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Um Porsche 917 no Brasil

O monstro das pistas

A história de um porsche 917 no Brasil

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O Porsche 917 de Wilson Fittipaldi na Copa Brasil de 1972

Ahistória de um dos mais fantásticos automóveis de competição começou em 1969, justamente no ano em que ele estreou em Le Mans. Como já contamos nas páginas anteriores, nenhum dos Porsche 917 inscritos terminou essa prova, apesar de terem liderado mais da metade das 24 horas da corrida. A glória, no entanto, veio já no ano seguinte: com os problemas solucionados, um Porsche 917 KH, de cauda curta, venceu as 24 Horas de Le Mans, pilotado pela dupla Hans Herrmann e Richard Attwood.

Em segundo lugar chegou a dupla Gérard Larrousse e Willy Kauhsen, em um Porsche 917 LH de cauda longa. Para completar a festa, chegou em terceiro lugar o Porsche 908/02 de Rudi Lins e Hemut Marko.

O Porsche 917, no entanto, tem também uma boa história por aqui, quando Wilson Fittipaldi participou da Copa Brasil de 1972 com um 917 curto pela equipe Bino/Motoradio.

A edição de 1972 da Copa Brasil tinha tudo para dar errado, mas não foi de todo ruim. Das seis provas previstas, em dezembro daquele ano, organizadas pelo Avallone Motor Clube, a primeira e as últimas etapas foram canceladas. Na segunda etapa, Willi Kauhsen venceu com um Porsche 917/10 e Wilson Fittipaldi chegou em segundo lugar, com seu Porsche 917 de cauda curta. ç

Largada da Copa Brasil de 1972. Wilson Fittipaldi no Porsche 917 e, ao lado, Willi Kauhsen, com Porsche 917/10

A quarta etapa da Copa Brasil de 1972 foi vencida por Wilson e seu Porsche 917 amarelo, de número 2, e o Porsche 917/10 de Willi Kauhsen quebrou na primeira volta. As duas últimas etapas, que seriam realizadas às vésperas do Natal e do Ano Novo, foram canceladas e Wilson Fittipaldi sagrou-se campeão da Copa Brasil de 1972. George Loos foi o vice-campeão, com um McLaren M8F Chevrolet, seguido de Andrea de Adamich, com um Alfa Romeo T33.Willi Kauhsen ficou em quarto lugar na Copa Brasil de 1972.

Jan Balder ficou na sexta colocação na Copa Brasil, vencendo a terceira prova da Copa Brasil Nacional, com um Avalolone Chrysler. Nessa copa particular, venceram também os pilotos Pedro Victor DeLamare, com um Avallone Chevrolet, e Camilo Christófaro, com um Fúria Chrysler.

Wilsinho inventando com seu Porsche 917: instalou aerofólios na frente e atrás

Depois dessa aventura na pista, o Porsche 917 do Wilson ficou famoso pelas ruas de São Paulo, já que, às vezes, os Fittipaldi desfilavam com o carro pintado de verde metálico. Foi em um desses passeios que eu conheci o carro, quando Wilson o levou para Interlagos para que meu pai, Expedito Marazzi, pudesse experimentá-lo. A história com mais detalhes está relatada em uma reportagem para as revistas Manchete e Fatos&Fotos de 1974, se a memória não me trai. E são justamente as edições que eu não tenho guardadas, por isso preciso puxar pelas minhas lembranças de adolescente. ç

Nessa época estávamos em contato mais frequente com os Fittipaldi, o mesmo período quando fomos ver a motocicleta Bultaco que Emerson havia trazido como presente pelo campeonato de 1972 na F1. Foi quando, também, Expedito quase conseguiu “filar” uma voltinha no Copersucar FD01. Não rolou, mas, no fim, ele acabou experimentando o Brabham BT-34 do Wilson.

Em um desses dias de conversas, chega o Emerson na oficina do Copersucar pilotando o reluzante e verde Porsche 917. Fico imaginando o brilho nos olhos do Expedito ao ver aquele carro. Esse rolou, e foram para Interlagos para ele pilotar e fotografar o carrão para a revista. De acordo com ele, foi o carro mais rápido que ele já havia pilotado, o que não é de impressionar, pois deve ser o carro mais rápido que a maioria de quem o experimentou, já pilotou. “Nunca vi o retão tão curto, foi impressionante...”, comentou Expedito ao sair do carro.

Esse dia em Interlagos foi mesmo para nunca mais esquecer. E quem me lembrou desse fato foi justamente Wilson Fittipaldi, muito tempo depois, em um box de Interlagos. Aí já é uma das minhas histórias.

Eu fazia reportagens para a revista Racing, pilotando e avaliando carros de competição. O termo “avaliando” chega a ser exagerado, pois eu, na qualidade de um simples repórter, apenas o dirigia na pista para depois fazer minhas considerações.

Naquele dia, eu fui designado para pilotar o Chevrolet Omega com o qual Wilson Fittipaldi corria na Stock Car. Acertei com o chefe de equipe e fui para a pista, mas, chegando ao box da equipe, o chefe ainda não havia informado a turma que eu iria fazer uma reportagem e, logicamente, não me permitiram. Mas isso foi rapidamente solucionado com um telefonema. E lá fui eu para a pista com o Omega do Wilson.

Como ele é bem mais alto do que eu e o banco não tinha regulagem, tive que apoiar as costas em um macacão enrolado. Mesmo assim, curti demais aquele carro, afinal, minha preferência sempre foi tração traseira e eu tinha, na época, um Opala e um Omega da Stock, além de já ter corrido de Maverick.

Enquanto eu pilotava, Wilson chegou e viu “alguém” pilotando o seu belo carro. Como os mecânicos não souberam lhe dizer meu nome, ele ficou muito zangado. Percebi isso quando parei e ele veio falar comigo. Foi quando eu ouvi o melhor elogio que alguém poderia receber de um piloto da estirpe do Wilson, que, além de tudo, sempre foi um grande gentleman.

Quando eu saí do carro e ele viu que era eu, me disse, com expressão de satisfação: “O último Marazzi que dirigiu um carro meu foi o Expedito, aqui mesmo em Interlagos. E foi o meu Porsche 917”. Expedito, lá de cima, deve ter ouvido, e deve ter ficado tão orgulhoso quanto eu. l