tornam mais facilmente assimiláveis, o que permite aumentar ainda mais a quantidade de energia disponível para o cérebro101 e tornar comestíveis vegetais até então tóxicos. Também possibilita residir em regiões de clima mais frio, alimentar-se de uma culinária mais elaborada e eliminar germes e bactérias. Finalmente, isso torna possível a prolongação do dia, das reuniões noturnas em torno do fogo: a fogueira irá favorecer as conversas e a emergência da linguagem e dos mitos.
Pode-se pensar que, ao menos nesse momento, o homem começa a ritualizar sua relação com os alimentos, assim como sua relação com a morte. Ele deve rezar para os deuses lhe darem do que se alimentar e também para ser perdoado por ter sido obrigado a matar para comer. Alguns desses deuses comem entre si ou com os homens. Ele observa as estrelas para saber em que momento caçar, colher, viajar. Começa a compreender que a ingestão de certas plantas pode tratá-lo e curá-lo. Surgem rituais que dizem o que é autorizado comer e o que é proibido. Sem dúvida, a partir desse momento, os mais fortes, chefes de bandos e tribos, e os primeiros sacerdotes ou xamãs, fazem com que essas regras sejam respeitadas, garantem a alimentação de seus súditos e demonstram sua capacidade de esbanjar. É possível que os homens comam melhor do que as crianças e as mulheres, que geralmente ainda são separadas dos homens durante as refeições que elas preparam.