GUGU BITTENCOURT, UMA FOTOBIOGRAFIA

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fotobiografia

Gugu Bittencourt

Coleção P er sonalidades Fluminenses - F uncab Publicações Per ersonalidades Funcab


Apresentar esta fotobiografia é uma homenagem merecida ao meu pai e, especificamente, o livro é a culminância de uma história que iniciou em 2003, quando houve a necessidade de se criar uma personalidade jurídica para o Projeto Gugu, de ginástica para a terceira idade, atividade que já existia há 8 anos, patrocinada pela Prefeitura de Niterói e administrada pela Neltur – Empresa Niteroiense de Turismo. Resolvemos, para atender ao pleito de papai, instituir uma fundação de direito privado, sem fins lucrativos, que poderia, além de abraçar o Projeto Gugu, proporcionar inúmeras outras atividades visando à melhoria da qualidade de vida de todos os segmentos da sociedade, principalmente em Niterói. Esta é, estatutariamente, a grande finalidade da instituição criada. Escolher o nome da entidade foi um exercício de grande satisfação, e rapidamente optamos por homenagear uma figura ímpar da sociedade niteroiense, meu pai, Carlos Augusto Aguiar Bittencourt Silva, e assim foi instituída a FUNCAB – Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt.


Gugu aos 5 anos

“O tempo dura bastante para aqueles que sabem aproveitá-lo.” Leonardo Da Vinci


“Minha vida é excelente. Estamos sempre à procura da felicidade. Você tem de organizar sua vida para ser feliz. Uma pessoa é muito ambiciosa, outra não. O importante é tentar o equilíbrio, para não sofrer por ter uma vida muito atribulada, sem conseguir usufruir suas conquistas, ou também por não conquistar. O bom senso é não ser ambicioso demais, nem acomodado. Ser acomodado hoje pode refletir negativamente no futuro. A verdade é que queremos sempre nos afirmar. Quando nos sentimos inseguros, e o chão desaparece sob os pés, vem a infelicidade e se instala em nossa mente. Quando você se sente seguro, preso ao chão, a felicidade nos acena novamente. Se pensarmos bem, a vida é muito pessoal, todos os sentimentos altruístas, caridosos, são frutos de uma iniciativa que nos faz muito bem, e às vezes não percebemos os hábitos negativos. Quando você tem raiva de uma pessoa, briga com ela, e um dia as circunstâncias mudam, esta mesma pessoa que você rejeitava se torna um amigo. Este fato acontece porque você conseguiu, através dos sentidos, captar o lado positivo daquela pessoa. É um conselho que dou aos meus filhos, sem a certeza de ser ouvido, para que eles sejam mais felizes.” GUGU BITTENCOURT




Gugu

Bittencourt

Uma fotobiografia

Niterói/RJ Funcab Publicações 2013


Créditos Gugu Bittencourt, uma fotobiografia Publicação da Funcab - Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt Projeto, coordenação, edição, Marcio Gomes Pesquisa, Helga Barros Revisão, Janaina Bernardes Design gráfico, Mago Ideias (magoideias.com) Funcab Publicações Editor, Marcio Gomes publicacoes@funcab.org (Queremos contar sua história)

Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt Diretora-presidente, Rosana Nobre Machado Bittencourt Silva Diretor de Administração e Finanças, Sergio Emilião Diretora de Desenvolvimento de Projetos, Regina Célia Corrêa Bittencourt Silva

www.funcab.org Título original: Gugu Bittencourt, uma fotobiografia. Publicado pela Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt Funcab. 2013 Dados Internacionais de Catalogação da Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gugu Bittencourt, uma fotobiografia Niterói-RJ, 2013 ISBN Todos os direitos reservados.

Com Maria Zilda Figueiredo, à esq., e Gilda Briggs, no concurso Glamour Girl de 1955


Sumário Prefácio “Um homem disposto a fazimentos, e que ensina que vale a pena tentar.” Por Elzita Bittencourt do Valle. Pág. 9

Das ilhas Canárias à Maravilha Os Bettencourt são originários da Normandia, onde foram Senhores de Bethencourt e Granville.

Pág. 11

Pensão da Casa Verde A gripe espanhola esvaziou a pensão, mas vários empregados e seus familiares permaneceram acamados aos cuidados da incansável dona Zina. Pág. 19

A Marquesa de Santos Rejeitada por D Pedro I, ela se casou com um ascendente materno do Gugu. Pág. 21

Uma família, um colégio Francisco conseguiu um empréstimo e comprou a casa que seria o endereço definitivo do Ginásio Bittencourt Silva. Pág. 28 O primeiro amor, 44... O casamento com Thelma, 53... Medalha Barros Terra, 63... O Antônio Pedro e a Ortopedia, 73... O casamento com Regina, 89... Por acaso na política, 97... Esporte, mola propulsora, 119... O Projeto Gugu, 141... Gugu jornalista, Gugu notícia, 149... Depoimentos, 169... Caderno de fotos, 183...



Prefácio Recebi, com muita honra, o convite para prefaciar este livro que conta a história de um dos homens mais admirados da cidade. E o faço com o maior prazer, pois além de admirá-lo por sua história de vida, somos primos. Escrevo com meu coração emocionado, o que faz bem à minha alma e aguça a sensibilidade. Nossos avós eram irmãos, José Vitório e Zina, e ambos tinham um profundo amor pela família, os Bittencourt, até hoje unidos em plena harmonia. São tantos os seus integrantes, que a parentada resolveu criar um clube - União Maravilha - em Macuco, para reuniões festivas e encontros onde predominam a simplicidade e o amor. E nessas reuniões ali está, sempre presente, o nosso jovial Carlos Augusto Bittencourt Silva, o doce Gugu. Criatura ímpar, autêntica, despojada de tudo, solidária, fraterna, um homem disposto a fazimentos, e que ensina que vale a pena tentar. Com coragem e ousadia, ele tentou e fez. E muito por todos nós, repartindo ternuras e compartilhando vivências. Formou-se em Medicina e hoje tem um hospital. Sempre ligado ao esporte, criou o Projeto Gugu, que leva milhares de pessoas às praças de Niterói para a ginástica necessária ao corpo.

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Prefácio

Gugu quer para todos vida plena, longeva, ativa, e o exemplo está nele, que já passou dos 80 e continua um garotão. Aliás, sempre foi um galã, desde os tempos do Colégio Bittencourt Silva, criado e dirigido por seus pais, Francisco e Regina, ela também de tradicional família, os Aguiar. Seu único irmão, o desembargador Luiz César, o chamava de “ o herói das praias de Niterói”. Gugu teve, na juventude, grandes admiradoras, mas seu coração ficou com a linda Thelma, nascida Tibau, com quem se casou e teve três filhos, os médicos Rosana e Carlos Henrique e a bibliotecária Márcia. Depois, deu seu coração para Regininha, que lhe retribuiu com dois filhos, Carlos Francisco e Maria Cecília. Com este livro o leitor sente que Deus capacita os escolhidos. Então, só nos resta dizer obrigada, Gugu, porque gratidão é a moeda reluzente com que pagamos as dívidas do coração. ELZITA BITTENCOURT DO VALLE jornalista

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Das ilhas Canárias à Maravilha


Araribóia não havia nascido quando, em 1403, Jean de Bettencout foi proclamado Rei da Canária. Conhecido como Jean de Ventancorto, ou João de Bentancour, Bettencourt foi um fidalgo que lutou pela instituição do Cristianismo nas Ilhas Canárias, Espanha. Os Bettencourt são originários da Normandia, onde foram Senhores de Bethencourt e Granville. Fixaram-se nas ilhas Canárias, migraram para a Ilha da Madeira, Portugal, e desta para os Açores, onde a família se dispersou e o sobrenome adquiriu diversas formas: Bethencourt, Betencour, Betencur e Bittencourt. No Brasil, se instalaram no Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais.

Jean de Bettencourt (gravura do séc.XVI)

Diz a Wikipédia, enciclopédia livre da internet, que Jean de Béthencourt nasceu em 1362, no castelo de Grainville-la-Teinturière, Cany-Barville, Dieppe, Normandia, filho de Jean de III Béthencourt e de Marie de Bracquemont, ambos da aristocracia normanda. O pai faleceu a 13 de março de 1364, na Batalha de Cocherel, tendo sua mãe casado em segundas núpcias com Roger Suhart. Foi irmão de Jorge de Bettencourt, que se casou com D. Elvira Gonçalves de Ávila, Henri de Bettencourt, que se casou com D. Margarida de Bettencourt, e Maciot de Bettencourt. Cresceu no castelo de Grainville-la-Teinturière, na companhia da mãe, do padrasto e de um tio materno, Mathieu de Braquemont, que entretanto havia casado em segundas núpcias com sua avó paterna. A educação de Jean de Bettencourt parece ter sido confiada ao tio materno, Regnault de Braquemont. Jean de Bettencourt usava o título de barão, graças à baronia de Saint-Martin-le-Gaillard, no condado d’Eu, e respectiva fortaleza, que havia herdado de sua avó Isabeau de Saint Martin. O castelo de Saint-Martin-leGaillard sobreviveu até 1419, ano em que foi arrasado pelos ingleses. Em 1373, com apenas 11 anos, Jean aparece a serviço do Duque de Anjou, com as funções de cuidar do estoque de víveres. Prosseguindo a carreira típica da pequena aristocracia feudal, Jean de Bettencourt serviu como chanceler de Louis de Valois, Duque de Touraine (mais tarde, Duque de Orleães), entre 1387 e 1391. Neste período, obteve autorização real para reconstruir o castelo de Grainville-

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Brasão da família Bittencourt


la-Teinturière, que havia sido danificado pela guerra civil, e aquiescência do papa de Avignon Clemente VII para nele construir uma capela. Em 1390, foi porta-estandarte da expedição do Duque de Orleães contra os piratas mouros do Mediterrâneo. Apesar da expedição ter falhado, Jean de Bettencourt conhece o norte da África, desencadeando nele um interesse por aquela região, o que determinaria seu futuro. Casou-se em Paris, a 30 de abril de 1392, com Jeanne de Fayel, filha de Guillaume de Fayel e Marguerite de Chatillon, união que não gerou filhos. O casamento parece ter sido tempestuoso, já que há registro de queixas de Jeanne sobre o mau tratamento que lhe era infligido pelo marido. Jean de Bettencourt parece ter tido diversos filhos fora do casamento, dos quais procede a numerosa descendência. Em dezembro de 1401, vendeu sua casa em Paris, iniciando a preparação da sua viagem de conquista às Canárias, assunto que ocupará a maior parte do resto da sua vida. Faleceu na segunda metade de 1425, quando se preparava para visitar novamente as Canárias. Foi enterrado sob o coro alto da igreja paroquial da sua terra natal, Grainville-la-Teinturière, localidade onde um pequeno museu perpetua sua história.

Foto panorâmica de Grainville-laTeinturière, feita em 2005

Placa de estrada nas imediações da cidade

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Jean de Bettencourt parece ter tido diversos filhos fora do casamento, dos quais procede a numerosa descendĂŞncia

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Os Bittencourt da Maravilha A história da família Bittencourt começa no século XIX, tempo da Primeira Revolução Industrial, do desenvolvimento da Medicina, da invenção da locomotiva, da luz incandescente e do cinematógrafo, com o casal de mineiros Francisco José de Oliveira e Maria Genoveva da Purificação Bittencourt, conhecidos como Vovô e Vovó do Goiabal. Estimulados pela notícia da existência de grande quantidade de ouro na região dos sertões de Cantagalo, terra de Euclides da Cunha banhada pelo Rio Negro, no Sudeste do Estado do Rio de Janeiro, mudaram-se para uma propriedade denominada Barra do Ribeirão Dourado, situada na confluência dos rios Dourado e Macuco. Naquelas paragens, originou-se a Fazenda Maravilha.

Primeira edição do jornal “Voz da Maravilha”. 1934

União Maravilha/1918

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Da união do Vovô e Vovó do Goiabal nasceram sete filhos: Manoel, Maria Justina, Joaquim, Francisca, Francisco, João e José Victorio. Este casou-se com Felismina Carvalho Coutinho, formando o casal Padrinho e MadrinhaDindinha. Desta união nasceram nove filhos: Tita, Tonha, José Victorio, Lainha (Maria Laura), Zina (Ambrozina), Felismina (Fia), Dedé (Maria José), Chico (Francisco) e Janjão (João). Zina casou-se com Francisco Mariano da Silva e teve seis filhos: José (Hyoiô), Martha, Maria José (Pequena), Humberto, Zeny, Zilma e Francisco (Moreninho), pai de Gugu Bittencourt.

Sede da Fazenda Maravilha, em Macuco (RJ)

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Trecho publicado no jornal “A voz da Maravilha”, da Fazenda União Maravilha De Francisco Victorio e Vovó do Goiabal nasceu o patriarca da nossa família: José Victorio de Oliveira Bittencourt, a quem chamamos de Padrinho. Nascido em 1821, Padrinho se casou com Felisminda da Conceição Bittencourt, a Dindinha Grande, em 1851, ou seja, há precisamente 150 anos. Dos seus pais, Padrinho herdou a Maravilha. A divisa de seu lar era “Trabalho e Honradez”, sentimentos que inculcou em todos os seus 10 filhos. Padrinho morreu em 1896. A lápide de seu túmulo, de mármore branco, é das mais antigas do cemitério de Macuco. Dindinha Grande faleceu em 1911. Ao morrer Dindinha Grande, Juquinha - José Victorio de Oliveira Bittencourt Jr. (da terceira geração) escreveu um artigo intitulado Reflexos, publicado no Jornal de Cantagallo em 9 de abril de 1911.

Os Bittencourt em foto da década de 1940 na Maravilha

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José Bittencourt Silva (Hyoiô), o idealizador da Maravilha, padrinho de batismo de Gugu


Pensão da Casa Verde Em seu livro, “Vale do Ribeirão Dourado”, Silvio Primo narra que a vida conjugal de Zina e Chico Mariano foi muito “inconstante”. Em 1915, o casal migrou de Macuco para Niterói, onde abriu a Pensão Casa Verde. Alguns anos depois, a gripe espanhola esvaziou a pensão, sendo que vários empregados e seus familiares permaneceram acamados aos cuidados da incansável dona Zina. Nesta época de dificuldades, o que sustentava a alimentação da família eram os engradados de galinha enviados da fazenda pelo irmão José Victório, de Macuco. Zina é lembrada como uma destemida mulher, que nasceu para cumprir a missão de ser mãe. Não importava o sacrifício. Sua persistência deu origem a filhos honrados, que, pelas mãos do Francisco Mariano Bittencourt, tornaram-se professores eméritos de um dos principais colégios da cidade de Niterói: o Bittencourt Silva. No fim do século XIX, os fazendeiros cediam espaços em suas propriedades para que professores ensinassem seus filhos a ler e escrever. Neto de escravos, despontava o rapaz João Brasil, esforçado e alfabetizado, que começou a lecionar na Fazenda União Maravilha, onde foi fundada a Escola Municipal da Maravilha, posteriormente Escola Municipal Bittencourt da Maravilha.

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Com grande afinidade por Francisco Mariano Bittencourt Silva, filho de Zina, João Brasil foi seu professor e o levou como seu assistente, de Macuco para Cordeiro, onde fundou o Colégio Brasil, implantando cursos preparatórios para ingresso no Colégio Pedro II e no Liceu de Campos dos Goytacazes. Os alunos do Colégio Brasil destacavam-se nessas provas, e o trabalho dos professores era reconhecido. Francisco já se tornara um professor autodidata. Pouco tempo depois, João Brasil, já no Colégio Brasil, em Niterói, nomeou Francisco vice-diretor da instituição.

O palacete do Barão de Icaraí. Posteriormente, sede do Colégio Brasil. Embaixo, João Brasil, primeiro professor do pai do Gugu

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O Aguiar da m達e e a Marquesa de Santos


O dentista como testemunha Em visita ao dentista, Francisco Mariano Bittencourt Silva conheceu Regina Ferreira de Aguiar, filha de Zelinda e Juca, apelido familiar do Coronel José Ferreira de Aguiar. Político influente de Niterói, trabalhava na Prefeitura da cidade e era amigo pessoal do presidente Nilo Peçanha, líder de um governo repleto de agitação política por conta da rivalidade com o líder conservador Pinheiro Machado.

Dona Regina Aguiar Bittencourt Silva em Caxambu, ano de 1923

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Rejeitada por D. Pedro I, Domitila de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos, casou-se com Rafael Tobias Aguiar, ascendente da m達e do Gugu


José, tataravô do Gugu, era filho de Domitila A origem da família Aguiar é curiosa. Quem pesquisou foi Luiz César, irmão do Gugu. Descende da Marquesa de Santos (Domitila de Castro e Canto Melo), que, após ser rejeitada por D. Pedro I, mudou-se para o município de Sorocaba, interior do Estado de São Paulo, onde se casou com o brigadeiro e chefe político Rafael Tobias de Aguiar, comandante da Revolução Liberal ao lado do padre Diogo Antônio Feijó. Da união nasceram seis filhos, um deles, José, tataravô do Gugu, que migrou de Sorocaba para o município de Iguape, São Paulo, onde se casou.

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Regina Aguiar Bittencourt Silva, m達e do Gugu. Dona de rara beleza


Gugu com os avós maternos, Dona Zelinda e Coronel Aguiar, o “vô Juquinha”


Gugu com os pais


Gugu e Cesinha


Gugu (de terno escuro) com os pais e o irmĂŁo, Luiz CĂŠsar


Uma família, um colégio Francisco Bittencourt Silva e Regina de Aguiar se casaram em 1923, ele com 31, ela com 23 anos. Naquela época, Zoraida, filha do professor João Brasil, ficou noiva do também professor Lealdino Alcântara, e o sogro deu ao genro um cargo na direção do Colégio Brasil. Francisco, então, acordou com o amigo João sua saída nos seguintes termos: o Colégio Brasil se especializaria no curso primário, e o colégio do Francisco, no curso preparatório. Nascia o Ginásio Bittencourt Silva.

As alunas do Colégio Bittencourt Silva, antigo Ginásio Bittencourt Silva, na parada de Sete de Setembro

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Era o ano de 1926, e a primeira sede do Ginásio Bittencourt Silva foi no bairro Fonseca, Niterói, onde hoje está localizado o Colégio Nossa Senhora das Mercês. Logo, com a ajuda do sogro, Francisco conseguiu um empréstimo e comprou a casa que seria o endereço definitivo da instituição, um solar à Rua Lara Vilela, 134, no Ingá, bairro da mesma cidade, antiga residência do cônsul da Grécia, Othon Leonardos, onde hoje está sediado o curso de Comunicação Social da UFF.

Sede do Colégio Bittencourt na Rua Lara Vilela, no Ingá, onde hoje é a Escola de Comunicação da UFF

Por volta de 1930, em sociedade com duas professoras, Dora e Maria Luiza, Francisco anexou ao colégio o prédio nº 17 da Rua Tiradentes, sede atual da Faculdade de Economia da UFF, onde fundou o Internato e Seção Feminina do Colégio Bittencourt Silva. Um colégio de excelência em ensino que formou intelectuais do naipe de Marcos Almir Madeira e Antonio Carlos Callado, imortais da Academia Brasileira de Letras, os prefeitos de Niterói Dalmo Américo Oberlaender, Emilio Jorge Abunahman, José Matos Pitombo, estes dois últimos colegas de turma de Gugu Bittencourt, e Ronaldo Arthur da Cruz Fabrício. Geraldo Bezerra de Menezes e Gerson (Canhotinha de Ouro) também foram alunos da instituição.

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Hino do Colégio Bittencourt Silva Letra: Francisco Mariano Bitttencourt Silva “Ó pátria querida \ quero te saudar com emoção \ na luta da vida \ sabes despertar veneração\ Oh! Terra bendita! \ O meu coração, feliz palpita \ Por sentir-te grandiosa \ qual segunda promissão \ das nações a mais formosa! \ Orgulho dos brasileiros \ são feitos de mil heróis \ honrando mui sobranceiros \ essa bandeira \ sempre altaneira \ herdeiros desta grandeza \ exemplos tais de nobreza \ sem par, varonil \ seguir com pureza \ amai o Brasil! \ Oh! bravos soldados \ das lutas cruéis entre rivais \ sois sempre lembrados \ e vossos lauréis \ não morrem mais \ mas hoje, vencida \ a cobiça audaz \ ressurge a vida \ as nações do mundo novo \ já se irmanam pela paz \ pr’a ventura de seu povo”.

Professores inesquecíveis

Gugu listou nomes dos seus professores “inesquecíveis” do Colégio Bittencourt Silva. Primário - Maria José Bittencourt - a Tia Pequena; Rita; Hilka Morison Ribeiro. Admissão - Ciléa Bittencourt. Do 1º ao 5º ginasial - Oscar Pchevodolski (História); Sebastião Soares (Matémática); Tia Zeni Bittencourt (Geografia); Tio José Bittencourt (Geografia e Francês); Madame Ruch (Francês); Maria Amélia (Ciências Naturais); Mr. Albert (Latim); Tio Humberto (Geografia); Otílio Machado (História Natural); Trindade (Latim); Demerval (Matemática); Miss Emy (Inglês); Maestro Rolam Bandeira (Canto); Maria Edith Mendonça - TiaAvó Pequenina (Desenho); Ismael Coutinho (Português).

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Francisco Bittencourt não envolvia o colégio em política. Era uma escola católica, com as solenidades sempre marcadas por missas. O Bittencourt Silva foi considerado, até a década de 1960, o “colégio da elite de Niterói”. Era um diretor muito respeitado por seus alunos. Certa vez, comemorando o Dia das Crianças, o Cinema Imperial resolveu oferecer uma sessão grátis. Os estudantes do Colégio Bittencourt Silva criaram uma comissão para pedir ao diretor que os liberasse mais cedo, para que pudessem aproveitar. Um grupo de 100 alunos foi ao cinema e, ao chegar, estava lotado, e já havia uma outra turma barrada na porta. Queriam entrar de qualquer jeito, e começaram a jogar batatas, de uma quitanda próxima, nos funcionários do lugar. Foi quando chamaram a polícia. Em certo momento, alguém gritou: “Olha o professor Bittencourt”! Ele nada falou. Apenas sua presença fez com que todos os alunos do colégio sumissem da confusão. Respeito! Palavra de pouco uso nos dias de hoje. “Uma das virtudes de meu pai era a bondade”, diz Gugu. “Todos os parentes que o procuraram para estudar, e não tinham condições de pagar, tiveram o colégio de graça. Muita gente se formou por esta atitude dele.”

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“A religiosidade é suporte para o medo e o desconhecido. Deste medo vêm a insegurança e, consequentemente, o sofrimento. O que dá angústia ao homem desde os tempos da caverna é a pergunta ‘De onde nós viemos’? Se substituir estas perguntas por uma única resposta, ‘Deus’, você se conforta e continua a trajetória. Isto é o que faz as pessoas terem religiosidade: evitar o sofrimento e a angústia. Entendemos a vida através dos quatro sentidos: visão, olfato, audição e paladar, que são limitados. Nossa inteligência também é limitada, mas como o homem não gosta da dúvida, conforme evolui a humanidade, a religião também se transforma, e é importante para a população. Antigamente, quando ouvíamos raios, e não havia uma explicação da ciência, falávamos que era Deus. As classes menos favorecidas não tinham informação, portanto, eram mais fáceis de ser manipuladas. Algumas religiões vendem o paraíso! Para quando a pessoa morrer garantir um lugar no céu. É o comércio da fé. As religiões negam evoluções da ciência, como a origem da vida, porque, se nós homens explicarmos tudo, como ficará a fé? Fui criado na casa de minha avó, Zelinda, que era muito católica, portanto, ia à missa com ela e fiz curso para missionário, sacristão, e estudei sobre religião na Igreja de São Domingos. Sou Católico Apostólico Romano por criação, não por devoção. Aos 14 anos, comecei a questionar, e cheguei à conclusão de que as pessoas substituem suas dúvidas por Deus. Não acredito em reencarnação, considero um conforto estabelecido para minimizar o desgosto da perda.”(GB)


Tia Pequena foi quem batizou de Gugu


Gugu e Cesinha. Almoço de domingo na casa de vó Zelinda Carlos Augusto Aguiar Bittencourt Silva nasceu em casa, no Fonseca, Niterói, em 29 de abril de 1926. Filho caçula, o apelido Gugu foi criado pela tia Maria José, irmã de seu pai, chamada de Tia Pequena. Carlos Augusto virou “Gugu” e Luiz César, seu único irmão, um ano e dois meses mais velho, “Cesinha”. Gugu estudou no Colégio Bittencourt Silva durante toda a infância e juventude. Ele relata que o colégio era também sua casa. Não uma casa convencional, com sala, quarto, cozinha etc. A família morava dentro do Internato Feminino. As refeições aconteciam junto às alunas. A exceção era o almoço de fim de semana, na casa da Vó Zelinda. A família mudou-se do Internato Feminino quando professor Francisco construiu uma casa junto à Seção Masculina do colégio, na Rua Tiradentes, onde morou durante muitos anos. Gugu cursou do primário ao 5º ano ginasial no Ginásio Bittencourt Silva, e o curso complementar, com duração de dois anos, no Liceu Nilo Peçanha. Naquele período, início dos anos 40, os colégios passaram a ter ginasial, científico e clássico, e o Ginásio Bittencourt Silva mudou de nome para Colégio Bittencourt Silva.

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“Casal época antiga” No Carnaval, em Niterói, trabalhavam duas ou três costureiras responsáveis pela confecção das fantasias de grande parte das famílias. Uma vez, contou Luiz César, sua mãe resolveu que os dois, ele e Gugu, se fantasiariam de “casal época antiga”. Luiz César seria o homem, porque Carlos Augusto, na opinião da mãe, tinha “mais cara de mulher”. Mas diante da rebeldia do irmão, Luiz César aceitou inverter os papéis, vestindo uma fantasia de dama antiga! O Carnaval da infância do Gugu consistia no corso e nas brincadeiras na rua.

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A mãe do Gugu fantasiava ele e o irmão Luiz César em todos os carnavais. Era tradição


Gugu tinha12 anos quando houve uma ‘maratona intelectual’ entre os colégios do Brasil. O Bittencourt Silva participou. Gugu conquistou o 2º lugar do Estado do Rio. Um outro aluno do colégio, Walter Pfeil, hoje prestigiado professor de Engenharia da UFRJ, foi o campeão da maratona. “Luiz César, que tinha mais cartaz do que eu, não ganhou nada. Gozei muito minha mãe”, recorda Gugu, sempre divertido. No 3º ginasial, aos 13 anos, Gugu estudava pela manhã e trabalhava no colégio à tarde, como inspetor. Ele e seu irmão. Daquele tempo, o saudoso Luiz César gostava de relembrar que era um palmo mais baixo que Carlos Augusto, que tinha excelente estatura para a época, 1 metro e 80 centímetros. Cesinha era mais magro e menor: “Uma vez, fomos buscar nosso pai, que vinha de uma viagem ao Norte do Brasil, e tiramos uma foto com 15 e 16 anos, eu e Carlos Augusto, na qual estou bem menor. Depois, cresci mais do que ele”, contou. Devido a esta diferença de altura, aconteceu algo improvável com os irmãos em um cinema: eles foram assistir a um filme censurado para menores de 14 anos. Luiz César havia esquecido a carteira em casa, e foi indevidamente barrado, ainda que tivesse a idade permitida completa. E Carlos Augusto, devido a sua altura, com apenas 13 anos, entrou no cinema sem dificuldade.

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Gugu e Cesinha estudaram no ColÊgio Bittencourt Silva durante toda a infância e juventude


Gugu fantasiado de Ă­ndio no Carnaval. Destaque para o esmero da indumentĂĄria


O motorista Euclides “Sempre tivemos o motorista Euclides, que chamávamos Sr. Cride”, recorda Gugu. Seu pai nunca dirigiu. Quando Gugu era pequeno, a família viajava muito para Macuco e Friburgo, dentro de um Plymouth l937. “Meu pai sentava-se ao lado de Euclides, e dirigia junto com ele, ordenando: ‘Anda, Euclides, vira, Euclides, para, Euclides!’”, diverte-se. Seu Euclides morava atrás do colégio. Casouse com dona Geralda. Todos os filhos de Euclides estudaram no Colégio Bittencourt. “Foram pessoas muito ligadas à nossa família. Sinto muita saudade daquele tempo.”

Plymouth l937

Gugu e Cesinha viajavam com o pai e o motorista Euclides para a Serra. Na foto, com o uniforme de gala do Ginásio Bittencourt Silva

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No refeitório das meninas Carlos Augusto foi um galanteador! A primeira namorada tinha 13 anos, e ele, 11. Ela era uma das estudantes que moravam no Internato do Colégio Bittencourt Silva, a paulista Cristina de Jesus. Ao final do ano letivo, as alunas internas voltavam para suas cidades e famílias. “Nosso quarto se localizava junto ao refeitório das meninas. Cristina subiu as escadas, entrou no quarto e me deu um beijo na boca”, conta Gugu. Foi seu primeiro beijo.

Gugu conta sobre o primeiro beijo: aos 11 anos

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O primeiro amor... ... foi Ondina Brandão, Dininha, filha do prefeito de Niterói, João Francisco de Almeida Brandão Junior. Naquele período, Gugu namorou “umas 50 garotas”, como ele mesmo diz. Aidê, Eliete, Maria Helena Prazeres (“apelidada de Maria Helena Sabiá, por ter os ossos dos ombros para dentro”). Sabiá dispensou Carlos Augusto de maneira inesperada, e logo ele começou a namorar Thelma Tibau Nobre Machado, a moça mais bonita e elegante de Niterói à época. Com a inesquecível Thelma, dona de rara beleza, Gugu passeava e namorava sempre sob o olhar atento da prima, Lita, que tinha dificuldades para ouvir e falar. Moça de família só namorava com acompanhante. O namoro, nos anos 40, consistia em três etapas: flerte, namoro na esquina e na varanda. Este último estágio, só quando era firme. Depois dessas etapas, acontecia o pedido oficial do pai do rapaz ao pai da moça, com troca de alianças. Luiz César, saudoso irmão do Gugu, contou uma história que era corriqueira entre os amigos: “Uma vez, um rapaz se encrencou com a família da moça que namorava, quando o pai dela perguntou: ‘Você quer namorar minha filha pra casar ou pra que é?’ O rapaz respondeu com entusiasmo: ‘Pra que é!’”

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Com Thelma, dona de rara beleza, Gugu passeava e namorava sempre sob o olhar atento da prima, Lita

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Gugu e Thelma, o casal 20 de Niter贸i nos anos dourados, na Praia das Flechas


A ‘mulata seleção’ e o cinema Ainda na juventude do Gugu, aconteciam as domingueiras, das 20h à meia-noite. A mais famosa era a do Clube Canto do Rio. Posteriormente, também nos clubes Central, Regatas, Icaraí e IPC (Icaraí Praia Clube). No Canto do Rio, destacava-se uma mulher apelidada por Gugu e sua turma de “mulata seleção”. Ela permitia ao rapaz dançar “mais apertado”. Nos bailes, havia as meninas mais modernas, que “encostavam”, e as que “não encostavam”, principalmente o rosto. Dançar de rosto colado era sinal de compromisso. Imperdível era ir ao Cassino Icaraí. Gugu e os amigos ficavam na parte de cima da casa de shows, onde não se pagava nada. Embaixo, as mesas em frente ao palco exigiam consumação. A dançarina e atriz Carmem D’Antonio era considerada uma das mulheres mais bonitas nos anos 30/40. Dançarinas como Iracema e Vitória eram cobiçadas pelos rapazes. Moças de família não dançavam, ou seriam confundidas com as profissionais. Menor de idade não podia entrar. O Cassino foi fechado no ano em que Carlos Augusto completou 19 anos. Outro programa escolhido era ir ao Cinema Imperial, após o almoço no domingo, assistir ao “Filme em série”. Cada semana um episódio. Eram seriados, como os atuais vistos hoje na TV, só que no cinema. Cada história consistia em 12 sessões, e os gêneros eram variados. Gugu conta que “Museu de cera” e “O vento levou” foram os filmes que mais o marcaram:

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“Uma cena do ‘Museu de Cera’ é inesquecível! A mocinha é beijada pelo seu apaixonado, mas dá um tapa na cara do sujeito. Neste momento, a máscara de cera vai se desfazendo, e revela a face de um monstro! Vi com Luiz César.” O FILME INESQUECÍVEL Henry Jarrod (Vincent Price) é um escultor que faz imagens magníficas para o seu museu de cera. Jarrod luta com seu sócio, Matthew Burke (Roy Roberts), quando este começa a incendiar o museu para receber US$ 25 mil do seguro. Jarrod tenta detê-lo, em vão, sendo que logo o local todo se incendeia, o que é seguido por uma explosão, com Jarrod sendo considerado morto. Algum tempo depois, Matthew recebe o dinheiro do seguro e planeja viajar com Cathy Gray (Carolyn Jones), mas é morto por uma pessoa disforme, que na realidade é o próprio Jarrod, que simula o assassinato como se fosse suicídio. Pouco tempo depois, Jarrod mata Cathy Gray e rouba seu corpo do necrotério. Depois de algum tempo, ele reaparece dizendo que escapou por milagre. Quando Sue Allen (Phyllis Kirk), a colega de quarto de Cathy, vê a imagem de Joana D'Arc no museu, começa a suspeitar que é o corpo de Cathy coberto com cera.

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Professor aos 16 anos Carlos Augusto formou-se aos 15 anos no Colégio Bittencourt Silva. Optou pelo Complementar de Medicina, influência do tio Dario, que era médico. Conhecido hoje como ensino médio, o curso complementar preparava o aluno para o vestibular, despertando-o para a escolha de sua área de interesse: Direito, Engenharia, Medicina ou carreira militar. Aos 16 anos, Gugu começou a lecionar, no colégio dos pais, as matérias Ciências, Ginástica, Física e Matemática. Com responsabilidade de notas, organização e programa de aula. Foi professor do curso Normal, no Instituto de Educação Ismael Coutinho, onde sua mãe também lecionava. Durante 42 anos, deu aulas no Colégio Bittencourt Silva (somados aos 24 anos na Faculdade de Medicina, chega-se a 60 anos de magistério). Os amigos daquele tempo: Armando Horta (médico do município de Tanguá - faleceu há pouco tempo), Antonio, orador da turma, Pedro Paulo Kastrup, Celso Bittencourt, Abraahão, Carlos Alberto Araujo (Bebeto). “Quando fui para o Liceu”, conta Gugu, “estudava no turno da noite, junto a Horus Vital Brazil, meu amigo-irmão. Trabalhava no colégio de dia, ia ao Liceu à noite, onde cursava o Complementar de Medicina. Portanto, não sobrava muito tempo para estudar. Na primeira prova do Liceu, tirei notas 50, 35 e as outras, abaixo de 35 (o que seria, numa escala de zero a 10, nota 5.0 e

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3.5). Pensei: ‘Ih! Estou reprovado!’ Fui falar com minha mãe: ‘Posso mudar para complementar de Direito?’ Ela: ‘Não senhor. Você vai estudar Medicina, porque seu irmão já estuda Direito!’ Minha mãe era autoritária. Obedeci e continuei a estudar Medicina, como ela determinou!” Com receio da reprovação no vestibular, Gugu reuniu um grupo animado em uma das salas vagas do colégio: Horus Vital Brazil, Oscar Fontenelle Filho, Waki Shibazaki, Karl Heinrich Boddener, Ladyr Ribeiro (que já era dentista, mas resolveu ser médico, tornandose um dos grandes profissionais em Otorrinolaringologia, em Niterói). Estudaram exaustivamente. Um dia, à tarde, deitado em casa, seus colegas chegaram correndo com a notícia: Carlos Augusto fora aprovado em primeiro lugar! “Fiquei feliz pra caramba!”, relembra. Todos do grupo também foram aprovados.

Gugu, de branco, no centro da foto, aos 16 anos. Mais alto que o irmão, Luiz César, que era mais velho, à sua direita

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Detalhe de certidĂŁo atestando 1Âş lugar do Gugu no vestibular

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“Não senhor. Você vai estudar Medicina, porque seu irmão já estuda Direito!”, ordenou a mãe do Gugu

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Gugu dava aulas de Ciências, Ginástica, Física e Matemática no Colégio Bittencourt Silva

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O casamento com Thelma


A festa de casamento de Thelma e Gugu reuniu perto de mil pessoas. A partir da esquerda, Mario Godoy, Ziléa Corrêa e a dama Sheila Tibau, além do professor Bittencourt, pai do noivo


Serenata ‘proibida’ coroou o amor Filha de uma família tradicional de Niterói, Thelma Tibau Nobre Machado era estudante do Colégio Bittencourt Silva. Seu pai, Armando Nobre Machado, engenheiro civil, homem muito respeitado. Thelma morava na Rua Visconde de Moraes, próximo ao colégio, e sua família era muito amiga dos Bittencourt Silva. Um dia, Gugu e Luiz César resolveram fazer uma serenata para ela, mas o irmão da homenageada, João Max, não fazia gosto do namoro, devido à fama de namorador do pretendente. Ao ver a movimentação à frente de sua casa, tentou impedir a serenata, mas Gugu rebateu dizendo que a rua era pública, e cantou para Thelma a música “Rosa de maio”, de Carlos Galhardo: Rosa de Maio É meu desejo Mandar-te um beijo Nesta canção... Rosa de Maio... Deste poema Tu és o tema E a inspiração Rosa de Maio... Já não consigo Guardar comigo Tanta paixão! Rosa de Maio Por qualquer preço Eu te ofereço Meu coração!

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Namoro firmado, João Max se tornou grande amigo de Gugu durante toda a vida. No pedido de casamento, Francisco Bittencourt, achando seu filho muito moço, acrescentou: “Peço a mão de sua filha para casamento, mas em noivado um pouco longo...” Casaram-se em 22 de setembro de 1949, três meses antes da formatura de Gugu na Faculdade de Medicina. Sua mãe, Regina, estava muito contrariada, não com o casamento, mas sim com a data. Ela achava que o filho caçula só deveria se casar após receber o diploma e, principalmente, depois do irmão mais velho. Mas o motivo da data do casamento tinha um sentido nobre: Gugu queria se casar antes da formatura, para que seus colegas de turma pudessem comparecer, pois após a colação de grau muitos voltariam a suas cidades, algumas remotas. O casamento foi realizado na Igreja Nossa Senhora das Dores, no Ingá. A recepção aconteceu na chácara da família Tibau, belíssima residência com quadra de tênis e até um bosque, no mesmo bairro. No dia do casamento, as alunas do noivo, em sua maioria, foram para a igreja, onde fizeram uma algazarra, jogando beijos para o professor Gugu. No caminho para a igreja, gritavam para o carro da noiva: “Thelma, Thelma!”

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Foi um casamento para aproximadamente mil pessoas. Os padrinhos do noivo foram Horus Vital Brazil e Isis Bittencourt, Mario Arruda de Godoy e Ziléa Correa, Oscar Fontenelle Filho e Wanda, e os padrinhos da noiva: João Maximiniano Nobre Machado e Laura Damasceno Nobre Machado. Por ocasião do casamento, Francisco Bittencourt construiu três apartamentos independentes em sua casa. Após o matrimônio, Gugu e Thelma foram morar em um deles. Tiveram três filhos: Carlos Henrique, Rosana e Marcia. Segundo Carlos Augusto, ele e Thelma foram apelidados pelos amigos de “Casal 20”, porque ela era muito bonita. “O casamento com Thelma foi muito bom. Ela era carinhosa comigo e eu com ela. Me casei aos 22 anos. Ficamos casados 28 anos e fomos amigos a vida toda. Sempre admirei Thelma!”, conta Gugu. Thelma e Gugu uniram-se ao primo dele, Babate - Adalberto Ferreira de Aguiar Sobrinho - e formaram o Trio Regina. Cantavam em reuniões com amigos, mas a afinação era tão elogiada, que chegaram a se apresentar no programa “Coisas da Praia Grande”, do jornalista Alarico Maciel, na TV Tupi. Depois, em várias edições do evento Doutores na Ribalta, organizado pela saudosa e queridíssima colunista social Lou Pacheco, que reunia a alta sociedade niteroiense, onde Babate fazia a segunda voz e Thelma se destacava com seu timbre suave.

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Casaram-se em 22 de setembro de 1949, três meses antes da formatura do Gugu na Faculdade de Medicina. Na foto, o casal com os padrinhos. O evento reuniu mais de mil pessoas, entre a festa, na chácara dos Tibau, e a cerimônia, na Igreja N. S. das Dores, no Ingá

A partir da esquerda, os casais Oscar Fontenelle e Wanda, Mario Godoy e Ziléa, Isis e Horus Vital Brazil, Laura e Max Nobre Machado

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Gugu e Thelma com Babate (Adalberto Ferreira de Aguiar Sobrinho, primo dele) cantaram e encantaram no Trio Regina. AtĂŠ na TV Tupi apareceram

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“Ave Maria no morro”, ou “Barracão de zinco”, letra de Herivelto Martins, era uma das músicas favoritas do trio. “Tamba Tajá”, de Waldemar Henrique, também era cantada divinamente por Thelma. Gugu conta que suas filhas, Rosana e Márcia, se lembram desta música até hoje. Nos anos 50, o baile Glamour Girl era a sensação de Niterói. Baile com concurso de beleza do qual apenas moças da sociedade participavam. Carlos Augusto foi o apresentador nos oito anos da edição. Sua tia, Esmeralda Aguiar, era uma das organizadoras, junto com Lia Guaraná e Maria Helena Prazeres.

Já casados, Gugu e Thelma (à esquerda) com a prima Zina Bittencourt e a saudosa colunista Lou Pacheco, (à direita) na festa Doutores na Ribalta

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Gugu e Thelma com Carlos Henrique (Carrique), Marcia e Rosana em dois momentos. Filhos que lhes deram muitos netos e duas bisnetas

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“A bebida alcoólica possui uma substância chamada resveratrol. Os franceses e alemães bebem muito. A saúde do francês é melhor, porque ele, mais magro, come muito queijo e bebe vinho. Esta substância, resveratrol, combate a gordura do queijo. Mas é aconselhável beber apenas uma taça de vinho no almoço e outra no jantar. Já o alemão, mais gordo, em vez de beber vinho, bebe cerveja, que não possui esta substância. O brasileiro tem uma sorte grande. O cardápio principal, arroz e feijão, é rico em carboidratos e vitaminas. Esta combinação, junto a verduras e legumes, é excelente. A carne também é um bom alimento, mas não indispensável. É um erro dizer que carne vermelha faz mal. Carne vermelha ou branca deve ser consumida moderadamente. As duas fornecem proteínas ao organismo. Comer menos é uma questão de inteligência. Considero a obesidade uma deficiência física, porque a pessoa tem uma vida limitada, tem dificuldade de se locomover. Felicidade é poder ter domínio sobre seu corpo, mas velhos magros que não fazem exercício, também estão em risco.” (GB)


Medalha Barros Terra


Formatura com mérito, em 1949 Em 1943, a Faculdade de Medicina era dirigida por Antonio Barros Terra, considerado o consolidador da instituição, responsável por formar a policlínica da Faculdade de Medicina de Niterói. O prédio da policlínica foi inaugurado em 10 de outubro de 1934. Nessa época, para passar de ano, o estudante de Medicina era aprovado por média. A média era alta: 7,0 pontos. Devido a isso, incomum era não fazer as provas de final de ano. Carlos Augusto foi o único, entre 120 colegas, que passou por média em todo o curso, em todas as matérias. Formou-se em dezembro de 1949, com mérito, e recebeu a “Medalha Barros Terra”, oferecida ao aluno que tivesse o melhor desempenho durante a faculdade: o 1º lugar em sua turma. Foi eleito orador da turma.

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Certid達o atestando o primeiro lugar de Gugu entre 1949 doutorandos

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Gugu foi escolhido orador da turma por seus colegas

Logo, o doutor passaria por uma prova de fogo em Colatina


Gugu foi o aluno com melhor desempenho durante a faculdade


Recém-formado, Gugu foi convidado a passar um ano em Colatina, no ES, onde ganharia 10 vezes mais

Professores e amigos da Faculdade de Medicina Abílio Gabeto, André Ala Filho, Antonio Cyro Deps, Antonio Guimarães (ginecologista atuante em Niterói), Antonio Paulo Coelho, Divany Coutinho (médico atuante em Petrópolis), Domingos Athayde, Horus Vital Brazil, José de Alencar Carneiro, José Real, Karl Heinrich Boddener, Ladyr Ribeiro, Mario Godoy, Oscar Fontenelle Filho, Romeu Marra, Romeu Sales Fernandes (atuante no RJ), Waki Shibazak, Tuffik Mattar e Aldyr Ribeiro Pinto, falecido durante o curso e homenageado por Carlos Augusto, que deu seu nome ao Centro Acadêmico Aldir Ribeiro Pinto (CAARP), onde os alunos organizavam festas.

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Um ano em Colatina Ao se formar, em 22 de dezembro de 1949, Gugu falou para a mãe que seria mais difícil se consolidar como médico na cidade de Niterói, pois era conhecido como professor. Seu amigo, Horus Vital Brazil, foi trabalhar no Serviço Especial de Saúde Pública – Sesp, no Espírito Santo, um programa que fez parte de um acordo, no final da Segunda Guerra, quando os EUA apoiaram seus aliados na concretização de diversos projetos. Este foi um, tendo os americanos fornecido 80% da verba total para sua implantação. O objetivo era melhorar a saúde nos estados em que os americanos tinham interesse de estabelecer relações comerciais com o Brasil. Com isto, contrataram profissionais para mineração e militares para os estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Amazonas e Espírito Santo. Gugu viajou estimulado pelo alto salário. Na época, recebia CR$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros). No Sesp, passou a ganhar CR$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros). Para quem estava começando uma família, era um progresso importante. Gugu ficou um ano em Colatina, e afirma: “Foi lá que descobri minha vocação para a Medicina”. Horus iniciou exercendo a função de clínico, e Carlos Augusto, cirurgião.

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Gugu com colegas médicos. A partir da esquerda, Mario Godoy, Oscar Fontenelle, Horus Vital Brazil e Ilzo Viana. A foto foi feita na 2ª Semana de Debates Científicos, em Porto Alegre, onde o grupo representou a Faculdade Fluminense de Medicina

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‘Batismo’ em Medicina O ‘batizado’ em Medicina foi inesquecível! Havia um cirurgião antigo no Sesp, com quem Gugu trabalharia. Ao chegar a Colatina, o cirurgião pediu demissão e Gugu, recémformado, foi informado que teria uma cirurgia de apendicite em um paciente àquela tarde. E assim ele deixou de ser o Carlos Augusto professor, tornando-se médico de verdade, Dr. Carlos Augusto Aguiar Bittencourt Silva. E tudo correu bem na cirurgia! O chefe do Sesp, Dr. Butine, médico sanitarista, nomeou Gugu “Chefe do Setor de Prevenção a Doenças Sexualmente Transmissíveis”. Ele diz que conheceu “pessoas marcantes” na cidade. Dr. Raul Gilberto, médico-clínico; Dr. Justiniano, cirurgião, que o convocava para todas as cirurgias, era dono de uma casa de saúde na qual operavam juntos. Em 1950, Colatina era uma cidade de passagem, com exploração de madeira e minério, além de contar com uma numerosa aldeia indígena. A Copa do Mundo de 1950, inesquecível para todos os brasileiros, foi assistida por Gugu em um hotel em Colatina, perto de uma linha de trem. Quando a locomotiva cruzava a cidade, o hotel balançava. Gugu assistiu ao jogo da final, Uruguai 2X1Brasil, sozinho. A vida estava boa em Colatina, mas Gugu, muito ligado à família, sentia falta de todos. Foi quando surgiu o convite para voltar a Niterói.

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O Ant么nio Pedro e a Ortopedia


A volta a Niterói Em 1950, enquanto Getúlio Vargas era eleito presidente da República com 49% dos votos válidos, Gugu recebeu o convite do médico Mário Monteiro para chefiar o Serviço de Emergência do Hospital Antônio Pedro, retornando de Colatina a Niterói. “O hospital estava uma desorganização. Os médicos não tinham hora para chegar. Havia lacunas no atendimento no pronto-socorro. Usei uma estratégia para que voltassem a respeitar os horários. Uma hora antes de começar o plantão, ficava na porta, regulando. Nunca chamei a atenção de nenhum deles. Em um mês, ninguém mais chegou atrasado.” Gugu foi chefe do pronto-socorro do Hospital Antônio Pedro, então municipal, por mais três vezes.

Um jovem diretor no Antônio Pedro A história do Hospital Antônio Pedro é entrelaçada com a carreira médica de Gugu, que lá atuou como chefe do pronto-socorro e diretor, mantendo-se afastado profissionalmente da instituição apenas durante a fase político-partidária de sua vida. Suas atuações como gestor trouxeram inovações importantes, como as “Canarinhas”, mulheres voluntárias que atuavam junto aos doentes, em uma época em que o voluntariado não era uma prática corrente na sociedade. Receberam este nome por usarem um jaleco amarelo.

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1964. Gugu assumiu a direção do Hospital Antônio Pedro, primeiro diretor após a federalização da instituição, então municipal, acumulando a função de chefe do Serviço de Socorros Urgentes, designado pelo Reitor Dioclécio Dantas de Araújo

Expansão da Ortopedia A Ortopedia começava a se expandir pelo Brasil, e profissionais como Armando Maciel Braia, Hernani Silva, Manoel Knust e Sá Rego são nomes lembrados como exemplos de postura médica, na opinião do Gugu. “O Braia foi o primeiro a se dedicar exclusivamente à Ortopedia. Hernani e Knust também faziam cirurgia geral. Foram todos muito bons para mim, e me ensinaram muito sobre Medicina. Infelizmente, o Braia morreu precocemente.”

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Em 1958, o renomado médico Donato D’Angelo convidou Gugu para trabalhar com ele em Petrópolis, no Hospital Santa Tereza. Foram cinco anos. Viajavam todas as quintas. Com Donato D’Angelo, Gugu foi ao seu primeiro congresso de médicos, em Bogotá. Segundo Gugu, as mudanças ao longo do tempo aconteceram na Ortopedia, mas principalmente na Traumatologia. No começo, empregava hastes em fraturas de fêmur e tíbia, próteses em fraturas de colo fêmur. Foi marcante também o período em que passou se aperfeiçoando com o dr. Donato D’Angelo.

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O médico Donato D’Angelo


Desse tempo Gugu recorda de um tratamento à base de pinos para prender as fraturas que eram instáveis com o gesso, no qual se tornou especialista, apresentando em congressos trabalhos relevantes, como também sobre o Pino de Steinmann. A mudança, em sua visão, está no material ortopédico para as cirurgias. Hoje, para cada fratura existe um específico. Sem falar nas próteses, tão fundamentais.

Gugu destaca as mudanças na Ortopedia e o tempo em que se especializou com o dr Donato D’Angelo

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Graduado em Pedagogia Gugu foi convidado a ser sócio de um hospital em São Gonçalo. Assim, ele e Mario Godoy começaram a trabalhar. Carta branca recebida, comprou o que existia de mais moderno na época. Inaugurou a Policlínica de São Gonçalo em 1959. Um sucesso. Seis meses depois, foi vendida para os médicos Aécio Nanci, Geraldo Motta, Levi Campelo e outros. Hoje, a policlínica é o Hospital de São Gonçalo. Parceria com um primo, Altivar Cortes Pires, e um amigo, Mário Picanço, deu a Gugu a possibilidade de abrir seu primeiro consultório em Niterói. “Dividíamos a sala. Eles também eram médicos do Ipase, Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado do Rio do Janeiro, e me convidaram para fazer parte da equipe, porque não havia cirurgião.“ Este consultório se localizava no Edifício Galeria Paz, onde Gugu teve duas salas. Quando Thelma voltou à faculdade, já com os filhos adolescentes, Gugu, para fazer companhia a ela, resolveu cursar a Faculdade Fluminense de Filosofia, graduando-se em Pedagogia. “Já tinha 20 anos de formação em Medicina. Foi uma decisão importante, principalmente porque tive um professor de Psicologia, chamado Hans Ludwig Lippmann, que me ensinou muito. Cursei quatro anos de Pedagogia. Muito mais tarde, 30 anos depois, este novo conhecimento aguçou meu interesse pela Medicina Ortomolecular, que

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vê o doente de maneira global. Os médicos que têm essa visão são diferentes dos demais. O atendimento é mais completo.” - testifica.

Gugu recebendo o diploma de pedagogo, na Faculdade Fluminense de Filosofia. À esquerda, com as colegas Clélia e Nely

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Casa de Saúde Cabo Frio Gugu narra que chegou à Região dos Lagos há mais de 40 anos. Começou em 1965, convidado pelos médicos Irapoã Pimenta, já falecido, e Geraldo Vasconcelos, ex-alunos da Faculdade de Medicina, que montaram a Casa de Saúde Cabo Frio. Naquela época, não havia nenhum médico ortopedista na cidade. Gugu trabalhava aos sábados. Atendia e operava de manhã e, à tarde, ia para o Clube do Canal, de onde se tornou sócio. O Clube era considerado referência em celebridades que frequentavam suas piscinas. “Minhas companheiras de sauna eram as lindas atrizes Tonia Carrero e Norma Bengel. Até hoje tenho gravada na minha cabeça a imagem da Norma Bengel tomando banho no chuveiro ao meu lado, de maiô vermelho”, conta. Gugu ficou durante oito anos indo a Cabo Frio. Depois chegou um ortopedista, Agenor Olivieri, atuante ainda hoje, e Gugu seguiu para Araruama, onde trabalhava Miguel Tanus. “Ele me solicitou atender os doentes, pois não havia ortopedista no município. Depois de alguns anos, por motivos políticos, parei de atender em Araruama. Fui diretor do hospital da cidade e fiquei muito amigo do Renato de Vasconcellos Lessa, que foi prefeito lá. Quando o prefeito Altevir Barreto ganhou a eleição, e acabou com o serviço de Ortopedia, fui para São Pedro D’Aldeia, onde estou até hoje.”

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O trabalho do médico na Região dos Lagos se estendia à sua casa, em São Pedro D’Aldeia, que era aberta para aulas gratuitas de hidroginástica

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Em 1987, comprou uma ótima casa no bairro de Campo Redondo, que foi vendida em 2011. A compra da casa foi uma das coincidências da vida de Gugu. Num fim de semana, chegou em Búzios com o objetivo de alugar uma casa para o verão. Com os altos preços dos imóveis, desistiu e, na volta a Niterói, viu a construção de um condomínio em São Pedro D’Aldeia. Ao pesquisar o preço de uma confortável casa, constatou que era uma excelente oportunidade de negócio. E ainda tinha financiamento do Banerj. Ele recorda: “Na época, trabalhava de segunda a quinta na Região dos Lagos e, na sexta-feira, voltava a Niterói para cumprir meu plantão no Centro Ortopédico. Foram muitos anos na estrada.” O valor da entrada era menor do que o aluguel de Búzios. “Saí de lá com uma casa comprada”. Estrearam o novo endereço no Carnaval de 1988. “Foram 20 e poucos anos. Vendi em agosto de 2011. Fizemos muitas festas lá. Minha família sempre gostou de São Pedro.” A casa de São Pedro também tinha função social, além de familiar, ou não seria do Gugu. Lá ele comandava aulas de ginástica gratuitas para seus pacientes, ou para qualquer pessoa que quisesse aderir ao grupo. Alunos de todas as idades. Quando acabavam as aulas, faziam sauna. “Nesta fase, eu ia para lá na segunda-feira de manhã, pois a aula começava às 7 horas. Depois, ia para o Centro de Saúde. Esta era minha rotina até quintafeira, quando voltava a Niterói, pois tinha o plantão no Centro Ortopédico. Retornava a São Pedro no sábado pela manhã, passávamos o fim de semana e, no domingo voltava com a família à noite para Niterói.”

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Centro Ortopédico São Lucas Cinco médicos se uniram para formar o Centro Ortopédico São Lucas. A ideia do Centro Ortopédico foi de Lédio Luis Maia, que ainda não era formado. Florentino Adolfo de Barros, Fabio Tinoco Mathias, Paulo Maria da Silva e César Tinoco Mathias compraram uma casa para esse fim. Na época do primeiro convite para ser sócio, Gugu estava programando viajar com a família para a Argentina e, se entrasse na sociedade, teria de desistir do passeio. Resolveu viajar. Era 1962. Em 1968, resolveram comprar a Maternidade do Sesc, e o valor era muito alto. Então veio o segundo convite; foi quando Gugu aderiu. Inicialmente, o endereço era na Rua Presidente Pedreira, depois, na Avenida Roberto Silveira. “Durante cinco anos, trabalhei de 2ª a sábado, quando ia para Cabo Frio e, no domingo, dava plantão no Centro Ortopédico, sem folga. Com isto, paguei o Centro Ortopédico. Foi a melhor opção profissional e financeira que fiz em minha vida.”

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Gugu trabalha até hoje no Centro Ortopédico, no formato de plantão: das 8h às 20h, aos 87 anos. Um paciente esportista e jogador do Botafogo, time do coração de Gugu, foi o craque Gerson - conhecido como Canhotinha de Ouro, uma das estrelas da grande Seleção Brasileira tricampeã de futebol em 1970. Gugu já o conhecia, pois Gerson foi aluno do Colégio Bittencourt Silva. Em duas ocasiões, Gugu foi médico do atleta. A primeira como participação, a pedido do pai do jogador, Clóvis Nunes, em uma cirurgia no joelho do Canhota, e em um segundo momento, uma fratura no quinto metatarso, que o tirou da MiniCopa de 1972. Para que Gerson voltasse a jogar, Gugu enviou as radiografias para o São Paulo Futebol Clube, onde o atleta jogava, a fim de que o médico do tricolor paulista, Dr. Dalsel Freire Gaspar, acompanhasse o tratamento iniciado no Centro Ortopédico São Lucas. Logo depois, Gerson voltou a jogar, onde conquistou o campeonato pelo clube. Gugu se afastou do Centro Ortopédico São Lucas no período em que se dedicou à fase político-partidária. Foram 12 anos. Nesse tempo, seu filho, Carlos Henrique, assumiu seu lugar. Hoje, além de Gugu, seu filho Carlos Francisco, também ortopedista, faz ambulatório lá.

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Gugu com o cliente ilustre, Gerson, o Canhotinha de Ouro

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Membro da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro Gugu Bittencourt é membro (fundador da cadeira nº 7), desde 1975, da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, antiga Academia Fluminense de Medicina, fundada em 8 de dezembro de 1974. Com os colegas, renomados médicos fluminenses, em sessões periódicas, discute os rumos da Saúde no mundo, mas sobretudo de Niterói, onde está sediada a instituição.

Entre colegas imortais em uma sessão da Academia

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Tomando posse na diretoria da Associação Médica Fluminense para o biênio 1975/1977

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O casamento com Regina


Começaram estudando inglês Gugu conheceu Regina Célia Correa, a Regininha, quando esta foi sua aluna no curso de Instrumentação Cirúrgica, que ele criou no Centro Ortopédico. Foram selecionadas 50 pessoas para formação da turma, e entre elas estava a mulher que vive com ele até os dias de hoje, e que lhe deu dois filhos, Carlos Francisco e Maria Cecília. Naquela ocasião, uma das alunas, Glenda, começou a auxiliá-lo, indo com Gugu para Araruama, onde o médico atendia em consultório. Um dia, Glenda pediu para levar uma amiga com eles. Esta amiga era Regininha. Em seguida, Glenda deixou o trabalho, e Regininha passou a acompanhá-lo. “Na época, eu queria aperfeiçoar o inglês, e falei com ela para estudarmos juntos. Regininha não aceitou, mas continuou a trabalhar comigo. Um dia, voltou atrás, e começamos a estudar. Nesse período, Regininha foi aprovada para a Faculdade de Psicologia, e nós nos afastamos por um tempo”, recorda ele. Depois de um tempo, o casal se reencontrou, namorou e se mudou para um apartamento na Rua Presidente Baker, em Icaraí. “Aluguei o último andar. O imóvel estava muito feio. Pintei tudo de branco: chão, teto e, para a varanda, comprei flores, plantas e fiz um jardim. Ficou lindo! Nesta época, eu estava na política, e tivemos algumas reuniões lá, com Waldenir Bragança e Moreira Franco. Um tempo depois, comprei o apartamento onde moro até hoje.

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Era o ano de 1983, quando meu filho, Carlos Francisco, tinha 3 anos”, conta Gugu. Regina entrega o que todos gostariam de saber: a receita da longevidade - como Gugu se alimenta. “Na sua rotina, ele gosta de comer o que não dá trabalho. No café da manhã, é iogurte e leite. Aliás, se eu deixar, ele se alimenta só disso. Carlos Augusto tem preguiça de comer. No almoço, sopa. Se der sopa todo dia, ele toma. Chega ao cúmulo de tomar na caneca. Ele adora canecas grandes. A caneca é para não ter trabalho. Se vamos a um restaurante, ele até come algo diferente. Por isso não engorda. No calor ou frio, sopa de legumes batida no liquidificador. À noite, um iogurte ou uma fruta, ou ainda torrada bem tostadinha. Ele gosta de queimada e bem fininha. E adora biscoito para molhar no leite com chocolate diet. Tenho que tirar de perto, por causa do açúcar. Quando vamos sair para qualquer lugar, na hora que estou no elevador, ele vai até à cozinha e toma um copo de leite com capuccino. Ele adora leite. É a bebida que mais gosta. Carlos Augusto não sente fome. Se ele chegar, sentar e eu não falar para que coma alguma coisa, fica sem comer. Quando estamos viajando ele se alimenta, porque está mais motivado. A preferência é a sopa, mas se não tiver, em viagem de navio ou hotel, ele come muito bem.” Regina confidencia outra curiosidade sobre a personalidade do marido: são as fases. “Ele é cíclico”, conta. “Em tudo. Quando está interessado, se dedica intensamente, mas perdeu o interesse, muda para outra rapidamente. Esta posição influencia diretamente sua vivacidade, pois sempre explora coisas novas. São pequenas coisas.

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Agora, no momento, adora palavras cruzadas. Faz muitas palavras cruzadas e Sudoku diariamente. Segundo ele, é um estímulo para memória.” Regina diz que Gugu mantém a jovialidade porque tem facilidade de se desligar daquilo que o aborrece. Digo que ele aciona os botões de defesa. Não vai envelhecer nunca! Às vezes, fico desesperada, nervosa, e olho para ele: parece que não está acontecendo nada. Sempre atenta a todos os comentários, Regininha relata que Gugu hoje não se entusiasma muito com viagens, chegando a ameaçar desistir na véspera. Mas quando chega ao local, é o que mais se diverte e sempre fala: “Ainda bem que você não me deixou desistir!”

Gugu e Regina com os filhos Maria Cecília e Carlos Francisco

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Continua Regininha: “Ao dirigir, Carlos Augusto tem uma mania que chamo de ‘síndrome do carro na frente’. Ele não dirige com um carro na frente dele. Na estrada, pisca farol, ultrapassa com segurança, claro, mas não gosta de carro na frente dele. Carlos Augusto também é desligado em algumas coisas. Por exemplo: ele um dia saiu com um par de tênis de modelos diferentes! Ele usa cueca tipo sunga. Um dia, comprou um modelo diferente, chamado box, que é tipo um short. Acordou, colocou a cueca box e uma camiseta para ir se encontrar com o irmão. Chegou à cozinha para tomar café e eu perguntei: ‘Você vai aonde assim?’ ‘Assim como?’, me respondeu. ‘De cueca!’, falei. ‘Cueca? Achei que estava de bermuda’. A gargalhada foi geral.” “Carlos Augusto é extremamente inteligente. Então, quando lê sobre Medicina, já pensa no paciente, como pode aplicar o novo conhecimento.”

Gugu e Regina em Foz do Iguaçu

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Carlos Augusto e Regina estĂŁo em todas! Ela ĂŠ a coordenadora do Projeto Gugu


Carlos Francisco Bittencourt Silva com os cães Balu, Paco e Preta

Carlos Augusto e Regina em uma das concorridas festas do Projeto Gugu. Desta vez, com a temática junina

Gugu e Maria Cecília em viagem ao Nordeste

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Por acaso na polĂ­tica


Um encontro na estrada e... Um dia, Gugu, vindo de Cabo Frio, parou para tomar um café na estrada, quando encontrou o Nelson Rocha, que se disse candidato a prefeito de Niterói. Ele convidou Gugu a tentar ser vereador. “Nelson me disse que me inscreveria na segunda-feira, era um sábado.” Carlos Augusto foi eleito vereador pelo MDB com 2.200 votos. O mandato durou de 1977 a 1982. Por divergências políticas, Gugu mudou para o PDS anos depois. “Foi o Nelson Rocha que me apresentou à política”, diz. Gugu recorda de muitas situações inusitadas. Como o fato de Nelson Rocha ser protestante, mas precisar fazer campanha em muitos terreiros de umbanda e candomblé. “Nunca fui a tanta macumba na minha vida”, divertese. Nessa eleição, eram três os candidatos a prefeito: Silvio Lessa, Nelson Rocha e Moreira Franco. Moreira foi eleito. Gugu foi escolhido líder do MDB na Câmara. Ficou muito amigo de Moreira que, em homenagem a seu pai, mudou o nome da Rua Tiradentes, no Ingá, para Rua Professor Francisco Bittencourt Silva. Houve inauguração com banda, inclusive, mas depois, por motivos políticos traiçoeiros trocaram o nome de novo.

“Santinho” em forma de calendário, distribuído pelos candidatos a vereador (Gugu) e prefeito, Nelson Rocha. 1976

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Gugu com o saudoso compositor Braguinha, no evento “Barca das 7�

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Estímulo ao esporte Como vereador, Gugu também estimulou a Corrida de Rua, criando a Acon - Associação dos Corredores de Niterói. O Primeiro Circuito de Icaraí aconteceu em 25 de janeiro de 1981, compreendendo 11 km, de Icaraí a Charitas, com saída e chegada em frente ao Clube Central. Tudo patrocinado pela loja A Samaritana, com atletas de 13 a 60 anos. Regininha, grávida de Carlos Francisco, ficava na Praia de Icaraí fazendo as inscrições, em um local improvisado. Em maio do mesmo ano foi a vez da Corrida das Esmeraldas, nome em homenagem e incentivo à participação da classe médica, com apoio da Associação Médica Fluminense e do Hospital Universitário Antonio Pedro. Como se sabe, o anel de formatura do médico é adornado por uma pedra de esmeralda. Os doutores corredores receberam cada um uma medalha. O circuito mediu 5 km, e foi percorrido na Praia de Icaraí, com saída em frente ao Clube Central e chegada e premiação na Associação Médica Fluminense, na Avenida Roberto Silveira. A Acon, com o vereador Gugu, também ele um corredor, organizou várias corridas, sendo responsável pela popularização do esporte em Niterói. Gugu recorda-se do parceiro na época da Acon: “as camisetas eram confeccionadas pela A Samaritana, de propriedade do Sr. Noronha, cujo filho, Miguel, sempre me apoiou, e foi o primeiro patrocinador do Projeto Gugu. São pessoas por quem tenho grande apreço.”

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A Acon também organizou, em 13 de dezembro de 1981, a Primeira Corrida Feminina de Niterói, com percurso de 5 km. O objetivo, segundo Gugu, era divulgar o hábito de correr, que faz tão bem à saúde.

Gugu com o colega Paulo di Biase, exdiretor do Inca, a então nora Rosaline Buckley e o filho Carlos Henrique (à direita) em uma maratona. Embaixo, as filhas Rosana e Marcia, que sempre o acompanhavam no cooper

Gugu no pódio é lugar comum, ainda hoje

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Durante muitos anos, esta cena era comum em Niter贸i. Gugu correndo e mantendo a sa煤de


Apoio aos deficientes físicos Médica neurologista, ex-deputada estadual e fundadora da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos - Andef -, a vereadora niteroiense Tânia Rodrigues iniciou a implantação da ONG em 1981. Hoje a maior instituição para deficientes na América Latina, a Andef nasceu no gabinete do vereador Gugu Bittencourt, na Câmara Municipal de Niterói. Quando parlamentar, Carlos Augusto cedeu uma parte de sua sala a Tânia, a fim de que o projeto tivesse um espaço físico. Logo a Andef mostraria toda sua relevância ao Brasil e ao mundo. “Eu e Tania nos admiramos há muitos anos, desde quando ela foi minha aluna na faculdade, admiração esta lapidada por anos de convívio, quando trabalhamos juntos no Hospital de Araruama. Só por sua capacidade, como gente, é que existe hoje a Andef, líder nacional das entidades para deficientes no Brasil. Cito Tania como exemplo para todos nós”, emociona-se Gugu. Em reconhecimento, quando deputada, Tânia concedeu a Carlos Augusto a Medalha Tiradentes, na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. “Conheço o Dr. Carlos Augusto desde que estudava Medicina, e ele era um de meus professores na UFF. Depois da Residência Médica, fui trabalhar em Araruama, e nos reencontramos na Casa de Caridade. A partir deste reencontro, todas as quartas e sábados viajava com ele de carona, tanto na ida como na volta. Nossa amizade se consolidou, e a convivência me fez admirá-lo ainda mais.

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Daquele tempo, tenho boas recordações. Ele me passava tranquilidade em razão de sua disposição de não se deixar estressar jamais. Mesmo atrasados, ele parava para almoçarmos, pois não podia ficar longo tempo sem se alimentar. Era minha tarefa, também, mantê-lo acordado. Ele facilmente dormia dirigindo. Minha tática era disparar a falar sobre assuntos mais variados, não deixando que ele não me respondesse. Se isso acontecesse, significava que ele, apesar de minha eloquência verbal, estava dormindo; o que fazia com os olhos abertos. Nesta época, ele já dividia sua vida com Regininha, quando nossos filhos nasceram, praticamente ao mesmo tempo, contribuindo para nos aproximar ainda mais. Fui juntamente com meu marido, a quem ele chama de “amorzinho”, madrinha de seu casamento. Fiz sua campanha a vereador, e criei a Andef, com outros companheiros deficientes, praticamente dentro de seu gabinete na Câmara Municipal. Já deputada, tive a oportunidade de condecorar Carlos Augusto com a maior honraria concedida pela Assembléia Legislativa - a Medalha Tiradentes -, pelos relevantes serviços prestados por ele e a Funcab à população da terceira idade de nossa cidade, através do Projeto Gugu. Ao finalizar, registro que considero Dr. Carlos Augusto meu segundo pai, e um exemplo de determinação e perseverança, tendo ele encontrado na manutenção de seu estado físico uma fórmula mágica de levar esperança para milhares de niteroienses.”

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A Andef, que nasceu no gabinete do vereador Gugu e hoje é a maior instituição de apoio a deficientes na América Latina, atualmente tem uma sede imponente, no bairro Rio do Ouro, em Niterói

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“Experiência espetacular” O partido de Moreira Franco, MDB, tinha 18 vereadores em Niterói. Seria difícil, no pleito seguinte, conseguir eleger de novo o mesmo número de parlamentares. Por isso, Gugu foi convidado e aceitou ser candidato a viceprefeito na chapa de João Batista, pelo mesmo partido, para alavancar mais votos. Depois de manobra política, substituíram Gugu por José Vicente. Ele se aborreceu, e resolveu tentar se reeleger vereador, agora, apoiando o candidato a prefeito da oposição, Waldenir Bragança. Este apoio foi decisivo para vitória de Waldenir, pois a diferença dos votos deste, que garantiu o sucesso nas urnas, correspondia ao eleitorado de Gugu. “A política me deu uma experiência espetacular”, atesta Gugu, que nunca mais se candidatou. “As pessoas maldosas certamente falariam que criei o Projeto Gugu com objetivos eleitoreiros, mesmo que fique provado a cada dia que meu único objetivo é levar bem-estar aos velhos.”

Com Waldenir Bragança

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Gugu, grande orador, ainda hoje se destaca por isso. Como vereador não foi diferente. À direita da foto, o médico Salomão Cruz

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Presidente do IBASM. Gestão marcante Waldenir Bragança foi eleito prefeito, e perguntou a Gugu, único vereador que o apoiou na campanha, o que ele gostaria de fazer em seu governo. Gugu escolheu a presidência do Ibasm, achava que poderia contribuir com a previdência dos pensionistas do funcionalismo municipal. “Cheguei e organizei tudo”, recorda. Promoveu funcionários que mereciam, e que até hoje são agradecidos. Fundou o “Ibasmtur”, estimulando o lazer entre os colegas, e humanizou a instituição, levando saúde, qualidade de vida e alegria de viver aos pensionistas. A sequência de passeios para Petrópolis, Teresópolis e Região Serrana como um todo agradou. Regininha preparava os sanduíches para levar de lanche nos passeios. A religiosa Porto das Caixas, no município de Itaboraí (RJ), onde há uma igreja com a imagem de Cristo, que, segundo fiéis, na década de 1980, chorava lágrimas de sangue, também recebia os turistas do Ibasm, volta e meia. Sempre com Gugu à frente. No Museu Imperial de Petrópolis, Gugu conta que ele e Regininha ficaram uma hora calçando pantufas nas senhoras, para entrar no local. Na Floresta da Tijuca, um almoço com a natureza. Nas praias oceânicas de Niterói, muitos banhos de mar. Mas foi o programa de habitação do Ibasm o que mais marcou a passagem de Gugu pelo Ibasm, que promoveu, com a Caixa

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Econômica Federal, a construção de prédios de apartamentos para moradia dos servidores. Antonio Alberto, chefe de gabinete quando Gugu assumiu a Presidência, conta que Carlos Augusto implantou uma “nova forma de administrar, sem ser tendencioso.” Administrou com alegria e humanidade. Eram 1.500 pensionistas para serem olhadas com carinho. “O primeiro ato de Gugu na Presidência foi dar alegria às pensionistas, criando os passeios que ficaram famosos e são lembrados até hoje”, conta. Pessoas que nunca haviam saído de Niterói começaram a conhecer cidades diferentes. Gugu também promoveu a reforma do ambulatório da Policlínica Almir Madeira, transformando-o em referência, com os melhores médicos de Niterói conveniados, bem como laboratórios para exames, um atendimento privilegiado, sendo descontado na folha do funcionário/pensionista apenas 7% do salário. Este trabalho continuou até 1997, quando, por decisão federal, o Ibasm se transformou em Niterói Prev. Segundo Antonio Alberto, “Gugu foi excelente administrador, tendo em todo o período na presidência a aprovação integral do Tribunal de Contas.” A jornada de trabalho era forte.Quatorze horas por dia e, para não perder tempo, o almoço era feito na casa de Gugu e levado para o Ibasm, onde ele comia diariamente com Riva Braga e Antonio Alberto. “Certa vez”, continua Antônio Alberto, “almoçamos com convidados importantes. Carlinhos, o contínuo, virou garçom. Ao servir a travessa com feijão, Gugu observou que a gravata de Carlinhos estava mergulhada na comida, e falou bem alto: ‘Carlinhos, feijão sem gravata, por favor’! Descontração geral.”

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Em 28 de janeiro de 1983, o jornal “Persona”, de Elzita Bittencourt do Valle, noticiava o ‘staff’ do prefeito eleito Waldenir Bragança

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Outra situação cômica relembrada por Antonio Alberto foi uma festa de fim de ano dos funcionários. “A sala de Gugu ficava de frente para a Rua da Conceição e, um dia, alguns vereadores passavam na porta do Ibasm, quando avistaram um caminhão descarregando garrafões de vinho, passando a bebida pela janela. Para quem olhava a cena, poderia parecer uma compra sorrateira, mas era apenas mais rápido passar os garrafões por ali do que pela porta. Mais uma polêmica, já que esta mesma sala, antes ocupada por entulhos, foi transformada por Gugu em um Centro Cultural. O funcionário do Ibasm, Sr. Gervásio, responsável pela limpeza do prédio, tocava violão muito bem, e Gugu criou um espaço para que ele ensinasse esta arte a outros funcionários. De graça. Para estimular a equipe!” A gestão de Gugu deu um presente e tanto para muitos servidores e pensionistas: o Conjunto Residencial Arariboia, em São Gonçalo, o Residencial Virgílio Bragança, no Fonseca, e e o Residencial Dionísio Erthal, em Santa Rosa. Antes chamados de “Conjuntos Habitacionais”, estes projetos incluíam, além dos prédios de apartamentos propriamente ditos, salões de festas, áreas de lazer e algumas modernidades para a época, como gás encanado, interfone e porteiro eletrônico. O objetivo do programa era entregar moradias com qualidade para a população. Para obter a aprovação da diretoria de Programa Habitacional, Gugu criou o Conselho Superior de Administração. Ele organizou um café da manhã em um hotel com o objetivo de atrair investidores e quorum para aprovação do conselho para os projetos do Ibasm.

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Em algumas ocasiões, antes da moda da gastronomia, convidava lideranças para almoços em que ele mesmo, Gugu, preparava o cardápio e a refeição. Fisicamente, o Ibasm também se transformou sob sua gestão. Gugu humanizou as salas e corredores. Na época, se interessou por cerâmica e passou a decorar a sede com suas peças, estimulando os funcionários a personalizarem suas mesas e salas. O resultado foi um prédio vivo, com flores, fotos e vasos colorindo e suavizando o ambiente de trabalho. “Sua popularidade com os pensionistas e funcionários do Ibasm foi a consequência de tudo que faz em sua vida, pois possui uma energia transformadora que não só fica em idéias ou conversas, mas sim, transforma-se em ações concretas. Em 29 de abril de 1983, Gugu foi homenageado por esses funcionários com um coquetel em comemoração aos seus 57 anos. Foi uma festa inesquecível”, finaliza Antônio Alberto.

Notícias sobre a administração de Gugu na presidência do Ibasm eram recorrentes

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Gugu lançou a 1ª festa de réveillon na Praia de Icaraí

Foi em seu primeiro mandato de vereador que Gugu lançou em Niterói a ideia da festa pirotécnica dos réveillons, abrindo a Praia de Icaraí com shows musicais e bailes para milhares de pessoas. Quando assumiu a Presidência da Neltur (Niterói, Esporte, Lazer e Turismo), Gugu otimizou o evento, que ganhou alcance nacional, ao lado da festa de Copacabana. O foguetório de Icaraí, projetado por Gugu, foi visto em todo o Brasil pela TV, ganhando páginas de jornais do País inteiro. Até então, só Copacabana tinha investimentos neste sentido. O réveillon incluiu Niterói e seus pontos turísticos no Guia Oficial da Riotur, divulgando a cidade País afora. Uma das outras metas do presidente da Enitur foi organizar um “Carnaval inesquecível para Niterói”. E assim cumpriu sua palavra. Em mais uma atitude empreendedora, Gugu tentou patrocinadores para a folia da cidade. Sem sucesso. Então, ao seu estilo ousado, e já que a verba era pouca, convidou a atriz Claudia Raia, que já fazia sucesso na TV, coroando-a “Rainha do Baile de Oficial de Gala da Cidade”, em 1988. A festa foi no Clube Canto do Rio, e reuniu toda a sociedade local. A imprensa nacional deu destaque, o evento saiu em jornais de todo o País, e até na então prestigiosa revista “Manchete”, que lançava antológicas edições sobre o pósCarnaval do Brasil. No Natal do mesmo ano, Gugu publicou

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matérias nos jornais locais pedindo que edifícios residenciais e comerciais iluminassem suas fachadas. Mais um sucesso da atitude vanguardista que é marca do Gugu. Hoje, iluminar a fachada de casa no Natal é quase obrigação. Com o objetivo de limpar o Túnel Raul Veiga, que liga São Francisco a Icaraí, alvo frequente de pichadores, em vez de mandar lavá-lo insistentemente, a Enitur, sob comando do Gugu, promoveu o “Projeto Tinta no Túnel”, parceria com a Afea (Associação Fluminense de Engenheiros e Arquitetos). Vários artistas e grafiteiros puderam se expressar livremente, incluindo ele próprio, que pintou o rosto de quatro mulheres e escreveu um lindo poema no concreto. Como vereador, em 1981, Gugu estimulou a promoção do famoso show “Barca das 7”, na Praça Araribóia, quando, uma vez por semana, havia música, às 19h, para quem retornava do trabalho. Multidões se reuniam para ouvir gente do naipe de Braguinha, Herivelto Martins e Elizeth Cardoso - só para citar apenas alguns dos muitos artistas de renome nacional que aportaram em Niterói.

Rotary Clube Quando Waldenir Bragança foi prefeito, ele organizou um Rotary Clube que, em vez de se reunir em jantares, o fazia em almoços. O nome é Rotary Clube Niterói Arariboia, que funciona até hoje. Gugu foi o primeiro presidente, onde ficou durante dois anos, somando mais um como vice.

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Na capa do “Jornal do Brasil Niterói”, editado pela prestigiosa jornalista Sônia Góes, a visita de Claudia Raia a Niterói, capitaneada pelo então presidente da Neltur, Gugu Bittencourt. Fevereiro de 1988

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Superintendente da Limpeza Urbana Quando assumiu o cargo de superintendente de Limpeza Urbana em Niterói, Gugu notou que no gabinete que ocuparia havia mais de 200 funcionários que não trabalhavam. Assinou uma resolução mandando todos para suas repartições de origem. Pouco tempo depois desta atitude de moralização da Superintendência de Limpeza, Gugu foi afastado do cargo. A principal marca de sua administração foi estimular a limpeza e a estética da cidade, como ele mesmo nos conta: “Quem fez o aterro da subida da Estrada Fróes, onde hoje há um espaço de ginástica, fui eu. Porque as pessoas passavam por lá, era um barranco, e jogavam lixo. Na época, havia muitos edifícios em construção cidade afora, e eu pedi que as os restos de obras fossem jogados ali. Com isto, aumentei uns cinco metros de calçada, e aí o que era uma cárie em Icaraí voltou a ser um sorriso. Foi só arrematar com um jardim. Organizei também a lavagem das pistas das praias da orla. Todo sábado, as pistas eram lavadas, e ficava uma beleza”, recorda.

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“O Globo Niterói” entrevista o Superintendente de Limpeza Urbana da cidade. 1987

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Esporte, mola propulsora


Matava aula pra jogar futebol Devido a sua altura, 1 metro e 80, estatura acima da média para os padrões da época, Gugu sempre jogou basquete. Mas também futebol. Perto do Colégio Bittencourt havia um campo onde Gugu e Luiz César jogavam futebol “escondidos”, um “racha”, como se chamava na época e ainda hoje. Ele relata as vezes em que o professor Bittencourt ia até o campo em busca dos alunos, e até de funcionários do colégio, que matavam aula para jogar futebol. Colega do Gugu, Gusmar Visconti de Araújo, hoje desembargador, certa vez passou por isso. Professor de Ginástica do colégio, Gugu era muito dedicado, e desde a infância fazia exercícios com o pai. Prof. Francisco acordava todo dia para acompanhar, pela Rádio Nacional, as aulas do ginasta Oswaldo Diniz Magalhães, que durante 51 anos divulgou a ginástica em seu programa diário. Através dos livros, com exemplos dos exercícios ministrados na rádio-aula, faziam ginástica em casa. Em 1956, Gugu se exercitava fazendo musculação no Ginásio Icaraí, com o professor Djalma, Paulo Romito e Nilo, com quem lutou jiu-jitsu. Naquela época, mulher não fazia ginástica. Para esse hábito de se exercitar, Gugu levou alguns amigos, como Florentino, seu sócio no Centro Ortopédico. Aos 17 anos, Gugu se inscreveu no que se chamava “Tiro de Guerra” - o serviço militar. Os jovens podiam participar do “Tiro de Guerra Independente”, que era ligado a

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colégios e clubes. Gugu e Luiz César jogavam basquete no IPC com o sargento Paiva, por isso Gugu não prestou o serviço militar propriamente dito, pois a atividade esportiva oficial o isentava de marcar presença no quartel. Gugu disputou três campeonatos de basquete: um deles pelo IPC. “Eu, Américo Mendonça, o Memeco, e Otinho. Nós formávamos a linha de basquete. Minha posição era pivô. Disputei o campeonato Juvenil, para o qual a idade máxima era18 anos. Já estava na faculdade, mas tinha 17 anos. Um dos jogadores, Amim, campeão SulAmericano, foi para o escrete nacional. Seu concorrente nas quadras era o Mário Hermes, do time que representava o Clube Central”, recorda-se Gugu, que também jogou no Clube Praia das Flechas. O time era formado por Amim Bedran, Helênio, o Nhanhão, e Gusmar “Escovinha”. Depois, na Fufe (Federação Universitária Fluminense de Esporte), disputou um campeonato em Curitiba. Nesses três anos que se dedicou ao basquete, jogou nos times Praia das Flechas, Gragoatá e Regatas. Interrompeu sua participação devido ao compromisso com a faculdade. O basquete era o esporte mais festejado em Niterói, com torcidas e rivalidade. Os clubes com as equipes mais competitivas eram Canto do Rio, IPC (Icaraí Praia Clube), Regatas, Praia das Flechas (onde hoje está o Edifico Praia das Flechas), Gragoatá e Central.

Andar de patins já foi um hobby

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Hoje, como membro da Associação de Veteranos de Basquete de Niterói (AVBN), Gugu joga no Campeonato Nacional de Basqueteiro da categoria, que é regido pela Confederação Brasileira de Basquetebol Máster, com 27 associações afiliadas, congregando mais de 10 mil atletas praticantes com idades entre 55 e 90 anos. O último campeonato brasileiro do qual participou aconteceu na cidade de Foz do Iguaçu (PR), em 2010. Gugu também já jogou em campeonatos em Natal (RN), Fortaleza (CE) e Caxias do Sul (RS).

Jogo de futebol com os amigos no Caio Martins. Gugu, com gorro de médico, ao centro, acompanhado de Ary, Tuca, Wanderley, Orlando, Ideel, Carlos Alberto e Rogério, entre outros

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Primeira maratona aos 60 anos Gugu conta que começou a correr quando ficou diabético, nos anos 80. Ninguém cultivava este hábito, que se tornou uma febre no Brasil através do Dr. Kenneth Cooper, diretor do Laboratório Espacial da Nasa que, nos anos 70, lançou nos Estados Unidos o livro campeão de vendas “Aptidão física em qualquer idade”, que introduziu o conceito de ginástica aeróbica no mundo, enfatizando um programa de pontos para melhorar o sistema cardiovascular. Segundo seu filho Carlos Henrique, um dia Gugu resolveu começar a correr. Carrique ficou surpreso e perguntou se ele ia “correr pelas ruas”. Ao receber resposta afirmativa, e conhecendo a determinação do pai, o filho o acompanhou de carro, enquanto Gugu corria pelas ruas do Ingá, Praia de Icaraí, São Francisco e, pasme, até na Amaral Peixoto! Todas as pessoas olhavam, e ele nem se importava. Aos 60 anos, correu uma maratona. Hoje não faz mais este esforço físico, “mas pensar que é possível se preparar para este desafio dá uma consciência psíquica de segurança e conforto para qualquer um”, ensina o médico, que hoje se vê “um homem parcialmente tolhido das capacidades.” Vale lembrar a máxima do Dr. Cooper: “Se as pessoas não conseguem encontrar tempo para fazer alguma atividade física, que achem tempo para ficar doentes.”

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Está escrito na história do Country, no site do clube: “O Country Clube de Niterói foi fundado em 21 de julho de 1957, no imóvel denominado ‘Sítio São Jorge’, situado na Rua Chile, nº 697,Vila Progresso, em Pendotiba, Niterói, Estado do Rio de Janeiro, com a finalidade precípua de cultivar e desenvolver a educação física, esportes, recreação e reuniões sociais. Assim considerados os SÓCIOS FUNDADORES, que assinaram a Ata de Fundação de 29 de julho de 1957: Antônio José de Oliveira Dias Garcia, Camilo Augusto de Moraes Guerreiro Filho, Carlos Augusto Aguiar Bittencourt Silva, Carlos Raposo da Silva, Luiz Marinho da Cunha, Oscar Rodrigues Pina, Paulo Antônio de Moraes Guerreiro e Robert Patterson Wheeler. A Assembléia foi presidida por Antônio José de Oliveira Dias Garcia, que convidou para secretariá-la o Sr. Rodrigues Pina. Na ocasião, foram aprovados os primeiros Estatutos da nova agremiação e autorizada a emissão dos 100 primeiros títulos, lançados a Cr$ 40,00 (moeda da época). Com tais recursos, foi ajustada a compra do ‘Sítio São Jorge’, reformadas sua Casa - Sede e demais benfeitorias. A propósito, é oportuno transcrevermos trecho do depoimento de Camilo Guerreiro Filho, sócio fundador e proprietário do título no 02: ‘Em 1956, tendo sido convidado pelo Cônsul da Inglaterra para promover, como advogado, o inventário de um súdito britânico de nome George Herbert Tatersall, ao visitar a propriedade onde residia o falecido, qual Nostradamus, antevi nosso Clube. Cheguei até a pressagiar junto ao Comandante Raul Mendes Jorge, hoje nosso benemérito, certo de que minha idéia prosperaria dada a localização e dimensões, topografia e condições climáticas da propriedade. (...) A fundação do Clube foi comemorada com grande Festa Junina, realizada no dia 30 de julho de 1957, na qual tomou posse a diretoria provisória. A festa foi verdadeiro acontecimento social, contando com a presença do Vice-Governador Roberto Silveira, que ingressou naquela oportunidade no quadro social. As partidas de vôlei, as refregas de fresco-tênis em quadra de chão batido, e as disputas de cricket, foram as primeiras atividades esportivas. Carlos Augusto Aguiar Bittencourt Silva, Diretor de Esportes, as incrementava e participava ativamente como atleta. Fiz o primeiro Estatuto. Paulo Guerreiro idealizou o símbolo

Seleção Niteroiense de Basquete Veterano. Em pé, a partir da esquerda: Renato Guedes, Claudio Dantas, Gugu, Alfredo Schnetzler, Murilo Castilho, Arthur Ayres. Agachados: Haroldo Ayres, Luiz Olímpio e Manoel Gomes

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do Clube, suas bandeiras e flâmulas. As cores vermelha, azul e branca foram escolhidas por unanimidade. O primeiro nome dado foi de Pendotiba Country Clube, que logo depois passou para ‘Country Clube de Niterói’".

Levando a tocha olímpica Em julho de 2006, a tocha olímpica passou por Niterói, antes de chegar ao seu destino, o Rio de Janeiro. Na cidade, foi conduzida por vários atletas famosos, entre eles Gugu, que representou os esportistas da terceira idade. Quando foi convidado para o evento, Gugu não conseguiu parar de chorar! A razão da emoção foi o reconhecimento do benefício que a realização do Projeto Gugu trouxe à sociedade niteroiense. “Os governos, os canais de televisão, deveriam investir mais em ginástica para todas as pessoas, principalmente os mais velhos. A pior coisa do mundo é a ignorância”, atesta Gugu.

Emoção que se converteu em choro. Gugu e a tocha olímpica

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FamĂ­lia nada convencional


“Somos uma família intensa” Esta definição da filha Rosana, direta e precisa, descreve a relação dos Bittencourt Silva. Uma família nada convencional, muito amorosa e, contrariando convenções, extremamente unida. Todos prestigiam todos. Todos convivem em harmonia com todos: filhos, netos, genros e noras, as que foram e as que são. Uma verdadeira democracia familiar. Com a alegria e a intensidade proporcionais ao seu tamanho. No Natal, segundo Gugu, forma-se uma fila para que ele receba presentes. Os filhos concordam: “Papai não se importa com o que pensam dele”.

Com a filha Rosana

A filha Marcia nasceu em março de 1956. Mãe do único neto homem, Carlos Augusto Bittencourt Silva Cancela, carinhosamente chamado de Cau. Gugu a define como “meiga e amorosa. Sempre disposta a dar atenção e carinho a todos. Tem a doçura de sua mãe.” “Lembro-me muito das nossas viagens”, conta Márcia. “Da casa da Rua Lara Vilela, recordações de uma família unida e sempre com muitos amigos à volta, e da Vó Regina, muito carinhosa, que sempre no Natal, em cada cadeira à mesa da ceia, deixava um presente.”

Com a filha Marcia

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Gugu (em São Lourenço, comemorando 80 anos) com filhos e netos. A partir da esquerda, no alto, Marcia, Paola, Carlos Francisco, Rosana, Maria Cecília Carrique, Carla Augusta, Pamela, Mariana, Tâmara, Pauline, Georgia, Carlos Augusto e Candice

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Pai controlador, mas carinhoso e preocupado, Gugu não gosta de ver os filhos tristes. “Papai é um homem com temperamento difícil, mas extremamente amoroso”,diz Marcia. E finaliza: “Pai, quando se tem, vemos a importância que é para nós, com defeitos, qualidades, tristeza, amor, alegria; ele se torna uma pessoa única e amada sempre. Agradeço por ter um pai que sempre está presente em minha vida, em todos os momentos, os bons e os difíceis. Amor pra toda vida.” Rosana nasceu em 4 de agosto de 1952, na Casa de Saúde Icaraí. Definida por Gugu como sua “conselheira”, mulher forte. “Tem o temperamento de minha mãe, Regina. Sempre foi coerente em suas atitudes, é culta e competente”, diz o pai. Mãe de Paola, Carla Augusta, Pamela e Mariana. “Na infância, tínhamos uma relação com papai de extremo respeito. Ele era muito firme em suas determinações. Nossa família era muito unida. Quando eu tinha 14 anos, fomos para a Argentina, uma viagem inesquecível. Como meu pai, minha infância foi ao lado do Colégio Bittencourt, pois morávamos ali. Brincávamos na quadra, mas papai não era presente no dia a dia, de brincar com a gente. Ele nos proporcionava tudo, e as viagens curtas ou longas eram rotina. Sempre nós cinco juntos: eu, papai, mamãe, Carrique e Márcia. Hoje, adulta, gosto de conversar com ele. Em São Pedro d’Aldeia, nós tínhamos longas conversas, que geravam um pouco de ciúmes do restante da família.

Com o genro Sergio Emilião

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Ficávamos nós dois ali. Sempre tive uma relação forte com ele”, acentua. Rosana é a filha que seguiu a carreira do pai: médica e pioneira. Foi a primeira diretora da Faculdade de Medicina da UFF, num tempo em que os homens davam as cartas. Ela mesma venceu a eleição competindo com dois colegas. “Também herdei dele o dom da oratória. Faço discursos de improviso”, conta ela, que tem o livro de sua tese publicado, “Aprendizagem - estratégias e estilos”, trabalho docente que orgulha muito o pai. “Admiro papai pela disposição física, com esta idade. É motivo de orgulho para mim, mas me preocupo com sua saúde.” Segundo Rosana, Thelma, sua mãe, “era nosso porto seguro”. Quando os filhos eram pequenos, ela parou de estudar para se dedicar a eles. Formou-se na universidade depois que os filhos estavam préadolescentes. “Ela era nosso elo com o mundo. Costurava muito bem. Fazia vestidos pra mim no mesmo dia da festa.” Rosana recorda a relação de Gugu com Thelma. “A amizade com minha mãe também foi muito importante para nossa união. Eles foram muito amigos a vida toda. Papai sofreu muito no falecimento dela. Ele estava lá, ao seu lado”, emociona-se. E finaliza: “papai tem um lado crítico e muito ácido. Somos bem parecidos neste ponto.”

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Carlos Henrique nasceu em março de 1951, na Casa de Saúde Icaraí. Filho mais velho, que seguiu os passos do pai na Ortopedia. Considerado um médico muito bem-sucedido e respeitado no Brasil. Pai de Georgia, Candice, Pauline e Tâmara. “Meu filho é excelente profissional. Tem sucesso”, conta Gugu, com orgulho. Carrique, como é chamado em família e pelos amigos, lembrase com riqueza de detalhes: “Papai era enérgico com estudo, e minha carreira não foi escolhida. Ele me levava para os hospitais desde pequeno. Era no tranco mesmo. Com 16 anos, eu estudava do Colégio Bittencourt Silva de manhã, à tarde estudava francês e, à noite, cursinho pré-vestibular. Quando passei para a UFRJ e para a UFF, contradisse todo seu discurso, que era o de que eu não passaria porque não havia estudado tanto. Com 12 anos, ele me levava para o Ginásio Icaraí para malhar com ele. Eu fazia halterofilismo. Era a única criança na academia. Hoje vejo que esta pressão me fez bem, mas fiz tudo ao contrário. E não me decepcionei. Entrei para a faculdade aos 17 anos, com 24 já lecionava na UFF”. Como médico, Carrique fez mestrado, doutorado. Tem consultório no Rio e São Paulo. “O momento do reconhecimento de papai veio quando comecei minhas conquistas profissionais. Nesse momento, ele finalmente se rendeu”, relata.

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Carrique diz que ele e o pai são diferentes. “Papai é mais metódico em sua rotina. Faço ginástica à noite. Sou mais parecido com minha mãe, sem rotina pessoal muito rígida, e ele é muito competitivo. Competia comigo em tudo: futebol, basquete, vôlei”. Nas corridas de rua, esporte do qual Gugu é fã, Carrique se lembra, com humor, que o pai sempre chegou na frente dele. E nas maratonas também. Gugu começou a correr pela praia, e Carrique acompanhava de carro. Ninguém corria na época. “Nessa fase, realmente, senti no corpo os benefícios. Eu estava muito bem. Mas tinha mais preguiça. Papai tem uma força de vontade enorme. É outro estilo.” Da infância, Carrique recorda que a casa da Lara Villela era sempre “cheia de amigos”. Gugu tocava violão e sua mãe, Thelma, cantava. Dos pais o filho herdou também o dom da música. “O Projeto Gugu é muito bacana”, atesta Carrique.“Mas quando ele começou, questionei sobre sua capacidade de dar aulas. Tempos depois, papai fazia mais uma faculdade, desta vez de Educação Física. Nada é barreira para ele.” Carlos Francisco nasceu em dezembro de 1980, no Hospital Santa Cruz - Beneficência Portuguesa de Niterói, filho mais velho do segundo casamento do Gugu, com Regininha. Médico ortopedista e carinhosamente chamado pela família de “Bulunga”, fisicamente tem uma semelhança incrível com o pai. Vendo fotos de Gugu jovem, é impossível não compará-los.

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Bulunga surpreende, e fica emocionado ao falar do pai. “Meu pai tem o temperamento um pouco fechado. Pareço com ele neste ponto. Sinto muitas coisas, mas guardo. Ele é a pessoa mais importante na minha vida. Por mais divergências que possamos ter, sempre penso que é bom estar com ele aqui ao meu lado. Trabalhamos juntos no Centro Ortopédico, e esta convivência nos aproxima muito. Ótimo pai, carinhoso, conservador em alguns aspectos, mas o importante para ele é a família, a união. É estarmos juntos. Herdei dele o gosto pela corrida e o time de futebol. Somos todos torcedores do Botafogo.”

Torcedor do Botafogo, como toda a família, ao lado dos filhos Carlos Francisco (E) e Carlos Henrique

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Maria Cecília, ou Tila, é chamada pelo pai, somente por ele, de “Tilica”. Nasceu em setembro de 1990, no Hospital Santa Cruz Beneficência Portuguesa de Niterói, filha caçula de sua união com Regina. É estudante de Desenho Industrial na UFRJ. “Tila tem uma liberdade comigo que nenhum dos meus filhos tem”, entrega Gugu. Ela diz: “Quando nasci, meu pai tinha 64 anos. Lembro-me sempre dele falando sobre esta diferença de idade e questionando: ‘Será que vou dançar a valsa dos 15 anos com Tilica’? ‘Será que vou estar presente quando ela entrar pra faculdade’? Meu pai sempre tem novas metas, e ele continua aqui, ao meu lado. Como sou a caçula, pelo que meus irmãos falam, meu pai é mais tolerante comigo. Tenho muito orgulho dele. Somos parecidos, porque também sou teimosa.”

“Tila tem uma liberdade comigo que nenhum dos meus filhos tem”, entrega Gugu

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As netas, o neto e as bisnetas... Georgia, advogada, filha de Carrique, diz que tem uma frase do avô que acha ótima: “Só gosto de quem gosta de mim”. Simples assim. “Acredito que isso é que o faz uma pessoa essencialmente feliz. Como o amo muito, tenho certeza de que estou nesse grupinho de pessoas.” Paola, analista de sistemas, filha de Rosana, assegura que Gugu não é um avô tradicional. “Posso dizer que ele é bem diferente dos demais. Apesar de ter uma vida profissional muito ativa, também tem tempo para a família. Tenho lembranças do meu avô em todas as fases da minha vida, eu era criança quando ele ia trabalhar em Araruama e nos levava junto para passar o dia na lagoa. Assim como essa história, tenho várias outras lembranças. Sempre tive muita admiração pelo meu avô, médico, vereador, presidente do Ibasm, membro do Rotary, dono do Centro Ortopédico e fundador do Projeto Gugu, um projeto onde ele pode demonstrar a pessoa generosa que é. Este projeto muito me emociona, por ter começado de forma tão despretensiosa e ter trazido qualidade de vida para tantas pessoas.“ Candice, advogada, filha de Carrique, diz que “não é todo mundo que tem um avô de 87 anos, com quem se vai malhar na academia. E cujo treino você não consegue acompanhar,

Velando o sono das bisnetas Rafaela e Gabriela

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ficando toda doída no dia seguinte. Esse é o meu avô. Tenho a sorte e o privilégio de ser neta do Gugu. Os adjetivos são muitos. Inteligentíssimo, culto, competente, determinado, afetuoso, dedicado à família, generoso, engraçado, íntegro, honesto, talentoso, pioneiro, incansável, único. E também: exigente, disciplinado (e disciplinador), durão, às vezes um pouco malhumorado e intransigente. Resumindo, uma figura, dono de uma vida muito bem vivida e feliz, e com muito ainda por viver! Um avô sempre presente na minha vida e de todos os netos. Tenho lembranças incontáveis de viagens, passeios, almoços, corridas no calçadão da Praia de Icaraí, caminhadas em Geribá, aulas de ginástica, Búzios, São Pedro, conversas, palavras cruzadas, palavras difíceis que ninguém (só ele) sabe o significado, e acaba ensinando pra gente, cantorias ("Tamba-Tajáaaaaa, me faz feliz..."), risadas, amor. Amor, a pedra fundamental da nossa grande família, que sempre acolheu e acolhe todos como iguais. Essa família que ele iniciou com minha amada Vovó Thelma, que veio dos lendários Vovó Regina e Vovô Bittencourt, que continuou com a não menos querida Regininha, e que conta com tantos outros muito queridos e amados que nem dá pra listar todo mundo aqui... Quanto amor! Que orgulho fazer parte dessa família, carregar o seu nome, e aprender tanto com ele.” Carla Augusta, estilista, é a neta que deu a Gugu suas primeiras bisnetas, Rafaela e Gabriela. Filha de Rosana, Carla faz aniversário junto com o avô, e se gaba em dizer que é a “única neta que pôde

Paola, Cau, Pamela, Mariana (ao fundo), Tâmara, Pauline, Carla com a filha Rafaela, Candice e Georgia

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dar a ele o prazer de ser bisavô.” Pauline, filha de Carrique, ortopedista que atua em São Paulo, diz que falar sobre o avô “não é uma tarefa fácil”. Vejamos: “Ele é uma pessoa de personalidade forte, muito querido e amado por mim, pela nossa família e por tantas pessoas que passaram e passam por suas mãos. Um avô que sempre foi um exemplo, e com quem tenho o privilégio de conviver em tantos momentos... Desde as corridas matinais, antes da escola (que me ensinaram a importância do cuidado com o corpo), às idas à patinação no gelo (que devem ter sido poucas, mas pra mim pareceram muitas), até à divisão das tarefas no hospital como médica (é, eu escolhi o mesmo caminho profissional dele). Parece que colocando no papel eu me pareço mais com meu avô do que imagino, pois continuo tentando cuidar dos pacientes, manter a nossa família unida e correr pelas ruas, e confesso que a teimosia tão presente no meu avô insiste em me perseguir também. É muita felicidade poder compartilhar minha vida com um ser humano tão singular como o Gugu!” Tâmara, também filha de Carrique, diz que o avô e o Projeto Gugu foram o tema da monografia de conclusão de sua graduação. “Na dedicatória, mencionei: ‘Agradeço a meu avô Gugu, exemplo de que a terceira idade pode ser a melhor idade, e com certeza é essa lição que ele me passa todos os dias’. Mas, para se chegar a isso, deve-se ter sempre as melhores idades, os melhores anos, os sentimentos mais verdadeiros, a personalidade mais original, a família mais querida, e para mim foi assim que ele construiu sua história que ainda segue surpreendendo. Sempre gostei de gente que passa pelo mundo causando algum impacto, inspirando pessoas a serem como elas um dia; é isso que ele faz. Tem muitas conquistas,

As netas: Carla, Mariana, Candice, Georgia, Paola, Pamela, o neto Carlos Augusto, Tâmara e Pauline. Na estampa das camisetas, a foto da inesquecível avó, Thelma

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alguns fracassos, muitas alegrias, algumas tristezas, mas tem e sempre terá minha admiração por simplesmente ser como é, sem tirar nem pôr, viver da forma que vive, e influenciar da forma boa que o faz. Para mim, é exemplo de valores e alegria de viver. Inspira a vontade de estar bem e, principalmente, de fazer o bem!” Pamela, estudante de História na PUC, filha de Rosana, diz que se lembra das viagens com o avô. “Íamos para São Pedro d’Aldeia ao som de Roberto Carlos. Ele sempre bem-humorado, e tomando conta de se estávamos acima do peso! Um avô que poucas pessoas têm a honra de ter.” Mariana, única filha de Rosana que estuda Medicina, concorda com as irmãs: Gugu “está longe de ser um avô tradicional”. Ela diz: “Sua oscilação de humor o torna cativante, passando do avô "fofinho" e atencioso ao mal-humorado. Lembrome de nossas viagens, do meu medo quando ele dirigia e Tila ‘apagava’ no banco de trás. Mas o que me marcou mais foram esses últimos anos, como a conversa que tivemos, enquanto jantava na cozinha, e ele me disse assim: ‘Mariana, minha neta, percebi que você não sabe nada da minha vida’, e sendo assim ficamos durante muito tempo ali juntos, ele me contando diversas historias da infância, do casamento com vovó, as besteiras e as maiores conquistas que teve. Ele é um dos meus maiores orgulhos. Encontrar com ele, e ele me perguntar preocupado: ‘Você já se formou em Medicina? Porque ainda não fui convidado!’, e eu respondo, com muita gratidão: ‘Não, vozinho, só em junho, e o seu convite já está comprado, inclusive para a festa, tá?’. E ele dá aquele sorrisinho, um beijo em minha testa, e se vai.” Carlos Augusto, o Cau, filho da Marcia, diz que infelizmente não é muito bom de expressar seus sentimentos, mas “gostaria de deixar registrado que tenho muito orgulho de ser o único neto e carregar o mesmo nome que o dele. Sem dúvida, a família Bittencourt Silva não seria a mesma sem as aventuras que o vovô proporciona. A última que me lembro foi a trilha na cachoeira. Minha mãe chorando com o tombo dele! Aquele momento, com toda a família reunida, se divertindo, não tem preço. Vô, nao tinha como; sua vida tinha que virar um livro. E hoje está virando! Beijos do seu neto. Te amo!”

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“Quem não para não perde. O físico e o intelecto. Todos os fenômenos biológicos que passam no organismo humano precisam ser realizados o maior número de vezes. Por exemplo, as articulações do corpo de uma criança possuem grande flexibilidade. Se não continuar a exercitar estas articulações, quando adulta, a pessoa perde esta flexibilidade, com exceção de profissionais como as bailarinas. Com a idade, a gente vai perdendo esta capacidade. Quem se exercita mental e fisicamente espanta doenças e prolonga a qualidade de vida. Minha bandeira é ‘faça exercícios físico e mental’. Palavras cruzadas, Sudoku, leia e escreva para cuidar da mente, para afastar o Alzheimer.” (GB)


O Projeto Gugu


Valorizando a autoestima O Projeto Gugu não é feito apenas de aulas de ginástica. Ele promove a valorização da autoestima dos idosos, o que inclui: eleição da Musa, bloco de Carnaval na praia, Jogos da Amizade, coral, dança de salão, festa junina, comemoração especial no Dia do Idoso e o Jornal Nov.Idade, distribuído em toda a cidade de Niterói (RJ). São em média oito mil integrantes na ginástica, com faixa etária de 20 até 95 anos. Os núcleos são distribuídos por bairros de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro. As aulas acontecem de segunda a sexta-feira, em três horários, pela manhã e à tarde. Três núcleos têm aulas aos sábados, sendo um também no domingo. Todos os professores são graduados em Educação Física. Precisam ter perfil para lidar com pessoas, principalmente com os idosos, dando-lhes atenção e carinho. No grupo de dança de salão, são em média 400 integrantes. As aulas acontecem no Complexo Caio Martins, e as turmas são divididas de acordo com o grau de dificuldade. O coral possui 35 integrantes. Tudo começou com uma palestra de Gugu, em 1995, na Univerti - Universidade Aberta da Terceira Idade, com sede em Niterói. O assunto era Medicina Ortomolecular. Havia mais de 100 senhoras. Ele abordou vários assuntos, entre eles: bem-estar, ginástica,

Os núcleos são distribuídos por bairros de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro

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alimentação balanceada. “Ao final”, diz ele, “umas 30 mulheres vieram falar comigo, disseram que adoraram a palestra, mas não tinham lugar para fazer ginástica. Nesse dia, fui pra casa pensando em fazer um trabalho parecido com o de São Pedro d’Aldeia, só que em Niterói. Quando estas senhoras me solicitaram este espaço, pensei: É agora!” Na definição dos dicionários, “velha” quer dizer “mulher idosa, de época remota e antiga, muito tempo de existência”. Para Gugu, o brasileiro considera que velho é ser obsoleto, quando não é. Ele afirma que “as velhas precisam de atenção, alegria, seriedade e liberdade”. Quando questionado por chamá-las assim, justifica que não é velha no sentido pejorativo, de uma coisa estragada, imprestável ou ruim, mas sim antigo. “Uma pessoa linda e forte, mas antiga”, define ele, que é contra os termos “terceira idade” e “idoso”, porque aí, sim, enxerga preconceito. “Regininha conseguiu a volta dos bailes matinê, no Canto do Rio, para as velhas e velhos. Fiquei impressionado com a alegria deles. Algumas dançam sem ritmo, outras contratam dançarinos ou, como elas falam, ‘partner’. A energia é espetacular”, vibra. Uma das conclusões sobre o benefício da ginástica é o fato de que para participar dos núcleos não há necessidade de apresentar exames médicos. “Os alunos têm a consciência do seu limite, e não há uma cobrança de desempenho pessoal”, alerta Gugu. O importante é participar. O projeto preenche o vazio desta geração. “Solidão,

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viuvez e aposentadoria são os motivos principais para adesão ao Projeto Gugu”, atesta o criador. Ele afirma que muita gente não faz ginástica porque não fez exames previamente, “mas é melhor sair de casa e se socializar”, aconselha. O controle pessoal funciona no projeto. A pessoa começa a fazer ginástica e, se não se sente bem, para, mas isso não a impede de fazer amigos ali. O que importa é a alegria, comprometimento e respeito uns pelos outros. Como diz Gugu, “se você está andando na rua, não está sentindo nada, pode fazer ginástica no projeto”. No início, pessoas com mais de 60 anos não podiam fazer ginástica porque não havia lugar, hoje, todas as academias recebem pessoas idosas. Aos 73 anos, Carlos Augusto resolveu fazer faculdade de Educação Física, devido à contestação sobre sua qualificação para exercer a profissão de professor de ginástica, apesar do projeto, naquela época, empregar 15 professores. Gugu foi para a Universidade Salgado de Oliveira. Algumas de suas colegas de turma tornaram-se professoras do projeto: Elzinha, Cristiane, Adelma, Milene, Tatiana. Formaram-se no ano 2000.

Prêmio Faz a Diferença Em setembro de 2006, Gugu foi indicado pelo jornal “O Globo” para o Prêmio Faz a Diferença. Concorreu, pela Categoria Rio, com outros dois nomes. Este prêmio elege pessoas que fazem algo relevante para a comunidade. “Foi o reconhecimento da população pelo trabalho realizado no Projeto

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Gugu. Pena não ter vencido, sem desmerecer o vencedor, mas imagine quantos idosos seriam beneficiados! Porque o projeto é prático e fácil de ser implantado em qualquer lugar do País”. O texto do jornal é claro: “Carlos Augusto Bittencourt é autor do Projeto Gugu, que oferece aulas gratuitas de ginástica para idosos. Beneficiando 1000 pessoas”. Hoje são em média oito mil idosos. Os professores Dedicação, amizade, amor, profissionalismo, solidariedade foram as palavras escolhidas para falar dos professores do projeto. Diz Gugu: “Não são exercícios determinados. Cada professor é responsável por seu planejamento de aula. Cada um tem sua própria identidade. Uns são mais divertidos, outros mais musicais. O esquema que implantei, de rodízio, faz com que todos os núcleos conheçam todos os professores. Não há rotina nas aulas. Os oriento para que os exercícios aplicados mexam todas as articulações do corpo: joelho, quadril, coluna lombar, coluna cervical.” Segundo os professores, os alunos fazem a ginástica em seu tempo, sem esforço. Com liberdade total. Chegam e saem a hora que querem. O objetivo é um momento de lazer. A rotina do projeto conta com o apoio dos professores e da coordenadora de cada núcleo - uma aluna responsável pela estrutura física da aula, diariamente. Professora Aline, há oito anos no projeto, diz que quando começou o trabalho ficou assustada com o número de alunos. “Falar

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para muitas pessoas era uma dificuldade que eu tinha. No projeto, aprendi a superar. Minha primeira aula foi com Gugu, no Bairro Chic (Fonseca). Ele é muito carinhoso e atencioso. E dá aula com qualquer tipo de música, tango, bolero, música clássica. Às vezes, temos alguns imprevistos com relação ao som, e já aprendemos com ele a improvisar sem deixar cair a qualidade da aula. As alunas sentem falta dele. Sua presença impõe respeito. Por exemplo, não gosta que conversem durante a aula. Se falar, bate com o bastão no chão!” (risos). Professora Silvana, há 15 anos no projeto, conta que com Gugu aprendeu novas maneiras de aplicar exercícios que, no início, eram diferentes dos que havia aprendido na faculdade. “Com o tempo percebi que o idoso tem o corpo mais rígido, não tão maleável. E a partir desta percepção, passei a dar os exercícios exatamente como Gugu me ensinou.” Professora Cristiane, oito anos de Projeto Gugu, relembra dos tempos de sala de aula com o colega Gugu, na faculdade de Educação Física. “Um dia, fui conhecer o projeto e realmente me apaixonei. Ano passado, fomos ao núcleo de Madureira para a Festa Junina, mas antes tínhamos alguns itens para comprar no Mercadão. Ao chegarmos, Gugu comprou uma máscara de monstro. E como a distância era grande, para voltar ao núcleo, e estávamos a pé, ele colocou a máscara e não tirou de jeito nenhum. Atravessamos Madureira, e ele com a máscara horrível, que cobria todo o rosto! As pessoas no caminho perguntavam se nós éramos da televisão!”

HINO DO PROJETO GUGU Letra: Sônia Maia Forte Música: Eduardo Souto (versão do Hino do Colégio Bittencourt)

Cidade Sorriso, Niterói, cidade pra se amar. Tu és paraíso, Onde as ondas vêm à praia beijar. Projeto Gugu, Que exercita o nosso corpo inteiro. Diz Gugu, seu grande herói, a saúde em primeiro Dando orgulho a Niterói. Projeto que tem valor, Exemplo pro mundo inteiro, Trazendo com muito amor, Pra nossa idade, a mocidade. Projeto és altruísta, És nobre, grande conquista, No início do dia trazes pra todos nós alegria. Ginastas, nas praias A pular seja em qualquer lugar, vai firme, não caias, faze tudo para melhorar. A tarde, São Bento E noutros núcleos, com sol ou com vento. Mente sã em corpo são e com garra e emoção, dê saúde ao coração.

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Professora Débora, 16 anos no projeto, recorda que começou como aluna. “Mas os professores sempre me incentivavam a entrar para a faculdade. Eu me achava velha. Um dia, Gugu me falou que tinha 73 anos e cursava o 2º período de Educação Física. Foi uma lição, e resolvi me inscrever. Me formei sendo oradora da minha turma. Amo o Projeto Gugu, que transformou minha vida para muito melhor.” Léo Reis, professor do Projeto Gugu há 7 anos e personal trainer do Carlos Augusto, diz que ele tem “caráter forte, convicções definidas, é um superpaizão de todos, com grande capacidade de agregar pessoas. Austero ao defender seu ponto de vista, porém demonstra reconhecer seu erro através de discretas atitudes. Pessoa de imenso coração, movido por pura emoção. Como personal trainer, preciso de todo meu conhecimento técnico para convencer Gugu a executar os exercícios propostos. É impressionante a disposição dele nos treinos, e o quanto o aumento da carga dos aparelhos o motiva e o deixa orgulhoso de seu desempenho.”

O hoje governador Sergio Cabral louvando o Projeto Gugu em sua coluna no jornal “O Dia”

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Gugu jornalista, Gugu notĂ­cia, Gugu artista


Lançou jornais quando criança O primeiro jornal que Gugu lançou, ainda menino, se chamava “A aula”. Todo feito a mão, arrematado com colagens de fotos. Os artigos eram sobre seu cotidiano. O “A Aula” passava de mão em mão na família, para que todos lessem. Já adolescente, Gugu foi diretor do jornal “O Ensaio”, elaborado pelos alunos do Colégio Bittencourt Silva, com conteúdo literário. Em 1950, Gugu escreveu para o “Jornal de São Gonçalo”, depois para o “JM” Jornal Médico, informativo da Associação Médica Fluminense, projeto feito em parceria com Lou Pacheco, a grande e saudosa colunista do jornal “Lig”, falecida recentemente. No jornal “O Fluminense”, foram dois anos de coluna semanal, no “Persona”, maior e mais prestigioso semanário da cidade em todos os tempos, dirigido pela prestigiosa jornalista Elzita Bittencourt do Valle, Gugu assinou a badalada coluna “Luzes da Cidade”, no “Opinião Pública” e no “A Tribuna”, Gugu também editou espaços concorridos. Moderno, visionário, polêmico e articulado, Gugu Bittencourt também é notícia.

Na próxima página, reprodução da coluna “Luzes da Cidade”, assinada por Gugu no jornal “Persona”, de Elzita Bittencourt do Valle, em 26/02/82. Nas folhas seguintes, a transcrição das notícias na íntegra

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Luzes da Cidade Carlos Augusto Bittencourt Silva Jornal Persona / Especial de Carnaval Sexta-feira, 26/02/82 O enredo é o mesmo Mais um carnaval que passou, Olhado de longe, do alto, olhar frio, científico, sem envolvimentos, é sempre a mesma coisa. Muita criatividade individual, muita flor do mal que se abre, muitas pétalas coloridas que se despedaçam, na afirmação do prazer sublimado; muito revolver no fundo levantando e turvando o lá dentro tão misterioso e, por isso mesmo, tifo temido; tanta tentativa de afirmação; tanto fingimento de alegria, tanto provocar sem querer dar, por nada, sem saber por que; tanto cansaço de verdade; tanta excitação; tanta coisa e no fundo coisa nenhuma. Muita gente pulando, e muito mais gente olhando, parando, ficando, pensando. A escola que passa, a fantasia deslumbrante e a mulata desbundante. O ritmo louco e contagiante da bateria, o mulato suado e compenetrado. O gay velho e luxuosamente fantasiado, orgulhoso e medroso, no alto da carruagem. E o Joãozinho, baixinho, aflito, correndo e dizendo pra si: “Quem gosta pobreza não é, com certeza, o povo ou o pobre, é sempre o esnobe, o intelectual". E tome esplendor, feito com amor e, horas a fio, num nunca acabar. O final sempre o mesmo, é gente a esmo, rasgado, suado, até desolado, por pensar obrigado a gozar sem parar, cada instante da farra, do baile ou da escola de samba, pois senão não é bamba, não vai ter o que contar, quando a folia acabar. E a folia acabou. Mais um ano passou e o Carnaval já voltou e tudo se vai repetir. O enredo é o mesmo. Os personagens é que mudam. Não todos, alguns. Talvez por ser como tal, fique sempre o Carnaval, no fundo do coração por um amor que durou pouco, por uma saudade que durou muito, por uma vontade que não aconteceu ou até por um simples olhar. Viver é repetir. Uma lágrima entre sorrisos Na alegria deste Carnaval, escondida lá no fundo, uma tristeza solitária de saudade de um amigo. Constantino Namil Kalil, o dentista consagrado, o pai exemplar, o marido dedicado, o professor sempre querido mas, principalmente, o homem que soube construir amizades sólidas e cuja presença sempre foi simpática. Mais uma flor de saudade que a vida, simplesmente indiferente, semeou no jardim dos nossos sentimentos para se juntar a tantas outras que lá vicejam, trêmulas à brisa do desalento. Até lá, Constantino, breve todos seremos saudades. Casal mais simpático do desfile O elétrico Mario Negreiros dos Anjos e sua meiga e calma Claúdia, ambos médicos, presenças permanentes nas colunas sociais. Mário

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citado há pouco na coluna do Ibrahim Sued (sobre botulismo). Entre ele, Regininha B. Silva com dourado punk nos cabelos, última moda na Europa. [texto-legenda de uma foto] Comando na rua Jayme Stejn, responsável pela "grana", e Mario Rozenwacjg, cabeça da ENITUR, com José Augusto Guimarães, provavelmente o deputado estadual a ser mais votado em Niterói, e o futuro vereador Rui Garcia. Dizem as más línguas que metade das arquibancadas era de convidados do Rui. [texto-legenda de uma foto] A primeira dama Celina Moreira Franco foi uma hostess perfeita e presença de elegância, bastante descontraída e muito elogiada. Aldio Leite, atualmente Secretário Municipal de Saúde, exibindo uma camisa havaiana de muito colorido. [texto-legenda de uma foto] Educação na folia A família Plínio Leite no camarote da Secretária de Educação, ilustre representante do clã, no Governo Municipal, Léa Leite, Helio Silva, o campeoníssimo Paluca; Miguel Bittencourt, odontoradiologista do prefeito Moreira Franco; Isabela e sua avó, dona Margarida; a encantadora Fátima, linda de morrer; filha de Frederico e Dea Bittencourt. Fátima, apesar de linda, não é, infelizmente, minha parente. [texto-legenda de uma foto] Equipe eficiente Marcus Benedictus (não é gladiador) e Emilia Bittencourt (marrom glacé, em forma de gente) que, juntamente com Salim A. Calil, formaram a equipe fotográfica do PERSONA (eficientíssima)[textolegenda de uma foto] Médicos no camarote do prefeito Os casais Antonio Brandão, pediatra dos filhos de Celina Moreira Franco, e um dos médicos mais queridos pelos colegas, e Manoel Almeida, que não foi Secretário de Saúde do Município porque não quis, ou melhor, não pode conciliar suas múltiplas atividades com as exigências que o cargo impunha. [texto-legenda de uma foto] Congraçamento político Momo acima dos partidos Silvio Lessa, devidamente instalado em seu camarote, e carinhosamente abraçado com Alexandre Camacho, Secretário Geral do Conselho de Desenvolvimento Municipal [texto-legenda de uma foto] De mangas arregaçadas Waldenir Bragança transformou seu camarote em escritório eleitoral e mostrou que entrou para ganhar. Sua candidatura cada dia se fortalece mais. Ao lado, o camarote de Wagner e Rosane (D'Estética), que acreditam na propaganda. Entre uma escola e outra fecharam com Waldenir. [texto-legenda de uma foto]

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Limpeza e eficiência Carlos Boechat, entre Alcir Vizella Chacar, Regininha e Aline, muito cumprimentado pela eficiência com que seus funcionários mantiveram limpa a Passarela do Samba. Um ponto positivo no desfile. Eficiência do Governo Moreira Franco. [texto-legenda de uma foto] Evolução e organização Iris Bruzzi, juiza de evolução, do conjunto e organização do desfile. De sua atuação como juíza, não posso dizer nada. Mas pela plástica que apresentou quando subiu em cima da cabine, posso afirmar que se trata de um conjunto muito organizado e bastante evoluído.[texto-legenda de uma foto] O dono do dinheiro O Secretário Jorge Gustavo era um dos mais animados no desfile. Entre mãe e filha, posando para Luzes da Cidade. [texto-legenda de uma foto]

Gugu artista Como todo ser inquieto, Gugu também tem seu lado artista, pois se dedica a pintar telas, moldar vasos de cerâmica e escrever poesias. POESIA Meu Mundo Quero um mundo sem gente Mundo sem gente demais Onde sobrasse um pedaço Pra vida dos animais. Quero água cristalina Gota pura de orvalho Quero um ninho d’esperança Abrigado em cada galho.

O estilo da pintura é abstrato. Nas cerâmicas, traços fortes coloniais

Quero um mundo todo verde Com muitas flores no chão Com passarinhos cantando Pondo som na imensidão Quero um mundo sem casca Sem cobertura de asfalto Um mundo onde pudesse O mato crescer bem alto. Quero um mundo sem barulho De violência ou de dor Quero sentir o silêncio E só escutar o amor.

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“O Fluminense”, 21/05/1995

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“Tribuna da Imprensa”, 13/08/1996

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Jornal “Opção”, 17/04/1998

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No jornal “Lig”, a polêmica. Vizinhos de núcleo do Projeto Gugu reclamam do som “alto”. Gugu responde (à dir.). 1996

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“O Fluminense”, 07/09/1996

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“Jornal “Lig”, coluna da saudosa Lourdes Pacheco. 14/04/96

“Jornal de Santa Rosa”. Coluna de Fernanda Hermes da Fonseca. 1996

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“Capa de “O Globo Niterói” 16/03/1997

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Jornal “Persona”, coluna do Pigmalião. 25/03/1983

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Jornal “Lig�, coluna de Elzita Bittencourt do Valle. 1996

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“O Fluminense”, 27/04/1997

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“O Globo”, 08/12/2006. Gugu indicado para o Prêmio Faz a Diferença

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Capa da “Folha de Niterói”. Gugu conduzindo a tocha dos Jogos Pan-Americanos 14/07/2007

Jornal “O São Gonçalo” 06/07/2012

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“O Fluminense”, 08/17/2012.

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Depoimentos


De Gugu sobre os seus Regina, minha mãe: “Era uma mulher que pegava no pesado. Trabalhava muito dentro do colégio. Regininha parece filha de minha mãe. Resolve tudo. Minha mãe resolvia tudo, mas nada fazia sem conversar com meu pai. Era muito dedicada a ele. Era uma mulher católica tradicional.” Francisco, meu pai: “Meu pai era um homem de reputação ilibada. Foi convidado para ser secretário de Educação do Governo Edmundo Macedo Soares (Governador do Estado do Rio de Janeiro, de 1947 a 1951, quando foi sucedido por Amaral Peixoto). E aceitou. Teve dois oficiais de gabinete: Sergio Olivae s, indicado por Luiz César, e Helio Correa da Silva, indicado por mim. Em 16 de maio de 1982, em comemoração aos 90 anos de meu pai, se vivo fosse, meu amigo Moreira Franco, que era prefeito, lhe rendeu justa homenagem, dando seu nome à Rua Tiradentes, no Ingá. Houve festa, discursos na inauguração da placa da rua. Uns quatro meses depois, o prefeito Armando Barcelos, que pensei ser muito meu amigo, pelas relações que mantínhamos, junto com João Batista, presidente Câmara, e o vereador que fez o projeto, provavelmente para me atingir por questões políticas, retirou o nome da rua, retomando o Tiradentes. A desculpa foi uma reclamação de moradores, coisa que acontece em todas as ruas em que o nome é trocado. Como eu confiava em Armando, e Luiz César em Palmir Silva, oficial de gabinete do prefeito, não usamos nossa influência, pois estávamos certos do veto do prefeito. Minha gratidão a Moreira, guardo até hoje.” Meu irmão Luiz César: “Mamãe sempre protegia Luiz César. Eu, quando criança, sentia muito essa diferença de atenção, mas nunca transferi esse sentimento para meu irmão. Ele era realmente mais fraco fisicamente, menos no estudo. Quando decidi me casar, Luiz César quase foi obrigado a fazer o mesmo, porque mamãe e vovó Zelinda achavam um

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absurdo o irmão mais novo se casar antes do mais velho. Me casei em setembro de 1949, e Luiz César, em novembro do mesmo ano, com Jacira. Um dia, um amigo do meu sobrinho, que estava na casa de meu irmão, que era em cima da minha, veio me chamar dizendo que Jacira estava se sentindo mal. Quando subi, encontrei-a morta. Mãe de Renato e Anjinha, sobrinhos queridos. Depois, Luiz César morou com Mirinha durante 35 anos, até que se separou. Meu irmão, Luiz César Aguiar Bittencourt Silva, nasceu em 23 de fevereiro de 1925. Era um ano e dois meses mais velho que eu. Fomos companheiros em nossa infância e adolescência. Sempre juntos. Ele tinha uma memória privilegiada. E um sujeito bom! Ninguém falava mal dele e ele não falava de ninguém. Aonde ia, plantava alegria. Foi um camarada que aproveitou a vida da maneira que achava boa. Perdi com a morte de Luiz César uma coisa importantíssima: a janela para meu passado - tudo que queria lembrar era para ele que perguntava. Depois da sua morte, tive a consciência de que todos vamos morrer. Todos sabemos que vamos morrer, mas achamos que vai ser num dia distante. Com a morte dele, vi como ela se aproxima da gente, insidiosa. Muito interessante essa sensação que a morte do meu irmão me deu, de que vou morrer também. Não existia isso pra mim. Agora, passei a perceber que posso durar um mês, um ano, dez anos, mas a impressão ficou.” Regininha, minha mulher “Nunca fui um homem previdente. Todo dinheiro que ganhei, gastei comprando automóvel, passeando. Nunca pensei no dia de amanhã. Depois que me casei com Regininha, ela passou a me ajudar a gastar menos. E com isso comprei uma casa em São Pedro d’Aldeia, o apartamento na Praia de Icaraí, onde moro. Mas, mesmo assim, fico preocupado com o futuro. Minha fonte de renda é o meu trabalho. Regininha é minha amiga, companheira e discípula. Um dia, perguntei se ela queria fazer um curso de inglês comigo. Meses depois ela me perguntou se a proposta ainda estava de pé. Como tudo estava de pé, os corações se uniram, e assim começou minha vida com Rex.” Meus netos “A vida está muito diferente hoje. Com nove netos adultos, tenho duas bisnetas. As relações mudaram. Hoje não existe mais o mistério do casamento. Os jovens começam a namorar e praticamente já

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moram juntos. Não considero o ideal. Mas aceito. Tenho filhos de várias gerações. Os vínculos se tornaram muito frágeis. Hoje o natural é namorido namorado e marido.” Meus filhos “Do primeiro para o segundo matrimônio existe uma diferença brutal. Carlos Henrique e Maria Cecilia têm 40 anos de diferença, e 30 para Carlos Francisco. Criei meus filhos de maneira completamente diferente. Cada um com uma mentalidade, de acordo com sua época. Chamava meu pai de ‘senhor’, e nunca conversei com ele sobre mulher. Nunca falei um palavrão na frente dele. A primeira vez que ouvi meu pai falar um palavrão, tomei um susto. Tila tem uma liberdade comigo que nenhum dos meus filhos tem.” Meu amigo Horus Vital Brazil “Conheci Horus aos 15 anos, quando fui estudar no Liceu o Complementar de Medicina. A família dele era evangélica, do interior de Minas Gerais. Quando Horus foi se casar, escolheu uma noiva católica chamada Ísis, que ganhou o apelido de ‘Bisoquinha’. São os padrinhos da minha filha Rosana. Ele se tornou psicanalista, onde fundou a Sociedade de Psicanálise no Rio. Era muito sério, preparado, correto. Meu amigo fraterno. Faleceu há cinco anos, com 80 anos.” Meu amigo Hugo Baranda “Desde sempre, uma liderança. Foi oficial de gabinete de Amaral Peixoto, sempre envolvido com festas, e muitas fizemos juntos, como Glamour Girl, concursos de Miss Niterói, onde conheceu sua mulher, mãe de seus dois filhos, Mariuza, vencedora do título. Quando morreu meu avô, Coronel Aguiar, Baranda foi comigo buscar o corpo e o trouxe no colo, para que levássemos ao enterro.Uma vez fomos a Bariloche. De Niterói ao Rio Grande Sul de carro, depois de trem. Meu filho Carrique tinha 15 anos. A viagem foi um sucesso! Eu e Baranda sempre fomos muito amigos!” Meu amigo Amilar Vieira Filho “Amilar, meu primo por parte de mãe. Minha avó Zelinda tinha um irmão chamado Horácio, este casou com Isaura e teve vários filhos, registrados com nomes indígenas. A Araci se casou com Amilar Vieira e teve dois filhos, Amilar Filho e Amério (Memeco), que jogou basquete comigo no IPC,

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quando eu já estava na faculdade. Amilar Filho foi meu amigo a vida inteira. Casado com Núbia, era campeão de caça submarina. Foi um dos pioneiros deste esporte no Brasil . Éramos seis primos: eu, Amilar, Memeco, Luiz César, Adalberto (Babate), José Luís (Lulu). Amilar foi assassinado. Uma brutalidade.” Meu amigo Camilo Guerreiro Filho “Fundador do Country Clube Niterói, faleceu em setembro 2011. Em seu sepultamento, fiz um discurso sobre sua idéia e responsabilidade sobre a fundação do Country Clube de Niterói. Ele juntou 60 pessoas, incluindo eu e meu irmão Luiz César, para comprar o terreno onde hoje está situado o clube. A idéia inicial era um condomínio. Na época, condomínio fechado não era comum. O clube não tinha muita gente. E tive uma ideia de vender cotas para outras pessoas. Chamei Jairo Pombo, que era muito meu amigo e um médico influente na cidade, e conseguimos encher o clube de pessoas. Camilo teve uma atuação importante para a cidade, e não poderia deixar de falar sobre isto em sua homenagem.”

Dos outros sobre Gugu Jorge Roberto Silveira, ex-prefeito de Niterói “Conheço Carlos Augusto Bittencourt Silva desde menino. Ele foi contemporâneo de meu pai e, desde sempre, tive e tenho a maior admiração por ele. Não apenas admiro o médico competente que ele sempre demonstrou ser, mas sobretudo admiro a pessoa do Gugu. Poucas pessoas que conheci ao longo de minha vida eram tão inteligentes e espirituosas quanto ele. Um dia, ao vê-lo comandar uma ginástica para pessoas da terceira idade na Praia de Icaraí, não tive nenhuma dúvida de convidá-lo para fazer parte do Projeto Nomes. E não foi difícil perceber que o projeto que carrega seu carinhoso apelido era muito mais do que apenas exercícios físicos. As pessoas que participam dele acabam criando uma poderosa relação de carinho e amizade com os demais participantes, formando o que me parece ser uma segunda família para essas pessoas. E só o Gugu, realmente, seria capaz de liderar um processo como esse, pois é o tipo da coisa que só anda se for movida por um combustível chamado generosidade. Trago em mim um grande orgulho por ter criado o Projeto Nomes, fazendo com que Niterói exportasse mais uma ideia

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nova para dezenas de outros municípios. Mas, em particular, tenho orgulho do Projeto Gugu, pois do ponto de vista social e humano é o que mais profundamente cumpre o seu papel. Carlos Augusto, médico, professor, idealizador do Projeto Gugu, é uma daquelas pessoas que, por sua personalidade, viram referenciais de uma cidade. E não é qualquer cidade que pode ser orgulhar de ter como referencial alguém com a estatura dele. Sorte de Niterói. Sorte daqueles que o conhecem e que, como eu, são seus amigos.”

Rosaline, ex-nora “Gugu ocupa um lugar enorme no meu coração. Tenho orgulho de ser considerada mais uma das suas filhas. É, sem dúvida, uma referência para todos nós. A vitalidade e alegria de viver, que são suas características, devem ser consideradas exemplos de vida.” Sergio Emilião, genro “Gugu é o pai da Rosana, minha mulher. Só por isso já seria especial. No entanto, ele é essa figura que toda Niterói abraça e admira. Tenho grande admiração e orgulho de tê-lo como patrono da Funcab e como sogro.” José Luiz (Lulu), primo “Falar de Carlos Augusto é falar da exceção. Conheci Gugu praticamente ao abrir meus olhos para a vida. Quando jovem, com 10 anos a menos de idade, ficou na minha memória como o primo em quem me espelhava e que por muitas vezes me inspirei para tomar decisões. Dele guardo até hoje uma recordação de seus primeiros passos na Medicina. Colega de um japonês chamado Chibazake, ele e Gugu engessaram meu dedo mínimo fraturado em uma briga com meu irmão, de tal forma que, toda vez que olho para o dedo me lembro do episódio, visto que o mesmo se encontra torto até hoje, após 60 anos! Brincadeiras à parte, seu trabalho em prol da ‘melhor idade’ é algo que demonstra sua dedicação ao próximo. Um bom homem, um excelente irmão e, ser seu amigo e primo é motivo de muita honra para mim. Obrigado, Gugu, por você existir até hoje e certamente por muitos anos, para continuarmos juntos.” Emirene, prima “Falar sobre Gugu é traçar o perfil de um vencedor.

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Vencedor em sua trajetória acadêmica, quando conquistou o primeiro lugar no vestibular da Faculdade de Medicina, colocação essa mantida ao longo dos seis anos de formação médica, e que lhe valeu a Medalha Barros Terra e a eleição para orador da turma de 1949. Vencedor no exercício de sua profissão e, finalmente, vencedor “primus inter pares” na missão a que se propôs, de transmitir, melhor, repassar para a terceira idade a importância do axioma “mens sana in corpore sano”, dando aos idosos de Niterói uma visão nova e saudável da vida.” Celvia Bittencourt Rosas Luiz Antunes, prima “Levando-se em conta a nossa origem - os Bittencourt da Maravilha ( Macuco, RJ), galgamos os degraus sociais graças aos esforços de nossos pais, que acreditaram no poder transformador da Educação para superar as barreiras inerentes aos jovens do interior. Vale ressaltar o papel preponderante do Professor João Brasil inspirando os jovens da Fazenda Maravilha na busca ao saber, despertando nos mesmos a vocação para a educação, materializada pelos diversos colégios Bittencourt fundados em vários municípios fluminenses. As dificuldades enfrentadas e os ideais de cultura comuns entre esses jovens criaram elos fortíssimos, que permanecem ainda hoje entre seus descendentes. Os fatos descritos acima certamente justificam um pouco a cátedra do professor Carlos Augusto Aguiar Bittencourt Silva na Universidade Federal Fluminense e no Colégio Bittencourt Silva, fundado por seus pais em Niterói. Portanto, falar do Carlos Augusto é fácil, o difícil é saber por onde começar... O que dizer do médico, professor, político, administrador, atleta, amigo e do eternamente jovem Gugu? Competência, integridade, cordialidade e carisma são marcas em sua trajetória. Idealizando o Projeto Gugu, de tanto alcance social em nossa cidade, marcou definitivamente o ser humano que demonstra ser em todas as suas atividades. Feliz a idéia de publicar sua Fotobiografia, pois além dos seus admiradores, amigos e familiares, as futuras gerações conhecerão melhor a figura ímpar de Carlos Augusto, o nosso Gugu, desafiando o tempo e, aos 87 anos, seguindo o conselho do poeta Mário Quintana: ‘eu nem olhava o relógio / seguia sempre em frente... / e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas’".

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Anjinha Bittencourt, sobrinha e afilhada “São muitas as histórias que poderia contar sobre o meu padrinho. Mas as lembranças que sempre me fazem sorrir são aquelas ligadas à disciplina com o corpo que ele impunha não só aos filhos, mas aos sobrinhos e quem mais estivesse por perto. Com ele, fiz ginástica com bastão (cabo de vassoura, na verdade!) ouvindo um programa de rádio na sala da sua casa. Com ele entrei pela primeira vez numa academia de ginástica (acho que em Icaraí), para fazer musculação. Com ele fui correr na pista do Caio Martins, em plena época do Cooper. O entusiasmo de tio Gugu em ver a família se exercitando era contagiante. Ah, claro, tudo isso realizado muito, mas muito cedinho! ‘Acorda, Anjinha! Acorda, Renato!’ - gritava meu padrinho a plenos pulmões. E era melhor levantar do que ouvir a bronca dele depois. Anos mais tarde, na verdade décadas mais tarde, quando meu marido o conheceu, comentou comigo sobre a forma física do tio Gugu e eu orgulhosa falei: ‘ele sempre foi atleta!’ Um dia, numa visita, ele me contou entusiasmado sobre o Projeto Gugu. Nem me lembro se já tinha este nome. E não pude deixar de pensar que lá estava ele na missão de levar todo mundo pra malhar com ele, de fazer todo mundo entender o quanto era bom e importante cuidar da saúde através da ginástica. Ah, se fossemos vizinhos ainda, aposto que não desistiria das minhas caminhadas, que não pagaria academia para não ir, porque meu padrinho me acordaria com seu vozeirão: ‘Acorda, Anjiiiiiiinha!’” Luis Renato, sobrinho “Lembro-me de uma história antiga e marcante de Gugu. Éramos crianças de oito ou nove anos (os mais velhos), e em junho comemorávamos o aniversário de minha irmã com uma pequena festa junina, fogos e um balão feito caprichosamente por seu Raul, um velho empregado do colégio. O colégio ficava fechado à noite, e o grande casarão ficava um tanto assustador. Algum amigo falou de ter ouvido ruídos lá dentro. Todos se olharam assustados, e pronto, bastou para o tio Gugu formar uma fila com todas as crianças, e adentrar as salas e corredores às escuras, desafiando o aparecimento de fantasmas, monstros e sacis. Nenhum deu as caras, e acho que todos nós perdemos um pouco do medo do escuro e do desconhecido.”

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Guilherme Villaça, ex-genro “Carlos Augusto foi muito importante em minha juventude, pois praticamente convivíamos juntos diariamente, quando assimilei muito dos seus ensinamentos. Quero afirmar que considerava nosso relacionamento como o de pai e filho. Tenho um carinho especial por ele, representado em minha filha, sua neta, batizada com seu nome.” Carlos Ruas, jornalista e amigo “O terror dos brotinhos! Agitado, inovador, se casou com uma mulher linda e elegante, que era Thelma”. Sua presença era imprescindível nas festas à fantasia do Clube Central ou Country Club, por sua originalidade. Carlos Augusto não tem sinônimo. É correto e tem uma atuação importante na sociedade de Niterói.” Robson Motta Barros, médico e amigo: “Meu aplauso maior ao amigo e colega Carlos Augusto Bittencourt Silva é pela criação do Projeto Gugu, conduzindo à prática da atividade física, principalmente as pessoas da melhor idade, agregando apoios social e emocional, estimulando longevidade saudável, física e psiquicamente.O Projeto Gugu é um excelente convite à qualidade de vida. Com prazer de viver.” Guilherme Eurico, médico, amigo e ex-aluno “Conheci Carlos Augusto quando entrei para a Faculdade de Medicina, em 1953. Ele era cirurgião do Antonio Pedro. Sempre demonstrou ser extremamente inteligente. Um raciocínio rápido que o destacava. Ele começou a criar uma série de coisas que o Antonio Pedro não tinha, mas eram elementares. Nós tínhamos um número razoável de queimados, no Pronto Socorro. Naquela época, pósguerra, estava se conhecendo alterações que ocorriam nos queimados que todos nós queríamos aprender. Ao mesmo tempo, os queimados eram um problema para o hospital. Pacientes de longo tempo de internação. Primeiro, a fase de sobrevivência, depois, os curativos para evitar infecção e favorecer a enxertia. Carlos Augusto criou o ‘batalhão suicida’: acadêmicos, como eu, para fazer curativos em queimados na enfermaria

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do Pronto Socorro. Quando houve o incêndio do circo, esta experiência foi que possibilitou os primeiros atendimentos aos feridos. E foi possível melhorar o sofrimento de muitos. Ele sempre foi um homem à frente do seu tempo. Sou fã de carteirinha de Carlos Augusto, pela iniciativa e sucesso do Projeto do Gugu, realizado não por ação política, mas pelo sentido maior de um bom médico. No mais amplo da palavra.” PS. Integravam o “batalhão suicida”, além do dr. Guilherme Eurico acima citado, hoje cirurgião, Max José de Araújo Torres, hoje professor de Clínica Médica, Renato Maciel Pinheiro, um dos criadores do Hospital Moderno de Macaé, e Sergio Aloísio Homem Torres, cirurgião que, depois, foi para o interior de São Paulo. Fabio Tinoco Mathias, médico, colega do COSL e ex-aluno “Gugu é muito alegre, cordial, irreverente e de grande caráter”. Alcir Visela Chácar, médico e compadre “Conheci Gugu no Colégio Bittencourt Silva. A primeira imagem que tenho dele foi sua entrada no pátio do colégio, todo de branco. Eu tinha acabado de chegar do Espírito Santo. Fui aluno dele, de Luiz Cesar e Sr. Francisco. Quando eu era fiscal de obras do Ipase, Gugu me deu a oportunidade de trabalhar ao seu lado no ambulatório. Depois, fui seu chefe, em 1962, no mesmo lugar. Quando vinham clientes, mulheres bonitas e senhoras, ele me olhava e falava: ‘Troca; você atende a senhora’ (risos). Uma vez, época em que especialidades médicas não eram comum, nós fazíamos quase tudo, chegou uma senhora e falou: ‘Doutor, tenho uma irmã mais velha que parece muito mais moça que eu. Estou com estas pregas no rosto. Será que o senhor pode resolver pra mim?’ Gugu respondeu: ‘A senhora já viu pilha que a gente bota na geladeira funcionar direito? Não tem mais jeito!’ Quando fui para Associação Médica, ele sempre me apoiou. Fui escolhido por Bulunga (apelido familiar de Carlos Francisco, filho de Gugu) para ser seu padrinho. Isto pra mim é inesquecível, porque são os pais que escolhem sempre os padrinhos dos filhos, e neste caso foi o afilhado que escolheu. Qualquer lugar que ele vá, independente de sua roupa, as pessoas vêem o Gugu. Ele é

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diferente. Outra curiosidade é que ele às vezes fecha os olhos e aparenta estar dormindo. De repente, levanta e faz um discurso espetacular dentro do assunto abordado. Fomos à Europa, eu, ele e nossas esposas. Chegando lá, Gugu comprou um spray verde. Porque a viagem precisava de animação, segundo ele, não conhecíamos ninguém, e tínhamos de conhecer gente. Ele pintou nossos cabelos de verde. Não deu outra: o grupo da viagem queria se aproximar daqueles de cabelos diferentes. Em Paris, fomos ao Moulin Rouge assistir ao show, e no final do número musical ele subiu no palco e deu um beijo na boca da cantora! O teatro veio abaixo.” Mariuza Baranda, amiga “Conheci Gugu e Thelma em um baile no Clube Central. Fui apresentada por Hugo, que veio a ser meu marido, e ficamos muito amigos. Me encantou ver aquele par dançando. Eles formavam um casal lindo! Desde este dia, me tornei muito amiga de Thelma. Ela foi muito importante na minha vida. Era minha melhor amiga, minha confidente. A casa de Thelma estava sempre aberta e cheia de amigos. Gugu inventava jogos de perguntas, de memória. Fizemos uma viagem de carro inesquecível para o Uruguai, em um Aero Willys (carro de luxo da época). Eu, Hugo, Gugu, Thelma, as crianças, Marli e Branca, sobrinha de Thelma. Thelma foi minha professora de Didática na Faculdade de Educação. Os alunos de História tinham horror de estudar o pedagógico do curso. No primeiro dia da aula de Thelma, eu estava nervosa porque queria que ela se saísse muito bem. Ela arrasou, deu uma superaula. Muito organizada, ensinou Didática a muitos professores de História, e escreveu um livro, sua tese de mestrado, publicado pela UFF sobre a Didática ao lecionar História. Era uma mulher muito ligada em cultura, e viajava muito. Destas viagens, fazia os álbuns com fotos arrumadas, organizadas. Thelma era uma pessoa de um caráter e ética difíceis de encontrar, além de ser uma mulher glamourosíssima!” Bagueira, presidente da Câmara dos Vereadores de Niterói “Quando soube do trabalho que o Gugu realizava na Praia de Icaraí com os idosos, imediatamente concentrei meus esforços para que o bairro do

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Barreto fosse beneficiado também. A iniciativa não poderia gerar melhor resultado. Em pouco tempo o projeto se tornou uma referência para o bairro e recebeu a adesão de centenas de idosos que participam do programa até hoje. Muitos idosos que tinham depressão e problemas de convivência social passaram a ter outra vida. Além da ginástica, passaram a se cuidar melhor, a ter mais vontade de sair, passear e fazer outras atividades. Carlos Augusto Bittencourt é uma referência em Niterói e um ser humano que merece o respeito de todos. Gugu é uma pessoa formidável, um homem de visão, pioneiro na implantação de um projeto que é hoje referência nacional”. Wolney Trindade, ex-deputado estadual “Gugu é uma pessoa extraordinária, grande amigo, médico pra valer e por quem tenho grande apreço e admiração. Na Câmara Municipal de Niterói, no período do exercício do mandato de vereador, ele o fez com dignidade, respeito e compromisso com o povo e a cidade. No Poder Executivo, na presidência do Ibasm, com criatividade e trabalho, conquistou os servidores aposentados e pensionistas. Sou fã do Projeto Gugu, que se transformou no sucesso dos dias de hoje”. Zaff, ex-vereador “Creio que a trajetória profissional do Dr. Carlos Augusto Bittencourt merece aplausos de todos que prezam o trabalho de extrema abnegação a que se propõem médicos e professores. Contudo, desde que comecei a conviver com o cidadão Gugu, seu lado humano me marcou. Gugu é um exemplo raro de vontade de passar conhecimento acumulado àqueles que mais precisam. Nos anos que acompanhei o Projeto Gugu, fui testemunha de mudanças na saúde e na socialização dos que participam dos grupos espalhados pela cidade. Também posso afirmar que muitos dos grupos que antes apenas conviviam para exercitar o corpo, se tornaram verdadeiras famílias. Não fosse a iniciativa do mestre Gugu Bittencourt, jamais teria tido o privilégio de ouvir inúmeros relatos de melhoria na qualidade de vida dos participantes do bem-sucedido projeto. Gugu é a personificação de um ser humano que está entre nós para contribuir com um mundo melhor e mais solidário. A vivacidade e a inesgotável vontade de fazer o bem ao próximo deveriam servir de espelho para as sociedades niteroiense e brasileira.”

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Vereador Magaldi “Conheci Carlos Augusto quando ele era presidente Ibasm. Sempre que estou com Gugu é motivo de alegria. Uma vez, em uma festa do Projeto Gugu, na Praia de Icaraí, eu havia passado por uma cirurgia mas fui prestigiá-lo, como sempre faço, e ao chegar, Gugu me chamou no palco, a Praia lotada de gente. Ao subir, ele falou, piadista como sempre: ‘Olha, gente, o Magaldi acabou de colocar uma prótese, e está voltando com a força toda!” Foi gargalhada geral. E claro que não foi esta cirurgia, mas ele não podia perder a piada.” Mauricio Barros de Almeida, médico “Nunca vi Dr. Carlos Augusto alterado. Ele é uma pessoa de bem com a vida. Muito competente e amigo de todos nós. Gosto de toda sua família, a começar por ele. Fomos convidados para um jantar de negócios com um laboratório médico e, ao final, Dr Carlos Augusto discursou agradecendo à representante da empresa, pelo jantar, pela ótima noite e que ela era ‘muito simpática e um pitéu também’. Gargalhada geral. Os homens presentes pensaram a mesma coisa, mas só Gugu teve a coragem de fazer este elogio à moça, sem ficar deselegante.” Vera Lúcia de Melo Magalhães, enfermeira do São Lucas há 25 anos “Dr. Carlos Augusto e Regininha são as pessoas mais generosas que conheço. Nunca o vi aborrecido. Ele é uma pessoa especial. Eu o amo muito. Nunca desamparou ninguém. Uma vez, chegou um homem vítima de bala perdida. Nenhum médico quis cuidar do camarada. Dr. Carlos Augusto cuidou da pessoa, que era de origem humilde, sem perguntar nada, e não cobrou nem um tostão. Ele é um ser humano excelente.” Edson Pires de Lima, cardiologista de São Pedro D’Aldeia “Fui aluno de Carlos Augusto na Faculdade de Medicina. Nos conhecemos há mais de 34 anos. Aqui na Clínica Santa Maria é um imenso prazer e honra trabalhar com ele. Seu dinamismo e energia são contagiantes. Lembro-me que fazíamos em sua casa, aqui de São Pedro, as festas de fim de ano sempre com muita alegria!”

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Caderno de fotos


Casamento da tia Zilma, irm茫 do pai do Gugu, com Ernani Teixeira de Carvalho

Tia Marcinha

Francisco Mariano da Silva (av么 do Gugu)

Vov贸 Zelinda

Vov么 Juquinha

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Tia Martha


Vov么 Bittencourt, vov贸 Regina e o neto Carrique

Gugu em dois momentos da inf芒ncia

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O ĂĄlbum infantil ĂŠ generoso em fotografias

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Gugu escoteiro. Na foto, entre outros, com Cunha Lage, Cesinha, Ivo, Gusmar, AltinĂŠlio, HĂŠlio e Amilar

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Família Bittencourt reunida: professor Francisco, Gugu, Ernani, Cesinha, José, Sebastião, Dirce, dona Regina, tia Pequena, tia Zilma, tia Martha, Iolanda, tia Zeni, Tuca, Zina, Mimi, Sinhá, Dorinha e Hiram

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Ao lado, reuniĂŁo da famĂ­lia Bittencourt Silva em Campos dos Goytacazes. Embaixo, Gugu aos 17 anos, no Tiro de Guerra, recebendo o Certificado de Reservista

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Com algumas das suas alunas do curso Normal do Colégio Bittencourt Silva

Almoço com a equipe da Mesbla, onde Gugu (sentado, 3º a partir da esquerda) atuou como médico dos funcionários

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Gugu comemorando 50 anos ao lado do pai, Francisco, e da m達e, Regina


À esquerda, encontro de amigos médicos: Silvio Lago, José Hermínio Guasti, Gugu, Mario Monteiro e Calixto Kalil. Acima, com Amilar Vieira Filho e Hugo Baranda. Ao lado, os primos Marilene, Dirce, Iolanda, Ernaninho (acima) e Dorinha, Mimi, Gugu, Luiz César, Zina e Marcio. No detalhe, Celvia

À direita, os primos Luiz César, Amilar, José Luiz e Babate

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Carlos Augusto e Luiz CĂŠsar em dois momentos: acima, com os pais; embaixo, a Ăşltima foto, pouco tempo antes do falecimento do inesquecĂ­vel desembargador Cesinha...

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Vida acadêmica / Atuação em Congressos Médicos - 1ª Semana Brasileira de Debates Científicos - Faculdade Fluminense de Medicina, Niterói (RJ) 1947 - Apresentação como acadêmico do trabalho “Contribuição ao estudo dos monstros simélicos”, na II Semana Brasileira de Debates Científicos - Faculdade de Medicina de Porto Alegre (RS) - 1948 - XIII Congresso da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - 1960 - Membro Efetivo - V Congresso Médico da Zona da Mata - Sociedade de Medicina e Cirurgia Cataguazes (MG) - 1962 - V Congresso Médico da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora (MG) - 1962 - 1ª Jornada Médico Social sobre “ O Envelhecer” - HUAP ( Hospital Universitário Antonio Pedro) Niterói (RJ) - 1964 - 3ª Jornada de Ortopedia do Interior do Estado de São Paulo - Campinas (SP) - 1964 - Conferencista - II Semana de Cirurgia do Estado do Rio de Janeiro – Volta Redonda (RJ) - 1965 - XV Congresso da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - Ribeirão Preto (SP) - 1965 - XVI Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia - Belo Horizonte (MG) - 1967 - Curso de Radiologia e Patologias Ósseas - Sociedade de Ortopedia e Traumatologia do Estado do Rio de Janeiro - Niterói (RJ) - 1967 - IX Jornada de Ortopedia e Traumatologia do Interior de São Paulo - Piracicaba (SP) -1970 - Congressista - XII Congresso da Associação Médica Fluminense - Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia de Campos (RJ) - 1971 - Participação como presidente da Sessão Temas Livres – XII Congresso da Associação Médica Fluminense - Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia de Campos (RJ) 1971 - Admitido como cooperado da Unimed - São Gonçalo/Niterói (RJ) - 1971 - XII Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia - III Congresso Brasileiro de Cirurgia da Mão - Recife (PE) -1971 - IV Encontro de Chefias Médicas das Repartições Civis e Militares - Serviço Médico da Agência do IPASE - RJ -1972 - Secretário da Sessão Temas Livres - Jornada Oswaldo Cruz - Faculdade de Medicina de Teresópolis (RJ) - 1972 - Conferencista na Jornada Oswaldo Cruz - Faculdade de Medicina de Teresópolis (RJ) - 1972 - Autor e apresentador de temas abordados - 1º Encontro Médico do Centro de Estudos do Hospital das Clínicas Teresópolis (RJ) - 1972 - Secretário das Sessões Temas Livres - XIII Congresso Médico Fluminense - da Associação Médica Fluminense em homenagem ao Sesquicentenário da Independência do Brasil - Niterói (RJ) - 1972 - Congressista no XIII Congresso Médico Fluminense - da Associação Médica Fluminense em homenagem ao Sesquicentenário da Independência do Brasil - Niterói (RJ) - 1972 - Conferencista sobre o tema “Preparação de técnicos em aparelhos gessados ortopédicos”, no Ipase (Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado) - RJ - 1973 - Conferencista no 1º Encontro de Internos e Médicos Residentes de Ortopedia e Traumatologia do Estado do Rio de Janeiro - Associação Médica Fluminense - Niterói (RJ) - 1973 - 19º Congresso Brasileiro de Traumatologia e Ortopedia, ministrado pelo prof. Roderick H. Turner (Boston - USA) - Curitiba (PR) - 1973 - Membro Efetivo - 4º Congresso Brasileiro de Cirurgia de Mão - Curitiba (PR) - 1973 - Concluiu o Curso de Administração Hospitalar - Instituto de Planejamento, Organização e Administração de Pessoal - Ioap - 1974 - Membro Efetivo e Membro da Comissão de Propaganda e Divulgação do XV Congresso da Associação Médica Fluminense - Jubileu de Ouro (46 anos) - Niterói (RJ) - 1975 - Curso Elaboração de Monografias e Teses para Docência - Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro - 1975 - Participação - VIII Congresso Panamericano do Colégio Internacional de Cirurgiões - RJ - 1975 - Participação - XX Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia - Rio de Janeiro (RJ) - 1975 - Ministrou a aula “Deformidades Congênitas do Ombro”, na Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - Estado da Guanabara - 1976 - Ciclo de Conferência sobre Comunicação Social - Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra do Estado do Rio de Janeiro - 1977 - Congressista no X Congresso Latino Americano de Ortopedia e Traumatologia e XXI Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia - Rio de Janeiro - 1977


- Representante do Centro Ortopédico São Lucas no Curso “Compacto de Joelho - Diagnóstico e Tratamento”, na Associação Médica Fluminense - Niterói (RJ) - 1978 - IX Congresso da Associação Médica Brasileira e XVII Congresso da Associação Médica Fluminense Niterói (RJ) - 1979 - IV Jornada de Ortopedia e Traumatologia do Rio Grande do Sul - Gramado (RS) - 1979 - XI Convenção Nacional Unimed - Recife (PE) - 1981 - Semana do Médico - Niterói (RJ) -1982 - Palestrante convidado, como diretor do Hospital de Araruama. Ministrou o tema: “Turismo - além do Rio”- Associação Brasileira dos Municípios - Araruama (RJ) - 1984 - XV Convenção Nacional Unimed - Vitória (ES) - 1985 - Membro da Comissão Social - I Congresso Médico Social Fluminense - Comemorativo Sesquicentenário de Niterói e 25 anos da Universidade Federal Fluminense - Niterói (RJ) - 1985 - XVII Convenção Nacional Unimed - Santos (SP) -1987 - II Salão de Artes Plásticas, em comemoração ao Dia do Médico - Associação Médica Fluminense Niterói (RJ) - 1988 - Curso “Os oligoelementos biocatalizadores” - Instituto Hahnemanniano do Brasil - Rio de Janeiro 1994 - Congressista no 1º Simpósio Aberto sobre Avanços Terapêuticos em Medicina - Rio de Janeiro 1994 - Curso “Formação clínica em Medicina Ortomolecular” - Instituto de Medicina Ortomolecular - Imo Rio de Janeiro - 1994 - 1ª Jornada sobre Plantas Medicinais - Rio de Janeiro - 1994 - Simpósio Nacional de Terapia Ortomolecular e Radicais Livres - Associação Médica Brasileira de Oxidologia - Rio de Janeiro - 1994 - Palestrante sobre o tema “Considerações sobre Medicina Ortomolecular” - Academia Fluminense de Medicina - Niterói (RJ) - 1994 - Palestrante sobre o tema “ Viver Mais e Melhor”- Univerti - Universidade da Terceira Idade - Niterói (RJ) - 1994 - II Simpósio Fluminense de Medicina Ortomolecular - Associação Médica Fluminense - Niterói (RJ) 1995 - Workshop - Medicina Ortomolecular - Diagnóstico e Terapêutica dos Radicais Livres - Colégio Brasileiro de Cirurgiões ( CBC) - Rio de Janeiro - 1995 - Curso “Nutrição e Medicina Ortomolecular” - Instituto de Medicina e Psiquiatria Ortomolecular IMPO - Rio de Janeiro - 1995 - 1º Seminário Internacional de Estética - Rio de Janeiro -1995 - 1º Simpósio Internacional de Envelhecimento e Performance Cerebral - Rio de Janeiro - 1995 - 1º Congresso Internacional de Terapêutica e Atualização em Medicina Ortomolecular - Rio de Janeiro - 1996 - IV Simpósio Nacional de Medicina Ortomolecular - Instituto de Medicina Ortomolecular (IMO) Rio de Janeiro - 1996 - Palestrante sobre o tema “Medicina Ortomolecular - Melatonina”, na Univerti - Universidade Aberta da 3ª Idade - (Esta foi a palestra que motivou Gugu a fundar o Projeto Gugu) - Niterói (RJ) - 1996 - Palestrante convidado pela Somorj ( Sociedade de Medicina Ortomolecular do Estado do Rio de Janeiro) - Rio de Janeiro - 1996 - Curso “Prescrição para Medicina Ortomolecular” - Instituto de Medicina Ortomolecular (IMO) Rio de Janeiro - 1998 - Palestrante sobre o tema “Como retardar o envelhecimento”- Rotary Clube Niterói Leste - Niterói (RJ) - 1998 - Curso “Aminoácidos” - Clinice - Centro de Medicina Avançada- Rio de Janeiro - 1998 - Palestrante na VIII Jornada da Faculdade de Nutrição - Faculdade de Nutrição Universidade Federal Fluminense - Niterói (RJ) -1999 - Palestrante no Encontro Psicopedagógico - Niterói (RJ) - 1999 - Participação no Curso “ Suplementação do Atleta e dos Praticantes de Exercício Físico”- Instituto de Medicina e Psiquiatria Ortomolecular (Impo) - Rio de Janeiro - 1999 - Palestrante sobre o tema “Aposentadoria: Nova vida e as mudanças do ciclo vital” - Instituto Vital Brazil - Niterói (RJ) - 199 - Palestrante sobre o tema “Projeto Gugu”, na Casa Gerontológica de Aeronáutica Brigadeiro Eduardo Gomes - Rio de Janeiro (RJ) - 1999 - Palestrante sobre o tema: “Exercício físico na terceira idade”, 1º Ciclo de Palestras para


Idosos, da Comissão de Assuntos da Criança, do Adolescente e do Idoso da Alerj (Assembleia do Estado do Rio de Janeiro) - 1999 - Palestrante sobre o tema “Benefícios da ginástica no trabalho”, na X Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho - Pesagro Rio - Niterói (RJ) - 1999 - 1ª Jornada de Terapêutica Anti-Envelhecimento do Rio de Janeiro - M&N - Farmácia de Manipulação Rio de Janeiro - 2001 - Palestrante sobre o tema “Como retardar o envelhecimento”, Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) - 2001 - Palestrante no 1º Reencontro dos Ex-funcionários da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - (Refem) - Rio de Janeiro - 2002 - 2º Simpósio Pós AAOS/SBOT - American Academy of Orthopaedic Surgeons - New Orleans (EUA) 2003 - Palestrante sobre o tema “Prevenção e queda na 3ª Idade”, na solenidade de comemoração dos 49 anos do Cejop (Centro Juvenil de Orientação e Pesquisa) - Rio de Janeiro (RJ) - 2004 - 1º Seminário em Medicina Ortomolecular - Cremerj - Rio de Janeiro - 2006 - 2º Seminário em Medicina Ortomolecular - Cremerj - Rio de Janeiro - 2007 - Participação na instalação do núcleo de Nova Friburgo, da Academia Fluminense de Medicina Nova Friburgo (RJ) - 2007 - Palestrante sobre o tema “Qualidade de vida”- Unipli - Universidade Plínio Leite - Niterói (RJ) 2010

Como presidente Enitur ( Empresa Niteroiense de Turismo)

- II Encontro de Dirigentes Municipais de Turismo - Turisrio - Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro - Niterói (RJ) - 1988 - II Jornada Fluminense de Municípios - Niterói (RJ) - 1988

Como Superintendente da Limpeza Urbana do Município de Niterói

- 1º Seminário de Planejamento Urbano Integrado de Niterói - Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente - SMU e Instituto de Desenvolvimento Urbano - Idurb - Niterói (RJ) - 1987

Como Presidente do Ibasm - Niterói - IV Encontro Nacional de Presidentes de Institutos de Previdência Estaduais - Goiânia (GO) - 1986

Homenagens, Medalhas e Títulos Beneméritos

- Sócio Benemérito Construtor da Casa do Médico Fluminense - Niterói (RJ) - 1970 - Título de “Delegado Efetivo”, eleito no pleito da Associação Médica Fluminense -Niterói (RJ) - 1971 - Título de “Delegado Efetivo” eleito no pleito da Associação Médica Fluminense-Niterói (RJ) - 1973 - Sócio Fundador da Associação Médica de Araruama (RJ) - 1974 - Vereador do Município de Niterói (RJ) pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) - 22 de dezembro de 1976 - Título de Benemérito, concedido pela Prefeitura Municipal de Saquarema (RJ) - 1976 - Membro Titular da Sociedade Latino Americana de Ortopedia e Traumatologia - São Paulo (SP) 1977 - Sócio Honorário do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro - 1981 - Homenagem Especial - “Obrigado Doutor” ao Médico do Ano, concedida pelo “Jornal de Icaraí” Niterói (RJ) -1985 - “Menção Honrosa” pela participação no Carnaval de Niterói - Associação Fluminense dos Jornalistas - Niterói (RJ) - 1985 - “Honra ao Mérito”- pela participação na X FIC - Feira Integração Comunitária - Niterói (RJ) - 1986 - Personalidade Única - título concedido, como Presidente Assistencial do Ano, pela Revista Única Rio de Janeiro - 1996 - Personalidade Única - título concedido pela Revista Única - Rio de Janeiro - 1997 - Comenda - Honra ao Mérito - Troféu Ararigbóia - Itapuca Itacoatiara - Destaque Rio de Janeiro -


Associação Fluminense de Jornalistas - Niterói (RJ) -1988 - Homenagem da ASPIUFF- Associação dos Professores Inativos da Universidade Federal Fluminense em comemoração ao Dia Do Médico - Niterói (RJ) - 1996 - “Honra ao Mérito” concedido pelo Rotary Clube Niterói - Araribóia, em comemoração aos 10 anos de fundação da instituição -Niterói (RJ) - 1996 - “Honra ao Mérito” pela gestão administrativa do Hospital Universitário Antonio Pedro - HUAP, em comemoração ao 45º aniversário da instituição - Niterói (RJ) - 1996 - Professor Honorário da Univerti - Universidade Aberta da Terceira Idade - 1996 - Medalha “Tiradentes”, concedida pela Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) 1997 - Prêmio Destaque do Ano concedido pela Associação Médica Fluminense - Niterói (RJ) - 1999 - Sócio Fundador da Associação Médica Brasileira de Oxidologia Regional Rio de Janeiro - AMBO RJ - 1999 - Título de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, Alerj - Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro - pelo trabalho no Projeto Gugu. Projeto do vereador de Niterói, Wolney Trindade, e concedido pelo deputado estadual Sergio Cabral - 2002 - Troféu “Semeador”, concedido pelo Lions Clube Niterói - São Francisco, em comemoração aos seus 33 anos de Fundação. Niterói (RJ) - 2003 - Membro do Colégio Brasileiro de Atividade Física, Saúde e Esporte (Cobrase) - Rio de Janeiro 2005 - Menção Honrosa conferida pelo Country Club de Niterói, pelos serviços prestados ao Basquetebol. Niterói (RJ) - 2007 - Homenagem do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) pelos anos dedicados à Medicina - Rio de Janeiro - 2007 - Homenagem pela dedicação como chefe ambulatorial e professor, nas comemorações pelos 60 anos do Hospital Universitário Antonio Pedro e 50 anos da Universidade Federal Fluminense - 2010

Clubes e Agremiações

- Sócio Clube Regatas Gragoatá - Niterói (RJ) - 1950 - Sócio Fundador Country Clube Niterói (RJ) - 1957 - Sócio Proprietário Clube dos Pioneiros - Niterói (RJ) - 1964 - Sócio Usuário - Clube Iúcas-Teresópolis (RJ) - 1965 - Sócio Proprietário - Clube Central - Niterói (RJ) - 1965 - Sócio Proprietário Clube do Canal - Cabo Frio (RJ) - 1968 - Sócio Proprietário Clube Social Macucoense - Macuco (RJ) - 1971 - Sócio Proprietário Clube Português de Niterói (RJ) - 1976 - Sócio Proprietário Clube Campestre de Araruama (RJ) - 1977 - Sócio Proprietário do Iate Clube Icaraí - Niteroi (RJ) - 1977 - Sócio Proprietário Clube União Maravilha - Macuco (RJ) - 1978 - Diploma Grande Colaborador Liga Fluminense de Jiu Jitsu - Canto do Rio Football Club - Niterói (RJ) - 1987 - Sócio Honorário Fundador do Rotary Clube Niterói - Araribóia - 1997 - Comenda do Mérito Esportivo - Canto do Rio Futebol Clube - 2002 - Mérito recebido no XVII Encontro Nacional de Veteranos do Basquetebol - Jogos Ubiratan Maciel de Basquetebol Master Fortaleza -Ceará (CE) - 2002 - Sócio Benemérito do Country Clube Niterói (RJ) - 2003


“O homem é um animal social. Ele precisa da sociedade para viver. O homem não vive sem aplauso. O esportista, o gari, seja qual for sua função, quer ser reconhecido, aplaudido.” (G.B)

Buenos Aires / Outubro 2012



Foi um início sofrido, com muitas doações de instituidores e colaboradores para montar a estrutura da sede, em espaço cedido pela Suderj, no Complexo Esportivo Caio Martins, e a doação para manter, durante um longo período, o funcionamento da fundação, foi sempre feita pelo nosso patrono. Hoje, passados 10 anos da sua instituição, a FUNCAB caminha com pernas próprias, fruto de muito empenho e dedicação de todos que nela trabalham, mas sem esquecer que só chegamos aqui porque tivemos um patrono que acreditou em nosso potencial. Para celebrar esses 10 anos de existência, a FUNCAB quer prestar uma homenagem a essa figura exemplar, e assim eternizar a sua história. ROSANA NOBRE MACHADO BITTENCOURT SILVA, presidente da Funcab


Conheci Carlos Augusto, eu, ainda estudante de Medicina, quando ele atuava como assistente do professor Otílio Machado, em 1953. Em 1954, estávamos eu e Carlos Augusto no Hospital Municipal Antonio Pedro, onde dr. Otílio Machado se encontrava internado no 2º andar, e se recusava a tomar alguns remédios. Estávamos cada um de um lado de seu leito, quando ele faleceu. O que mais me impressionou foi que, no momento que ele morreu, as portas e as janelas do Antonio Pedro bateram como se tivesse uma ventania muito forte! Carlos Augusto e eu nos entreolhamos assustados. Carlos Augusto nasceu para fazer a diferença. Ele tocava violão nos plantões do hospital. Sempre sorridente e pró-ativo. Quando fui presidente da Associação Médica Fluminense, o governador Jeremias Mattos Fontes concedeu os lotes onde começamos a construção da Casa do Médico. Carlos Augusto foi um dos primeiros a integralizar os CR$ 1.000,00 para as obras. Quando fui Secretário de Saúde e convidado a me candidatar ao cargo de prefeito de Niterói, neste momento, Carlos Augusto se interessou pela política, onde foi um atuante vereador, sempre com novas idéias, sugestões e propostas. O presidente da Câmara, João Batista da Costa Sobrinho, era também candidato à Prefeitura. Os vereadores o apoiaram na campanha. O único que me apoiou foi Carlos Augusto. Venci a eleição, e falei para ele escolher como gostaria de participar do meu governo. Ele se interessou pelo Ibasm - Instituto Benefícios e Assistência aos Servidores. Nós tínhamos um Projeto de Habitação para os Servidores, e construímos um conjunto habitacional com dezenas de apartamentos nos bairros do Fonseca, Fonseca II, Praça 22 de Novembro, Neves e outro na Rua Dionísio Erthal. Certa vez, recebi o telefonema de uma funcionária dizendo que o presidente do Ibasm estava despachando de sunga. Ele corria pela praia e, devido a um despacho de emergência, foi correndo para o Ibasm resolver a pendência, só que de sunga!. Carlos Augusto é ímpar!!. Logo depois, Carlos Augusto se interessou por limpeza urbana. Com sua criatividade, comprou uma máquina para limpeza da praia, e ia pessoalmente conferir o trabalho. É leal, solidário e amigo. Ocupou vários cargos em meu governo. Na Enitur, ele trouxe para o Baile Oficial de Carnaval da cidade a atriz Claudia Raia. Foi uma noite inesquecível. Este carnaval foi um marco em Niterói. Carlos Augusto é um exemplo de valorização da vida. Na última homenagem recebida na Univerti, ele comentou que comprou um apartamento, que só ficará pronto daqui a quatro anos. Não tenho nenhuma dúvida de que ele irá usufruir deste apartamento por muitos anos ainda.

Waldenir Bragança, médico, ex-prefeito de Niterói, fundador da Univerti - Universidade Aberta da Terceira Idade.


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