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Implementação de um programa terapêutico em contexto da prática clínica
Dina Costa ‡
Isabel Gil †
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Adriana Coelho †
Carina Gomes ‡
Alberto Barata †
Paula Cordeiro †
Maria de Lurdes Almeida †
‡ CHUC; ESEnfC dinateresacosta@esenfc.pt carinaisagomes@esenfc.pt
†UICISA:E / ESEnfC igil@esenfc.pt adriananevescoelho@esenfc.pt abarata@esenfc.pt cordeiro@esenfc.pt mlurdes@esenfc.pt Resumo
As alterações demográficas evidenciam a necessidade de dirigir um olhar diferenciado para a população mais velha e, deste modo, a formação em Enfermagem não pode ficar alheia a esta realidade. Assim, no contexto do ensino clínico de enfermagem realizado em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas, foi implementada uma intervenção combinada de exercício físico e estimulação cognitiva orientada para as emoções, com o envolvimento dos estudantes de enfermagem, promovendo o desenvolvimento de competências relacionadas com a prática de cuidados às pessoas mais velhas. Posteriormente, foi solicitado a cada estudante a realização de um relatório crítico-reflexivo no âmbito da implementação da intervenção e, da análise destes, emergiram quatro áreas temáticas baseadas na perspetiva dos estudantes acerca da implementação do programa: “Planeamento”, “Implementação”, “Avaliação” e “Desafios”. Da análise das reflexões dos estudantes, percebe-se que a incrementação de intervenções terapêuticas estruturadas deve ser incutida nos processos de formação dos estudantes de enfermagem, na medida em que permitiu a aquisição de competências preconizadas para este contexto da prática clínica, além de ter promovido uma relação de proximidade com as pessoas mais velhas.
Palavras-Chave: ensino clínico; estudantes de Enfermagem; aprendizagem contextualizada.
1. Contextualização
O envelhecimento está associado ao declínio físico e cognitivo, afetando a independência e a qualidade de vida, contudo, o impacto negativo do declínio associado à longevidade pode ser reduzido com recurso a intervenções não farmacológicas combinadas, como os programas de estimulação cognitiva e de exercício físico, pelo que a sua implementação deve ser fomentada (Yang et al., 2019).
No contexto da prática clínica, é reconhecido que os enfermeiros desempenham um papel crucial que se ajusta diretamente na prestação de cuidados, mas também na investigação e no ensino, fazendo com que a formação se assuma como desencadeadora de mudança. Para a Ordem dos Enfermeiros, a formação em Enfermagem exige o desenvolvimento de competências dos domínios da prática profissional, ética e legal, da prestação e gestão de cuidados e do desenvolvimento profissional nos estudantes, para os quais são fundamentais atitudes e comportamentos adquiridos em contextos de aprendizagem teórica, teóricoprática e prática. O Ensino Clínico (EC), enquanto parte integrante e fundamental dos cursos de Enfermagem, permite aos estudantes a consolidação dos saberes teóricos e a sua articulação com a componente prática, vivenciada nos diversos contextos de prática clínica. É neste processo que o estudante vai construindo a sua identidade profissional.
Vendruscolo, Ferraz, Prado, Kleba e Reibnitz (2016) integram o conceito “casamento de saberes próprios”, mencionando que o espaço pedagógico não se esgota na sala de aulas. Ao invés, implica a vivência no mundo do trabalho, com os diferentes cenários das práticas, ricos em experiências e aprendizagens.
Assim, no contexto do EC de Enfermagem realizado em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI), foi implementada uma intervenção combinada de Exercício Físico (EF) e estimulação cognitiva orientada para as emoções, concretamente de Terapia de Reminiscência (TR), com o envolvimento dos estudantes de enfermagem, promovendo o desenvolvimento de competências relacionadas com a prática de cuidados às pessoas mais velhas e, também, na área de investigação.
A capacitação dos estudantes para a dinamização das sessões integra uma formação teóricoprática e treino da intervenção, sendo disponibilizados os manuais referente aos programas de TR (Gil et al., 2019) e EF baseado nos exercícios propostos no Mind&Gait (Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, 2019). Relativamente à capacitação dos estudantes para a avaliação dos participantes, recorreu-se a um treino prévio com recurso a uma metodologia de role play, no sentido de se garantir uma correta aplicação dos instrumentos de avaliação.
No final do EC, foi solicitada uma reflexão a cada estudante sobre as competências desenvolvidas com a participação no projeto de intervenção combinada e, posteriormente, foi realizado um processo de análise de conteúdo.
2. Descrição da prática pedagógica
No contexto do ensino clínico de enfermagem realizado em ERPI, foi implementada uma intervenção combinada de EF e estimulação cognitiva orientada para as emoções, concretamente de TR. Posteriormente, foi solicitado a cada estudante a realização de um relatório critico-reflexivo no âmbito da implementação da intervenção.
Assim, os estudantes do curso de Licenciatura em Enfermagem envolveram-se no desenvolvimento das atividades propostas, numa ótica de desenvolvimento de competências e conhecimentos. Este envolvimento foi monitorizado pelos professores responsáveis por cada campo de EC. Além disso, a equipa de investigação supervisionou todo o processo no sentido de colmatar as dificuldades sentidas e garantir a qualidade das intervenções. O programa desenvolveu-se em formato de sessões grupais, com adaptações de acordo com a capacidade de cada participante.
O programa de TR foca-se no percurso de vida do participante e as sessões são apoiadas por uma plataforma de conteúdos digitais que foi criada para disponibilizar os materiais que facilitam a evocação das memórias, e que inclui fotografias, vídeos, músicas. A operacionalização das sessões está descrita no Manual do Dinamizador (Gil et al., 2019).
Os exercícios físicos são baseados no programa Mind&Gait (Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, 2019) e é aplicado em sessões de intervenção grupal, respeitando as variáveis de treino definidas e considerando as adaptações específicas e individuais do grupo e de cada pessoa. As sessões do programa de EF são compostas por três fases principais: aquecimento; parte fundamental; e retorno à calma e alongamentos.
Em cada sessão foi preenchida uma grelha de avaliação que resultou da observação atenta dos participantes e que permitiu avaliar os aspetos relacionados com o interesse, comunicação verbal e o humor e, ainda, controlar a assiduidade dos participantes.
2.1. Objetivos e público-alvo
Pretendeu-se explorar as perceções dos estudantes que participaram ativamente na implementação de uma intervenção combinada de EF e estimulação cognitiva orientada para as emoções - TR. Assim, a população-alvo é constituída por estudantes dos últimos semestres do Curso de Licenciatura em Enfermagem, no contexto do EC de Enfermagem de Saúde do Idoso e Geriatria.
2.2. Metodologia
Foi realizado um estudo descritivo de natureza qualitativa. Como participantes foram considerados todos os estudantes que realizaram Ensino Clínico em quatro ERPI, entre março de 2022 e maio de 2022. Foram garantidos os procedimentos éticos.
A análise dos dados foi realizada com recurso à análise de conteúdo com fundamento em Bardin (2014). Assim, realizou-se uma leitura superficial, no sentido de se obter uma perceção do todo. Posteriormente, procedeu-se à identificação de unidades de significado, o que permitiu orientar a codificação em subcategorias que foram agregadas em categorias, e que emergiram do discurso dos participantes após a análise de conteúdo realizada.
2.3. Avaliação
Foi realizado um processo de análise de conteúdo às reflexões solicitadas aos estudantes: 33 Relatórios Reflexivos realizados em quatro ERPI entre março de 2022 e maio de 2022.
3. Resultados, implicações e recomendações
Da análise dos resultados obtidos, emergiram categorias de uma agregação semântica, tendo por base a sua relação com as subcategorias e as unidades de registo. Assim, foram identificadas quatro áreas temáticas baseadas na perspetiva dos estudantes acerca da implementação do programa de intervenção combinada: “Planeamento”, “Implementação”, “Avaliação” e “Desafios”. Dentro das áreas temáticas, nas tabelas que se seguem, são apresentadas as categorias, subcategorias e excertos de discurso dos participantes no sentido de uma melhor compreensão da análise realizada.
Planeamento: Fatores facilitadores
Os “Fatores facilitadores” da implementação do programa identificados pelos estudantes foram: o manual do dinamizador e o planeamento prévio, como é apresentado na Tabela 1.
Tabela 1
Área temática: Planeamento
Categoria Subcategoria Unidade de registo
Fatores facilitadores
Manual do dinamizador RR7: ”a disponibilização do Manual do Dinamizador (...) melhor organização das sessões”
Planeamento prévio RR32: ”planeamento prévio de cada sessão (...) facilitar a dinamização”
Implementação: Dificuldades, Fatores facilitadores e Desafios
As “Dificuldades” da implementação do programa que foram identificadas pelos estudantes foram: o material necessário, a articulação com o cronograma das instituições, as interrupções ao longo das sessões, o défice auditivo, a ausência de espaço adequado e o atropelamento de ideias; os “Fatores facilitadores” referidos foram: a adesão, a iniciativa, a interação social, a participação/partilha, os temas e a estratégia; os “Desafios” referidos prenderam-se com a adaptação da comunicação, a adequação do ambiente e as condutas a adotar, como é apresentado na Tabela 2.