carlos herculano lopes
Romance-argumento para o filme de Paulo Thiago, inspirado no poema “Caso do Vestido”, de Carlos Drummond de Andrade.
material digital do professor Por Maria Antonieta Antunes CunhaRomance-argumento para o filme de Paulo Thiago, inspirado no poema “Caso do Vestido”, de Carlos Drummond de Andrade.
material digital do professor Por Maria Antonieta Antunes Cunhacarta aos professores ................................................................. 3
1. propostas De atiViDaDes i ......................................................... 6
1.1 – introdução: esclarecendo algumas posições 6
1.2 – apresentando O Vestido – a pré-leitura ............................................ 7
1.3 – a primeira leitura da obra O Vestido 11
1.4 – a segunda leitura da obra 12
1.5 – indo além da novela – a pós-leitura 13
2. propostas De atiViDaDes ii 15
2.1 – alinhando nossas posições 15
2.2 – a pré-leitura de O Vestido 16 2.3 – a primeira leitura da obra 18 2.4 – a pós-leitura da obra ................................................................ 20
3. aprofunDamento: paralelo entre CASO DO VESTIDO e O VESTIDO 22 a aValiação 26
4. suGestÕes De referÊncias complementares – DialoGanDo com outras VoZes ............................................... 28
5. BiBlioGrafia comentaDa 31
prezados professores,
este manual, criado especialmente para vocês, tem a intenção de discutir e apresentar as atividades relacionadas à leitura do romance OVestido , de Carlos Herculano lopes, publi cado pela editora geração. seu objetivo primordial é levar até vocês informações sobre a obra e uma colaboração sobre formas de explorá-la com seus alunos, na nossa opinião, sobretudo, do último ano do ensino médio. tanto eles quanto vocês, mesmo fora da área de língua portuguesa, já terão recebido os exemplares do livro, possivelmente até os vídeos, e agora este manual, a partir do qual esperamos oferecer novas experiências sobre esta obra e para além dela, de modo que seus alunos estejam cada vez mais familiarizados com a nossa literatura contemporânea e mais interessados na leitura literária.
se já leram o livro, possivelmente também viram, entre os paratextos, um estudo apresentado ao estudante, com o objetivo de ajudá-lo em uma segunda leitura desta obra, cuja história, plantada numa pequena cidade mineira nos meados do século XX, tem como tema central a reconstrução familiar a partir do afeto.
observamos, no texto referido, o fato de que, em estudos de arte, análises e discus sões são feitas de um ponto de vista, mas que as obras de arte permitem, sempre, ângulos diferentes e fecundos de interpretação, mesmo porque elas são inesgotáveis: sempre se podem descobrir nelas cantos novos e inexplorados. dessa forma, mesmo adotando — como é inevitável — um ponto de vista, estamos abrindo possibilidades para outras formas de vê-la, e não imaginando que só há uma análise possível dela. o próprio edital do meC, propondo o aproveitamento da obra literária por vários professores da escola, além dos de língua portuguesa, sugere essa possibilidade, criada certamente pelas próprias características da obra de arte: o uso da conotação e sua consequente plurissignificação.
tais enfoques, distintos, podem e devem ser, segundo entendemos, complementares, e não excludentes. eles não são um problema das manifestações artísticas: são a sua maior riqueza. podemos dizer que a obra de arte é, mesmo sem saber, democrática e generosa: aceita e aplaude as suas diferentes leituras. por isso mesmo, Umberto eco, um de nossos maiores estudiosos e escritores, fala em “obra aberta”, com muitas entradas e muitas saídas, por onde entrem e saiam seus fruidores, conforme sua história de vida, seu envolvimento com artes e com a literatura.
dada essa complementaridade de enfoques, é fundamental que um bom planejamento da escola cuide da leitura não só do romance de que vamos tratar, mas também deste
manual, de modo que os professores estejam à vontade quanto à organização dessa nova experiência de exploração da obra: que áreas a trabalharão, em que sequência, ou se uma só se incumbirá dela. desse modo se garantirá o melhor aproveitamento da obra pela turma, com muitos avanços e sem maiores redundâncias.
Nesse sentido, sem conhecer os docentes nem o planejamento escolar, nas sugestões a cada grupo de professores, seguiremos a própria organização indicada no mesmo edital do meC/fNde, privilegiando, e não impedindo, o movimento dos professores por diferentes áreas: não podemos esquecer que a literatura, como todas as artes, abre possibilidades, e não as fecha.
lembremos, já nesta conversa inicial, alguns pontos tratados no estudo da obra pro posto aos alunos.
No reiterado convite ao estudante para a segunda leitura da obra, nossa intenção ia além de apresentar as razões e vantagens dela. pretendíamos, sobretudo, garantir a eles o direito que todo leitor tem de primeira leitura “independente”, sem intermediários, um encontro aberto com o inesperado, assegurado aos próprios teóricos, especialistas e críticos: o diálogo desarmado entre autor e leitor.
muitas vezes, na ânsia de ganhar o aluno para determinada leitura, falamos dela muito mais do que é necessário para motivá-lo. ao contrário, apresentar informações indispensá veis e criar dúvidas e desafios em torno da leitura funcionará sempre como motivação, mas nunca como a “sua” leitura da obra. têm toda razão os teóricos que insistem na posição de que, nesse primeiro encontro, é fundamental que chegue ao fruidor, não a voz de outros (nem mesmo a do professor), mas a do criador. essa voz pode soar difícil, agradável, questionável, mas a “tradução” ou análise de qualquer outra dificultará as descobertas, questionamentos e opiniões pessoais do seu novo leitor.
Como veremos, a segunda leitura não retifica a primeira: abre horizontes, ilumina ângulos, mas, em princípio, nem sempre muda um dado fundamental: o gostar ou não da obra, elegê-la como uma de suas leituras de cabeceira.
por isso, é tão fundamental a segunda leitura, propiciada quase exclusivamente pela escola, que tem (ou deveria ter) não somente o objetivo de desenvolver em cada aluno o gosto e a procura espontânea da literatura, mas também o de tornar a leitura do aluno mais qualificada, propiciando o desenvolvimento de seu senso estético, seu espírito crítico, seu imaginário e sua criatividade. É uma das nossas oportunidades de ajudá-lo na percepção mais arguta e sensível não apenas do livro e da arte, mas também do mundo e da vida.
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No grande leque de opções oferecidas neste manual, para essa segunda leitura e os desdobramentos dela, a experiência de vocês e o conhecimento dos alunos é que vão poder definir aquelas que parecem mais adequadas à sua turma do momento, de modo a ajudar cada um a manter ou descobrir o prazer da leitura literária.
sabemos, como vocês, que essa não é, em geral, uma tarefa fácil. e, como em todo o processo educacional, as mudanças demoram a se evidenciar. mas nós, professores, temos paciência. e sabemos esperar e conviver com as situações difíceis (e driblá-las) de alunos que não gostam de determinada obra lida, ou de literatura, preferindo outras experiências artísticas; ou de alunos que, pela história de vida, leem pouco, ou leem mal: vamos ten tando novas estratégias, livros novos, experiências desafiadoras. sabemos perfeitamente que, se alunos têm o direito de não gostar de ler, nós temos a obrigação de acenar-lhes com a literatura, de achar que será possível, sempre, que eles descubram a arte, autores e obras que valham a pena. e — felizmente! — isso acontece mais do que supomos: muitos depoimentos e pesquisas mostram que a arte — especialmente, a literatura — pode ser descoberta tardiamente, por pessoas inimagináveis, por razões impensáveis. afinal, nós todos, humanos, estamos sempre procurando a transcendência. Como disse/diz fernando pessoa: a vida não basta — precisamos saber mais do que somos, onde estamos, para onde vamos, o que nos espera… desejamos a seus alunos, e também a vocês, que a leitura e as atividades baseadas na obra O Vestido proporcionem momentos de prazer e do melhor encontro com a arte.
equipe técnica da editora Geração
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(para professores de língua portuguesa e literatura)
1.1
ao apresentar a vocês nossa proposta de desenvolvimento do trabalho a ser feito com seus alunos, com relação à obra O Vestido, cujo tema é a reconstrução da família pelo afeto, gostaríamos de reafirmar o que já anunciamos na carta que abre este manual: nossas observações e sugestões de enfoques e de atividades são nossa colaboração para amplia rem as possibilidades de leitura de seus alunos e desenvolver neles o prazer da leitura, o caminho mais provável para o desenvolvermos leitores para a vida inteira.
Vocês têm uma vantagem importante na leitura deste material: conhecem suas turmas, o que ajuda enormemente a buscar, dentre nossas tantas sugestões, nas diversas seções do manual, as experiências mais adequadas e necessárias a seus alunos, considerando suas histórias de vida e seu potencial.
pedimos sua atenção para algumas questões, para nós muito importantes, ao trabalhar com algum tipo de arte na escola, especialmente com a literatura.
Um ponto fundamental e muitas vezes esquecido, no trabalho com a obra literária, é básico, em todas as discussões sobre arte: mais importante e o que deve vir em primeiro lugar é o encontro do fruidor com a obra. Nenhuma atividade, por mais sedutora que seja, pode substituir a percepção e o desfrutar da obra. por isso, insistimos tanto na primeira leitura, independente e desgarrada da análise do professor, ou do crítico. só depois desse contato é que cabem as tantas e selecionadas atividades de releitura, iluminando o texto e tornando-o, quase sempre, mais significativo, ao mesmo tempo em que habilita o estu dante a leituras mais amplas e profundas, sob a orientação entusiasmada dos professores.
outro ponto a considerar é a — até certo ponto justificada — dissociação entre tra balho/esforço e prazer, como se fossem forças antagônicas. e não é assim, na maioria das vezes: o problema não é o esforço, é a experiência valer o esforço. se valer, é feito com pra zer. assim, alguém treina e se cansa, na raia da piscina, se o exercício tem significado para a
pessoa e se torna gratificante. Costumamos escolher livros “mais fáceis”, “menos volumosos”, como se os alunos não conseguissem “ler mais”, ou ler “obras mais complexas”. em primeiro lugar, esses adjetivos não qualificam nem desqualificam nenhuma obra. em segundo lugar, se o assunto é interessante, se lhes diz respeito e os atrai, o “livro grosso” vai ser lido. parece que um bom princípio da educação, na escola, ou em família, é propor um grau de desafio a ser enfrentado e superado: parece que a facilidade quase nunca é motivadora. por isso, nossa sugestão é que acreditem no potencial de seus alunos, tentem avançar, sem passos gigantescos, o que vocês pensam que é o limite deles. para dar um salto mais alto, o atleta tem que tentar a próxima marca. Como costumamos dizer: não duvidem da força da arte, nem de seus alunos, nem de vocês. em geral, dá bons resultados a experiência de alterar as sugestões de leituras e estratégias, criar e lhes oferecer, algumas vezes, o novo e inesperado.
por fim, sugerimos pensar nos costumeiros alunos não ligados à literatura. Na nossa opinião, em algum momento dos estudos eles podem vir a ser conquistados, mesmo que não seja uma conquista nossa. mais importante é nós não criarmos barreiras, portas fechadas para a literatura e a arte. tentando sempre uma conversa, um livro e um tema novos, já faremos um bem, se não os afastar da leitura literária: um livro, alguém, um anúncio, pode, um dia funcionar como insight, e eles descobrirem o gosto pela poesia ou pelas narrativas. Vocês sabem que essas descobertas tardias existem, não sabem?
Vamos aqui sugerir atividades para três momentos fundamentais de qualquer expe riência educativa:
a) o da “motivação: acenando ao leitor com motivos para ler a obra; b) o acompanhamento do “processo da leitura” (com formas de fazer a segunda leitura); c) a ampliação de experiências, depois da releitura, seja aprofundando algum ponto distintivo do gênero, ativando a própria expressão pessoal e criativa do aluno, seja propondo o diálogo da obra com outras artes e outras vivências humanas.
mais adiante, vamos tratar de outro momento crucial da nossa atuação como profes sores: a avaliação. por enquanto, só gostaríamos de lembrar que várias questões afloradas no texto de apoio ao aluno serão mais desenvolvidas aqui, pelo que vale a pena levar em conta as reflexões ou informações lá expostas.
este momento inicial de contato do aluno com a obra por nosso intermédio é sem pre estratégico, dado que a maioria dos alunos não têm o costume frequente de procurar
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leituras novas. obras novas precisam ser apresentadas a eles, de modo que vejam motivos para mergulhar numa nova leitura. É importante sugerir aos alunos muitas obras que valem a pena ser lidas, e outras tantas que merecem uma segunda leitura. Nos dois casos, os alunos precisam ver na obra alguma razão sua para o tal mergulho: um assunto que lhes interessa claramente, o autor, que eles conhecem e fale de situações que eles vivem, uma pergunta sem resposta ainda que lhes atice a curiosidade.
Conhecendo bem seus alunos, vocês podem perfeitamente já ter pensado, dentre as inúmeras situações que O Vestido apresenta, algumas capazes de falar de perto a eles.
a seguir sugerimos-lhes algumas possibilidades de apresentação deste romance a seus alunos, muitas delas bastante básicas; outras já usadas por vocês e que, com pequenos ajustes à obra, podem dar excelentes resultados. Vejam quais poderão funcionar melhor para os alunos que estão à sua frente. algumas vezes, apresentamos enfoques e possíveis respostas para alguma questão, mas tudo isso deve passar pelo crivo da avaliação de vocês. lembramos que nossa sugestão é que a obra seja trabalhada, no caso de cursos regulares, no terceiro ano do ensino médio.
Conforme a região e o perfil de sua escola, várias questões, como as de gênero, de política, de convivência social, aparecem na obra, além da questão central do triângulo amoroso.
Conversem com eles sobre suas preferências de leitura. sugestão de perguntas:
• Quando vocês vão escolher um livro de literatura para ler, que tipo de livro procuram: poesia, contos, crônicas, romances?
• Vocês têm autores e temas preferidos? Como descobriram os autores e por que a escolha de tais temas?
• Vocês costumam ler romances brasileiros espontaneamente? Por que sim, ou não? preferem os clássicos ou os contemporâneos?
• Vocês assistem a novelas? O que mais interessa nelas?
• Vocês acreditam no amor incondicional e eterno? Leem livros em que ele aparece?
Conforme a discussão, vocês podem ir acrescentando perguntas, ponderações e argumentos.
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Não se trata apenas de estabelecer uma conversa com a turma: importa saber como eles reagem não só à leitura literária, mas o que os mobiliza para esse tipo de leitura.
depoimentos dos alunos sobre suas experiências e interesses podem ajudar muito no caminho para a apresentação da obra, seu gênero e seu autor.
apresentem a sua próxima sugestão de leitura: O Vestido.
Apresentação da obra
• observação da capa – imagem e título
Como sabem, a capa de qualquer livro tem a intenção de chamar ao máximo a atenção de leitores para a obra e seu conteúdo, esteja numa biblioteca, numa sala de aula ou em uma livraria. por isso, vale a pena falar dela com seus alunos, procurando aguçar a capacidade de análise desse item, em qualquer circunstância.
• o título e a imagem da capa
peçam aos alunos que observem todos os elementos da capa: os dois rostos em primeiro plano (parte deles, em “ close ”), e, entre eles, também em primeiro plano, um cabide, aparentemente com um vestido predominantemente vermelho. Vejam se notam expressões diferentes nos dois rostos. Que imaginam contar a história, a partir dessa capa principal?
São, obviamente, rostos femininos. O rosto da direita observa o da esquerda, com certa expressão de indagação, enquanto o outro olha além, outra coisa ou alguém fora do foco. O que se pode supor é uma disputa de duas mulheres, mas não podemos ir além disso. Sabemos que o vestido é importante: está entre elas, e é o título da história. Eles podem imaginar situações em que duas mulheres disputam uma roupa: desfile, cerimônia, ou festa, com duas vestindo um mesmo modelo; um homem, fascinando com a mulher que usa vestido exuberante.
apresentem os nomes das duas personagens: Ângela e Bárbara.
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Aparentemente, a escolha dos dois nomes já sugere campos e atitudes diferentes: o nome “Ângela” tem relação com “anjo”, enquanto “Bárbara”, historicamente nos remete a invasores cruéis [bárbaros].
Neste momento, ainda, os alunos estarão especulando com vocês. É o campo, por enquanto, das suposições. Então, várias hipóteses são, em princípio, possíveis. Deixem que os alunos façam suas conjecturas: é a melhor forma de explorar uma capa.
Às nossas perguntas ou sugestões, vocês poderão acrescentar outras, suscitadas pelos próprios alunos, ou as que, segundo sua experiência, motivarão seus alunos a mergulharem na leitura.
tratem, também, do autor e do romance.
• apresentação do autor
Carlos Herculano lopes (mostrem a foto dele) é jornalista e escritor, considerado um dos mais importantes de minas. desde cedo, ainda adolescente, mostrou claro talento como contador de histórias, tornando-se mais tarde especialista no gênero narrativo: tem romances e contos premiados, pela sua capacidade de mesclar dados da realidade ambiente e com elementos de fantasia e mistério, dando à narrativa uma dramaticidade que permite que sejam levadas facilmente para o teatro e o cinema. Nasceu em Coluna, na região onde vai se passar esta história.
a biografia mais extensa do escritor está no próprio livro, com todas as indicações, publicações e prêmios.
• O Vestido, um exemplo do gênero romance
acreditamos que a experiência da turma e as informações constantes do texto de estudo da obra, no próprio livro do estudante, sejam suficientes para caracterizar o gênero romance e incluir O Vestido nesse tipo de narrativa, obviamente afastando-o, inicialmente pela extensão, da novela. se for o caso, estenda a conversa sobre o gênero, observando como o caracterizam, e inclusive os tipos que preferem: policiais, históricos, de amor etc. a bibliografia comentada, no final do manual, poderá ajudar vocês e mesmo os alunos a recuperarem eventuais aspectos do gênero.
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apresentado o romance, é hora de começar a primeira leitura. Combinem com os alunos um tempo razoável para isso. dado que não é um texto curto, vejam as reais condições de tempo da turma e o necessário para uma leitura sem grande pressão. Já lhes informem a próxima atividade a respeito do livro: a roda de leitura.
Nesse prazo dado, não deixem de conversar por alguns minutos de cada aula sobre como está se desenvolvendo a leitura: estão gostando da história? em que ponto do romance estão? Querem comentar alguma passagem? Já acabaram a leitura?
esse tempo curto dispensado aos alunos faz enorme diferença na relação deles com a obra e com vocês. Vai ajudá-los a avaliarem o envolvimento deles com o romance e darlhes segurança quanto à forma como vocês cuidam desse processo de leitura.
esta atividade é uma excelente oportunidade para os alunos apresentarem sua pri meira impressão da obra, quando vocês conseguem perceber mais claramente problemas de leitura, e mesmo visão de mundo de cada um. Como é um levantamento sobre a leitura intuitiva, essa roda deve transcorrer em um clima de descontração e total liberdade de expressão, no qual opiniões e observações, mesmo discordantes ou aparentemente absur das, são levadas em conta, discutidas e respeitadas. proponham algumas questões como:
a leitura foi difícil? as hipóteses deles, no estudo da capa, se confirmaram? o que acham importante destacar nas demais questões tratadas no romance? leram o texto de apoio à leitura? antes ou depois da leitura da narrativa?
Os depoimentos verdadeiros, apresentados espontaneamente, são sempre dados a mais para a melhor orientação dos trabalhos seguintes. É um momento importante para a observação de opiniões, reações e pontos de vista diferentes e de garantir o direito das divergências de gosto e de interpretações de fatos e personagens. Talvez surjam questões que serão discutidas mais a fundo, na segunda leitura. Nesse caso, informem que elas serão tratadas mais adiante. Vejam que essa roda funciona, em geral, como uma preparação para a segunda leitura.
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depois dessa roda de leitura, expliquem a próxima etapa da experiência com a obra: uma retomada do romance, em grupos, para análise de alguns de seus aspectos interessantes. propomos cinco perfis femininos do romance, para serem tratados por um ou dois grupos, e depois apresentados à turma. sempre que possível, pontos e grupos devem ser de livre escolha da turma. se, eventualmente, tiverem ocorrido a vocês, a partir da roda de leitura ou em outro momento da conversa sobre a obra, outras questões que auxiliem os alunos nessa segunda leitura, sintam-se à vontade para acrescentá-las às propostas que se seguem.
a criação das figuras femininas é considerada um ponto de destaque nas obras de Carlos Herculano; e a elas ele dá voz, inclusive, como protagonistas narradoras. Como esta análise acaba tangenciando outras questões, relativas às relações amorosas e casamento, mas também aos códigos sociais masculinos, por exemplo, mesmo os rapazes terão certamente o que comentar a esse respeito.
proponham que cada grupo (ou dois) analise as características de uma das personagens abaixo, inclusive no contexto da cidade.
a) Ângela B) tia Zilá C) Bárbara d) dona Vanda e) a “Vossa avó” (na fala de Ângela)
No estudo apresentado ao estudante, no final do livro, a análise das personagens é propositadamente incompleta, para proporcionar este momento de releitura do romance. Cada uma deve ser cuidadosamente observada em cada passagem em que aparece, porque, de certo modo, elas representam papéis diferentes, numa sociedade de características patriarcais, e muitos preconceitos podem transparecer aí. e certamente as ambiguidades e lados diferentes delas vão aparecer, o que mostra a qualidade desses “retratos”. Não se pode esquecer que todas elas são apresentadas sob o ângulo de uma envolvida com todas as personagens.
se bem conduzido, o trabalho em grupo é sempre uma excelente atividade não ape nas de linguagem oral (de fala e de escuta), tanto no pequeno grupo, quanto no segundo momento, envolvendo toda a turma: é um exercício de convivência, de respeito a opiniões divergentes, de debate de posições, incluindo até as dos professores.
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se houver mais de um grupo trabalhando o mesmo ponto, é melhor que se apresen tem em sequência, de modo que as divergências fiquem mais evidentes e sejam discutidas com toda a turma. talvez, nesse caso específico de análise de personagens femininas, seja interessante discutir a constituição dos grupos misturando ou não alunas e alunos.
sugerimos que, logo após a escolha da personagem a ser estudada, definam também os prazos para a apresentação dos trabalhos para a turma toda. definam, também um tempo médio para tal exposição. sugiram que todos do grupo falem, em vez de um só, representando todos. É fundamental que a turma tenha oportunidade de questionar e sugerir interpretações, cabendo a vocês a mediação da atividade.
lembrem-se também da importância da avaliação dos trabalhos, feita por vocês, sempre depois que eles mesmos comentam a exposição do grupo. esse momento é sempre fundamental para os alunos, independentemente de notas. mesmo eventuais enganos do grupo podem ser analisados de modo propositivo, apresentando sugestões e elementos que possam fazer avançar a leitura deles.
Como podem ver, por meio da cuidadosa observação das opiniões e da volta constante a aspectos do romance, estamos garantindo uma segunda leitura segura.
Nossas experiências como leitores, mas também o trabalho de promoção da leitu ra, mostram que, fechado um bom livro, ele continua vivendo conosco, sobretudo após a segunda leitura. se seus alunos tiveram um bom envolvimento com o romance, muitas vezes ele voltará à sua lembrança, renovando emoções e propiciando novas reflexões. É um bom momento para enriquecer a experiência, nesse desdobramento da leitura do romance. eis algumas sugestões para esse momento, à escolha de cada aluno ou grupo, conforme o caso.
a) Ângela, em alguns momentos da narrativa, cita o escravo isidoro, que viveu na região.
proponham aos interessados, para uma apresentação em sala, uma pesquisa sobre esse escravo, documentada em vários tipos de textos.
B) Carlos Herculano lopes escreveu outros livros, que, conforme a maturi dade da turma e a sua experiência de leitura, poderão ser indicados para os alunos mais interessados no autor. aos que lerem essas obras, proponham um pequeno comentário sobre a obra lida, numa comparação com OVestido.
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C) Como sabem, há palavras cujo significado é considerado imoral, ou muito ofensivo, ou capaz de chamar o azar. elas ficam interditadas em muitas comunidades. para elas, a língua, que é, afinal, a representação dos seus falantes (por isso, Chomsky afirma que a língua não informa sobre o mundo: informa o mundo das pessoas que a usam), cria muitos “sinônimos”, eufe mismos, para substituí-las. o dicionário vai mostrar a riqueza dos verbetes dos vocábulos interditados: tais verbetes costumam ser os seus maiores!
proponham, a partir das palavras que no romance são sinônimas de “prosti tuta”, e procurem outras, que sofrem a mesma interdição. alguns exemplos: demônio, nomes de doenças, como câncer, alguns palavrões. Vejam, em várias delas, uma gradação, sobretudo se exprimem xingamentos.
Nas seções seguintes deste manual, com diferentes enfoques, serão apresen tadas sugestões de novas experiências sobre a obra OVestido, ou inspiradas no romance. Como costumamos dizer, a obra de arte é sempre uma porta que se abre a novas reflexões, um convite a rever posições e formas de vermos o mundo e a nós mesmos.
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(para professores das áreas de linguagens, exceto língua portuguesa, e ciências humanas e sociais aplicadas)
Caros professores, Nesta seção dedicada a vocês, que lidam com outras disciplinas da área de linguagens e das Ciências Humanas e sociais aplicadas, pedimos que leiam o item 1.1- Introdução – Esclarecendo algumas posições, à página 6 deste manual, dado que os princípios lá expressos não podem ser outros, tratando-se de nossas convicções sobre o trabalho com a literatura na escola.
reforçamos, também, nossa convicção de que os professores interessados e vocacio nados podem perfeitamente extrapolar e ousar, valendo-se de atividades indicadas para outras áreas, desde que acertadas as experiências no planejamento da escola: felizmente, nossos conhecimentos e talentos costumam ir muito além do que fazemos no estrito campo em que atuamos. as indicações de áreas, aqui, são uma orientação inicial, para que cada escola, em função de seus professores, defina com eles como se dará o aproveitamento das experiências sugeridas, a serem escolhidas sobretudo em função dos alunos e suas peculiaridades. tomara que todas elas se tornem viáveis para a sua turma!
aqui também, no desenvolvimento das atividades, usaremos o esquema adotado na seção anterior: criação de motivação, o acompanhamento da primeira e da segunda leituras, e atividades após a leitura.
É claro que, se pelo planejamento da escola, couber a vocês uma segunda explora ção da obra, serão necessárias modificações e até reduções de algumas atividades, para que não se perca tempo com questões já tratadas: há tantas possibilidades de trabalho sugeridas neste manual, além das pensadas por vocês, que certamente poderão fazer uma exploração da obra diferente e rica, sem repetições sem sentido. Nossa esperança é que sempre se tire o melhor das características do livro e dos professores interessados nele, e
se ofereçam aos alunos elementos que possibilitem o seu desenvolvimento, como pessoas e como estudantes.
apresentamos, mais adiante, atividades específicas de motivação dos alunos para a leitura do romance. mas é muito importante, sobretudo neste momento de motivação, que já esteja definido como será explorado o romance na sua turma, segundo o planeja mento da escola. se forem trabalhar o livro depois do estudo dele em língua portuguesa, as sugestões para vocês estão mais adiante. No entanto, se forem os primeiros a trabalhar com ele, nada impede que utilizem algumas das atividades propostas na seção anterior, destinadas a professores de língua portuguesa.
por que insistimos nesse ponto? porque, sobretudo no caso de criar o interesse pela leitura de determinada obra, alguns elementos são praticamente insubstituíveis, como a análise da capa (ou das capas).
o s movimentos naturais de quem decide fazer alguma coisa variam pouco. Como dizem os psicólogos, fazemos o que temos necessidade de fazer (infelizmente, até para fugir de castigos!). s e vamos a uma livraria comprar um livro, ou a uma biblioteca escolher um livro para ler, detemo-nos na análise do título e em outras informações da capa: autor, editora, imagem. p rocuramos dicas na quarta capa, que costuma trazer dados da obra, e até nas eventuais orelhas, para sentirmos o que esperar daquela leitura. podemos, também, folhear a obra, ler um ou outro parágrafo. temos, assim, alguns dados para nos orientar na decisão de ler/comprar o livro. Vocês, ao fazerem a motivação, têm que usar os melhores recursos para isso, e certamente capa, título e autor são algumas dessas ferramentas.
Vocês, mesmo sendo de outras áreas que não da literatura ou das artes, com toda certeza compram livros ficcionais, e analisam também com olhos diferentes as suas capas. sabem o que procurar numa capa de livro informativo e científico, e o que buscar numa capa de obra literária: o mesmo princípio que orienta o texto de cada um: num, o referencial; noutro, as conotações. Num, o maior número possível de dados exatos; noutro, a maior porcentagem possível de ambiguidades e de linguagem figurada. enfim, um descobre, o outro encobre. e como é importante que cada um tenha claros esses preceitos, não é?
se, eventualmente, não são vocês os primeiros a trabalhar com O Vestido, procurem saber que questões foram abordadas, para que possam escolher outras, ou considerar outros ângulos da obra. de todo modo, é sempre bom recuperar com os alunos o mais importante
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do que viram, até mesmo para saber quanto do romance eles retiveram, seja do autor, seja dos assuntos do romance, para daí fazer surgirem motivos para a turma reler a obra.
• leitura do início do primeiro capítulo
sobretudo se forem os primeiros a trabalhar a obra, uma excelente estratégia para motivar a leitura é vocês lerem um trecho significativo da introdução da obra.
façam a leitura do início do primeiro capítulo, sua primeira página, até o ponto em que a mãe decide que vai contar a história. informem aos alunos que vocês vão ler o início do livro que estão propondo como próxima leitura da turma. apresentem apenas o título da obra e comecem a leitura.
Consideramos a leitura para os alunos, feita pelo professor, um dos expedientes mais eficazes na conquista dos ouvintes para a leitura de uma obra. Na apresentação da obra, ou em algum momento em que percebemos alguma dificuldade ou equívoco, na relação da turma com a obra, seu efeito é sempre altamente positivo, desde que não improvisada e seja ensaiada em voz alta, para se explorarem todas as possibilidades do texto.
• apresentação da capa e do autor
analisem, em seguida, a imagem da capa. (a lguns detalhes dela foram abordados na seção 1.) incentivem os alunos a imaginarem que tipo de história vão ler, a partir dos dados do texto e da capa.
sobre o autor, escolham entre os dados da biografia aqueles que acreditam ajudar a criar o interesse pela obra. o fato, por exemplo, de ter vários textos e livros levados para a televisão e para o cinema já indica sua capacidade não apenas de grande narrador, como também de certa dramaticidade (clara nesta obra), que combina com esses dois campos artísticos.
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Aqui também, nossa suposição é de que estão sendo os primeiros professores a trabalharem a obra. Se não for assim, a roda de leitura pode ser a estratégia para saberem o que já foi abordado na obra e que questões podem ainda ser abordadas, como parte de uma releitura.
Nesse momento, os alunos vão entrar em contato com a obra, fazendo sua primeira leitura. É bom combinar um prazo razoável para isso, levando em consideração as caracte rísticas da turma. informem, também, sobre texto de apoio no final do livro, observando que o melhor é que o leiam depois da novela.
Como sempre pedimos, reservem sempre alguns minutos das aulas, até o dia com binado, para os alunos falarem de dúvidas (inclusive sobre o texto de apoio referido), dar opiniões, de modo que não se sintam sozinhos na leitura e percebam claramente seu interesse no envolvimento deles com a obra.
aqui também funciona bem a roda de leitura, onde cada aluno é incentivado a expor sua opinião sobre a novela com total liberdade: foi ou não interessante; que elemento (positivo ou negativo) destacariam na narrativa. essa roda é, na verdade, um princípio da “segunda leitura”, proposta no texto de apoio feito para eles. por isso, façam dela uma oportunidade de debate entre ideias e opiniões opostas: permitam as divergências, lembrem passagens da novela, sem coibir nem impor nenhuma opinião — nem a de vocês. podem aproveitar a roda para ver se algum dos temas a serem tratados mais adiante foi observado por eles e ir introduzindo a ótica que vocês privilegiarão na segunda leitura da obra.
• a segunda leitura da obra
proporemos aqui uma série de discussões, inicialmente feitas em grupos, definidos preferencialmente pela própria turma.
tais discussões visam a aprofundar questões que O Vestido sugere, de maneira mais ou menos explícita. Cada grupo (ou dois grupos, conforme o interesse da turma) discutirá, por um prazo acertado com todos, um dos problemas ou pergunta proposta, para depois levar suas conclusões à turma toda. desse modo, as ideias principais veiculadas na história voltarão à pauta, realizando-se, desse modo, a tão importante “segunda leitura”. sempre que possível, é bom que cada tema seja de livre escolha dos grupos.
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durante a preparação dos grupos, é interessante reservar, de novo, alguns minutos das aulas, para responder dúvidas e indicar fontes de pesquisa, se for o caso. (a bibliografia indicada ao final prevê a possibilidade de os alunos quererem fazer outras leituras de apoio.)
Combinem com a turma o prazo adequado para o estudo em grupo e o tempo dispo nível para as apresentações, que poderá ser em torno de 20 minutos, de modo a garantir o debate com a turma toda.
será sempre fundamental o comentário final de vocês, sublinhando também os acertos e indicando algum ponto que, a seu juízo, mereceria destaque.
a) em muitos momentos, a narradora alude ao uso constante de armas pelos homens (as mulheres até carregam, ou escondem as armas dos maridos na bolsa) e fala de dois assassinatos.
proponham ao grupo (ou grupos) que analise(m) as cenas em que armas e assassinatos são apresentados. o que elas sugerem? os dois assassinatos são tratados da mesma maneira? Na região dos alunos, como a questão de porte e uso de armas é percebida?
Essa questão, volta e meia é discustida no Brasil; e também por isso é bom que seja debatida: que vantagem o uso de armas traz para a população em geral?
Peçam que conversem com adultos familiares e outros de sua convivência e que tragam os argumentos para a discussão em grupo e depois com a turma.
B) Na narrativa, há elementos que podem identificar uma sociedade machista? Que situações da narrativa podem ajudá-los a sustentar sua resposta?
Peçam aos alunos — moças e rapazes — que deem sua opinião, a partir dos exemplos, que são inúmeros na narrativa, desde a frequência a lugares, até a vida familiar e comportamentos em geral. Na fala de Ângela, muitas vezes, é até aceita essa “organização familiar”. Relacionem as situações com o momento atual: ele continua existindo? Que elementos comprovam ou negam sua existência hoje?
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C) para além da questão do machismo, analisem outras facetas de algumas personagens masculinas do romance e seu papel na sociedade ou na trama principal.
– fausto – Ulisses
– padre olímpio
– tio Jeremias
Como classificar ou entender o caráter de alguns, sua atuação numa sociedade onde dominam o dinheiro e o poder, a importância de cada um em relação a Ângela. Procurem explicar a escolha dos nomes dessas figuras, quando for o caso, especialmente Ulisses, Fausto e tio Jeremias. Para isso, vão precisar ir da mitologia grega à Bíblia.
Como sempre dizemos, fechado o bom livro, ele ainda vai fazer companhia por muito tempo ou pela vida toda ao leitor. essa é uma ótima oportunidade para os professores darem munição para essa ressonância. propomos, neste momento, algumas atividades ins piradas no romance e que podem feitas por toda a turma. Como sempre, é fundamental a avaliação do que é oportuno para seus alunos.
a) Carlos Herculano, além de excelente narrador, tem uma ótima prosa, que agrada demais aos alunos, com quem se reúne em escolas pelo Brasil afora, ou nas reuniões virtuais, mais usadas ultimamente.
proponham aos alunos convidar o escritor para ir à escola, para uma entre vista sobre o livro, sua vida e sua obra, ou um encontro virtual com ele.
B) a narradora faz menção ao contratador de diamantes português, na região de diamantina, José fernandes de oliveira, e a seu romance com a escrava Chica da silva.
proponham à turma ou a um grupo interessado pesquisar nos livros de História e em vários artigos bem atuais essas duas figuras.
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C) No final do romance, Ângela fala da prisão do fotógrafo comunista seu pequeno, onde aparece também seu comentário sobre o governo de getúlio Vargas: “É isso, meu amigo, o que acontece na democracia de Vargas”.
proponham à turma pesquisar a segunda passagem de getúlio Vargas na presidência do Brasil. lembrem a eles que seria, na narrativa, o ano de 1954, quando se deu o seu (para muitos, discutível) suicídio.
d) se acharem oportuno, estudem na narrativa o que sugere ser a religião cató lica predominante em serra dourada. No entanto, em muitos momentos aparecem, depoimentos sobre o uso, ou hipóteses do uso dos chamados “feitiços”.
proponham a discussão desse procedimento de “dupla convicção religiosa”. Vejam se conhecem exemplos disso, o que eles revelam, em termos de crença religiosa, e se eventualmente são um mal.
Não se trata, em hipótese nenhuma, de desrespeitar qualquer tipo de crença e prática, que possam esclarecer um pouco até sobre essa cultura miscigenada brasileira. Estamos no campo dos valores, que têm de ser respeitados, a menos que sejam antidemocráticos. Estamos falando, aqui, de uma discussão de misturas de práticas religiosas, com princípios muitos diferentes, e que marcam até hoje muitas comunidades brasileiras. Se for possível e considerado adequado pela escola, vale até uma entrevista com pessoas da área da antropologia.
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(para professores de língua portuguesa e literatura)
Nesta seção, dedicada sobretudo a vocês, professores de língua portuguesa, achamos que vale a pena trazer para seus alunos o poema que deu origem ao romance e ver como se deu a transformação de um poema de 150 versos em um romance de 40 capítulos, nesta edição, com 177 páginas, já excluídas as páginas que não constituem a história. michel tournier, grande escritor francês, afirma que podemos avaliar a qualidade e o significado de uma obra pelo número de vezes que ela foi reescrita ou reinterpretada. pois Carlos Herculano vai mais longe, no caso da reescrita de Caso do Vestido: ele o reescreveu, para roteiro do filme de paulo thiago; e o reescreveu como romance. esse fato já diz da importância do poema de drummond.
É fundamental que os alunos leiam o poema, que está disponível no site: http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet194.htm
a primeira atividade que cabe a vocês, sem dúvida, é uma bela leitura em voz alta do poema, que é extraordinário, reunindo um alto grau de poesia num texto narrativo, mas que tem uma grande teatralidade. Nós mesmos já tivemos oportunidade de apresentar o poema como uma cena dramática, e vocês poderão fazer, depois, a mesma experiência com seus alunos.
• leitura de Caso do Vestido
depois da leitura, distribuam o texto aos alunos, para falarem da composição de todo o poema em estrofes de dois versos, o chamado “dístico”, que permite a troca rápida de falas, muitas pausas rápidas, que sugerem um ritmo acelerado (talvez porque o pai pode chegar), quase ofegante, ditado pela emoção.
ainda explorando o poema, mostrem que há nele o mesmo expediente do flash-back do romance, uma narrativa dentro de outra narrativa.
A primeira narrativa, curtíssima, é constituída dos oito primeiros dísticos, que trazem o diálogo entre mãe e filhas, e a pergunta insistente delas sobre aquele vestido sempre pendurado no prego da parede, e que vai ensejar o Ela é retomada no último dístico, com a chegada do pai, prevista em alguns versos — o que nos antecipa um “final feliz”, ou razoavelmente bem-resolvido.
• a volta ao passado – uma história completa, em flash-back
o flash-back, que vai do nono dístico até o penúltimo, que tem o segundo verso já no presente, terminando a volta ao passado, terá a organização típica de qualquer texto narra tivo, com introdução, desenvolvimento (com complicação e clímax), resolução e desfecho.
— peçam que eles procurem essa estrutura narrativa em flash-back no poema, comen tando o mais interessante em cada passagem.
Introdução: 2 dísticos – 9 e 10: a dona de longe, e o pai enamorado. Complicação: dísticos de 11 a 23: de o transtorno do pai, até o pedido da mãe à mulher.
Clímax: dísticos de 24 a 32: o sofrimento da mãe, o sumiço do pai. Resolução: dísticos de 33 a 47: volta e confissão da dona de longe.
Desfecho: dísticos de 48 a 74: volta do marido.
Volta à primeira cena: último dístico: mãe alerta as filhas da chegada do pai.
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Deixem que eles falem de sua percepção, quanto à expressividade dos versos, frases de impacto – “O mundo é grande e pequeno”; um paralelo entre os sofrimentos, feito pelas duas mulheres, e terminando nos dois casos com o sumiço do marido.
A resposta terá muito de pessoal, porque o poema possivelmente suscitará emoções distintas neles.
— façam com os alunos a análise dos versos do desfecho, que apresenta uma des crição comovente feita pela mãe, dos gestos e das feições do marido.
Depois da frase seca do marido [Mulher, põe mais um prato na mesa], ela “obedece”, ela o observa em silêncio: “ele se assentou,/comeu, limpou o suor,/era sempre o mesmo homem/comia meio de lado e nem estava mais velho.”
Notem os verbos passando do pretérito perfeito para o imperfeito, até o penúltimo dístico, em que a sensação de sonho ruim acabado volta a perfeito, para passar, finalmente para o presente: “vestido não há… nem nada.”
— Vejam, ainda, com a turma a oposição entre a solenidade dramática do pronome de tratamento “vosso”, e do pronome possessivo “nossa”, como se as filhas falassem jun tas, e os traços da linguagem oral (“vosso pai evém chegando”, mistura de pronomes, na conversa da “dona” com a mãe, por exemplo).
— depois dessa breve análise de alguns dados do poema, perguntem sobre proxi midades e diferenças percebidas entre as duas narrativas: a de drummond e a de Carlos Herculano.
No próprio romance há muitos versos extraídos do poema, e eles certamente vão identificá-los com facilidade. Em geral, são os mais expressivos. Há, ainda, além das situações mais evidentes, de desespero da mãe, da confissão da “dona Soberba”, por exemplo, há detalhes do poema que viraram muitas cenas: as visitas à sogra (“visitei vossos parentes”, “tive uma febre terçã”.
mas, além de toda a história paralela da sociedade de serra dourada, nome que substitui o da cidade de diamantina, no próprio caso do vestido há diferenças, como a própria localização da história, que não é feita no poema, podendo ocorrer em quase todo o Brasil: afinal, a sociedade patriarcal dominava (e ainda domina, em muitas questões).
outra distinção importante diz respeito às filhas que, no poema, aparecem com suas perguntas e algumas interferências. sua introdução, como vimos, é um diálogo cada vez mais intrigado, e até aflito, das filhas com a mãe, até ela decidir contar a história do
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vestido. No romance, a mãe retoma a última frase delas, abrindo a narrativa, e sempre é ela que repete a fala que as meninas teriam.
releiam esse momento para os alunos e mostrem-lhes o crescendo das emoções delas.
outra diferença é a do próprio vestido: no poema, era da própria “dona ruim”, desconhecida enquanto no romance foi dado pela mãe a Bárbara. de todo modo, ele é o símbolo de sedução, a ponto de Ângela não o achar adequado e não usá-lo.
o que podemos assegurar mesmo é a grande dramaticidade das suas criações, ambas de grande valor humano e literário.
• propostas de produção escrita
1. sugiram aos alunos a produção de um texto em que apresentem sua posi ção sobre o amor incondicional — de mãe ou pai, de filho, de mulher ou marido, namorados: deve existir?; ele não tem limites?
2. sugiram aos alunos a produção de uma carta a alguém, desculpando-se por uma indelicadeza ou falha séria em que tenham incorrido.
3. sugiram que escolham alguma cena do romance de Carlos Herculano que tenham considerado especialmente generosa e que a descrevam.
Vale a pena lembrar que vocês possivelmente terão alunos vocacionados para a escrita literária, mas não podemos esperar isso de todos eles. então, cabe, sempre orientar esses alunos talentosos na escrita literária. para os outros, é necessário valorizar e buscar a produção escrita bem feita, coerente, adequada ao tema, com argumentos e ideias bem amarrados, correta, do ponto de vista linguístico, mas não demandar deles a escrita literária.
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Como prometemos, falemos um pouco desta questão fundamental em qualquer teoria educacional: a avaliação.
antes de mais nada, vale lembrar que a avaliação — quer dizer, a criação de juízos sobre situações, acontecimentos e pessoas — é uma constante na vida de qualquer um. e é sempre bom pensarmos nessa característica humana. mas interessa aqui o momento final de experiências de aprendizagem, que se acumula na chamada avaliação continuada (formativa), e que tem características, a nosso ver, muito distintas, conforme a área e o processo de aprendizagem.
recorrendo rapidamente, mas sempre, às posições do grande filósofo da educação elliot eisner, podemos dizer que a escola trabalha objetivos instrucionais (nos quais a pessoa aprende o que é — e isso ela faz em várias disciplinas e conteúdos, que todos os indivíduos são capazes de aprender), e objetivos expressivos (nos quais a pessoa aprende a analisar, avaliar e, eventualmente, transformar o quê — e ela faz isso em contato com outros tipos de conhecimento, por meio dos quais desenvolve gostos, opiniões, atitudes, crenças e ideais).
Nos primeiros objetivos, interessa o resultado; nos segundos, o processo, que é dife rente e tem caminhos próprios para cada um. a literatura, como todas as artes, atende sobretudo a esse segundo campo de objetivos. e, obviamente, cada um desses campos têm formas diferentes de avaliar, porque querem pesar coisas diferentes.
Com relação à avaliação da área expressiva e de qualquer experiência envolvendo a arte, questiona-se muito a validade e a pertinência das formas convencionais de avaliação (resumo, provas, fichas, questionários com perguntas “objetivas”). as artes não são ciências exatas: nelas, predomina a subjetividade. Com relação a elas, raramente se tem uma resposta “incorreta”, porque, plurissignificativas por princípio, possibilitam muitas interpretações e reações, criam várias perguntas e várias respostas possíveis, ou até não querem respostas — apenas, a fruição de diferentes emoções, reflexões impensadas — tudo isso diferente para cada um, e até diverso em cada um, em momentos distintos de sua vida.
se acreditamos nisso, temos de nos perguntar: o que “medir”, e com que medida vamos avaliar as experiências propostas neste manual, se gostos, opiniões, preferências,
crenças (e até determinados talentos) não podem ser impostos, nem cobrados? dentre as experiências propostas, quais as que podem, realmente, ter uma avaliação objetiva, merecendo até uma nota? Quando cabe uma autoavaliação adequada?
estas são questões fundamentais, que devem fazer parte do melhor planejamento da escola, no tratamento das aprendizagens instrucionais e expressivas, para o que nos compete apenas fazer a proposta de discussão.
insistimos sempre na ideia de que a obra de arte é uma busca de diálogo — primeiro, do criador consigo mesmo, procurando entender-se pela expressão; depois, do criador com o fruidor: do músico, do cantor, do escultor, do diretor do filme, do escritor com o seu “leitor”. Nesse diálogo mais próximo, revela-se uma outra conversa — a do artista com a História — seja a atual, seja a de momentos muito longínquos. dizemos sempre que somos devedores e herdeiros das vidas e do mundo anterior. de algum modo, somos resultados dele. muitos afirmam, por isso mesmo, que a cultura é sempre intertextual: repetimos todos, inclusive os artistas, muito do que vivenciamos. eles, os artistas, fazem isso com refinamento, e expressam em suas obras inquietações, surpresas e momentos de encantamento com os feitos humanos. muitos abordam os mesmos fatos e feitos. Nenhum está sozinho no seu tema, ainda que inove enormemente na forma, ou na interpretação dos acontecimentos. enfim, todo artista, independentemente de sua importância, traz em sua criação, conscientemente ou não, muitas outras vozes e acontecimentos que o inspiraram, assim como a outros artistas e a outros intelectuais, na forma ou no conteúdo.
apresentamos abaixo sugestões de experiências estéticas em várias áreas, que, em nossa opinião, dialogam de algum modo com o romance que acabaram de ler. indicamos uma série de obras — livros, composições musicais ou filmes — citadas no livro ou relacionadas com o tema do romance. em alguns casos, como em filmes mais recentes, tentamos sugerir obras que possibilitem um paralelo com o romance, até com a inversão de papéis e diferentes formas de tratar as relações amorosas e os impasses que elas podem trazer, para a família, ou para a profissão, por exemplo.
Não nos esqueçamos de que todas são apresentadas como escolhas, não apenas por dever ser sempre uma opção individual, mas também porque nem todas estarão disponíveis para a turma no momento do trabalho. alguma, de especial interesse dos alunos, ou que vocês considerem imprescindível, pode ser vista, ou ouvida, ou lida, para uma discussão com todo o grupo. as que forem vistas poderão ser apresentadas à turma pelo aluno ou pelo grupo que teve a experiência. Vale lembrar, ainda, que as obras têm complexidade variada, e talvez seja o caso de uma conversa com cada aluno sobre suas escolhas, para ajudá-los
nas suas opções, mas também como forma de vocês mesmos avaliarem os interesses da turma. as sugestões acabam valendo para um longo período da vida deles.
lembremos, ainda: essas novas experiências poderão ser de pura fruição, sem mais comentários, nem discussão em sala: já sabemos que a primeira leitura, intuitiva, de puro prazer, deixa rastros importantes, embora às vezes imperceptíveis e não imediatos, no imaginário e no repertório de vivências de cada um.
1. apresentamos sugestões de obras literárias, tangenciando, de alguma forma, questões abordadas pelo romance, sobretudo com relação à questão do amor e questionando-o, em vários casos. alguns são clássicos mundiais e brasileiros, mas indicamos alguns estrangeiros. lembramos, ainda, alguns citados no romance.
a) os dois primeiros são de machado de assis, que vários alunos já leram, mas que valem a pena ser relidos: Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, ambos com várias e diferentes edições;
B) Encontro marcado, clássico de fernando sabino, editora record;
C) Madame Bovary, de gustave flaubert, publicada por várias editoras;
d) Xica da Silva: a Cinderela negra, de ana miranda, editora record;
e) Ângela relata algumas preferências literárias de Ulisses, como o poeta augusto dos anjos, que também está publicado por várias editoras. o da paz e terra, Toda a poesia de Augusto dos Anjos, tem um estudo crítico de outro grande poeta nosso: ferreira gullar;
f) Dom Quixote (de la Mancha), presente na biblioteca de Ulisses, é o roman ce mais lido e mais editado no mundo — e não é por acaso. Vale a pena conhecer ou revisitar essa obra, que tem também um amor inventado e, portanto, impossível. o livro tem várias adaptações para leitores jovens, que valem a pena;
g ) Um escritor citado pelo d r. r amon e da maior importância é o espa nhol federico g arcía l orca, poeta e dramaturgo, fuzilado na g uerra Civil espanhola. pelo menos uma de suas peças mais importantes, Bodas de Sangue , tem algumas traduções no Brasil, pelas editoras m artin Claret e peixoto Neto.
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2. seria interessante que os alunos assistissem ao filme O Vestido, do diretor paulo thiago (2004), cujo roteiro, como já salientamos, é do próprio Carlos Herculano, com soluções narrativas diferentes em alguns momentos.
3. proponham à turma assistir Xica da Silva, filme de Cacá diegues, entre o drama e a comédia, que conta a história da paixão já mencionada entre o contratador de diamantes João fernandes e a escrava liberta Chica silva. de certo modo, podemos ver semelhanças entre essa paixão e a da narrada no romance.
4. s ugiram à turma que assistam a filmes contemporâneos excelentes que mostram soluções diferentes para relações amorosas — um belo drama e um musical:
a) As pontes de Madison, do diretor Clint eastwood, 1995.
b) La la land, cantando estações, do diretor damien Chazelle, 2016.
5. as serenatas de diamantina são famosas não apenas em minas gerais, mas em todo o Brasil, atraindo uma grande quantidade de turistas. as Vesperatas de diamantina têm calendário e uma bela programação. sugiram a seus alunos conhecerem essa celebração musical típica. NoYoutube eles poderão encontrar vários vídeos relativos às serestas diamantinenses e as composições musicais que as animam.
antes de chegarmos à seção de Bibliografia Comentada, gostaríamos de expressar nossa confiança no trabalho de qualidade que poderão desenvolver com seus alunos, na busca de cada vez mais leitores da nossa literatura, mas também de estudantes convictos da importância da arte, não apenas para seu lazer prazeroso e frutífero, mas para seu enriquecimento como estudantes e como pessoas. Que este instigante romance O vestido colabore com isso!
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a bibliografia que lhes sugerimos abaixo é, certamente, muito mais extensa do que seria necessário para uma eventual consulta em termos do gênero narrativo e, especialmente, do romance. para os mais interessados na obra de Herculano lopes, indicamos uma pesquisa sobre sua produção, citada na sua biografia. mas aproveitamos a oportunidade para ofere cer-lhes algumas leituras que, ao longo de sua atuação, podem ajudar-lhes nas reflexões que frequentemente vocês, com certeza, retomam, para rever posições ou simplesmente reativar sua energia, na certeza de que estão no caminho certo. assim, há alguns livros sobre a arte em geral e seu significado na formação da pessoa; e outros sobre questões mais gerais de literatura, que precisamos ter em mente, quando trabalhamos com qualquer obra literária, independentemente do gênero.
obviamente, os títulos não só têm complexidade diferente, como também não estarão todos à sua disposição na biblioteca da escola ou em outra da cidade. mas é importante saber que existem e eventualmente podem ser encontrados na internet. Uma entrevista interessante do autor “o que a literatura me deu”, até para os alunos, está em www.ecofuturo.org.br/blog.
algumas obras são bastante simples, podendo até ser indicadas a seus alunos, se quiserem aprofundar-se em algum ponto da discussão. o comentário de cada obra pode ajudá-los a direcionar as prioridades de cada um.
ALONSO, Dámaso. Poesia espanhola ensaio de métodos e limites estilísticos. rio de Janeiro: iNl, 1960.esta obra traz uma reflexão extraordinária (que abrange mais do que a poesia e alcança a obra literária em qualquer gênero) sobre as relações entre o escritor e os vários tipos de leitores: do simples fruidor até o crítico. os três capítulos sobre os diferentes conhecimentos da obra são fundamentais, sobretudo para quem atua como professor/mediador de leitura.
BAKHTIN, m a Teoria do romance I são paulo: editora 34, n/d. livro fundamental para professores, especialmente de língua portuguesa e literatura; desenvolve a questão da polifonia nos romances, que tem interesse no caso da obra estudada aqui.
BOSI, alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira são paulo: Cultrix, 2017. Nesta obra, onde se estudam vários períodos da produção literária brasileira, o autor acaba por nos oferecer uma reflexão importante sobre as relações entre sociedade, cultura e a literatura.
BRAFF, roseli deienno. A maldição de Eva: vozes femininas nos romances a dança dos cabelos, sombras de julho e o vestido, de Carlos Herculano lopes. araraquara: UNesp, 2016. trata-se de uma pesquisa sobre as figuras femininas nos livros de Carlos Herculano lopes, dando importância à sua voz, num contexto social patriarcal e marcado pelo machismo. está disponível em: http://hdl.handle.net/11449/138312.
CÂNDIDO, antônio. “o direito à literatura”. in: Vários escritos são paulo: duas Cidades, 1995. reunindo artigos e ensaios sobre vários autores brasileiros da maior importância, entre prosadores e poetas, o livro torna-se fundamental especialmente por sua reflexão sobre a transcendência do homem, que, em qualquer época e em qualquer idade tanto sonha, como imagina — o que é fundamental para seu desenvolvimento, feita no capítulo indicado.
___________. a literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura, v. 24, n. 9, 1972. este artigo trata, essencialmente, da mesma questão, referida na obra anterior: a literatura humaniza o homem, pelo que é essencial para a sua formação. seria impor tante conhecer um desses dois textos de antônio Cândido, por sua argumentação irrefutável sobre a importância da literatura e da leitura literária.
COSSON, rildo. Letramento Literário – teoria e prática. são paulo: Contexto, 2006. Nessa obra, o autor defende o letramento literário como o grande papel do professor, tornando os estudantes leitores capazes de entender-se, entender seu ambiente e nele atuar. apresenta uma parte prática, que começa exatamente como nós, na criação de motivos para se ler uma obra.
CUNHA, maria antonieta a Mergulhando na leitura literária. Vol. 1. Belo Horizonte: see/ mg, 2002. embora em princípio destinada a professores do ensino fundamental, analisando textos literários, a obra tem uma introdução que trata de questões importantes sobre razões de ler, objetivos de diferentes leituras, na educação, sobre estratégias de abordagem da arte e da literatura e a avaliação de experiências envolvendo a arte.
ECO, Umberto. “o texto, o prazer e o consumo”. in: Sobre os espelhos e outros ensaios. rio de Janeiro: Nova fronteira, 1989. trata-se de um livro que reúne ensaios e conferências feitas ao longo de pelo menos uma década, quando o autor foi refletindo e reformulando seus conceitos de literatura e outras artes, e representação, imagem e ilusão. Como sempre, vara muitas manifes tações artísticas, entretenimento e a complexidade das comunicações contemporâneas.
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o capítulo indicado é especialmente importante na discussão entre consumo, arte e prazer.
__________.
A obra aberta são paulo: perspectiva, 2001. obra fundamental para o entendimento das características fundamentais da arte, especialmente sobre a sua incompletude: ela, na verdade, só se “fecha”, se completa, com a participação do leitor, que vai preenchendo, segundo seu repertório de leitura e de vida, as lacunas da obra, deixadas propositadamente pelo criador. obra essencial.
ESCARPIT, robert. Sociologie de la littérature. paris: presses Universitaires de france, 1974. se possível, leiam essa obra desse professor, reconhecido mundialmente por seus estudos sociológicos e históricos envolvendo a literatura. Nesse livro, depois de uma introdução, na qual defende uma abordagem diferente da literatura, baseada nas vias de acesso a ela possíveis para os leitores, ele foca questões primordiais em três grandes capítulos (produção, distribuição e consumo da arte literária), acabando por distinguir “consumidores” de “conhecedores” da literatura.
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas são paulo: Ática, 2001. além de um pequeno histórico do gênero, a obra trata dos pontos mais importantes de cada ingrediente da constituição da narrativa, detendo-se mais no estudo dos discursos, além de trabalhar conceitos como tema, assunto e mensagem.
GUERRA, ernesto da Cal. Língua e estilo de Eça de Queiroz. são paulo: tempo Brasileiro/ editora da Universidade de são paulo. este livro, ao estudar a obra do grande romancista português, acaba iluminando aspectos importantes na construção narrativa, especialmente do gênero romance.
GULLAR, ferreira. poesia e realidade. in: Uma luz do chão. rio de Janeiro: avenir, 1978. especialmente esse capítulo fala do escritor (embora fale como poeta), de como só ele é capaz de definir seu texto, independentemente das regras da moda ou das teorias literárias. sobretudo, fala da importância do leitor para dar vida ao que o artista escreve. LAJOLO, marisa. Como e por que ler o romance brasileiro. são paulo: objetiva, 2012. Com sua forma fácil de explicar as teorias, a pesquisadora e professora traça a evo lução do gênero romance desde sua publicação em jornais, passando do desprestígio até a valorização e a produção respeitada dos dias de hoje.
LEITE, lígia Chiappini. Reinvenção da catedral são paulo: Cortez, 2005. documentário, depoimento, reflexão: tudo está presente nessa obra não tão fácil, mas substancial, sobre a longa trajetória da Universidade (sagrada como uma cate dral), da pesquisa acadêmica para os pares, até aproximar-se da pesquisa necessária para a escola pública. se não puderem ler todo o livro, leiam, pelo menos, o capítulo “literatura: Como? por quê? para quê?”.
________________. O foco narrativo são paulo: Ática, 1988. Como sempre faz, a pesquisadora parte de evolução da questão, desde aristóteles, até chegar às indagações de roland Barthes, sempre apontando para a importância fundadora da perspectiva do narrador em qualquer obra ficcional.
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MOISÉS, massaud. A criação literária prosa i são paulo: Cultrix, 2000. todo o estudo do gênero narrativo é muito interessante, mesmo considerando algumas classificações discutíveis de romances como novelas, e tem importantes observações sobre a teoria do gênero.
PENNAC, daniel. Como um romance rio de Janeiro: rocco, 1993. esta obra tornou-se um clássico nas questões de promoção da leitura não só na frança. embora seja interessante ser lida o mais cedo possível por professores que lidam com a leitura literária, não é dirigida especificamente a professores dos primeiros anos de ensino. o autor aborda, sobretudo, a leitura de jovens, a quem são oferecidas (ou melhor: impostas) obras que falam pouco à sua vida, a seus gostos, à sua experiência de leitura (ou de escuta da literatura). importante para todos os educadores dispostos a rever suas práticas de sala de aula, especialmente no tocante à exploração da literatura.
PORCHER, louis. Educação artística: luxo ou necessidade? são paulo: summus, 1982. traz uma reflexão extremamente lúcida sobre a importância das artes, em todas as suas formas, sempre, mas especialmente num tempo do império do mercado, do consumismo e da ligeireza, como o nosso. tem um capítulo excepcional sobre o teatro e a poesia.
PORTELLA, eduardo. Teoria Literária. são paulo: tempo Brasileiro, 1975. esta obra tem capítulos muito interessantes, especialmente o relativo aos gêneros literários, onde o autor se ocupa do romance brasileiro.
SEPPIA , ofelia et alii. Entre libros y lectores I el texto literario. Buenos a ires: lugar editorial, 2003. se tiverem acesso a essa obra, não percam a oportunidade de lê-la toda. Criada por um grupo de especialistas argentinos, detém-se nas várias questões que dificultam com frequência que estudantes se aproximem da leitura literária. tem uma excelente conceituação da arte literária e dos gêneros literários e suas características. o capítulo sobre o gênero narrativo é bastante elucidativo.
SILVA, ezequiel theodoro da. Leitura em curso. Campinas, sp: autores associados, 2003. professor e pesquisador de peso, o autor há décadas tem refletido não só sobre as questões ligadas à própria situação de professores e bibliotecários (frequentemente sem um gosto pronunciado pela leitura e uma leitura literária sistemática), mas às estratégias de leitura. essa obra, pertencendo a uma “trilogia pedagógica”, constrói-se quase como um depoimento e uma aguda reflexão sobre suas próprias experiências como educador voltado para a formação do leitor. acaba por se dizer um composto complexo do que leu e ouviu.
SILVA, Vítor manuel aguiar e. Teoria da literatura são paulo: martins fontes, 1976. Nos capítulos dedicados aos gêneros literários, o escritor e crítico português faz um estudo bastante alentado sobre o surgimento e as características do gênero romance.
________________________. A estrutura do romance. Coimbra: editora Coimbra, 1974. Nessa obra, o autor aprofunda as questões da origem e da constituição do gênero romance, em parte expostas na obra anterior.
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O vestido
Carlos Herculano lopes
isBN: 978-65-88439-02-9
Tema: a reconstrução familiar pelo afeto Gênero: romance ensino médio
Paratexto de apoio ao aluno e material digital: maria antonieta antunes Cunha
EMEDIATO EDITORES LTDA
rua João pereira, 81 são paulo – sp – 05074-070
1ª edição 2021
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