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Práticas de design instrucional na elaboração de módulos de formação em Educação a Distância e Digital para professores do Ensino Superior

Fernanda Araujo Coutinho Campos ‡

Helena do Carmo Banza Manuelito ‡

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Cláudia Patrícia Lopes do Carmo Trigo Asseiceiro †

Marco António Gonçalves Dias‡

Diogo Casanova‡

‡ Universidade Aberta fernanda.campos@uab.pt helena.manuelito@uab.pt claudia.asseiceiro@uab.pt marco.dias@uab.pt diogo.casanova@uab.pt

Resumo

Este trabalho relata a experiência da elaboração do design instrucional de módulos de formação em Educação a Distância e Digital (EaDD), dirigidos a professores do Ensino Superior em Portugal, concebidos no âmbito do Plano de Formação em Educação a Distância e Digital da Universidade Aberta. Este plano procura fomentar o desenvolvimento de competências pedagógicas dos professores, sobretudo de Instituições de Ensino Superior tradicionalmente presenciais, capacitando-os para a criação e acompanhamento de cursos e de unidades curriculares (UC) no regime a Distância e Digital. Com esta ação a Universidade Aberta visa apoiar e cooperar com as instituições que a procuram para se prepararem para a transição digital no ensino, através da elaboração de estratégias de inovação pedagógica ajustadas aos contextos de EaDD ou híbridos. Neste sentido, os percursos formativos foram organizados em 5 módulos de curta duração, nomeadamente: “Docência Digital em Rede”, “E-atividades no Desenho de Cursos”, “Projeto de UC em Ambiente Digital”, “Avaliação Digital das Aprendizagens” e “E-moderação e Feedback”. Realizados totalmente a distância, com atividades predominantemente assíncronas, os módulos estão alicerçados nos primados do Modelo Pedagógico da Universidade Aberta e na Conversational Framework de Diana Laurillard.

Palavras-Chave: design instrucional, formação de professores, microcredenciais, educação a distância digital

1. Contextualização

A publicação do Decreto-Lei n.º 133/2019, que confere papel central à Universidade Aberta (UAb) na formação dos docentes do Ensino Superior para o Ensino a Distância (EaD), está na base do lançamento pela UAb, em 2021, do “Plano de Formação em Educação a Distância e Digital” (EaDD), dirigido a professores do Ensino Superior, realizado totalmente a distância com enfoque no Ensino Digital. Neste Plano, professores especialistas, coordenadores científicos com a função de criação de conteúdos científicos, conjuntamente com designers instrucionais (DI), planearam os módulos de formação, organizaram o ambiente virtual, elaboraram os recursos de aprendizagem e definiram as formas de interação. Aos DI coube “integrar propostas de ensino, metodologias e práticas pedagógicas contextualizadas e as mais adequadas tecnologias digitais para o oferecimento de boas experiências de ensino” (Kenski, 2022, p. 35). Nesta exposição, focamos a escolha metodológica e pedagógica subjacente à elaboração dos módulos e os principais resultados decorrentes do trabalho de design instrucional.

2. Descrição da prática pedagógica

O “Plano de Formação em Educação a Distância e Digital” foi estruturado em 5 módulos de curta duração, no contexto da Aprendizagem ao Longo da Vida, em formato de Microcredencial, conceito inovador adotado pela Comissão Europeia para reconhecer a aquisição de objetivos de aprendizagens/competências em formações curtas e não conducentes de grau.

Quadro 1

Módulos do Plano de Formação a Distância e Digital

2.1. Objetivos e público-alvo

O objetivo geral desta Microcredencial é o de desenvolver competências pedagógicas para que os docentes sejam capazes de adaptar o seu ensino e de atuar no regime de Educação a Distância e Digital. No final do percurso, conforme anunciado pela Universidade Aberta, os formandos devem ser capazes de “(...) encontrar respostas fundamentadas para os problemas da sua prática e que lhes confiram a possibilidade de avaliarem a eficácia de inovações, de forma a contribuírem para um ensino digital de sucesso” (Universidade Aberta, 2022, p. 4), nomeadamente:

• Perspetivar e refletir sobre a prática pedagógica em contextos de EaD;

• Analisar processos de comunicação e interação em contextos educativos digitais;

• Mobilizar estratégias pedagógicas relevantes, nomeadamente ao nível do desenho de atividades para os contextos educativos digitais;

• Selecionar recursos educativos adequados em função do contexto e da população alvo;

• Conceber, desenhar e desenvolver um projeto de curso/módulo/unidade curricular em EaDD.

Os módulos “Avaliação Digital das Aprendizagens” e “E-moderação e Feedback” são destinados à formação interna dos docentes da UAb e têm, respetivamente, por objetivos:

• Delinear a avaliação pedagógica como processo de assistência à aprendizagem, numa perspectiva edumétrica da avaliação, e desenhar um plano de avaliação para uma UC em contexto digital;

• Desenhar uma estratégia de feedback e de presença online para uma UC (unidade curricular) ou para uma disciplina específica.

No âmbito das Microcredenciais, a Universidade Aberta criou um Centro de Competências, responsável pelo desenho instrucional e produção dos módulos, de forma a garantir a sua qualidade no quadro de práticas de referência e inovação em EaDD. Este Centro contribui, também, para a disseminação de competências no contexto interno e externo, através da dinamização de atividades que visam colmatar necessidades de formação pontuais ou contínuas, e da produção de recursos com vista à capacitação docente. O Centro integra quatro designers instrucionais, especialistas na área de Educação e na produção de recursos de aprendizagem digitais, audiovisuais e multimédia, tendo iniciado as suas atividades no ano de 2021.

O público-alvo deste Plano de Formação são professores do Ensino Superior (universitário e politécnico) que, por orientação das suas instituições, necessitam desenvolver competências pedagógicas em EaDD.

2.2. Metodologia

A formação assentou em opções pedagógicas estratégicas, com o intuito de promover oportunidades de aprendizagem autênticas, que permitissem aos docentes/formandos experienciar múltiplas atividades, contextos e experiências, e posicionar-se em relação à sua própria identidade académica e conceção do ensino em contexto a distância e digital.

Promoveu-se, por isso, a indagação pedagógica, propiciando a (auto)reflexão, o envolvimento com a literatura e a criação de comunidades de prática (Huet & Casanova, 2021). Procurouse adotar uma abordagem experimental e instrumental, ou seja, facultar a aplicação dos conhecimentos para colmatar uma necessidade existente (ex.: elaborar uma ficha de unidade curricular em contexto de EaDD).

Nos processos de design instrucional, optámos pelo modelo aberto, pela liberdade de reconfigurar os percursos de aprendizagem a partir do feedback obtido pelos formandos, privilegiando os processos de aprendizagem, de forma flexível e dinâmica (Filatro, 2008), conjugado com as etapas do ADDIE (análise, desenho, desenvolvimento, implementação e avaliação), um dos modelos mais clássicos nesta área (Filatro, 2008), com adaptações à realidade experienciada pelos DI.

Fonte: Autoria própria

O desenho dos percursos e atividades de aprendizagem, centradas no estudante, foi inspirado na Conversational Framework, proposta teórica de Laurillard, em que emergem os tipos de aprendizagem “Aquisição”, “Discussão”, “Colaboração”, “Prática”, “Investigação” e “Produção” (Laurillard, 2012).

2.3. Avaliação

A satisfação dos formandos é recolhida através de inquérito, organizado em três secções, cada uma com cerca de 10 questões formuladas na Escala Likert, e três questões abertas. O inquérito permite-nos apurar a satisfação dos formandos com a qualidade de aspetos nucleares dos módulos, recolher a perceção relativamente ao seu desempenho e à transferência/aplicabilidade das competências no seu contexto de trabalho. Decidiu-se somar as escalas de “concordo totalmente” e “concordo” de cada afirmação (4 e 5 da escala) para atribuir o grau de satisfação. Ex.: na afirmação “O módulo estava bem organizado” 94% responderam “concordo” ou “concordo totalmente”, então considerou-se que 94% estão satisfeitos com essa componente. Por este meio são obtidas sugestões de melhoria, analisadas pela equipa de DI e pelos coordenadores científicos, e são reformulados aspetos pertinentes.

3. Resultados, implicações e recomendações

Os módulos contaram, até agora, com 575 formandos, em 22 turmas. Destes, 272 (47%) responderam aos inquéritos e com base nessas respostas apurámos os resultados apresentados. Na sua análise, sublinhamos a perceção dos formandos sobre o desenho dos módulos e sobre a sua própria aprendizagem.

Figura 2

O módulo estava bem organizado na plataforma

Figura 3

Os objetivos de aprendizagem estavam formulados de forma clara

Fonte: Autoria própria

Fonte: Autoria própria

Figura 4

As instruções das atividades foram claras e objetivas

Figura 5

Os recursos foram diversificados

Fonte: Autoria própria

Fonte: Autoria própria

Figura 6

As instruções de avaliação foram claras

Figura 7

Colaborei com os meus colegas e partilhei conhecimento

Fonte: Autoria própria

Fonte: Autoria própria

Figura 8

Pesquisei recursos com vista a aprofundar o conhecimento

Figura 9

Sinto que atingi os objetivos de aprendizagem

Fonte: Autoria própria

Fonte: Autoria própria

Aplicarei o que aprendi na minha prática profissional

As atividades ajudaram-me a alcançar os objetivos de aprendizagem

4. Conclusões

Os módulos têm sido bem aceites pelos formandos, como atestam as respostas aos diversos itens de avaliação: 93% aplicarão o que aprenderam na sua prática e 91% sentem que adquiriram os objetivos de aprendizagem propostos. As áreas menos bem avaliadas foram a usabilidade (justificado, eventualmente, pela pouca familiaridade com a Moodle), a falta de tempo para participar nas atividades e a colaboração com os colegas. Estes dois últimos itens estão relacionados e devem ser equacionados à luz da própria disponibilidade e perceção de relevância que os docentes encontram no desenvolvimento da dimensão pedagógica da sua prática.

5. Referências Bibliográficas

Huet, I., & Casanova, D. (2021). Exploring the professional development of doctoral supervisors through workplace learning: A literature review. Higher Education Research and Development.

Filatro, A. (2008). Design Instrucional na prática. Pearson Education do Brasil.

Kenski, V. M. (2022). O futuro do Design Instrucional pós-pandemia. In J. Mattar (Ed.), Educação a distância pós-pandemia: Uma visão do futuro (pp. 35-43). Artesanato Educacional.

Laurillard, D. (2012). Teaching as a design science: Building pedagogical patterns for learning and technology. Routledge.

Universidade Aberta. (2022). Microcredencial em Educação a Distância e Digital https://portal.uab. pt/wp-content/uploads/2022/02/NL-Microcredencial-Educacao-Digital.pdf

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