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Dialogando com outras vozes

4. SUGESTÕES DE REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES – Dialogando com outras vozes

Como sempre frisamos, a obra de arte é sempre uma pretendida forma de diálogo. Mas não se trata apenas do diálogo mais imediato e já sublinhado aqui entre o escritor e o leitor, caso quase sempre mais claro na crônica e, em especial, neste cronista. Falamos, aqui, num diálogo mais amplo, que todos nós fazemos com a nossa história, e que o artista consegue realçar. Tanto ou mais do que nós, ele se mostra herdeiro da vida de sua gente e do mundo. Assim, todo artista traz em seu texto, conscientemente ou não, muitas outras vozes que o inspiraram, com quem sua obra dialoga. Já salientamos o uso frequente da citação que faz Emediato, além de outras formas de intertextualidade.

Apresentamos abaixo propostas de experiências artísticas e culturais, mencionadas ou derivadas das crônicas de Emediato. Sugerimos a leitura de obras literárias, mas também filmes e composições musicais e o estudo especial de alguns de seus criadores. Não imaginamos que tudo possa ser experimentado e vivido no seu ano letivo. Para nós, representam possibilidades de alargamento de horizontes, que cada aluno deve se sentir à vontade para escolher, dentro de seus interesses — imediatos e futuros.

À medida que tais experiências se concretizem na sua turma, vejam as que poderão ser compartilhadas e as que serão de pura fruição de um dos alunos, ou de um grupo: de alguma forma, elas terão repercussão não somente na vida estudantil, mas também ao longo da vida de cada um.

A) Numa das crônicas do bloco Pessoas, o autor conversa com Rita Lee, uma artista importantíssima não apenas da música, como da vida cultural brasileira.

Sugiram a seus alunos que procurem conhecer a vida dela (hoje, com 73 anos), composições musicais suas e sua múltipla atuação no cenário nacional.

B) O autor parece especialmente ligado à música, tanto erudita, quanto a popular. Cita também outros nomes muito significativos da música brasileira: Chico Buarque de Holanda, Caetano, Raul Seixas, Belchior, Milton Nascimento e um dos maiores letristas da nossa música: Fernando

Brant, o principal parceiro de Milton. Peçam à turma que se divida em grupos e traga para a sala informações e algumas das composições mais importantes de cada um deles.

C) Duas composições citadas, mas distantes até da juventude de Emediato consideradas clássicas na Música Popular Brasileira, cuja popularidade poderia ser pesquisada entre pais e avós e levadas, poderiam também ser ouvidas em sala de aula. São: Balada triste, de Dalton Vogeler e Esdras Silva (célebre na interpretação de vários cantores de composições sentimentais, como Ângela Maria e Agostinho dos Santos), e Luar do sertão, de João

Pernambucano e Catulo da Paixão Cearense, que tem belíssimas versões instrumentais, prefixo, às vezes, de programas governamentais de rádio.

D) Ainda citando composições musicais, uma das crônicas mais belas do livro cita Händel e sua opera Xerxes, cuja ária “Largo” é a mais conhecida.

Proponham à turma ouvir a ária, mesmo ser for a primeira experiência de música erudita dos alunos. Se for o caso, peçam a um professor de música que explique a função da ária na ópera.

E) Entre os músicos e bandas estrangeiras, sobretudo ligadas ao rock: o cronista cita não apenas os Beatles, U2, mas também Bill Haley e seus

Cometas. Cita alguns, que ele considera frutos da publicidade: Madonna,

Sting, Michael Jackson, em torno dos quais se pode propor à turma um debate sobre a posição do autor, ou mesmo o eventual sucesso criado pela TV e pelo rádio.

Façam uma pesquisa em torno das preferências dos alunos pelos músicos e artistas da música estrangeira. Estimulem-nos a conhecer algumas de suas composições.

F) Dentre tantos citados pelo autor, outro artista importante a se conhecer, e que cumpriu importante papel na vida brasileira, foi o cartunista Henfil.

Proponham aos alunos conhecer a sua obra.

G) No campo da literatura, várias vezes citado, está Carlos Drummond de

Andrade. Proponham aos alunos que conheçam alguma obra do poeta, para além de poemas esparsos. Sugerimos especialmente Rosa do povo,

Sentimento do mundo ou Lição de coisas, obras que consideramos as mais próximas das temáticas do livro A grande ilusão.

H) O autor cita ainda muitos outros autores (parte da nata da nossa literatura), dos quais cada aluno poderia ler uma obra, apresentando uma síntese dela, depois da leitura. Essa síntese poderia funcionar como uma bela motivação para a leitura dos colegas. Autores citados: os prosadores

Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Jorge Amado,

Caio Fernando Abreu, José Maria Mayrink, Hilda Hilst, Murilo Rubião,

Ignácio Loyola Brandão, Roberto Drummond, e os poetas Antonio

Barreto, Cecília Meireles e Adélia Prado. De Raduan Nassar, os alunos podem ler o Lavoura arcaica (publicado em 1975 pela José Olympio e atualmente editado pela Companhia das Letras) e ver o filme de mesmo título, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, 2001.

I) Para os especialmente ligados à História, proponham conhecer os trabalhos de um grande historiador brasileiro, Hélio Silva, de vida riquíssima, iniciando por sua formação em Medicina, passando em seguida para o campo do Jornalismo e da História, terminando seus dias como religioso da ordem dos beneditinos.

J) No campo da arte cinematográfica, o autor cita uma obra muito importante do diretor norte-americano Oliver Stone, Salvador — o martírio de um povo, 1986, sobre a guerra civil em El Salvador, país visitado por

Emediato como repórter naquela época.

Proponham aos interessados em cinema verem e discutirem esse filme, à luz das crônicas de Emediato sobre o mesmo assunto.

K) Outro belo filme de cujo título Emediato lança mão (e expressa ideia semelhante) é Somos todos assassinos, de 1952, dirigido pelo francês André

Cayatte.

Proponham aos alunos que vejam o filme e façam um paralelo com a crônica, que começa e acaba com a mesma frase.

L) O outro lado do paraíso é título de uma narrativa infantojuvenil de

Emediato e também de um filme, inspirado nesse livro e dirigido por

André Ristum, 2014.

Proponham aos alunos que vejam e discutam esse filme sob a ótica das crônicas especialmente do bloco Em família.

M) A violência policial, de que temos notícia sobretudo em nosso país e algumas vezes nos Estados Unidos da América, desta vez retratada em Londres, aparece em Jean Charles, belo filme brasileiro, sobre um imigrante nosso em terras britânicas, do diretor Henrique Goldman, 2009.

Vale a pena propor à turma ver esse filme e comentá-lo, comparando-o com várias crônicas que tratam do mesmo tema.

N) Outro filme brasileiro, muito relacionado com o livro de Emediato, é

Pixote, a lei do mais fraco, dirigido por Héctor Babenco, 1980. O filme é baseado em um romance de José Louzeiro, Pixote: infância dos mortos, que tem várias edições por editoras diferentes.

Proponham aos alunos que leiam o livro e assistam a esse drama, relacionando-o com a crônica em que o Pixote é mencionado: “Somos todos assassinos”.

O) O grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, internacionalmente aplaudido e premiado, tem não apenas exposições, mas também livros extraídos delas, belíssimos, sempre em preto e branco, nos quais focaliza a situação dos imigrantes, o tratamento desumano a que são submetidos, às vezes em seu próprio país, quando procuram paz ou melhores condições de vida em outro lugar.

Proponham a seus alunos comentarem as imagens do artista sobretudo em dois títulos: Terra e Êxodos.