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Speed 1600

Um olhar interno da Speed 1600

“O ano era 1990, eu com apenas quatorze anos de idade, fui até o autódromo de Interlagos para acompanhar de perto a primeira etapa do campeonato paulista de automobilismo que, segundo havia sido informado pela administração do autódromo, abriria a temporadas das categorias Formula 1600 e Formula Super 1600 – ambas pertencentes a escola de pilotagem Alpie –, Turismo A, Turismo N, Força Livre, Hot Car – que mais tarde passaria ser chamada de Super Stock – e Speed 1600. Esta seria a primeira corrida no novo traçado de Interlagos.

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Ansiosíssimo para acompanhar as corridas, ainda sem saber o que era exatamente tudo aquilo, cheguei ao autódromo no sábado ainda bem cedo, com tempo para ver os carros chegando e equipes montando seus aparatos e preparando seus equipamentos para o inicio dos treinos e das corridas.

Assim que a pista foi liberada, os carros começaram a sair e eu, maravilhado, os acompanhava até onde dava, até vê-los rasgando a reta dos boxes, que em 2010 foi oficialmente nomeada ‘Reta de Chegada Emerson Fittipaldi’.

Os carros eram Ford Escort, Ford Mustang, Ford Maverick, VW Passat, Chevrolet Opala e, os mais legais, os VW Fuscas da Speed 1.600. Muitos, das mais variadas cores, que passavam naquela reta um mais rápido que o outro, alguns mais lentos, mas sempre colados uns nos outros, parecendo que em fila.

Para conhecermos melhor a categoria Speed 1600, voltamos no tempo até o 1984, quando o então presidente da FPA – Federação Paulista de Automobilismo –, Sr. Orlando Casanova, resolveu criar outra categoria barata e de fácil acesso a todos os bolsos, como ele já havia feito alguns anos antes com a Turismo 5000. Como o Fusca era um carro bastante popular e, já naquela época, havia se consagrado nas pistas pela participação na categoria Divisão 3, entre outras, essa foi a sua escolha. O fato de alguns pilotos famosos terem utilizado o Fusca no início de suas carreiras, como, por exemplo, os irmãos Fittipaldi, Ingo Hoffmann ou José Carlos Pace, também ajudou a nova categoria a começar com um bom currículo.

Mauricio Seraphin foi o primeiro piloto a entrar para a categoria. Em um bate papo que eu tive com ele, sobre a razão de seu interesse pela nova corrida, ele me disse que já havia comprado um VW Passat para correr mas, quando foi na sede da FPA pegar o regulamento daquela categoria, soube da criação da Speed 1600. Foi, então, que ele trocou o Passat por um Fusca de um amigo e aí começou a montagem do novo carro. E ainda chamou seu amigo Ibsen Lagrota para também entrar na ‘brincadeira’. Chamar os amigos para a categoria era algo comum. ç

Outro piloto de importante relevância para o inicio da Speed 1600 foi Waldir Del Greco, que era piloto de testes da Volkswagen e ia para pista com um Fusca Speed montado na própria fábrica. Mesmo mais veloz que os demais concorrentes e participando regularmente do campeonato, não se sagrou campeão nenhuma vez.

Em pouco tempo, a Speed 1600 foi ganhando mais e mais participantes, como a equipe Wessler, que, de cara, conquistou os quatro primeiros títulos da categoria com o piloto José Geraldo Kawabe, que é atuante até os dias de hoje e se tornou referência na e preparação do Fusca.

A cada ano, a Speed 1600 foi se destacando cada vez mais dentro do circuito paulista e, a cada etapa, notava-se o aumento no número de carros e participantes, transformando as corridas em verdadeiros shows. Era a categoria que fechava os domingos em Interlagos e, em relação a isso, a explicação – que alguns não admitem – era a de que os motores dos Fuscas espalhavam muito óleo na pista deixando-a impraticável para outras corridas. Ninguém queria correr depois dos Fuscas e, verdade ou não, a quantidade absurda de participantes colaborava para que isso acontecesse. ç

Helio Belisario, em 1991

Voltando a 1990, os grids cresciam a cada etapa, chegando a categoria a disputar algumas provas com mais de 60 carros na pista. Houve vezes em que os colchetes de demarcação de posições de largada, que eram colocadas no asfalto, nem eram suficientes, tendo os fiscais de pista que improvisar a montagem do grid até quase a curva do café.

Na segunda etapa desse mesmo ano, eu já tive a oportunidade de estar dentro dos boxes, acompanhando de perto pilotos, carros e equipes, em especial os pilotos Danilo Sguario, de número 28, e, mais tarde, seu amigo José Teixeira, que ele levou para a pista.

Renato Morgillo

João Ometto Neto, 2000

A grande família Speed 1600, em foto tomada em 1989

Grande parte do sucesso da Speed 1600 se deveu, logicamente, ao baixo custo na preparação e na participação no campeonato, quando comparado às demais categorias, além é claro da facilidade que se tinha em encontrar peças de reposição. O forte apelo emocional do Fusca, que era o carro querido do povo, também ajudou na popularidade da categoria. Mas sempre foi muito fácil de se notar, para quem, como eu, acompanhou de perto as várias fases da Speed 1600, a grande felicidade dos pilotos ao final de cada prova, como se eles todos – e eram muitos – fizessem parte de uma grande família”. l