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Veganismo é ética
Estilo de vida ressalta a necessidade de uma alimentação saudável; segundo estudo, 70% da população reduziu o consumo de carne

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VITÓRIA PIERRI
Considerado uma dieta ou moda para alguns, para outros o veganismo é um estilo de vida e um posicionamento ético.
A alimentação vegana, que exclui qualquer alimento de origem animal, como carne, leite, ovos e derivados, tem atraído cada vez mais adeptos, como revelou um estudo da GlobalData, publicado pela revista Forbes, em 2018, mostrando que “um total de 70% da população mundial está reduzindo o consumo de carne ou deixando-a fora da mesa”.
Um dos principais motivos para adotar este estilo de vida, que também rejeita qualquer produto oriundo de exploração e crueldade animal, é o amor por esses seres vivos. Ademais, saúde e preocupação com o meio ambiente também estão entre os porquês de adotar a alimentação vegana.
A estudante de serviço social de Franca Thaís Becassi Brand, 21, vegana há três anos, conta que sua transição para o veganismo iniciou após retirar todos os tipos de carnes do cardápio.
“Ainda consumia os derivados e, ao longo dos anos, fui percebendo que não fazia sentido não consumir carne e continuar contribuindo com toda exploração animal e degradação ambiental”, afirma a estudante.
Assim que tomou a decisão, a jovem buscou estudar sobre a nova alimentação e diz ter sido fácil o período de transição. “Afinal, aderir a uma alimentação vegetariana restrita consiste em uma enorme variedade de alimentos, como frutas, leguminosas, cereais, grãos, hortaliças e vegetais.”
Além disso, Thais faz suplementação da vitamina B12 e afirma nunca ter apresentado problemas de saúde após eliminar a carne de suas refeições.
A nutricionista Jéssica Pereira, de São Paulo, especializada em nutrição vegetariana e esportiva, confirma que é possível ter uma alimentação vegana saudável e, para isso, é preciso ter como base do cardápio alimentos in natura e minimamente processados.
Jéssica ainda informa que diversos estudos já mostraram que “a alimentação vegana é mais saudável que a alimentação onívora, devido ao grande consumo de alimentos ricos em vitaminas e minerais e baixo consumo de gordura saturada”.
Mas a nutricionista faz um alerta: “Todo vegano precisa suplementar B12”. Jéssica explica que a necessidade se dá “por não termos nenhuma fonte vegetal de vitamina B12, já que ela é produzida pelo nosso corpo, assim como os animais e as bactérias fazem”. Sendo importante para o funcionamento cerebral, ela deve ser suplementada para evitar deficiência.
Para a jovem Thaís, retirar a carne trouxe de imediato, a sensação de o corpo estar mais leve e mais presente. A estudante ainda garante que sua saúde melhorou: “Diquei doente pouquíssimas vezes”.
Para ela, mais que não comer carne, o veganismo representa um posicionamento ético e político do cotidiano.
“Veganismo é sobre ética e direitos. Fundamentalmente, a empatia ou compaixão acabam sendo um desdobramento natural quando questionamos sobre o assunto”, afirma.
Thaís ainda cita o especismo como um comportamento geral, “de que a humanidade é superior e atribui aos animais sencientes no planeta pouco ou nenhum direito”. Para a jovem a falsa superioridade é extremamente violenta.
“Quando entendemos que os animais sentem dor, medo, tristeza... é preciso fazer reflexões e repensar o consumo. Por que ver maus-tratos em animais considerados domésticos causam tanto espanto e revolta? Apenas porque a violência com os outros animais é naturalizada. Então é preciso desnaturalizar a dor e a exploração”, diz. Para Thais, é preciso entender que todos os animais têm direitos.
Pela plataforma do Instagram, a estudante ainda aproveita para compartilhar conteúdo sobre a alimentação, apresentando receitas veganas e levando conscientização ambiental às pessoas.
Quem também embarca na aventura de um novo estilo de vida é o estudante de ciências sociais de Ribeirão Preto Vinicíus Cesar da Silva Cristo, vegetariano há aproximadamente um ano. Durante a quarentena, medida tomada pelo governo do estado de São Paulo para conter a pandemia do novo coronavírus, o jovem iniciou a transição para o veganismo.
O processo que leva a carne para o prato é o que levou Cristo à alimentação vegana. “Eu sabia da violência que acontecia com os animais para poder me alimentar”, afirma. Ver, de perto, a morte desses seres vivos não trouxe escolha diferente ao jovem. “Eu via, inclusive, meus familiares e a minha vó matarem galinha no meu quintal, e não conseguia consumir.”
No entanto, o jovem diz que o que impedia de adotar o veganismo era a “naturalização da morte animal”. Assim, o ponto de A estudante Thaís Becassi Brand aderiu ao veganismo há três anos

partida para a transição alimentar de Cristo foi o contato com pessoas veganas e vegetarianas, além de estudar sobre os movimentos e descobrir receitas que substituem alimentos de origem animal e conhecer produtos livres de crueldade.
“Eu achava que veganismo era uma coisa elitista e que só rico conseguia consumir. Mas essa transição está sendo extremamente tranquila, não digo fácil.”
O maior desafio do jovem é encontrar produtores em sua cidade, mas acredita que isso seja apenas falta de informação.
Para Cristo, “o veganismo traz a quebra contra o capitalismo, o consumismo e a sociedade do consumo”. Assim como Thais, ele percebe o impacto da alimentação vegana em sua saúde: “faz muito tempo que não fico doente ou não pego gripe”.
A nutricionista Jéssica explica que qualquer um pode se tornar vegano, mas o acompanhamento profissional é importante, pois as recomendações nutricionais podem ser diferentes, de acordo com cada faixa etária, principalmente para gestantes, crianças e idosos.
A especialista ainda informa que sem o consumo de carne, queijo, leite e ovos “é praticamente nulo o consumo de gordura saturada”. Assim, a alimentação vegana diminui os riscos de desenvolver doenças cardiovasculares, câncer de cólon e doenças crônicas não transmissíveis como diabetes e hipertensão.
Pesquisar sobre o veganismo é o conselho de Cristo para aqueles que desejam entrar para o movimento.
E Thaís completa: “saiba que você faz a diferença tanto para o meio ambiente quanto para a sua própria saúde”.