ENFRENTANDO A COMPLEXIDADE REAL DO LUGAR: UM NOVO TIPO DE INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERA. POPULAR

Page 1

ENFRENTANDO A COMPLEXIDADE REAL DO LUGAR: UM NOVO TIPO DE INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERAÇÃO POPULAR ITCPs E METODOLOGIAS DE INCUBAÇÃO

Francisco Renato Vieira da Costa Ferreira (UENF-PROEX-ITEP) Email: eco.renato.ferreira@hotmail.com; telefone: + 55 22 999991643. RESUMO Neste artigo procuro enfrentar a complexidade com o "objetivo ambicioso" de um pesquisador universitário, não docente, que deve ser ampliar os debates científicos de crises do(no) mundo real nosso contemporâneo. Debates de posições, contradições, antagonismos e concorrências, mediante abordagens críticas que levam em conta outra universidade na construção de outra sociedade. Esse mundo real será visto pela perspectiva de um mundo humano suportado por uma incubadora tecnológica "ligada" por TICs aos olhos, aos ouvidos, às pontas dos dedos e às bocas de gente local (re)(pro)ativa. Valho-me de ambiente, estrutura, metodologia e processos de um ciberespaço que deve funcionar como catalisador na integração humana de complexidade teleológica. Um ciberespaço que contribuirá para estruturar, organizar e fortalecer o "indivíduo", o "cidadão" e o "empreendedor" numa "rede" de democracia efetiva. Palavras-chave: complexidade teleológica; incubadora cibernética; integração humana. EIXO TEMÁTICO III GT 15 - Estruturas e metodologias de funcionamento das incubadoras


Página 2 de 20

INTRODUÇÃO O propósito essencial deste artigo é introduzir e disseminar uma nova concepção de (des)envolvimento do ser humano - como "indivíduo", "cidadão" e "empreendedor" - na complexidade do seu lugar de viver numa "sociedade", em "rede" local, regional e global. Cohen (1976) afirmou que esta é a grande questão social: "o que é que mantém unida uma sociedade?". E acrescentou que essa remete para uma outra questão social importante "o que faz funcionar a sociedade?". E arrematou que desta questão emergiu uma outra questão: "como é que diferentes conjuntos de atividades, a ocorrerem dentro de uma sociedade ou subsistema de uma sociedade, não se obstruem mutuamente e podem mesmo chegar a prestar apoio uns aos outros?". E ligou esta última questão ao respectivo problema: "problema da interdependência funcional" ou "problema da integração de sistemas". Cerca de vinte anos depois, Dowbor (1996), colocou mais esta outra questão: "É melhor ser cidadão local ou cidadão do mundo?". Mas, ao mesmo tempo, ele foi dizendo que, afinal de contas essa pergunta: "[...] não tem sentido na medida em que a cidadania tem hoje de se exercer em diversos níveis de espaços articulados". E justificou-se com esta assertiva: "Transferir a cidadania para níveis cada vez mais amplos, e cada vez mais distantes do cidadão, é transferir o poder significativo para mega-estruturas multinacionais, enquanto se dilui a cidadania no anonimato". Entretanto, Morin (2000) apresentou este problema-chave: "instaurar a convivialidade tanto com nossas idéias quanto com nossos mitos". E destacou este problema universal humano de todo cidadão do novo milênio, que pode ser identificado por esta assertiva "o conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital". Problema esse aberto por estas outras duas questões: "como ter acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las?"; e "Como perceber e conceber o Contexto, o Global (a relação todo/partes), o Multidimensional, o Complexo?". Questões essas que ele ligou a esta outra assertiva "para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento". Porém, Morin (2000) acrescentou um gravame a esse problema universal "pela inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos,


Página 3 de 20

divididos, compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares,

transversais,

multidimensionais,

transnacionais,

globais

e

planetários". Complementando que, "nessa inadequação - que compete à 'educação do futuro' confrontar - tornam-se invisíveis: o contexto; o global; o multidimensional; e o complexo". E Morin (2000) - colocando esta outra assertiva importante "os problemas essenciais nunca são parcelados e os problemas globais são cada vez mais essenciais" -, observou que "de fato", aqueles saberes: 1º) "fecham-se sobre si mesmos, sem permitir sua integração na problemática global ou na concepção de conjunto do objeto do qual ela só considera um aspecto ou uma parte"; e 2º) nessa clausura, "impedem tanto a percepção do global (que ela fragmenta em parcelas), quanto a percepção do essencial (que ela dissolve), como até mesmo tratar corretamente os problemas particulares (que só podem ser propostos e pensados em seu contexto)". Além disso, Morin (2000) abordou ainda o problema crucial - que, segundo ele, se apresentou "logo no início do século XX" -, identificando-o a partir desta outra questão: "Ficaremos submissos à tecnosfera ou saberemos viver em simbiose com ela?". Por conseguinte, observando-se as bases dessa problemática, em Cohen (problema da interdependência funcional ou problema da integração de sistemas), em Dowbor (transferir o poder significativo para mega-estruturas multinacionais, enquanto se dilui a cidadania no anonimato) e em Morin (problema-chave, problema universal agravado e problema crucial), bem como tendo em vista o "propósito essencial" deste artigo (introduzir e disseminar uma nova concepção de (des)envolvimento humano), pode-se afirmar que a adaptação sociocientífica de modernas incubadoras enfrenta este GRAVE PROBLEMA: falta de acesso, estruturado e (meta)(hiper)direcional, às informações significativas e integradas para cada indivíduo no seu lugar de viver. Falta essa que impede as populações locais de articular e organizar tais informações, efetiva, eficiente e eficazmente, para perceber e conceber o contexto, o global (a relação todo-partes), o multidimensional (a relação partes-partes e meta-partes) e o complexo (a relação todo-partes-partes-todo), sem intolerância para com os que pensam, criticam e agem diferente do "atual" paradigma hegemônico humano. Ou coloca essas populações locais submissas à tecnosfera, impedindo-as de saber viver em simbiose com esta. Essa falta de acesso embota o mundo real "achado" pelos saberes eruditos (ratificados por "doutos") e os saberes não-eruditos (não ratificados por "doutos").


Página 4 de 20

Quando a construção do espaço público universitário implica fortemente na qualidade da própria vida universitária e da realidade onde a universidade é inserida. Logo, devese unir teleologicamente1 a qualidade daquilo que se apresenta diverso num campus, mediante o diálogo entre excludentes complementares ("doutos" e "não doutos") e reflexões sobre complementares excludentes ("saberes eruditos" e os "saberes nãoeruditos"). Assim sendo, é imprescindível compreender os processos da função social pública "inerentes" à uni(di)versidade2 do campus de ensino superior e analisar a possibilidade de integração cibernética3 da função de extensão universitária em simbiose efetiva, eficiente e eficaz. Para tudo isso - segundo Silva e Menezes (2005) - é preciso seguir por um percurso que requer ser reinventado a cada etapa e no qual precisamos não somente de regras, mas de muita criatividade e imaginação. Nesse percurso de regras, criatividade e imaginação, há que: primeiro, pesquisar, analisar e sintetizar sobre o estado da arte de teorias referentes a sistemas complexos humanos e a problemáticas sociais; segundo, pesquisar, analisar e sintetizar sobre processos da função social pública universitária; terceiro, pesquisar, analisar e sintetizar sobre a integração administrativa na universidade; e quarto, esboçar uma ciberintegração de pesquisa, ensino e extensão. É nesse percurso traçado na/da complexidade cultural de um campus, que emerge aquela uni(di)versidade por uma estrutura e metodologia de funcionamento de um novo tipo de Incubadora Tecnológica de Cooperação "Popular" (ITCP) - em que esta procura estruturar, organizar e fortalecer o "indivíduo", o "cidadão" e o "empreendedor" - no seu lugar de viver "em rede" no "município" - para o exercício de uma democracia efetiva 4.

1

Não confundir com "teologicamente". Teleológico: dirigido por uma imagem do futuro na mente dos participantes ativos, capazes de influir sobre o sistema (BOULDING, 1965). Ou seja, dirigido por uma visão transformadora de um (ou mais de um) sistema. 2 Uni(di)versidade: neologismo criado por mim para designar tanto a diversidade numa unidade, percebida ou a perceber pela universidade, quanto a unidade nessa diversidade, percebida, pensada ou catalisada por uma universidade. O “(DI)” representa quer os princípios dialógico e diacrônico do pensamento complexo, na relação complexa diversidade↔universidade, quer a espiral (intra)(inter)(retro)ativa de excludentes complementares (ou complementaridades excludentes) do saber dito erudito e do saber dito popular. Esse neologismo representa um possível choque cultural sincrético: ...→local↔regional↔global→... 3 Cibernética: ciência da comunicação e do controle, seja no animal (racional ou não) seja na máquina, a qual permite que conhecimentos e descobertas de uma ciência possam ter condições de aplicação a outras ciências. 4 Lembra-se aqui que, no Brasil, a atual Constituição Federal (de 1988) foi/é considerada como "constituição cidadã" e " constituição municipalista".


Página 5 de 20

INCUBADORAS TECNOLÓGICAS As incubadoras foram concebidas, segundo RIBEIRO e ANDRADE (2008), "como ambientes de apoio ao empreendedor e aos empreendimentos, e de estímulo à criação de empresas inovadoras com elevado componente tecnológico de seus produtos, processos e serviços e pela utilização de modernos métodos de gestão". Os três tipos de incubadoras tecnológicas mais divulgados (e seus núcleos de pesquisa acadêmica) são voltados para o "mercado": incubadora empresarial (engajando a "nata empreendedora", no seu espaço físico); e/ou incubadora virtual (engajando a "nata empreendedora", fora do seu espaço físico); e/ou incubadoras sociais (ou incubadoras de "Pobres", perpetuando a "mediocridade empreendedora"). Eu evidencio um quarto tipo, um novo tipo de incubadora tecnológica: incubadora cibernética ou ciberincubadora (engajando, formando, capacitando e orientando indivíduos - e/ou grupos - "dominados-excluídos", fora do seu espaço físico). Incubadoras Empresariais Para o MCT (2000), esta é a definição de incubadora de empresas5: "um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou de manufaturas leves por meio da formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais". Um mecanismo que "facilita e agiliza o processo de inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas", mediante a disponibilização de "um espaço físico especialmente construído ou adaptado para alojar temporariamente micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços e que, necessariamente, dispõe de uma série de serviços e facilidades (...)". Quase uma década depois, Smilor e Gill (apud ZABLOCKI, 2007) disseram que incubadora é uma organização que “procura dar forma e substância – isto é, estrutura

e

credibilidade

-

a

empreendimentos

iniciantes

ou

emergentes.

Conseqüentemente, uma incubadora de novos negócios é uma instalação que mantém condições controladas para assistir ao desenvolvimento de novas empresas". 5

Segundo o Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas (PNI) - programa específico para incubadoras de empresas. Apoio para implantação e consolidação de incubadoras, da Coordenação de Sistemas Locais de Inovação da Secretaria de Política Tecnológica Empresarial (SEPTE) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). .


Página 6 de 20

Enquanto o próprio Zablocki (2007) disse que "a maioria das incubadoras prefere a abordagem focada na empresa, cobrando taxas de mercado para alugar e oferecer serviços como benefícios de valor-adicionado pelo aluguel de espaços na incubadora - por isso, provavelmente, as incubadoras são melhor definidas como programas do que como facilidades". Ele afirmou que "quase 90% (noventa por cento) das incubadoras são operadas por ONGs (Organizações Não-Governamentais) com o propósito de estimular o crescimento do trabalho humano em vários setores da economia local". E que "algumas incubadoras, particularmente aquelas que lidam com ensino superior, enfatizam o desenvolvimento baseado na tecnologia". Incubadoras Sociais ou Incubadoras de "Pobres" Para Bocayuva Cunha e Varanda (2007), "a inovação trazida pelas ITCPs6 é mais ampla que as introduzidas pelas incubadoras convencionais". Isso porque essa inovação "permite à gente pobre se inserir na produção social pelo seu próprio esforço", porém num "esforço é duplicado, pois implica no aprendizado de como entender a autogestão e participar dela". Eles disseram que "cada cooperativa popular tem de abrir espaço em mercados e ao mesmo tempo seus membros têm de aprender a viver e trabalhar inseridos em relações de produção horizontais — ninguém manda em ninguém". E acrescentaram que: 1) "a atividade delas relaciona-se com grupos populares e, a partir dos mecanismos educativos de democratização dos saberes, através de dinâmicas interativas de aprendizagem, estende, socializa e transfere recursos intelectuais e meios técnicos"; 2) "o resultado é uma reversão nos esquemas das trajetórias clássicas de incubação voltadas para as empresas de base tecnológica"; e 3) "as ITCPs contribuem para ordenar o quadro confuso da disputa sobre os rumos que devem tomar as iniciativas dispersas de capacitação para o trabalho - até agora realizadas de forma pouco sistemática e menos consistente (por atores públicos, pelo sistema S7, por ONGs e por movimentos sociais)".

6

ITCPs: Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares. SISTEMA "S": formado, entre outros serviços de educação e cultura do trabalhador, por SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio), SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), SENAT (Serviço Nacional de Aprendizagem em Transportes), SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), SESC (Serviço Social do Comércio), SESCOOP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), SESI (Serviço Social da Indústria) e SEST (Serviço Social de Transportes). 7


Página 7 de 20

Segundo a Rede (2009), a ação das ITCPs "origina, necessariamente, um processo de intensa articulação entre pesquisa, ensino e extensão nas universidades em que funcionam". Para essa Rede, as demandas por esse tipo de incubadora são "originadas" de grupos de economia solidária8, os quais, "sem dispor de capital acumulado previamente, tentam empreender economicamente de forma coletiva, a partir de suas experiência e qualificações profissionais". E, por isso, necessitam de "assessoria e formação para seus empreendimentos" e em várias áreas9. Portanto, essa Rede afirma que "o que as incubadoras fazem é colocar professores e estudantes das mais diversas áreas, atuando interdisciplinariamente, para atender as demandas dos grupos". E garante que "isto exige muita pesquisa, capacidade de atuação em equipe, qualificação dos cursos universitários e, finalmente, processos adequados de extensão universitária". Uma extensão universitária que deve aproximar-se fortemente das ações de pesquisa e ensino universitários para buscar novas formas de relação da universidade com as camadas populares da sociedade. Isso, mediante incubadoras como estruturas interdisciplinares que reúnem docentes, técnicos e discentes, das mais diversas áreas. Onde a incubação é um processo educativo, em que universidade e empreendimentos populares interagem no sentido de produzir e difundir conhecimentos conjuntamente para potencializar a "economia solidária" e desenvolver "ações socioemancipatórias". Logo, pode-se afirmar aqui que essas ITCPs são incubadoras sociais ou incubadoras de "pobres". Incubadoras Virtuais Segundo a ANPROTEC/SEBRAE (2002), o detalhe essencial de uma incubadora virtual é que ela "apoia somente empreendedores e empresas localizadas fora do seu espaço físico [da incubadora], por meio de um atendimento integrado e diferenciado". Conforme Lóssio (2010), entre as ferramentas em "implementação para viabilizar e fomentar o modelo dessa incubação virtual" encontram-se: "um sistema integrado de gestão, que pretende dar apoio aos negócios ligados a incubadora nesta modalidade"; e "o desenvolvimento de um portal corporativo e colaborativo".

8

Grupos que reunem "trabalhadores desocupados" ou em situação de "trabalho precário" (REDE, 2009). Áreas: tecnologia, gestão, relações humanas, direito, saúde etc.

9


Página 8 de 20

Quer esse tipo de empreendedorismo (sustentável e consistente), quer um portal corporativo (não vertical, como as modernas corporações capitalistas ou cooperativas, mas horizontal abrangendo uma determinada região delimitadora de vários locais nela confinados), quer um sistema integrado de gestão desse portal, quer a localização dos "incubados" (empreendedores, empreendimentos e processos sociais) fora do espaço físico da incubadora virtual, tudo isso está subjacente ao "esboço" das incubadoras cibernéticas. Incubadoras Cibernéticas Morin (2000) alerta para o fato de que "os desenvolvimentos da tecnociência são ambivalentes". Por um lado, "encolheram a Terra e deram condição imediata de comunicação a todos os pontos do globo" - com isso, "proporcionaram meios para alimentar todo o planeta e para assegurar a todos os seus habitantes um mínimo de bemestar". Por outro lado, "criaram também as piores condições de morte e de destruição". De toda a forma, nesses desenvolvimentos tecnicocientíficos, "os seres humanos servem-se das máquinas, que escravizam energia, mas são, ao mesmo tempo, escravizados por elas". Nesse "encolher" da Terra e nessa "servidão/escravidão" entre humanos e máquinas, para Morin (2000), "o ser humano e a sociedade humana são unidades complexas multidimensionais de interação do que é biológico [eu digo, biofísico-químico], psíquico, social, afetivo e racional (comportando as dimensões histórica, econômica, sociológica, religiosa)". Destaco aqui apenas a dimensão econômica, na qual, parafraseando Dowbor (1996), o grande argumento é que o espaço pequeno não é "viável", sabendo-se que "na realidade, a mesma dinâmica que nos levou aos espaços globais nos fornece as tecnologias para a reconstituição de uma humanidade organizada em torno a comunidades que se reconhecem internamente, mas também interagem, comunicam com o resto do mundo, participam de forma organizada de espaços mais amplos". Não obstante essa ambivalência - tendo agora em mente aquelas "dimensões" bio-físico-química, histórica, econômica, sociológica e religiosa -, Morin (2000) assevera que "deve-se promover a 'inteligência geral', apta a referir-se ao complexo, ao contexto, de modo multidimensional e dentro da concepção global, e não se deve isolar uma parte do todo nem as partes umas das outras".


Página 9 de 20

Ora, o desenvolvimento da tecnociência atual - em que a tecnologia e a ciência, principalmente pelas TICs, bem como pelas ciências computacionais e engenharia de computação (hardware/software), "encolheram" o antropomundo real/virtual - permite que hoje se possa moldar um mundo antrópico real/virtual, que é, ao mesmo tempo, "finitamente grande" e "finitamente pequeno", num só espaço-tempo. Mais especificamente, pode-se tanto encolher um local (ou locais) ou uma região ou nação ou nações ou continentes ou oceanos ou o próprio planeta ou o próprio sistema solar, ou o próprio cosmos, como (re)produzir ou (re)fragmentar qualquer elemento ou processo incubados. Mas há que fazê-lo sempre numa perspectiva topo-antropocêntrica - isto é, numa perspectiva a partir do ser humano complexo e direcionado, quer como indivíduo, quer como elemento de uma sociedade humana (ou antropossociedade), integrados num ecossistema existente sem e com intervenção antrópica. Assim, as incubadoras tecnológicas devem ser incubadoras cibernéticas complexo-teleológicas. Em detrimento das "incubadoras empresariais/virtuais" e das "incubadoras sociais", que forçam e alimentam um mundo antrópico, enviesando-o a partir de suas posições - respectivamente, de promoção e reconhecimento da superioridade dos "empreendedores empresariais/virtuais" e de promoção e reconhecimento de inferioridade dos "empreendedores sociais".

INCUBADORA CIBERNÉTICA PARA UNI(DI)VERSIDADE Numa uni(di)versidade - parafraseando a seguir Silva (2002) - há um elemento estabilizador e agregador que existe tanto na lógica estrutural da unidade quanto da lógica organizacional do ambiente e que permite uma nova visão da realidade, baseado na identificação da pertinência entre essas duas lógicas relacionais. Em que essa pertinência é o padrão que liga, é o sagrado que encanta, é o nexo do complexo, é a química do processo. Adicionalmente, no processo de planejamento estratégico, inaugura-se uma nova dialógica e busca-se o raciocínio complexo10 para a comunicação entre lógica da intuição11 e lógica da razão12. E a interação dessas quatro lógicas por um mecanismo catalisador13 que permite estabilizações e agregados dinâmicos em 10

O raciocínio complexo como um entendimento dialógico, difuso e estratégico. A lógica da intuição é unicista e agregadora, alimentada pelo sagrado do indivíduo ou do grupo. 12 A lógica da razão é disjuntiva e esquartejadora, em cujo diagnóstico estratégico o futuro é uma extensão do presente com dados do passado. 13 Catalisador: (re)ação entre duas ou mais pessoas/forças, provocadas/precipitadas, aceleradas/retardadas, por um agente/forças estranhas - especialmente quando esse agente/força se conservam essencialmente inalterados no final dessa (re)ação. 11


Página 10 de 20

ambientes hostis. Esse catalisador é uma Incubadora Tecnológica de Integração Humana (ITIH ou InTeInHu). Na medida em que essa incubadora permite (re)identificar, (re)conhecer, separar e (re)unir para (re)estruturar, (re)organizar e (re)fortalecer cada indivíduo e cada lugar de viver - em relações pertinentes a uma democracia efetiva no que foi "tecido junto", usando uma "orientação" ética14 de cunho hologramático15 e teleológico que vise a encontrar um conjunto de padrões culturais interdependentes e agrupados em torno de um elemento nuclear -, esse catalisador passa a denominar-se Incubadora Tecnológica de Integração Humana Complexo-Teleológica (ITIH_CT). E na medida em que essa incubadora oferece um sistema de organização complexa, probabilística e auto-regulada, de processamento de informações e controles que auxiliam outras ciências na extensão universitária à realidade onde a universidade está inserida, esse catalisador passa a denominar-se Incubadora Cibernética de Integração Humana Complexo-Teleológica (ICIH_CT) ou Ciber-Incubadora de Integração Humana Complexo-Teleológica (CIIH_CT)16. Nessa CIIH_CT, cada indivíduo (auto)instala-se virtual e digitalmente para agir suportado ciberneticamente no seu/a partir do seu lugar de viver: (re)estruturado; (re)organizado; fortalecido ou (re)formado; (des)envolvido; (re)educado; preparado estrategica, tatica e operacionalmente; (re)integrado social e ambientalmente; protegido pela segurança do anonimato; e informado efetiva, eficiente e eficazmente;. Essa CIIH_CT torna-se uma unidade racional possível com um ambiente simbionte tecno-humano, na qual a prioridade é a vida humana assistida por técnicas e tecnologias humanas de ponta em processos de incubação de transformação individual e/ou de grupos. Portanto, essa CIIH_CT, como um novo tipo de incubadora, é um "meio complexo" estabilizador, protetor e agregador de vidas humanas num ambiente simbionte tecno-humano, em rede "local↔regional↔global", de integração sistêmica hologramática, teleológica e cibernética de uma sociedade local eclética.

14

Ética: estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. Hologramático: parte que contêm o “todo” do qual faz “parte” e, simultaneamente, está contida nesse "todo". 16 Para efeitos deste artigo, preferindo o prefixo "ciber", opto pela denominação Ciber-Incubadora de Integração Humana Complexo-Teleológica (CIIH_CT). 15


Página 11 de 20

Além disso, essa CIIH_CT é também um "instrumento organizacional" para a construção e (des)envolvimento de uma sociedade local mais humana e responsável. Pois ela viabiliza a interação de diversidade, multiplicidade, pluralidade, metamorfoses e hiperligações - em "padrões que ligam", "sagrados que encantam", "nexos do complexo" e "químicas de processos" - mediante Ciências Sociais Aplicadas (CSA ou CiSoAp) suportadas ciberneticamente por Combinações de Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC's) e das Tecnologias de Hardware e Software (THS's) - um Combo_TIC_THS. Assim, para o "esboço" da CIIH_CT, evidencio neste artigo apenas: 1) o seu ambiente sociocientífico; 2) a sua estrutura; e 3) o seu processo de incubação. Ambiente sociocientífico Dowbor (1996) afirmou que "as hierarquizações tradicionais dos espaços já são insuficientes, ou inadequadas" e que "precisamos de muito mais democracia, de uma visão mais horizontal e inter-conectada da estrutura social". A CIIH_CT busca essa interconectividade no "espaço↔tempo" de cada indivíduo na estrutura social de seu "lugar de viver"- com Tempo de Vida Corpórea (TeViHACor), Tempo de Vida Social (TeViHASo) e Tempo de Vida Social de Contribuição (TeViHASoCo) 17. E fá-lo enfrentando teleologicamente a complexidade "própria" de uma realidade sociocientífica que é notoriamente hostil ao que é considerado "popular". Em que o ambiente social é uma pseudodemocracia, controlada por "poderes demagógicos distantes", onde os representantes de diversas populações subvertem as relações de poder democrático a partir da complexa "cadeia↔(in)(e)volutiva". Num "emaranhado" da descendência humana organizada em/a partir de "próteses territoriais" e "próteses disciplinares" que emergiram desta "cadeia cultural" de influências de propagação recíproca que "vêm cozinhando" o caldo antrópico global18: ... sino ↔ hindu ↔ persa ↔ mesopotâmico ↔ egípcio ↔ fenício ↔ cretense ↔ 17

A sonoplastia das siglas dos "tempos individuais" (e noutros pontos) é propositada. Dessa mixórdia de culturas e contra-culturas, (pseudo)dominantes e (pseudo)paradigmáticas, destaca-se aqui uma tetra-influência de alguns signos e traços herdados pelo mundo contemporâneo da cultura heleno-romana, mais conhecida por cultura greco-romana, bem como da cultura anglicanoamericana. Que no Brasil assume a forma falsa de penta-influência, com a inclusão da herança colonial portuguesa que, na transição dos séculos XV e XVI, transportou no "ventre" de seus navios os germes (e vermes) daquela cultura greco-romana e "iniciou" o processo de globalização que atingiu seu "ápice" na nossa contemporaneidade. 18


Página 12 de 20

heleno↔ romano ↔ teuto ↔ anglicano ↔ americano ... Num "tombo do Globo" que, segundo Lamego (1974) se fez pela primeira vez com os "portugueses" quando "suas naus, prenhes de audácia, de cobiça e de aventura, ninam sobre o mar, em seus ventres rotundos, a supergestação de vários novos mundos". Portanto, foi o homem do "tombo do Globo" que trouxe pelo oceano Atlântico a herança colonial da paisagem cultural do mundo europeu para as terras dos "ameríndios" - o novo mundo19. Essa herança colonial é que permitiu a transposição da paisagem

cultural

"greco-romana"

para

as

paisagens

naturais

"locais"

e,

consequentemente, a sobreposição, anulação e encobrimento destas. Uma paisagem cultural em que, segundo Dowbor (1996), a "tendência" para um reforço generalizado da gestão política representa uma importante evolução da democracia representativa20 para uma democracia participativa21. Uma vez que a democracia representativa (ou moderna) concedeu a ilusão da prerrogativa da "voz ativa" e da quimera do poder de mando dos cidadãos de um local, de uma região e de uma nação, na Incubadora (CIIH_CT) - bem como no Laboratório (CLIH_CT) e no Grupo de Pesquisa (GPIH_CT), referidos mais adiante -,

só poderão participar

"agentes de mudança" comprometidos com uma genuína sociedade humana de democracia efetiva e que estejam disponíveis para a uni(di)versidade. Uma herança pela qual o ambiente científico é controlado por uma "docentocracia"22 na qual os "doutores" de cada cátedra comandam e administram aristotelicamente os projetos de pesquisa nas universidades - que são financiados por recursos de terceiros, públicos e/ou privados -, mas para atender apenas às "suas" linhas de pesquisa científica. Principalmente nos projetos de pesquisa executados com recursos do erário, paradoxalmente, o "objetivo ambicioso" que interessa é o do "doutorpesquisador", mesmo que esse objetivo não esteja alinhado com os objetivos da unidade disciplinar autônoma pela qual ele é responsável, nem com os objetivos maiores da universidade pública.

19

"Novo mundo" só do ponto de vista desse homem do "tombo do Globo". Democracia Representativa ou Democracia Moderna, na qual "se é cidadão uma vez a cada quatro anos" (DOWBOR, 1996). 21 Democracia Participativa, na qual "grande parte das opções concretas relacionadas com as condições de vida e a organização do nosso cotidiano passam a ser geridas pelos próprios cidadãos" (DOWBOR, 1996). 22 Docentocracia: sf (lat docente, professor ou professora + gr kratía, governo) neologismo criado por mim e que significa governo por professores, não necessariamente doutores. 20


Página 13 de 20

No entanto, os objetivos maiores da universidade23 devem levar em conta as preocupações com o primordial interesse do outro como indivíduo e da sociedade humana como um todo24 - que banca indiretamente as pesquisas desenvolvidas por aquela - nas tentativas de organização humana no caos humano, no caos da informação, no caos da tecnologia, no caos social, no caos da natureza... Porém, o que se observa é que essas cátedras da Academia Moderna Aristotélica (AMA) transformaram quer o Passeio Socrático Aleatório (PSA) quer a Academus "Platónica" (AP) em Ilhotas Catedráticas de Enxertos Acadêmicos em Enclaves Urbanos (ICEAEU). Em que a empiria contemporânea, consubstanciada em "trabalhos de campo", tem tido papel de mero coadjuvante nas teses dos "doutores", dissertações de "mestres", monografias de "especialistas" e trabalhos de conclusão de curso de "graduados". Os casos raros de "devolutiva" acrescentaram pouco aos que "viraram" dados e números estatísticos "significativos". Por tudo isso, o pensar de forma metódica, mas livre, transformou-se em "tortura acadêmica" de muitos "instituída" por tão poucos. Neste sentido, na dicotomia teoria versus empiria, o pensar é tanto um ato de rebeldia quanto um ato de pseudo-cidadania! Desse modo, a ciência

"tem

ajudado"

a

(pseudo)democracia

alimentando

"fazedores"

de

(pseudo)política e "prometedores" de (pseudo)bem-estar social! E o resultado ficou evidente em 2013, no Brasil, no fim escaldante do Outono e no início quente do Inverno... Mesmo perante tamanha hostilidade "socioacadêmica" - e até por isso -, a CIIH_CT deve ficar fisicamente num Laboratório Cibernético de Integração Humana Complexo-Teleológica (LCIH_CT) ou Ciber-Laboratório de Integração Humana Complexo-Teleológica (CLIH_CT)25. Este ciber-laboratório deve ser uma unidade administrativa ligada à Pro-Reitoria de Extensão (PROEX) de uma Universidade Pública.

23

A universidade como manifestação concreta do "saber metódico" não necessariamente "cartesiano". A sociedade humana como manifestação concreta do "saber ingênuo" não necessariamente "sem método". 25 Para efeitos deste artigo, preferindo o prefixo "ciber", opto pela denominação Ciber-Laboratório de Integração Humana Complexo-Teleológica (CLIH_CT). 24


Página 14 de 20

Estrutura geral Dowbor (1996) disse que "o espaço compartilhado no cotidiano [...] tem de ser reconstituído, não numa visão poética de um small is beautiful generalizado". Numa visão de um small is necessary and unavoidable, o CLIH_CT, como ciber-laboratório, deve ser constituído por instalação física comedida, máquinas, utensílios e equipamentos "inteligentes" e aplicações informáticas sofisticados. Esse deve ser usado por um Grupo de Pesquisa de Integração Humana ComplexoTeleológica (GPIH_CT) que fará ensaios (meta)(hiper)disciplinares e que monitorará a CIIH_CT na Unidade Cibernética de Integração Ambiental Complexo-Teleológica Individual-Social (UCIA_CT_IS) ou Ciber-Unidade de Integração Ambiental Complexo-Teleológica Individual-Social (CUIA_CT_IS)26 dum "lugar de viver" diferenciado em Ecótopos27 e Biótopos28. Em especial a CIIH_CT, como ciber-incubadora, é um espaço tecnológico compartilhado no cotidiano de pessoas que, individualmente ou em conjunto, participam e decidem, significativamente, na (re)articulação complexo-teleológica de seu espaço local em rede com outro(s) espaço(s) local(is) - do mesmo ou de outro espaço regional, numa sociedade global complexa. Integrando essa "estrutura geral", devem ser estabelecidos princípios, valores29, missão, visão, estratégia (política, objetivos, ações, metas, indicadores, instrumentos, parcerias, autoplanejamento, automonitoramento e autocontrole), táticas e operações, do CLIH_CT, da CIIH_CT e do GPIH_CT. E tudo deve convergir na CUIA_CT_IS para tentar a vivência, convivência e sobrevivência humanas30 numa corporação horizontal de coliderança, cooperação e corresponsabilidade,

mediante

uma

integração

sistêmica

hologramática

interfuncional31 no (des)envolvimento de um "lugar de viver" por Processos de

26

Para efeitos deste artigo, preferindo o prefixo "ciber", opto pela denominação Ciber-Unidade de Integração Ambiental Complexo-Teleológica Individual-Social (CUIA_CT_IS). 27 O ecótopo é por onde o indivíduo ou o grupo se movimenta, caracterizando o "nomadismo". 28 O biótopo fixa o indivíduo ou o grupo, evidenciando o "sedentarismo". 29 Valores de existência (carregados de valores potenciais de subsistência e sobrevivência) que condicionam os valores funcionais. Valores alotrópicos e Valores entrópicos que condicionam os valores funcionais de existências alteradas; e Valores Antrópicos. 30 Interdependência Funcional medida por este indicador: Índice de Vivência, Convivência e Sobrevivência Humana (IVCSH). 31 Integração de sistemas captada por esta matriz (a)biótica: Sistema Integrado de Hologramas Interfuncionais (SIHI).


Página 15 de 20

Incubação Cibernética de Integração Humana Complexo-Teleológica (PICIH_CT) ou Processos de Ciber-Incubação de Integração Humana Complexo-Teleológica (PCIIH_CT)32. Processo de Incubação Dowbor (1996) disse que, num processo de reordenamento dos espaços, "o indivíduo encontra-se desorientado". E que numa linha de estudos "as novas tecnologias e a conectividade eletrônica abrem novos canais de articulação social em torno aos espaços do conhecimento compartilhado". Enquanto que outros estudos "têm mais presente a dramática marginalização de dois terços da humanidade, neste processo de modernização desigual". O processo de incubação da tanto reordena espaços do "conhecimento compartilhado" quanto orienta ocupantes humanos desses espaços e neles "marginalizados", sob a forma de um Processo Humano Social (ProHuSo) de dinâmicas humanas normais e abnormais - catalisadas por "novas tecnologias" e "conectividade eletrônica" que traçam novos caminhos de articulação social. Esse ProHuSo inicia-se a partir de diversos "ingredientes", dos quais se destaca cada indivíduo marginalizado ("dominado-excluído") que, em espiral retroativarecursiva, está sujeito a vários perigos e desafios, corre riscos para gerar responsavelmente produtos, subprodutos, desperdícios e resíduos, e causa impactos à sua envolvente... O paradoxo é que cada indivíduo não marginalizado ("dominanteincluído"), ao ser excluído de um ProHuSo, passa automaticamente a "fazer parte" dos "excluídos". E é esse paradoxo que "obriga" qualquer ser humano, num lugar de viver, a identificar-se e a empreender de modo eclético, responsável e sistemático, alinhando estrategicamente atividades e interesses naturalmente antagônicos de "dominantes" e "dominados", "grandes", "médios" e "pequenos". Ou seja, a "entrada" (input) no ProHuSo é para TODOS! Outras "entradas" (inputs) do ProHuSo são estes três macro-princípios que "guiam" o pensamento complexo, segundo Morin (1990): 1º) o macro-princípio dialógico, que permite "manter a dualidade no seio da unidade" e associar "dois termos ao mesmo tempo complementares e antagônicos" (complementaridades excludentes); 32

Para efeitos deste artigo, preferindo o prefixo "ciber", opto pela denominação Processos de CiberIncubação de Integração Humana Complexo-Teleológica (PCIIH_CT).


Página 16 de 20

2º) o macro-princípio da recursão organizacional, que rompe com "a ideia linear de causa→efeito, uma vez que o efeito retorna sobre a causa em um ciclo auto-organizador e produtor"33; e 3º) o macro-princípio holográfico ou hologramático, em que "Não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte"34. E outras "entradas" (inputs) do ProHuSo são estes três princípios que, a partir de Beims (2008), também "guiam" o pensamento complexo de Morin: 1º) princípio sistêmico ou organizacional, que liga o conhecimento das partes ao conhecimento do todo35 (excludências complementares); 2º) o princípio de autoeco-organização, em que "os seres vivos36 são auto-organizadores que se autoproduzem incessantemente, e através disso despendem energia para salvaguardar a própria autonomia" - e, como esses seres vivos necessitam de extrair energia, informação e organização no seu habitat, "a autonomia deles é inseparável dessa dependência, e torna-se imperativo concebê-los como autoeco-organizadores"; e 3º) o princípio da reintrodução - daquele que conhece em todo conhecimento -, que "opera a restauração do sujeito e ilumina a problemática cognitiva central" (da percepção à teoria científica, todo conhecimento é uma reconstrução/tradução por um espírito/cérebro numa certa cultura e num determinado tempo). Adicionei estas outras "entradas" (inputs) no ProHuSo - dois princípios que magnetizam a "supremacia" do conhecimento integrado de seres humanos, a qual potencializa um clima organizacional favorável à (intra)(inter)(retro)ação desses seres humanos: o princípio da incerteza, subjacente à probabilidade de ocorrência de fenômeno(s); e o princípio da revolução sistêmica, pelo qual um sistema local se abre e fecha em função das conveniências locais. O ProHuSo segue um Método de Incubação Cibernética de Integração Humana Complexo-Teleológica (MICIH_CT) ou Método de Ciber-Incubação de Integração

33

Eu esquematizo desta forma: causa↔efeito. Segundo Morin (1990): "no mundo biológico, cada célula tem a informação genética de todo o indivíduo; no mundo material, todas as substâncias são obtidas por repetição de padrões". 35 Para Morin (1990): primeiro, “um todo é mais do que a soma das partes que o constituem”; segundo, “o todo é então menor que a soma das partes” (a nova realidade inibe as qualidades das partes); e terceiro, “o todo é simultaneamente mais e menos que a soma das partes”! 36 Segundo Beims (2008), "o princípio de auto-eco-organização vale evidentemente de maneira específica para os humanos, que desenvolvem a sua autonomia na dependência da cultura, e para as sociedades que dependem do meio geoecológico". 34


Página 17 de 20

Humana Complexo-Teleológica (MCIIH_CT)37. E o "processo de transformação" é composto por estes dez grandes passos: 1º) sensibilização de partes interessadas potenciais; 2º) mobilização de partes interessadas; 3º) (re)formação do núcleo da incubadora; 4º) identificação dos "dominados-incluídos" e dos "dominados-excluídos" num lugar de viver; 5º) (re)caracterização desses "dominados-incluídos" e dos "dominados-excluídos"; 6º) (re)estruturação de ensino, aprendizagem e formação intuitivo-racionais teleológicos; 7º) (re)integração sistêmica e (inter)(intra)dependência funcional na observação, reflexão, decisão e responsabilidade,

de um mundo na

complexidade da unidade aberta38; 8º) produção antropo-ética (do)no lugar de viver; 9º) coesão social aferida por automonitoramento, autocontrole e automedição de graus de satisfação no lugar de viver; e 10º) (des)envolvimento humano no lugar de viver, (hiper)(trans) (meta)disciplinar e integrado na sua região. O resultado dessa transformação compõe-se de "saídas" (outputs) do ProHuSo relacionadas num sistema integrado de interdependências funcionais de: um produto; um ou mais subprodutos; desperdícios; e resíduos (in)controlados. O produto do ProHuSo é único: um Indivíduo Fortalecido, Capaz e Empreendedor (InFoCaEm) responsável pela própria vivência, convivência e sobrevivência, na sua Uni(di)versidade. Os principais subprodutos do ProHuSo são estes sete: 1º) indivíduo fortalecido em sua moral, sua intuição e seu raciocínio; 2º) indivíduo capaz de exercer sua cidadania e de trabalhar eticamente em equipe39; 3º) indivíduo empreendedor objetivando atividades humanas necessárias para "ele" e/ou para "outros"; 4º) núcleo da incubadora formado por "indivíduos primordiais"; 5º) produtos e serviços éticos do lugar de viver; 6º) grau(s) de satisfação humana no lugar de viver, qualificados pelo SIHI e quantificados pelo IVCSH, individual e social; e 7º) neo-estabilização do ambiente integrado (u)tópico CUIA_CT_IS. Estes podem ser cinco dos desperdícios principais40 do ProHuSo... 1º) o mutável homo imaginarius, participando de redes sociais mundiais virtuais, com "outra vida" ou "avatar", mas esquecendo-se de sua "vida real" de valores, inércias, interesses, 37

Para efeitos deste artigo, preferindo o prefixo "ciber", opto pela denominação Método de CiberIncubação de Integração Humana Complexo-Teleológica (MCIIH_CT). 38 Ciber-Unidade de Integração Ambiental Complexo-Teleológica Individual-Social (CUIA_CT_IS). 39 Não confundir "equipe" com "grupo". 40 Bem detalhados em minha monografia (DA COSTA FERREIRA, 2011).


Página 18 de 20

coerções, fortalezas, oportunidades, fraquezas, ameaças, proveitos, limitações, riscos e desafios. 2º) o inconsequente homo poeticus, acossado por seus sonhos, devaneios e idealismos, e frustrado em seu amor repreendido. 3º) o irresponsável homo ludens ou falso homo economicus, no "jogo da vida"41. 4º) o irrefletido homo consumans, tanto desamparado no consumo essencial à sua subsistência e sua sobrevivência, quanto perdulário no seu consumo suntuoso e supérfluo. 5º) o incansável (empacado e incompreensível) Homo Operarius Populis Mercatus - uma mixórdia de Consumans Burrus, Logisticus, Falsificantis, Falsus, Organismus, Proletarius Burrus, Otiosus e Filantropus. Além disso, também é desperdício a efetiva irrelevância dos problemas sociais "antes considerados relevantes pelos cidadãos". E estes podem ser quatro dos resíduos principais

42

do ProHuSo... 1º) o

aparentemente invisível ("por isso", inimputável) Homo Demens - dominando o homo sapiens, fabricando armas e drogas pesadas, e urdindo nações, grupos, leis, contratos, intrigas, guerras e guerrilhas. 2º) o temível Homo Luciferus - composto de Malus Tolerantis, Cogitus Interruptus, Malus Alter Humanus Anonimus, Malus Principatus, Ego Responsabilis Anonimus, Ego Inumanus Anonimus e Erga Omnes. 3º) o ignóbil Homo Dolus Malus Globalis - composto de Infraprosaicus, Ignorantis, Monetarius, Tributus, Censoris, Miserabilis, Ultrafaber, Usurarius e Corruptus. 4º) o presumível responsável Homo Sapiens, ou seu "aprimorado" Homo Sapiens Sapiens. Além disso, também são considerados "resíduos": pessoas de origem local permanecendo ou transformadas em cidadãos irresponsáveis; pessoas de origem local permanecendo ou transformadas em empreendedores irresponsáveis; e problemas sociais dos cidadãos - de origem local - não solucionados. Todos esses (e/ou outros) "desperdícios" e/ou "resíduos" devem ser reavaliados pelos empreendedores humanos. Se essa reavaliação os mantiver como problemas sociais, estes retornarão recursivamente ao processo de incubação como um dos insumos deste; senão, deverão ser 'destruídos' mediante sua cristalização no histórico de aprendizado da ciber-incubadora (CIIH_CT).

41

Jogos da vida, dentre outros: jogo lotérico para as famílias; jogo de mercado e jogo de logística para os empresários; jogo democrático; e jogo de privilégios para os partidos políticos, governos, empresas e academias 42 Também detalhados em minha monografia (DA COSTA FERREIRA, 2011).


Página 19 de 20

CONCLUSÃO Qualquer pesquisador universitário entenderá que suas "tessituras teóricas" para de fato explicar a nossa contemporaneidade passam forçosamente pela sua "metafórica saída da cidade" e da categoria "urbano". Ele atentará para as "reais fontes primárias" que estarão como matéria-prima na ponta de seus dedos através de uma incubadora cibernética que servirá de instrumento de fortalecimento de identidade e luta social em cada lugar. E será ele que aproximará de forma inteligível o "saber científico" do "saber popular", para enfrentar a realidade humana através da ciência e da política genuínas, as quais são indissociáveis das questões humanas em cada lugar de viver. Num percurso que bifurca em: uma trilha para atender as demandas do status quo; e um caminho que possibilita verdadeiramente apresentar alternativas de transformação de vida na realidade presente. Finalmente, nesse (e por esse) mecanismo (trans)(meta)estabilizador que é a ciber-incubadora (CIIH_CT), qualquer pessoa de um mesmo lugar de viver, "dominante-incluído"

e/ou

"dominado-excluído",

devidamente

(re)educado

e

(in)formado, decide e comunica, livre e responsavelmente, sozinho ou em equipe, sobre seu(s) caminho(s), de forma intuitiva, afetiva e racional, e de maneira efetiva, eficiente e eficaz. Termino este artigo sobre um novo tipo de incubadora tecnológica para estruturar, organizar e fortalecer cada "cidadão" e cada "município" no exercício de uma democracia efetiva. Mas, citando Dowbor (1996), o rumo que aponto prende-se mais à necessidade de "manter esperanças" do que a "certezas científicas"...

REFERÊNCIAS ANPROTEC/SEBRAE. Glossário dinâmico de termos na área de tecnópolis, parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Brasília : ANPROTEC; SEBRAE, 2002. BEIMS, Robert Walter. A Religação dos Saberes e a Teologia: o Sistema das Ciências de Paul Tillich no Horizonte do Pensamento Complexo de Edgar Morin. (Tese de Doutorado). São Leopoldo, 2008. BOCAYUVA CUNHA, Pedro Cláudio Cunca (org) e VARANDA, Ana Paula de Moura (org). Diagnóstico e impactos do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares. Rio de Janeiro : Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), 2007. 2º Livro do Projeto de Acompanhamento do PRONINC. BOULDING, Kenneth Ewert. Economic Libertarianism. Chicago : s.n., 1965. p.30-42. [1910-1993]. Conference on savings and residential financing: Proceedings.


Página 20 de 20

COHEN, Percy S. Teoria Social Moderna. 2ª Ed. Rio de Janeiro : Zahar Editores, 1976. p. 258. DA COSTA FERREIRA, F.R.V. Economia humana: por onde anda a responsabilidade social? Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil : s.n., 2011. p. 95. Monografia de Pós-Graduação em Gestão em Logística Portuária - Institutos Superiores de Ensino do CENSA. DOWBOR, Ladislau. 1996. Da Globalização ao Poder Local: a Nova Hierarquia dos Espaços. Pesquisa e Debate. São Paulo, SP, Brasil : PUC-SP, 1996. Vols. 7 - número 1 (8), p.7. (Escrito em junho de 1995). Disponível em: http://dowbor.org. Acesso em: 2011/mai/27. LAMEGO, Alberto Ribeiro. 1974. O homem e o brejo. Rio de Janeiro, Lidador, 1974. LÓSSIO, Rodrigo. Estudo aponta modelo de incubação virtual. http://tisc.com.br/. [Online] 08 de mar de 2010. [Citado em: 14 de set de 2010] http://tisc.com.br/pesquisa/estudo-aponta-modelo-de-incubacao-virtual/ . REDE Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares. 22 de setembro de 2009. Disponível em http://redeitcps.blogspot.com.br/. Acesso em 29 de janeiro de 2015. RIBEIRO, Ana Cristina Silva e ANDRADE, Emmanuel Paiva. Modelo de gestão para incubadora de empresas sob a perspectiva de metodologias de gestão apoiadas em rede: o caso da incubadora de empresas de base tecnológica da Universidade Federal Fluminense. Boletim Técnico Organização & Estratégia. jan-abr de 2008, Vols. 4 - nº1, pp. 71-90 (20). Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestrado em Sistemas de Gestão (MSG). MCT, Ministério da Ciência e Tecnologia. Manual para a Implantação de Incubadoras. Novembro de 2000. Disponível em http://www.incubaero.com.br/download/manual_incubadoras.pdf. Acesso em 29 de janeiro de 2015. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget. 2ª ed., 177 p. ISBN: 972-8245-82-3. Do original Introduction à la pensée complexe, Paris: ESF éditeur, 1990. —. Os sete saberes necessários à educação do futuro. [trad.] Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 2ª. ed. São Paulo : Cortez, 2000. [1921- ?]. Brasília, DF: UNESCO. Revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. ISBN 85-249-0741-X. SILVA, Daniel J. Complexidade e Ambiente: uma perspectiva metodológica para a construção de dimensões complexas do ambiente. Programa de Pós-Graduação da UFSC. 2002. [Artigo não publicado]. SILVA, Edna Lúcia da e MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4ª. ed. rev. atual. Florianópolis : UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. p. 138. ZABLOCKI, Edward M. Formation of a Business Incubator. In: Intellectual Property Management in Health and Agricultural Innovation: A Handbook of Best Practices. [Online] CHAPTER 13.6 (p. 1305-1314). 2007.Tradução minha. Disponível em http://www.iphandbook.org/handbook/ch13/p06/. Acesso em 29 de janeiro de 2015.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.