6 minute read

O carro no cinema

Tributo a Jacques Tati

o ator cômico e diretor gostava mesmo de carros

Advertisement

Ocineasta francês Jaques Tati era também um ator. E dos bons. Dono de uma profunda linguagem de corpo e de expressões, seus filmes praticamente não tinham diálogos. Mais do que as imagens, os sons que ele destacava em seus principais filmes era sua marca registrada. Se alguém já conhece o comediante Roman Atkinson, o famoso Mr. Bean, certamente notará que ele foi fortemente influenciado por Jaques Tati.

Tati gostava muito de automóveis, de forma que seus filmes, mesmo não tratando do assunto, os mostrava com muita propriedade. Com exceção Trafic (As Aventuras do Sr. Hulot no Tráfego Louco, 1971), que mostra as confusões de Tati, um projetista de automóveis, pela autoestrada.

O filme mais conhecido de Jacques Tati é Les Vacances de Monsieur Hulot (As Férias do Sr. Hulot, 1953), que começa com ele chegando a um balneário dirigindo um pequeno Salson de 1924.

Outros modelos são mostrados durante o filme, como um Renault KZ4 Torpedo 1930, um Simca-Fiat 6CV 1936, um Renault Monaquatre 1936, um Fiat 500 Spider 1939, um Mercedes-Benz 170S 1950 e um Peugeot 203 1949, entre outros. O caminhão que reboca o Salson é um Hotchkiss AM2 1928. Em um pequeno balneário, todos os carros passam o filme inteiro circulando pelas cenas.

Renault KZ4 Torpedo 1930, Simca-Fiat 6CV cabriolet 1936, Renault Monaquatre 1936 e Fiat 500 Spider 1939

Mercedes-Benz 170S 1950, Hotchkiss 1928 transformado em caminhão guincho e Peugeot 203 1949

O filme seguinte de Jacques Tati é Mon Oncle (Meu Tio, 1958), uma sátira à modernidade tecnológica daquela época. Nesse filme, Hulot só anda de bicicleta a motor, mas seu cunhado rico tem uma casa futurista e carros americanos, como um Oldsmobile Super 88 1951, que ele troca por um Chevrolet Bel Air 1956 de cores berrantes (verde, roxo e rosa). Logo nas primeiras cenas, o tom satírico pode ser notado, já que a maioria dos carros circulando são norte-americanos e não franceses ou europeus. Mas há alguns franceses, como o Simca Vedette Versailles

As cores do Chevrolet Bel Air 1956 são de assustar qualquer um. E de matar qualquer colecionador atual

Para um filme cuja história não tem os automóveis, Meu Tio é, na verdade, um desfile de carros. Em cenas de fundo, os franceses são a maioria, como os Simca Vedette Regence e Trianon, o Simca Aronde DeLuxe, Renault Frégate Amiral e Renault Domaine, Peugeot 203, Peugeot 403 e até um Ford francês, um Comète 1953.

Parece que Tati quis mostrar que os carros americanos demonstravam riqueza ou superioridade, como o Buick Century 1957, Studebaker Champion Regal, De Soto Fireflite, Dodge Kingsway, Mercury Custom e Ford Mainline. Há até um Mercedes-Benz 300SL, escondido

Jacques Tati, como M. Hulot, caminhando ao lado de um velho e arrebentado Chevrolet Special DeLuxe 1941

Um Chevrolet TwoTen 1955 e um Mercedes-Benz 300SL Asa de Gaivota bem escondido ao fundo, na cena final

Plymouth P-20 Special DeLuxe Club Coupe 1950

Com todos esses carros, Monsieur Hulot só pilotou uma bicicleta a motor nesse filme. Trata-se de uma Velosolex 330 1954, francesa.

O grande filme seguinte de Jacques Tati foi Playtime (Playtime, Tempo de Diversão, 1967), uma super produção que ele encarou sozinho e que “torrou” todo o seu patrimônio. É, ele faliu. Pudera, ele recriou uma Paris ultra moderna, com prédio enormes, incluindo um aeroporto. O filme ganhou muitos prêmios, mas fracassou nas bilheterias. Os carros são mostrados, desta vez, como objetos da vida moderna.

Essa cena de Playtime serviu para mostrar um desfile de carros

Um Citroën DS 19 e um Ford Corsair 1964 na Paris cenográfica de Jaques Tati, no filme Playtime

Sendo um filme essencialmente urbano, há uma imensidão de automóveis em cena, parados no estacionamento ou no trânsito, mas nenhum em grande destaque. E Tati continua com sua obsessão pelos carros americanos, como um Chevolet Impala 1963 no início e um Plymouth Fury 1964 no final. As últimas cenas mostram um desfile deles, ao redor de uma praça.

Por fim, o quarto e último grande filme de Jacques Tati, Trafic (As Aventuras de Monsieur Hulot no Tráfego Louco, 1971), no qual ele interpreta um projetista automotivo que precisa levar um caminhão de Paris a Amsterdã, o que ele faz com muita confusão pelo caminho.

O filme é uma sequência de gags automobilísticas, nas quais, mais uma vez, Tati explora cenas cômicas e sons incidentais. Alguns modelos de carros europeus são interessantes, como o Siata Spring 850 de 1967, que aparece em muitas cenas, e o Lotus Super Seven 1969. ç

O caminhão Peugeot U23-50 de 1958 é o principal veículo do filme Trafic

O Siata Spring 860 de 1967 é um dos principais veículos do filme. Nas fotos menores, um Citroën e um Morris Minor

Um Chevrolet Chevelle 1969 e um BMW 2002 1968. Ao lado, um Plymouth Valiant 1970

Jacques Tati interpreta também o policial que controle o trânsito nessa cena. Duas motocicletas BMW R 69S de 1960 Jacques Tati interpreta também alguns personagens extras, como o policial que cotrola o trânsito durante um acidente de estrada. Trafic foi bem recebido pela crítica, em 1971, mas permanece como um dos filmes considerados cult, até os dias atuais. É claro que, sendo um filme de carros, em 1971 meu pai me levou ao cinema para ver Trafic. l