MANUAL DO PROFESSOR | A GRANDE ILUSÃO

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LUIZ FERNANDO EMEDIATO A GRANDE ILUSAO

“Este livro me ensinou que, apesar de tudo, a vida vale a pena ser vivida.”

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MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR Por Maria Antonieta Antunes Cunha

SUMÁRIO

Carta aos Professores 3

1. Propostas de atividades 1 7

1.1. Introdução — Afinando algumas posições ...................................... 7 1.2. Criando motivos para ler a obra — A pré-leitura............................. 9 1.3. O mergulho nas crônicas — A primeira leitura ............................. 11 1.4. Outro mergulho — A segunda leitura da obra .............................. 12 1.5. Descortinando novos horizontes — A pós-leitura 14

2. Propostas de atividades 2 15

2.1. Introdução .................................................................................... 15 2.2. Criando motivos para ler a obra — A pré-leitura 16 2.3. A leitura ........................................................................................ 17 2.4. A segunda leitura 18 2.5. Indo além do livro — A pós-leitura ............................................... 19

3. Aprofundamento: A intertextualidade e as citações em A grande ilusão 21 3.1. O encontro de vozes em A grande ilusão ........................................ 21 3.2. As citações em A grande ilusão ....................................................... 23 3.3. Propostas de atividades investigativas ............................................ 24 3.4. Propostas de produção de textos .................................................... 24

4. Sugestões de referências complementares – Dialogando com outras vozes ........................................................... 26 5. Bibliografia comentada 30

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CARTA AOS PROFESSORES

Prezada Professora, Prezado Professor,

Certamente vocês já terão lido a edição especial da obra A grande ilusão, adquirida pelo MEC para os estudantes de Ensino Médio e que chega também ao professor de Língua Portuguesa e aos de outras disciplinas desse mesmo nível de sua Escola, convidados também eles a envolver-se com a exploração da literatura, ainda que com enfoques diferentes.

Esperamos que tenham lido também o texto que criamos para os alunos, como apoio a uma segunda leitura da obra, que farão com vocês, e no qual tratamos da caracterização do gênero crônica, da escolha do gênero e da temática, no conjunto da obra do jornalista e escritor Luiz Fernando Emediato, indicando ainda os aspectos mais importantes das composições do livro — crônicas inicialmente publicadas em O Estado de S. Paulo, na década de 1980, nas quais memória e esperança aparecem como temas predominantes.

Com relação à seleção dos textos para esta edição, gostaríamos de ressaltar que dois traços constantes das crônicas nos parecem elementos importantes para conquistar os leitores do Ensino Médio, sobretudo os mais avançados nesse nível de ensino: o primeiro é o diálogo intimista e quase de confidência, em muitos casos, com o leitor; o segundo é a predominância de assuntos que têm muito a ver com o universo juvenil — dúvidas, receios e aspirações — que podem vir de lembranças da infância, de pessoas, ou de acontecimentos do mundo social e político.

Já antecipamos lá, ainda que rapidamente, a conotação como um elemento fundamental das linguagens artísticas, fazendo delas campos abertos às inter pretações: assim como a obra de arte não tem uma única leitura, tampouco tem uma única forma de ser analisada. Os enfoques podem ser muitos. Com a literatura (e com as artes, em geral) essa possibilidade é ainda maior.

Seguiremos, na elaboração deste Manual, a própria organização indicada no Edital do MEC/FNDE que definiu a aquisição das obras de literatura, com atividades mais ligadas à Língua Portuguesa, e outras endereçadas aos

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professores de outras áreas de estudo. E somente a sua escola, com seu plane jamento específico, poderá definir com seus professores se A grande ilusão será explorada em uma só, ou por diferentes áreas de estudo.

Como verão adiante, nossas sugestões de atividades e de abordagem para uns e outros serão diferentes, mas, na nossa visão, tais enfoques podem ser bem distintos, mas são complementares, de modo a realmente oferecer ao aluno a visão mais ampla possível da obra e de seu autor.

Por isso, consideramos fundamental que todos vocês, independentemente de sua área de atuação, leiam todo o Manual e planejem uma ação sempre acertada com o grupo, definindo o que cada professor se sente mais à vontade e interessado em fazer, com relação à obra. Na pior das hipóteses, a discussão do Manual ajudará também a abrir horizontes: todos se enriquecem com esse modelo dia logado, sobretudo os alunos. A bem da verdade, devemos afirmar que, em nossa opinião, a grande maioria dos professores tem total condição de desenvolver sem maiores problemas as atividades propostas para qualquer área.

Em suma, na nossa visão, os objetivos deste Manual, em torno de uma obra bem específica, especialmente esta, que encara de frente questões sociopolíticas e existenciais, se cumprem melhor com as abordagens também de outras vertentes de Linguagens e das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Também no texto do aluno, procuramos valorizar tanto a primeira quanto a segunda leitura. É importante salientar com eles o direito que todo fruidor tem de uma primeira leitura sem protocolo, um encontro absolutamente aberto a novidades e a surpresas, como fazem até mesmo os especialistas e críticos: um diálogo desarmado entre autor e leitor. Acreditamos que, nessa primeira leitura, nenhuma “tradução”, nenhuma fala deve interpor-se à do próprio autor com o leitor. Sabemos que essa leitura ajuda enormemente a desenvolver o gosto pela leitura, ainda que, eventualmente, o fruidor não se apaixone espe cificamente pela obra do momento. O importante é que ele continue procurando as suas obras e seus autores preferidos, estejam ou não na lista da escola.

Mas não se trata de um simples laissez-faire : ao contrário, a liberdade da primeira leitura deve ser seguida de uma segunda, não de todas, mas de algumas obras, com a nossa participação e orientação mais entusiasmada: como tentaremos apontar neste Manual, ela é das melhores oportunidades de aguçar a percepção dos estudantes, quanto à forma de ver o mundo e a vida — neste momento, oferecida pelas crônicas do livro lido e a ser relido.

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É uma excelente oportunidade de cada um desenvolver o senso estético e exercer o espírito crítico.

Nesse convite para alargar horizontes, a vislumbrar caminhos para o entendimento de si e dos outros, inseridos numa sociedade, que tem uma história, a própria vivência de vocês é que pode definir, nas muitas opções oferecidas neste Manual, as que serão mais adequadas à sua turma, capazes de ajudar seus alunos a manter o prazer da leitura literária, ou a encontrar a senha para a descoberta desse prazer.

Chegamos a um ponto importante para nós, tratado também naquele texto de apoio: o direito que todos têm de não gostar de determinada obra, e podem, eventualmente, não gostar de ler.

Este é um tema crucial não mencionado aos alunos, mas que, em algum momento, vocês próprios poderão discutir com eles: o pouco envolvimento da sociedade com o ato de ler e as reais oportunidades de leitura, muito desiguais, seja nas famílias, seja nas escolas. Provavelmente, vocês terão enfrentado esse problema, uma vez que, sendo comum a vários países, tem contornos muito graves no Brasil.

Não podemos supor que tais problemas estão superados nos alunos do Ensino Médio. Segundo as pesquisas bem fundamentadas, nem sequer estudantes uni versitários estão longe dessas dificuldades de leitura: mesmo eles leem pouco, e, muitas vezes, leem mal. E sabemos que a proximidade da entrada no ensino superior ou em um trabalho pode, equivocadamente, criar nos estudantes do Ensino Médio (e às vezes até nos seus professores) a ideia de que a leitura literária é dispensável e que o estudante deve debruçar-se basicamente na leitura infor mativa e ligada a áreas mais específicas de interesse profissional.

Tal situação, contudo, não pode, de modo algum, diminuir nosso ânimo nem nossa esperança. O que escritores e as pesquisas mundiais nos contam é que, mesmo tardiamente, nas mais diferentes situações de vida, por algum motivo aparentemente improvável, muitas pessoas descobrem uma arte, e a literatura. Esta, de modo muito especial, põe-nos diante de nossa humanidade, e nos convida, insistentemente, a pensar no que somos, o que queremos, para onde caminhamos. Essa humana busca de transcendência, aliás, é uma das marcas mais claras desta obra, A grande ilusão.

Por isso, nossa proposta para vocês, neste momento, é refletirem numa questão primordial, se acreditamos no trabalho com a arte e a literatura, como

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formas privilegiadas de ler o mundo: se todas as pessoas e, portanto, cada um de nossos alunos, têm o direito de não gostar de ler, nós, professores, não podemos deixar de cumprir nosso dever de facilitar aos alunos o encontro com a literatura. Essa função nos cabe, e por nenhum motivo ou pretexto podemos descurar dela. Insistimos sempre que essa é uma missão: apresentar-lhes a arte, especialmente a literatura, da melhor maneira possível. Oferecido o banquete, nosso aluno pode não querer alimentar-se dele, mas não podemos deixar de lhe oferecer o alimento. E lembramos: quanto mais adiantados nos estudos, menos tempo teremos para cumprir essa missão com os alunos do momento — e não há tempo a perder.

Por isso mesmo, gostaríamos de propor algo que poderá parecer inusitado, ou impertinente, mas que condiz com nossa forma de entender o trabalho com arte e com literatura: para tornar mais amplo e diversificado o campo das opções da leitura literária, propomos que, ao lado de A grande ilusão, pensem na possibilidade de oferecer aos alunos outros livros de crônicas, por exemplo, que tenham, também, inegável valor literário e permitam um trabalho similar ao que propomos para a obra referida. Sabemos que, em geral, os pouco afeitos à leitura literária, pelos mais diferentes motivos, costumam se dar melhor na leitura de gêneros mais curtos, como a crônica e o conto, que permitem momentos mais breves e esparsos de leitura. Mas pode, eventualmente, dar-se o inverso. Em momentos deste Manual, são propostas leituras mais extensas, porque não podemos nos esquecer de que milagres acontecem, nesses encontros com a arte...

Esperamos que a leitura do nosso A grande ilusão traga para seus alunos, tanto quanto para vocês, bons momentos de lembranças, de reflexões e de discussões, e que todos saiam mais ricos e mais dispostos a novas interpretações e a novos entendimentos do mundo e da vida.

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1. PROPOSTAS DE ATIVIDADES 1

1.1. Introdução — Afinando algumas posições

Antes mesmo de lhes apresentar nossa proposta de acompanhamento do trabalho que vocês desenvolverão com seus alunos, relativamente ao livro A grande ilusão, gostaríamos de salientar o que já afirmamos na carta que leram há pouco: procuramos abordar sempre questões que nossa experiência aponta como capazes de tornar a leitura da turma mais significativa e até mais praze rosa, mas vocês é que têm as melhores condições para escolher a abordagem mais adequada a seus alunos, considerando o perfil da turma, seu nível e interesse pela leitura literária.

Vocês vão ver que nossa tentativa é sempre supor que nossos alunos (e nós mesmos) são capazes de ir mais longe. Que podemos nos surpreender com resultados excelentes, se nossa atitude for positiva, acreditando que, motivados e prestigiados, podem avançar na leitura e na vida. Desse modo, caminhos novos, que não repisem as mesmas trilhas, podem valer a pena. A melhor arte é sempre o convite à ousadia, à experiência nova, à descoberta. Não duvidemos das surpresas vindas da obra, mas também dos alunos (e até de nós).

E, de todas as sugestões que faremos adiante, por mais interessantes que nos pareçam, nossa absoluta certeza é de que nenhuma substitui ou dispensa (nem mesmo deve adiar) a leitura da obra: é o encontro do fruidor com a manifes tação artística (em qualquer de suas expressões) que caracteriza a “leitura” da obra de arte. Nenhuma atividade ao redor da obra terá sentido, se os alunos não tiverem a experiência do texto de A grande ilusão — seja qual for a reação que ele crie. A pura e simples fruição das obras consegue criar bons leitores. Daí a importância da primeira leitura, feita com o desprendimento do professor sugerido na nossa conversa com o aluno, no final de A grande ilusão.

É claro para nós, também, que o estudo da obra lida pode perfeitamente apresentar novas formas de enriquecer a percepção inicial do leitor, tornando-a ainda mais interessante, ao mesmo tempo em que o capacita, cada vez mais, a leituras mais qualificadas e mais amplas. E isso é o que todos nós

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pretendemos com essa “segunda leitura”, e com as demais propostas de enri quecimento de experiências que apresentamos mais adiante, contando sempre com o acompanhamento dedicado e entusiasmado feito por profissionais experientes como vocês.

Não descartamos a hipótese de que alguns alunos não se interessem por ler esta ou qualquer obra. Certamente, são pessoas que necessitam de mais atenção e incentivos, com mais opções de leitura, além de muita paciência e respeito. É bem possível que vocês topem com alunos que não se interessem especial mente por este livro de crônicas, e até casos de alguns que talvez nunca cheguem se interessar pela literatura, sem que isso seja uma falha dos professores. Para esses casos, sobretudo, propusemos em nossa carta a ampliação do leque de leituras de obras com elementos próximos do livro que estamos trabalhando, garantida sua qualidade literária, e — talvez — o mesmo gênero. Em alguns casos, o aproveitamento de alguma sugestão da seção 4 pode ajudar a criar motivações de leitura. Mas o mais importante, para nós, é nunca fecharmos para esses alunos a possiblidade de, um dia, como acontece tanto, descobrirem o prazer e a riqueza de ler literatura.

Assim, vamos sugerir atividades para os três momentos fundamentais de qualquer experiência educativa:

a) o da “motivação”, acenando ao leitor com motivos para ler a obra;

b) o acompanhamento do “processo da leitura” (com formas de fazer a segunda leitura);

c) a ampliação de experiências, depois da releitura, propondo o diálogo da obra com outras artes e outras vivências humanas, ativando a própria expressão pessoal e criativa do aluno.

Não esquecemos um momento fundamental da educação: a avaliação.

Sobre esse assunto, gostaríamos de propor a vocês uma reflexão inicial com seus colegas de escola. Recorrendo rapidamente às posições do filósofo da Educação Elliot Eisner, podemos dizer que a escola trabalha objetivos instrucionais (nos quais a pessoa aprende o que é — e isso ela faz em várias disciplinas e diversos conteúdos, que todos os indivíduos são capazes de aprender), e objetivos expressivos (nos quais a pessoa aprende a analisar, avaliar e, eventu almente, transformar o que é — e ela faz isso em contato com outros tipos de

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conhecimento, por meio dos quais desenvolve opiniões, atitudes, crenças e ideais). Nos primeiros objetivos, interessa o resultado; nos expressivos, interessa o processo, que é diferente e tem caminhos próprios para cada um. A arte e, portanto, a literatura atendem sobretudo a esse segundo campo de objetivos. Daí arguir-se com frequência a validade e a pertinência das formas convencio nais de avaliação (provas, fichas, questionários com perguntas “objetivas”) para a área expressiva. As artes não são ciências exatas: nelas, 2 + 2 não são, obriga toriamente, 4. Elas não têm uma resposta “correta”, porque, plurissignificativas por princípio, possibilitam muitas interpretações, criam várias perguntas e várias respostas possíveis, ou até não querem respostas — apenas, a fruição, a surpresa, diferentes emoções, reflexões impensadas — tudo isso diferente para cada um, e até diverso em cada um, em momentos distintos de sua vida. Por isso, perguntamos: o que “medir”, e com que medida, se gostos, opiniões, preferências, crenças (e até determinados talentos) não podem ser impostos, nem cobrados? Dentre as experiências propostas, quais as que podem, realmente, ter uma avaliação objetiva, merecendo até uma nota? Quando cabe uma autoavaliação adequada?

Essas são questões fundamentais, que devem fazer parte do melhor planejamento da escola, no tratamento das aprendizagens instrucionais e expressivas, para o que nos compete apenas fazer a proposta de discussão.

1.2. Criando motivos para ler A grande ilusão — A pré-leitura

Os psicólogos afirmam que nós fazemos o que temos motivo (dito de outra forma: necessidade) para fazer: movemo-nos tendo razões para esse movimento, o que se evidencia na busca de um alimento, de uma consulta, ou na leitura de um livro. Se os alunos não forem apresentados a esta obra, não terão motivos para a ler, a menos que o acaso os faça topar com a obra numa biblioteca ou livraria. Mas, em educação, não é bom contar só com o acaso...

Mostrem a eles o livro, como proposta da próxima leitura deles.

Sugerimos-lhes a seguir, para sua escolha, algumas possibilidades de apresentação de A grande ilusão, aguçando o interesse de seus alunos pelo livro, muitas delas já usadas por vocês.

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> Apresentação do gênero e o título e subtítulo da obra

Comecem uma conversa, em torno da crônica.

É bom saber que ideia eles têm da crônica. Busquem conhecer o conceito que têm do gênero: a) onde leem: jornais, revistas, internet, livros?; b) assuntos de que trata — cotidiano, política, crimes, esportes, cultura?; c) autores conhe cidos e preferidos.

Enfim, é interessante conhecerem a reação da turma ao gênero e as razões disso, para saber dar o tom certo à apresentação do livro A grande ilusão.

Recuperem, nesse momento, as duas principais características das crônicas: sua absoluta liberdade, com relação à forma e ao conteúdo: nelas cabem carta, cena de teatro, poema, e as misturas que o autor desejar. E os temas podem ser os mais diversos, segundo as características do escritor: questões sociais, políticas, pessoais, familiares, transcendentais ou corriqueiros, acontecimentos daqui ou de qualquer lugar do mundo (e até de outro mundo).

Levem livros de crônicas de seus autores preferidos, para mostrar essa diver sidade. Quer dizer: cada autor interpreta de seu jeito o fato de a crônica “tratar do cotidiano”: os acontecimentos de seu dia a dia são, mesmo e rigorosamente, pessoais. A “brasilidade” da crônica também pode ser um trunfo do gênero crônica. Importa saber que ela é um texto curto, e que, em geral, em jornais e revistas, tem dia e lugar marcados para cada cronista.

> A imagem da capa

Seria interessante, então, mostrar aos alunos o livro indicado para leitura, destacando a primeira e a quarta capas e pedir algum comentário a respeito dela e o que sugere, em termos de imagem.

(A capa, bastante simples e elegante, apresenta em primeiro plano uma bor boleta azul, em oposição ao tom amarelado do fundo; e uma asa está ferida.)

> O título: A grande ilusão

Vejam se o título causa alguma estranheza. Que interpretação os alunos dão a ele? Que sentidos pode ter a palavra “ilusão”? Que relação terá a borboleta com esses significados? O subtítulo desfaz qualquer dúvida sobre a palavra “ilusão”?

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Leitura de uma crônica

Sempre consideramos motivadora a boa leitura em voz alta, feita pelo professor: de alguma forma, ela indica o envolvimento dele com o livro. Para entrar um pouco no clima do livro, propomos que escolham uma de suas crônicas, para lerem para a turma. (É claro que a leitura não será improvisada, mas cuidadosamente escolhida e ensaiada em voz alta.) Conforme a turma, escolham a que lhes parece combinar mais com vocês e com a turma: a mais intimista, a mais polêmica.

O autor das crônicas

Uma boa forma de travar o conhecimento da turma com o autor e esta obra é ler a quarta capa, que em geral cumpre essa função.

Se acharem necessário, leiam também a orelha do livro, escrita por uma leitora do autor, e a “Reapresentação”, feita por ele.

Se vocês tiverem um número razoável de exemplares da obra, tragam-nos para a sala, e os deixem circular entre eles num primeiro contato da turma com o objeto livro. Vejam se desejam fazer observações ou perguntas, a partir desse contato físico com o livro.

Como veem, parecem muito variadas as possibilidades de apresentação da obra aos alunos. Vocês, conhecendo a turma, certamente terão condições de escolher as que podem funcionar melhor, ou, a partir dessas, de criar vocês mesmos as que ajudarão os alunos a abrir o livro e começar a leitura.

Caberá, nesse momento, um “combinado” importante com os alunos: ao infor má-los da existência de um texto de apoio ao estudo da obra, insistir na importância de o lerem somente depois da leitura das crônicas. As dúvidas suscitadas serão tratadas enquanto estiverem preparando outras atividades, em torno do livro.

1.3. O mergulho nas crônicas — A primeira leitura

A turma já deverá estar suficientemente disposta a ler a obra.

Estabeleçam com eles um tempo para acabar a leitura.

(Isso pode variar muito, a depender da turma, e até do número de exemplares de livros de que vocês dispõem para o trabalho. Nesse

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período, estabeleçam com eles algum momento das aulas, em que notícias da leitura vão chegando a vocês: o que estão achando das crônicas; em que ponto estão da leitura; se escolheram blocos para ler primeiro; se querem fazer algum comentário ou pergunta. Esse pequeno cuidado os ajudará a avaliar como poderá desenrolar-se o restante do trabalho com a obra, mas sobretudo dará a alunos a certeza de que vocês estão atentos ao processo de leitura deles.)

> Roda de leitura

A roda de leitura é sempre uma boa forma inicial de, depois da primeira leitura, eles apresentarem uma primeira impressão da obra. É fundamental que todos se sintam completamente à vontade para falarem o que verdadei ramente vivenciaram durante a leitura. Eles têm todo o direito de se expressar com relação à obra, sem temer dar um depoimento negativo sobre a experiência. Em círculo, eles serão estimulados a responder a perguntas como: Gostaram? Não gostaram? Leram as crônicas na ordem em que aparecem? Pularam alguma? Querem observar algo especial da obra? Se já tiverem lido o texto de apoio, no final do livro, eles próprios poderão fazer observações novas, que valem a pena considerar.

(As respostas e os depoimentos verdadeiros serão mais um elemento para orientar as sugestões de trabalho. Conforme o caso, cabe a vocês contrapor argumentos, pedir exemplos da obra que sustentem as opi niões emitidas, lembrar alguma crônica, ou recuperar alguma posição levantada por um colega. A roda de leitura é já o início de uma segunda leitura da obra.)

1.4. Outro mergulho: a segunda leitura da obra

Depois dessa roda de leitura, expliquem a próxima etapa da experiência com a obra: de preferência em grupo (mas cabe até o trabalho individual), os alunos vão ler as crônicas de um dos seis blocos (ou eixos temáticos), procu rando aprofundar uma marca especial do livro.

No entanto, conforme as observações feitas durante a leitura e a roda de leitura, vocês poderão ter notado algum outro interesse dos alunos, na explo ração da obra.

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Nossa sugestão é que os grupos, depois de relerem e compararem as crô nicas indicadas, apresentem para a turma os pontos mais interessantes e diferentes entre elas.

Definidos os grupos, sempre que possível por escolha dos alunos, acordem com eles um prazo para a apresentação dos trabalhos, também numa ordem acertada com a turma. Proponham um tempo de 20 a 30 minutos (por exem plo) para a exposição de cada grupo.

• Esclarecimentos teóricos

Enquanto estão discutindo as crônicas e definindo a apresentação do trabalho, disponham-se junto a cada grupo e, conforme o caso, à turma, para fazer esclarecimentos em torno das informações dadas no texto de apoio do livro, sobre os ingredientes de cada tipo de crônica, outras de que eles necessitem. (A bibliografia apresentada na parte final deste Manual pode, eventualmente, ajudar vocês a retomar os conteúdos tra balhados e a indicar alguns textos teóricos mais simples, que talvez eles queiram consultar.)

A apresentação dos trabalhos

O momento de apresentação dos trabalhos pelos grupos é fundamental não só para os expositores, mas também para a turma toda. É um bom exercício de linguagem oral dos alunos — na escuta e na fala. É impor tante que, durante a exposição de um grupo, os demais observem pontos que gostariam de discutir, inicialmente com os expositores, e em seguida com os colegas e com o professor.

Terminadas as apresentações, proponham que os próprios grupos se ava liem e que os alunos também emitam opiniões sobre os temas tratados, de tal modo que a avaliação de vocês sobre os trabalhos seja a última, e sempre propositiva.

1.5. Descortinando novos horizontes horizontes - A pós-leitura

Todos nós sabemos o quanto nossa cabeça e nosso coração são caixas de ressonância das obras contempladas, ouvidas ou lidas: elas continuam conosco, ainda que distantes no tempo e no espaço.

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Por isso, apresentamos a seguir algumas experiências de alguma forma ligadas ou inspiradas no livro lido, de forma a contribuir para a permanência da literatura nas experiências dos alunos.

A) Sugiram à turma a leitura e o comentário do poema “Confidência do itabirano”, de Carlos Drummond de Andrade, da obra Sentimento do mundo.

B) Sugiram que pesquisem nos jornais de circulação local (inclusive os da cidade) o espaço dado à crônica. De que tipo são as crônicas; e em que caderno do jornal estão. Peçam que tragam para a turma o resultado dessa pesquisa, e procurando sublinhar o que é ou não novidade para o grupo todo.

C) O autor mostra-se muito disposto ao diálogo com seus leitores. Sugiram uma entrevista, mesmo virtual com ele, combinada através de sua editora. Planejem com eles a entrevista, combinem com o autor data, duração, enfoque maior na obra lida. Podem também visitar a Fan Page do autor no Facebook, nela ele estabelece diálogo com seus leitores: https://m.facebook.com/L.F.Emediato/.

Além da experiência sempre positiva desenvolvida até agora, cabe lembrar aos alunos que A grande ilusão acena com um mundo muito amplo de vivências, que vale a pena sondar.

Nas seções seguintes deste Manual, com focos e enfoques distintos, vão ser apresentadas muitas sugestões de novas experiências em torno ou inspiradas na leitura das crônicas do livro, de diferentes áreas, com a expressão pessoal ou conjunta dos alunos, comprovando o quanto a leitura de uma obra pode trazer, em riqueza de pesquisas, interações e fruições, para o entendimento cada vez mais aguçado de nós mesmos e do mundo.

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2. PROPOSTAS DE ATIVIDADES 2

2.1. Introdução

Como já tínhamos adiantado, esta seção é dedicada a vocês, que lidam com outras disciplinas da área de Linguagens e das Ciências Humanas. Insistimos, no entanto, na nossa convicção de que os interessados e vocacionados podem perfeitamente extrapolar e ousar, valendo-se de atividades indicadas para outros campos, desde que acertadas as experiências no planejamento da escola: nossos talentos, bem explorados, podem nos mostrar caminhos incríveis, sobretudo quando falamos de arte. Assim, as indicações de áreas são apenas para um direcionamento inicial, mais previsível, mas o planejamento da escola vai estabelecer as “negociações” entre as áreas, traçar relações e pontes, em torno do aproveitamento das experiências sugeridas, escolhidas sobretudo em função da turma e de suas peculiaridades. Em princípio, nenhuma é tão complexa ou tão desinteressante, que se inviabilize para alguém.

Praticamente todos os campos das áreas das Ciências Humanas e Sociais, envolvendo a História, a Sociologia e a Filosofia, podem sentir-se contemplados e à vontade para explorar a obra, riquíssima em discussões para além da literatura.

Aqui também, no desenvolvimento das atividades com suas turmas, adota remos o esquema da seção anterior: criação de motivação, o acompanhamento da primeira e da segunda leituras, e atividades após a leitura.

Lembramos que a definição do planejamento da escola, ao estabelecer com vocês como se dará a exploração desta obra, pode também indicar a possibili dade de entrelaçamentos interessantes entre atividades de professores de áreas diferentes. O que é importante é sempre ter claras as formas de explorar a obra numa sequência de atividades que nunca permita a redundância de enfoque ou de propostas. Nossa preocupação é que todas as possibilidades sejam ana lisadas e definidas de modo que se tire o melhor das características do livro, dos professores interessados nele e se ofereçam aos alunos elementos que pos sibilitem o seu melhor desenvolvimento, como estudantes e como pessoas.

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(Sobretudo para professores das áreas de Linguagens e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas)

2.2. Criando motivos para ler a obra — A pré-leitura

Apesar de apresentarmos abaixo algumas sugestões de motivação, mais dirigidas à sua área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, gostaríamos de ressaltar que, neste momento específico, não será absurdo — antes, parece natural — seguir o mesmo esquema sugerido para o professor de Língua Portuguesa, a menos que este já tenha feito isto: indicar o gênero da obra, dar informações sobre os autores, analisar imagens da capa são o nosso movi mento natural, como fazemos na compra de um livro: a sedução de possíveis compradores está sobretudo nas capas 1 e 4 do livro. E cada um analisará esses dados do seu lugar, com seu conhecimento e sua visão de mundo. Vocês, usando estratégia parecida, estarão “vendendo” a obra para os possíveis leitores — os seus alunos, diante de vocês.

E, mesmo atuando em áreas consideradas informativas, vocês sabem perfeitamente o que oferecem de diferença capas de livros referenciais e informativos e dos de caráter literário: uma escancara seus propósitos e suas intenções de informar, o outro quer criar dúvidas, curiosidade e suspense. Daí o livro infor mativo ter uma capa denotativa, enquanto o de literatura usar sua arma principal: a conotação.

O importante, nessa busca de motivos para ler a obra, é passar a palavra aos alunos, pedir seu testemunho ou sua opinião sobre qualquer dado que vão apresentar, seja do autor, seja das muitas questões, reflexões e temas trazidos pelas crônicas do livro.

> Leitura de crônica

Esse expediente de leitura para os alunos (ensaiada em voz alta, e nunca improvisada) de uma página do livro, especialmente interessante, por mostrar um claro envolvimento do professor com leitura, funciona mais ainda, quando feita de surpresa, sem a turma sequer ter outros elementos sobre o livro e sua leitura próxima.

É claro que, conforme sua área, a escolha da crônica será diferente, e deve ser pensada em função de seus alunos, mas também do gosto pessoal de vocês: é óbvio que lemos melhor o que nos entusiasma.

Depois da leitura, peçam que comentem o que acharam da crônica, das ideias expressas nela, a visão de mundo ao autor sugerida por ela.

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> Uma discussão inicial possível

Vocês podem também começar a motivação pedindo o depoimento dos alunos sobre assuntos que dizem respeito aos eixos temáticos da obra, indicados no Sumário.

Vejam como reagem ao anúncio de tais eixos. Perguntem o que imaginam encontrar em eixos cujos títulos são propositadamente vagos. Se for o caso, leiam os títulos das crônicas dos eixos, para situar melhor os alunos.

Incentivem-nos a expressar suas opiniões sem qualquer receio.

> Apresentação da obra e de seu autor

Neste momento, cabe, mais uma vez, filtrar na biografia de Luiz Fernando Emediato os dados que acham mais interessantes para a turma. Dados de sua longa e rica biografia, no final do livro, vão ajudá-los a criar interesse por conhecê-lo. Sobretudo, sugerimos a leitura da “Reapresentação”, escrita pelo autor com muita sinceridade.

Apresentem, também, a obra, mostrando sua capa, discutindo sua imagem e o título e as possíveis sugestões que ele traz. As perguntas feitas à turma e seus depoimentos poderão ajudar os alunos a perceber o significado dessa leitura.

2.3. O mergulho na obra: lendo A grande ilusão

Neste momento, os alunos vão entrar em contato com a obra, fazendo a primeira leitura dela. Aqui também, cabe combinar um prazo razoável para isso.

Cabe ainda tratar do texto de apoio, no final do livro, combinando que é melhor, para o contato com a obra, que o leiam depois das crônicas. Como sempre pedimos, reservem sempre alguns minutos das aulas, até o dia combi nado, para os alunos falarem de dúvidas, dar opiniões, de modo que eles não se sintam sozinhos na leitura.

> Roda de leitura

Aqui também cabe a roda de leitura, na qual cada aluno é incentivado a expor sua opinião sobre as crônicas: as mais interessantes, as que agradaram menos; as

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que eventualmente não foram lidas integralmente e por quê. Essa roda é, na verdade, um princípio da “segunda leitura” proposta no texto de apoio feito para eles. Por isso, façam dessa roda uma oportunidade de debate entre ideias e opi niões opostas: sugiram que contraponham argumentos, lembrem crônicas ou passagens dos textos, sem coibir nenhuma opinião. Vocês podem aproveitar a roda para ver se algum dos temas a serem tratados foram observados por eles e introduzindo a ótica da qual pedirão a segunda leitura da obra.

2.4. A segunda leitura

Proporemos aqui uma série de discussões, em que nem todos trabalharão todas as crônicas, mas as que mais diretamente envolvem o trabalho em grupo que será proposto e, sempre que possível, de livre escolha dos alunos. Assim, praticamente todas elas serão retomadas, nas discussões dos grupos, o que garante uma segunda visão da obra.

Assim, esgotada a roda, informem as questões que os participantes do grupo terão de analisar, através de releitura e da discussão, para apresentar conclusões à turma toda. É interessante que dois grupos discutam o mesmo ponto, e eles apresentem suas conclusões em sequência, para que as eventuais divergências possam ser discutidas por toda a turma.

Durante a preparação dos grupos, vocês estarão à disposição para responder a dúvidas, em alguns minutos das aulas, indicando fontes de pesquisa, se for o caso.

Em princípio, os grupos poderão ser definidos pelos próprios alunos, em função de suas afinidades. Combinem com a turma o prazo adequado para o estudo em grupo e para as apresentações. Os colegas poderão opinar, depois de cada apresentação, que, também por acordo entre vocês e eles, terá a duração entre 20 e 30 minutos.

Sempre façam seu comentário final, sublinhando os acertos e indicando, sempre de forma propositiva, algum ponto que, a juízo de vocês, mereceria destaque.

> Questões para pesquisa, discussão e apresentação por grupos

A) A corrupção é várias vezes mencionada nas crônicas do autor. Em que situações ele a vê? Que formas ela assume, em áreas ou grupos diferentes? Ela tem disfarces? O problema, na opinião do grupo, está superado?

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B) A violência, em vários níveis e instâncias, é uma constante nas crônicas de Emediato. Onde ela é percebida? Que formas ela toma na sociedade e nas instituições? Que pessoas ela envolve, em cada caso? Há formas de resolver a questão?

C) Em muitas crônicas há críticas ao regime de governo da época. O autor fala de formas diferentes de combater ou até conseguir mudar o regime. Em que forma o autor acredita e como imagina atuar?

Peçam ao grupo (ou grupos) que tratem do assunto, discutindo, pesquisando a questão em revistas, jornais e noticiários, além das próprias redes sociais, conforme cada um dos assuntos. Como são questões polêmicas, são funda mentais o exercício constante do respeito às opiniões diferentes e o tratamento, na medida do possível, objetivo das questões.

É bom lembrar que as crônicas eram de um tempo em que os alunos, na sua maioria, nem tinham nascido. O distanciamento das datas pode, de alguma forma, exigir conversas com os adultos de seu entorno, ouvir depoimentos, considerar muitas variantes.

Obviamente, os trabalhos em grupo não serão definitivos, mas são sobretudo capazes de analisar cada tema na época retratada e na atualidade e mostrar que proposta o cronista nos deixa, em cada caso.

A apresentação de cada grupo deve vir acompanhada de discussão com os colegas da turma e, obviamente, avaliada toda a experiência por vocês. Na avaliação final de todo o trabalho, procurem primeiro ouvi-los, numa forma de autoavaliação e da avaliação dos colegas.

Se tiver escapado alguma reflexão importante, façam vocês as observações sobre isso, sempre possibilitando a participação nas atividades, pensadas a partir de A grande ilusão, que ainda serão oferecidas aos alunos, de modo a alargar os horizontes, para além das próprias crônicas... As próximas seções trarão muitas novidades, nesse sentido.

2.5. Indo além do livro — A pós-leitura

Não temos dúvida de que muitas ideias trazidas pelo autor dão margem a uma demorada reflexão sobre nossa sociedade e sobre nós mesmos.

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Adiantamos aqui, como propostas a seus alunos, algumas atividades que retomam questões que vão continuar merecendo pesquisas, seminários, divergências em qualquer roda de conversa.

A) Luiz Fernando Emediato é também autor de contos, novelas e reportagens.

Proponham aos interessados a leitura de um outro livro do autor, para um breve comentário em sala.

B) O autor se refere algumas vezes a Martin Luther King.

Proponham à turma uma pesquisa em torno dessa figura de enorme impor tância não apenas na sociedade norte-americana, mas mesmo da questão fundamental da igualdade racial.

C) Outra figura interessante para estudo, também citada algumas vezes nas crônicas lidas, é o líder indiano Mahatma Gandhi.

Sugiram à turma pesquisar sua vida e obra e sua contribuição para a discussão da paz mundial.

D) Proponham aos alunos pesquisarem na biblioteca da escola as obras de crônicas disponíveis, apresentando autores e títulos, para eventuais incursões da turma no universo desse gênero.

Conforme já destacamos, em outros momentos deste Manual, as duas lei turas, cada uma com um objetivo, em vez de fecharem um livro de literatura, acendem luzes e abrem horizontes.

Desse modo, outras experiências virão nas seções que se seguem, trazendo mais artes e mais debates, em torno de A grande ilusão

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3. APROFUNDAMENTO – A intertextualidade e as citações em A grande ilusão

3.1. O encontro de vozes em A grande ilusão

Um dado importante a considerar, nas crônicas de Luiz Fernando Emediato, é seu gosto pelas citações, o que não apenas mostra suas constantes e diferentes leituras, mas também um tipo de quase humildade, como se dissesse: “Eu não estou sozinho nestas ideias”. E a fala do outro valida a sua.

Esse expediente de usar o texto de outro, incorporando-o ao seu, que tem o nome pomposo de intertextualidade, é, na verdade, um recurso que nós todos usamos com muita frequência no nosso cotidiano. Quando dizemos: “Bem diz a nossa avó que muito riso é sinal de pouco siso!”, estamos pedindo emprestado a alguém da família uma fala repetida sempre para nós e que leva mos em conta. Estamos usando a intertextualidade, que é, assim, o diálogo entre dois textos — inserindo o texto (no sentido mais amplo da palavra: oral ou escrito, uma cena de filme, uma tela, uma sinfonia) de uma fonte no nosso próprio texto. Em outra seção, vamos afirmar que a história e a cultura são intertextuais: ninguém cria do nada, temos sempre uma herança, da qual fazemos uso, ainda que não saibamos disso. E um recurso tão usado, e nem sempre percebido, tão corriqueiro, nas mãos de um artista, toma uma dimensão extraordinária. É comum em todas as artes, e pode juntar obras de linguagens diferentes, como no caso de uma adaptação de um romance para o teatro, para o cinema, ou para a TV. Da mesma forma, a tradução também é uma experi ência intertextual.

No caso de Emediato, em A grande ilusão, ele faz uso várias vezes da inter textualidade e de vários tipos.

Por exemplo, no final da crônica “Sai dessa, Rita!”, ele recupera pequenos versos de canções dela, para sugerir a alegria, a brincadeira, a comunhão que percebemos em várias de suas composições, e que nada têm a ver com a raiva destilada contra o crítico que fez uma crítica a seu então último álbum. No último parágrafo da crônica, diz o cronista:

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“É por isso, então, que lhe digo: sai dessa, Rita. Apareça por aqui, nos dê um beijo no rosto ou na testa, baile conosco, ria e siga em frente, de frente ou de trás, com espuma ou sem espuma, do jeito que bem quiser. Faça do mundo gato e sapato, pinte e borde, deite e role, mas não perca o humor e a graça — é só o que nos resta, menina, nesses tristes dias difíceis.” (p.116)

Quem conhece composições dela, como Lança perfume, Baila comigo, entre outras, vai reconhecer trechos das músicas e a interpretação “pra cima”, que sempre marcaram sua carreira.

Em um trecho da crônica “Felicidade”, ele escreve: “O homem pensa no cronista-poeta morto e acha que poderia sorrir se na página 38 do jornal des cobrisse, surpreso, que uma rosa nasceu no asfalto. E nasceu.” (pp. 222 e 223)

Ele faz alusão a um belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade, “A flor e a náusea”, da obra A rosa do povo, em que, para surpresa sobretudo dos guardas, brotou do asfalto uma rosa.

Na crônica “A solidão do criador”, Emediato fala de uma entrevista com um grande músico brasileiro, em que o entrevistado diz de “sua pobreza, sua emocionante luta para ser um dia um grande artista, aquele que vai sempre aonde o povo está...”. Identificamos imediatamente o músico, cujo nome não é, naquele momento, fornecido pelo cronista. Muitos leitores talvez só tenham sabido quem era ele, no fim da crônica, quando o cronista revela o nome de Milton Nascimento. Aliás, em “O caminho de Samarcanda”, Emediato conversa com Milton Nascimento, ou se refere a ele, de novo aparece o mesmo “verso”, numa citação da bela frase dele ou de seu grande parceiro e letrista Fernando Brant, na composição intitulada Bailes da vida, e de certo maneira explicitando a autoria. Os versos são esses:

Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão todo artista tem de ir aonde o povo está. Se for assim, assim será, cantando me disfarço e não me canso de viver e de cantar.

Emediato diz, numa meio velada crítica ao amigo: “Sempre acreditei — como o bom Milton — que todo artista deve ir aonde o povo está, e para mim foi uma surpresa vê-lo emprestando sua linda voz não ao povo, mas

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aos discursos daqueles políticos tão ultrapassados quanto demagógicos que, dos palanques “oposicionistas”, chamavam o povo para derrubar a ditadura.”(p. 153)

Paráfrases, alusões, paródias (que vamos ver daqui a pouco), epígrafes, traduções são algumas das formas de intertextualidade: em todas elas temos uma voz que se associa à voz de alguém, e também do artista, para dar melhor seu recado.

3.2. As citações em A grande ilusão

No caso de A grande ilusão, a forma intertextual mais presente, como adian tamos acima, é a citação.

E a mais frequente é de passagens bíblicas, do Eclesiastes, do Apocalipse, do Deuteronômio, dos Salmos e dos Provérbios. Peguemos um exemplo dos Provérbios: “Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei é feliz”. (p. 87) (E o cronista jura por Deus que é ateu!!!)

Voltaremos aos provérbios, ou ditados, daqui a pouco.

Tratemos de outras citações de nosso cronista. Carlos Drummond de Andrade aparece não só definindo de maneira brincalhona a relação entre leitor e cronista, na primeira crônica, à página 14. Surge, também, numa citação ligeiramente modificada, por força da necessidade, em um trecho de “Um homem bom”: “Como escreveu Drummond, Minas é um retrato na parede, e como dói.”

Eis abaixo o final do poema de Drummond, “Confidência do itabirano”, do livro Sentimento do mundo:

Itabira é apenas uma fotografia na parece.

Mas como dói!

Belchior, cantor e compositor, tem lembrado seu belo verso “Viver é melhor que sonhar”, na crônica “Sonhos”. Adão Ventura, poeta mineiro, tem citada uma frase importante, no contexto das crônicas, e está na primeira delas: “A

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vida é dúvida, como escreveu meu amigo Adão Ventura, mas é também dádiva. Por isso, não se mate, meu bem. Por favor, não se mate. Morrer é pior que viver.” (p. 76) Caio Fernando Abreu tem suas cartas e trechos delas citados em “Balada triste”, na página 202.

Vocês verão muitos outros exemplos, que poderão mostrar aos seus alunos.

Voltemos, agora, aos provérbios, ou, mais popularmente, aos ditados.

Como vocês bem sabem, os ditados, em todas as línguas e culturas, são sempre repetidos como lições importantes para a vida. Por serem passados de geração a geração, é de se supor que apresentem uma visão conservadora (e possivelmente acomodada) do mundo. São, por isso mesmo, usados, sobretudo e preferencialmente, pelos mais velhos e por comunidades muito ligadas às tradições.

3.3. Propostas de atividades investigativas

3.3.1 — Proponham a seus alunos fazerem na família um levantamento de ditados, quem os usa e em que situações. Peçam que tragam suas listas para uma discussão e interpretação dos ditados e o que indicam das comunidades. Vejam quantos aparecem repetidos nas listas.

3.3.2 — Uma segunda atividade ligada às citações de ditados é em torno de uma composição de Chico Buarque de Holanda, Bom conselho, na qual ele ali nhava os ditados pelo avesso. Pode ser considerada uma paródia, portanto.

Sugiram aos alunos que ouçam a composição e extraiam dela as formas originais dos ditados e que sentido atribuir às inversões.

3.4. Propostas de produção de textos

3.4.1 — Proponham que criem uma narrativa baseada em um dos ditados seguintes: “Quem espera sempre alcança”, “Quem semeia vento colhe tempestade”, “Quem não ouve conselho ouve coitado”. As narrativas podem confirmar ou negar o ditado, segundo o pensamento de cada um dos escritores.

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3.4.2 — Proponham a seus alunos produzirem um texto dissertativo-argu mentativo, posicionando-se sobre a filosofia de vida proposta nos ditados: é sempre a mesma? São diferentes, se aparecem em textos religiosos? Ajudam ou não a criar comportamentos sociais importantes?

Obviamente, todos os trabalhos serão analisados e avaliados, em função de seus objetivos (e dando especial atenção ao que propusemos discutir, sobre avaliação de trabalhos com arte), a adequada observação dos registros usados, conforme sejam, por exemplo, narrativas — nelas podem caber a oralidade, às vezes a gíria, o discurso mais fiel da linguagem das personagens –, ou sejam textos dissertativos e argumentativos, nos quais a norma culta deve ser predominante.

Vocês não devem esperar páginas literárias de seus alunos. Nem todos terão talento literário, e isso não é uma falha deles: ao contrário, é importante eles entenderem que serão avaliados pela criação — que todos podem fazer — de uma história coerente, e que exponha com clareza o que foi solicitado.

No caso de textos de depoimentos e de reflexão, consideramos todos perfeitamente adequados e possíveis na produção escrita dos alunos. Esses tipos de composição são até bem frequentes na vida estudantil, não apenas na linguagem oral (muito presente, em todas as experiências sugeridas por este Manual, até aqui), como também na escrita, importante, ainda, nas provas a que se submeterão com frequência, no nível do Ensino Médio.

Dito isso, não deixem abandonados os que têm talento literário: sem os privilegiar, estimulem os que quiserem fazer a crônica literária, criando sua página narrativa.

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4. SUGESTÕES DE REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

– Dialogando com

outras vozes

Como sempre frisamos, a obra de arte é sempre uma pretendida forma de diálogo. Mas não se trata apenas do diálogo mais imediato e já sublinhado aqui entre o escritor e o leitor, caso quase sempre mais claro na crônica e, em especial, neste cronista. Falamos, aqui, num diálogo mais amplo, que todos nós fazemos com a nossa história, e que o artista consegue realçar. Tanto ou mais do que nós, ele se mostra herdeiro da vida de sua gente e do mundo. Assim, todo artista traz em seu texto, conscientemente ou não, muitas outras vozes que o inspiraram, com quem sua obra dialoga. Já salientamos o uso frequente da citação que faz Emediato, além de outras formas de intertextualidade.

Apresentamos abaixo propostas de experiências artísticas e culturais, mencionadas ou derivadas das crônicas de Emediato. Sugerimos a leitura de obras literárias, mas também filmes e composições musicais e o estudo especial de alguns de seus criadores. Não imaginamos que tudo possa ser experimentado e vivido no seu ano letivo. Para nós, representam possibilidades de alargamento de horizontes, que cada aluno deve se sentir à vontade para escolher, dentro de seus interesses — imediatos e futuros.

À medida que tais experiências se concretizem na sua turma, vejam as que poderão ser compartilhadas e as que serão de pura fruição de um dos alunos, ou de um grupo: de alguma forma, elas terão repercussão não somente na vida estudantil, mas também ao longo da vida de cada um.

A) Numa das crônicas do bloco Pessoas, o autor conversa com Rita Lee, uma artista importantíssima não apenas da música, como da vida cultural brasileira.

Sugiram a seus alunos que procurem conhecer a vida dela (hoje, com 73 anos), composições musicais suas e sua múltipla atuação no cenário nacional.

B) O autor parece especialmente ligado à música, tanto erudita, quanto a popular. Cita também outros nomes muito significativos da música brasileira: Chico Buarque de Holanda, Caetano, Raul Seixas, Belchior, Milton Nascimento e um dos maiores letristas da nossa música: Fernando

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Brant, o principal parceiro de Milton. Peçam à turma que se divida em grupos e traga para a sala informações e algumas das composições mais importantes de cada um deles.

C) Duas composições citadas, mas distantes até da juventude de Emediato consideradas clássicas na Música Popular Brasileira, cuja popularidade poderia ser pesquisada entre pais e avós e levadas, poderiam também ser ouvidas em sala de aula. São: Balada triste, de Dalton Vogeler e Esdras Silva (célebre na interpretação de vários cantores de composições sentimentais, como Ângela Maria e Agostinho dos Santos), e Luar do sertão, de João Pernambucano e Catulo da Paixão Cearense, que tem belíssimas versões instrumentais, prefixo, às vezes, de programas governamentais de rádio.

D) Ainda citando composições musicais, uma das crônicas mais belas do livro cita Händel e sua opera Xerxes, cuja ária “Largo” é a mais conhecida. Proponham à turma ouvir a ária, mesmo ser for a primeira experiência de música erudita dos alunos. Se for o caso, peçam a um professor de música que explique a função da ária na ópera.

E) Entre os músicos e bandas estrangeiras, sobretudo ligadas ao rock: o cronista cita não apenas os Beatles, U2, mas também Bill Haley e seus Cometas. Cita alguns, que ele considera frutos da publicidade: Madonna, Sting, Michael Jackson, em torno dos quais se pode propor à turma um debate sobre a posição do autor, ou mesmo o eventual sucesso criado pela TV e pelo rádio.

Façam uma pesquisa em torno das preferências dos alunos pelos músicos e artistas da música estrangeira. Estimulem-nos a conhecer algumas de suas composições.

F) Dentre tantos citados pelo autor, outro artista importante a se conhecer, e que cumpriu importante papel na vida brasileira, foi o cartunista Henfil. Proponham aos alunos conhecer a sua obra.

G) No campo da literatura, várias vezes citado, está Carlos Drummond de Andrade. Proponham aos alunos que conheçam alguma obra do poeta, para além de poemas esparsos. Sugerimos especialmente Rosa do povo, Sentimento do mundo ou Lição de coisas, obras que consideramos as mais próximas das temáticas do livro A grande ilusão.

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H) O autor cita ainda muitos outros autores (parte da nata da nossa litera tura), dos quais cada aluno poderia ler uma obra, apresentando uma síntese dela, depois da leitura. Essa síntese poderia funcionar como uma bela motivação para a leitura dos colegas. Autores citados: os prosadores Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Jorge Amado, Caio Fernando Abreu, José Maria Mayrink, Hilda Hilst, Murilo Rubião, Ignácio Loyola Brandão, Roberto Drummond, e os poetas Antonio Barreto, Cecília Meireles e Adélia Prado. De Raduan Nassar, os alunos podem ler o Lavoura arcaica (publicado em 1975 pela José Olympio e atualmente editado pela Companhia das Letras) e ver o filme de mesmo título, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, 2001.

I) Para os especialmente ligados à História, proponham conhecer os tra balhos de um grande historiador brasileiro, Hélio Silva, de vida riquíssima, iniciando por sua formação em Medicina, passando em seguida para o campo do Jornalismo e da História, terminando seus dias como religioso da ordem dos beneditinos.

J) No campo da arte cinematográfica, o autor cita uma obra muito importante do diretor norte-americano Oliver Stone, Salvador — o martírio de um povo, 1986, sobre a guerra civil em El Salvador, país visitado por Emediato como repórter naquela época.

Proponham aos interessados em cinema verem e discutirem esse filme, à luz das crônicas de Emediato sobre o mesmo assunto.

K) Outro belo filme de cujo título Emediato lança mão (e expressa ideia semelhante) é Somos todos assassinos, de 1952, dirigido pelo francês André Cayatte.

Proponham aos alunos que vejam o filme e façam um paralelo com a crônica, que começa e acaba com a mesma frase.

L) O outro lado do paraíso é título de uma narrativa infantojuvenil de Emediato e também de um filme, inspirado nesse livro e dirigido por André Ristum, 2014.

Proponham aos alunos que vejam e discutam esse filme sob a ótica das crônicas especialmente do bloco Em família.

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M) A violência policial, de que temos notícia sobretudo em nosso país e algumas vezes nos Estados Unidos da América, desta vez retratada em Londres, aparece em Jean Charles, belo filme brasileiro, sobre um imi grante nosso em terras britânicas, do diretor Henrique Goldman, 2009.

Vale a pena propor à turma ver esse filme e comentá-lo, comparando-o com várias crônicas que tratam do mesmo tema.

N) Outro filme brasileiro, muito relacionado com o livro de Emediato, é Pixote, a lei do mais fraco, dirigido por Héctor Babenco, 1980. O filme é baseado em um romance de José Louzeiro, Pixote: infância dos mortos, que tem várias edições por editoras diferentes.

Proponham aos alunos que leiam o livro e assistam a esse drama, relacionan do-o com a crônica em que o Pixote é mencionado: “Somos todos assassinos”.

O) O grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, internacionalmente aplaudido e premiado, tem não apenas exposições, mas também livros extraídos delas, belíssimos, sempre em preto e branco, nos quais focaliza a situação dos imigrantes, o tratamento desumano a que são submetidos, às vezes em seu próprio país, quando procuram paz ou melhores condições de vida em outro lugar.

Proponham a seus alunos comentarem as imagens do artista sobretudo em dois títulos: Terra e Êxodos.

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5. BIBLIOGRAFIA COMENTADA

Indicamos a seguir algumas obras que podem ser interessantes para vocês, seja para enriquecer suas leituras, com relação à arte e sua importância na formação do sujeito, seja para lhes dar subsídios quanto à sua atuação, no trabalho com a literatura, seja para revisar algum item por acaso mais remoto nos seus estu dos, especificamente em torno dos gêneros literários e a crônica. As obras têm complexidade variada: além de pensarmos, eventualmente, numa leitura ade quada até para os alunos, sugerimos algumas leituras mais aprofundadas, que cada um pode ir fazendo ao longo dos dias, na medida do possível. Nem todas serão encontradas com a mesma facilidade, mas muitas podem ser encontradas para leitura até na internet. O comentário em torno de cada título poderá orientar as prioridades de cada um de vocês.

ALONSO, Damaso. Poesia espanhola. Ensaio de métodos e limites estilísticos. Rio de Janeiro: INL, 1960. Apesar do título, a obra traz uma reflexão extraordinária (que abrange mais do que a poesia e alcança a obra literária em qualquer gênero) sobre as relações entre o escritor e os vários tipos de leitores: do simples fruidor até o crítico. Os três capítulos sobre os vários conhecimentos da obra são fundamentais, sobretudo para quem atua como professor/mediador de leitura.

BENDER, Flora & LAURITO, Ilka. Crônica — história, teoria e prática. São Paulo: Scipione, 1993. Obra importantíssima, com alentados e ricos capítulos sobre a história e a teoria do gênero. É uma proposta de exercícios de leitura de crônicas de diferentes “feitios”.

BRAS, Luiz. Muitas peles. São Paulo: Terracota, 2011. A obra, constituída de vários ensaios, trata de literatura, autores, editores e crítica. Há, ainda, uma discussão interessante sobre gêneros literários considerados menores, central no capítulo “Duas elites”.

CANDIDO, Antonio. “O direito à literatura”. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. (Há reedição recente da Ouro sobre Azul) Reunindo artigos e ensaios sobre vários autores brasileiros da maior importância, entre prosadores e poetas, o livro torna-se fundamental especialmente por sua reflexão sobre a transcendência do homem, que, em qualquer

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época e em qualquer idade, tanto sonha, como imagina — o que é fun damental para seu desenvolvimento, feita no capítulo indicado.

_______________. “A literatura e a formação do homem”. Ciência e Cultura, v. 24, n. 9, 1972.

Este ensaio trata, essencialmente, da mesma questão, referida na obra anterior: a literatura humaniza o homem, pelo que é essencial para a sua formação. Seria importante conhecer um dos dois textos de Antonio Candido, por sua argumentação irrefutável sobre a importância da litera tura e da leitura literária.

_______________ et alii: A crônica; o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui, 1992. (Org. Setor de Filologia da FCRB.)

Obra que compila os textos e discussões de um Seminário sobre o gênero, na Casa de Rui, com os nomes mais expressivos da crítica literária brasi leira, com quase trinta falas, focalizando suas origens fora e no Brasil e analisando a produção nos seus momentos mais significativos, e formatos mais praticados, como a crônica humorística, a mundana, a teatral, e chegando à análise de um “gênero limítrofe”, a crônica fotográfica do Rio de Janeiro. O texto introdutório, de Antonio Candido (“A vida ao rés do chão”), retomado de uma publicação para a Ática, vale como uma bela introdução a toda a reflexão que o livro nos convida a fazer.

CASTELLO, José. Crônica, um gênero brasileiro. Curitiba: Rascunho, set/2007. Praticamente uma crônica, muito bem embasada, ao mesmo tempo séria e muito divertida. Com clareza e também com ironia e simpatia, procura mostrar por quê, na opinião dele, a crônica se adaptou tão bem à cultura brasileira.

COSSON, Rildo. Letramento Literário — teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. Nessa obra, o autor defende o letramento literário como o grande papel do professor, tornando os estudantes leitores capazes de entender-se, entender seu ambiente e nele atuar. Apresenta uma parte prática, que começa exatamente como nós, na criação de motivos para se ler uma obra.

COUTINHO, Afrânio. “Ensaio e crônica”. In: COUTINHO, Afrânio, org. A literatura no Brasil. V. 6. Rio de Janeiro: Sul Americana, 1971. Apresenta a longa trajetória da crônica, desde o Romantismo, até chegar ao século XX, passando por seus escritores mais importantes, nos séculos IXX e XX, dando destaque a Rubem Braga. Como toda a obra, rigor das observações torna o capítulo importante, sobretudo nas questões da evo lução da crônica.

CUNHA, Maria Antonieta A. Mergulhando na leitura literária. Vol. 1. Belo Horizonte: SEE/MG, 2002.

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Embora em princípio destinada a professores do Ensino Fundamental, analisando textos literários, a obra tem uma introdução, que trata de questões importantes sobre razões de ler, objetivos de diferentes leituras, na educação, e sobre estratégias de abordagem da arte e da literatura.

ECO, Umberto. “O texto, o prazer e o consumo”. In: Sobre os espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. Trata-se de um livro que reúne ensaios e conferências feitas ao longo de pelo menos uma década, quando o autor foi refletindo e reformulando seus conceitos de literatura e outras artes, e representação, imagem e ilusão. Como sempre, vara muitas manifestações artísticas, entretenimento e a complexidade das comunicações contemporâneas. O capítulo indicado é especialmente importante na discussão entre consumo, arte e prazer.

__________.

A obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 2001. Obra fundamental para o entendimento das características fundamentais da arte, especialmente sobre a sua incompletude: ela, na verdade, só se “fecha”, se completa, com a participação do leitor, que vai preenchendo, segundo seu repertório de leitura e de vida, as lacunas da obra, deixadas pelo criador, propositadamente. Obra essencial.

GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2001. Além de um pequeno histórico do gênero, a obra trata dos pontos mais importantes de cada ingrediente da constituição da narrativa, detendo-se mais no estudo dos discursos, além de trabalhar conceitos como tema, assunto e mensagem. Indicada, aqui, dado que o livro tem crônicas nar rativas, que mereceram relevo.

JOLLES, André. Formas simples. São Paulo: Cultrix, 1976. Para chegar à caracterização do conto, o autor faz a análise de várias cria ções, que ele engloba na classificação de formas simples, mas distinguindo-as segundo suas possiblidades literárias. Embora não se referindo à crônica, interessa pela análise que faz de outros gêneros parelhos.

LEITE, Ligia Chiappini. Reinvenção da catedral. São Paulo: Cortez, 2005. Documentário, depoimento, reflexão: tudo está presente nessa obra não tão fácil, mas substancial, sobre a longa trajetória da Universidade (sagrada como uma catedral), da pesquisa acadêmica para os pares, até aproximar-se da pesquisa necessária para a escola pública. Se não puderem ler todo o livro, leiam, pelo menos, o capítulo “Literatura: Como? Por quê? Para quê?”

MARTINS, Luís. Do folhetim à crônica. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1972. (Coleção Ensaio)

Um excelente trabalho, traçando a evolução da crônica, desde sua chegada ao Brasil, e já se antecipando no “folhetim” sua face de entretenimento.

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MELO, José Marques de. “A crônica”. In: CASTRO, Gustavo de. Jornalismo e literatura: a sedução da palavra. São Paulo: Escritura, 2002.

O livro todo tem interesse, em especial o capítulo indicado, mostrando o hidridismo do gênero, e sua ligeireza, mesmo estilística e literária, decorrente mesmo do veículo em que se expõe.

PAULINO, Graça et al. Intertextualidades – Teoria e Prática. Belo Horizonte: Lê, 1997.

As autoras desenvolvem a ideia básica da intertextualidade como inerente à cultura, incluindo aí a criação artística. Estuda as diferentes formas do fenômeno. (A obra pode ser encontrada em edição da Formato.)

PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

Ao contrário do que muitas vezes se imagina, esta obra não é dirigida especialmente a professores dos primeiros anos de ensino. O autor aborda sobretudo a leitura de jovens, a quem são oferecidas (ou melhor: impostas) obras que falam pouco à sua vida, a seus gostos, à sua experiência de leitura (ou de escuta da literatura). Importante para todos os educadores que estejam dispostos a rever suas práticas de sala de aula, especialmente no tocante à exploração da literatura.

PORCHER, Louis. Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.

Traz uma reflexão extremamente lúcida sobre a importância das artes, em todas as suas formas, sempre, mas especialmente num tempo do império do mercado, do consumismo e da ligeireza, como o nosso. Tem um capí tulo excepcional sobre o teatro e sobre a poesia.

RABAN, Sophie (org.) L’intertextualité. Paris: Flammarion, 2002.

Se puderem, não deixem de ler esta obra da maior importância, na con sideração dos mais importantes aspectos e relações com outros conceitos, como plágio e autoria, grandes casos do fenômeno, além de seus principais teóricos, entre eles Kristeva,Barthes, Riffaterre e Bakhtin.

SANT'ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & cia. São Paulo: Ática, 1998.

O grande poeta apresenta, de modo muito didático, como convém à coleção a que pertence, sobretudo através desses tipos de intertextualidade, sua importância na construção da obra literária.

SEPPIA, Ofelia et alii. Entre libros y lectores I. El texto literario. Buenos Aires: Lugar Editorial, 2003.

Se tiverem acesso a essa obra, não percam a oportunidade de a ler toda. Criada por um grupo de especialistas argentinos, detém-se nas várias questões que dificultam com frequência que estudantes se aproximem da leitura literária. Tem uma excelente conceituação da arte literária e dos

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gêneros literários e suas características. O capítulo sobre narrativa é espe cialmente interessante.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura em curso. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.

Professor de peso, o autor há décadas tem refletido não só sobre as questões ligadas à própria situação de professores e bibliotecários, frequentemente sem um gosto pronunciado pela leitura e uma leitura literária sistemática, mas também sobre as estratégias de leitura, essa obra se constrói quase como um depoimento e uma aguda reflexão sobre suas próprias experi ências como educador voltado para a formação do leitor.

SILVA JÚNIOR. Maurício Guilherme. Contra a “Revolução dos Caranguejos” — Carlos Heitor Cony e as crônicas de resistência ao golpe militar de 1964. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2012. (Tese de doutorado) Esse trabalho apresenta não apenas uma importante discussão sobre o gênero crônica, como também sobre a obra de Cony, trazendo ainda um panorama da literatura brasileira e a chamada “literatura de resistência”, a partir de 1964.

MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR 34
A GRANDE ILUSAO

A GRANDE ILUSAO

A Grande Ilusão

Luiz Fernando Emediato

ISBN: 978-65-88438-08-4

Temas: Projetos de vida, inquietações da juventude, Protagonismo juvenil e O poder transformador da arte

Gênero: Crônicas

Ensino Médio

Paratexto de apoio ao aluno e material digital: Maria Antonieta Antunes Cunha

EMEDIATO EDITORES LTDA

Rua João Pereira, 81 São Paulo | SP | 05074-070

1ª edição 2021

MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR 35
FERNANDO
˜ MATERIAL
ISBN (13) 978-65-88438-08-4
LUIZ
EMEDIATO A GRANDE ILUSAO
DIGITAL DO PROFESSOR
Por Maria Antonieta Antunes Cunha
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