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Uso do smartphone e do tablet em Histologia prática
José Manuel Neves ‡ Lígia Gomes ‡
‡ Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde jneves@ufp.edu.pt
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‡ Universidade Fernando Pessoa Escola superior de Saúde lrgomes@ufp.edu.pt Resumo
A prática pedagógica que se descreve teve como objetivo primeiro ultrapassar os constrangimentos criados à lecionação pelo número de alunos/turma e o tempo reduzido da aula. Aproveitando a rápida disseminação dos smartphones/tablets e a sua utilização no dia a dia promoveu-se o seu uso em sala de aula de histologia prática. Esta acção mostrou ser do agrado de uma parte extremamente significativa dos alunos na medida em que proporcionou aulas mais dinâmicas, mais participadas e com muito maior rentabilidade possibilitando ainda a criação de bancos de imagens e uma maior flexibilização nos horários dedicados ao estudo desta unidade curricular .
Palavras-Chave: Smartphone, Tablet 2, Histologia prática.
1. Contextualização
A histologia é uma unidade curricular básica que desde há muito tempo deixou de ser exclusiva dos curricula das faculdades de medicina para passar a fazer parte dos planos curriculares de outros cursos da área da saúde.
Tradicionalmente, o estudo, a aprendizagem e o ensino da histologia prática estão intimamente ligados ao microscópio ótico. No entanto, e dado o avanço tecnológico a implementação de recursos digitais como ferramentas pedagógicas na sala de aula tem vindo a aumentar (Brandão et al., 2020). Os recursos digitais abriram novas possibilidades de organização de atividades em sala de aula que motivam os alunos e os fazem participar de forma mais ativa (Ribeiro & Gil, 2016).
É neste contexto, de abertura às metodologias ativas que estimulam a participação ativa dos discentes no processo ensino-aprendizagem pela cooperação entre alunos e entre estes e o docente e pela criação de conhecimento por parte dos estudantes (Fidalgo-Blanco et al. 2019) que atualmente existem vários sistemas digitais que podem ser utilizados no ensino da histologia. Os projectores de diapositivos, CD-ROMs interactivos, páginas web, atlas digitais online (Lei et al., 2005; Michaels et al., 2005; Blake et al., 2003; Bloodwood & Ogilvie, 2006) são algumas dessas ferramentas que podem ser utilizadas em combinação com técnicas virtuais mais recentes como o uso de ambientes virtuais de aprendizagem (Santa-Rosa & Struchiner, 2010), do gamming (Brandão et al., 2020) e do microscópio virtual (Tian et al., 2014).
Nos últimos anos o uso do smartphone e do tablet disseminou-se de tal forma que se tornou talvez o elemento mais importante na vida moderna (Andrew., S. et al., 2015). Aproveitando a crescente prevalência na facilitação das atividades do dia a dia (Yang et al. 2019), promoveu-se a sua utilização nas aulas práticas de histologia de forma a envolver os alunos no processo-ensino aprendizagem e a ultrapassar alguns constrangimentos colocados pelo número elevado de alunos em sala de aula e pelo tempo limitado que o docente tem para disponibilizar aos alunos individualmente nessas condições.
2. Descrição da prática pedagógica
Utilizou-se o smartphone/tablet nas aulas práticas de histologia para fazer face ao elevado número de alunos em sala de aula e ao tempo reduzido da aula.
2.1. Objetivos e público-alvo
Os objectivos desta prática pedagógica foram: i) ultrapassar os constrangimentos criados pelo número de alunos/turma e o tempo reduzido da aula, ii) promover a aprendizagem da histologia, iii) promover o trabalho de grupo e, iv) tornar o estudo da histologia fora da sala de aula mais flexível.
O público-alvo desta prática pedagógica foram os alunos de histologia prática dos cursos nocturnos do Mestrado Integrado em Medicina Dentária e Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas.
2.2. Metodologia
Previamente ao início da aula, o docente colocou nos microscópios as lâminas a estudar e selecionou as estruturas/tecidos a observar à ampliação desejada.
No início da aula, procedeu-se à criação de grupos de trabalho, em função do número de alunos/turma, e à escolha de um líder de um líder de grupo, para cada um deles. De seguida, o líder de cada grupo fotografou as diversas lâminas e partilhou as fotos com os elementos do grupo. Os grupos procederam então, à análise, discussão e legendagem das imagens. Depois de identificadas e devidamente legendadas as estruturas/tecidos, foram usadas para criar um banco de imagens para posterior uso.
2.3. Avaliação
A satisfação dos alunos relativamente à prática pedagógica descrita foi avaliada através de um inquérito de 9 questões, realizado online, na plataforma de formulários google. Os alunos tiveram como opções de resposta, uma escala ordinal Likert de 5 valores: 1 “não ajuda”, 2 “ligeiramente útil”, 3 “moderadamente útil”, 4 “principalmente útil” e 5 “muito útil”.
As 9 questões colocadas no inquérito permitiram analisar dois aspectos relacionados com o uso do smartphone/tablet em sala de aula. O primeiro aspecto, prendia-se relacionado com a utilidade e adequação da imagem obtida por estes equipamentos no ensino da histologia e o segundo ligado à eficácia da aprendizagem e ao funcionamento e dinamismo da aula. Foi ainda feita uma pergunta adicional para aferir sobre a profundidade de conteúdos que esta abordagem permitiu.
3. Resultados, implicações e recomendações
Os resultados obtidos constam das figuras 1, 2, 3 e 4.
Relativamente à utilidade do uso do smartphone/tablet em sala de aula e à qualidade das imagens obtidas, as respostas dos alunos são claras (Fig. 1 a-c).
Figura 1
Resultados relativos à utilidade do uso do smartphone/tablet em sala de aula

De facto, para a totalidade dos alunos o uso destes equipamentos, em sala de aula, mostrou ser útil, havendo mesmo 95,9% dos alunos que os consideraram de muito úteis a extremamente úteis. Já no que respeita à utilidade do equipamento em identificar estruturas e à qualidade das imagens obtidas verificou-se que 4,2% dos inquiridos consideraram estes equipamentos pouco úteis, ao contrário dos 75% e 66,7% que os consideraram extremamente úteis.
As respostas relativas à eficácia e flexibilidade do uso do smartphone /tablet no horário de estudo constam da figura 2.
Figura 2
Resultados relativos à eficácia e flexibilidade de horário de estudo smartphone/tablet
A sua análise, permitiu verificar que todos os inquiridos consideraram estes equipamentos úteis para melhorar a eficácia do estudo da histologia. Note-se que, uma percentagem muito significativa, 75% , considerou estes equipamentos extremamente úteis para aumentar a eficácia do seu estudo nesta unidade curricular. No que respeita à flexibilização do horário de estudo, que estes equipamentos podem proporcionar, é de referir que 4,2% dos alunos viram pouca utilidade. De qualquer modo, 82,5% viu nestes equipamentos o potencial de lhes permitir um horário de estudo da histologia prática mais flexível. Relativamente ao funcionamento das aulas, mais concretamente no que respeita à aprendizagem em grupo, partilha de recursos, relações entre alunos e alunos-professor e dinamismo da aula, verficou-se que 100% dos alunos considerou útil o uso do smartphone/tablet havendo em todas as situações consideradas uma percentagem muito elevada de alunos, que varia entre 70 a 83%, que considerou estes equipamentos de extrema utilidade (Fig. 3 a-d) .

Finalmente, e no que respeita à profundidade dos conteúdos leccionadas nesta abordagem pedagógica, verifica-se que as opiniões dos alunos inquiridos se dividem (Fig. 4).
Resultados relativos à profundidade com que os conteúdos foram leccionados.

Como se pode verificar dos resultados apresentados na Fig. 4, 25% dos alunos considerou que a profundidade a que os conteúdos foram leccionados era menor em comparação com outras abordagens. Apesar deste número significativo 75% consideraram que esta prática pedagógica não diminuiu o grau de profundidade com que os conteúdos foram leccionados.
4. Conclusões
O desenho de práticas pedagógicas criativas no ensino da Histologia é de grande importância, nomeadamente nos cursos nocturnos onde, o grau de insucesso desta esta unidade curricular é elevado, fruto de vários factores tais como: i) a retoma dos estudos depois de um período muito alargado; ii)as dificuldades que os alunos apresentam na compreensão dos conteúdos; iii) no número excessivo de alunos/turma e iv) no curto tempo de leccionação.
O trabalho apresentado, teve como finalidade se não resolver estas questões, pelo menos minorar os seus efeitos. Os resultados obtidos pela aplicação desta prática pedagógica, parecem confirmar a sua utilidade na medida em que o uso do smartphone/tablet em contexto de aula prática de histologia i) promove o interesse dos alunos na unidade curricular porque aumenta a interacção entre os alunos e entre estes e o docente; ii) permite uma explicação dos conteúdos de forma mais efectiva porque fica mais tempo disponível para o professor poder explicar os conteúdos, iii) possibilita a manipulação da imagem e a sua legendagem imediata; iv) permite criar um banco de imagens devidamente “auditadas”; v) facilita a partilha de material entre os alunos e, vi) flexibiliza o horário de estudo. Em conclusão, a implementação do uso do smartphone/tablet satisfaz esta geração digital de alunos e, sem dúvida torna a aprendizagem bastante mais dinâmica ajudando a melhorar a sua eficácia, tornando-se uma ferramenta de grande utilidade e interesse no ensino da histologia prática.
Apesar da experiência ser francamente positiva é importante reconhecer as limitações do uso do smartphone/tablet no ensino da Histologia prática.
5. Referências Bibliográficas
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