Radar Litoral | Caraguatatuba 160 anos

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50 anos da catástrofe <<

Inocente, o caminhoneiro que deu a volta por

cima e ajudou na reconstrução da cidade O caminhoneiro Inocente Antônio da Silva, de 81 anos, foi uma das muitas pessoas que viveram a tragédia de 1967. Ele residia na Rua Benedita Alves Cruz, no Bairro do Caputera. Naquela tarde de 18 de março, ele percebeu a água, ainda limpa, subindo rapidamente. Chamou sua esposa e seu sogro e pegou os três filhos – com idade entre quatro e sete anos – e os levou para o caminhão, que estava no quintal da casa. Mas o veículo “afogou” e pegou as três crianças e foi para um ponto alto da rua. Inocente lembra que a forte correnteza trazia troncos de árvores e alguns corpos por cima das madeiras.

“Em frente à minha casa, encontramos o corpo de um menino de aproximadamente 13 anos”. O caminhoneiro contou que sua casa ficou com um 1,40 metro de água e lama. “Levei 17 dias para limpar e recuperar a casa. Neste período, ficamos na casa do meu compadre Hamada. Tive de derrubar uma parede do banheiro para escoar a água e a lama”. O seu meio de vida, o caminhão, também ficou “enterrado” na lama. Ele teve de desmontá-lo e comprar um novo motor e adaptá-lo ao veículo. “Precisava trabalhar para ganhar dinheiro e alimentar a família”. Ainda trabalhou como braçal para o Exército na construção de pontes. O caminhoneiro disse que levou de três a quatro meses para voltar à vida normal e ressalta que a partir da tragédia, houve uma mudança radical, com diversas ruas abertas na cidade.Sobre o trauma da catástrofe, ele disse que são ce-

nas inesquecíveis, mas acredita que tem muita ajuda divina. “Antes da catástrofe, eu fazia uma ou duas viagens por semana de areia, terra ou pedra britada. Na reconstrução da cidade, foram de cinco a seis viagens semanais”. Além dele, afirmou que havia à época mais quatro caminhoneiros na cidade. Sobre Caraguatatuba, onde chegou em 1955 para trabalhar na Sociedade Imobiliária Vera Cruz, afirmou que não tem como não gostar. “A cidade representa tudo na minha vida”. Aposentado desde o início dos anos 2000, Inocente vive desde 1983 no sossego de duas chácaras no Bairro do Jaraguazinho, que somam mais de 35 mil m², onde se orgulha de ter plantado boa parte das árvores que têm no local.

Antes da catástrofe, eu fazia uma ou duas viagens por semana de areia, terra ou pedra britada. Na reconstrução da cidade, foram de cinco a seis viagens semanais”


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