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Funk na veia
Já não é novidade que o funk se tornou o ritmo preferido dos jovens no Brasil, se tornando também o ritmo brasileiro mais ouvido no exterior. A versatilidade dos artistas e produtores do ritmo faz com que cresça cada vez mais a popularidade e aceitação desse gênero musical.
Em Ribeirão Preto o funk está presente em cada canto da cidade, são inúmeros os Mc’s que tentam investir na carreira. Muitos deles são artistas independentes que buscam se destacar e chamar a atenção das grandes produtoras do país. É o caso dos Mc’s Vitor RV, 17, e Léo ML,17, e do produtor musical THS, 19.
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Breno Pompolo, conhecido como Mc Vitor RV, morador do complexo Ribeirão Verde, zona leste de Ribeirão Preto, há dois
Artistas de Ribeirão Preto lutam para ganhar visibilidade e destaque na cena musical com produções próprias
anos e meio no cenário, já soma mais de 20 mil visualizações em suas músicas.
O funk sempre foi a principal referência para Vitor, inevitavelmente o Mc percebeu que tinha talento para explorar no ritmo musical.
“Eu ouvia muito outros artistas e comecei a querer me aprofundar mais, iniciei fazendo freestyle (rimas improvisadas), participei de várias batalhas de rima e resolvi partir para o lado do funk”, diz o funkeiro.
Vitor conta quais são os principais desafios para jovens que tentam ser funkeiros.
“O principal problema hoje é ter uma oportunidade de ser visto. Existem muitos meninos bons por aí que não têm os mesmos recursos que os grandes e famosos Mc’s, mas têm talento e um dom que geralmente se acham na periferia”, afirma o funkeiro.
O produtor musical THS

Nem tudo são flores na carreira de um artista. A família é a principal fonte de energia, e com Vitor não foi diferente. Além disso, o funkeiro cita a importância do funk para sua formação como pessoa.
“No começo foi difícil explicar para a família, mas hoje em dia eles super apoiam e veem que é um sonho e objetivo que eu estou buscando”, afirma o funkeiro.
“O funk me ensinou a ter pé no chão e a entrar e sair de qualquer lugar sem esquecer quem eu sou e de onde eu vim, por isso, tento passar essas ideias em minhas letras”, diz o funkeiro.
Leônidas da Silva, conhecido como Mc Léo ML, conta que faz funk desde os 13 anos, cantando e compondo, porém iniciou-se como artista dois anos atrás.
“Faz tempo que faço música. Fazia muitos medleys [vídeos onde vários funkeiros se reúnem e cantam suas músicas a capela] e vi que eu poderia produzir profissionalmente minhas músicas. Desde criança eu ouvia e me inspirava em outros funkeiros como Mc Daleste e vi que cantando funk era meu lugar”, diz Léo.
Hoje Léo trabalha e pode pagar do próprio bolso as produções de suas músicas, mas no começo contou com o apoio da família para investir no sonho.
“Minha família era meio desconfiada, mas viram que esse era o meu sonho e eu quero correr atrás dele. Na minha primeira música contei com a ajuda dela, mas hoje estou trabalhando e posso pagar as minhas músicas”, afirma o funkeiro.
Léo compõe ritmos como pagode e sertanejo, mas é no funk que o Mc se encaixa melhor.
“O meu foco é funk. Por mais que eu componha pagode e sertanejo, me vejo mais identificado cantando funk, me sinto melhor assim. Tenho vontade de cursar uma faculdade ou algo do tipo, mais ainda não me decidi”, diz o funkeiro.
O Mc comenta as dificuldades encontradas pelos artistas na busca do reconhecimento.
“Todos pensam que fazer funk é fácil, que é só fazer uma música e esperar o sucesso bater na porta, mas ninguém sabe o quanto você se dedica, muitos não sabem se você passou fome, se você precisou e ninguém ajudou. Então se você acha que é capaz, deixa os outros falar o que quiser, confie em você”, diz o funkeiro.
Não são apenas os funkeiros que buscam espaço. Quem nunca se perguntou “quem será que está por trás das músicas que fazem sucesso?” O mercado de produtores independentes em Ribeirão Preto também almeja seu lugar ao sol.
Thales Silva, conhecido como THS, ouvindo músicas eletrônicas em 2014 começou a se perguntar como os Dj’s faziam aquele estilo de som e resolveu se aprofundar e estudar esse meio.
“Uma das coisas mais dificultosas foi que ninguém além de mim mesmo botava fé no meu sonho. Estudei, corri atrás e trabalhei para investir em mim sozinho. Ninguém me ajudou na divulgação por exemplo, era eu por eu”, afirma o produtor.
Nesses seis anos produzindo, THS afirma que conseguiu construir um estúdio bom para poder realizar seu trabalho e assim ganhou mais visibilidade.
“Do começo pra cá algumas coisas mudaram, consegui construir meu home estúdio e, conforme você vai crescendo, as pessoas vão te notando. Infelizmente hoje em dia as pessoas valorizam mais a popularidade do que o talento, então hoje tenho uma visibilidade maior do que antes”, diz o produtor.
Para THS, a grande diferença entre o Mc e o produtor é o estudo profundo da musicalidade.
“A grande maioria não dá tanta importância para a musicalidade, muitos acham que é só escrever uma letra, ir lá no estúdio, gravar e lançar. O estudo do ritmo, do flow, da melodia e teoria musical também vale para esses artistas, para que possam entender a linguagem desse meio para passar as ideias dele de uma forma que o produtor compreenda e possa reproduzir da melhor forma”, afirma o produtor.
O que atrapalha o crescimento desses artistas são as chamadas “guerras internas” da cena local, onde egos e manias geram conflitos, e para THS essas atitudes só desvalorizam os próprios artistas.
“A falta de companheirismo e simpatia fazem com que as pessoas fiquem distantes. A maioria não quer se conectar com ninguém. Falta um pouco mais de união e empatia pelo próximo”, diz o produtor.