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Heróis de verdade

Na linha de frente do enfrentamento da pandemia de covid-19, profissionais da saúde de Ribeirão Preto dão o melhor de si para salvar vidas

ANNA CARVALHO

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Entre as altas filas e números de pacientes infectados pela covid-19 para serem atendidos em Ribeirão Preto, há por trás da tragédia aqueles que mais se arriscam para solucionar, da melhor maneira, a realidade de pessoas que desconhecem a gravidade da situação atual.

É o que conta a enfermeira Flavia Zanetti, 23, que trabalhou como home care logo no início da pandemia. Para Flavia, a sensação inicial foi de bastante medo. “O meu maior medo sempre foi passar para as pessoas que moravam comigo. Moro com mais três amigas em uma república e acabei me isolando das meninas enquanto estava cuidando da paciente.” A enfermeira diz que cuidou de uma senhora que contraiu covid-19 logo nos primeiros dias da pandemia na região e que acompanhou de perto todos os cuidados.

“Quando precisamos transferi-la para o hospital eu fui como acompanhante, por norma do meu serviço. Ficamos por lá até que o diagnóstico fosse lançado. Como estava no começo da pandemia, ainda não havia muitas normas de isolamento definidas, então ficamos juntas no mesmo quarto. Mas os cuidados eram básicos: higienização das mãos e isolamento. Quando comecei a desconfiar que eu também houvesse contraído coronavírus.”

Dentro dos hospitais, a situação não é muito diferente. A auxiliar de enfermagem Esteffani Florencio afirma que a realidade acaba por ser um pouco mais assustadora dentro dos centros médicos. Ela, que trabalha no centro obstétrico para covid-19 do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, passou por episódios muito difíceis em seu trabalho.

“Mesmo quando as pacientes gestantes chegam com os exames prontos, fazemos alguns outros para comprovação da covid-19, além da análise do andamento da gestação”, diz.

Além disso, muitas situações comoventes estão passando pela trajetória de Esteffani. “Cheguei a receber mães com sintomas leves que acabaram agravando e interrompendo a gestação. Ainda era tudo novo, não tínhamos muitas informações sobre os testes das vacinas. As gestantes são fortemente monitoradas, mas, em algumas situações, acabam perdendo o bebê.”

Esteffani ainda relata que o hospital segue regras fortes de monitoramento. “Os bebês dessas gestantes participam também de pesquisas. Assim que nascem seguem sendo acompanhados pelo hospital.” Do mesmo modo, as gestantes que recebem alta também são por 15 dias, e os médicos entram em contato com as pacientes a cada dois dias.

Apesar de altas pesquisas e investimentos, nem sempre os hospitais da cidade possuem o melhor preparo para atendimento dos pacientes.

A agente comunitária da Unidade Básica de Saúde (UBS) Marincek, Janaina Almeida, 38, declara que o fluxo de pacientes com suspeita e confirmação do covid-19 não é muito distante de hospitais particulares. Entretanto, a necessidade de compartilhar informações cresce diante de um cenário periférico.

Para que os casos sejam controlados, mesmo com poucas verbas, a Unidade de Saúde criou o projeto “Posso Ajudar?”, que conta com uma triagem, evitando aglomeração e facilitando o atendimento médico.

Apesar de seguirem as recomendações médicas, Janaina explica que existe uma grande diferença do serviço público para o particular. “Tudo o que entra na unidade é higienizado. Materiais, pacientes e utensílios. Seguimos as recomendações da OrganiA pesquisadora Ingryd Garcia

Equipe que atua na linha de frente do enfrentamento ao coronavírus

zação Mundial da Saúde (OMS) porém, nem sempre temos as mesmas condições que as unidades particulares.”

Para Janaina, o início da pandemia foi o mais assustador. “No começo, entrava em pânico com cada paciente contaminado que atendia. Hoje, tenho uma sensação de que a gente vai se acostumando. Não devia. Mas acostuma.

A agente comunitária ainda menciona as diferenças nas questões de atendimento. “Infelizmente faltam muitos materiais, o atendimento acaba sendo precário. Às vezes fica difícil atender os pacientes e até gerar conforto para eles”.

Apesar das dificuldades, o hospital mantém contato com o paciente mesmo após receber alta. “Acompanhamos por telefone todos os pacientes sintomáticos, informamos os resultados, quando a Secretaria da Saúde não consegue contato e, em caso de óbito, acompanhamos a família, por telefone”, diz Janaina.

As pesquisas em busca de novos resultados para vacinas contra o novo coronavírus são incessantes. É isso que buscam os membros do projeto Imunocovid, um consórcio de laboratórios de pesquisa e estudos da covid-19 da Universidade de São Paulo (USP), para o enfrentamento da covid-19.

O grupo, que analisa a manifestação genética do vírus, reúne um consórcio de diversas faculdades do Brasil e do mundo, com o apoio de pesquisadores de diversas áreas da saúde, como enfermagem, medicina e biomedicina.

É o caso da pesquisadora Ingryd Garcia, 23, graduada em enfermagem e membra da linha de frente em pesquisa aos avanços do vírus. Para ela, que atua na área de coleta de amostras dos pacientes, existe a importância da compreensão dos grupos de diferentes manifestações do vírus.

“Em contato com a secretária da saúde, atndemos os pacientes através da prefeitura. Apesar disso, a maior parte desses pacientes são encaminhados devido à nossa divulgação”, diz Ingryd.

Segundo a pesquisadora, o maior contato com os pacientes é diretamente dos hospitais. “Seguimos o comitê de ética da Plataforma Brasil e dos hospitais que mantêm consórcio com o grupo.”

O que mais gera impacto é a forma como o avanço científico muitas vezes é descartado por desvios de informação. “Muitas vezes, sinto-me desmotivada por saber que a ciência vai se desvalorizando com o tempo. A nível humano, sou impactada com a forma pela qual a análise dos casos é tão importante e ainda assim somos, como pesquisadores, desvalorizados.”

Apesar de todas as dificuldades do cenário atual, muito se espera da solidariedade das pessoas. Por este motivo, campanhas de doação de sangue estão sendo desenvolvidas na cidade, a fim de reabastecer o banco de sangue.

É o que afirma a enfermeira-chefe do Posto de Coleta – Hemocentro de Ribeirão Preto, Queila Oliveira. Para a enfermeira, os bancos de sangue só estão se mantendo graças às campanhas. “Com o coronavírus, passamos por algumas quedas no nosso banco de sangue. Apesar disso, as campanhas de doação espalhadas pela cidade foram fundamentais para nos manterem de pé.”

Em divulgação oficial, o Hemocentro RP, unidade campus, noticiou que, apesar dos altos índices de procura, alguns tipos sanguíneos ainda estão em baixa. É o caso dos tipos O+, O-, A+ e A-. Entre eles, o índice do tipo sanguíneo O+ é o mais alarmante. O mínimo esperado para a cidade é de 341 bolsas em estoque, enquanto, em setembro, contabilizou-se somente 70 bolsas até o momento (dados coletados em 22/9/2020).

Para doação de sangue é necessário procurar o hemocentro da cidade. A doação é voluntária.

O hemocentro garante que o ato de doação de sangue não gera riscos de contaminação por covid-19.

Para mais informações, acesse o site: www.hemocentro.fmrp.

usp.br

Medidas de segurança e prevenção:

• Agendamento de doações para evitar aglomeração; • Distanciamento entre as cadeiras na recepção; • Higienização dos profissionais, doadores e equipamentos; • Utilização de materiais descartáveis; • Álcool gel 70% à disposição nas dependências do banco de sangue.

Serviço

Banco de Sangue de Ribeirão Preto Endereço: Rua Quintino Bocaiúva, 895 Tel.: (16) 3610-1515 Atendimento: das 7h às 12h30, de terça a sábado (exceto feriados)

Hemocentro Campus

Endereço: Rua Tenente Catão Roxo, 2.501 Tel.: (16) 2101-9352 ou 0800-979-6049 Atendimento: Segunda a sexta das 7h às 13h. Sábados, domingos e feriados das 7h às 12h30

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