E-book: Relacionamentos interculturais (Jan/2022)

Viajadamente A revista de saúde mental para imigrantes

Relacionamentos INTERCULTURAIS ARTIGO EXCLUSIVO

Quais são as particularidades de um relacionamento intercultural e como lidar com elas de forma saudável?

DEPOIMENTOS INÉDITOS Confira 2 depoimentos de leitoras(es) sobre as nuances de seus relacionamentos com estrangeiros (as/es).

ATIVIDADES PARA CASAIS INTERCULTURAIS Confira 2 atividades psicológicas para fortalecer intimidade e examinar sua relação intercultural.

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VOL. 2• ED. 4 Janeiro/2022 • €3 JANEIRO 2022

BEM VINDA(O/E) A BORDO. QUE BOM TE VER POR AQUI!

GABRIELLA D. S. Psicóloga e editora-chefe

A nossa forma de pensar, de sentir e de se expressar é aprendida num contexto cultural. Contexto este que é em grande parte (ou completamente) desconhecido quando nos relacionamos com um parceiro de uma nova cultura. O que no início é motivo de paixão, excitação, leveza e espontaneidade pode se tornar desafiador, enigmático e frustrante com o passar do tempo.

Relacionamentos interculturais possuem muitos pontos em comum com qualquer relacionamento, mas não podemos negligenciar fatores únicos como linguagem, particularidades de um relacionamento com um parceiro de uma subcultura (vulgo eu e provavelmente você), falta de background cultural em comum, estereótipos, papéis de gênero, entre outros.

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Todos esses aspectos existem e embora por vezes ignorados (especialmente nos estágios iniciais de uma relação), inevitavelmente acabam por influenciar a dinâmica do casal intercultural.

Tudo isso não deve necessariamente ser um problema nos relacionamentos.

Ao contrário, se os fatores citados forem tomados em consideração, podem servir como uma verdadeira alavanca para uma relação íntima, saudável e feliz. E esclarecer esses pontos para facilitar uma relação satisfatória para as duas pessoas envolvidas foi o objetivo principal desta edição.

Escrevê-la foi desafiadora para mim por dois motivos principais:

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(a) Cada casal tem em si uma identidade muito única e singular, o que torna difícil escrever para todos os casais interculturais e (b) foi o tema mais solicitado por vocês, o que aumenta levemente a pressão e a autocobrança que eu tenho ao escrever. Mas fique tranquilo(a/e), não é sobre você, é sobre mim.

Eu espero que a Viajadamente deste mês plante no seu coração uma semente próspera que vai te ajudar a analisar e enxergar sua vida amorosa com o carinho e cuidado que ela merece. É uma honra que você conte comigo nesse processo.

Como sempre, sugiro que você escolha um momento calmo e transforme a leitura numa atividade de autocuidado. Se você se sentir à vontade de fazê-lo, recorde esse momento e utilize hashtag #revistaviajadamente em suas redes sociais. Eu irei adorar ver sua foto e compartilhá-la em meu instagram! :) Com carinho,

Gabriella Dantas dos Santos Psicóloga e editora-chefe

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ÍN DI CE viajadamente jan • 2022

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ARTIGO - QUAL IDIOMA FALAREMOS QUANDO A PAIXÃO PASSAR?

NOVIDADES Anote em sua agenda as novidades do mês.

Sobre as dores e amores do relacionamento intercultural.

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RÚBRICA CULTURAL

DEPOIMENTOS

Dica de materiais incríveis para você investir no seu relacionamento e no seu desenvolvimento pessoal.

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Confira aqui 3 depoimentos lindos de leitores que vivem as particularidades de um amor internacional.

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ATIVIDADES

SE LIGA!

Realize 3 exercícios que vão te ajudar a pensar sobre seu relacionamento.

Este mês, conheça uma psi que faz um trabalho lindo no quadro #psispelomundo

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Sempre que você fizer sexo com alguém de uma raça diferente, pense nisso por um momento. Porque nada melhor do que ter um orgasmo enquanto pensamos em todos os progressos que fizemos em matéria de direitos civis neste país.

- Aziz Ansari

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Artigo

Qual idioma falaremos quando a passar?

paixão

Estar em um relacionamento intercultural oferece muitas descobertas lindas, engraçadas e curiosas, mas nem sempre simples.

Parte do tempo, a impressão pode ser a de que jamais encontraríamos um amor tão “feito para nós” se não nos aventurássemos a estar a milhares de quilômetros de casa. Que não poderíamos ter feito escolha melhor.

Que nascemos para viver essa linda história de amor e fazer dar certo.

Esses momentos nos fazem sentir felicidade e prazer. Outra parte do tempo, a impressão pode ser de que cada movimento feito, cada expressão utilizada, cada palavra dita deve ser explicada ao outro devido a falta de um passado minimamente similar.

Isso já pode nos fazer sentir desconexão, cansaço e por vezes desesperança.

Há vários pontos de um relacionamento intercultural que se as viajadamente jan • 2022

-semelham a qualquer outro relacionamento amoroso, mas não podemos negligenciar os pontos de diferença, pois estes devem ser considerados a fim de explorar a potencialidade do casal, fortalecer intimidade, nutrir discussões saudáveis e criar juntos um relacionamento satisfatório para as duas partes.

Relacionamentos interculturais são a junção de dois mundos outrora desconhecidos: Vocês precisam acordar um idioma em comum a ser utilizado, apresentar ao outro sua cultura, seus valores, sua família, os costumes brasileiros, a sua forma de refletir, as suas expressões, os seus gostos, a sua infância, as músicas que você escutou ao longo da sua vida…

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Absolutamente tudo é novo sobre o outro e no início, o que cria a base desse relacionamento é por vezes a paixão e a curiosidade desse aprendizado tão rico.

Porém, um dia esse aprendizado perde a sua intensidade e seu caráter inovador. O que sobra então? As trocas reais, as negociações entre as duas pessoas, a intimidade, a rotina e a escolha de ficar - também conhecida por muitos como “amor”. E sobre esse amor, há muito o que se falar, há muito o que se apreciar. A verdade é que, navegando em dupla nessas culturas percebe-se que há uma linda, única e especial terceira cultura que se forma: A identidade do casal (e/ou da família).

Seria impossível abordar a complexidade dos relacionamentos interculturais em somente uma edição da revista, por isso hoje iremos nos atentar à citar algumas particularidades de um amor internacional e em como vivê-las de uma forma saudável e feliz para as duas partes. viajadamente jan • 2022

Eu parto do pressuposto de que, se você chegou até aqui, é porque já sabe parcialmente a resposta para esta última pergunta.

Desejo que os próximos minutos de leitura possam te ajudar a se situar com maior clareza no seu relacionamento (ou no relacionamento que você busca) a fim de identificar caminhos de prosperidade para sua vida a dois (ou mais).

O IDIOMA FALADO No casal intercultural, diferente dos casais monoculturais, deve haver um consenso sobre o idioma que se fala.

Na maioria das vezes, esse consenso é implícito: Os primeiros encontros são feitos no idioma local, geralmente o país de origem de um e de acolhimento para o imigrante.

Vamos ao exemplo de Gina*, brasileira morando em Connecticut, nos Estados Unidos, onde aprende Inglês há dois anos. Em um belo dia, Gina encontra John, norte americano nascido e criado nos Estados Unidos, de onde nunca saiu.

*todas as pessoas citadas ao longo desse artigo são personagens fictícios, salvo quando sinalizado contrário.

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Não há, em nenhum ponto das trocas iniciais, um argumento sobre qual idioma devem utilizar: Gina sabe que a probabilidade de encontrar um estadunidense que fala português é mínima, John nem sequer questiona sobre o idioma a ser utilizado, pois vive num país criado para o John.

Vamos dizer que Gina e John comecem a se relacionar romanticamente. Neste caso há uma fluência por parte de John pelo fato de ser nativo, porém um real esforço que deve ser realizado por Gina, especialmente em momentos de discussão que demandam argumentações mais intensas e profundas.

Esses momentos devem ser vividos com muita paciência, empatia, compaixão e compreensão pelas duas partes, ou podem ser estressantes, frustrantes e não atingirem o objetivo final de um conflito, que é a resolução de problemas.

Em adição a isso, Gina possui suas próprias crenças e pode se forem de desvalor, ela sentir burra, incapaz, incompreendida diante de uma discussão mal-sucedida. viajadamente jan • 2022

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John pode se sentir igualmente incapaz e incompreendido, um parceiro insuficiente, e por aí vai…

Quanto mais distorções no sistema de crenças individual de cada um dos dois, mais eles tendem a se afastar da resolução do problema inicial.

Tínhamos dito DOIS MUNDOS, lembra?

Temos também um segundo caso menos comum, que é uma comunicação estabelecida num terceiro idioma (geralmente o Inglês) que não é nativo de nenhuma das duas partes. Neste caso, há um possível desencontro que pode aparecer em momentos nos quais uma conversa mais detalhada e in viajadamente jan • 2022

tensa é necessária.

Trocas linguísticas são importantes para o desenvolvimento da intimidade entre um casal e o idioma falado é grande parte dessa troca, por isso a impressão pode ser a de que estamos num relacionamento desprovido de verdadeiras trocas intelectuais (o que, por um lado, não é mesmo verdade?).

Em outras (menos comuns) ocasiões, a língua falada é a língua do imigrante (que o parceiro local acaba por aprender).

Aqui, percebemos que um movimento todo particular acontece: O efeito de "incomplitude" nas conversas pode existir assim como nos casos citados 9

acima, porém na identidade do casal, é como se a troca realizada fosse um pouco mais justa pelo fato do imigrante ter negociado tantas coisas (estar longe da família, dos amigos, de uma infância e adolescência construída no Brasil, etc.) e o parceiro, ao aprender português, jogasse uma moeda que finalmente tem valor comparativo a tudo o que o parceiro em condição de expatriado está oferecendo na relação.

Vamos ilustrar com o caso de Júlia que, apostando em uma relação até então à longa distância, mudou-se para Montréal há 3 anos, onde vive com seu parceiro Brendan, um canadense já apaixonado pela cultura brasileira e pela língua portuguesa antes mesmo de Júlia cruzar seu caminho. Júlia e Brendan conversam desde sempre em Português, pois se conheceram em uma visita turística de Brendan à sua cidade natal.

Ter largado tudo para ir ao encontro de seu amado é um pouco mais leve pois Júlia não precisa negociar também seu idioma, este grande formador de sua identidade. Júlia está no país de Brendan, come a comida de Brendan, ouve as músicas de Brendan, sai com os amigos de Brendan, convive com a família de Brendan, retoma os estudos no país de Brendan, reaprende a ser ela mesma no país de Brendan. E o idioma? O idioma não precisou ser negociado. O idioma falado é o de Júlia, que percebe isso como um verdadeiro afago em seu coração, embora Brendan talvez nunca compreenda a dimensão da importância que isso tem para a parceira. viajadamente jan • 2022

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Independente do caso no qual você esteja, é importante saber que não dá para esperar a fluência para investir no seu relacionamento e conversar sobre como você se sente com o seu parceiro (e viceversa). Tratar problemas sem apontar os aspectos culturais é como fazer uma receita faltando um dos ingredientes principais: Você tem o mesmo trabalho para realizar a receita, mas o resultado final fica incompleto e seria muito melhor se você inserisse o ingrediente desde o início, afinal terá que fazer novamente a receita se quiser apreciar o bolo.

Reflita sobre como isso te faz sentir. Escreva se for mais fácil para você, mas dê ao seu parceiro a chance de saber como é ver o mundo do lado de cá, caso contrário é pouco provável que ele questione isso por conta própria.

Quando você se sentir prejudicada(o/e) por falar um idioma que não é o português, não seja rígida com você mesma nem com o outro: Além de se responsabilizar por suas escolhas (você escolheu morar fora, certo?), permita-se colocar-se em um lugar empático e de escuta sem julgamentos sobre tudo o que seu parceiro renuncia para estar com você, apesar de continuar confortavelmente falando seu idioma nativo. Você pode se impressionar com a resposta.

ESTEREÓTIPOS CULTURAIS Quer admitamos ou não, todos nós temos estereótipos pré concebidos sobre outras culturas ou grupos étnicos. Sendo esses estereótipos positivos ou não, eles podem potencialmente serem nocivos num relacionamento intercultural. Por quê? Porque, se não questionadas e repensadas, geram expectativas que podem machucar e desrespeitar o outro. Por exemplo: Aprendemos, de uma forma geral, que asiáticos são inteligentes na área de exatas, matemática, física, etc. Se um parceiro asiático não é inclinado para a área da matemática, mas sim artes, ele pode ser julgado negativamente por isso, fazendo com que esse estereótipo inicial viajadamente jan • 2022

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mente positivo o machuque se um dia, por exemplo, ou tiver que explicar suas preferências para um grupo de amigos da parceira que o realiza perguntas viesadas.

No casal intercultural, estereótipos podem gerar expectativas, mesmo que não comentadas. Vamos ilustrar com Janaína, brasileira, que pode esperar de seu parceiro Guillaume, francês, que ele seja mais romântico que os brasileiros que ela encontrou. Guillaume pode esperar que a performance sexual de Janaína seja melhor do que a das francesas que ele encontrou. Mas o que é ser romântico? O que é ter uma boa performance sexual? Se não houver diálogo, nenhuma das duas expectativas é saudável, pois elas os afastam um do outro.

Estereótipos nos afastam de conhecer o outro em sua integridade.

Todos temos preferências. Preferir brasileiras não diz nada sobre alguém, mas o significado de preferir brasileiras sim. Se a pessoa está querendo conhecer brasileiras viajadamente jan • 2022

pela imagem estereotipada e sexualizada apresentada na mídia, isso pode afastá-la de um relacionamento com brasileiras, porém se sua curiosidade vier de algum lugar menos raso do que esse, por exemplo pela música ou pela forma mais espontânea e sorridente de ser com a qual, em algum ponto de sua vida, essa pessoa pode ter se deparado através de um colega de trabalho ou amigo brasileiro, isso poderia ser um ponto de entrada intrigante que levaria uma brasileira a querer conhecê-lo melhor.

E então, ao se permitir conhecer o outro cada vez mais, começamos a ver os aspectos individuais que ultrapassam os pré-conceitos que carregamos sobre a cultura um do outro. Janaína começa a entender que Guillaume tem suas formas pessoais de expressar amor - que não necessariamente são as que ela esperava - e ele começa a perceber que sua performance sexual tem muito mais a ver com sua história de vida pessoal, com a relação que Janaína possui com seu próprio corpo e com a intimidade que o casal desenvolve do que com o fato de que ela tenha nascido no Brasil.

Fato é: O que não é expressado po12

de assombrar a rotina do casal, gerando formas não saudáveis de lidar com o não verbalizado (porém muito real). Se vocês conversam abertamente sobre expectativas, percepções, frustrações e medos, isso vai potencializar a intimidade, fazendo com que vocês de fato conheçam um ao outro em suas esferas de traços culturais e individuais que fazem de cada um uma pessoa única. Conversar sobre como nossas percepções têm mudado também nos permite dar um sentido às culturas de cada um e integrar os valores de cada um na própria cultura do casal que começa a se formar.

Ter parceiros que nos compreendem e nos abraçam como seres individuais, completos e pertencentes à uma (ou mais) cultura(s) é um presente que nem todos possuem na vida. Ser esse parceiro(a/e) é super possível, mas requer trabalhar um olhar aberto, curioso, empático e desprovido de julgamentos e isso é, em grande parte, feito na esfera individual, no seu relacionamento consigo mesmo(a/e) e através de questionamentos do seu próprio sistema de crenças e valores.

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QUESTÕES RACIAIS E PRIVILÉGIO BRANCO A cultura ocidental em geral possui muitos aspectos eurocentristas e quando mudamos do Brasil para a América do Norte ou para a Europa, nos tornamos simplesmente estrangeiros, “latinos”, ou “pessoa de cor” (person of color). Pessoas brancas perdem os privilégios brancos que tinham no Brasil (ex: ser

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melhor avaliado numa entrevista de emprego, não se preocupar com o seu filho sofrendo discriminação na escola, etc.) e pessoas negras se vêem com mais um estereótipo com o qual lidar.

São batalhas que variam de pessoa para pessoa mas que possuem algo em comum: Nos tornamos alguém da subcultura.

Por ser um integrante de uma subcultura, retomar estudos, ter um sotaque, ser imigrante, etc. você terá menos acesso às oportunidades do que um homem branco nativo de classe média, que está, de várias formas, mais perto do normatizado pela cultura dominante do seu novo país. Um norte-americano ou europeu branco que nasceu e cresceu em seu viajadamente jan • 2022

país de origem tem poucas oportunidades práticas de empatizar com um latino, visto que vive numa sociedade onde os valores que aprendeu em sua infância são valores brancos.

Diante da experiência de adaptação cultural, um imigrante precisa aprender novos comportamentos, novos valores e novas formas de ser se quiser desenvolver-se e relacionarse no novo país. Isso faz com que nós naturalmente aprendamos a navegar entre dois mundos.

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Diante da experiência de adaptação cultural, um imigrante precisa aprender novos comportamentos, novos valores e novas formas de ser se quiser desenvolver-se e relacionarse no novo país. Isso faz com que nós naturalmente aprendamos a navegar entre dois mundos. Essa é uma habilidade essencial que aprendemos.

Isso faz com que nós naturalmente aprendamos a navegar entre dois mundos - o brasileiro e o do novo país - a fim de favorecer um equilíbrio nas nossas relações, experiências de trabalho, estudos, e na nossa própria saúde mental.

Para o parceiro que nasceu e viveu no lugar onde ele atualmente se encontra, essa ressignificação de crenças, valores e comportamentos não acontece de forma espontânea ou não é demandada pelo seu país de nascimento: Ninguém em seu próprio país o questiona por enxergar as coisas através de sua perspectiva e ele tende a continuar vivendo sua vida co

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-mo uma pessoa cultura dominante.

pertencente

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Vamos ilustrar com o exemplo de Carmen, doutoranda brasileira morando na Polônia que participa de um encontro para doutorandos realizado pela sua universidade.

Neste encontro, Carmen encontra Dominik, polonês, com quem tem a oportunidade de falar sobre o tema de sua tese, sobre sua religião e crenças, sobre suas visões políticas e eventualmente acaba dizendo que ela vem do Brasil.

Assim que ela verbaliza esta última informação, é como se todo o resto fosse esquecido: Dominik, muito animado, a interrompe e começa a falar de Janaína, uma brasileira que Carmem com certeza adoraria conhecer, assim poderiam juntas co -

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zinhar pratos brasileiros e falar sobre a cultura brasileira.

Dominik não possui más intenções; ao ouvir sobre o Brasil, ele imediatamente realizou uma conexão lógica e começou a falar de sua colega Janaína. Carmen, porém, pode se sentir desapontada, visto que sua etnia foi ressaltada em primeiro plano e as outras facetas tão importantes quanto - suas crenças, opiniões e aspirações profissionais por exemplo foram imediatamente colocadas em segundo plano. Ao final do encontro, Dominik pode sentir-se bem sobre ter favorecido uma conexão entre duas brasileiras ou ainda positivo sobre a diversidade e por ter um contato anterior com alguém da cultura brasileira.

Ela, entretanto, pode ter deixado o evento com uma sensação de desconexão, mas compreende que Dominik é um polonês branco pertencente à cultura dominante que não necessariamente possui a habilidade de enxergar a vida através de uma perspectiva de uma imigrante latina. Em última instância, se nós, “Carmens”, expressarmos desapontamento em situações assim, arriscamos ouvir que somos sensíveis demais, estamos reagindo desproporcionalmente e deveríamos compreender melhor as boas intenções de Dominik. viajadamente jan • 2022

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E é então, nesse contexto, que muitas relações interculturais se formam: Um dos parceiros familiariza-se, sem esforços, com a cultura dominante, enquanto o outro se familiariza com mais de uma cultura. Num casal, esse contexto pode influenciar vários processos.

Engana-se quem pensa que a sua relação com uma pessoa é só uma relação com uma pessoa. Você também se relaciona com seus privilégios (ou falta deles), com sua história de vida, com sua família, com a representação social que essa pessoa carrega consigo. Em relacionamentos saudáveis, isso não é negado, excluído, banalizado, mas sim se torna um novo campo de exploração para os dois.

Como parceiro da subcultura, você pode (e deve) abrir-se sobre situações que te incomodam ou que te causam a percepção de injustiça. Não há problema nenhum em causar desconforto nas pessoas da cultura dominante. viajadamente jan • 2022

Fazendo isso, você oferece ao seu parceiro a possibilidade de te acolher de forma empática e de pensar o seu próprio país e suas ações de novas formas.

Se colocar numa bolha de vitimização onde você só vai lamentar o quanto o mundo é injusto com você e o quanto você é o desprivilegiado na relação não abre espaço para diálogo, mas sim para frustração dos dois lados, pois foca-se em coisas que estão fora do controle de vocês.

Não há absolutamente nada que o seu parceiro possa fazer para retirar seus próprios privilégios e há provavelmente pouquíssimo que ele pode fazer para te privar das angústias geradas pelo rótulo de “latino” ou “pessoa de cor”.

Lembre-se que seu parceiro não é seu inimigo, mas sim alguém que escolheu compartilhar a vida com você.

Utilizar-se de sua posição de imigrante para “solicitar” que seu parceiro haja da forma como você acredita que ele deve não é uma troca justa, é manipulação. Se é manipulação, não é amor. Vamos ilustrar com a frase “Eu sou latina

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Parte disso são os estereótipos de gênero e nacionalidade, que moldam a forma considerada adequada de se comportar, de falar, de pensar e… De amar.

e passo por tanta coisa, o mínimo que você pode fazer é _______”. Não faça isso. Ele não sabia que, ao relacionarse com você, precisaria compensar o fato de que ele possui privilégios. Seu parceiro não sabia que isso era um “câmbio”, que ao se relacionar com você, teria que adivinhar suas dificuldades sociais e pagá-las mais tarde no nível individual do casal.

Você pode convidá-lo a fazer parte de alguma causa, mas não deve forçá-lo a fazer parte disso.

De uma forma geral, sabemos que (infelizmente) espera-se de mulheres brasileiras que sejam sensuais e promíscuas.

Se forem negras, multiplique a expectativa por três e inclua os homens também. A imagem de mulheres e homens negros com sexualidade acentuada estão em todo lugar. Junta-se a isso as expectativas de gênero, que mudam de sociedade para sociedade.

Tudo isso nos é ensinado a desde que chegamos nesse mundo e temos acesso a brinquedos e uma televisão.

PAPÉIS SÓCIORELACIONAIS DE CADA CULTURA Nós vemos o mundo não como ele é, mas através da nossa própria lente. E essa lente é composta por préjulgamentos que não necessariamente aprendemos de forma consciente.

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Nos atentemos ao exemplo do Japão, citado pela autora Murasaki, nipoamericana morando nos Estados Unidos: No Japão, meninos e meninas são ensinados a expressar suas emoções de apego. Por emoções de apego, entendemos toda expressão de necessidades e cuidados que a criança manifesta ao(s) responsável(is), por exemplo chorar, gritar, deitar no chão, etc. Comportamentos infantis que são reprimidos ou no mínimo considerados inadequados no Brasil são normais e mesmo esperados no Japão, visto que a expressão de emoções difíceis são vistas como sinais de aproximação e confiança. As crianças também aprendem que há diferentes contextos nos quais esses comportamentos podem se reproduzir de forma segura, a casa então se torna o lugar onde é permitido e seguro expressar essas emoções difíceis.

Qual é o resultado disso nos relacionamentos amorosos da vida adulta? Quando um parceiro japonês começa a expressar medos e angústias, isso é geralmente recebido como um passo a mais de intimidade - enquanto no Brasil a gente conta nossos problemas familiares até para um condutor Uber que nunca mais veremos na vida.

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Na clínica psicológica voltada ao casal intercultural, favorecemos a intimidade e comunicação aberta e curiosa pelas duas partes. Você vai ter que aprender sobre a história de vida do seu parceiro se quiser se comunicar de forma eficaz, mas para isso, você precisa deixar suas lentes culturais de lado e se permitir enxergar o seu parceiro como ele é, e não como você acha que ele deve ser.

Diferenças culturais não devem ser um risco para relacionamentos interculturais, mas sim um ponto a mais de descobertas para desenvolvimento da intimidade e espontaneidade nas trocas do casal.

Um segundo exemplo é o papel social das mulheres japonesas (também citado por Musaraki), que possuem atividades de gênero muito claras nos relacionamentos e na família. Espera-se que elas sejam gentis e carinhosas (assim como na sociedade ocidental), mas também espera-se que tomem o papel central na responsabilidade do casal de uma forma diferente do que no atual cenário do Brasil.

Enquanto no Brasil de uma forma geral lutamos para disseminar esse papel e os enxergamos de forma injusta e mesmo cruel com as mulheres, o conceito de direitos das mulheres foi recebido com certa dificuldade pela sociedade japonesa, visto que nas famílias japonesas, consideram que as mulheres possuem um papel muito sólido e de força. Nesse sentido, a adesão aos direitos da mulher punha em risco esse poder que as mulheres já tinham. Ou seja, não aderir à igualdade de gênero ajuda a proteger diferentes tipos de poder que possuímos nas relações. viajadamente jan • 2022

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Por vezes nas nossas relações utilizamos termos parecidos (por exemplo: direitos das mulheres) certos de que estamos falando da mesma coisa sem considerar que cada um carrega em si o significado pessoal, cultural, de costumes, moral e histórico desses termos. Nesse sentido, há um fator de vulnerabilidade para a intimidade dos casais interculturais: Os significados se desencontram de uma forma mais importante do que nos casais monoculturais pelo fato de uma construção histórica de significados não-compartilhada.

Você vai pensar, agir e se expressar baseado (entre tantas outras coisas) no seu antecedente cultural, sendo que para o seu parceiro, aquilo não significa nada. Certo? Errado. Mesmo que ele não saiba nada da sua cultura, ele vai dar seu próprio sentido ao comportamento que percebe.

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Vamos dar um exemplo da cultura coreana e ilustrar mais um caso de Alessandra, uma brasileira divorciada de 38 anos que imigra para Seoul, onde encontra Haruki, de 34 anos que até então só tinha se relacionado com japonesas e coreanas. Após alguns meses desse primeiro encontro, Alessandra sente que Haruki não está apreciando o relacionamento, pois na visão dela ele não se permite falar sobre seus sentimentos e se mostrar vulnerável.

Além do mais, Alessandra começou a se sentir desconectada de seu parceiro, visto que já apresentou sua família para Haruki através das chamadas de vídeo e até agora não conhece nenhum de seus amigos ou familiares. Alessandra guarda esse sentimento com ela por um tempo até que permite compartilhar somente com amigos, pois gosta de Haruki e não quer que ele se afaste dela. Cada amigo dá a sua opinião do que pensa de Haruki e seu comportamento, então Alessandra se enriquece de hipóteses, mas isso a afasta cada vez mais da verdade e a aproxima da angústia e ansiedade.

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Do lado de Haruki, tudo vai muito bem, obrigada: Ele se lembra vivamente de quando completaram 7 meses do primeiro encontro e ele abriu sobre um problema que tinha com o pai. Naquele dia, para Haruki, eles claramente avançaram na relação. Haruki jamais poderia cogitar sobre os sentimentos de Alessandra, pois está fora de cogitação no momento apresentar a parceira para a família. É muito bem conhecido na cultura coreana que só apresentamos os parceiros para a família quando temos a intenção de noivar, casar e num futuro não-distante formar uma família. Claro que a Alessandra sabe, né? Não. Nope. Aniyo.

Ao não expressar suas emoções claramente diretamente ao parceiro, Alessandra foi fiel à sua função social de mulher gentil e delicada, sendo vulnerável aos amigos e não ao parceiro.

Em terapia individual, Alessandra foi orientada a verificar a pertinência de suas hipóteses de forma empírica e condizente com a realidade e concluiu que a única forma de fazer isso era conversando com Haruki. Isso pode ser difícil, pois demanda de Alessandra que se coloque numa posição de vulnerabilidade e, além do mais, nunca viajadamente jan • 2022

tinha aprendido a expressar descontentamento de forma muito assertiva, visto que em sua infância teve sentimentos como raiva e tristeza reprimidos e não teve muitas oportunidades de expressar emoções desagradáveis comunicando de forma não-violenta.

Além do mais, o assertivo no Brasil com certeza não é o mesmo assertivo na Coréia.

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Alessandra precisa dizer que está sentindo algo desagradável sem rotular Haruki. Na sessão, Alessandra realizou um treino de habilidade social onde exerceu se aproximar de um lugar vulnerável e se afastar de um lugar de julgamento: Decidiu como iria conversar com Haruki através da análise empática e reformulação de suas próprias verbalizações.

Alessandra percebeu que não seria eficaz chamar Haruki de frio ou falar que ele não se importa com o relacionamento dos dois. Isso causaria resistência e confusão no Haruki e a afastaria da resolução do problema inicial, que são as impressões que ela possui e que geram nela emoções difíceis de lidar. O mais eficaz seria falar sobre ELA e não sobre Haruki, ela então abriu sobre como ela se sentia, como ela percebia o comportamento dele e o que tudo isso significava pra ela, dando a Haruki a oportunidade e o espaço emocional que ele necessita para se expressar e para acolher as emoções da parceira. Somente então Alessandra compreendeu que o caminho amoroso seguido por Haruki é outro. Não errado ou melhor, mas diferente.

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Quando você se permite abrir suas emoções para o outro de forma vulnerável, ele não tem muitas outras opções além de acolher. Impedimos esse acolhimento quando expressamos indignação e raiva ao invés de tristeza e frustração, passando uma mensagem completamente diferente das coisas como de fato são e gerando afastamento e mágoa ao invés de intimidade e compreensão. É muito mais “fácil” sentir raiva do seu parceiro pois isso te coloca numa posição “superior” de condenação onde o outro precisa reparar o mal percebido e não há nada do seu lado a ser feito. Ou ainda, se culpabilizar pelos problemas do casal sem considerar que o outro faz parte dos resultados também não é a estratégia mais inteligente emocionalmente.

O que percebo na prática clínica é que em grande parte das vezes, a raiva na verdade nos dá a impressão (irrealística) de nos proteger de toda e qualquer vulnerabilidade (que, aliás, para muitas mulheres brasileiras, significa também fraqueza e fragilidade). Eu não posso aceitar que meu parceiro me machucou e logo sinto raiva, pois esse é o caminho mais rápido para a solução e reparação de um comportamento por mim percebido como inapropriado e ameaçador. Isso pode funcionar num primeiro momento, mas se torna pesado e insustentável ao longo do tempo. viajadamente jan • 2022

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Quando você se permite (e permite ao outro) ser real, abrese uma nova possibilidade de negociação entre desejos, preferências, expectativas e mudanças.

O seu relacionamento se torna cada vez mais seu, cada vez mais íntimo e único e menos moldado pelas expectativas sociais e de gênero ou estereótipos.

No casal intercultural, esses desafios mais comumente tocam a esfera dos sistemas, crenças e valores culturais.

Embora aprendamos muito do que somos na nossa cultura, a verdade é que, para a Psicologia, cada um de nós que decide compartilhar a vida com alguém - mesmo que esse alguém tenha nascido e crescido no mesmo bairro que Vocês criam aos poucos um o seu - está numa relação espaço seguro onde você e seu intercultural. Por quê? parceiro não precisam se envergonhar de serem Porque a nossa família exatamente quem são, onde influencia fortemente quem nos não precisam pensar que ser si tornamos. mesmos não é bom o suficiente.

A maioria dos nossos esquemas de valores, crenças e pensamentos são formados de DIFERENÇAS forma não-intencional durante CULTURAIS nossa infância e adolescência.

E DE VALORES Nós os formamos somente observando o mundo, as Qualquer casal pode enfrentar pessoas e os eventos da nossa desafios que são comuns à vida e dando um significado a junção de duas vidas: tudo isso.

Comunicar-se de forma eficaz, demonstrar amor de uma forma que vai ser bem recebida pelo outro, respeitar, colocar limites saudáveis, entre outros. viajadamente jan • 2022

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A observação das relações que nossos pais ou cuidadores estabelecem também favorece a adoção de regras pessoais que criamos sobre como relacionamentos devem funcionar.

Tudo isso acaba moldando a forma como enxergamos e pensamos nossos relacionamentos.

Diante disso, o casal intercultural precisa esclarecer-se o tempo inteiro: Frases ditas, expressões faciais utilizadas, reações apresentadas… Absolutamente tudo precisa ser aprendido para que possamos ter uma visão realista do nosso parceiro e não saltemos nas conclusões mais simplistas que nossos cérebros fazem. E então, só então, você vai poder realizar uma análise do seu relacionamento e se aquilo que ele te oferece é o que você quer para a sua vi -

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da. Para que isso aconteça, você precisa se conhecer bem, compreender os seus valores, preferências, objetivos de vida e refletir quais deles são negociáveis e quais são inegociáveis.

Spoiler: O seu parceiro não vai te oferecer tudo o que você espera (e vice-versa), mas para que haja uma troca saudável e madura, ele precisa saber o que é imprescindível e inegociável para você. Comunicar essas informações requer autoconfiança, clareza nas suas emoções, assertividade, empatia e autoconhecimento.

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Note bem: Todas essas são coisas pelas quais você - e somente você - é responsável, porém seu relacionamento vai com certeza desfrutar bem dessas habilidades psicossociais.

REDE DE APOIO FRAGILIZADA Isso vem mudando cada dia mais, mas estar num relacionamento intercultural é aceitar que a sua formação familiar não é representada pela grande maioria das pessoas do novo país.

E essa falta de representatividade deve ser enfrentada com paciência e resiliência, visto que do lado brasileiro as pessoas também não necessariamente compreendem certas dinâmicas ou conflitos que possamos vir a ter com nosso parceiro.

Todos estão pensando e tirando conclusões através de suas próprias formas de enxergar o mundo, por isso após algumas tentativas, você vai logo perceber que não há muito fundamento em buscar conselhos com amigos e familiares que não conhecem o seu parceiro e sua cultura. Quando você mora num novo país, com uma nova religião e novos costumes, pode ser realmente difícil para seus amigos e familiares no Brasil te compreenderem.

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Vamos ilustrar a situação com Amanda, brasileira morando na Turquia que tem passado um puerpério muito delicado com todas as mudanças fisiológicas, rotineiras e emocionais que tem passado com a chegada de seu segundo filho. Se Amanda conta para sua melhor amiga no Brasil que Aylan, seu esposo, prefere que ela se afaste por um tempo do trabalho e fique em casa com as crianças, talvez sua melhor amiga se sinta enojada e diga algo do tipo “nossa, eu achei que ele era melhor do que isso, na verdade ele é só mais um porco sexista”. Porém, essa melhor amiga não conhece a história completa, certo?

Seus sentimentos poderiam ser mais pertinentes se Aylan fosse nascido e criado no Brasil, porém enxergar a situação de forma “8 ou 80” (o que chamamos em terapia cognitiva de polarização) só adiciona mais julgamentos à situação: Primeiramente o julgamento de que uma cultura é a “certa” ou “errada”, e possivelmente um segundo julgamento voltado à Amanda, por não ter sido inteligente o suficiente para evitar esse tipo de relacionamento. As pessoas não naturalmente abrem caminhos para aprender outras formas de enxergar situações. viajadamente jan • 2022

É muito mais fácil e rápido colocar um rótulo no namorado estrangeiro “de merda” da nossa amiga e consequentemente seu país, sua cultura e/ou sua religião. Quem nunca ficou com uma raiva mortal de namorado de amigues que atire a primeira pedra.

Para esses momentos, tenha paciência, empatia, assertividade para colocar limites saudáveis e traga o assunto para suas sessões de psicoterapia. Pouco provavelmente seus amigos e familiares no Brasil desejam o seu mal. É difícil de acreditar, mas muitas (re)ações que consideramos inadequadas são, no fundo, o que as pessoas têm condições de fazer na intenção de nos proteger, nos amar e garantir nossa felicidade (como se nossa felicidade fosse uma responsabilidade de qualquer pessoa além de nós mesmos). Por isso é tão difícil como amigo se colocar numa posição de escuta e acolhimento sem julgamentos: Queremos que nossos amigos sejam felizes, para ontem! Se pudéssemos encomendar essa felicidade no site da Amazon, as coisas seriam muito mais fáceis. Mas sabemos que na prática, as coisas não são assim, cada um é responsável pela sua própria felicidade.

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Do seu lado, comunicar o que você precisa vai se tornar um ótimo aliado para momentos difíceis. Nada te impede de, antes de se abrir, dizer à pessoa: "Fulano, eu estou guardando isso por um tempo e quero muito compartilhar essa angústia com você, mas eu só quero mesmo desabafar e não quero que se responsabilize pela resolução desse problema. Você teria um momento para me escutar?”.

Você não precisa isolar o seu relacionamento do resto do mundo (e não recomendo), mas sim compreender que nem tudo é compartilhável com todo mundo, e tudo bem. Essas pessoas não se tornam piores ou melhores do que você pelo fato de terem uma opinião baseada em suas próprias realidades.

É difícil ter sua visão de mundo desafiada. Nós somos criaturas de hábitos e é como se tudo o que não nos fosse familiar tivesse que ser eliminado para que voltemos ao nosso conjunto anterior de crenças.

Se você faz ou pretende fazer psicoterapia, vai compreender bem essa tendência.

Ela pode ser flexibilizada e mudada, e daí está a importância da sua família conhecer seu parceiro a fim de favorecer a quebra de estereótipos, porém em hipótese alguma se responsabilize por mudar a forma de pensar de qualquer outra pessoa que não seja você. Esse movimento é violento com as duas partes e com o tempo, se torna insustentável e tóxico. Deixe que sua família usufrua de seu direito de tirar suas próprias conclusões e se desprenda da necessidade constante de prestar explicações. Esse é um favor que você faz a si mesma, ao seu relacionamento e à sua família no Brasil.

Ter seus próprios amigos no novo país é um fator importante para que sua vida social não dependa somente dos amigos e família do seu parceiro.

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A P O I O

É mais fácil simplesmente seguir o ritmo do seu parceiro local, que naturalmente possui uma rede de contatos maior, mas isso pode te deixar em uma posição vulnerável, visto que sua individualidade precisa também ser respeitada, apesar da escolha da vida a dois. É importante também buscar referências e relações que sejam parecidas com a sua para que sua rede de apoio seja fortalecida. Nenhum casal será como o seu, mas é valoroso conhecer brasileiros e brasileiras que compartilham aspirações, valores familiares e histórias com certa semelhança.

Que alívio que dá compartilhar uma dificuldade ou dor com certo receio e do outro lado ser recebido com um “eu entendo”, “já passei por isso”, “olha o que funcionou para nós”... Além do mais, esse movimento de reconhecimento na experiência do outro é algo que pode gerar a sensação de acolhimento e também te ajudar a refletir sua relação com mais clareza e objetividade. viajadamente jan • 2022

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A

A RELAÇÃO COM OS FAMILIARES Há dois fatores importantes a serem abordados sobre relacionamentos com a família do parceiro: Expectativas e xenofobia.

Há uma certa romantização de relacionamentos interculturais nas redes sociais. Depois da primeira vez que morei fora, há 7 anos atrás, já vi centenas de depoimentos no Facebook sobre o “conto de fadas” que é casar com um “gringo”.

Não surpreendentemente, esses posts advém majoritariamente de mulheres e possuem uma conotação quase que motivacional: “Olha que linda a minha história e como consegui!

Se eu consegui, você também consegue!”.

Aprendemos através das mídias que devemos querer nos casar e viver felizes para sempre com “o único” (the one), e muitas de nós aceitamos isso como um objetivo maior de vida.

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Essa romantização das relações acaba não sendo saudável e gerando expectativas de um parceiro que simplesmente não existe no mundo real. E isso, claro, também inclui a família do outro.

Já citamos isso anteriormente, mas buscar na família do outro uma segunda família pode ser um movimento delicado, pois eles, por mais acolhedores e simpáticos que sejam, não são a sua família. Explico: Com a nossa família primária, há uma certa tolerância e aceitação desenvolvida diante de comportamentos que não aprovamos.

“Ah, ele falou isso, mas é meu pai, ele é assim mesmo” ou “ela sempre faz esse tipo de coisa, você conhece como é a nossa mãe”.

Essa aceitação não vai ser a mesma diante da família do outro e se você esperar que se tornem sua família, você inevitavelmente vai se frustrar.

Por quê? Salvo algumas exceções, quando houver conflitos ou vocês por algum motivo se separarem, eles vão tender a ficar ao lado do outro, protegê-lo a fim de evitar ainda mais dificuldades numa tal transição. É um movimento natural e muito provavelmente sua família faria igual.

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Falando em conflito, se um conflito surgir entre vocês e você nunca apreciou muito a família do seu parceiro, esse certamente não é um bom momento para compartilhar isso.

As chances são que as coisas fiquem tensas por um tempo, mas eles se reconciliarão mais tarde e as coisas ditas por você podem trazer ressentimento. Um exercício que você pode fazer nesse (e em qualquer) momento de conflito é escrever o que você estiver sentindo vontade de dizer. Isso te permitirá tomar uma distância crítica da sua reação emocional primária e facilitar que você se coloque na posição de escuta reflexiva.

Prefira frases do tipo “parece que você se sentiu ______ quando _________ aconteceu “. Isso faz com que seu parceiro se sinta ouvido e cuidado sem que você precisa insultar sua família para isso. Quando você tender a dizer “eu sei, ela é muito sem noção, que vaca!” ou “que porco sexista e nojento”, simplesmente pare, respire 10 vezes (ou mais), escreva essas frases para dar a si mesma o tempo de se acalmar, e pergunte “por quê você se sente assim?” ou “por que você acha que isso aconteceu?”.

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Se você tiver dificuldade em compreender os benefícios de evitar difamar a família do seu parceiro, imagine-se numa situação parecida, onde você está com raiva da sua mãe e está expressando isso ao seu parceiro. Se ele diz “que cobra, é melhor a gente não vê-la nunca mais”, como você se sente? Você tenderia a dizê-lo que ele está tendo uma reação exagerada ou que ele não a conhece como você e que não a compreende?

Eu tenho uma irmã mais velha, e como em quase toda relação entre irmãos, um dos maiores prazeres da minha irmã durante a infância era me envergonhar diante dos outros ou me difamar para nossos pais, mas no primeiro segundo onde alguém tentava fazer igual (mesmo que esse alguém fosse nossos pais), ela imediatamente tomava minha dor e tentava me proteger. Por quê? Porque “ela pode”, mas os outros não. É como ouvir algum estrangeiro falar viajadamente jan • 2022

mal do Brasil - parece meio errado pois o Brasil é o nosso território, certo?

Sugiro que você pense o mesmo da família do seu parceiro, lembre-se de fazer perguntas curiosas e genuínas quando você quer julgar, e a calmaria virá com menos demora.

Ao invés de acusá-los e passar seus dias nutrindo sentimentos de raiva, injustiça e discórdia, você pode utilizar o seu precioso tempo para investir em desenvolvimento pessoal e servir como uma ponte de ligação entre seu parceiro e sua família ao invés de uma pedra no meio do caminho.

Lembro-me de uma experiência pessoal onde eu e Michaël (meu parceiro) fomos até a cidade-natal dele passar alguns dias na casa de seus pais. Eu estava passando por um momento de vida delicado e naquela semana eu ativei meu modo “tudo o que há de errado nessa dinâmica familiar e que influencia o meu relacionamento”.

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Q

Que escolha infeliz. Além de não aproveitar inteiramente os momentos agradáveis, passei a semana inteira pescando tudo o que havia de errado (ao meu ver) na forma como a minha sogra trata seu próprio filho (um outro dia a gente conversa sobre a rivalidade feminina na manutenção das nossas relações).

Quando chegamos em casa, acabei conversando com o Michaël de forma dura e defensiva sobre como tudo o que eu vi estava tão “errado” e a necessidade urgente de colocar limites saudáveis em sua relação com sua mãe.

Ele até reconheceu a veracidade do que eu verbalizei (de forma quase indignada e cheia de julgamentos), mas ficou emocionado e claramente triste. Em algum ponto da conversa, ele disse “é que ela é minha mãe, eu não quero ter que escolher entre você e minha mãe”. Isso foi o suficiente para eu me dar um banho de realidade e perceber que minha forma de agir e abordar o assunto só estava fazendo o Michaël sofrer ao in

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-vés de abrir espaço para diálogo e progresso no nosso relacionamento.

Não foi minha intenção, mas falei de forma tão defensiva e agressiva que ele sentiu sua relação com sua mãe ameaçada porque eu, o alecrim dourado, cheguei 33 de anos de vida depois dizendo que essa dinâmica precisava urgentemente mudar.

Depois daí, você já deve imaginar que precisei processar tudo isso, tirar-me do cargo de juíza e voltar para o lugar de parceira para finalmente perguntar ao Michaël o que ELE acha de suas relações familiares e como aquilo afetava nosso relacionamento, até chegarmos em um acordo comum mutualmente satisfatório.

Seja qual for a situação, a família do seu parceiro constitui parte importante da sua rede de relações.

Independente de crenças e opiniões, o fato de ser introduzido como parceiro(a/e) de uma cultura diferente no sistema familiar do seu parceiro vai demandar que eles realizem alguns ajustes e aprendam a funcionar de um novo jeito.

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Muitos pais (incluindo os teus) vão precisar de um tempo para processar essa nova informação e isso não necessariamente significa que eles sejam xenófobos ou preconceituosos: Na maioria das vezes, seus pais querem sua felicidade e podem sentir que casarse com alguém com um antecedente tão diferente adicionaria ainda mais desafios à vida à dois. Talvez eles não expressem isso da forma como você gostaria, mas há grandes chances de que suas preocupações sejam bem-intencionadas e genuínas.

E é aí que entramos no assunto xenofobia, onde percebo dois movimentos não tão saudáveis: Por um lado, algumas pessoas se sentem constantemente atacadas pela família do parceiro pois percebem atos que consideram xenofóbicos. Por outro, pode haver uma verdadeira superestimação desses familiares do parceiro e até mesmo certa passividade diante de atos de fato xenofóbicos (o que não deixa de ser uma forma de negação). Nem um extremo nem outro é interessante, pois os dois te tiram a liberdade de ser exatamente quem é e demonstrar possíveis necessidades de ajustes de forma clara, objetiva, educada e firme.

Agradar os seus sogros a todo custo e se quebrar para caber em expectativas que você acredita que eles possuem não é uma boa ideia, pois isso faz com que você se anule cada vez mais e sua identidade bicultural seja uma fonte de peso e sofrimento para você.

Eu sugiro fortemente que você se afaste - na medida do possível - de uma posição defensiva. Eles estão tendo que realizar ajustes na dinâmica familiar para te receber, e é possível que durante este caminho eles cometam erros.

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Detectar a todo preço comportamentos que “ameacem” a sua brasilidade considerando que tudo é xenofobia e que os parentes de seu parceiro querem te eliminar de sua vida também não é um caminho interessante, pois do lado de cá pode te gerar sofrimento e do lado de lá gera resistência, o que te impede de dialogar de forma adulta e madura quando de fato limites precisarem ser acordados.

Falando nisso, ainda temos a sua família do Brasil, que com o tempo naturalmente vai estar menos informada dos processos que acontecem na sua esfera individual. viajadamente jan • 2022

Saiba que, ao decidir construir uma vida fora do Brasil, você precisa também se despedir da vida que seria por lá.

Com a sua família no Brasil acontece a mesma coisa, principalmente quando você anuncia um relacionamento com alguém do seu novo país: Um processo de luto acontece quando enfim começam a aceitar que você não pretende mais voltar. Um luto do filho que não foi. Da festa de casamento que não vai acontecer. Do genro que não pode conversar de forma aberta e livre com eles. Dos almoços de domingo que não são mais os mesmos sem você ali. Da relação que não acon-

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tecerá com os netos.

Assim como é difícil para você pensar nessas problemáticas, a sua família também pode levar um tempo para situar suas emoções diante dessa grande mudança na dinâmica familiar.

Porém, eles dão conta. Você dá conta. Seu parceiro dá conta. A família dele também. As relações de vocês vão acabar passando por modificações a partir das pequenas e grandes decisões que vocês tomarem.

Meu conselho é que você seja gentil, mas saiba estabelecer limites saudáveis com a família do seu parceiro e na medida do possível, converse abertamente e inclua a sua família no Brasil na vida que você escolheu no seu novo país, para que eles também se sintam considerados e de alguma forma presentes na sua vida.

AMAR É SIMPLES, MAS TRABALHOSO Por fim, acho importante ressaltar viajadamente jan • 2022

que um relacionamento romântico intercultural não é mais difícil do que qualquer outro.

Em qualquer relacionamento nos deparamos com a quebra de expectativas e só porque a vida não correspondeu exatamente ao que esperávamos, não significa que um relacionamento não seja certo para nós.

A regra central continua a mesma: A paixão é fácil, ela é vivida quase como algo fora do nosso controle que nos oferece sentimentos prazerosos, intensos e inomináveis. Na fase da paixão, as partidas geram quase que uma abstinência por parte dos amores, as qualidades são as únicas partes do nosso amado que nos chamam a atenção, a impressão pode ser a de que todas as nossas decepções amorosas foram curadas com aquele encontro de almas que a vida nos proporcionou. É fácil se relacionar diante da paixão pois parece que somos a nossa “melhor versão” naturalmente. Já diante do amor, não.

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O amor traz consigo uma aliança mais sólida, mas também uma enxurrada de realidade e de altos e baixos que nos convidam a refletir sobre o nosso relacionamento, enxergar nosso parceiro como ele realmente é, ressignificar crenças, ceder, pedir, ser vulnerável. O amor oferece, porém, algo que a paixão não pode oferecer: A segurança de não ter que depender de uma emoção para fazer seu relacionamento dar certo. A segurança de poder ser exatamente quem você é. A segurança de abrirse para o outro num ambiente onde aquilo vai ser acolhido sem julgamentos, que permite ao casal moldar a cada dia o relacionamento como uma linda obra de arte cujos artistas são também co-autores. E isso faz com que o amor seja, no fim, uma das escolhas mais bonitas que o ser humano pode fazer.

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Artigo realizado por

Gabriella Dantas dos Santos Psicóloga e editora-chefe

NOVIDADES

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Post colaborativo: Como é amar fora do Brasil?

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Blog: Como casais interculturais se comunicam?

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No dia de São Valentim, teremos um post muito especial na minha página do instagram. Será um post colaborativo onde você vai me contar sobre seu relacionamento fora do Brasil (intercultural ou não) e alguns aprendizados, além de me enviar uma foto bem bonita de você e seu/sua amado(a/e). Para ver a versão do ano passado, clique aqui. Se você quiser participar do post desse ano, me envie uma mensagem aqui.

No nosso primeiro post do ano, eu escrevo sobre estilos de comunicação e algumas formas de comunicação que influenciam na dinâmica de um casal intercultural de acordo com estudos na área. Anote em sua agenda que ele sai dia 27 neste link.

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Próxima edição da Viajadamente: Ansiedades sobre a vida fora do Brasil O tema do próximo bimestre é um assunto que toca a vida fora do Brasil de uma forma muito particular: A ansiedade. e você quiser enviar seu depoimento anonimamente, envie um e-mail para viajadamente.contato@gmail.com até dia 10 de Dezembro.

#QuaseDeFrenteComGabi: Au pair e casamento intercultural Nessa live com a nossa convidada Thaís Prentice, conversamos sobre a experiência dela no programa de au pair, sobre estilo de vida nos Estados Unidos, racismo nos EUA, Brasil e França, e muito mais! Se você quer saber um pouco mais sobre o programa de au pair e ter uma percepção sobre o casamento intercultural da Thaís (e o seu!), vem no play!

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RÚBRICA CULTURAL AMORES INTERNACIONAIS: CASEI COM UM ESTRANGEIRO, E AGORA? Primeiramente gostaria de ressaltar a minha alegria em indicar um livro de uma autora brasileira imigrante em um relacionamento intercultural. O livro, escrito pela jornalista Liliana Tinoco Bäckert, relata as dores e amores não só da vida de imigrante e suas variáveis, mas também do fato de compartilhá-la com alguém de outra cultura.

O que mais me chamou a atenção na obra é que ela literalmente ela dá voz à brasileiras em relações interculturais: O livro é produto de entrevistas realizadas com mais de 30 brasileiras e brasileiros casados com estrangeiros, estes advindos de 18 nacionalidades diferentes. Como se já não fosse o suficiente, Liliana também realizou entrevistas técnicas multidisciplinares com psicólogas, psicanalistas, antropóloga, cientista social, entre outros profissionais que estudam e trabalham com esse tipo de demanda. O livro foi escrito de maneira informal, em formato de contação de histórias, então a leitura é leve e descontraída. Para adquirir o livro, entre em contato com a Livro For Kids clicando aqui.

Para compras no Brasil, clique aqui.

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Acordar em um novo relacionamento intercultural: Intimidade culturalmente responsiva Este livro está entre um dos meus preferidos no assunto. Apesar de não relatar especificamente relações entre brasileiros e pessoas de outras nacionalidades, a autora Autumn Murasaki, que é nipoamericana, traz uma perspectiva muito interessante sobre vários temas que influenciam a vida romântica e prática de um casal intercultural, focando nas relações entre americanos e parceiros de vários outros países e ilustrando com casos de casais que a própria autora conheceu e/ou atendeu.

do, formas de apego, entre outras variáveis que influenciam o bem-estar de casais interculturais. Infelizmente o livro somente está disponível em Inglês em formato e-book, mas se você tem interesse no assunto e desejo de trabalhar em si mesmo (e com seu parceiro) para ter um relacionamento mais feliz, vale a pena o esforço. Para adquirí-lo, clique aqui.

Dentro do livro, a autora descreveu um programa que denomina Intimidade Culturalmente Responsiva, divulgando em cada capítulo atividades reflexivas que favorecem intimidade em casais interculturais através de diferentes óticas: expectativas, história racial, negociação de diferentes realidades, expectativas raciais e de gênero, celebrar a união, expressar desapontamento, explorando a libiviajadamente jan • 2022

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PODCAST: AMORES INTERCULTURAIS Este é um episódio muito interessante do podcast Mente Forasteira, um canal sobre psicologia para quem é louco por viagem e vida no exterior. O podcast é idealizado e gerido por duas psicólogas brasileiras que atendem brasileiros no exterior. Este episódio conta com a participação de Liliana Tinoco Bäckert (autora do livro indicado nesta rúbrica) e aborda relacionamentos culturais de forma descontraída por pessoas que entendem muito sobre o assunto. Vale a pena conferir enquanto você limpa a casa do seu jeito, que é o melhor. Para acessar este episódio, clique aqui.

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depoimentos

DE POI MEN TOS

*Os nomes (e eventualmente cidades) são trocados para fins de anonimização.

Depoimento 1

Dois cidadãos do mundo e uma história de amor sem fronteiras "Este mês completo um ano que me mudei para a França e passei a viver com meu namorado. Eu, Alice, tenho 27 anos e sou brasileira, e ele, Pablo, tem 31 e é argentino. Nós nos conhecemos há quatro anos na cidade em que morávamos no Brasil na época.

-mo motivo. Nossa história teve muitas idas e vindas, mas em um determinado momento nos demos conta de que queríamos continuar juntos independentemente de onde fosse e apesar das coisas que teríamos que abrir Acredito que a primeira coisa que nos mão para isso. Percebemos que atraiu um no outro foi justamente a estávamos prontos para ceder e poder história de “cidadãos do mundo” que abrir espaço para outra pessoa nas carregávamos os dois: Eu já havia morado nossas vidas. Foi em Janeiro de 2020 que ele se mudou para a França aceitando fora e feito intercâmbios, era apaixonada uma proposta de trabalho, e eu em por idiomas, lugares e pessoas diferentes, dezembro de 2020 me juntei a ele. Ele e naquela altura havia decidido que iria fala português e eu também falo atrás de toda a documentação necessária espanhol, porém como nos conhecemos para ir à Itália dar entrada no processo de no Brasil e falando quase sempre em reconhecimento da minha cidadania, português, o português é o idioma que porque já havia percebido que queria algo soa mais “natural” para nós como casal.

Acredito que o fato de que falemos o além do que o Brasil poderia me oferecer. idioma dos países do outro também E ele também: já havia saído da casa dos ajuda bastante. pais há 3 anos, havia tido uma experiência de trabalho na Nova Zelândia, outra nos Entretanto, apesar de falarmos o idioma EUA e agora estava na sua nova aventura um do outro, sempre tivemos diversos profissional no Brasil. Falávamos outras problemas de comunicação: no começo, línguas, tínhamos histórias de viagens e em muitos momentos eu não entendia experiências para contar, enfim, acredito aonde ele “queria chegar” com um comentário (como se não entendesse o que nos orgulhávamos muito do que ritmo do raciocínio dele, ou se as coisas havíamos conquistado com nossas nas quais ele focava enquanto me andanças e concomitantemente contava um pensamento seu não seriam admirávamos muito um ao outro pelo mes as mesmas coisas nas quais eu focaria). viajadamente jan • 2022

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Depoimento 1

Hoje sinto que nos entendemos um pouco melhor, são mais raras as vezes em que eu sinto que não entendi o que ele queria dizer no fundo. Quando sinto, digo, e ele me parafraseia até eu entender.

Noto nele traços da cultura argentina e da educação da casa dele, que são parecidas e diferentes, ao mesmo tempo, à cultura brasileira e à minha cultura familiar. Mas noto também que nossos funcionamentos são em sua base diferentes: ele “acha estranho” que eu falo “muito pouco” com meus pais por telefone vivendo em outro país, e eu “acho estranho” ele “falar muito” com os pais.

Embora sinta que muitas das nossas opiniões e comportamentos se complementam, também nos sinto muito diferentes em outros aspectos, o que acaba gerando atritos de vez em quando.

Gosto de fazer o exercício de ver com bons olhos, no sentido de que aprendo com ele e ele pode aprender comigo, apesar de ser um processo difícil.

Acredito que a imigração nos ajude nesse processo, pois se trata justamente de adaptar-se a um meio que não é o de sua origem, costumes que podem e na maioria das vezes vão ser diferentes dos seus. E vejo isso refletido na minha vida na França da mesma maneira que vejo no meu relacionamento: por muitas vezes me pego em pensamentos um pouco moralistas com o Francês, na rua, como também me pego com pensamentos moralistas com meu namorado, Argentino, dentro de casa. Como entendo que os relacionamentos vem para funcionar como nossos espelhos, para mim faz muito sentido: meu relacionamento intercultural me ajuda a abrir os olhos para os desafios que a vida como imigrante me impõem, e vice-versa.

As oportunidades de crescer - juntos - são muito grandes, tão grandes quanto os desafios.

Seguimos comemorando nosso quarto ano, cheios de aventuras nessa malinha que decidimos passar a carregar juntos, Hoje acredito que nosso maior desafio é pela França ou em qualquer outro lugar, aceitar o outro tal como ele é, sem esperar porque é justamente a sede pelo que ele aja da maneira que eu ajo ou que descobrimento e a felicidade por acho legal/correto agir. caminharmos juntos que nos une."

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#comentapsi: O que aprendemos com o depoimento de Alice?

Logo no início, algo muito bonito me chamou a atenção no depoimento de Alice: A clareza sobre a necessidade de ceder e negociar para abrir espaço para alguém nas nossas vidas. Abrir espaço para alguém em nossas vidas. Segundo Alice, os dois se viram prontos para dar esse passo, muito corajoso por sinal. Nem todo início de relação é marcado por essa clareza, mas em relacionamentos interculturais esse movimento de abertura é muito importante, por isso iniciar uma relação com essa mentalidade vai facilitar o caminho dos dois. Você já parou para pensar de quais formas abre espaço para a sua parceira na sua vida? Morar junto pode até ser um sinal, mas não é necessariamente sinônimo de abrir esse espaço não, viu? Ao contrário: Muitos casais moram juntos por anos, mas não se permitem abrir esse espaço, pois o único caminho possível é o da vulnerabilidade, da aceitação, da compaixão, do perdão, da espontaneidade e por fim, da liberdade enxergada no outro. viajadamente jan • 2022

Alice também ilustra bem o que citamos no artigo sobre a institucionalização do idioma no relacionamento: Foi no Brasil que se conheceram e que normatizaram a língua portuguesa como a língua “oficial” de comunicação na identidade do casal. Esse idioma em comum não os salva, entretanto, de conflitos ligados à comunicação: Como Aline bem disse, ao que ela ouve de Pablo, ela mesmo atribui seu próprio sentido, o que pode ser uma fonte de desentendimento e sofrimento. Qual foi a estratégia de enfrentamento eficaz encontrada pelo casal? Parafrasear, repetir, explicar, até que eles compreendam as coisas como elas de fato são. Esse é um exercício que parece simples, mas não é:

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Diante de comentários de pessoas que amamos, em uma questão de milésimos de segundos nossos cérebros tendem a pular nas conclusões mais improváveis possíveis e que nos fazem sofrer. Então em questão de outros poucos segundos, nosso estado emocional é alterado pelas conclusões que tiramos, nos afastando de uma comunicação eficaz visto que naquele momento, as emoções são tão intensas que eliminam qualquer questionamento sobre a nossa própria conclusão a respeito do que o outro fez. Em alguns casos a sensação pode ser a de viver com um inimigo que está a todo tempo fazendo coisas intencionalmente na intenção de nos magoar, salvo que na verdade aquela pessoa é considerada o amor da nossa vida e muito provavelmente está dando o melhor que pode na relação.A dificuldade apontada por Alice é na verdade algo muito comum em qualquer casal.

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Se em algum ponto ela sente que são diferentes em alguns aspectos, a migração para a França basicamente impõe variados pontos de reconhecimento para os dois, que se colocam em mais uma posição de igual para igual: A de imigrantes.

Nessa posição há uma imensidão de dores e alegrias compartilhadas que, quando vividas com abertura e maturidade, servirão para o fortalecimento da intimidade do casal.

Por fim, o que Alice chama de pensamento moralista nada mais nada menos é do que o filtro cognitivo através do qual enxergamos o mundo: Temos dificuldade em assimilar todo tipo de comportamento e comunicação que não fazem sentido para nós, por isso nosso cérebro já faz logo o trabalho simplista de tirar conclusões a partir dos nossos valores e nossa vivência pessoal:

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O outro deve viver e se comportar como eu acho que é certo, caso contrário isso me tira da minha zona de conforto e terei que gastar minha energia me colocando numa posição (auto)crítica e sem julgamentos.

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Eu concordo com você, Alice, sair desse lugar de conforto é difícil, desafiador e por vezes doloroso, pois ao aceitar o seu parceiro como é também é decidir acomodá-lo à sua realidade e para isso, terá que mudar e negociar coisas em você. Me parece, porém, que você vem fazendo um bom trabalho, pois fez uma análise muito honesta e reflexiva da sua história amorosa, reconhecendo que os desafios existem, mas que também são terrenos férteis para crescimento e amadurecimento.

Alice, muito obrigada por compartilhar conosco uma faceta tão íntima da sua história de migração, desejo uma jornada linda de amor, compreensão, descobertas e aventuras para vocês.

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Depoimento 2

Relacionamento contado em tempo de cachorro

Olá, me chamo Fernando, tenho 25 anos, venho de Manaus e estou morando atualmente na França. Vim para a França em 2018, em 2019 fui para Alemanha e voltei para França em 2020 e continuo por aqui, mas saí do Brasil em 2015, quando fui morar no Japão, mas isso é outra história.

Conheci meu parceiro no início de 2021, durante esse período pandêmico, através do Tinder e já estamos juntos há 10 meses, mas como uma conhecida me diz: “relacionamento com europeu é contado em tempo de cachorro, 1 ano = 7 anos”.

Nós nos comunicamos em francês, mas ele está aprendendo português para facilitar a comunicação com a família (assim como me ensina o patuá da região dele – que a família sempre usa, para eu não ficar de fora das conversas). A comunicação é sempre boa, sempre tentamos deixar sempre tudo claro, apesar da barreira linguística. Quando temos conflitos de origem cultural, tentamos explicar para que o outro compreenda e tentamos resolver.

O início do relacionamento foi meio caótico, pois nos conhecemos 2 semanas antes de eu me mudar de Lille para Lyon, mas começamos a namorar mesmo assim. viajadamente jan • 2022

A maior descoberta foi encontrar uma família, na qual eu me sinto tão bem quanto na minha família brasileira (sendo que eu já tenho uma família francesa – fui “adotado” por uma quando vim estudar). Além da descoberta do relacionamento amoroso/afetivo com europeu, tenho descoberto também as relações familiares com eles, assim como com crianças.

O relacionamento foi amadurecendo com o tempo, fomos criando confiança e se encorajando para sempre melhorarmos e avançarmos.

A maior dificuldade foi (e está sendo) a distância. Eu parti de Lille para Lyon para fazer meu estágio de fim de estudos (por 6 meses). Após o término do estágio, eu voltei para o Norte e ele me convidou para morar com ele (quando ainda estávamos com uns 4 meses de relação). Em seguida, passei 1 mês de férias lá com ele (e com a família dele) e comecei a procurar emprego, mas não achava na região, até que me propuseram um emprego em SaintNazaire (no Noroeste) e já faz 4 meses que estou aqui.

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Depoimento 2

Quando estava em Lyon, sempre nos víamos nos fins de semana, mas desde que mudei para Saint-Nazaire, isso tem ficado mais difícil devido à distância e a falta de disponibilidade de transporte (e de greves...).

Porém, estamos planejando mudarmos juntos ano que vem, pois pedi minha transferência de volta para o Norte e sigo procurando emprego por lá.

Meu parceiro entende bem essa distância da família, assim como a distância cultural.

Sempre me motiva a falar com a minha família e sempre me deixa o tempo que precisar para falar com eles. Sempre me motiva também a fazer coisas com meus amigos, ele inclusive já chamou meus amigos para irem visitar o vilarejo onde os pais moram e foi bem divertido. Além disso, ele (e a família dele toda) me incluem nas coisas e me abraçam na família para “compensar” essa distância da minha família.

viajadamente jan • 2022

Amor para mim é uma construção (claro que existe amor à primeira vista – diria mais paixão à primeira vista). Amor se aprende todos os dias, é conhecer o melhor e o pior da outra pessoa, mas aceitar que todos têm altos e baixos. Amor é compartilhar, crescer, incentivar, apoiar, brigar, mas se entender.

Eu sempre tive uma visão diferente do amor (em uma relação afetiva entre duas pessoas), que fosse algo efêmero. Não conseguia comparar com amor familiar, pois (o amor afetivo) foi algo que quase nunca encontrei, mas com o Thomas tem sido diferente.

Além de aprendermos e compartilharmos nossas culturas, rirmos e discutirmos devido às diferentes, crescemos e nos desenvolvemos. Superamos nossos medos e nos incentivamos. Amor não é apenas trocas beijos e caricias ou sexo, é além de tudo se doar sem pedir nada em troca, crescer, incentivar e estar feliz com isso tudo.

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#comentapsi: O que aprendemos com o depoimento do Fernando?

Primeiramente, o relacionamento de Fernando e Thomas nasceu (e continua) numa configuração muito comum nos relacionamentos modernos: À distância. Na vida de seu parceiro, talvez seja a primeira, mas na vida de Fernando, é só mais uma dentre tantas outras distâncias que experienciamos na condição de imigrante. Por conta disso, não tenho dúvidas de que de fato essa seja sua maior dificuldade. Por outro lado, a gestão dessa distância me parece ser feita com maturidade e respeito dos dois lados. Encorajar um ao outro a avançar e melhorar requer um altruísmo que nem todos estão dispostos a provar: Deixar o outro ir, para que então ele escolha voltar, que foi o que Fernando fez.

Aproveito a ocasião para comentar um segundo fator interessantíssimo citado por Fernando e que pode facilitar a jornada no exterior, que é ter uma representação afetiva de família presente socialmente.

viajadamente jan • 2022

Para muitas pessoas, a família fora é um grupo de amigos confiáveis e sinceros, para outras, a família do parceiro da macrocultura.

Entretanto, se sentir aceito e incluído na família do parceiro assim como Fernando se sente é, infelizmente, um sentimento vivido por poucos brasileiros no exterior.

Por quê? Porque contar com uma “segunda família” num novo país é arriscado, visto que a afetividade e os valores familiares são formados numa cultura completamente diferente e a linha entre uma expectativa realista e a idealização com fundo cultural brasileiro é muito tênue

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O resultado? Um problema que existe de um lado e não existe do outro. Esse desencontro, porém, pode ser evitado por três vias principais: (1) Garanta relações familiares saudáveis (se sua família não possui esse hábito, comece por você!), assim não terá que buscar na família do outro compensações para “falta” que você sente na sua, (2) Não crie expectativas sem antes conhecer a família do seu parceiro com o coração aberto e sem julgamentos, pronto para compreender como funcionam como família e (3) Tenha uma comunicação aberta com o seu parceiro, isso evitará que você tire conclusões que te fazem sofrer sem confirmações reais.

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Quanto a isso, Fernando, tenha em mente que seu parceiro te oferece um amor romântico, e não um amor paterno ou materno.Encarar sua relação como uma “compensação” de um amor familiar percebido como insuficiente pode ter efeitos nãosaudáveis na relação, atribuindo ao seu parceiro (ou à família dele) responsabilidades afetivas que não os competem.

Por fim, percebo no discurso de Fernando uma unanimidade de detalhes que refletem aceitação e compreensão mútua por parte dos dois, o que provavelmente influencia na boa comunicação relatada pelo mesmo.

Ele sabe sobre a família dele muito mais do que você.

Uma consideração importante a ser feita é que existem tipos diferentes de relacionamento, e é comum transferirmos problemáticas familiares para nossos relacionamentos amorosos. viajadamente jan • 2022

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Thomas compreende a distância que ele vive da família no Brasil, começou a aprender o português e ao mesmo tempo conhece e aceita suas piores partes.

Quando seu parceiro faz parte do seu processo de desenvolvimento e você é convidado a participar do processo dele, a conexão de vocês é fortalecida.

Isso aumenta a confiança e a sensação de segurança na relação, algo muito útil na vida de um imigrante. Somente duas pessoas que compreendem a inteireza uma da outra e compreendem que estão se relacionando com seres já completos conseguem se colocar de forma saudável numa posição de aceitação, compreensão e mais tarde, de troca e negociação, necessários para a manutenção de qualquer relação.

Fernando, muito obrigada pelo seu depoimento leve, sincero e cheio de carinho.

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Desejo que vocês continuem escolhendo e respeitando um ao outro enquanto isso se acomodar no coração e na vida dos dois. Boa sorte na sua mudança e que a descoberta da convivialidade seja bonita e leve.

Comentários por:

Gabriella Dantas dos Santos Psicóloga e editora-chefe

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viajadamente

Depoimento 3

Uma identidade de casal multicultural Meu nome é Amanda, tenho 27 anos e sou de Recife/PE. Meu esposo se chama Brendan, tem 31 anos e é de Brisbane, Austrália. Ele, além de ser australiano, é chinês mestiço ou ABC = Australian Born Chinese (australiano nascido chinês), como a população chinesa na Austrália denomina.

O pai dele é de Hong Kong e a mãe dele australiana, mas mestiça também. Ou seja: por parte de pai, ele é da primeira geração mestiça e, por parte de mãe, da segunda. Estamos juntos há 5 anos e moramos na Inglaterra.

viajadamente jan • 2022

Nos conhecemos em 2015, em Madri, na Espanha. Estávamos de férias e também fui para estudar Espanhol. Antes das minhas aulas começarem, fiz uma viagem em grupo pela Espanha e lá estava ele.

Começamos a conversar e, logo, percebemos que tínhamos vários pontos em comum, além do clima que estava rolando.

Depois da excursão, segui com minha vida e com meus estudos em Salamanca, até que ele entrou em contato comigo e sugeriu um novo encontro. Nos encontramos e ficamos novamente.

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Depoimento 3

Ambos achavam que nunca mais nos veríamos, mas estávamos completamente errados.

Já no Brasil, segui com a minha vida e, ele, com a vida dele na Inglaterra. Cerca de um mês depois, retomamos o contato, mas como amigos, porém percebemos que estávamos apaixonados. Eu achava inviável ter um relacionamento à distância mais por conta da questão financeira, mas as coisas deram certo no fim.

Passamos 6 meses trocando mensagens e fazendo chamadas de vídeo, até que ele resolveu vir para o Brasil porque sentia muita saudade e para oficializar o relacionamento. viajadamente jan • 2022

Começamos a namorar em Maio de 2016 e casamos em Fevereiro de 2019.

Brendan é tudo que eu sempre quis e não tenho nem palavras para descrever o meu amor por ele e o quanto que ele é um bom amigo e marido para mim.

Raramente brigamos e vivemos em harmonia e sempre aprendemos um com o outro.

Essa é a nossa parte preferida do relacionamento, a mistura de culturas: chinesa, australiana e brasileira. É na comida, no comportamento, na cultura, no idioma…

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Depoimento 3

Ele ama comida brasileira e não vive sem feijoada, picanha, coxinha e pão de queijo. Sempre gostei de comida chinesa, mas agora gosto ainda mais e amo quando ele faz dumplings, sempre deixando a maioria pra mim. Até as novelas brasileiras ele assiste, mesmo que com legenda. Também adoro assistir vídeos sobre a culinária chinesa e pedir pra ele cozinhar os pratos pra mim.

Já passei por momentos difíceis e claro que às vezes sinto falta de desabafar em português,

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mas acabei me com o inglês.

acostumando

Já passei por momentos difíceis e claro que às vezes sinto falta de desabafar em português, mas acabei me acostumando com o inglês. Queria muito que ele falasse o meu idioma, mas ele fala pouca coisa. Até chegou a fazer aulas, mas desistiu. Essa eu diria que é a parte que não gosto, mas, quando preciso desabafar, mesmo em inglês, é como se não houvesse barreiras idiomáticas e nem culturais.

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#comentapsi: O que aprendemos com o depoimento de Amanda?

Há algo muito bonito que Amanda nos ensina em seu depoimento, que é a (des)importância da paixão. Entre parênteses porque a paixão pode ser ao mesmo tempo necessária e dispensável: Embora a paixão tenha sido o que os uniu num primeiro momento, cada um dos dois seguiu a sua vida e não negociou o que precisava fazer na época. Foi sim a paixão que levou Brendan a atravessar o oceano para oficializar a relação, mas com certeza não foi ela a responsável pela relação de parceria que os dois desenvolveram ao longo do tempo.

Amanda diz encontrar em Brendan um bom amigo e então um bom marido. Nessa ordem. Talvez a ordem espontaneamente colocada reflita exatamente o que precisaram ser à distância antes de garantireE que bom. Se você não desenvolve uma amizade com o seu parceiro, tão menos terão a intimidade e resiliência para enfrentar as diferentes fases pelas quais a vida a dois passa. m o contato físico contínuo: Amigos. viajadamente jan • 2022

A impressão que dá é que, antes de tudo, eles desenvolveram em seu lar um ambiente de segurança para os dois: A comida, o comportamento, o idioma da casa acomoda exatamente quem as duas pessoas são.

Em psicologia, dizemos que cada casal e cada família tem seu jeitinho único de funcionar, o que pode ser chamado de identidade matrimonial ou familiar, e nesse caso verificamos uma identidade multicultural na dinâmica relacional de Amanda e Brendan. Você não precisa mudar o seu parceiro para que ele se torne quem você acha que precisa para ter uma relação saudável.

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Muito ao contrário: Arrisco dizer que exigir mudanças de uma forma rígida vai te colocar numa posição de abusador e o seu parceiro numa posição de sofrimento e por vezes dependência emocional.

Amanda e Brendan são um exemplo de que é possível integrar duas (ou mais) culturas de forma harmoniosa de forma que as duas partes da relação se sintam compreendidas, acolhidas, valorizadas e mesmo especiais. Não há nenhum outro casamento no mundo como o de Amanda e Brendan (nem como o teu!) e essa identidade multicultural saudável firmada no casal só pode ser resultado de uma troca sincera, madura, compreensiva e amorosa por parte dos dois.

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Como isso é possível? Com a conexão e intimidade que foram desenvolvidas ao longo do tempo e que permitem uma troca segura e saudável para o casal.

Amanda, muito obrigada por compartilhar sua história de parceria, amizade e amor conosco. Desejo a vocês que continuem desfrutando com gratidão e reconhecimento a linda história que vocês estão escrevendo a cada dia. Um abraço.

E essa troca não necessariamente deve ser feita na nossa língua materna, assim como ilustra Amanda. Embora gostaria que o parceiro falasse seu idioma, ela sente que quando precisa desabafar em inglês, é como se não houvesse barreiras idiomáticas e culturais.

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Atividade 1

A

visão do seu

relacionamento Esta atividade é realizada pelos dois integrantes da relação amorosa. Ela é separada em 5 passos:

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Individualmente, separem 1 folha cada para escrever sentenças que descrevem a sua visão pessoal de uma relação amorosa saudável.

Inclua coisas que vocês já fazem e também coisas que vocês não necessariamente fazem mas que são importantes para cada um individualmente. Inicie essas frases com a sentença “num bom relacionamento” adicionando o complemento na primeira pessoa do singular ou plural, por exemplo:

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Num relacionamento saudável, eu me sinto segura ao compartilhar meus sentimentos com meu parceiro;

Num relacionamento saudável, nós rimos juntos das coisas mais irrelevantes que acontecem nas nossas vidas.

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Encontrando valores amorosos em comum: Compartilhe a lista com o seu parceiro e conversem livremente sobre o que cada um escreveu, item a item.

Vocês podem tentar discutir sobre cada um dos itens explicando como e porquê aprenderam a valorizar isso, assim como possíveis aprendizados culturais.

Sublinhem as frases que vocês possuem em comum.

Se vocês utilizaram palavras diferentes mas o sentido das frases é similar, sublinhe-as também.

A VISÃO DO SEU RELACIONAMENTO continuação da atividade

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4

Realização de uma lista comum: No centro de uma nova folha, incluam de forma colaborativa as sentenças que vocês possuem em comum. Para as frases que não apareceram nas duas listas, discutam a importância dos itens e decidam incluí-las ou não na lista comum.

Rankeando os valores românticos: Na mesma folha onde inseriram as sentenças em comum, separadamente criem uma hierarquia da importância dos itens em uma escala de posições, sendo que o item 1 é o mais importante, o 2 um pouco menos e assim por diante.

Vocês podem inserir essas notas nos lados direito e esquerdo de cada frase (tomando o cuidado de dobrar o papel para que o outro não veja). Abram então a folha e vejam como vocês deram rankearam os itens de forma similar ou diferente.

O que você percebe?

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Refletindo e sugerindo duas pequenas mudanças: Separadamente, pensem profundamente sobre os 3 itens que vocês listaram serem mais importantes: Como eles te fazem sentir? Por quê esses itens são importantes para você?

Compartilhe seus pensamentos com sua parceira e sugira 1 pequena mudança que pode ser feita no cotidiano e que seja fácil de inserir na rotina de vocês. Ex: Se um item é sobre passar momentos de qualidade juntos, posso sugerir pararmos o uso do celular durante as refeições, para que possamos ter um momento real de troca.

Dica extra:

DICA

Coloque essa lista no ambiente compartilhado onde ela ficará visível aos dois todos os dias. Assim fica mais fácil se lembrarem do compromisso que fizeram um com o outro.

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ME MÓ RIAS da atração inicial

*adaptado de Musaraki viajadamente jan • 2022

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Atividade 2

Sente-se sozinho(a/e) em um lugar calmo e escreva uma história descrevendo o momento que você conheceu seu parceiro. Quais detalhes você se lembra deste dia?

Inclua a quantidade máxima possível de detalhes.

Onde vocês se encontraram?

O que chamou sua atenção de uma forma positiva? E negativa? Como o seu corpo sentia e vivia esse momento? Se você tiver dificuldades de descrever tudo com detalhes.

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Faça uma lista de memórias aleatórias do momento e deixe para ligar as coisas e trazer harmonia ao seu texto mais tarde.

Se divirta com isso.

Você pode escrever esse texto em formato de uma carta de amor para o seu parceiro, para recordar deste momento com a perspectiva de quem você é hoje.

Quando você finalizar o texto, apresente-o ao seu parceiro (e viceversa).

Verifique se ele se lembra deste momento de formas similares (pouco provável!) e pergunte se sua história é diferente da tua. Se você (como eu) encontrou seu parceiro online ou se vocês se encontraram num contexto no qual um não era interesse amoroso do outro, foque em contar sobre o momento no qual você despertou curiosidade romântica ou atração por ele (ou no primeiro encontro físico de vocês).

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Refletindo sobre minhas formas de enfrentamento diante de conflitos Grande parte do desconforto psicológico advém das regras que adotamos sobre como nós, os outros e/ou o mundo deveria ser. Se essas regras forem rígidas, elas podem influenciar negativamente a forma como agimos diante dos acontecimentos, nos fazendo elaborar uma resposta reativa ou reflexiva.

Um exemplo simples: Digamos que eu esteja num relacionamento e receba um gesto de carinho da minha parceira, que nomearemos Géssica.

Eu penso “namoradas devem fazer isso, logo não conta ela ser legal comigo”, e então eu me sinto insatisfeita com o que Géssica faz e logo, não agradeço. Se eu pensar assim toda vez que ela fizer algo bacana e demonstrar amor, isso pode gerar distância, culpabilização, sentimento de inadequação e ingratidão, o que impacta no meu relacionamento. viajadamente jan • 2022

Atividade 3

Um dia, Géssica pode deixar de realizar atos de gentileza, e eu posso pensar “ela não me ama mais” ou “que namorada infeliz, não faz o mínimo”.

Géssica acaba por se chatear e dizer “você é super ingrata, sempre fiz tudo por você e você nunca me agradeceu! Desse jeito é impossível!” e logo, minha resposta reativa é gritar com Géssica, provavelmente piorando o problema.

Uma resposta reativa é quando agimos “sem pensar”, no calor das emoções. Essa resposta geralmente não é uma opção emocionalmente inteligente diante de discussões ou conflitos no casal, pois geralmente nos afasta da resolução do problema ao invés de nos ajudar a resolvê-lo.

Agora vamos voltar na minha conversa com Géssica e depreender que quando ela me responde “você é super ingrata, sempre fiz tudo por você e você nunca me agradeceu!

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U

Uma resposta reflexiva acontece quando controlamos nossas reações emocionais através de técnicas pessoais que funcionam para nós e pensamos antes de agir, o que nos ajuda a nos comportarmos de forma a resolver o problema e abrir diálogo. Essa é uma habilidade muito útil, visto que nos permite tomar distância de comportamentos que podem piorar a situação e elaborarmos um comportamento mais adaptativo e saudável, que nos beneficie ao invés de nos machucar ainda mais.

S I T U

Portanto, nesta atividade, você vai separar 3 situações de conflito que você teve com sua(seu) parceira(o/e) e analisar suas respostas emocionais, comportamentais e os efeitos destas na resolução do problema. Considere possíveis desencontros de ordem cultural no diálogo de vocês e possíveis “regras” que você pode estar refletindo na situação. Para te ajudar, sugiro que você estruture sua reflexão a partir da tabela a seguir:

Evento

Emoções

Pensamentos

Comportamento

Resposta reflexiva

O que aconteceu antes/durante a discussão?

O que eu senti?

Como meu corpo sentiu isso comigo?

Em quais conclusões eu cheguei?

O que eu fiz? O que falei? De qual forma passei a mensagem?

Considerando a ordem dos eventos, o que posso fazer quando me sentir assim numa próxima vez?

A Ç Õ E S

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#psispelomundo

COMO É SER UMA PESSOA LGBTQIAP+ NO PAÍS ONDE VOCÊ MORA?

Sou Juliana Couto, mulher cisgênero bissexual, esposa de uma pessoa não-binária e psicóloga afirmativa. Se você não compreendeu ao menos um conceito desta frase, te faço um convite: bora conversar sobre gênero, sexualidade e saúde mental?

Trabalho com psicoterapia online há dois anos atendendo pessoas LGBTQIAP+ em sofrimento psicológico ao redor do mundo e absolutamente todos os dias ouço relatos de LGBTfobia e as consequências na saúde mental dessas pessoas: rompimentos familiares, processos ansiosos e depressivos, marginalização/exclusão, baixa autoestima, insegurança, solidão.

Decidi criar o @psi.afirmativa para falar mais sobre gênero e sexualidade no intuito de popularizar essa discussão na boca da galera e dialogar sobre produção de saúde mental na população LGBTQIAP+ a partir de uma viagem para o conhecimento da sua própria identidade.

Ficou curiose? É só clicar aqui!

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em qualquer

lugar seu par

eu

quero ser

qu i

sua

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