Revista InSaúde Nº 08 Fevereiro/2012

Page 1

Faculdade Santa Emília de Rodat

HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTE ESTIGMATIZADO AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIA RESTAURADORA

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012 ISSN 2177-9082

Saúde


Sumário

Artigo 01

HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTE ESTIGMATIZADO

PAG. 04

Artigo 02

ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO: DEMANDA DOS USUÁRIOS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

PAG. 12

Artigo 03

AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIA RESTAURADORA

PAG. 18

Artigo 04 Artigo 05

TRANSPLANTE DENTÁRIO: UMA REVISÃO DA LITERATURA

PAG. 22

REPERCUSSÕES DA MASTECTOMIA NA MULHER COM CÂNCER DE MAMA

PAG. 28 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

NORMAS

PAG. 34


Editorial

Direção Administrativa a

Das patologias, de origem infecciosa ou não, que afetam o ser humano, as que ocasionam maiores impactos são aquelas que promovem destruição tecidual, causando deformidades visíveis, pois, além dos danos ao organismo, também promovem abalo na psique do indivíduo, trazendo estigmas que marcam muito mais profundo que as cicatrizes das doenças. Por esta razão, o atendimento do profissional de saúde a este paciente não deve ser direcionado apenas a patologia em si, mas também ao psicológico do paciente. Espero que os artigos aqui apresentados auxiliem neste contexto. Boa leitura e bom aprendizado.

Prof Ms Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho

Prof Maria da Glória Uchôa dos Santos Enfermagem Mestra em Administração Sanitária e Hospitalar (Suficiência Investigatória - UNEX Espanha) a

Prof Ana Cristina de Oliveira Borba Paulino Administração Mestra em Administração Sanitária e Hospitalar (Suficiência Investigatória - UNEX Espanha) a

Prof Maria Zilene Mendonça do Prado Enfermagem Mestra em Enfermagem – UFRJ

Coordenação Técnica o

Prof Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho Zootecnia – Mestre

Corpo Editorial Ana Flávia de Oliveira Borba Coutinho Cíntia Bezerra Almeida Elry Medeiros Vieira Neto Fernandes Antônio Brasileiro Rodrigues Glaydes Nely Sousa da Silva Gustavo Gomes Agripino Ideltônio José Feitosa Barbosa Isabela Albuquerque Passos Jaqueline Oliveira de Paiva Ferreira José Carlos da Silva Luciana Teles Carneiro Maria Carmen de Araújo Melo Jardim Maria Clemilde de Sousa Maria de Fátima Gabino Siqueira Maria de Fátima de Oliveira Coutinho Maria do Carmo Braga Alvariza Maria Eliane de Araújo Moreira Marinei Grotta Rovênia Maria de Oliveira Toscano Wilma Dias Fontes

Projeto Gráfico Gleryston Farias


Artigo 01 HANSENÍASE: UM EVENTO INFECCIOSO PROGRESSIVAMENTE ESTIGMATIZADO Leprosy: an infectious event, progressively stigmatized Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho¹; Nieje Barbosa de Almeida². 1. Prof Ms Imunologia FASER (orient_pedromarcos@hotmail.com); 2. Discente de Enfermagem FASER (niejealmeida@hotmail.com). RESUMO A hanseníase é uma patologia de origem infecto-contagiosa, de evolução lenta, que se explana, sobretudo por meio de sinais e sintomas dermatoneurológicos: lesões na pele e nos nervos periféricos, principalmente nos olhos, mãos e pés. Trata-se de uma enfermidade milenar que traz consigo a marca do preconceito, discriminação e exclusão social desde o seu surgimento. Diante do exposto, o estudo tem por objetivo, identificar à luz da literatura pertinente ao tema a hanseníase como uma doença de origem infecciosa que apresenta um estigma nos dias atuais, ainda predominante. Tratou-se de um estudo, com caráter bibliográfico, baseado na literatura pertinente ao tema, desenvolvido no acervo bibliográfico da Faculdade Santa Emília de Rodat (FASER), bem como em outras fontes, tais como revistas e sites indexados da internet, fundamentados à luz da literatura pertinente ao tema. A referida literatura aborda que a falta de informações sobre o modo de transmissão, controle e cura da doença, bem como o medo da exclusão social, contribuíram para que a hanseníase se tornasse uma doença temida nas populações. O estigma e o preconceito associados à doença ameaçadora e fatal do passado permanecem no imaginário da sociedade remetendo os indivíduos ao tabu da morte e mutilação, trazendo grande sofrimento psíquico aos seus portadores com sérias repercussões em sua vida pessoal e profissional. A hanseníase diferencia-se das demais doenças pelo estigma social que acompanha a moléstia durante vários séculos. O doente de hanseníase era visto como o “senhor do perigo e da morte”, o que levou o estabelecimento de medidas discriminatórias com relação a esses indivíduos. Conclui-se que embora, atualmente a hanseníase tenha tratamento e cura, o estigma e o preconceito permanecem enraizados em nossa cultura e dificultam o indivíduo no enfrentamento da doença, trazendo-lhes sérias repercussões em sua vida pessoal e profissional. Palavras chave: Hanseníase, Infecção, Estigma. ABSTRACT Leprosy is a disease of infectious origin, of slow growth, which explains, in particular by means of signs and symptoms dermatoneurological: skin lesions and peripheral nerves, especially in the eyes, hands and feet. It is an ancient disease that carries the brand of prejudice, discrimination and social exclusion since its inception. In this light, the study aims to identify the light of the literature concerning the matter leprosy as an infectious disease that has a stigma these days, still prevalent. It was a study with bibliographical character, based on the literature pertaining to the theme, developed in bibliographic College of Santa Emilia Rodat (faser), as well as other sources such as magazines and Internet sites indexed, based on light the literature concerning the matter. Such literature addresses the lack of information about the mode of transmission, control and cure of the disease, as well as the fear of social exclusion, contributed to leprosy became a dreaded disease in populations. The stigma and prejudice associated with threatening and fatal disease of the past remain in the minds of society by referring individuals to the taboo of death and mutilation, bringing great psychological distress to their patients with serious repercussions on their personal and professional life. Leprosy is differentiated from other diseases by the social stigma attached to the disease for several centuries. Sick of leprosy was seen as the "lord of danger and death," which prompted the establishment of discriminatory measures with respect to these

04

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


individuals. It is concluded that although currently has leprosy treatment and cure, stigma and prejudice remain rooted in our culture and hinder the individual in coping with the disease, bringing them serious repercussions on their personal and professional life. Keywords: Leprosy, Infection, Stigma.

Introdução A hanseníase é uma enfermidade milenar que traz consigo a marca do preconceito, discriminação e exclusão social desde o seu surgimento. Durante um longo tempo os indivíduos foram rejeitados pela sociedade, família e amigos e condenados a viver em total situação de privação perdendo o contato com o mundo externo para evitar a contaminação. O estigma se faz presente desde os tempos bíblicos e continua fazendo parte do imaginário das pessoas 3 ainda nos dias atuais. A falta de informações sobre o modo de transmissão, controle e cura da doença, bem como o medo da exclusão 2 social, contribuíram para que a hanseníase se tornasse uma doença temida nas populações medievais. A hanseníase diferencia-se das demais doenças pelo estigma social que acompanha a moléstia durante vários séculos. O doente de hanseníase era visto como o “senhor do perigo e da morte”, o que levou o estabelecimento de 4 medidas discriminatórias com relação a esses indivíduos. A partir de 1942, com o surgimento da dapsona, ocorreu um profundo avanço no tratamento da hanseníase, que até então era baseado na segregação e isolamento dos pacientes, mesmo assim, o pensamento associado à doença 3 do passado, o desconhecimento e a falta de informações continua envolvendo a moléstia nos dias atuais.

Objetivo Este estudo objetivou identificar a partir da literatura pertinente ao tema a hanseníase como uma doença de origem infecciosa que apresenta um estigma nos dias atuais, ainda predominante.

Metodologia Esse trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa do tipo bibliográfica, de característica exploratória descritiva. Entende-se por pesquisa bibliográfica descritiva, a pesquisa que é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, e que tem como objetivo primordial a descrição das 8 características de determinadas populações ou fenômenos . A pesquisa foi realizada na biblioteca João Paulo II da faculdade Santa Emília de Rodat (FASER), localizada em João Pessoa Paraíba. Também foram utilizados artigos científicos disponíveis no meio virtual: Scielo, Bireme, entre outros. A pesquisa foi executada entre as datas de 10 de maio a 18 de agosto do corrente ano, durante esse tempo buscou-se informações relevantes a respeito da resolução do problema proposto, e dentre elas as mais relevantes encontram-se referenciadas nesse trabalho.

05


Discussão A milenar doença hanseníase, denominada durante muitos séculos por lepra, ainda traz contemporaneamente arraigada ao seu nome, o preconceito e discriminação daqueles que a desenvolveram. Esta situação é originada basicamente em função da generalizada falta de informação por parte da população ao seu respeito. Atualmente a hanseníase tem cura, o tratamento é gratuito e feito em nível ambulatorial desde a década de 50 como representado na 3, 8 figura 1.

Figura 1: Distribuição gratuita de medicamentos para hanseníase. Fonte: Fontoura, 2008.

Atualmente as pessoas acometidas pela doença, não necessitam mais de internação, porém no passado em conseqüência da inexistência de medicamentos eficazes, era imprescindível que o fizessem. No momento em que eram diagnosticados como “leprosas”, costumavam ser encaminhados para grandes instituições, longe das cidades, de onde praticamente nunca mais sairiam, eram os chamados “leprosários”. Estas instituições foram responsáveis por um tratamento excludente ao longo dos séculos, e acarretaram como conseqüência a produção de uma imagem de “horror à doença”, tendo como conseqüência um profundo estigma social ao simples contato com o doente, uma vez que este apresentava em geral, lesões ulcerantes na pele, e deformidades nas extremidades. Esta desfiguração do “leproso” provocou horror ao doente, a doença, e até mesmo, aos seus familiares. As imagens dos leprosários estão representadas a 8,10 seguir na figura 2.

Figura 2: Imagens de Leprosários no Brasil em tempos passados. Fonte: Barbosa, 2009.

06

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


Hanseníase pode ser caracterizada como uma doença infecto-contagiosa de evolução crônica, cujas manifestações clínicas têm predominância na pele e/ou nervos periféricos. Seu agente causador é o Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, tratando-se de uma bactéria parasitária intracelular, que se instala nas células cutâneas ou nas 3 células de nervos periféricos podendo se multiplicar. O início da doença ocorre, na maioria das vezes, com sensações parestésicas de extremidades e/ou por manchas hipocrômicas ou eritemato- hipocrômicas, com alterações de sensibilidade (térmica, dolorosa e táctil). O quadro neurológico ocorre apenas nos nervos periféricos, quando a extensão da própria lesão cutânea compromete os troncos nervosos, na maioria das vezes, por metástases bacilares O Mycobacterium leprae ataca as fibras do sistema nervoso 1 periférico sensitivo, motor e autônomo. O comprometimento dos nervos periféricos é a característica principal da doença, dando-lhe um grande potencial para provocar incapacidades físicas que podem, inclusive, evoluir para deformidades (figura 3). Estas incapacidades e deformidades podem acarretar alguns problemas, tais como diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vida 1 social e problemas psicológicos. São responsáveis, também, pelo estigma e preconceito contra a doença.

Figura 3: Incapacidade física gerada pela hanseníase. Fonte: ParadaDEZ, 2010.

O Brasil hoje é o segundo país em número absoluto de casos de Hanseníase, apresentando uma taxa de prevalência de 1.5 casos/ 10.000 habitantes, ficando apenas atrás da Índia, posição lastimável, considerando que esta doença há muito tempo encontra-se erradicada nos países do primeiro mundo. 9 O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. O contágio dá-se através de uma pessoa doente, portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior, contagiando pessoas susceptíveis (figura 4). A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase, e a mais provável porta de entrada no 1 organismo passível de ser infectado são as vias aéreas.

Figura 4: Modo de contágio e fonte de infecção. Fonte: Silva, 2009.

07


A Hanseníase possui formas clínicas, derivadas de duas principais: a paucibacilar, que se manifesta através de poucas manchas dormentes, esbranquiçadas ou avermelhadas e a multibacilar, a forma contagiosa cujos pacientes sem tratamento, eliminam os bacilos através do aparelho respiratório superior (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro). O paciente em tratamento regular ou que já recebeu alta, não transmite. 5 As classificações mais usadas no Brasil são as de Madri (Congresso Internacional, 1953) e de Ridley e Jopling. Na de Madri, consideram-se dois pólos estáveis e opostos (virchowiano e tuberculóide) e dois grupos instáveis (indeterminado e dimorfo), que caminhariam para um dos pólos, na evolução natural da doença. 6 Classificação da Hanseníase: Hanseníase Indeterminada (HI). As lesões da HI surgem após um período de incubação que varia, em média, de · dois a cinco anos. Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas hipocrômicas, com alteração de sensibilidade, ou simplesmente por áreas de hipoestesia na pele (figura 5). As lesões são em pequeno número e podem se localizar em qualquer área da pele;

Figura 5: Forma Indeterminada da Hanseníase. Fonte: Fundação Hanseníase, 2011.

Hanseníase Tuberculóide (HT). Nesta forma clínica, encontram-se lesões bem delimitadas, em número · reduzido, anestésicas e de distribuição assimétrica. Descrevem-se lesões em placas ou anulares com bordas papulosas, e áreas da pele eritematosas ou hipocrômicas, como pode ser observado na figura 6;

Figura 6: Forma Tuberculoide da Hanseníase. Fonte: Fundação Pro-Hansen, 2011.

08

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


· Hanseníase Virchowiana (HV). Trata-se de forma multibacilar, reconhecida por corresponder ao pólo de baixa resistência, dentro do espectro imunológico da doença. Portanto, manifesta-se naqueles indivíduos que apresentam imunidade celular deprimida para o Mycobacterium leprae (figura 7);

Figura 7: Forma Virchowiana da Hanseníase. Fonte: Coutinho; Silva, 2009.

· Hanseníase Dimorfa (HD). Este grupo é caracterizado por sua instabilidade imunológica, o que faz com que haja grande variação em suas manifestações clínicas, seja na pele, nos nervos, ou no comprometimento sistêmico. As lesões da pele revelam-se numerosas e a sua morfologia mescla aspectos de HV e HT, podendo haver predominância ora de um, ora de outro tipo (figura 8).

Figura 8: Forma Dimorfa da Hanseníase. Fonte: Coutinho, 2009.

Quando o indivíduo possui alguma diferença que constitua uma dificuldade para a sua aceitação integral na sociedade, considera-se estigmatizado. Dificuldades no relacionamento podem ser observadas tanto nas relações mais íntimas da pessoa como nas relações sociais mais distanciadas. Essas dificuldades assumem características diversas, influenciadas pela forma de reação do acometido, bem como em função da maior ou menor solidariedade que se deva a esse indivíduo. 12 O estigma e o preconceito associados à doença ameaçadora e fatal do passado permanecem no imaginário da

09


sociedade remetendo os indivíduos ao tabu da morte e mutilação, trazendo grande sofrimento psíquico aos seus portadores com sérias repercussões em sua vida pessoal e profissional. 3 Um individuo portador de hanseníase sofre, as representações que permanecem no imaginário popular sobre a doença desde a antiguidade são aquelas ligadas à mutilação, à “doença que faz cair partes do corpo”. Como não havia nenhum tipo de tratamento até meados do século XX, as mutilações eram muito comuns, e devido ao horror que as pessoas mutiladas causavam estas eram isoladas do convívio social. Estas representações geraram um conceito sobre a hanseníase, vista como um castigo divino, e o doente era considerado uma pessoa suja, contaminada, mutilada, que causava medo e deveria se evitada. A partir deste preconceito já estabelecido, constrói-se o estigma, transformando o 14 paciente de hanseníase no “leproso”, ou seja, uma pessoa marcada socialmente. O doente de hanseníase passa por inúmeros conflitos como perda de capacidade laborativa, modificação do corpo, com o aparecimento das deformidades, discriminação, preconceito e alteração de sua auto-estima. Os doentes que apresentam sinais da doença mais pronunciados como manchas em partes visíveis do corpo ou deformidades físicas encontram-se numa situação de estigma ainda mais pronunciado. Para esses indivíduos, é muito difícil, arranjar um emprego, ter amigos, procurar uma companheira a constituir uma família. "Isolado, o indivíduo internaliza algum tipo de culpa". Mesmo ele conseguindo esconder muito bem a doença, a preocupação de ser descoberto é um 13 tormento, principalmente para os mais jovens. Visto ser a hanseníase uma doença curável em todas as suas formas, o seu maior problema se encontra tanto no âmbito médico como no social. O estigma contra os pacientes de lepra afeta todos os aspectos de controle da doença. É preciso, portanto, conscientizar a população a tomar atitude com relação à hanseníase sem exagerar e nem minimizar os 11 perigos da doença.

Considerações finais A Hanseníase é uma patologia existente de modo milenar, demasiadamente arcaica, que traz consigo a marca do preconceito, discriminação e exclusão social desde o seu exórdio, prosseguindo de tal forma até os dias atuais. Durante um extenso tempo os indivíduos foram resignados pela sociedade, família e amigos e condenados a viver em total situação de privação perdendo o contato com o mundo externo para evitar a contaminação. O estigma notoriamente se faz presente desde os tempos bíblicos, e continua fazendo parte do imaginário das pessoas ainda nos dias atuais, fazendo com as mesmas repudiem pacientes portadores da hanseníase. Percebe-se que embora, atualmente a hanseníase tenha tratamento e cura, o estigma e o preconceito permanecem enraizados em nossa cultura e dificultam o indivíduo no enfrentamento da doença, trazendo-lhes sérias repercussões em sua vida pessoal e profissional. A hanseníase deixa profundas cicatrizes no ser humano, o estigma permanece em seu corpo, em sua mente e em sua alma. A vida dos portadores de hanseníase sofre grandes transformações devido às perdas que vão se efetivando ao longo dos anos. As mudanças ocorridas no corpo, à rejeição e o abandono da família, dos amigos, a perda do emprego, do padrão de vida e da sua saúde em geral, pelos intermináveis tratamentos a que são submetidos, são situações que são trazidas pela doença e passam a fazer parte do seu cotidiano. O doente de hanseníase carece resgatar seus vínculos e valores, recuperar sua auto-estima, compartilhar sentimentos e relacionar-se para integrar-se ao mundo real. Acredita-se ser de essencial importância oferecer na rede pública um trabalho com uma equipe de saúde, com abordagem interdisciplinar, que gere a educação em saúde para a população em geral e, contribua de modo significativo para que estes sujeitos deparem seus valores como seres integrantes da sociedade, ajudando-os no seu processo de

10

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


reintegração e reinserção social.

Referências 1. BRASIL, Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Guia para o controle da hanseníase. Brasília; 2002. 2. CUNHA, A.Z.S. Hanseníase: aspectos da evolução do diagnóstico, tratamento e controle. Ciência & Saúde Coletiva, 2002. 3. BAIALARD, K.S. O estigma da hanseníase: relato de experiência em grupo com pessoas portadoras. Hansen Int, 2007. 4. GARCIA, J.R.L. Entre a “loucura” e a hanseníase: interfaces históricas das práticas e políticas instituídas. Hansenologia Internationalis, 2001. 5. GALLO, M.E.N. Especial sobre Hanseníase. Disponível http://www.fiocruz.br/ccs/glossario/hanseniase.htm Site consultado em novembro de 2011. 6.

em:

MARCELO, G.A. Hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2003.

7. MINISTERIO DA SAUDE. Portaria Nº 1073/GM de 26 de setembro de 2000. Publicada no D.O.U. - 188-E -pg 18 Seção 1 - 28 de setembro, 2005. 8. MACIEL, L.R. A solução de um mal que é um flagelo: notas históricas sobre hanseníase no Brasil do século XX. In: Nascimento DR, Carvalho DM. Uma história Brasileira das doenças. Brasília, 2004. 9. LANA, F.C.F, AMARAL EP, LANZA F.M. Hanseníase em menores de 15 anos no Vale do Jequintinhonha, Minas Gerais, Brasil. Rev Bras Enferm, 2007. 10. BORENSTEIN, MS, RIBEIRO, A.A.A, MOREIRA, A.R. Hospital Colônia Santa Teresa: o cotidiano dos pacientes institucionalizados no sul do Brasil (1940-1960). Temperamentum 2005; 2. [citado em: 11 jan 2006]. Disponível em: http://www.index-f.com/temperamentum/tn2/t0133.php 11. MARIA, J.S; DANIELI, D. Estudo do Comportamento social dos pacientes de hanseníase do município de São Carlos- SP. Revista Espaço para a Saúde, Londrina. v.7, n.1, p.10-15, dez.2005. 12.

Organização Mundial da Saúde. Lepra: aprender com os êxitos. Genebra (Swi): OMS; 2001.

13. ANDRESSA, S. Hanseníase: Dos tempos bíblicos ao dias atuais. 2010. Acessado em: 18 de janeiro de 2012. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/hanseniase-dos-tempos-biblicos-aos-dias-atuais/36870. 14.

DANIELLE, B.S. Hanseníase e Preconceito: Uma relação intrínseca? Rio de Janeiro, 2006.

11


Artigo 02 ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO: DEMANDA DOS USUÁRIOS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA Service organization: the demand of users in the family health strategy COLARES, R. A ¹; PINTO, S. L²; VIDAL, E. C. F ³ ¹ Renata Andriola Colares, Enfermeira, especilizanda em Admistração Hospitalar e Sistema de Saúde pela URCA/CE e Pós graduanda em Saúde da família pela UFC/CE. (racrenata@hotmail.com) ² Sarah de Lima Pinto, Enfermeira, especialista em Saúde da Família. Profª do Deptº Enfermagem da URCA. Mestranda em desenvolvimento Sustentável pela UFC. (sarahlimapinto@hotmail.com) ³ Eglídia Carla Figueirêdo Vidal, Mestre em Enfermagem. Profª de Enfermagem na Universidade Regional do Cariri. (eglidiavidal@hotmail.com)

Resumo A organização dos serviços de saúde envolve o atendimento ao usuário nas ESF e outras atividades realizadas para a população de suas respectivas áreas de abrangência. Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico, baseado na literatura pertinente ao tema. As leituras evidenciaram que a Estratégia da Saúde da Família surge como uma forma de reorganização do modelo de atenção à saúde e com os princípios do Sistema Único de Saúde, com novas práticas de atenção à saúde afirmando o atendimento clínico e a promoção da saúde. Em relação à demanda dos usuários, a equipe de saúde da família deve realizar estratégias e ações no seu dia a dia para atender toda a clientela junto com a demanda programada e espontânea para obter uma assistência integral, contínua e de qualidade. Palavras-chave: Organização do serviço de saúde, demanda de usuários e estratégia Saúde da Família.

Abstract The organization of health services involves the service user in the ESF and other activities for the population of their catchment areas. It is a bibliographic search of character, based on the literature concerning the matter. The readings showed that the family Heath Strategy emerges as a form of reorganization of health care and the principles of the Health System, with new practices of health care stating the clinical care and health promotion. In relation to user demand, the family health team must accomplish strategies and actions in their day to day to meet all customer demand with planned and spontaneous assistance for a comprehensive, continuous and quality. Key Words: Organization of health services, customer demand and the, family Heath Strategy.

12

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


Introdução No Brasil, diversos modelos de saúde se desenvolveram em diferentes momentos da história, desde criação das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPS) até a criação do Sistema Único de Saúde – SUS em 1988. No cenário atual, a saúde do nosso país conviveu e convive com várias formas de organização e promoção dos serviços de saúde, podemos citar as campanhas contra as epidemias e endemias, depois da criação do CAPS foram transformados em IAPS (Instituto de Aposentadoria e Pensão). Em 1964 o governo militar unificou os IAPS no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), contudo permaneceu o foco na assistência à saúde individual. Nos dias de hoje a organização de saúde é pelo Sistema Único de Saúde. A forma de organização dos serviços de saúde restringia o acesso àqueles que pagavam a previdência social, e era centrada na assistência hospitalar e curativa, não respondendo de forma efetiva aos problemas de saúde da maioria da população. Os postos de saúde surgiram para realizar, além das consultas médicas, ações de promoção e prevenção, desenvolvendo ações de controle e de educação à saúde a grupos da população (puericultura, pré-natal, controle de hipertensos, programa de imunização e outros). Estes se constituíram na primeira forma de reconhecimento do direito à (1) saúde . Antes do SUS, o direito de acesso aos serviços era assegurado apenas para os trabalhadores vinculados ao Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Com a universalização, a saúde passa a ser um direito de cidadania e cabe ao Estado assegurá-lo, sendo assim o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as (3) pessoas . Esta se constituiu na primeira forma de reconhecimento do direito à saúde. O SUS e a Estratégia Saúde da Família (ESF) possuem princípios doutrinários (universalidade, eqüidade e integralidade) e organizativos (regionalização, hierarquização, descentralização, comando único, participação popular e complementaridade do setor privado). A ESF está voltado para a dicotomia entre curativo e preventivo, individual e coletivo, por meio de práticas fortemente centradas em hospitais, restritas aos contribuintes previdenciários, como era (2) em outros tempos . De acordo com Ministério da Saúde, a organização dos serviços de saúde envolve o atendimento ao usuário nas UBS e outras atividades realizadas para a população de suas respectivas áreas de abrangência. Uma forma de organizar o trabalho em saúde é adotar o trabalho em equipe, em que os profissionais, de acordo com seus conhecimentos, área de atuação e com os recursos disponíveis, buscam a melhor solução de cada problema e no campo que compreende o (4) território-família-comunidade . Dentre as atribuições de um gestor de serviços de saúde, garantir o acesso da população a um atendimento de qualidade, por profissionais competentes e que leve à satisfação do usuário, passa a ser considerado ponto fundamental (6) e que deve ser levado em conta durante o processo de organização do serviço . A proposta é então organizar o serviço de saúde a partir dos tipos de demanda dos usuários na Estratégia Saúde da Família com o intuito de melhorar a qualidade do atendimento da população.

Objetivos Discutir sobre os tipos de demanda de usuários na Estratégia Saúde da Família, como forma de organização do serviço de saúde.

13


Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Esse tipo de pesquisa é realizado a partir de dados e informações coletados em obras já existentes e servem de base para a análise e a interpretação dos mesmos, formando um novo (7) trabalho científico . Foi realizada através da literatura que trata da temática abordada em livros e periódicos impressos e digitais, estes acessados em bases de dados eletrônicas. Foi feita leitura detalhada dos materiais.

Abordagem Geral da Atenção Básica e da Implementação da Estratégia Saúde da Família A Atenção Básica à Saúde (ABS) constitui “um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o (8) tratamento e a reabilitação” . É no âmbito da ABS, através da ESF, que se dá o contato inicial dos usuários com o SUS. Além disso, o exercício da ABS se dá por meio de “práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados” com a utilização de “tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior freqüência e relevância das populações”(9). Deve-se considerar o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na integralidade e na inserção sócio-cultural e buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de (4) sofrimentos que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável . As ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento das doenças e redução de danos ou sofrimentos devem basear-se num processo interativo de escuta e informação, buscando produzir a autonomia possível para sua (10) efetivação . Um aspecto fundamental é o conhecimento do território, que não pode ser compreendido apenas como um espaço geográfico, delimitado para constituir a área de atuação dos serviços. Ao contrário, deve ser reconhecido como “espaço social” onde, ao longo da história, a sociedade foi se constituindo e, por meio do processo social de produção, dividindo-se em classes diferenciadas, com acessos também diferenciados aos bens de consumo, incluídos os serviços (10) de saúde . Além disso, no território, ao longo do tempo, por meio das relações que se estabelecem entre pessoas e grupos de pessoas, foram sendo construídos valores e hábitos, cujos reflexos sobre o cuidado com o corpo e com a saúde se traduzem na importância atribuída a cada gesto, a cada problema, a cada demanda. A Estratégia da Saúde da Família surge como uma forma de reorganização do modelo de atenção à saúde, ou seja, como substituição do modelo vigente, sintonizada com os princípios dos SUS, com novas práticas de atenção à (11) saúde e afirmando a indissociabilidade entre o atendimento clínico e a promoção da saúde . Nessa perspectiva, uma nova denominação da Unidade Básica de Saúde que, organizada sob a lógica da Estratégia Saúde da Família, passa denominar-se Unidade de Saúde da Família (USF), com o objetivo de ser resolutiva, com profissionais capazes de identificar e propor intervenções aos problemas de saúde mais comuns e manejar novos saberes e, a partir destes, promover hábitos de vida mais saudáveis, estimulando alimentação adequada, atividade física, o autocuidado, o cuidado com o domicilio e o ambiente. Os profissionais que trabalham na ESF devem compreender a família de forma integral e sistêmica, como espaço de desenvolvimento individual e de grupo, dinâmico e passível de crises; identificar a relação da família com a

14

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


comunidade e identificar processos de violência no meio familiar e abordá-los de forma integral, organizada, com (5). participação das diferentes disciplinas e setores e de acordo com os preceitos legais e éticos existentes Portanto deve-se organizar a demanda dos usuários e conhecer as ações existentes na estratégia Saúde da Família para atender toda população e realizar uma assistência integral, continua e de qualidade.

Organização da demanda dos usuários na estratégia Saúde da Família A literatura revela que a base do atendimento no modelo clássico é a demanda espontânea. Com a incorporação dos novos conceitos dentro da Estratégia Saúde da Família, é importante ter clareza da necessidade de uma estruturação com base na demanda organizada. Esse aspecto torna-se de extrema importância quando são apresentados desafios como centrar a atenção na pessoa saudável e garantir a equidade, priorizando os grupos com (5) maior risco de adoecer e morrer . A demanda espontânea surge a partir de percepções individuais ou familiares da necessidade de atendimento pelos serviços de saúde, ou seja, a partir das necessidades sentidas. Ademais, a maiorias das pessoas procuram o serviço de saúde sem ter necessidade de consulta com os profissionais de saúde na UBS, e com isso, o processo de trabalho dos profissionais fica subestimado a reduzir a oferta e a qualidade do serviço. Além disso, a ESF não pode ignorar a demanda espontânea, sob pena de descrédito junto à comunidade, entretanto, ao estabelecer como prioridade a promoção da saúde da população adscrita, necessita, a partir do diagnóstico de saúde realizada, organizar suas atividades de modo a superar os problemas prioritários de saúde-doença (5) da população . Nesse mesmo contexto a Estratégia Saúde da Família deve conhecer a demanda da população, sendo recomendada a realização de análises a partir de dados registrados no Movimento Diário dos Atendimentos realizados no acolhimento, incluindo o motivo da procura e queixa. Esta ferramenta é simples e possibilita as equipes locais (6) avaliarem o perfil e o volume da demanda para a definição de melhores formas de organização . O Ministério da Saúde ressalta que as unidades de saúde trabalham sobrecarregadas pela demanda (12) espontânea, devido à base de atuação ser a clínica individual . Devem existir estratégias e ações para atender toda a clientela na ESF. As ações para a demanda espontânea são: ações voltadas para o atendimento principalmente, dos casos agudos e das urgências. Envolve ações relacionadas ao acolhimento do cidadão que procura a unidade de saúde, o agendamento de consultas e exames, a realização de procedimentos como curativos, medicação, retirada de pontos, dentre outros, e o diagnóstico e tratamento de agravos. A demanda programada refere-se a ações voltadas principalmente para o atendimento a grupos e situações de riscos especiais para a saúde, como por exemplo: planejamento familiar, pré-natal, puericultura, diagnóstico precoce do câncer, atenção do idoso, atenção aos trabalhadores, atenção aos adolescentes, atenção aos portadores de sofrimento mental, hipertensão arterial, diabetes, tuberculose, hanseníase, desnutrição etc. As demais ações estão relacionadas à produção, processamento, utilização e divulgação de informações, incluindo alimentação da base de dados dos sistemas de saúde do Ministério da Saúde (SIM, SIAB, SINASC, etc); ações relacionadas à vigilância de saúde, incluindo vigilância epidemiológica, sanitária ambiental e de saúde dos trabalhadores, ações de comunicação tanto internas (dentro da unidade da Equipe) quanto externas (demais setores de saúde, da administração e da comunidade e etc.). Ações de natureza informativo-educativa que buscam aumentar a

15


capacidade de indivíduo, família e comunidade de compreenderem e atuarem sobre seus problemas de saúde e sobre os determinantes desses problemas. E por último as ações de natureza gerencial de unidade, e do cuidado da saúde, incluindo reuniões administrativas, visitas domiciliares, elaboração de protocolos, planejamento e avaliações de saúde. Esse aspecto é fundamental para que o trabalho da equipe consiga impacto nos indicadores de saúde locais, bem como para viabilizar a rede hierarquizada proposta pelo SUS, reduzindo a ocorrência de atendimento nos serviços de emergência. Neste sentido, também é importante a implementação de estratégias de organização e humanização da (5) demanda espontânea, através da prática do acolhimento e do conseqüente aumento da resolubilidade . Portanto, o profissional de saúde deve utilizar todo o seu saber para atender às necessidades do usuário e assim garantir a qualidade nos serviços de saúde. Significa a humanização do atendimento e, como tecnologia leve da prática do trabalho, deve estar presente no serviço de saúde, com vistas a organizar o processo de trabalho e conduzir a mudanças. Deste modo, o acolhimento busca garantir a escuta, o vínculo, a responsabilização, a atenção resolutiva e a articulação com outros serviços de saúde, quando necessário, para continuidade da assistência à saúde do usuário.

Considerações finais Considera-se relevante ressaltar no desenvolvimento desta investigação, a proposta de que a atenção básica deve organizar a lógica do sistema de saúde contrapondo-se à idéia errônea de atenção centrada no baixo custo, simplificada e com poucos equipamentos. Para tanto, a ESF deve ser estruturada de maneira que atenda de forma eficiente, eficaz e efetiva as necessidade de saúde da população adstrita e reduzir a demanda dos usuários com o intuito para melhorar a qualidade de vida da comunidade. Dessa forma, a USF não pode ser pensada como o lugar para atendimento de problemas de saúde de menor complexidade. A USF deve atender a uma demanda universal, de forma equânime e integral devendo ter uma resolutividade maior que 80% das intercorrências, encaminhando para serviços especializados e internações apenas os casos de maior complexidade, o que deve ser feito idealmente sempre através de mecanismo de referência e contrareferência formalizado entre as instituições, para garantir um atendimento integral, ou seja, um atendimento completo, proporcionando todos os cuidados/tecnologia que o individuo necessita para ter solucionado a sua necessidade ou seu problema de saúde. Acredita-se que os profissionais que operam na ESF devem entender a dinâmica, cabendo-lhe uma atitude de respeito e valorização das características peculiares de cada família, buscando, no cotidiano das relações, contribuir para a superação de conflitos danosos à saúde de seus membros, sobretudo os mais desprotegidos, como crianças e idosos, de forma dialógica e participativa. Esse conhecimento favorece especialmente a organização do serviço, foco do presente estudo, através de estratégias de organização da demanda.

Referências

1. DALMASO A. S. W.; SENNA D. M. Desenvolvimento de alternativas para a promoção da demanda espontânea em Unidade Básica de Saúde. São Paulo, 1996. 2.

16

NERY, S.R. O acolhimento no cotidiano dos profissionais das unidades de saúde de família em Londrina- Paraná

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


[dissertação]. Universidade Estadual de Lombrina, 2006. 3. BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde da Família: Uma estratégia para a reorganização do modelo assistencial. Brasília, 2002a. 4.

_______, Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF, 2006.

5. DUNCAN, B. B. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseada em evidências. 3. ed. Porto Alegre; Artmet, 2004. 6. SANTANA, M. L. Demanda Espontânea e Planejamento Estratégico Situacional no programa saúde da família de Pidomonhangaba [dissertação]. Universidade de Taubaté, 2008. 7. LEITE, F. T.; Metodologia Científica: métodos e técnicas de pesquisa: monografia, dissertações, teses e livros. Idéias & Letras, Aparecida, SP, 2008. 8. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Inovação gerencial em serviços públicos de saúde e cidadania. Brasília, 2002b. 9.

CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE. CONASS. Atenção Primária e Promoção de Saúde, 2004.

10. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Faculdade de Medicina. Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde. Curso de especialização em saúde da família: avaliação na EaD. Fortaleza, 2010. Disponível em:<http://www.medicina.ufc.br/unasus/cesf2/ead/aula_04/>. Acesso em: 06 de agosto de 2011. 11. FEUERWERKER, L. C. M.; ALMEIDA, M. J. O programa de Saúde da Família e o direito a saúde. Olho Mágico, Londrina, 2000. 12.

Secretaria de Políticas da Saúde. Departamento da Atenção Básica. A

implantação de uma Unidade de Saúde da família: Documento Consulta. Cadernos da Atenção Básica, Brasília, n.1, 2000. Estratégia Saúde da Família. 13.

BOTAZZO C. Unidade básica de saúde. A porta do sistema revisitada. Bauru: Edusc; 1999.

14.

BRASIL, Saúde da família: uma estratégia para reorientação do modelo assistencial. Brasília, DF, 1998.

17


Artigo 03 AS VARIAÇÕES DE GÊNERO E IDADE NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIA RESTAURADORA Sex and age variations of restoration odontology Isis de Araújo Ferreira Muniz1; Iris de Araújo Ferreira Muniz1; Antônio de Pádua Cavalcante da Costa2; Dayane Franco Barros Mangueira Leite2; Isabela Albuquerque Passos Farias2 1 Monitoras da Disciplina Escultura Dental da Universidade Federal da Paraíba 2 Professores Mestres da Disciplina Escultura dental da Universidade Federal da Paraíba E-mail: irismuniz-@hotmail.com

Resumo Na Odontologia, fatores como o gênero e a idade devem ser observados na reabilitação oral por influenciarem na anatomia e na estética dos dentes, uma vez que estes aspectos facilitam e aperfeiçoam as restaurações. O presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as variações de gênero e idade na prática da Escultura Dental inserida na Odontologia Restauradora, a fim de devolver a estrutura anatomofuncional perdida. Para a busca de artigos científicos, utilizaram-se sites eletrônicos como Pubmed, Scielo, Bireme, Periódicos Capes, com as seguintes palavras-chave: Escultura, Estética, Restauração Dentária Permanente. Indivíduos jovens possuem desníveis entre as bordas incisais com o diâmetro cérvico-incisal maior nos incisivos centrais e indivíduos senis apresentam ângulos vivos e nivelamento das bordas incisais decorrentes do desgaste fisiológico, além de alteração na estrutura dentinária que confere ao dente coloração escurecida. O sexo feminino apresenta contornos arredondados dos ângulos incisais com efeito esférico dos incisivos centrais e laterais superiores enquanto que o sexo masculino tem predomínio de ângulos retos com efeito cubóide nesses mesmos dentes. Dessa forma, essas diferenças devem ser levadas em consideração na escultura dos dentes, pois são relevantes na harmonia e naturalidade de um novo sorriso durante o procedimento restaurador estético. Palavras-chave: Escultura, Estética, Restauração Dentária Permanente.

Abstract In dentistry, factors such as gender and age should be observed in the oral rehabilitation by influencing the anatomy and aesthetics of the teeth, since these aspects facilitate and improve the restorations. This study aimed to conduct a review of the literature on gender and age variations in the practice of Dental Sculpture in Restorative Dentistry inserted in order to return the lost anatomical structure. For the search of scientific articles, electronic sites were used as Pubmed, Scielo, Bireme, Regular capes, with the following keywords: Sculpture, Aesthetics, Permanent Dental Restoration. Individuals youth have gaps between the incisal edges with the largest diameter in the cervical-incisal central incisors and senile individuals have sharp angles and smoothing the incisal edges resulting from the physiological toll, and change in the structure that gives the tooth dentin color darkened. Females have a rounded contour of incisal angles with spherical end of the upper central and lateral incisors, while males have a predominance of right angles cuboid in effect in those teeth. Thus, these differences must be taken into account in the sculpture of the teeth as they are relevant to the harmony and naturalness of a new smile during aesthetic restorative. Keywords: Sculpture, Aesthetics, Permanent Dental Restoration.

18

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


Introdução Na Odontologia, a satisfação estética tem vindo a assumir uma relevância crescente no conceito de saúde oral da população ocidental, estando associada, ao êxito social e profissional(1). Nesse sentido, fatores como o gênero e a idade devem ser observados na reabilitação oral por influenciarem na anatomia e na estética dos dentes(2,3). Para avaliar as diferenças do sorriso feminino e masculino, jovem e idoso, faz-se necessário praticar a percepção visual. Essa é um pré-requisito para a apreciação da estética, portanto, um olho treinado pode detectar prontamente o que está fora de equilíbrio, de simetria e harmonia(4). Nesse contexto, o conceito de estética é amplo e às vezes subjetivo e o cirurgião-dentista não é totalmente livre para criar, devendo, pois, respeitar os limites mínimos impostos pela natureza. Os seres humanos possuem senso estético, que é influenciado pela imagem que cada um tem de si próprio, bem como pela própria cultura(5). A crescente exigência dos pacientes por restaurações harmoniosas induz um aprimoramento dos profissionais da odontologia, o qual está relacionado ao conhecimento das variações do gênero e da idade, uma vez que estes aspectos facilitam e aperfeiçoam as restaurações estéticas. Objetivos O presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as variações de gênero e idade na prática da Escultura Dental inserida na Odontologia Restauradora, a fim de devolver a estrutura anatomofuncional perdida, restabelecendo a estética dentária. Metodologia Foi realizada busca de artigos científicos, utilizando-se sites eletrônicos como Pubmed, Scielo, Bireme, Medline e Periódicos-capes. Para recuperação e seleção dos artigos utilizaram-se as seguintes palavras-chave em português: Escultura, Estética e Restauração Dentária Permanente. Utilizou-se o sistema de formulário avançado “AND” para filtragem dos artigos relacionados ao tema. Revisão de literatura e Discussão O conhecimento da anatomia e das diferenças na saturação dos elementos dentais de acordo com o gênero e a idade são requisitos para execução de uma restauração estética. A interação da dentina e do esmalte determina diferentes características cromáticas nas regiões do dente. O terço cervical é a área mais saturada devido a predominância da dentina e à medida que se aproxima da borda incisal, essa (6) saturação diminui, observando-se uma zona translúcida devido à presença apenas de esmalte . Dessa forma, a seleção da cor nas restaurações de resinas compostas deve ser realizada no terço cervical para restaurar a dentina e no terço (7) incisal para restaurar o esmalte . Essas características cromáticas também variam de acordo com a idade. Nos jovens, a estrutura dentinária está inalterada, toda dentina é coberta por esmalte, que deve ter uma cor branco-amarelada a branco-acinzentada, pela cor da dentina, com borda incisal translúcida. Com o avanço da idade, a estrutura dentinária é alterada por diferentes estímulos e traumas, que favorecem a formação de dentina secundária e terciária, escurecendo ainda mais o dente. O esmalte apresenta uma estrutura fina, uma textura variável e uma alta translucidez, contribuindo assim para que o

19


dente fique mais escuro. Além disso, a função mastigatória resulta em desgaste na borda incisal, perdendo-se a zona de (1) translucidez . Quanto aos aspectos anatômicos, observa-se que em indivíduos jovens, os lóbulos de desenvolvimento ainda estão intactos, os ângulos incisais são arredondados, há desníveis entre as bordas incisais e o diâmetro cérvico-incisal é (3) maior nos incisivos centrais (Figura 1).

Figura 1 - paciente jovem: característica dental correspondente a idade. Fonte: Arquivo pessoal

O treinamento do cirurgião-dentista para observação desses detalhes é de fundamental relevância para o sucesso da restauração(6). Diferentemente, em indivíduos senis observa-se o nivelamento das bordas incisais decorrentes do desgaste fisiológico, consequentemente ângulos incisais retos(3) (Figura 2).

Quanto ao gênero, os incisivos centrais superiores são os dentes que mais apresentam dimorfismo sexual. No gênero masculino, esses elementos são mais volumosos e o diâmetro mésio-distal é mais acentuado, enquanto nas mulheres, os dentes são mais semelhantes entre si(2) (Figura 3 e 4). O gênero feminino apresenta como característica marcante contornos arredondados dos ângulos incisais, produzindo efeito esférico dos incisivos centrais e laterais superiores, diferindo do sexo masculino que possui ângulos incisais retos com efeito cubóide nesses mesmos dentes(3) (Figura 3 e 4).

20

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


Figura 3 - característica dental correspondente ao gênero masculino.

Figura 4 - característica dental correspondente ao gênero feminino.

Fonte: Arquivo próprio

Fonte: Arquivo próprio

Considerações finais Na Odontologia Restauradora, a prática dos aspectos distintos entre gênero e idade durante a execução da escultura dental contribui para o desenvolvimento da habilidade manual e percepção visual. Dessa forma, essas diferenças devem ser levadas em consideração na escultura dos dentes, pois são relevantes na harmonia e naturalidade de um novo sorriso. Referências bibliográficas CORREIA, A.; OLIVEIRA, M.A.; SILVA, M.J. Conceito de estratificação nas restaurações de dentes anteriores com resinas compostas. Rev Port Estomatol Cir Maxilofac, 2005, vol.46, p. 171-178. SALES-PERES, A. S. et al. Identificação de cadáveres através da arcada dentária.Revista Odontológica de Araçatuba, 2006, vol.27, n.1, p. 25-27. CASTRO Jr., O. V. de; HVANOV, Z. V.; FRIGERIO, M. L. M. A. Avaliação estética da montagem dos seis dentes superiores anteriores em prótese total. Pesq Odont Bras, 2000, vol. 14, n. 2, p. 177-182. COSTA, F.F.A. Análise da percepção estética entre cirurgiões-dentistas. 54f. Monografia. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2010. FRANÇA, P.V.B.R.; INOUE, R.T.; BONACHELA, W.C.; SALLES, M.A. Análise comparativa da percepção estética entre estudantes de odontologia e seus pacientes em relação à seleção de cor e forma de dentes artificiais. Innov Implant J, Biomater Esthet, 2010, vol. 5, n. 3, p. 23-28. MUNIZ, L., RHEM, M. Restauração de borda incisal translúcida: um desafio para aOdontologia Estética. Relato de caso clínico. R Dental Press Estét, jan./fev./mar. 2006, vol. 3, n. 1, p. 39-48. HOEPPNER, M. G. Tratamento estético de dente com alteração cromática: faceta direta com resina composta. Publ. UEPG Ci. Biol. Saúde, Ponta Grossa. set./dez. 2003, vol.9, n.3, p. 67-72. ARAÚJO, M.A.M. et al. Estética para o clínico geral. São Paulo: Artes Médicas. 285p, 2005.

21


Artigo 04 TRANSPLANTE DENTÁRIO: UMA REVISÃO DA LITERATURA Tooth transplantation: a review of literature Talvane Sobreira 1 Ingrid Cristina da Silva Pereira 2 Amanda de Sousa Galdino 2 Bruno Mesquita da Silva 2 Talita Lopes dos Santos 2

1 - Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial UFRJ, Mestre em Diagnóstico Bucal – UFPB / UFBA; Coordenador do Curso de Especialização de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ (talvane@talvanesobreira.com). 2 - Acadêmicos do curso de Odontologia, Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ (ingrid_695@hotmail.com).

Resumo O transplante dentário é uma alternativa de recuperação de elementos dentais perdidos, que consiste na transferência de um órgão dental do seu local de origem para outro alvéolo. O presente trabalho tem como objetivo explorar a técnica cirúrgica de transplante dentário, bem como suas indicações e seus benefícios através de uma revisão de literatura. Embora outros dentes possam ser submetidos a este procedimento, os terceiros molares na reposição de primeiros molares é atualmente o procedimento mais freqüente. Diversas são as indicações para a realização de transplantes dentais, podendo ser realizados em casos de perda precoce de elementos por processos infecciosos, traumatismos, impossibilidade de tratamento ortodôntico, ou mesmo por influência do fator financeiro. Apesar de não serem freqüentemente considerados como uma opção de tratamento, os transplantes dentários são uma alternativa válida aos implantes e à prótese, nos casos de perdas dentárias. Descritores: Transplante Dentário; Reabilitação Bucal; Cirurgia Bucomaxilofacial. Abstract The Tooth transplantation is an alternative to recover lost dental elements, which is the transfer of a dental organ of their place of origin to another socket. This paper aims to explore the surgical technique of tooth transplantation, as well as its indications and its benefits through a literature review. Although other teeth may be subjected to this procedure, the third molars in the replacement of first molars is currently the most frequent procedure. There are several indications to perform dental transplants, can be performed in cases of early loss of elements in infectious processes, trauma, inability to orthodontic treatment, or even influenced by the financial factor. Although not often considered as a treatment option, transplants are a viable alternative dental implants and prosthesis in cases of tooth loss. keywords: Tooth Transplantation; Oral Rehabilitation; Oral and Maxillofacial Surgery.

22

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


Introdução Embora o objetivo da Odontologia Atual seja a prevenção e promoção de saúde, as extrações dentais ainda ocorrem com muita freqüência. Os dentes mais precocemente extraídos são os molares permanentes, causando um desajuste oclusal e outros problemas no arco dental 1. Visando uma melhora estético-funcional do paciente, a Odontologia busca soluções para um dos problemas mais antigos e comuns nesta área, a perda de um elemento dentário. Sabe-se que, atualmente, o Implante Dental é o método mais procurado e almejado quando se trata de substituição dentária, devido à estabilidade, estética e conforto proporcionado ao paciente. Porém, é um método mais oneroso quando comparado a outras formas de reabilitação oral. O Transplante Dentário vem se tornando uma prática comum por atender as expectativas do paciente, além de ser biocompatível com os tecidos de suporte e proteção do elemento dentário, e financeiramente viável. Esta técnica consiste na transferência de um dente extraído de um alvéolo para outro alvéolo natural, ou para um alvéolo criado cirurgicamente. Existem três formas de transplante: autógeno, quando doador e receptor constituem a mesma pessoa; homógeno, quando realizado entre diferentes indivíduos, porém da mesma espécie; e heterógeno, quando realizado 2, 3 entre membros de espécies diferentes . O presente trabalho tem como objetivo explorar a técnica cirúrgica de transplante dentário, bem como suas indicações e seus benefícios através de uma revisão da literatura.

Revisão de literatura Transplante dentário é o termo utilizado para descrever a transferência de um órgão dental para outro local de um mesmo indivíduo, ou de um indivíduo, vivo ou morto, para outro indivíduo 4. O objetivo dessa manobra cirúrgica é substituir um dente clinicamente comprometido ou ausente, por outro distinto, que por diversos motivos, não se encontra em função na arcada nem tem condições para erupcionar 5. Essa técnica já data de muitas décadas e muitos relatos de sua tentativa são encontrados na literatura1. Os primeiros registros de transplantes dentais foram no Antigo Egito, onde os escravos eram forçados a doar seus dentes aos membros das castas superiores 3. Historicamente, a primeira referência sobre o verdadeiro transplante dental está no trabalho de Ambroise Paré (1564), renomado cirurgião francês da Renascença, que relatou o caso de uma dama da nobreza, que teve um dente extraído e substituído, com sucesso, por outro de uma de suas camareiras 6. Embora a técnica de transplante dental já existisse, foi através de dois estudiosos da Odontologia, Harland Apfel 7 e Horance Miller 8, que a técnica passou a ser protocolada e não mais realizada de forma empírica. Em 1950, utilizaram os terceiros molares na substituição dos primeiros e segundos molares. No Brasil, em 1966, Clovis Marzola se destaca como o pioneiro nacional da técnica, por fazer descrições sobre transplante autógeno e, mundialmente também na década de 60 outros grandes estudiosos como Leonard E. Shuman e 9, 10, 11, 12 Jean O. Andreasen se destacaram, por escrever trabalhos de grande valor sobre transplante de germe dental . 13 Os transplantes dentais são classificados, de acordo com sua origem, em 3 grupos distintos : 1. Autógeno, quando o dente é proveniente de um mesmo organismo; 2. Homógeno, quando o dente doador é proveniente de outro indivíduo, porém da mesma espécie; 3. Heterógeno, quando o dente doador e o organismo receptor pertencem a espécies diferentes. Em particular, os transplantes homógenos estão caindo em desuso, pois são freqüentemente

23


14

rejeitados pelo organismo receptor . Os transplantes estão indicados em casos de ausência dentária congênita, por perdas prematuras de molares permanentes, traumatismos, iatrogenias, perdas dentárias ocasionadas por tumores e, ainda, quando o tratamento 1, 15 protético for inviável por motivos socioeconômicos . 1 O transplante dentário é uma alternativa de tratamento viável . Porém, trata-se de um procedimento restrito, devido à idade do paciente e à fase de desenvolvimento radicular, do procedimento cirúrgico atraumático, além de 16 necessitar de uma proservação de longo período e colaboração do paciente . 9 Segundo Cuffari e Palumbo , além dessa opção de tratamento devolver a função mastigatória e estética ao paciente, evita o comprometimento do desenvolvimento da maxila e mandíbula, estimulando a formação óssea. Para além de bons resultados estéticos e funcionais, atua ainda como mantenedor de espaço, com a expectativa de longa durabilidade associada a muito pouca ou mesmo ausência de reabsorção radicular, ao mesmo tempo em que, devido à estimulação fisiológica do ligamento periodontal, assegura a manutenção do volume ósseo alveolar 5. Trata-se de um tratamento não-mutilador, com técnica cirúrgica de fácil execução, favorecendo os pacientes de baixo padrão sócioeconômico, por se tratar de um tratamento pouco oneroso quando comparado aos métodos tradicionais de 3, 9 reabilitação, como os implantes osseointegrados . Atualmente, os transplantes dentais mais empregados são aqueles em que se utiliza o germe do terceiro molar 14, 17, 18 inferior ou superior, transferindo-o para o alvéolo do primeiro molar . Os terceiros molares são indicados para o 19 transplante por ter sua formação tardia , sendo que, para o procedimento, sua raiz já deve apresentar uma formação satisfatória de no mínimo 1/3 e de no máximo 2/3 do desenvolvimento, tendo uma maior capacidade de 9 revascularização no alvéolo receptor . Para verificarmos o estágio de formação radicular, uma documentação radiográfica mínima deverá incluir uma 1 radiografia panorâmica e radiografias periapicais do dente a ser transplantado e do alvéolo receptor do transplante . Os prognósticos mais favoráveis dos transplantes, no que diz respeito a sua revascularização e reinervação, ocorrem em pacientes jovens, ou seja, em dentes com rizogênese incompleta, devido à possibilidade de 20 revascularização através do forme apical do dente transplantado . O sucesso do transplante depende, ainda, da integridade do folículo dentário, da assepsia e da técnica cirúrgica atraumática, bem como do menor tempo de 1, 16 permanência extra-alveolar do dente a ser transplantado . A análise periodontal e a condição sistêmica também devem ser levadas em consideração, pois um processo infeccioso poderá comprometer a biointegração do germe ao 10, 21, 1 alvéolo . 17 O transplante dental pode ser realizado pela técnica convencional ou imediata em uma única etapa , que consiste em realizar a extração do dente a ser transplantado e o preparo da cavidade óssea alveolar para o qual esse 18 dente será transferido ou pela técnica mediata, em duas etapas , na qual o alvéolo cirúrgico é preparado na primeira etapa. Após um período inicial de cicatrização de aproximadamente 14 dias, realiza-se, na segunda etapa, a exodontia e o transplante. O ato cirúrgico é muito semelhante à remoção de terceiros molares impactados, porém uma grande diferença é 1 que o dente transplantado não pode ser danificado durante a manipulação cirúrgica . A habilidade do cirurgião é de fundamental importância para que o saco pericoronário seja preservado no momento da remoção do germe do alvéolo, a raiz não deve ser tocada e o dente deve permanecer o menor tempo possível fora do alvéolo 9, 21. O germe dental deve ser colocado no alvéolo receptor, respeitando-se a orientação de sua face vestibulolingual e a 2mm em infra-oclusão para que não sofra traumas durante sua adaptação, favorecendo a anquilose e a reabsorção radicular, obedecendo também seu tempo cronológico de erupção 9, 21, 10. O alvéolo receptor deve possuir dimensões compatíveis com o dente a ser implantado, sendo verificado através de exame radiográfico. Caso isso não ocorra, deve

24

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


1

ser realizada uma adequação alveolar com o auxílio de brocas . A fixação estável deverá ser obtida nas primeiras fases do processo de cicatrização. Esta contenção do transplante pode ser feita com fio de aço 2-0 ou com fio ortodôntico 0,7mm na face vestibular do dente transplantado e dos dentes vizinhos, fixada com resina composta fotopolimerizável, limitando-a a um período de 90 a 120 dias, que será 22, 18 o tempo necessário para a cicatrização do processo alveolar e o transplante não apresentará mobilidade .

Discussão As indicações clássicas para a realização de transplantes são, respectivamente, terceiros molares para o local do primeiro ou mesmo de segundos molares; caninos inclusos não sujeitos á terapêutica ortodôntico-cirúrgica; prémolares inclusos ou ectópicos não sujeitos á terapêutica ortodôntico-cirúrgica; pré-molares com indicação de extração por motivos ortodônticos; terceiros molares para solucionar agenesias de pré-molares e colocação na arcada de 5 incisivos ectópicos, inclusos ou supranumerários . 23 Entretanto para Peterson , de um modo geral podem ser citadas outras indicações, como: indicações ortodônticas, dentes mal posicionados, dentes impactados que não podem erupcionar dentro de uma oclusão funcional, finalidades estéticas e motivos econômicos. A grande vantagem do transplante em relação a outras modalidades de tratamento, que visam substituir dentes perdidos, é que o mesmo permite desenvolvimento do processo alveolar. Porém o sucesso do procedimento vai depender de diversos fatores, como a técnica cirúrgica adequada, mínimo trauma na região, grau de desenvolvimento radicular do dente selecionado, ausência de carga mastigatória precoce e acompanhamento clínico/radiográfico. É importante que o dente a ser transplantado apresente de dois terços a três quartos do comprimento radicular, e o forame apical ainda esteja aberto, sendo importante que o alvéolo receptor não apresente evidência de lesão inflamatória aguda, devendo esta área ser preparada para o transplante potencial 24. Algumas manobras na realização dos transplantes autógenos apresentam-se conflitantes na literatura, como a realização de tratamento endodôntico nos dentes transplantados. 25 Em um trabalho realizado por Giancristófaro , não se verificou qualquer alteração clínica ou radiográfica que suportasse a necessidade da realização do tratamento endodôntico. Já em outro trabalho publicado por Pedroso 26, verificou-se pequenas e restritas áreas de reabsorções radiculares e grandes áreas de anquilose, principalmente do tipo ósseo-cementária. Pagliarin e Benato 10 observaram em seus trabalhos a necessidade da realização do tratamento endodôntico dos elementos transplantados pela presença de área radiolúcida difusa apresentada nos exames radiográficos um ano após a cirurgia. Ficando, assim, a realização ou não do tratamento endodôntico, a depender do caso apresentado. A fim de se obter uma fixação estável nas primeiras fases do processo de cicatrização, é indicada à contenção do transplante que pode ser feita com fio de aço 2-0 ou ainda com fio ortodôntico 0,7 mm nas faces vestibulares do dente 1 transplantado e dos dentes vizinhos, devendo ser eliminada em um período de 90 a 120 dias . Além da contenção esta fixação pode ser realizada por meio de aparelhos ortodônticos, com a fixação dental 17 com braquetes, o que facilita a higienização bucal. Também podem ser utilizados o cimento cirúrgico e o fio de sutura .

Considerações finais O objetivo do tratamento odontológico é a manutenção da dentição natural com saúde e função durante a vida do paciente.

25


Apesar de não serem freqüentemente considerados como uma opção de tratamento, os transplantes dentários são uma alternativa válida aos implantes e à prótese, nos casos de perdas dentárias. Quando corretamente indicado, o índice de sucesso do transplante dental é grande e permite devolver as características estéticas e funcionais ao paciente.

Referências 1 SEBBEN, G.; CASTILHOS, M. D. S.; SILVA, R. F. D. C. E. Transplantes autógenos de terceiros molares inclusos. Revista da ADPPUCRS, Porto Alegre, v. 5, p. 111 - 109, dezembro 2004. 2 ANDREASEN, J.O. Interrelation between alveolar boné and periodontal ligament repair after replantation of mature permanent incisors in monkeys. J Period Res, 1981 Mar; 16(2): 228-35. 3 CLOKIE, C.M.; YAU, D.M.; CHANO, L. Autogenous tooth transplantation: an alternative to dental implant placement? J Can Dent Assoc 2001 Feb; 67(2): 92-6. 4 FIGUEIRA, L. H. Transplantes Dentários em Ortodontia. Revista ATO, p. 724-761, 2005. 5 ROCHA, G. N. P. D. Relação entre Cirurgia e Ortodontia: Autotransplantes Dentários. Implantologia, Portugal, v. 1, p. 2426, dezembro 2002. 6 MARZOLA, C. Transplantes autógenos de terceiros molares inferiores no homem - Estudo clínico e radiográfico. Tese de Livre Docência, Fac. Odont. Bauru – São Paulo. 1968. 7 APFEL, H. Autoplasty of enucleated prefunctional third molars. J Oral Surg. 1950; 8:289-96. 8 MILLER, H.M. Transplantation. Case report. J Amer Dent. 1950; 40:237-8. 9 CUFFARI, L.; PALUMBO, M. Cirurgia implante de Germe Dental, JBC.1998. Disponível em http://www-cirurgiaoralcomartigos-transplante-htm. Acessado em: 26/11/2011 às 11h30min. 10 PAGLIARIN, F. de O. ; BENATO, M. Transplante Dentário Autógeno, Clínica Pesquisa Odontológica. Curitiba, v. 2, n. 2, p. 231-240, jan/mar., 2006. 11 PROVEDEL, L.F. ; ALVES.M. ; JAMBEIRO. A. de S. Autotransplante de Molares. Salvador. 5 p. 2006. 12 SOUZA, J.G. Transplante Autógeno de Germe de Terceiro Molar. RGO. Porto Alegre. v. 50, n. 3, p. 175-176, jul/ago/set., 2002. 13 KRISTERSON, L.; ANDREASEN, J.O. The effect of splinting upon periodontal and pulpal healing after autotransplantation of mature and inimature permanent incisors in monkeys. J Oral Surg. 1983; (12):239-49. 14 MARZOLA, C.; TOLEDO FILHO, J. L.; PASTORI, C. M. et al., Os transplantes dentais após três décadas de realizações –

26

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


Reconhecimento e avaliação – parte I – Épocas primitiva, atual e transplantes autógenos de terceiros molares. Rev. Odonto Ciência, POA-RS, v. 2, n. 22, p. 51-73.1996. 15 STENVIK, A.; ZACHRISSON, B.U. Um caso de difícil solução, facilitado pelo autotransplante: Agenesia de um incisivo e de dois pré-molares inferiores, com trespasse vertical acentuado. Rev Clin Ortod Dental Press 2002; 2:61-67. 16 SHUMAN, N. J.; OWENS, L. G.; MINCER, H. H. Dental transplants: discussion and case report. J. Clin. Pediatr. Dent., v. 21, n. 4, p. 281-5, 1997. 17 MARZOLA, C. Transplantes e reimplantes. 2a ed. São Paulo: Ed. Pancast, 1997. 18 MARZOLA, C. Fundamentos de Cirurgia bucomaxilofacial [CD-ROM]. 2005. cap. XII. Transplantes dentais. 19 COUNIHAN, D. R. et al., Defense of transplants: a casa report. Dent. Update, v. 24, n. 4, p. 138-42, may, 1997. 20 SORG, H.R. Nerve regeneration in replanted hamster teeth. J. dent. Res., v. 39, p. 1222-31, sep., 1960. 21 MOTTA, B.. ; FERREIRA, A.. Transplante de Germe Dental: Requisito e Técnicas Cirúrgicas. 2007. Disponível em: http://www.odontosites.com.br/artigos/cientifico/ transplante_dental.htm. 22 GRANDINI, S. A; BARROS, V. M. R.; NAVARRO, N. V. Avaliação clínica de alguns métodos de contenção empregados em reimplantes e em transplantes dentais autógenos. Rev. Odont. Univ. São Paulo, v. 3, n. 4, p. 496-501, out.,/dez.,1989. 23 PETERSON, L.J. et al. Cirurgia Oral e Maxilo Facial Contemporânea. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1996. 24 BARBIERI, A.A. et al. Cirurgia de transplante autógeno pela técnica imediata. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-fac., Camaragibe v.8, n.3, p. 35 - 40, jul./set. 2008. 25 GIANCRISTÓFARO, M. et al. Transplante dental: Revisão da Literatura e Relato de Caso. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, 2009. jan-abr; 21(1): 74-8. 26 PEDROSO, J. A. Transplante Dental Homógeno para Alvéolos Imediatamente após a Exodontia ou em Fase Inicial de Cicatrização – Análise Histológica em Ratos. Rev. OdonteI. UNESP, São Paulo, 22(1): 85-95, 1993.

27


Artigo 05 REPERCUSSÕES DA MASTECTOMIA NA MULHER COM CÂNCER DE MAMA Repercussions of mastectomy in women with breast cancer Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho1; Nieje Barbosa de Almeida2; Thaís Monara Bezerra Ramos2 1. Prof Ms Imunologia FASER (orient_pedromarcos@hotmail.com); 2. Discente de Enfermagem FASER (niejealmeida@hotmail.com); 3. Discente de Enfermagem FASER (thaismonara_rr@hotmail.com).

Resumo Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos podendo espalhar-se para outras regiões do corpo, caracterizando a metástase. O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido a sua alta freqüência e, sobretudo, pelos seus efeitos psicológicos. Diante do exposto, o estudo tem por objetivo, descrever à luz da literatura pertinente ao tema as repercussões da mastectomia na mulher com câncer de mama. Tratou-se de um estudo, com caráter bibliográfico, baseado na literatura pertinente ao tema, desenvolvido no acervo bibliográfico da Faculdade Santa Emília de Rodat (FASER), bem como em outras fontes, tais como revistas e sites indexados da internet, fundamentados à luz da literatura. A referida literatura aborda o fato que a perda da mama, parte do corpo fundamental para a identidade feminina, resulta na alteração negativa da imagem corporal. A retirada desse órgão representa uma limitação estética e funcional, que provoca uma imediata repercussão física e psíquica, constituindo um evento traumático para a maioria das mulheres, trazendo prejuízo em sua qualidade de vida, na satisfação sexual e recreativa. A paciente com câncer sofre forte falta de prestígio dentro do contexto social, familiar e profissional, conduzindo a profundos impactos em sua qualidade de vida. No relacionamento entre mãe e filhos ocorre uma inversão de papéis, pois a mãe que culturalmente exerce a função de cuidadora, protetora e provedora afetiva, agora é quem necessita de cuidados, proteção e afeto. Conclui-se que a mastectomia pode representar não só a mutilação do corpo, como também a mutilação da condição feminina. A mama é um órgão repleto de representatividade para cada mulher, e a falta dele pode acarretar num sentimento de vazio, desestruturando emocionalmente a paciente. Palavras chave: Mastectomia na mulher, câncer de mama. Abstract Cancer is the name given to a set of more than 100 diseases that have in common the uncontrolled growth of cells that invade the tissues and organs and can spread to other body regions, characterizing metastasis. Breast cancer is probably the most feared by women, due to its high frequency and, especially, for its psychological effects. In this light, the study aims to describe the light of the literature concerning the matter the repercussions of mastectomy in women with breast cancer. It was a study with bibliographical character, based on the literature pertaining to the theme, developed in bibliographic College of Santa Emilia Rodat (FASER), as well as other sources such as magazines and Internet sites indexed, based in the light the literature concerning the matter. Such literature addresses the fact that the loss of the breast, body part essential to female identity, results in a change of negative body image. The removal of this organ

28

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


represents an aesthetic and functional limitation, which causes an immediate physical and psychological impact, constituting a traumatic event for most women, harm their quality of life, sexual satisfaction and recreational. The cancer patient suffers acute shortage of prestige within the social context, family and work, leading to profound impacts on their quality of life. In the relationship between mother and child is a role reversal, as the mother who plays the role of culturally caring, affectionate protector and provider, now is the one who needs care, protection and affection. We conclude that mastectomy may represent not only the mutilation of the body, as well as the mutilation of the female condition. The breast is an organ full of representativeness for each woman and the lack of it can cause a feeling of emptiness, the patient emotionally destabilized. Keywords: Mastectomy in women with cancer.

Introdução Quando uma mulher faz o auto-exame periódico das mamas e encontra um nódulo, inicia-se imediatamente um processo interno de dúvidas e incertezas relacionadas à possibilidade de aquele achado ser ou não um câncer. Afinal, a palavra câncer contém em si, ainda, um grande estigma: é sinônimo de morte. A palavra câncer é originária do latim cancer cancrí, caranguejo. 15 O câncer de mama é a neoplasia maligna que mais atinge o sexo feminino e é a maior causa de mortes por este tipo de doença, sendo responsável por cerca de 20% dos óbitos por câncer entre as mulheres. A partir do momento em que a mulher descobre que tem um nódulo na mama, dá-se início a um processo interno de dúvidas e incertezas que podem ou não ser "amenizadas" através do exame físico e exames radiológicos. 14 As mamas são consideradas anexos da pele, pois seu parênquima é formado de glândulas cutâneas modificadas que se especializam na produção de leite após a gestação. 5. O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido a sua alta freqüência e, sobretudo, pelos seus efeitos psicológicos. A sociedade atribui uma importância fundamental as mamas femininas e, nos últimos tempos, isso vem estimulando a vaidade da mulher, como forma de valorizar sua beleza, visto que as normas sociais parecem determinar que a mulher necessite ter mamas belas para a construção da sua feminilidade. No entanto a mastectomia representa para a mulher, a perda de algo que julgasse essencial, para o seu relacionamento interpessoal, gerando repercussões físicas, sociais, psicológicas e estreitamento no binômio mãe/filho ¹³.

Objetivo O objetivo do tema exposto, implica em descrever à luz da literatura pertinente ao tema, as repercussões da mastectomia na mulher com câncer de mama.

Procedimentos Metodológicos O método utilizado para o desenvolvimento da temática em discussão é decorrente de um apanhado de caráter bibliográfico realizado no acervo da biblioteca da Faculdade Santa Emilia de Rodat - FASER, como também em revistas referentes ao conteúdo abordado e informações adquiridas em sites de credibilidade, durante o período de Outubro de 2011 a Janeiro de 2012, posteriormente os dados coletados foram analisados e interpretados à luz da literatura concernente ao tema.

29


Discussão Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos podendo espalhar-se para outras regiões do corpo, caracterizando a metástase. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a 11 formação de tumores através do acúmulo de células cancerosas ou neoplásicas malignas (figura 1).

Figura 1: Mama acometida por tumor mamário. Fonte: Cardenas, 2009.

A cirurgia e sua associação a outros tratamentos para o câncer podem interromper os hábitos de vida da mulher, provocando alterações nas suas relações familiares e sociais, quase sempre provenientes também de sentimentos de 9 impotência e de frustração sobre algo que foge ao seu controle, como o próprio temor da doença. A perda da mama, parte do corpo fundamental para a identidade feminina, resulta na alteração negativa da imagem corporal. A retirada desse órgão representa uma limitação estética e funcional, em suas atividades cotidianas que provoca uma imediata repercussão física e psíquica, constituindo um evento traumático para a maioria das mulheres, trazendo prejuízo em sua qualidade de vida, na satisfação sexual e recreativa (figura 2).

Figura 2: Extirpação da mama. Fonte: Luiz; Gonçalves, 2010.

30

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


A mulher pode, então, se sentir estranha manifestar sentimentos de vergonha, embaraço, ter dificuldade de se relacionar com o marido, se sentindo sexualmente repulsiva, passando a evitar contatos sexuais. Um medo muito freqüente entre as mulheres mastectomizadas é o de não ser mais atraente sexualmente. Esses conflitos são resolvidos quando a mulher é capaz de reconhecer-se e aceitar-se em sua nova imagem. Para isso, é fundamental viver um processo de luto para elaborar essa perda. 1 As dificuldades encontradas na retomada da vida social após a mastectomia é caracterizada por uma série de fantasias e medos, despertados pelo contato com o mundo externo, implicando numa mudança de comportamento em 6 que as mulheres mais sociáveis tornaram-se mais reservadas. A mastectomia é um dos métodos mais utilizados para o tratamento do câncer de mama. É uma cirurgia mutiladora que visa remover todo o tumor visível. Como conseqüência dessa técnica pode ocorrer prejuízos de ordem física, emocional e social. Na ordem física podem ocorrer infecções e há limitação nos movimentos dos braços e ombros, limitando as atividades diárias; o emocional fica abalado, circundado de sentimentos negativos em relação à doença; no 12 campo social, a mulher encontra dificuldade em decorrência do sentimento de vergonha, escondendo a mutilação. O tratamento quimioterápico, seja pré e, principalmente, pós-operatório, provoca reações de luto pelo impacto nas mudanças corpóreas como a queda de cabelo, muitas vezes expressa como maior preocupação (no íntimo espelha o que a alopécia representa na psique da paciente: a diminuição da feminilidade, o estigma do câncer, o estigma da morte, a rejeição do sentimento de piedade, o preconceito, autodefesa, uma fase de rejeição, como representado na figura 3). As alterações psicológicas que acompanham o diagnóstico e tratamento do câncer de mama iniciam-se a partir 14 do momento que a mulher suspeita de que o nódulo que descobriu, através do auto-exame, possa ser um câncer.

Figura 3 : Alopecia, um evento agressor para mulher mastectomizada. Fonte: Cosmedical; Inalu, 2011.

Segundo tipo mais freqüente no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. Se diagnosticado e tratado oportunamente, o prognóstico é relativamente bom. No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estádios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%. O câncer de mama e relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Estatísticas indicam aumento de sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes. 11 De modo geral, o câncer de mama tem como características, no self feminino, um aumento no senso de

31


responsabilidade em relação a si mesma, uma maior vulnerabilidade, mudanças na auto-estima, raiva, medo da morte, de mudanças e da perda e mudanças na autoimagem, perda da feminilidade. O self psicológico feminino é o eu feminino, é o ser e sentir-se como mulher: ser feminina, ter um corpo feminino, ter seios, menstruar e ser capaz de envolver-se em uma relação sexual. 14 Quanto ao relacionamento interpessoal, a família se insere em uma significativa parte de apoio, mais próximo a mulher, visto que constitui um fator essencial na sua recuperação e retomada as atividades cotidianas (figura 4). Contudo é necessário enfatizar acerca da relação entre mãe/filho, pois a mulher sempre foi vista como uma cuidadora, protetora gerando afeto, amor e carinho no lar, no entanto nesta nova fase ocorre o inverso ela necessita de proteção, 13 como também outros cuidados especiais da parte dos filhos.

Figura 4: União Familiar. Fonte: Vargas, 2011.

Considerações finais As mudanças e as dificuldades na vida de uma mulher em função do câncer de mama ocasionam uma gama de sentimentos, o que gera modificações na imagem corporal, auto-estima e relacionamento social, pois a mama é um órgão repleto de representatividade para cada mulher e a ausência dele pode acarretar num sentimento de vazio, desestruturando emocionalmente a mulher mastectomizada. Devemos nos ater que o adoecer é uma experiência única, uma experiência de desordem, que adquire um sentido específico no momento existencial dessa mulher, com significados que os sintomas, as experiências com o tratamento e as relações interpessoais passam a ter no contexto de sua vida. É importante ressaltar que a doença atinge a unidade corpo, mente e espírito, no entanto, essa experiência pode ser menos traumática e superada gradualmente se houver o apóio dos profissionais de saúde ao considerarem também o aspecto psicossocial da mulher, associado ao apóio familiar. E para tanto, a assistência deve ser voltada para melhora da qualidade de vida em toda a sua amplitude, pois os cuidadores devem ser vistos como colaboradores, manifestando principalmente a empatia, pois só sabemos como gostaríamos de ser tratados quando nos colocamos na situação vivenciada pelo outro. Sendo assim, a mulher nesse período de adaptação com o “novo” precisa de acompanhamento/apóio profissional e familiar dentro do entendimento que vai muito além da doença em si, pois o que verdadeiramente precisa estar em foco são os sentimentos, as angústias, as dúvidas e as dificuldades destas mulheres, e não só sob o aspecto da doença.

32

ANO III - Nº 8 - FEVEREIRO/2012


Dessa forma, o ser humano deve ser considerado em sua totalidade, de forma holística, o que valoriza o outro em sua singularidade, possibilitando, aos profissionais de saúde, uma visão que privilegie as práticas diárias do assistir a cliente de maneira compreensiva e humanizada.

Referências 1. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA). Ações de Enfermagem para o Controle do Câncer: Uma Proposta de Integração Ensino-Serviço. 3ªed. Rev. atual. Ampl. Rio de Janeiro: INCA, 2008. 2. BERVIAN, I. P.; PERLINI, N. M. O. G. A família vivendo com a mulher/mãe após a mastectomia. Revista Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v. 52, n. 2, p. 121-128, mar. 2006. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_52/v02 /pdf/artigo1.pdf>. Acesso em: 25 Agosto. 2011. 3. BELTRAN, AG; BARRETO, S.S. Cuidando de pacientes que faleceram por câncer de mama: a experiência dos familiares. Rev Bras Cancerol. 2000; 46(2):155-62. 4. CUNHA, C.G. (2004). Apoio familiar: presença incondicional à mulher mastectomizada. Monografia Especialização Residência em Saúde da Família, Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Ceará. Acesso em 16/09/2011. Disponível em http://www.sobral.ce.gov.br/saudedafamilia. 5. DANGELO, Jose Geraldo; FATTINI, Carlos Américo. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2007. 6. DUARTE, T.P. & ANDRADE, A.N. (2002). Enfrentando a mastectomia: análise dos relatos de mulheres mastectomizadas sobre questões ligadas à sexualidade. Acesso em 30/05/2011. 7. FERNANDO, A.F.C; MAMEDE, M.V. Câncer de mama: mulheres que sobreviveram. Fortaleza (CE): UFC, 2003. 8. FERREIRA, M.L.S.M. & MAMEDE, M.V. (2002). Representação do corpo na relação consigo mesma após mastectomia. 9. PRADO, J.A.F.A. (2002). Supervivência: novos sentidos na vida após a mastectomia. Tese de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina. Acesso em 09.08.2011. Disponível em http://www.tede.ufsc.br/teses/PPSI0076.pdf. 10. SAMPAIO, A.C.P. (2006). Mulheres com câncer de mama: análise funcional do comportamento pós-mastectomia. Tese de Mestrado, Universidade Católica de Campinas. Acesso em 18/08/2011. Disponível em http://dominiopublico.mec.gov/download/texto/cp000360.pdf. 11. 1. ARAN, M.R.; ZAHAR, S.; DELGADO, P.G.G.; SOUZA, C.M.; CABRAL, C.P.S. (2000). Representações de pacientes mastectomizadas sobre doença e mutilação e seu impacto no diagnóstico precoce do câncer de mama. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 45 (11), 633-639. 12. VIANA, A.M.S.A. (2004). Avaliação psicológica de pacientes em reconstrução de mama: um estudo piloto [Versão eletrônica]. Estudos de Psicologia. (21) 3. Acesso em 20.09.2011. 13. SIMONTON, S.M. A família e a cura: o método Simonton para famílias que enfrentam uma doença. São Paulo: SUMMUS; 1990. Acesso em 20/12/2011. Disponível em http://www.inca.gov.br/rbc/n_51/v03/pdf/artigo4.pdf. Figura 1 : A n d r é L u i z . D i s p o n í v e l e m : http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.macmillan.org.uk/Cancerinformation.Acesso em 0 5 / 0 1 / 2 0 1 2 . F i g u r a 2 : C a r l o s Va r g a s . D i s p o n í v e l e m :http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/FzHeJguL7NM/TiIzd2G6T8I/. Acesso em 07/01/2012. 14. MALUF; MORE, CARLOS. O impacto psicológico do câncer de mama. São Paulo, 2005. 15. HALBE, H,W. Tratado de ginecologia. 3 ed. São Paulo: Roca; 2005.

33


Normas

34

ANO III - Nยบ 8 - FEVEREIRO/2012


35


36

ANO III - Nยบ 8 - FEVEREIRO/2012


37


38

ANO III - Nยบ 8 - FEVEREIRO/2012


Praça Caldas Brandão s/n, Tambiá João Pessoa - Paraíba - Brasil - CEP 58020-560 Fone: +55 (83) 3214.4820


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.