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Metodologia para aferir a carga média de trabalho necessária em função dos ECTS atribuídos a cada unidade curricular
Maria Dulce da Costa Matos e Coelho ‡ Sandra Cristina Dias Nunes ‡ Susana Maria Teixeira da Silva ‡
Maria da Conceição dos Santos Contreiras Salema Aleixo †
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‡ Instituto Politécnico de Setúbal, ESCE, CICE, Portugal dulce.matos@esce.ips.pt
‡ Instituto Politécnico de Setúbal, ESCE, CICE, Portugal sandra.nunes@esce.ips.pt
‡ Instituto Politécnico de Setúbal, ESCE, CICE, Portugal susana.silva@esce.ips.pt
† Instituto Politécnico de Setúbal, ESCE, Portugal conceicao.aleixo@esce.ips.pt Resumo
O presente estudo pretende aferir a carga média de trabalho necessária a cada estudante versus créditos ECTS (ECTS – european credit transfer system) atribuídos a cada unidade curricular na Licenciatura em Contabilidade e Finanças (CF) da Escola Superior de Ciências Empresariais (ESCE) do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS). Para auscultar os estudantes sobre a sua carga média de trabalho atribuída em cada unidade curricular da Licenciatura em CF da ESCE-IPS foi aplicado um inquérito por questionário, no ano letivo 2020/2021, relativamente às unidades curriculares do 1º, 2º e 3º anos do primeiro semestre. Este inquérito por questionário tem como objetivo aferir a carga média de trabalho no desenvolvimento das diferentes atividades pedagógicas previstas no processo de ensino/aprendizagem de cada unidade curricular do plano de estudos da Licenciatura em CF da ESCEIPS. Os resultados obtidos revelam que os estudantes, em média, não percecionam a necessidade de dedicar tanto tempo de trabalho autónomo como aquele que está previsto relativamente às unidades curriculares analisadas.
Palavras-Chave: ECTS, Estudantes, Unidades curriculares
1. Contextualização
Em conformidade com o artigo 11º do Decreto-Lei nº 42/2005, de 22 de fevereiro, o Despacho nº 71/Spr./2006, de 21 de novembro, do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) aprovou o Regulamento de Aplicação do Sistema de Créditos Curriculares (ECTS – european credit transfer system) que considera, no nº.1 do artigo 5º, que durante um ano curricular o trabalho a desenvolver por um estudante, a tempo inteiro, é estimado em 1620 horas a realizar em 40 semanas.
O n.º 2 do mesmo artigo refere que o trabalho realizado a tempo inteiro corresponde a 60 créditos num ano curricular, 30 créditos num semestre e 20 créditos num trimestre. Neste sentido, o nº 3 estabelece a relação crédito/horas de trabalho, definindo que 27 horas de trabalho do estudante correspondem a um crédito (atribuídos em múltiplos de 0,5 créditos conforme nº 5).
Neste sentido, o interesse deste estudo advém da necessidade de aferir a opinião dos estudantes sobre a afetação da carga média de trabalho atribuída em cada unidade curricular da Licenciatura que frequentam, pois têm considerado ao longo dos anos que o trabalho que lhes é solicitado nalgumas unidades curriculares é desajustado do respetivo número de créditos atribuídos. Esta primeira abordagem pode contribuir, de acordo com os resultados obtidos, para alavancar práticas pedagógicas inovadoras que possam dar origem e métodos de avaliação mais adequados e em consonância com os ECTS de cada unidade curricular. Para além de auscultar outros intervenientes, a opinião dos estudantes torna-se crucial neste tipo de estudos, pois são eles os principais atores envolvidos no sistema e é importante a sua reflexão, de modo a conseguirmos tirar ilações que permitam melhorar o processo de ensino-aprendizagem.
É por isso importante entender de que modo os ECTS de uma unidade curricular se distribuem em termos de horas de contacto e horas de trabalho autónomo (Raposo, 2011). De acordo com Chambers (1992), alguns estudos têm vindo a demonstrar que a razoabilidade da carga de trabalho constitui uma pré-condição para uma boa aprendizagem, existindo, porém, dificuldades metodológicas em confiar nas perceções dos estudantes.
2. Descrição da prática pedagógica
2.1. Objetivos e público-alvo
O objetivo deste estudo foi aferir a carga média de trabalho que é atribuída ao estudante no desenvolvimento das diferentes atividades pedagógicas que constituem o modelo de avaliação do processo de ensino/aprendizagem de cada unidade curricular do plano de estudos da Licenciatura em Contabilidade e Finanças (CF) da Escola Superior de Ciências Empresariais (ESCE) do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS).
O estudo incidiu sobre os estudantes do 1º, 2º e 3º anos da Licenciatura em CF da ESCE-IPS, inscritos nas unidades curriculares do primeiro semestre no ano letivo 2020/2021.
2.2. Metodologia
Para auscultar os estudantes sobre a sua carga média de trabalho em cada unidade curricular, foi aplicado um inquérito por questionário, realizado no Microsoft Forms, no ano letivo 2020/2021, relativamente às unidades curriculares do 1º, 2º e 3º anos do primeiro semestre da Licenciatura em CF. Neste caso, o uso do questionário foi de extrema relevância dadas as características da amostra em causa (bastante dispersa em termos de horário).
O questionário foi constituído por questões necessárias ao objetivo do estudo, tendo sido adotada uma terminologia clara e percetível, para que as questões tivessem o mesmo significado para todos os inquiridos.
Foi realizado um pré-teste a uma amostra de conveniência que incluía pelo menos um estudante de cada ano da Licenciatura. Do resultado do pré-teste, foram reformuladas algumas questões de modo a ficarem ainda mais claras para os inquiridos. O questionário foi aplicado no mês de abril de 2021 ao total de estudantes inscritos em cada um dos anos - a 108 estudantes do 1º ano, 95 estudantes do 2º ano e 73 estudantes do 3º ano, relativamente ao primeiro semestre da Licenciatura em CF.
2.3. Avaliação
O presente estudo analisa os resultados obtidos no inquérito por questionário relativamente às unidades curriculares do 1º semestre dos anos mencionados anteriormente. Pretendese com este estudo percecionar se a carga média de trabalho necessária aos estudantes corresponde ao estimado em ECTS definidos para cada unidade curricular da Licenciatura em CF, de modo a proceder a eventuais melhorias caso seja necessário.
O questionário foi elaborado tendo por base documentos produzidos pelo Conselho Pedagógico da ESCE-IPS, desde 2006 até à data presente, que versam a temática da carga de trabalho associada às unidades curriculares, bem como o plano de estudos e respetivos documentos de criação e avaliação da Licenciatura em CF.
3. Resultados, implicações e recomendações
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos relativamente ao 1º semestre/1º ano da Licenciatura em CF. Foram obtidas 62 respostas ao questionário, o que corresponde a uma taxa de resposta de 57%.
Tabela1
Resultados obtidos referentes às unidade curriculares do 1º Semestre/1º Ano
Pela análise da Tabela 1 constatamos que, em média, os estudantes percecionam dedicar pouco tempo de trabalho autónomo relativamente às unidades curriculares analisadas.
Se analisarmos a mediana, obtemos ainda valores mais baixos. Apenas o valor máximo se aproxima do que está definido para o número de horas de trabalho autónomo total, obtendose uma pequena diferença no total do semestre. Se analisarmos por unidade curricular, os resultados obtidos revelam um padrão expectável, isto é, ultrapassa em algumas unidades curriculares o valor que está definido relativamente ao trabalho autónomo do estudante, enquanto que noutras unidades curriculares fica abaixo desse valor.


A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos relativamente ao 1º semestre/2º ano da Licenciatura em CF. Foram obtidas 45 respostas ao questionário, o que corresponde a uma taxa de resposta de 47%.
Tabela 2
Resultados obtidos referentes às unidade curriculares do 1º Semestre/2º Ano
Relativamente ao 1º semestre/2º ano, os resultados obtidos demonstram que não se verificam alterações significativas no tempo que os estudantes dedicam ao trabalho autónomo relativamente às unidades curriculares analisadas, verificando-se, no entanto, uma variação do valor total da média do 1º ano para o 2º ano de cerca de 31 pontos percentuais. Neste caso, embora o valor da média e da mediana continuem muito abaixo do que seria expectável, não é possível utilizarmos o valor máximo como um valor de referência pois em todas as unidades curriculares apresenta valores muito acima do que está definido relativamente ao trabalho autónomo do estudante para cada unidade curricular.
A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos relativamente ao 1º semestre/3º ano da Licenciatura em CF. Foram obtidas 27 respostas ao questionário, o que corresponde a uma taxa de resposta de 37%.
Os resultados obtidos para o 1ºsemestre/3º ano, mantêm a mesma tendência dos anos anteriores analisados, no entanto, verifica-se uma variação do valor total da média do 2º ano para o 3º ano de cerca de 53 pontos percentuais. Mais uma vez, o valor máximo não é indicador de um estudante padrão.
4. Conclusões
Os resultados obtidos demonstram que o trabalho autónomo percecionado pelo estudante, em média, é menor do que o definido no plano de estudos da Licenciatura em CF da ESCEIPS. À medida que o plano de estudos evolui, os estudantes têm a perceção da necessidade de aumentar as horas de trabalho autónomo.
O estudo apresenta algumas limitações nomeadamente, ao nível da caracterização da amostra. Após a aplicação do questionário, verificou-se que deveriam ser introduzidas questões que permitissem uma análise mais fiável, designadamente se o estudante é trabalhador, qual a sua idade, qual a distância entre o local de residência e/ou trabalho e a ESCE, entre outras características, bem como questões relacionadas com a aprovação ou não na unidade currcular, se se trata da 1ª vez que frequenta a mesma.
Futuramente, conscientes do papel fundamental desta temática na qualidade do ensino/ aprendizagem e do sucesso escolar, pretendemos continuar este estudo, alargando a análise às unidades curriculares das restantes Licenciaturas da ESCE-IPS, bem com melhorar o instrumento de recolha de dados. Para uma maior fiabilidade do estudo, os restantes intervenientes no processo ensino/aprendizagem deverão igualmente ser auscultados.
5. Referências Bibliográficas
Chambers, E. (1992). Work-load and the quality of student learning. Studies in Higher Education, 17(2), 141-153.
Decreto Lei nº 42/2005, D.R.. nº 37, Série I – A, de 22 de Fevereiro. (2005). Princípios reguladores e instrumentos para a criação do espaço europeu.
Despacho nº 71/Spr./2006, de 21 de novembro, do IPS. (2006).- Regulamento de Aplicação do Sistema de Créditos Curriculares (ECTS – European Credit Transfer System).
Raposo, F. (2011). Análise da relação entre as horas de contacto e as horas de trabalho autónomo do estudante, por tipo de ensino, na configuração do ECTS dos cursos de artes visuais. Convergências : Revista de Investigação e Ensino das Artes, 8. https://repositorio.ipcb.pt/ bitstream/10400.11/3014/1/HORA_CONT_EST.pdf